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FUNDAMENTOS DA NEUROPSICOLOGIA
CLÍNICA SÓCIO HISTÓRICA
A compreensão do desenvolvimento cognitivo e sócio
emocional do humano
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IPAF LEV VYGOTSKY www.ipaf.com.br
FUNDAMENTOS DA NEUROPSICOLOGIA
CLÍNICA SÓCIO HISTÓRICA
A compreensão do desenvolvimento cognitivo e sócio
emocional do humano
Organizadores Autores
Simone Marangoni Aline Ugliano
Vanda Cianga Ramiro Beatriz Cianga Ramiro
Carla Anauate
Claudia Azevedo
Mariangela Rossi
Prefácio Simone Marangoni
Joaquim Maria Quintino Aires Vanda Dias Ferraz Nunes
Vanda Cianga Ramiro
1a Edição
EDITORA IPAF
SÃO PAULO
2012
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IPAF LEV VYGOTSKY www.ipaf.com.br
www.ipaf.com.br – ipaf@ipaf.com.br
ISBN 978-85-98199-08-5
Supervisão Editorial
Simone Marangoni
BK IDIOMAS
Capa
FICHA CATALOGRÁFICA
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo
transmitidas por meios eletrônicos ou gravações, assim como traduzida sem
permissão por escrito da Editora IPAF. Os infratores serão punidos pela
Lei no 9.610/08.
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SUMÁRIO
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
PARTE I
desenvolvimento da personalidade:
responsabilidades.
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PARTE II
3. A constituição da atenção;
4. A constituição da percepção;
5. A constituição da memória;
8. A constituição do pensamento;
9. A constituição da linguagem;
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PREFÁCIO
Acredito que qualquer sociedade no século XXI precisa integrar cada vez mais
as tecnologias de informação e os estudos das ciências humanas,
particularmente da Psicologia. E penso que a perspectiva que Vygotsky nos
legou é fundamental a essa aproximação da Psicologia à sociedade em geral.
Por isso, cada livro, cada artigo, cada seminário, cada curso, poderá ser mais
um degrau na edificação da sociedade que todos desejamos e procuramos.
Conheço bem as autoras deste livro. Trabalhei com várias delas desde 1999,
em São Paulo, Lisboa e Moscou. E desde esse tempo que admiro o seu
interesse para que, a cada dia, possam estar fazendo melhor o seu trabalho
com os seus pacientes, o seu envolvimento na teoria Sócio Histórica, e o seu
questionamento ativo, quer em relação à teoria, quer em relação à passagem
da teoria à prática e da prática à teoria. Num envolvimento que vai além dos
seus trabalhos clínicos individuais, e que se estende à docência e treinamento
de seus alunos. Por isso FUNDAMENTOS DA NEUROPSICOLOGIA CLÍNICA
SÓCIO HISTÓRICA - A compreensão do desenvolvimento cognitivo e sócio
emocional do humano é um texto que já todos aguardávamos com grande
expectativa.
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Parabéns pela excelente obra. Os meus votos de que este vosso contributo,
seja replicador do legado de Vygotsky para muitos dos que se preocupam com
o desenvolvimento da Pessoa Humana e da Sociedade que todos partilhamos.
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INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos dez anos, o IPAF- Lev Vygotsky vem desenvolvendo, no
Brasil, cursos de especialização em neuropsicologia clínica assim como
avaliação, habilitação e ou reabilitação neuropsicológica para crianças jovens e
adultos, utilizando como fundamentação teórica a Psicologia Sócio Histórica de
Lev Vygotsky, Alexandre R. Luria e Alexis Leontiev e o método de trabalho
clínico de Maria Rita Mendes Leal.
Cabe ressaltar que todo esse trabalho teve como idealizador e precursor, o
português-brasileiro Professor Doutor Joaquim Maria Quintino Aires, que após
longos anos de estudo, pesquisa e prática clínica teve o reconhecimento da
importância do seu trabalho na titulação de Professor Emérito da Lomonosov
Moscow State University por ter fundamentado a Psicologia Clínica Sócio
Histórica.
