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Carlos Thompson Flôres e Severino Prestes
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Incumbido. de reger a cadeira de Sciencia da Admi·
nistraÇão e DireitG- Administrativo na Faculdade Livre
de Direito de Porto Alegre, ha sete annos, quando nem
sequer era lente substituto da respectiva secção, desde
logo me capacitei da impossibilidade de preencher sa-
tisfactoriamente a difficil missão, porque- na literatnrg,
juridica do país, jamais esse ramo do Direito, atravessou) J
- tão assignalada crise como nos ultimos tempos, por ef·
feito da extincção do regimen monarquico.
. Não havendo um compendio por onde guiar-me, e.
ao mesmo tempo. por onde se guiarem os meus alumnos,
arrostei enormes difficuldades e perdi tempo irrecupera-
vel, em procurar adaptar á teoria das nossas institui-
ções -governamentaes varios principios c'ouentes na dou·
trina alienigena, e deduzir algumas regras juridicas das
varias disposições esparsas na desordenada legislação
patria, e na jurisprudencia do Supremo Tribunal Fe·
deral e do Tribunal de Contas, para desse modo meto·
'; dizar o que fosse possivel, á guisa de uma -modesta
exposição elementar. E só mesmo pela muita conside-
ração -devida aos sabios directores .daquelle instituto de
ensino, primeiro o meu saudosissimo mestre e amigo, o
-desembargador Carlos Thompson Flôres,' e depois o
actual, o desembargador Manuel André da. Rocha, não se·
gui um exemplo, que afinal de con~asnão podia causar sur-
presa - a renuncia do cargo ou o abandono da cátedra ...
-Não é que, de todo faltassem obras do genero. No
antigo regimen o direito administrativo teve cultores
VI
mustres, o que permittiu a publicação de obras outt'ora
muito vulgarizadas, discretamente citadas e manuseadas
com frequencia, devendo ter sido assás proveitosas á
geração passada. Hoje, porem, que a mais nova dellas
conta idade passante de quarenta annos, -perderam todo
o alcance quer teorico quer pratico.
Ultimamente, com o apparecimento do Tratado de
&iencia da Administração e Direito Administrativo, do
eminente director do Tribunal de Contas, o sr. dr.
Augusto Olimpio Viveiros de Castro, á primeira vista
."-.J)oderia considerar-se removida a difficuldade; todavia
õ' vasio existente nesse particular da nossa literatura
.. jurldica da actualidade, não foi occupado senão muito
<'~·parcialmente. A'quella obra, escripta por quem ainda
não tinha exercido o magisterio, falta o indispensavel
cunho didactico, e portanto não convem a estudantes, .
.a não ser -como obra de consulta. Tambem, tirante tres
ou quatro capitulos, o resto ou pertence a sciencia da
administração ou ao direito constitucional; isto mesmo
é o que resalta da bibliografia apposta ao livro, a qual
accusa lamentavel pobreza de fontes, bastando pQnderar
qUê' quando em França já eram classicos os profundos
estudos de Hauriou e Berthélemy, os gous eminentes
jurisconsultos a quem a França deve a renovação do
estudo do direito administrativo, nella não constam taes
nomes, ao passo que a enumeração de constitucionalistas
é copiosa.
1909 ..
.-
_ .. 'x,
OrZandoPl'ineipii di djritto ammi.nistrativo, 1 voI.
florença, 1892.
Octavio (Rodrigo) - Noção do Estado, na Revista de
jurisprudencia, 1900.
Poliers et ele Marans - . Esquisse d'nne théol'ie des états
éompusé;;, 1 voI. Tolosa, 1902.
Pond - Municipal controI of public ntilities, 1 voI.
Nova York, ] 908. .
Porrini - Codice dellá giustizia alllll1inistrativa, 1 voL
Florença, 1898.
Posada - Derecho administrativo, 2 VI/Is. Madrid, 1898.
Presutti - Principii fondamentali di scienza dell' am-
e C ministl'azione, 1 vol. Milão, 1903.
C L Presutti - IstItuzioni di diritto am.miuistrativo, 2 vaIs.
Napoles, 1904-1905.
Re.qo ·- Elementos de direito administ.rativo, .1 voI.
Recife, 1860.
Ribas - Direjto administrativo brasileiro, 1 voI. Rio.
· 1866.
Romano - Principii di diritto amministl'ativo, 1 voI.
Milão, 1906.
Uru(Jllcti (visconde do) - °
Ensaio sohre direito admi-
llÍstrativo, I \'01. Rio, 1 ~62.
Vel:rJCt Filho - :.\lanual da sciencia <las finanças, 1 vaI.
