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CLAUS - WILI--IELM 0• CANARIS
NA CIENCIA DO DIREITO
Introdução e traduçc'ío de
,\. MENEZES CORDEIRO
/ 3." ediçâo
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KARL LARENZ
INTRODUÇÃO À
EDIÇÃO PORTUGUESA
1- OS DILEMAS DA CIÊNCIA DO DIREITO
NO FINAL DO SÉCULO XX
I.
O século XX representa, na Ciência do Direito,
um espaço de letargia relativa. Uma agitação prenun-
ciadora de mudança viria a registar-se, apenas, no
seu último quartel.
O fenómeno nada teria, em si, de surpreendente.
O Direito, realidade cultural, coloca-se, tal como a
língua, numa área de estabilidade marcada. As verda-
deiras mudanças são lentas; a sua detecção depende
de uma certa distanciação histórica.
Os progressos anteriores deixariam, contudo, espe-
rar uma melhor mobilidade.
O século XIX presenciara profundas e promisso-
ras alterações no modo de entender e de realizar
o Direito: retenham-se, no domínio exemplar do
Direito privado (1), o êxito das grandes codifica-
3. O irrealismo metodológico
4. Conspecto geral
5. A jurisprudência analítica
6. A jurisprudência problemática
7. As sínteses hermêuticas
º
( 1 3) L. FRIEDMANN, Das Rechtssystem im Blickfeld der
Sozialwissenschaften cit., 179 ss. e ERNST E. HIRSCI-1,
Rechtssoziologie für Juristen / Eine Aufsatzsammlung ( 1984),
86 ss ..
( 1 º4 ) JAN SCf-IAPP, Hauptprobleme der juristischen Metho-
denlehre cit., 15, NIKLAS LUHMANN, Die Lebenswelt - nach
Rücksprache mit Phanomenologen, ARSP LXXII (1986) 176-194
(176 ss.), E. HIRSCH, Rechtssoziologie für Juristen cit., 127 ss.
e ROBERT WEIMAR, Rechtswissenschaft ais Weltbild, FG
Troller ( 1987), 351-368 (356 ss.).
( 105 ) PETER SCHIFFAUER, Wortbedeutung und Rechtser-
kenntnis cit., 28 ss., e 41 ss., RITA ZIMMERMANN, Die Rele-
vanz einer herrschenden Meinung cit., 106 ss., FRIEDRICI-I
MüLLER, Strukturierende Rechtslehre cit., 184 ss., ERHARD
MOCK, Rechtsgeltung, Legitimation und Legitimitat im demo-
kratischen Verfassungsstaat, ARSP BH 27 (1986), 51-58 e
ROBERT ALEXY, Rechtssystem und pratische Vernunft, RTh
18 (1987), 405-419.
( 106 ) Cf. NIKLAS LUHMANN, Legitimation durch Ver-
fahren 2 (1975), 30 ss .. As críticas a LUHMANN - cf. ESSER,
LIX
III.
A influência dominadora, científica e cultu-
ral, do Código Civil francês esmoreceria perante o
aparecimento, nos finais do século XIX, de uma nova
codificação, assente em dados científicos mais per-
II.
O processo clássico, acima esquematizado,
depara, contudo, com vários e decisivos óbices.
A compartimentação nas operações de realização
do Direito não resiste à própria observação du reali-
dade. Quando soluciona os problemas que se lhe
ponham, o jurista dá corpo a uma actuação unitária
que, em conjunto, trabalha com fontes, com factos,
com a interpretação e com a aplicação. Apenas num
esforço de análise é possível, num todo unitário,
apontar várias operações.
CLAUS-WILHELM CANARIS
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
CLAUS-WILHELM CANARIS
A questão do significado da ideia de sistema para
a Ciência do Direito é dos temas mais discutidos da
metodologia jurídica. Em poucas controvérsias estão,
ainda hoje, as opiniões tão divididas. Enquanto, por
exemplo, SA UER exclama com ênfase: «Apenas o sis-
tema garante conhecimento, garante cultura. Apenas
no sistema é possível verdadeiro conhecimento, ver-
dadeiro sabem (1) e H. J. WoLFF diz: «A Ciência do
Direito ou é sistemática ou não existe» (2), EMGE
opina, com discrição céptica: «Um sistema é sempre
um empreendimento da razão com um conteúdo exa-
gerado» C) - uma afirmação que está apenas a curta
distância da célebre frase de NIETZSCHE que caracte-
rizou a aspiração ao sistema como uma «falta na
consecução do Direito» e uma «doença no carác-
ter» (1). No que respeita, em particular, ao direito
privado, a discussão metodológica mais importante
C') \ ." ed., 1953, actualmente na 2." ed., 1965. (A ed. mais
rcc;:-,t~. d::it'I de 1974-not.:t do tradutor).