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PARTE I
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Simone Marangoni
Mariangela Rossi
Carla Anauate
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A concepção histórica é analisada pelo autor através das leis que regem as
sociedades e os homens, considerando-as como produtos da própria ação do
homem através do trabalho. Nesse sentido que o homem transforma a
natureza, pela sua atividade no meio externo e, assim, transforma-se a si
próprio.
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Essas etapas se constituem uma na outra e se negam entre si, à medida que,
para Vygotsky, a lei geral do desenvolvimento de uma função ocorre pelo
menos duas vezes para o mesmo sujeito, uma vez no social ou externo,
denominado como interpsicológico e outra vez no interno ou intrapsicológico.
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Nesse sentido, para Vygotsky, todas as funções nervosas superiores não são
produtos da biologia, nem da história da filogênese pura, mas são produtos dos
processos das relações interiorizadas da ordem social e são fundamentadas na
estrutura social da personalidade e se constituem a partir das funções nervosas
elementares. As funções nervosas elementares se baseiam primeiramente nas
reações inatas ou reflexos hereditários e, posteriormente e de modo dialético,
vão se transformando e se constituindo em reflexos condicionados para se
constituir em intelecto ou funções nervosas superiores.
Para Vygotsky (1995) as relações iniciais dos homens com o meio externo são
diretas, a criança precisa manipular os objetos, vivenciar as situações e se
relacionar com as pessoas do seu círculo social para poder se apropriar,
internalizar, representar mentalmente os objetos, eventos e relações. Esse
processo de experiência relacional da criança é a mola propulsora para o
desenvolvimento psíquico das funções nervosas superiores.
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Segundo JUNQUEIRA, W (2006). A subjetividade humana é a instância que contempla, constitui,
organiza e dá organicidade ao sentido que os homens produzem ao longo da vida e tem uma
singularidade e que se diferencia da realidade social. A subjetividade é a articulação dos sentidos
construídos nas relações socais do homem com o meio externo. (Contribuição realizada no exame de
qualificação)
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JUNQUEIRA, W (2006). Sentido é a construção interna, particular e individual da realidade externa,
social. É através do processo de internalização dos objetos, eventos e relações que os sujeitos
constroem o seu mundo interno, a sua subjetividade. (Contribuição realizada no exame de qualificação)
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A denominação Zona do Próximo Desenvolvimento é utilizada pelo grupo do IPAF Lev Vygotsky em
função de melhor traduzir para o Português e explicar o processo diferente e intermediário em que
consiste a Zona do Desenvolvimento Proximal.
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A palavra intermediária utilizada no texto faz referência a Zona do Próximo Desenvolvimento como um
processo diferente do nível interpsicológico (externo ao sujeito) e do nível intrapsicológico (interno ao
sujeito) em que o sujeito já tem a representação mental da experiência externa, no entanto de modo
dialético contém, constitui e se diferencia desses processos. O conceito de Zona do Próximo
Desenvolvimento contempla, constitui, organiza o que ainda está externo ao sujeito, mas de modo
dialético, não é apenas o nível interpsicológico, assim como contempla, constitui, organiza o que vai ser
representado pelo sujeito, mas não é apenas o nível intrapsicológico e, sim, é um processo diferente dos
dois níveis de desenvolvimento.
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“Quando uma criança pronuncia pela primeira vez a sílaba ‘ma’, essa
palavra não pode ser traduzida, no vocabulário dos adultos, como uma
só palavra ‘mamãe’, mas deve ser compreendida por toda uma oração:
mamãe me senta na cadeira, principalmente se a palavra for
acompanhada do movimento da criança perto da cadeira e a mãe, que
observa sua conduta, a coloca sentada na cadeira”. (Vygotsky, 1995, p.
127)
O autor ressalta que não podemos tomar o vocábulo “ma” de modo isolado
devido à forma primária e inicial de linguagem infantil ser uma estrutura afetiva
complexa e não diferenciada dos movimentos corporais. A situação, para ser
entendida, deve ser analisada como um todo, incluindo movimento corporal e
vocábulos.