S. Paulo, 1898.
Villoboim - O contencioso aunlinistrativo, na Revista
da Faculdade de direito de S. Pauto.
Viveiros de Castro - Tratado de sciencia da admini-
stração e direito admiriistyativo. 1 vol. Rio, 1906. '
vVooclburn - The american'repnblie, 1 voI. Nova York,
] 906.
VVyman - Adminlstrative law, 1vo1. S. Paulo (Minn~
sota, E. D.), 1903. .
Wilson (W.) __ L'E'tat (tI'. franc.); 1 voI. Paris, .1902.
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REVISTAS:
O Direito" Revista de Jurisprudencia e Revista de Direito
. Rio de Janeiro.
S. Paulo Judiciario, S" Paulo.
Revista da Faculdade de Direito de S. Paulo, S. Paulo.
Revue du droit public, Paris'.
Political science quarterJy, Bostoq.
American political
,
science review, .Baltimore.
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INTRODUCÇAO
Secção I '
Preliminares
1. ~ Estado: conceito. - 2. Governo e -administração. - 3. Ob- -
jecto e forma da administração. -4. Caracteres. - 5. Divisão do di-
reito publico. - 6. Direito administrativo. - 7. Direito administrativo
e sciencia da administração. - 8. Fontes do direito administrativo
brasileiro.
1. Tarefa difficil é a de definir o _que é Estado.
Tantas e tão varias e autorizadas são as suas definições,
que pareceria já não haver lugar para novas, quando lá
surge unia obra e com ella~ invariavelmente, a respe-
ctiva definição. A seguinte, se não satisfizer pelo rigor,..
não deixará de seI' pratica: Estado é toda. a associação
humana que em dado territorio existe, sob um poder
politico com fórma de autoridade a exercer~se coerei-
vamente sobre aquella. Ha ahi os tres elementos cara-
cteristicos do Estado - territorio, população e gover--
no. -Classifica-se em simples e composto. Diz-se Estado sim-
ples quando constitue um todo indivisivel; composto,
quando divisivel em estados simples.
A. idéa de um póder independente exercendo-se coactivamente so-
bre a população de um dado territorio , é conceito fundamental da maioria
das definições ultimãmente postas em voga, com o designio de exprimir a
naturezá lio Estado. Encontra-se em Korkounov cé um agrupamento social
dotado de um poder independente que se exerce coercivamente sobre h9-
mens livres) (Théorie général dI' droit, ~ 43) j em Polier & de Ararans :
2 ·
Secção -lI.
Natureza do Estado brasi'leiro
9. - Generalidades - 10 - Triplice aspecto administrativo.
9. -- , -A Republica do Brasil é um , Estado-com-
posto. Assim- se -chama todo aquelle em que um -gover-
no cent.ral se supel'põe aos dos diffel'entes Estados-
membros,. cõmponentes do todo. Isso se~á pela super-
posição do Estado-central sobre os Estados-membros
-ou particulares. Como Estad.o-composf.o é tambem um
Estado-fe~eral. A federaçãO, ou -Estado de Estados,
'14
Secção lII.
fi"uncções administrativas.,
11. - Realiza-se o funccionamento dos " serviços
pnblicos por :meio das autoridades administrativas~ sendo
assim chaIPadas todas as entidades dotadas de .um poder
de decisão pr'opria.. .
Acham-se subordinadas a dous pontos de vista:
18
çoes. '
As partes, porém, pódem fundar as suas preten-
ções:
a) em interesses;
h) em direitos.
Desse modo a administração publica tambem exer-
ce actos de jUl~isdicção; jurisdicção esta que é admi-
nistrativa, porém que, como a judiciaria, tambem se di-
vide em graciosa e contenciosa.
E' gracjosa quando cOIÍhece da pl'etenção das par-
tes, que falam em nome de meros interesses e conten-
ciosa quando as partes procuram fazer valer os seus
direitos, provenientes ou de leis, ou de regulamentos,
ou de contractos.
A jurisdicção gl'aciosa é sempre discricionaria,
porque a- administração não enfrentando em regra com
os ' dir~itos das partes, póde haver-se como julgar me-
lhor' e conveniente aos interesses geraes, desprezando
os individuaes. Não snccede assim com a contenciosa,
pois falando Oi administrados em nome dos -"Seus direi-
tos, a administração é obrigada a att.endê-Ios e respei·
tá-Iossegundo os tel'mos da lei, do regulamento ou do
contracto de onde elllanam elles ..
