Você está na página 1de 6

Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra

Juízo de Família e Menores da Figueira da Foz - Juiz 2 Certificação Citius: elaborado em 02-08-2022
Palácio da Justiça, Passeio Infante D. Henrique
3080-154 Figueira da Foz
Telef: 233401740 Fax: 233093529
Mail: figfoz.familia@tribunais.org.pt

200460-10079600

% *RE638264856PT*
1019/15.2T8FIG-C

Exmo(a) Senhor(a)
Sara Catarina Anjos Ribeiro
Av.ª Vítor Gallo, Lote 36, 4.º A- Dt.º
2430-173 Marinha Grande

Alteração da Regulação das N/Referência 89032819


Processo: 1019/15.2T8FIG-C
Responsabilidades Parentais Data: 03-08-2022
Requerente: Carlos Ferreira Marques da Costa
Requerido: Sara Catarina Anjos Ribeiro

Assunto: - Notificação – Art.º 25.º do R.G.P.T.C.

Crianças: Miguel Ângelo Ribeiro Costa, filho de Carlos Ferreira Marques da Costa e de Sara Catarina
dos Anjos Ribeiro, estado civil: Solteiro, nascido(a) em 02-09-2012, freguesia de Sé Nova [Coimbra],
nacional de Portugal, NIF - 279345259, BI - 31067944, Endereço: Morada da Sua Avó Materna Maria Isabel
dos Anjos, Rua Manuel Cecílio Amador, N.º 22, 1.º Esq.º, Bairro da Bela Vista, 3080-018 Figueira da Foz

Fica por este meio devidamente notificada na qualidade de Requerida/Progenitora, para no prazo de 10
Dias, exercer o contraditório relativamente ao relatório social de ATE de que se junta cópia, nos autos de
processo supra referidos, podendo pedir esclarecimentos, juntar outros elementos ou requerer a solicitação
de informações que considere necessárias, nos termos do art.º 25.º, do R.G.P.T.C.

Com os melhores cumprimentos

A Oficial de Justiça,

Margarida Cristina Fernandes de Matos

Notas:
· Solicita-se que na resposta seja indicada a referência deste documento
INFORMAÇÃO
PROCESSO TUTELAR CÍVEL

Identificação do Tribunal

Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra - Juízo de Família e Menores da Figueira da Foz

J Juiz 2 Processo Judicial nº 1019/15.2T8FIG-C – Alteração da Regulação das Responsabilidades


Parentais

Identificação do serviço do ISS,I.P.

Centro Distrital de Coimbra Equipa NIJ / SATT

O Técnico Victor Silva

Identificação do menor

Nome Miguel Ângelo Ribeiro Costa

Morada Rua Manuel Cecílio Amador, 22 – 1º Esq. - Bairro da Bela Vista – Buarcos - 3080-018 Figueira da Foz

Fontes e Metodologia

• Entrevista com Mª Isabel Anjos, avó materna da criança, nas instalações do Serviço Local da Segurança Social

da Figueira da Foz (26/Julho);

• Entrevista com Ricardo Manuel A. Ribeiro, tio materno da criança, no local atrás mencionado (26/Julho);

• Contacto telefónico com Ricardo Ribeiro, tio materno (27/Julho);

• Audição do menor Miguel Ângelo, no local atrás mencionado (26/Julho);

• Consulta do Sistema de Informação da Segurança Social (SISS).

Nota: apesar das tentativas de contacto com o progenitor até à conclusão do documento, este nunca atendeu

o telemóvel, tendo devolvido uma chamada, mas em período fora do horário de trabalho do Técnico;

quando, no dia seguinte, procurámos ligar-lhe de novo, não obtivemos qualquer sucesso.