Leal (2001) enfatiza que desses movimentos na relação da criança com o outro
emergem cadências regulares que geram um intercâmbio em que se torna
explícito que há um interlocutor que pode completar os atos da criança, ou
seja, a criança pode compreender os seus próprios atos no intercâmbio
relacional com o outro.
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As ações que a criança realiza no meio social podem ocorrer tanto através da
mediação da palavra como também do brincar, ou seja, a palavra e o brincar
da criança podem ser considerados propiciadores do desenvolvimento das
funções nervosas superiores, à medida que a criança se relaciona com os
objetos externos, como mediadores, na presença de um outro humano que
pode o auxiliar na construção de significados e de sentidos dos objetos,
eventos e relações.
Leal (2001) enfatiza que, para uma atividade ser considerada brincar, deve-se
levar em conta “que o controle, a motivação e a realidade sejam, de algum
modo, estabelecidos pelo próprio sujeito que brinca” (p. 14), para possibilitar
que a criança seja um ser ativo no meio externo. Ressalta que o verdadeiro
brincar ocorre quando a criança, na interação com um outro, tem a condição de
escolher o que e como vai fazer no seguimento da própria imaginação.
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Leontiev (2004)destaca as categorias necessidade e motivo como a mola propulsora o
desenvolvimento psicológico do sujeito. A categoria necessidade pode ser descrita como uma
mobilização interna que pode não direcionar inicialmente o sujeito para uma ação específica, mas que
auxilia na construção de significado dessa ação como algo que pode satisfazer a sua necessidade, se
configurando num motivo. O autor destaca que para compreender o processo do desenvolvimento
psíquico humano é necessário perceber qual a sua necessidade interna, o que o está mobilizando para
uma atividade no meio social e como o sujeito está construindo significado capaz de satisfazê-lo.
Portanto a ação do brincar da criança pode se configurar em atividade ligada a sua necessidade e
motivo.
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Vygotsky (1995) refere que durante o brincar a criança substitui os signos dos
objetos por outros signos e esses se convertem em outros objetos. Para o
autor, o importante no brincar é utilizar funcionalmente os objetos com a
possibilidade de realizar a atividade com a ajuda do gesto representativo.
No brincar, a criança pode realizar tarefas para as quais na realidade não tem
habilidade física e psíquica, como, por exemplo, dirigir um carro. Um objeto
circular pode se transformar na direção do carro e a criança pode dirigi-lo e
representar mentalmente a ação de dirigir, a atitude do motorista e o próprio
objeto, o carro. Um pedaço de pano ou de madeira pode se converter em um
bebê e a criança faz, no brincar, os mesmos gestos que representam o cuidado
e a nutrição dos outros com os bebês.
A linguagem verbal que designa o objeto passa a servir para que as crianças
se ponham em comum acordo na brincadeira e denominem qual será a
utilização do objeto, como, por exemplo, o livro representará a casa, e a caixa
de fósforos, o sofá. Como o livro substitui a casa, caso esse livro seja
derrubado no chão, mesmo que a brincadeira tenha terminado, a criança pode
dizer que a casa caiu. Nesse caso, o objeto por si só cumpre uma função
substitutiva, para a criança e para o outro, e a linguagem é usada para
organizar a brincadeira.
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Vygotsky (2002) refere que o brincar da criança é uma atividade que envolve a
imaginação. A criança brinca de ser alguém ou de fazer algo, no momento que
está construindo significado e sentido do objeto, da ação e da relação e, ao
brincar, constrói cada vez mais esses significados e sentidos.
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Como refere Luria (1981), quando se trata de funções mentais, as coisas ficam
muito mais complexas e são delineadas durante a ontogênese. Nesse sentido
as funções nervosas superiores obedecem ao mesmo funcionamento, ou seja,
inicialmente são funções elementares, ligadas ao biológico e se apresenta de
modo direto no comportamento humano, posteriormente necessitam ser
mediadas por instrumentos externos para, através do processo de
internalização, se tornar uma função mental, intrapsíquica.