.;. A distincção das funções administrativas ora estabelecida já não se
encontra ·no moderno' direito administrativo; foi abandonada pelos bons
expositores, comtudo nos pareceu conveniente mencioná-la simplesmente por
vantagem didactica. Foi haurida em Bceuf, Résumé Sltr le dI" administ"
porqlle nem Hauriou, nem Berthélemy, nem !!loreau. nem qualquer dos tra-
tadista.s allemães, italianos ou america.nos, · já. lhe presta. consideração.
. . Quanto á compet.encia territorial, j,l tivemos occa-
sião de referir ás tres unidades administrativas - fe-
deral, estadual e municipal; a ellas cOlTespondem auto-
ridades· federaes; autoridades estaduaese' autoridades
niuni(~ipaes, e' cOll1l)Oem poi's a administl'ação publica
federal a administração publica estadual e a ali ministra-
çãopnbliea murdcipal
20
Secção IV.
Actos Administrativos
12 - Actos do poder publico: diversidade delles. - 13. Actos ad·
ministrativos: conceitó. - 14. Sua divisão. - 15. Força executiva do àcto
administrativo. - 16. Fôrma. - 17. Revogação.
12. - No desempenho das suas multiplas .iune-
ções, para 't obtenção dos , seus fins, o Estadopratiea
actos de -differentes especies. E' por meio- delles 'que
o Estado manifesta a sua vontade, e portanto estão ,
sujeitos conforme a respectiva ,natureza, a um especial
regimen juridico . .
Estes actos se classificam, conforme o seu conteú-
do, em:
1°. actos políticos ;2.° actos de jurisdicção; 3.°
actos legislativos e regulamentarios; 4.° actos ' adminis-
trativos. Ao conjuncto destas quatro~lasses denomina-
remos Cictos do poder publ'l'co, que é de onde emanam
todos elles.
Não sendo da competencia do direito admini~t.rati
vo senão o estudo ,dos actos regulamentados e, dos ad-
, ministrativos, 'os demais tão . s6mente os passaremos em
ligeira revista.
A. - Preferivel é a denominação de actos politicos
a de (tetos de governo, pal~a contornar a diffieuldade que
ourante mnito tempo trouxe em profunda divergeneia
os juristas, sobretudo quando praticamente procura-
vam resolver a quest.ão da , responsabilidade civil do Es-
tado pelas fa1tas commettidas pelos seus agentes. ' São
actos politicos os eoucern'e ntas á acção ' e as relações
exercidas pelos organs políticos entre si, e tambem os
de ordem politica e constitucional feitos com o designio
de ser mantida a unidade politica.
Taes são: (f,) as relações do governo com o Con-
21
22
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Secção V.
Se~aração de poderes '
18. lllusão a. respeito de uma completa. Ecpãração de poderes. -
19. Funcções administrativas exercidas pelo lloder legislativo. - 20. FUDC-
ções legislativás exercidas pelo poder executivo. - 21. FUDcçõe~ jurlicia •.
rias do poder executivo e do podar legislativo, e administrativas do judiciario.
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· PARTE ·~PRrMErRA
OrganizaQãO da AdministraQão publi~a brasileira.
Conhecidos "OS principios geraes, . ond:e assenta ()o
estudo do direito .administrativo; passaremos a exposição-
sistéma:tica da organização administrativa das tres uni-
dades, começando poraqueIla que visa. ·a satisfação dos-
interesses collectivos de todo o pais, e que se compõe
não- só. de orgaJis unipessoaes como tambem de deli- ·
berantes.
-Trataremos emp'l'imeil'o lugar- da erganização .da.
administração publica da União, administração federal
ou na~ional.
CAPITULO I
Secção I
Presidencia da ~el>ubfica
·22 - Generalidades. ,..... 28. Casa oivil e milítardo p. da- Repllblioa. . ~
- 94. Attríbuiçlles do p. da Republica. - 25.. Seu poder reglllameil-
tario. - 26. Formula doa aetol presidenciae8. - 2~. Rlespon8abilidade
do p~ da Repulllica.
22. - . A presidencia da Republica cempõe-se: 1.0-
dQ presidente da Republica; 2.° de uma casa civil ~
.militar.
I . . O presidente é eleito pelo snlIl'agio directo da.
nação, e maioria absoluta de votos (Const. art. 47).
32
Secção II
Ministros e Secretarias de Estado
28. Generalidade. - 29. Ministerios. - 30. Organização. - 31. At-
tribuiçlles dos ministrbs.·:e fórmula dos seus actos. - 32. Responsabilidade
dos ministros. - 38. Secretarias de Estado. - 34. R~clamação contra os
actos ministeriaes.
2.8. O presidente da Republica no desempenho
das suas funcções quer politicas quer administrativas,
é assistido por um grupo de auxiliares ou conselheiros
... .
