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LAUDO PERICIAL

Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul


1ª Vara Judicial da Comarca de Três Passos

Processo nº 5000415-07.2020.8.21.0075

Perita
Tainara Luana Schmidt Steffler
Eng. Sanitarista e Ambiental e Eng. de Segurança do Trabalho

Três Passos, março de 2022.


Laudo Pericial Processo nº 5000415-07.2020.8.21.0075
Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul – 1ª Vara Judicial da Comarca de Três
Passos/RS

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
1.1 Preâmbulo ............................................................................................................. 3
1.2 Breve histórico do caso ......................................................................................... 3
1.3 Objetivo da perícia................................................................................................. 3
1.4 Material utilizado ................................................................................................... 3
2. DESENVOLVIMENTO................................................................................................. 4
2.1 Metodologia ........................................................................................................... 4
2.2 Atividade desenvolvida .......................................................................................... 4
2.3 Exposição ao agente nocivo .................................................................................. 4
2.3.1 Agente físico – Radiação não-ionizante .......................................................... 4
2.3.2 Agente químico ............................................................................................... 5
2.3.3 Agente biológico ............................................................................................. 5
2.4 Resposta aos quesitos .......................................................................................... 5
2.4.1 Quesitos elaborados pela parte autora ........................................................... 5
2.4.2 Quesitos elaborados pela parte ré .................................................................. 9
3. CONCLUSÃO PERICIAL .......................................................................................... 11
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1. INTRODUÇÃO

1.1 Preâmbulo
PROCESSO Nº: 5000415-07.2020.8.21.0075
COMARCA: TRÊS PASSOS
AUTOR: RAFAEL ZIMMERMANN
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

As dezessete horas do dia vinte e nove de outubro do ano de dois mil e vinte e um,
em atendimento a solicitação do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, a perita,
Engenheira Sanitarista e Ambiental e Engenheira de Segurança do Trabalho, registrada no
Conselho de Classe CREA-RS sob o n° 230955, Tainara Luana Schmidt Steffler, deslocou-
se até onde o autor se encontrava para realizar a perícia. A perícia se dá em razão de
apurar os seguintes fatos: (a) caráter especial das atividades laborais exercidas pelo autor.

1.2 Breve histórico do caso

O Sr. Rafael Zimmermann ajuizou ação previdenciária contra o Instituto Nacional


de Seguro Social – INSS, alegando exercer atividade urbana em condições especiais
durante sua jornada de trabalho. Portanto, se faz necessário a realização de perícia técnica
para analisar as condições existentes no ambiente de trabalho da parte autora para verificar
se as situações constituem riscos potenciais a saúde do trabalhador.

1.3 Objetivo da perícia

O objetivo da perícia é verificar se o autor exercia suas funções laborais exposto aos
agentes nocivos à saúde ou integridade física do trabalhador durante a sua jornada de
trabalho, consideradas em função da sua natureza, concentração, intensidade e fator de
exposição.

1.4 Material utilizado

Os materiais de apoio utilizados na realização da perícia foram: máquina fotográfica,


prancheta de anotações, papel e caneta.
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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Metodologia

A perícia procedeu inicialmente com um questionamento ao autor referente a todas


as atividades exercidas pelo mesmo durante sua jornada de trabalho. O questionamento
foi realizado afim de coletar as informações necessárias sobre as atividades desenvolvidas
para compor o laudo pericial.

2.2 Atividade desenvolvida

O autor desempenhava o cargo de Técnico em Agropecuária, e posteriormente


Engenheiro Agrônomo desde o período de 01/08/1994 até o dia da perícia, onde o mesmo
sempre desenvolveu as mesmas atividades, as quais são realizadas essencialmente a
campo como a prestação de assistência técnica aos produtores da região, orientando-os
quanto ao manejo correto de práticas agrícolas e agropecuárias. Para tanto realizava a
demonstração na prática de regulagem de bicos e barras aspersoras de plantadeira e
pulverizadores as quais continham os mais variados agrotóxicos como inseticidas,
fungicidas e herbicidas. O autor realizava o preparo das caldas que eram utilizados na
lavoura, utilizando um recipiente como medidor de vazão do pulverizador para adequar as
aplicações de dosagem corretas e necessárias a cada tipo de cultura. Fazia expurgo em
armazéns. Ainda, realizava atividades no setor de produção leiteira e manejo dos animais,
realizando inspeções em esterqueiras, composteiras, aplicando vacinação, medicamentos
e realizando partos, coleta de amostras de sangue em animais doentes e inseminação em
suínos e bovinos.

2.3 Exposição ao agente nocivo

2.3.1 Agente físico – Radiação não-ionizante

O autor esteve exposto ao agente físico radiação não-ionizante como as radiações


ultravioleta presentes na radiação solar, ao executar suas tarefas essencialmente a campo
em lavouras e propriedades rurais durante o período de 01/08/1994 até a data de 05 de
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março de 1997 conforme o anexo do Decreto nº 53.831 de 1964, quando o agente é


excluído definitivamente para fins de enquadramento de tempo especial.