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Luria (1981) refere que a organização cerebral sistêmica tem como destaque
três principais unidades funcionais cuja participação se torna necessária para
qualquer atividade mental e resulta das instrumentalidades culturais criadas ao
longo da filogênese, sendo constituída em cada sujeito durante a ontogênese
se esse estiver inserido em relações significativas com outros humanos.
Cada uma das unidades acima descritas tem o seu papel fundamental e
fornece a contribuição para o desenvolvimento das funções nervosas
superiores e para o desempenho das atividades mentais.
O autor ressalta que cada uma dessas unidades apresenta uma estrutura
hierarquizada que se destaca em áreas primárias (projeção), cuja função é
receber e enviar os impulsos; as áreas secundárias (projeção – associação),
que recebem e processam as informações e preparam os programas mentais,
e as áreas terciárias (zonas de superposição), que são responsáveis pelas
atividades mentais mais complexas, que requerem a participação em concerto
de muitas áreas corticais.
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A figura abaixo ilustra a organização de cada bloco cerebral proposto por Luria
e o texto posterior irá relacionar as responsabilidades respectivas de cada
bloco funcional.
Ilustração da localização das três unidades ou blocos funcionais apresentados por Luria. (reproduzido
com autorização do laboratório de Neuropsicologia da Universidade de Moscou)
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O terceiro bloco funcional (B) se localiza no frontal, sendo que a parte posterior
corresponde a áreas motoras e pré-motoras e a região anterior corresponde ao
pré-frontal e é responsável por preparar o programa de atividade ideativa ou
motora e colocá-la em prática. A tarefa principal do terceiro bloco funcional é a
organização da atividade consciente, responsável pela programação, regulação
e verificação do comportamento.
A região frontal anterior realiza o controle das atividades cerebrais, através dos
planos e intenções estáveis capazes de controlar o comportamento. O sistema
funcional dessa região verifica e adequa o comportamento que o cérebro
acabou de preparar para ser executado impedindo que uma atividade
intencional inicial seja erradamente substituída por outra.
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Quando a criança verbaliza pela primeira vez a sílaba ‘ma’, o 1º bloco funcional
(ativação e regulação da vigília) está em funcionamento à medida que esta
criança está com um nível de ativação cortical adequada para a atividade
cerebral, bem como a atenção elementar e emocional (tronco cerebral, núcleos
da base) a está fazendo se voltar para o outro. O 2º bloco funcional (visão,
audição, sensibilidades cinestésicas) está funcionando nos sistemas visual,
temporal e parietal, por estar focada visualmente na mãe e pronunciar a sílaba
assim como estar representando mentalmente a junção da vocalização da
sílaba com o movimento de se sentar. A parte posterior do 3º bloco funcional
está funcionando à medida que os sistemas motores necessitam ser ativados
para a criança realizar, juntamente com a vocalização, os movimentos dos
braços e do corpo para demonstrar que quer se sentar.
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Processos regulares e relacionais que devem ser promovidos pelo outro através da mediação da
palavra para a criança para que a mesma possa desenvolver a iniciativa de agir no meio externo. Esses
processos serão mais bem detalhados no tópico a seguir.
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Leal (2010) enfatiza que desde os primeiros dias de vida do bebê humano a
comunicação “expressiva, implícita” (p.27) se processa no cérebro pelas
estruturas pré-corticais em que a formação reticular do tronco cerebral ocupa
um lugar de destaque. Essas estruturas asseguram a organização central
homeostática, mas também propiciam o reflexo de orientação do bebê.
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As crises psicológicas referidas por Vygotsky são os períodos críticos de transformações biológicas e
psicológicas que de modo dialético propiciam o desenvolvimento das funções nervosas superiores. No
entanto, cabe ressaltar que o autor não enfatiza a idade cronológica como fator primordial para o
desenvolvimento e sim as relações sociais que são estabelecidas com a criança de acordo com a cultura
e que podem ou não proporcionar o desenvolvimento psicológico. As idades referidas pelo autor foram
norteadas pelo processo de mielinização e pela hierarquização das funções no cérebro humano,
conforme descrito no tópico anterior.