42
Secção 111
eongre55o fi ederal
35. Generalidade. - 36. Funcções administrativas . do Congresso. -
37. Formula. dos actos do Congresso.
Secção IV
Tribunal de eontas
38. Fnndamento.-39. Organização.- 40. Attribuições.-.41. Forml1l
de procedimento do T. de C.-42.Recursos. -.
- . 59
Sécção V
na bierarquia
48. Conceito - Limites da obediencia dEl,Vida ao superior - Poder
disoiplinar.
43. O grau hierarquico e o principio l:lo hie-
rarquia administrativa constituem attributo -inseparavel.
~ntende-se por hierarquia a subordinação em que ()
funccionario inferior se acha par31 com o superior, que'
deste modo póde exercer a inais ampla' autoridade no.
sentido' de reforma.r qualquer acto não contractnal pra-
ticado pelo funccionario s;ubordinado: Sem a observan-
cia do principio hierarquico, seria impossivel a organi-
zação do da autoridade. Resultam, então, verdadeiras
relações de sUbordinação entre os iunccionarios admi-
mistrativos, encadeando na mesma dependencia toda uma
série de funcçQes, gradativamente. até chegar a uma
suprema unidade su.perior, que é o chefe de Estado.
Como eonsequencia desta formula" é facil verificar-
que as relações de uma funcção superior se contrapoem
as de uma inferior, que por sua vez deve considerar-
se superior a respeito de outra, e assim successiva-
mente, até o ultima elo da cadeià.
. . Varias , são as relações que decorrem da noção de
hiei'arquia administrativa, dando origem ao estábeleci-
mento de regras peculiares ás attribuições do superior
em relação ao exercicio das funcções inherentes ao in-
inferior. O primeiro' eft'eito destas relações é o dever
de obedienciá em qne o inferior está para com o supe-'
rior. A obediencia devida ao supelior é um principio·
geral, uma " regra ·de ; direito ' publico; verdadeira conse-
qJlencia da sujeição imposta pela lei , ao subordinado.
Entretanto o saber até que ponto essa regra deve ser-
observada á risca, ou por outras palavras" o saber se-
tal: obediencia tem limites, é CllUestão muito discutida.
_' 44 - Tenha-se sempre em vista que o superior-
hão póde usar discricionariamente da sua autoridade e-
do direito de ser obedecido incondicionalmente. Elle-
não pÔde ordenar . senão dentro de certos liJllites.
Todo o' a88.Umpto que' por sua natureza não for da,
, orbita ,. das obrig~ões ' do inferior, e portanto nlose -re-
lacionar com as attribuiçoo9- dO. senii;o publiCo. ou que-
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O ~ O 'o
Secção VI
Ffuncci.onalismo 'Publico
46. Conceito. - 47. Relações juridicas entre o Estado e'o funccio-
"nario: não são contractuaes. - 48. Nomeação. - 49. Requisitos pata o
·exercicio da "Íuncção publioa. - 50. Deveres do funccionario. - 51. Re-
sponsabilidade. - 52. Direitos do funccionario. - 53. Cessação das rela-
·ções da funcção publica. - 54. Modificações nas relações.
-
46. - Os assumptos administrativos são tratados por
meio de um determinado pessoal, convenientemente prepa-
rado, que tem o nome de funccionalis!Do publico. Assim
.pois, a administração publica desempenha as suas com-
plexas funcçóes por meio do funccionario publico. Dif-
fici! conceito, entretanto, é esse. Ha funccionarios, cha-
mados de carreira, como os juizes, os officiaes militares.
·os dos differentm; ministerios e secretarias; e os que
exercem certas commissóes; aquelles que percebem re-
tribuição .pelo serviço que prestam, e aquelles que não
:são retribuidos; aquelles, enfim, cujas funcçóes são vi-
talicias, e aquelles cujas Juncções não têm esse caracter;
O caso de serem os negocios administrativos des;.
·empenhados por pessoas que fazem. dessa actividade a sua
profissão habitual de vida, é chamado sistema burocra-
·tico. Ha tambem caso opposto, em que os negocios adminis-
trativos ·pódem ser manejados por pessoas que ao mesmo
tempo fazem a profissão de vida por outro. meio. E' o
sistema daauto-administraçM, em que o funccionario
não precisa .dar provas da habilitação especial e exer-
·ce o cargo honorificamente.
Sob um. aspecto .geral o funccionario publico con-
·corre para a gestão dascou~as publicas, e sem elIe a
:administração não póde:~xercer a sua actividade: o
tfunccionalismo publico compõe-se, portanto, de agen-
ies da. a'dministração publica. .
