Você está na página 1de 13

GCC-1049 Geografia da Saúde:Teoria, Método e

Aplicação
Professor : Rivaldo Mauro de Faria
Aluno:Diego Dal Pozzolo dos Santos.
2o Semestre/2017
Tema:Max Sorre e o Complexos Patogênicos
A Geografia Médica e da Saúde constitui
uma das possíveis abordagens da
Geografia. Trata-se, a princípio, de um
esforço teórico na análise sobre o meio —
suas propriedades climáticas, físicas e
sociais — na busca por correlações,
mutualidades e multicausalidades acerca da
insurgência e do desenvolvimento de
patologias. O meio enquanto categoria
espacial se revela, portanto, como um dos
expressivos fatores que influenciam o
alastramento de epidemias e a mutação de
organismos patogênicos (ROJAS, 1998).
Maximilien (Max) Sorre (1880-1962) foi um
geógrafo francês responsável pelo
aprofundamento de pesquisas com tal
tendência, aproximando geografia e
biologia na tentativa de compreender
aspectos da natureza e das sociedades
capazes de explicar a genealogia e a
evolução das doenças.
O conceito de complexos patogênicos,
desenvolvido pelo geógrafo francês
Max Sorre (1933), fazendo
referência a um conjunto biológico
– estável e localizado, ao menos em
teoria – relacionado com o homem
através de certas patologias,
permitiu o estudo das doenças a
partir de uma abordagem sistêmica.
Tal conceito abarcou processos
relacionados à influência de
variáveis ambientais em interação
com o agente causal da
enfermidade, os vetores e outros Guimarães(2014),p.22
seres vivos.
De acordo com Sorre, os Agentes
Etiológicos produzem a enfermidade e
podem ser: vírus (como o caso da raiva ou
da febre hemorrágica), bactérias (cólera,
peste bubônica), protozoários
(leishmaniasis, Chagas), chlamidias
(psitacosis, zoonosis própria das aves que se
transmite ao homem).
Os vetores são os animais que transferem
um agente etiológico desde um hospedeiro
a outro. A maior parte deles é artrópode e
possui uma grande dependência dos fatores
físicos externos. Por sua atividade, ciclos
biológicos e inclusive pela sua própria
existência, estes organismos estão
estreitamente relacionados às condições do
entorno.
Os reservatórios são os seres vivos capazes
de hospedar durante um período os agentes
causais das doenças, permitindo-lhes o
cumprimento de seu ciclo biológico.
Podemos citar como exemplo, caracóis nos
casos da esquistossomoses, aves (psitacosis),
roedores (peste, febre hemorrágica), cães e
gatos (hidatidosis, leishmaniasis, raiva) e até
primatas(febre amarela, raiva).