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Hobson (2002) cita que bebês com menos de dois dias de idade conseguem
imitar as expressões dos adultos que o olham, demonstrando assim “formatos
primários do estado de relação” (apud Leal 2010, p.33 e 270) e, ressalta que o
bebê ao olhar a face do adulto vai obtendo a oportunidade e a experiência
social e individual de construir a representação mental de si através do outro.
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escolar. A crise dos sete anos delimita a idade pré-escolar da escolar. A crise
dos treze anos refere a idade escolar a puberdade, e a crise dos dezessete
anos delimita a puberdade da maturidade psicológica.
As crianças passam por longos períodos sem apresentar uma mudança muito
brusca demonstrando que o desenvolvimento se constitui num curso lento de
construção, no entanto há alguns momentos em que o desenvolvimento dá
saltos, em processos particulares, que são pontos agudos de transformação
denotando a periodizações das crises acima citadas.
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O sorriso é uma reação social e o bebê com dois meses sorri ao ouvir a voz
humana e se move em direção ao sujeito que fala com ele, assim como presta
atenção a sua voz e fica contrariado quando se afasta dele. Aos três meses,
emite diversos sons quando se aproxima do outro, sorri para ele e se manifesta
disponível à comunicação.
Leal (2010) refere que na relação de convívio entre o adulto (outro da relação)
e o bebê pode começar a vislumbrar-se numa sucessão de interações com
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Essa relação inicial do bebê com o mundo social emocional possibilita ao bebê,
através da relação com o outro, representar as relações de causalidades entre
os seus atos e as respostas do ambiente. É neste período que Vygotsky refere
a constituição dos reflexos condicionados.
Vygotsky (1996) menciona que, por volta dos cinco meses, o bebê já consegue
dominar o seu próprio corpo, a postura e movimentos, levando-o a buscar mais
contatos com outros humanos. No segundo semestre, sente necessidade
especifica de se comunicar, e o interesse pelo ser humano se deve ao fato de
reconhecer que todas as suas necessidades podem ser satisfeitas pelo outro
adulto. O desejo ativo de se comunicar se manifesta na busca do olhar do
outro, com o sorriso, com o balbucio, com os movimentos dos membros
(braços e pernas) e com o choro quando fica perto do outro da relação.
Leal (2010) refere que quando o bebê começa a repetir os vocábulos “má-má”,
“dá-dá”, os sons articulados de uma “difusa consciência da vocalização cede
lugar à consciência” de que ele provoca no outro uma reação a sua lalação.
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Vygotsky (1996) enfatiza que esse momento se caracteriza por uma atividade
intelectual da criança e faz parte dos seus primeiros inventos e movimentos
racionais. Leal (2010) ressalta que esse período é essencial para o início da
construção do EU como sujeito psicológico, denominada como processo de
Intuição do EU, em que o bebê ainda não tem a certeza e a definição clara de
que é ele que propicia os movimentos e respostas do OUTRO as suas próprias
iniciativas.
EU
INTUIÇÃO DO EU
Leal (2010) refere que dificuldades vivenciadas nas relações humanas com os
cuidadores, nesse período de desenvolvimento psicológico, propiciam as
disfunções do tipo confusional de comportamento, revelados nas perturbações
da comunicação com o mundo exterior e com a vida de modo geral e
desencadeiam comportamentos estranhos, esteriotipados, repetitivos
conduzidos pela dificuldade na construção do EU psicológico.
8
Parêntese acrescido para essa citação.
9
Parêntese acrescido para essa citação
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Essas disfunções podem ser superadas em novas crises à medida que esse
sujeito esteja em relação com o outro (psicoterapeuta) atento às suas
iniciativas, que a nomeia, a expresse novamente, a ponha em evidência e
assim possibilite a transformação das representações mentais já desenvolvidas
e, promova a construção da noção do EU como sujeito psicológico ativo que
tenha a capacidade de perceber que as suas iniciativas desencadeiam o
movimento e a resposta do outro da relação confiável.