2.3.2 Agente químico

Durante suas atividades laborais no cargo de Técnico em Agropecuária e Engenheiro


Agrônomo, durante o período compreendido entre 01/08/1994 até o dia da perícia o autor
se manteve exposto aos agentes químicos como organofosforados e outras formulações a
base de carbono e fósforo presentes nos agrotóxicos que se encontram no preparo das
caldas. Conforme o Decreto nº 83.080/1979; Decreto nº 2.172/1997 e Decreto nº 3.048/99
a fabricação e aplicação de produtos fosforados e organofosforados (sínteses orgânicas,
fertilizantes e praguicidas) são enquadradas como atividade especial, onde a avaliação do
agente químico é qualitativa. O Decreto nº 53.831/1964 enquadra a ocupação agrícola com
trabalhadores na agropecuária por categoria profissional.

2.3.3 Agente biológico

Durante o período de 01/08/1994 até o dia da perícia o autor também se manteve


exposto aos agentes biológicos em contato direto com germes infecciosos na prestação de
assistência técnica ao manejo dos animais, realizando atividades como inspeções em
esterqueiras, composteiras, aplicando vacinação, medicamentos, coleta de amostras de
sangue em animais doentes e realizando partos e inseminação em animais, estando em
contato com micro-organismos e parasitas infecciosos.

2.4 Resposta aos quesitos

2.4.1 Quesitos elaborados pela parte autora

a) Considerando que o periciado labora de 04/07/1994 até hoje no empregador


COTRICAMPO, sendo de 04/07/1994 a 31/07/1994 no Cargo de Auxiliar de
Escritório e de 01/08/1994 até 30/07/2017 no Cargo de Técnico em
Agropecuária, e a partir de então até hoje como Agrônomo. Considerando o
que informa o LTCAT de 2019 anexo:
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Ou seja, o LTCAT, emitido em 2019, pelo Eng. em Segurança do Trabalho Gelson Getelina,
anexo, deixa cristalino a exposição - habitual, rotineira e indissociável da prática laboral -
aos Risco Químicos e Biológico inserto na rotina Laboral do requerente nos períodos de
01/08/1994 até 30/07/2017 no Cargo de Técnico em Agropecuária, e a partir de então até
hoje como Agrônomo. Este perito confirma tal realidade laboral constada neste LTCAT
emitido em 2019, ora anexo? Caso descorde fundamente com base científica, doutrinaria
e legal.

Resposta: Sim, do período compreendido entre 01/08/1994 até o dia da perícia.

b) considerando que o autor, ao desenvolver suas funções de


Agrônomo/Técnico Agrícola, efetuava, de forma habitual, inseminação
artificial, vacinas, aplicação de medicamentos, inseticidas, vermífugos,
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castração química, entre outros e, demais cuidados com animais, estabeleça


quais os riscos que estava exposto nesta condição? Químico? Biológico?
Ambos? Havia contato com fezes e fluidos animais?

Resposta: O autor laborava exposto aos agentes químicos e agentes biológicos.

c) Considerando que o autor, ao desenvolver suas funções de


Agrônomo/Técnico Agrícola, além dos cuidados com os animais, referidos no
quesito anterior, também realizava as funções constantes do LTCAT, emitido
em 2019, pelo Eng. em Segurança do Trabalho Sidnei A. Marangoni, tendo
como rotineira “... a prestação de assistência técnica nas lavouras de grãos e
cereais, no controle de pragas e doenças, através da utilização de produtos
agroquímicos, desde o tratamento de sementes ao plantio, durante o
desenvolvimento da cultura até a colheita e ainda durante a emissão de laudo
técnicos para a obtenção de Proagro, onde as inspeções das lavouras
ocorrem imediatamente após a aplicação dos defensivos” e “Por realizar a
função de assistência técnica a pequenas propriedades, compete-lhe ainda
efetuar prática quanto ao preparo de caldas (enxofre com calda sulfocálcica,
sulfato de cobre com cal, igual a calda bordalesa) mistura de princípios ativos
de fungicidas, inseticidas, bactericidas e herbicidas, tais como Chorotalonil
FATIN ACETATE com DELTAMETHINE, NEANTINA(mercurial) com
ENDOSULTAN, KAUGAMISINA e agrotóxicos granulados e fumegantes, tais
como TEMIK BROMETO DE METILA, GRANUTOX, NEANTINA, BENOMYL,
CAPTAN, CARBARIL, CARBORUFUM, CARTAP, CLOROPICRINA, COBRE
METÁLICO, DECAMETHINE, DIAZINON, DEMETILCICLOPROPANO,
DIMETOATO, ENDRIN, ENXOFRE, ESTANHO, ESTREPTOMICINA,
ESTER2,4D, FOSFINA, GLYPHOSATE, KASUGAMICINA, MELATHION,
SIMOZINE, TRIFURALINA, ZINEB E ZIRAN, afim do combate de fungos,
bactérias e insetos numa mesma aplicação. Para que a dosagem correta da
mistura ou calda adicionada a água atinja a área da lavoura, são necessários
vários testes e regulagens de bicos e barras aspersoras. Após aplicação e
com objetivo de avaliar a eficiência e o comportamento da ação dos produtos
são coletadas amostras para verificação técnico-científicas.” Questiona-se ao
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presente perito se, em razão desta realidade laboral com exposição rotineira
a tais agentes químicos cancerígenos seu trabalho também pode ser
considerada especial por tais riscos Químicos?