O direito positi~obrasileiro não dá lu,gara 'ne-
67
CAPITULO 11
Respeitados os principios constitucionaes da União,
cada Estado reger-se-á pela constituiçãO e pelas leis
que adoptar (Const. art. 63). Infere-se dahi que a or-
ganização 'política e administrativa dos Estados-mem-
bros da Republica do Brasil, não está subordinada .a ;c
nenhuma · fórma legal, a nenhum padrão imposto' por lei
alguma.
Os Estados não são, portanto, obrigados a mol- I
Secção I
f)os Estados
00. - Presidentes ou go,"ernadore~. - 56. Legislaturas. -- 57
Milícias dos Esta,dos.
Secção II
1)05 .Terriforio5
58. Historico. - 59. Divisão. - 60. Organização.
Capitulo IH
'na 'ReslJonsabilidade civil do Estado
65. - Exposição (la teoria. - 66. O Estado e o regimen. do di-
nito. - 67. Doutrina conciliatoria. - 68. Tribunaes brasileiros.
" ,.'
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PARTE SEGUNDA
\. A Acçã.o Administrativa
A acção adminis.t rativa do Estado é constituida pe-
los serviços publicos ,.a cargo do mesmo. Especifican-
-do-os pela forma a ,seguir, teremos assignalado o func-
eionamento da administração publica diante as exigen-
.cias do Estado.
1.° o primeiro ramo administrativo, que apparece
.como indeclinavel funcção do Estado, é o financeiro;
pois' todos os serviços publicos acarretando importàntes
despêsa com o respectivo custeio, depettdem da adivi-
dáde economico-fa~endaria do poder publico;
. 2.° o policial, como assegurador da ordem publi-
.ca, dos bons costumes e da salubridade publica;,
3.° o da defesa externa do territorio nacional, a
.cargo. do exercito e ' da armada;
4.° . o dos b.ens destinados ao uso publico, ou' de
todo's, e. o dos destinados tão s6mente ao serviço publi-
.co, formando assim o domínio publico e o dominio pri-
vado do Estado;
5.° o. industrial do Estado, ou de transportes; e
outros;
6.° o do ensino publico, literario, sçientifico e ar-
tistico; o da assistem'~ia publica . .
122 ' -' - ,
CAPITULO I
12-3 ,
CAPITULO II
f)aPolicia
78. Introducção. - 79. · Regimen de policia: como deve ser, eritenl->
dido. - 80. Contravenção. - 81 · Exercicio do poder policial. - 82:
Policia jurliciaria e policia admiDi~trativa. - 83, Da policia judiciaria·; ,
sua organização. - 84. Da polida administrativa, sua organiza..Ção e ai-:-
tribuições como policia de seguran~a .. ...:... 85. Ainlla as slias attribuições'.
- 86. Policias espeeiaes: 1, SaniÚJ,1'Ía.- 87. U mesmo assuml>to: H.
Policia dos costumes; lU. Rttral ; -IV. Policia da caça, da pesca, ,. das . flo.:
"estas e das minas ; V, Commercial. VI. Fert'o-viaria e maritima.
i ' "' , " i ,.
CAPITULO. 111
tancia de ser a 30" linha formada (se bem que por pessoal que haja con-
cluido o tempo de serviço na 20" linha) especialmcnte da guarda nacional
e das milicias dos Estados, quando postas ã disposição do governo fede-
ral pelos respectivos governadores (I. 1860 arts. 32 a 32); ora, tanto a
guarda nacional como as milicias estaduaes representam uma organizaçã.o
rigorosamente local ou regional. -
•
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164
B - Marinha ou Armada
100. Recrutàmento. - 101. Organização das tropas. - 102. 'Dire-
cção. - 103. Deveres e direitos do militar naval.
CAPITULO IV
A - Do Dominio Publico
104. Preambulo. - 10õ. Divisão e caracteristicos dos beus domi-
niaes. - 106. Classificação. - 107. Defficiencia do direito civil em ma-
teria de dominio publico. - 108. C,ompetencia do direito publico. - 109.
.A.cqui8ição; differentes modos. - 110. Mudança da destinação da cousa
publica. - 111. Cessação da dominilidade publica. - 112. Bens publi-
cos da União ou federaes. - 113. Bens publicos dos Estados ou esta-
duaes. - 114. Bens publicos dos Municípios ou municipaes.