AS-106-V01-2020
Pág. 1/5
Dados relevantes para o processo

No âmbito do processo, e sabendo-se que o Miguel Ângelo está a residir junto dos avós maternos desde muito novo, e
sendo que no passado dia 8 de Julho p.p., a residência desta criança foi atribuída (provisoriamente), no âmbito da
Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais, à avó materna Mª Isabel dos Anjos, esta familiar foi
entrevistada, tal como o seu filho Ricardo Ribeiro, a residir temporariamente junto dos respectivos pais, e que não tem
deixado de lhes assegurar algum apoio neste período de tempo em que os comportamentos de Sara Ribeiro, ora
progenitora de Miguel Ângelo, e a residir na Marinha Grande, têm sido considerados desajustados no domínio pessoal e
da parentalidade.
Nesta sequência, esta avó materna da criança referiu, em contexto de entrevista, que o neto, desde a decisão judicial
datada do dia 8 de Julho, passou, até ao momento, um só fim-de-semana com a progenitora, na Marinha Grande, mas
que acabou por se prolongar até ao dia 20 (quarta-feira) do corrente mês. Mais nos foi comunicado que seria suposto o
Miguel Ângelo estar com a progenitora do dia 15 (sexta-feira) até ao dia 17 (Domingo), porém, esta veio a informar os
seus pais que o filho iria ficar a viver consigo porque se tratava do próprio filho. Perante esta narrativa, Mª Isabel
relembrou a filha de que havia uma sentença judicial, e que a situação do seu neto estava bem definida em termos de
residência e convívios parentais ao que, alegadamente, a progenitora não deu relevância. Seja como for, esta avó
materna terá também comunicado à filha Sara Ribeiro de que o Miguel Ângelo tinha uma consulta no Hospital
Pediátrico de Coimbra, na especialidade de ortopedia, no dia 21 (quinta-feira).
Perante esta pressão com base nesta argumentação, e da sua obrigatoriedade em respeitar a decisão judicial em vigor,
Sara Ribeiro acabou por entregar o filho no dia 20, ao final da tarde.
O certo é que, volvido este iato temporal, o Miguel Ângelo não se mostra, de momento, disponível para regressar ao
contexto familiar materno, sendo que tem sido habitual esta criança ficar “(…) super agitado… super nervoso… deixa de
comer” (sic) quando se aborda esta questão convivencial, e chega a pedir ajuda ao tio e à avó materna para (…) não o
deixarem ir com a mãe” (sic). Mais nos foi acrescentado por Mª Isabel e pelo filho Ricardo Ribeiro de que a criança se
queixa de “(…) haver muitos homens em casa” (sic), e de referir que à noite “(…) não consigo dormir” (sic).
Perante este quadro de reclamações da parte do Miguel Ângelo junto destes familiares, quer a avó materna quer o tio
materno, consideram que a situação de vida de Sara Ribeiro deveria ser avaliado no sentido de serem apuradas as suas
reais condições sócio-familiares, e as competências parentais que, no entender destes familiares, ficam muito aquém
daquilo que é desejável atento os interesses da criança, até porque, como alegam, esta figura parental nunca evidenciou
condições pessoais e capacidades parentais para assumir o processo de desenvolvimento do filho que, recorde-se,
reside com os avós maternos desde tenra idade.

AS-106-V01-2020

Pág. 2/5
Mais nos foi comunicado que no passado dia 6 de Julho, Sara Ribeiro compareceu no Bairro da Bela Vista, sem dar
conhecimento prévio desta situação, e que, ao que parece, queria ver o filho Miguel, sendo que este estava ausente de
casa em virtude de ter saído com a avó e com o tio, para fazerem compras e dar um passeio. O certo é que esta
“visita” da progenitora veio a desencadear um conflito, e a presença da PSP, que participou ao Tribunal a respectiva
ocorrência. Ao que parece, também fez saber junto de Manuel Félix, ora avô materno da criança, que não iria estar
presente no Tribunal, na Conferência de Pais, no dia 8 de Julho, sexta-feira, por não ter “(…) condições económicas” (sic).
Também nos foi relatado por Ricardo Ribeiro que no dia 26 de Junho (Domingo) , um dia após o aniversário da sua
mãe, a progenitora da criança compareceu junto à residência daquela, no Bairro da Bela Vista, e “(…) quis bater na minha
mãe” (sic), situação em que os vizinhos terão evitado uma escalada conflitual àquela que foi gerada inicialmente, tendo
aquele adiantado que a sua irmã Sara compareceu no bairro com o companheiro, e acompanhada por mais dois
indivíduos.
Sobre os convívios parentais anteriores ao ocorrido do dia 15 do presente mês, este tio do Miguel, comunicou-nos que
a progenitora, de uma forma global, tem cumprido, ao longo do tempo, com os horários acordados na entrega da
criança aos Domingos porque o Miguel, anteriormente às férias de verão, e com o ano lectivo a decorrer, não podia
faltar às aulas na segunda-feira seguinte.
Relativamente aos convívios parentais entre Carlos Costa, ora progenitor, e o filho, quer a avó materna, quer o tio,
foram unânimes em afirmarem que o regime de convívios tem decorrido de forma regular e tranquila, transparecendo
um sentimento de satisfação pela forma como decorre a relação paterno-filial.