Resposta: Sim.

d) Este perito confirma o parecer técnico da FUNDACENTRO, de que os


equipamentos de proteção coletiva e individual não são suficientes para elidir
a exposição aos agentes químicos cancerígenos conforme consta inclusive
na mais recente instrução normativa do INSS, sendo exigida apenas a análise
qualitativa (INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 77, DE 21 DE
JANEIRO DE 2015):”Art. 284. Para caracterização de período especial por
exposição ocupacional a agentes químicos e a poeiras minerais constantes
do Anexo IV do RPS, a análise deverá ser realizada: Parágrafo único. Para
caracterização de períodos com exposição aos agentes nocivos
reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados na Portaria
Interministerial n° 9 de 07 de outubro de 2014, Grupo 1 que possuem CAS e
que estejam listados no Anexo IV do Decreto nº 3.048, de 1999, será adotado
o critério qualitativo , não sendo considerados na avaliação os equipamentos
de proteção coletiva e ou individual, uma vez que os mesmos não são
suficientes para elidir a exposição a esses agentes, conforme parecer técnico
da FUNDACENTRO, de 13 de julho de 2010 e alteração do § 4° do art. 68 do
Decreto nº 3.048, de 1999.”? Ou seja, a própria Norma estabelece que para
tais agentes químicos os EPI, ou EPC, não são suficientes a eliminar o risco
à saúde ou integridade do trabalhador. Este perito concorda? Se a resposta
for negativa fundamentar com base científica, técnica, legal e doutrinária.

Resposta: Sim.
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2.4.2 Quesitos elaborados pela parte ré

01 – Sr. Perito, o local onde está sendo realizado a presente perícia técnica é o mesmo
onde a parte autora desempenhou suas atividades no período controvertido?

Resposta: Sim.

02 – Houve mudanças no “lay out” da empresa ou do local de trabalho?

Resposta: Como as atividades são desenvolvidas essencialmente a campo, os locais são


sempre diversos, porém sempre em propriedades rurais com necessidades a assistência
técnica.

03 – A empresa continua em atividade até hoje?

Resposta: Sim.

04 – Durante os períodos referidos na inicial, a parte autora laborou em condições especiais


que pudessem prejudicar sua saúde ou integridade física sob o aspecto previdenciário?
Quais as condições e que agentes nocivos estavam presentes?

Resposta: Sim. O autor laborou exposto aos agentes químicos e biológicos.

05 – Presentes agentes nocivos, a parte autora encontrava-se permanentemente e habitual


em contato com os mesmos no exercício de suas atividades?

Resposta: Sim.

06 – Informe as datas de início e término das atividades da parte autora, bem como
descreva detalhadamente as tarefas que desempenhava.

Resposta: Conforme item 2.2 deste laudo.

07 – Ocorreram períodos intermitentes ou alternados entre as alegadas atividades


insalubres, perigosas ou penosas exercidas pela parte autora e as comuns?
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Resposta: Não.

08 – A parte autora utilizava EPI? A empresa possuía EPC? Em caso positivo, especifique
os equipamentos, os níveis de proteção que oferecem, bem como se eles eliminavam ou
atenuavam os efeitos danosos causados por eventuais agentes nocivos.

Resposta: O autor recebia somente luvas como Equipamento de Proteção Individual as


quais não eliminam os efeitos danosos causados pela exposição aos agentes nocivos.
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3. CONCLUSÃO PERICIAL

Através da perícia técnica realizada, verificou-se a exposição ao agente físico


radiação não-ionizante do período de 01/08/1994 a 05/03/1997 e agente químico durante o
período compreendido entre 01/08/1994 até o dia da perícia. Ainda, laborou exposto aos
agentes biológicos do período de 01/08/1994 até o dia da perícia, de acordo com os
Decretos nº 53.831/64; Decreto nº 83.080/79; Decreto nº 2.172/97; Decreto nº 3.048/99 e
Decreto nº 4.882/2003. Tendo em vista que a parte autora exercia suas funções de forma
habitual e permanente exposto aos agentes nocivos, laborava em condições prejudiciais a
sua saúde e integridade física.

Três Passos, março de 2022.

___________________________________________
TAINARA LUANA SCHMIDT STEFFLER
CPF: 034.902.390-59
Eng. Sanitarista e Ambiental e Eng. De Segurança do Trabalho
Registro CREA/RS 230955

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