Assim pOIS, _
qsbens não susceptíveis de se converterem em
propriedade privada, de qualquer cidadão, constituem
propriamente o dl)minio pu~lico do Estado; são, por-
tanto, inalienaveis. Os 'bens capazes de passarem á
propriedade privada do cidadão. constituem o domínio
privado do Estado; são, portanto,alienaveís;
Donde se conClue que os característicos e~senciaes
dos bens componentes do dominio publico do Estado, ou
tambemchamados de uso publico, em virtude de serem
destinados a tal uso,sãó: a indisponibilidade, a inalie-
nabilidade ea imprescriptibilidade.
'O contrario é o que se verifica em relação aos
bens c9mponentes do dominio privado do Estado, tam-
bem chamados de utilidade publica, em virtude de se-
rem aft'ectados á utilidade publica, os quaes são dispo-
niveis, alienaveis "ê prescriptiveis. -
, Dos ' bens, ou co usas, da primeira categoria, jamais
a administração publica poderá dispôr; e os particula-
res jamais pod~rão- adquiri-los por prescl'ipção, quer se
trate ,da plena propriedade delIes, ' quer de algum outro
direito ~·eal. Estes attributos do dominio publico se
fundam na circumstancia de serem os respectivos bens
destinados ao uso publico, por tanto tempo quanto dura
o motivo · pelo qual são destinados. São cousas fÓl'a do
commercio, e como tal, não podendo usucapil', é que se
dizem imprescripti veis.
- Succede , inversamente com os bens do domínio
pÍ'ivado do Estado, _que " são livremente alienaveis e dei-
xam de . estar fóra do commercio desdé , o dia em que
se tornam alienaveis, e por isso são prescriptiveis.
CAPITULO V
nO Transporte ' em geral
§ 1.0 Serviço Postal
120. - Em que 'consiste. - 121. Sua natureza juridica. - 122.
Dir~itos da administração postal. - 123. Obrigações. - 124. O serviço
postal brasileiro.
120. - O transporte postal, é um serviço publi-
co monopolizado pelo Estado, que, explorando-o, visa
menos o lucro por ventq.ra a auferir que interesses
de ordem social. Elle tem por fim não só o transporte
da correspondencia em geral, isto é, cartas, cartas-bilhetes
e bilhetes postaes, como tambem o de estampas, manuscri-
ptos, 'impressos e jornaes, mas ainda de amostras de
mercadorias e de pequenos pacotes de encommendás.
A correspondencia, em geral, denomina:'se: official,
quando emanada das repartições publicas federaes e das
respectivas autoridades, e relativa a assumptos de ser-
viço publico j postal, quando originaria das repartições
e autoridades .do qorreio e concernente ao ' serviço pos-
tal j particular, quando trocada entre particulares; na-
cional, quando procedente de qualquer localidade da
Republica; internacional, quando originaria de qualquer
país que faça parte da 'União Postal Internacional j es-
trangeira. quando pr?veniente de países que não façam
18
198
CAPITULO VI
 Da Instrucção Publica
131. Divisão do ellsin'l publico. - 132. Ensino secundario. - 133.
Ensino superior: administração, dos .estabelecimentos j individualidade ju-
ridica. - 134. AluQlnos: direitos e penas. - 135. Premios aos professo-
res. - ' 136;- EII~ino livre. - J 37. OUIl'OS institutos de ensino.
213
B. - Da Assistencia PUbl,ica
138. Noções geraes. - 139. Diversas e~pecies 'de Assistencia.
, 140. Assistencia judiciaria.
138. - A assistencia publica no Brasil não , está
sistematizada., de fórma alguma. Se. se exceptuarem ,
alguns hospitaes 'de ,caridade na cid~de ' do Rio, nas ca-
pitaes dos Estados e nalgumas. cidades do interior, to.. ·
dos ell~s de iniciativa ' e administração 1?articular, ainda .
, que 'fruindo subv~nções do poder publico, por ovia de
regra exi~uas; alguns hospitaes , de isolamento, e ambu-
latorios annexos a algumas repartições policiaes, onde
se applicam re~edios ás victimas de accidentes, ,- tudo ,
mais que respeita á assistenCia publica está po/criar
e organizar.
E' um problema difficilimo, o de assignalar 'o papel
do Estado perante a mendicidade, e não o dis~ll.tire~
mos; porque da resolução delle se occupa a sciencia
da administração" mas . não o direito administrativo,
que o já suppõe resolvido.