Vygotsky (1996) refere que a crise do primeiro ano delimita o primeiro ano de
vida do bebê humano ao início da infância e ressalta que esse momento se
constitui quando a criança começa a andar a falar e a ter iniciativa e vontade no
meio externo. Leal (2010) destaca essa crise como a “construção da relação
dual (entre a criança e o cuidador reconhecido por ela)”. (p. 56)
Esse diálogo propicia à criança a significação de ser o iniciador das ações com
intenções e vontades, solidificando, a cada experiência, o sentimento de
identidade10. A movimentação no mundo externo possibilita a construção da
noção do EU e a relação dual com os OUTROS, com os objetos e com os
eventos.
Nesse sentido que Vygotsky enfatiza o início do andar como a marca do início
dessa crise, porque o andar propicia à criança o intenso interesse de manipular
e se apropriar de todos os objetos possíveis de pegar e jogar fora. O diálogo
com os outros pode ser projetado e expandido para as coisas, sobre os
objetos, desencadeando uma relação de atenção circular, por parte da criança,
às alternâncias na sua movimentação com os outros e com os objetos e
eventos.
Essa crise então irá ser realçada inicialmente pelo jogo do tira-põe, junta-
separa, aparece-desaparece em que gera um modelo repetitivo de relação
cadenciada pelos movimentos de vai e vem. O pensamento da criança se
processa em manipular e processar as imagens, na atenção circular,
10
Identidade compreendida como construção de sentido do EU como sujeito psicológico do OUTRO
como os outros da relação diferentes do EU, com desejos e vontades próprias e sentido da REALIDADE
como instâncias diferentes do EU e OUTRO e que ambos podem transformá-la através do TRABALHO.
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“Deitar fora”: expressão utilizada em Portugal, que significa “jogar fora” no Brasil.
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Nesse sentido que Vygotsky (1996) elege a palavra também como ponto de
partida para se aprofundar a crise do primeiro ano, devido estar diretamente
ligada à aparição da consciência infantil e ao modo de internalização do EU
como sujeito da ação nas relações sociais.
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Aos poucos, por meio do contato com o outro, a criança passa a se apropriar
da chamada linguagem autônoma infantil12.
Nesse sentido que Vygotsky (1996) afirma que é nesse início da infância que
surge a estrutura semântica e sistêmica da consciência. É quando surge a
consciência histórica do ser humano que existe para os outros da sociedade e
12
Linguagem autônoma ou linguagem egocêntrica.
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EU OUTRO
As crianças e/ou os adultos, que permanecem nessa crise, muitas vezes não
entendem que a sua iniciativa desencadeia uma reação no outro em função
das reais capacidades e dificuldades do outro e, por idealizá-lo, compreende
que a sua iniciativa então não estava correta ou não deveria ser colocada
naquele momento, desencadeando tristeza, sentimento de inadequação e não
pertença, e se torna inseguro, incapaz e inapto a tomar decisões por si mesmo.
Esses sujeitos se sentem inseguros nas relações afetivas com os outros da sua
relação e se tornam, cada vez mais, dependentes da presença física e afetiva
do outro.
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Vygotsky (1996) afirma que esta crise pode ser enfatizada pelo negativismo e
oposição que aparece de novo no comportamento da criança e a ternura da
crise anterior que se perde. Considera a crise dos três anos a zona do próximo
desenvolvimento para as próximas idades.
A criança não obedece somente porque lhe foi demandado e assim busca
firmar a sua autonomia e o negativismo faz a criança se comportar contra o seu
próprio desejo afetivo, pois o ato de negar é dirigido ao outro da relação e não
ao conteúdo da solicitação.
Vygotsky (1996) refere que a reação negativa ocorre desde o momento em que
a criança não se interessa em cumprir o que lhe é pedido. O motivo da
negativa não se deve ao conteúdo da própria atividade, mas à relação com o
sujeito que solicita. A reação negativa se manifesta por deixar de cumprir algo
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EU OUTRO
EU PSICOLÓGICO NOÇÃO DO OUTRO FÍSICO
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Vygotsky (1996) refere que aos sete anos começa uma nova de crise, por
representar a passagem da idade pré-escolar para a idade escolar. A entrada
da criança no período escolar promove um mergulho no mundo externo e
amplia as relações com os pares.