Pickenhayn et al (2008).
"…a noção de Gênero de Vida, é extremamente
rica, pois abraça a maioria, se não a totalidade
das atividades do grupo e mesmo dos
indivíduos. (…) êstes elementos materiais e
espirituais são, no sentido exato da palavra,
técnicos, processos transmitidos pela tradição e
graças aos quais os homens se asseguram uma
posse sôbre os elementos naturais. Técnicas de
energia, técnicas de produção de matérias-
primas, de maquinaria, são sempre técnicos,
como as instituições que mantêm a coesão do
grupo assegurando sua perenidade". (SORRE,
1963:30).
 Ecologia Humana
O ser humano pôde ser considerado um integrante especial do
sistema porque atuava sobre todo o plexo biológico e ambiental,
assegurando a permanência ou o declínio das relações entre os
elementos. A obra de Max Sorre permitiu a apreensão da doença em
termos de um fenômeno localizável, passível de delimitação em
termos de área.
 História natural das doenças, para diversas moléstias
 O Hantavírus foi identificado pela primeira vez em 1953 durante a
Guerra da Coreia, porém Caracteriza-se por ser uma doença
emergente, do tipo febre hemorrágica e alta letalidade (41% no
Brasil),No mesmo ano ocorreram surtos em áreas rurais no oeste dos
EUA.
 A Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus, também chamada de
Hantavirose, teve seu primeiro caso notificado no Brasil em 1993, na
região de Juquitiba –SP com três irmãos, todos agricultores.
 Entre 1993 e 2012 foram registrados 1.537 casos registrados no Brasil,
com casos no Paraná,no oeste catarinense, em Rondônia, na
Amazônia e no Maranhão. No período, foram, sendo 207 no Estado de
São Paulo. Os dados são do Centro de Vigilância Epidemiológica
paulista.
 O reservatório do hantavírus são roedores silvestres que no Brasil se
destacam o Akodon sp (rato da mata), Oligoryzomys sp (ratinho do
arroz) e Necromys lasiurus sp (rato do rabo peludo). Os hantavírus
parecem ter sua evolução estreitamente relacionada com o roedor
reservatório e parece haver uma surpreendente co-evolução entre o
vírus e o roedor hospedeiro através de milhares de anos (foram
identificados fragmentos do vírus no RNA mitocondrial)
 A transmissão do Hantavírus para o homem ocorre pela inalação de
partículas virais aerossolizadas, presentes nos excrementos e saliva
dos roedores.
 Os Estudos de Complexos patogênicos são um tópico que
pode ser explorado dentro da proposta da Ecologia da
Paisagem. Oriunda da Alemanha e da Europa Oriental. É
caracterizada por uma visão holística, ou seja, enfoca as
questões em macro-escalas, buscando a compreensão global
da paisagem e centrada nas interações do homem com seu
ambiente, onde a paisagem é vista como o fruto da interação
da sociedade com a natureza.
 A Epidemiologia da Paisagem tem como desafio integrar
dinamicamente diferentes fatores, com ênfase em suas
interações e não apenas em sua sobreposição espacial. A
análise da paisagem permite um melhor entendimento das
interações entre as mudanças nos ecossistemas e clima; uso
da terra e comportamento humano; ecologia de vetores e
reservatórios de agentes infecciosos. Fonte: Lambin et al.,
2010
 Anos 2000 Estímulos a produção de
biocombustíveis (Guerra ao Terror, Questões
Ambientalistas, qualidade de combustíveis,
novas tecnologias como o Motor
Flex,crescimento da frota...)
 Grandes alterações na paisagem paulista nos
últimos anos, em sua cobertura e em particular
em seu uso agrícola, associada à intensificação
das lavouras de cana, somadas a aspectos
climáticos sazonais regionais, trazem novas
perturbações a um sistema em que conviviam
roedores e humanos.
 Este estudo foi desenvolvido nas
microrregiões de Ribeirão Preto e São Carlos,
Estado de São Paulo, que corresponde a 22
municípios: Ribeirão Preto, Sertãozinho,
Pontal, Serrana, Jardinópolis, Cravinhos,
Barrinha, Santa Rita do Passa Quatro, Santa
Rosa do Viterbo, Brodowski, Pradópolis, São
Simão, Luís Antônio, Serra Azul, Dumont,
Guatapará, Descalvado, Dourado, Ibaté,
Analândia, Ribeirão Bonito e São Carlos, dos
quais 10 notificaram casos de Hantavirose.
Prist P.R et al (2016)
Furtado,M.A et al (2013),p.2387
Conclusão
O padrão de paisagem mais encontrado na região analisada foi
Fragmentos Florestais Isolados Rodeados por Cana de açúcar, e esse padrão
de paisagem é um dos que mais favorecem as populações dos
roedores silvestres, reservatórios da Hantavirose.
A região de estudo atravessou por mudanças nas últimas décadas,
devido às transições das classes floresta, pastagem e outras culturas,
para cana, desenhando novos mosaicos na paisagem regional, com
possíveis implicações na dinâmica de transmissão e persistência da
Hantavirose.
Dutra,D.A. Geografia da Saúde: Arcabouços Teórico-Epistemológicos, Temáticas e
Desafios. Tese de Doutorado. Curitiba/PR, UFPR, 2011.
Furtado,M.A et al. Padrões de paisagem espaço-temporais nas microrregiões de Ribeirão
Preto e São Carlos: Investigando a história natural da hantavirose a partir da análise da
estrutura da paisagem. Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR,
Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013,p.2384-2391, INPE. Disponível em:
<http://www.dsr.inpe.br/sbsr2013/files/p0911.pdf>
Guimarães,R.B. Saúde: Fundamentos de Geografia Humana.Rio Claro: Unesp,2014,110p.
Lambin,E.F et al. Pathogenic landscapes: Interactions between land, people, disease
vectors, and their animal hosts. International Journal of Health Geographics 9:54,p.1-
13,2010. Disponível em:
< https://ij-healthgeographics.biomedcentral.com/articles/10.1186/1476-072X-9-54 >
Pickenhayn, J.et al. Processo de Urbanização da Doença de Chagas na Argentina e no
Brasil. Hygeia 4(7):58-69, Dez/2008. Disponível em:
< www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/download/16920/9325>
Prist,P.R. Landscape, Environmental and Social Predictors of Hantavirus Risk in São Paulo,
Brazil.PLOS one,2016.Disponível em:
<http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0163459>
ROJAS, L. I. Geografia y salud: temas y perspectivas en América Latina. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 4, n. 14, p.701-711, out. 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v14n4/0063.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2015.

Você também pode gostar