CAPITULO VII
na ]U5tiçaAdrninistrativa '
, 141. Prea.mbulo. - 142. Conceito e fundamento da j. a. - 143; j. a.
simples e contendasa, - 144.'COInpetencia do contencioso administrativ{\. '
- 145. Tribunaes administrativos.' , -.- 146. Processo administrativo, .' sua.
f6rma. ' " " '
141. - Dous "sistemas disputam a ' competencia"
privativa para 'a resolução ' das ' controversias , juridicas' '
,
·.,'
~~ . 217 ·
"
, , -•. -' . ,:{-;",:7~ . ',- ~ ,,0,,: '
." '
.~ ,
,o processo ,de
semelhante ,:recul'so não se 'rege por
nórmas ,fixas" ném está sujeito : a prasos fàtaes, salvo as
excepções' previstas em leis ou em regnlam:entos ' 'ex-
,pressos.' - ,
, ,A instrucção , graciosa (não ' o i'ecnrso) obedece , a
tres fases dist.inctas:
a)a informação, que correspondeao . processo em
'.materiacontenciosa: ' ,
' h} ,o" exame, que corresponde á , discussão; ,
c} a resolução ou despacho, qu.e corresponde ao
julgamento. '
II~ Conterwiosa. São de drias especies ' as j urisdic-
çõesespe~iaes confiadas ás autoridades administrativas.
', Algumas podem ' chamar-se plenas, por estenderem a sua
, cúmpetencia á todas as ' controversiassuscitadas; taes
sao.' as 'materias , sujeitas á e'ompetencia do Ti'ibllnal de
" Contas, as , de natureza alfande'g'aria e as fiscaes em
gerar; ' sujeitas á· competencia do Conselho da Fazenda,
etc. , Outras, "pelo contrario, são limitadas, no sentido
de que,. offerecida a controversia, a auforidade ' ádmi-
• ni~trativa apenas '"pódê cort~ecel" de palte della, .ficando
as ()utÍ'as" p~rtes: resêl;vadas á jurisdicção judiciaria. Caso
tipico no ' nosso direito é o 'processo }ior infracção de
leis "fiscaes, 'taes como do imposto "do consummo, s'ello,
, etc;; :do qual o ' julgamento é dasattribuições , da admi-
nistração pUblica,mas a execução é pfivativ~ do' fOfO '
, ,comm~m. : ,
". "" '
227,
. . -
229
l....,- · 231
:' . ",
..
4°:0 civil . pôde ser ol'dinario, 8ummario, summa-
l'issimo e especial. ,O administrativo é gerahriente sum~
Jnario e "summal'issimo;
. i ! _ I
.~
. ~. ~-,
Indice Alfabetico
O. '·à1aarlsrnoH indicam os numeros de que se compõe a obra
---0---
A
Aetos administrativos, 12, 13; aetos políticos e de go-
verno, 12 j aetos de jurisdieção, 12; aetos legislativos e re-
gulamentares, 12; aetos bilateraes e unilateraes, 24. -- Ad-
ministração, 2; administração e governo, 2: .- Objeeto e fórma
daadministl'ação, 3; ·divisão da administração, 3. - Adminis-
tração aetiva, 11 i administração deliberativa, 11; contenciosa,
11, 141; graciosa, 11, 141; do exercito, 94; da armada, 102.
_ . Administração (sciencia da), 7. - Almirantado, 102. - Alis-
tamento militar (vide s01·tmo). - Assistencia publica, 138;
, judieiaria, 140. - Agricultura (ministerio da), 29 G.
B
. Bens publieos da União, 112; bens publicosestaduae~,
113jidem municipaes, 114; bens dominiaes, 105, 106, 1U7,
108, 109, 110.- Bibliografia, VI~.
C
Caracteres da administração, 4. C~sa civil e militar,
23. ·-:-- Circulares, 31.-- Contractos, 47. - Contravenção,
.8 0 -:- Costum.es (policia dos), 87 II - Caça (policia da) 87
\ IV'':'-' Commereial(policia) 87 V Contrabando, 76 - . Cen-
s~ra, .85.
D
Direito administrativo, 6. -- Direito administrativo e
sciencia da administração,· 7. - Despachos e decisõef)" iH.
" .
234
, , '
I
Impeachmmd, 27. - Impostos, 73, 74, 75, 76, 77, 78. -
Instrucções, 131. -. Illstrucção publica, 131; -132, 133, 134,
135, 136. - Intendentes' mUIiicipaes, 62 .
...
•J
Justiça administrativa, ' 141, 142, 143, 144. ,Tustiça
Militar, 96.
I ...
cIJegislaturas dos Estados, 5G.
235
Manifestos, 26.
M
Mal'itimé1 (policia) 87 VI. ~Ien-
.
sagens, 26. - Milícias dos Estados, 56. ~ Minas (policia
das) 87 IV. -Militares (deveres e ol:Jrigações dos) 97, 103 .