Leal (2010) refere que o percurso escolar tem uma influencia benéfica para
fortalecer a construção da autonomia e de modo dialético o sentimento de
pertença ao grupo de pares e a construção de significados da realidade.
(p.128)
A criança na crise dos sete anos passa a ter uma orientação consciente de
suas próprias vivências e começa a nomear as suas experiências e
sentimentos e dar significados a elas, expressando se está alegre, triste, brava
e considera-se boa ou má, denotando a consciência do seu processamento
interno e emocional. As vivências adquirem sentido e surgem conexões
totalmente novas como resultado destas experiências. Nessa crise a criança
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Ilustração do livro Passos da Construção do EU, de Maria Rita Mendes Leal, 2000.
Leal (2010) enfatiza que dessa crise poderá ou não se constituir novo sentido
de pai, mãe, irmãos, avós, tios amigos, além do novo sentido de família e de
pertença ampliada na construção de significados da realidade. (p. 106)
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EU OUTRO
EU PSICOLÓGICO OUTRO PSICOLÓGICO
REALIDADE
SIGNIFICADO DA REALIDADE
Leal (2010) refere que ambiguidades vivenciadas nas relações com os pares
implicando em dificuldades em estabelecer vínculos significativos com o grupo
de amigos e relacionamentos que dificultam a partilha de significados
consistentes, constituem na criança os distúrbios do tipo neurótico que pode ter
reações fóbicas e “histeriformes” ou histriônicos (p. 130), revelados nas
dificuldades nos relacionamentos interpessoais e na abstração do seu
comportamento na realidade externa.
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EU OUTRO
EU PSICOLÓGICO OUTRO PSICOLÓGICO
REALIDADE
SIGNIFICADO DA REALIDADE
Leal (2010) refere que as dificuldades vivenciadas na crise dos treze anos
desencadeiam as disfunções do tipo neurótico obsessivo compulsivo em
função da intelectualização irracional que o sujeito faz de si do outro e da
realidade.
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O adolescente, muitas vezes, se afasta do seu meio social e adota uma atitude
negativa diante de tudo que o rodeia como forma de conseguir se posicionar de
modo mais autônomo e intelectualizado no meio social. O sujeito psicológico
adolescente já pode refrear suas ideias, pensamentos e comportamentos como
forma de verificar as suas ações e se posicionar no meio externo,
possibilitando a constituição de uma atitude mais madura nas relações sociais.
Leal (2010) enfatiza que para conseguir se posicionar como um ser adulto o
adolescente necessita do lúdico e o experimentar se torna imprescindível para
essa preparação, no entanto ressalta que o brincar nessa crise se torna uma
atividade séria e ocupa um lugar intermediário entre o brincar como quando era
criança e a atividade séria do adulto. Nesse sentido que o adolescente
necessita experimentar novas relações sociais, principalmente as amorosas e
eróticas.
Leal (2010) enfatiza essa crise como uma fase de transição e aperfeiçoamento
emocional, afetivo e intelectual para se constituir como ser adulto maduro e
descreve que
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Para Leal (2010) ser adulto é aceitar os objetivos e os ideias próprios mesmo
que esses sejam diferentes das expectativas comuns, possibilitando a
discussão pacífica entre as convicções, se permitindo pensar em profundidade,
através do estudo da ação, incluindo a busca constante de sentido da vida. É o
momento propício para estabelecer relação estável e íntima com um parceiro,
em que a sensação de pertença é modelada pelas diferentes formas de
interação que instituem a dinâmica das mútuas contribuições de cada um.
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EU OUTRO
SENTIDO DO EU SENTIDO DO OUTRO
REALIDADE
SENTIDO DA REALIDADE
Cabe ressaltar, portanto, que a análise dos sujeitos na sociedade atual requer
a análise do desenvolvimento psicológico máximo que os humanos
constituíram ao longo da sua história, utilizando-os como referência do que é
adequado e do é frequente na nossa sociedade, pois nem tudo que é frequente
nos humanos atualmente é adequado e norteador de desenvolvimento
psicológico e denota a evolução e involução, de modo dialético, dos sujeitos da
nossa sociedade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PARTE II
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CAPÍTULO 3 – ATENÇÃO
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Deste modo fica claro que, com esse tipo de atenção, não pode surgir
nenhuma forma estável, de longo prazo, de comportamento organizado. Cada
novo estímulo se sobrepõe ao estímulo anterior e, acarreta novas
reconstruções do comportamento. A medida que a criança na relação com o
cuidador sofre novas exigências sociais, a atenção elementar deixa de ser
suficiente, e passam a ser necessárias formas de atenção mais complexas e
estáveis.