<1 ::',.·,
(' J Cf., cc,m 1m1i,~ pormenores, infra H I II 2, -l IV ~.
5 l !. e; I .·J h e 7 1I.
7
(l) Cf. Kritik der reinen Vernunft, l.' ed. (1781), p. 832
e 2.ª ed. (1787). p. 860, respectivamente.
(~) Cf. Mctaphysische Anfangsgründe der Naturwissen-
schaft, l.ª ed. (1786), preâmbulo, p. IV.
( 5) Worterbuch der philosophischen Begriffe, 4." ed.
ü 930), vol. III, palavra «Systenrn.
l1
1. O sistema «externo»
3. O sistema lógico-formal
( 11 ) Cf. Logik, vol. III, 4." ed., 1921, p. 617 (mas cf. tam-
bém p. 595 s.): já essencialmente realista a respeito da viabi-
lidade de um sistema lógico-foma! para a Ciência do Direito,
S!GWART, Logik, 2.º vol., 2.· ed., 1893, p. 736 ss.
( 12) Os sistemas dos «puros conceitos fundamentais>>,
pelo contrário, por força da sua natureza puramente formal,
poderiam satisfazer inteiramente as exigências de um sistema
lógico-formal ou axiomático-dedutivo.
( 1 ~) Do mesmo modo COING, Grundzüge der Rechtsphilo-
sophie, p. 276 e Geschichte und Bedeutung des Systemgedan-
kens, p. 27; VIEHWEG, ob. cit., p. 53 ss.; ENGISCH, Stud. Gen.
10 (1957), p. 173 ss. e 12 (1959), p. 86; EssER, Grundsatz und
Norm, 2.ª ed. (1964), p. 221; L:\RENZ, ob. cit., p. 134 s.;
S1MITIS, Ratio 3 (1960), p. 76 ss.; EMGE, Philosophie der
Rechtswissenschaft, 1961, p. 289 s.; BÃUMLIN, Staat, Recht
und Geschichte, 1961, p. 27; PERELMANN, Justice et raison,
1963, p. 206 ss.; RAISER, NJW 1964, p. 1203 s.; FLUME, Allg.
Teil des Bürgl. Rechts, 2.º vol., 1965, p. 295 s.; DIEDERICHSEN,
NJW 1966, p. 699 s.; ZIPPELIUS, NJW 1967, ]). 2230; cf. também
já SrGWART, ob. cit., p. 736 ss.
31
(' -,-,) Seja dos seus limites imanentes, seja dos «externos»,
isto é, dos condicionados pela oposição de outros princípios.
I \
96
Methodenlehre, p. 192 s.
e9) Esta foi caracterizada por RADBRUCH justamente
como fundamento para a «multiplicidade de formações jurí-
dicas históricas e nacionais»; cf. Festschrift für R. Laun,
1948, p, 158. - Da vasta literatura sobre a natureza das coisas
cf., nos últimos anos, sobretudo ScHAMBECK, Der Begriff der
Natur der Sache, 1964, com indicações desenvolvidas; ARTHUR
KAUFMANN, Analogi~ und Natur der So.che, 1965; DREIER,
Zum Begriff der Natur der Sache, 1965.
Cº) Em todo o caso, depois de ter, uma vez, tomado
consciência dele.
123
C: 8 )
Também têm ocorrido, naturalmente, modificações
no sistema através da interpretação comum, porquanto e na
medida em que também esta passa pela mediação da «cons-
ciência jurídica ger<1l» e, por isso. é susccptível de alterações.
§ 4. 0 A MOBILIDADE DO SISTEMA
( 40 ) Cf. p. 81.
(41) Cf. ob. cit., p. 13.
147
1. A «interpretação sistemática»
dica e 1
A tal propósito pensa-se, normalmente, na
).
Cf. sobretudo os ~ § 1 II e 2 II 2.
( 44 )
2. A determinação de lacunas
(G 9) Cf. por todos RGZ 142, 331 (333); BAUR, ob. cit.,
~ 20 V l a; WESTERMANN, ob. cit., § 84 V 1. Nota do tradutor:
o § 401 BGB dispõe a transmissãc das garantias, com a cessão
de créditos; corresponde ao artigo 582.º do Código Civil.
(7º) Em compensação, é irrelevante que se trate de uma
aquisição por força da lei; vale aqui a nota 64.
(7 1 ) Muito duvidoso; quanto à problemática cf., sobre-
tudo, BGHZ 25, 16 (23); MEDICUS, AcP 163, 1 ss. (8 ss.);
REINICKE, NJW 64, p. 2373 ss. (2376 ss.); BAUR, ob. cit.,
§ 20 V 1 a; WESTERMi\NN, ob. cit., s 85 IV 4, onde, noutra
posição, se toma expressamente posição também quanto à
problemática metodológica e, contra as considerações do texto,
se nega o conteúdo valorativo da construção (mas cf. quanto
a isso supra, nota 68).