Em momento posterior, o Miguel Ângelo foi ouvido individualmente, e constatámos estar na presença de um menor
com um discurso espontâneo e concreto, e que começou por dizer que transitou para o 5º ano de escolaridade,
matriculando-se na EB 2,3 João de Barros, e que pratica a actividade desportiva de futebol no clube da Naval 1º de Maio
e, a seguir, veio a caracterizar os contextos familiares, quer o dos avós, quer o paterno, e quer o materno, e a forma
como se desenrolam os convívios parentais:

a) Progenitor: os convívios “(…) correm bem… damos passeios grandes… vamos ao parque aquático… vamos às compras… jogo
playstation 4” (sic), transparecendo, das palavras proferidas, um sentimento de satisfação pela relação filial que vem
estabelecendo;

b) Progenitora: no decurso dos convívios maternos, o Miguel Ângelo abordou um conjunto de situações, quer de
natureza relacional, ambiental e lúdica, começando por dizer que em casa da progenitora “(…) costumamos passear… fico
em casa com o namorado dela quando ela faz formação” (sic). Já em relação aos objectos lúdicos disponíveis assinalou que “(…)
já não são para a minha idade” (sic).

AS-106-V01-2020

Pág. 3/5
Em termos do ambiente ali vivido, o Miguel exprimiu que no espaço habitacional reina a “(…) confusão total… muitos
homens em casa à noite e eu não consigo dormir… eles são um bocado estranhos... confusão, guerras por causa de jogos de tiros, de
carros… são do telemóvel” (sic). Relata, também, que “(…) agora durmo na cama antiga deles [da mãe/namorado]” (sic), e
assinala que numa ocasião, em que um amigo da mãe ficou a pernoitar num dos quartos, o próprio Miguel teve que
dormir no chão da sala. Reiterando o mal-estar que sente no contexto familiar materno face ao movimento de pessoas
que entram e saem, mormente “(…) homens e mulheres” (sic), o Miguel Ângelo mostrou forte resistência em dar
continuidade aos convívios no contexto residencial materno, sentindo-se, igualmente, pressionado pela progenitora que
vai afirmando, nas palavras da criança, “(…) ela quer que eu viva à força com ela” (sic).

c) Avós maternos: por último, o Miguel Ângelo acabou por expressar a sua motivação em dar continuidade à sua
vivência no contexto familiar dos avós/tio, dizendo “(…) prefiro eles” (sic); com o progenitor, “(…) só gosto de passar os fins-
de-semana com ele” (sic) e, por último, deixou vincado a sua recusa em ir para casa da progenitora atento o suposto
ambiente familiar que ali se vive, e que, nas palavras da criança, não deixará de ser algo confuso e instável.