. - Seus direitos, 98, 103. -..: Multas, 51. -.Municipios, 61,
62, 63. '-'- Municipalização dos serviços publicos, 64.
o
Obediencia, 44. Obedienciapassiva, 44, fJ7. -- Offi-
ciaes do exercito, 92. --:- Officios, aI. -- Orçamentos, 71.
p
Pensão, 52. _ .. J'olitica, 2. - Poderes (vide selJa1'açcIo
de). ~ Policia (conceito e poder), 7S, 79, 81.- Policia
judiciaria, 83. -:- Idem administrativa, 84. - Policias espe-
. ciaes, 86. - Pesca (policia da) 87 IV. - Postal (serviço)
120, 121, 12<!, 123, ] 24. '- Poder disciplinas, 45. -.-: Presi-
dente da Republica, 22. - Presidente da Republica (sua
responsabilidade), 27. -'- Presidente da Republica (attribui-
ções), 24. - Presidentes dos Estados (vide govenutdores) -
Portarias, 31. - Prefeitos; 60, 62. - - Processo administra-
tivo, 74, 140. - Prescripção 77, 105, 111.- Principios re-
publicanos, capo II pr.
R
Referendum, 18, 7 L - Recrutamento, 91, 100. - Re-
cursos, 146. -:- Rendas publicas (vide .Fazenda publica). -
Receita e despesa,71. - Rural (policia), 87. IIl. - Regu-
lamentos administrativos, 25. - Recursos,' 42. - Republica
fêderativa, 9, capo U pro - Repreensão, .51. -:- Remoção, 51.
.- Regimen municipal, 62. - Regimen municipal (a~tribui
ções), 63. - Responsabilidade civil do Estado, 65, 66, 67, 68.
S
Sallitaria (policia), 86. - Secretarias de Estado, 33.
Senado, 21, 27. - Separação de poderes, 18, 19, 20, 21,
cap.U. pr. -- Serviço militar, 89, 90. - Serviço ferro-yiario
236
T
Telegl'afico (serviço) 125, 126. - 'l'el'l'itol'ios, 58, 59,
60. - Tribunaes administrativos, 145. - Tribunal de Con-
tas, 38, 39, 40, 41. ~ Tropas da marinha, 101.
V
Via. publica (V. policia administrativa)
Contem-se neste ';lIuro.asetulnte materla:
Pago
Bibliografia . . . . . o • • •• o • • • VII
Introtluc'6ão
. Secção I Preliminares . . . . . . 1
o" H Natureza do Estado Brasileiro 13
" HI Funcções Administrativas .. 17
." IV Actos Administrativos . 20 .-
" V Separação de Poderes . ~6
,
Parte Primeira
Organização da Administração 'Publica 'Brasileira
CAPITULO I
CAPITULO II
. Secção I Dos Estados. . fl4
" TI Dos Territorios. 100
" IH Dos Municipios . 103
. ~TULO IH
Da Responsabilidade Civil do Estado . o 114
238
Da Policia 136
CAPITULO lU
CAPITUr.O IV
CAPITULO V
"õo T ransj;lorte em Geral
§ 1.0 Serviço postal '. ' , ,197
. § 2.° Serviço telegrafico "
202
§ 3,0 Serviço ferro-viario 204
CAPITULO VI
A - Da Instrucção Publica', , , 207
B - Da Assistencia Publica, , ' 214
CAPITULO VII
Da Justiça Administrativa . 216'
Esclarecimento .e emendas
o sistema da nO'meaçãO' dO' chefe dO' gO'vern<i municipal
(intendente ·O'u prefeitO'), pelO's presidentes O'U gO'vernadO'res
dO's EstadO's, de preferencia .aO' sistema electivO', tem O' seu
fundaméntO' na necessidade de se criar um ~ÍlculO' pO'liticO'
en.~re . O' gO'vernO' dO' EstadQ e O' dO's municipiO's,· hannO'nizandO'
assim a cO'mmunidade dO's interesses centraes cO'm O'S IO'caes,
sem prejuizO' da autO'nO'mia .municipal, a qual, alem de garan-
tida pela CO'nstituiçãO' da Republica, se cO'ncretiza na facul-
dade de instituir a sua lei O'rganica e na eleiçãO' dO' cO'nselhO'
municipal.
Mas, tendO'-se em cO'nsideração O' extraO'rdinariO' desen-
vO'lvimentO' dO's prO'blemas municipaes, a cO'mplexidade dO's
assumptes em que as municipalidades se vãO' envO'lvendO',
cada vez mais, e a difficuldade em manejá-lO's, com acerto,
resulta que o provimentO' de taes cargos deve recahir em in-
dividuos de aptidão e competencia não communs, raras vezes
encontrados em atrasados localidades do interior do país.
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