(*) Nota do tradutor: o s 873 BGB exige a inscrição no
registo predial para a transmissão ou oneração de direitos
sobre imóveis; o regime português é, sabidamente, diverso.
186
1- QUEBRAS NO SISTEMA
e) Cf. ~ 1 II, 2.
C) Cf. § 2 II.
(" 1) As contradições de princípios representam apenas,
uma forma particular de contradições de valores, designada-
mente contradições nos valores fundamentais da ordem jurí-
dica; diferentemente, ENGISCH, Einheit, p. 64, nota 2 e
Einführung, p. 160 e 162, que não subordina as contradições
de princípios às de valores, mas antes as coloca lado a lado
(cf., porém, também Einheit, p. 64, nota 2, última proposição
e Einführung, p. 164); tal é, do seu ponto de vista, adequado,
pois ao contrário da opinião aqui defendida, ele também conta
como contradições de princípios, casos nos quais não hã qual-
quer verdadeira contradição de valores, mas apenas meras
oposições de princípios; cf., assim, infra, 2 d, no texto.
201
ao 28 HGB.
§
r
2) Se ele, por força de contradição de valores com
outros preceitos (cf. supra, p. 129) é nulo, deve ser separado
da questão da arbitrariedade da sua ratio - que respeita ape-
nas a si.
239
com razão, também FLUME, ob. e loc. cit. (como na nota 2).
261
Cf., a este propósito, VIEHWEG, ob. cit., p. 68, onde ele diz
da tópica: «Ela entende-a (a techne jurídica) como uma forma
de aparecimento daquela inalienável busca do justo adequado,
que se prossegue com base no Direito positivo». Isto é carac-
terístico dos perigos da tópica: o jurista vinculado ao Direito
positivo não busca o «justo adequado» «com base» ( ! ) nele,
mas antes deve aceitar a decisão jurídico-positiva, no funda-
mental (isto é, descontando a possibilidade - extrema - de
«injustiça legislada») como justa e não, em regra, colocar a
questão de um «justo adequado» independente dele; cf. quanto
a isso, também supra, § 5 IV 3.
( 46 ) Concordante, F. MÜLLER, Normstruktur und Norma-
tivitiit, 1966, p. 59, «A norma torna-se ... para a tópica, um
tópico entre outros».
(47) Cf. ob. cit., p. 606 s.
( 48 ) Assim sucede quando alguém critica a opinião domi-
nante ou a jurisprudência constante, evidentemente com a
afirmação de que apenas a «opinião minoritária» por ele
defendida está «certa» no sentido de ser Direito vigente e
não faz apenas uma proposta totalmente não-vinculativa para
a modificação da situação jurídica até então existente, como
deveria ser se ela apenas se baseasse na E,õoEa; cf., a este
propósito também supra, p. 69 s.
262
( 5 ~) Ob. cit., p. 109; contra KUHN, ob. cit., p. 110, 112 e 119.
(5·1) Cf. ob. cit., p. 607, coluna 1.
( 55 ) Nos casos excepcionais ele deve, naturalmente, ter
a coragem de decidir contra a opinião de «todos» ou da
«maioria» e, sobretudo quando esta não coincida com a opinião
dos mais «sábios»; que a possibilidade de semelhante dis-
crepfmcia resultava já da fórmula de .ARISTÓTELES, sem que
surjam critérios para a sua solução, aparece como uma fra-
queza essencial da tópica.
( 50 ) Cf. HENKEL, ob. cit., p. 418 ss. que fala, a tal pro-
pósito, de «tópicos do Direito justo a procuram.
264
§ l.º
§ 2.º
§ 3.º
§ 4.º
§ 5.º
§ 6.º
§ 7.º
IV - A REALIZAÇÃO DO DIREITO . CI
12. O esquema concepto-subsuntivo; críticas;
a unidade da realização do Direito e a
natureza constituinte da decisão . CI
13. Os modelos de decisão; pré-entendimento,
sinépica e integração horizontal CVII
l 4. O novo pensamento sistemático . CXII
iNDICE GERAL
INTRODUÇÃO IX
b) O sbtema axiomático-dedutivo no
sentido da logística 38
a) As possibilidades da interpretação
sistemática 208
/J) As possibilidades da complementa-
ção sistemática das lacunas 211
e) Os limites da eliminação de contra-
dições de valores e de princípios
através da interpretação criativa do
Direito 212
4. A problemática da vinculabilidade de
normas contrárias ao sistema e a ligação
do legislador ao pensamento sistemático 217
2. As possibilidades remanescentes da
tópica . 269
Maio ck 2002