Apreciação global

O Miguel Ângelo tem vindo a residir no contexto familiar dos avós maternos onde, de acordo com os indicadores
disponíveis, são exercidas práticas parentais positivas (e.g., envolvimento parental, responsividade, monitorização e
suporte emocional), e em que a parentalidade é exercida de acordo com os interesses desta criança, tudo indiciando a
existência de uma adequação entre as estratégias parentais e as características pessoais desta criança.
Relativamente ao contexto familiar materno, e fazendo fé nas palavras da avó e tio materno, a progenitora não se tem
apresentado para este filho como figura de referência, nem lhe confere, de momento, sentimentos de segurança e
protecção, sendo que o clima familiar sentido pelo Miguel corresponderá, pela descrição efectuada em contexto de
audição, a um mundo confuso, algo assustador e pouco seguro.
Acrescente-se, igualmente, que esta recusa do Miguel Ângelo em passar fins-de-semana com a progenitora resultará
dos conflitos que vão existindo entre as partes envolvidas no processo, da pressão que é exercida no menor no sentido
de este passar a residir consigo, da existência de um discurso de desqualificação, sobretudo em relação aos avós,
situação que o tem, de forma recorrente, fragilizado do ponto de vista emocional, e que, em termos relacionais, tem
conduzido ao estabelecimento de uma relação materno-filial pouco consistente e algo insegura. Nesta sequência, o
Miguel manifestou, de forma espontânea, recusa em dar continuidade aos convívios com a figura materna e,
naturalmente, vir a passar cerca de uma semana de férias com a mesma, tal como ficou estipulado no acordo
provisório, aí ficando assinalado um período entre os dias 22 e 28 de Agosto.

AS-106-V01-2020

Pág. 4/5
Nesta sequência, aquilo que importará saber, a curto prazo, é se este modelo parental que subjaz a esta progenitora vai
de encontro a uma parentalidade que englobe a protecção, a educação e a certificação de uma socialização adequada
deste filho. A avaliar pelas informações que nos foram transmitidas, esta figura parental tem-se mostrado incapaz de
assegurar uma prática segura e consistente em matéria de parentalidade.
Relativamente à matéria subjacente ao presente processo, e tendo em atenção os indicadores existentes, e sinalizados
pela avó, tio e criança, será de considerar não existirem, actualmente, condições favoráveis ao estabelecimento de
convívios parentais autónomos a decorrerem em contexto familiar materno, parecendo-nos que possa existir uma
frágil relação funcional e de confiança entre a criança e a progenitora e, por outro, pouca disponibilidade para o
estabelecimento de uma relação comunicacional e profícua entre a progenitora e os avós maternos no âmbito das
decisões de particular importância relativamente à vida da criança, não sendo de olvidar, também, as memórias de
situações algo negativas experienciadas, e divulgadas pelo Miguel Ângelo, quando inserido no contexto materno.
Expor esta criança a um conjunto de convívios maternos sem um conhecimento prévio da dinâmica e/ou funcional
actual desse contexto familiar, será, em nosso entender, um risco atento a defesa dos interesses desta criança. Mais
diremos que perante as narrativas do Miguel, os conflitos que decorrem entre mãe/avós, e o receio exteriorizado pela
avó e tio pelo bem-estar e segurança da criança aquando da sua estadia no domicílio materno, tudo se conjugará para a
necessidade de se avaliar a situação de vida de Sara Ribeiro, até porque já é evidente sintomatologia como ansiedade e
stress da parte do Miguel quando abordado o assunto dos convívios junto da figura materna.

Estando prevista, a curto prazo, uma intervenção em sede da Audição Técnica Especializada, parece-nos que será um
momento importante no sentido de se apurar o conteúdo das narrativas que serão aí expostas, e de se averiguar, de
forma mais pormenorizada, as condições e as competências parentais de cada figura parental. Até à conclusão dessa
intervenção, e tendo em conta a eventual existência de factores de risco, o nosso parecer vai no sentido de se cancelar
os convívios maternos até ao desfecho da Audição Técnica Especializada. Seja como for, há que sublinhar a importância
de vir a ser realizada uma abordagem in loco à situação sócio-familiar e laboral da progenitora, avaliação a ser
efectivada pelo Centro Distrital de Leiria da Segurança Social.

O Técnico Victor Silva Data 28/07/2022

Validado por Helena Cunha Data 02/08/2022

AS-106-V01-2020

Pág. 5/5

Você também pode gostar