Fica bem evidente que a ulterior evolução da atenção não pode seguir o curso
pela qual se desenvolvem a atenção involuntária, para ser capaz de resolver
uma dada tarefa, o sujeito tem que pôr em prática uma maneira de
comportamento que é exatamente oposta à maneira predominante anterior.
Nos estágios iniciais de desenvolvimento, cada estímulo forte podia organizar o
comportamento introduzindo determinado contexto, enquanto nos estágios
posteriores essa capacidade tem que ser estendida também aos estímulos
mais fracos que podem ser biológica ou socialmente importantes e que
requerem uma cadeia de longo prazo de reações ordenadas.
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Luria & Vygotsky (1996) constataram que, “com o auxílio da função nominativa
das palavras, a criança começa a dominar a sua atenção, criando centros
estruturais novos dentro de situações percebidas”. (p.47).
Como foi mencionado logo acima, o bebê apresenta nos primeiros meses de
vida, uma atenção involuntária que se manifesta como “um simples reflexo
orientado de estímulos fortes ou novos, de acompanhamento destes estímulos
com o olhar”. (Luria, 1981, p.30)
Ao longo do segundo e terceiro anos de vida, por volta da crise dos tres anos,
ocorre uma mudança qualitativa
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Antes desse processo, a criança não consegue subordinar a sua atenção a fala
do adulto muito menos a sua própria fala interior. A partir da idade acima
referida, a criança consegue estabelecer uma forma estável de comportamento
seletivo subordinado tanto a fala do adulto como a si própria. Nesse sentido
que a fala da própria criança torna mais seletiva e estável a sua atenção.
Luria (1981) refere que o segundo mecanismo tem origem nos reflexos de
orientação, estudados pelos fisiologistas russos no início do século XX, em
particular Pavlov. O sistema nervoso central está preparado para reagir a
excitantes externos de modo a que o organismo possa se defender dos perigos
que surgem nas alterações do ambiente. Assim, qualquer alteração no
ambiente, assinalada por um ruído, estímulo luminoso ou tátil, etc., pode ser
detectada no núcleo caudado e por núcleos não específicos do tálamo,
mobilizando a atenção por reflexo de orientação, para esta fonte. Esta
organização cerebral, fundamental para a sobrevivência do organismo, está
permanentemente estimulada, como confirmam os trabalhos do norte-
americano Hebb nos anos 40. Como estes neurônios também fazem
divergências axonais com os neurônios do primeiro bloco cerebral, resulta uma
segunda fonte de ativação do córtex.
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Sujeitos com lesões das porções laterais dos lobos frontais exibiam um quadro
bastante adverso. A ativação ocasionada pela influência direta de estímulos era
suficientemente bem pronunciada nesses sujeitos e se extinguia com rapidez,
entretanto, essas características de ativação podiam ser fortalecidas e
estabilizadas por instrução verbal somente quando esta fosse repetida com
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 4 – PERCEPÇÃO
Claudia Azevedo
Necessitamos de uma constância perceptiva para que esta nos possibilite uma
apropriação adequada do ambiente ao redor. Temos a capacidade de perceber
os objetos com seus atributos básicos, independentes da variedade sensorial
que se apresente. Em relação à percepção, convém salientar a constância de
tamanho, de forma e de cor:
O adulto está ligado ao meio ambiente por milhares de elos, estímulos internos
e externos sendo produto e produtor, de modo dialético e sua natureza se
encontra na essencia das condições ambientais. Tudo que no adulto serve de
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ponte entre ele e o ambiente, isto é, sua visão, audição e os demais órgãos de
percepção é quase não-funcional num recém-nascido. Ele ainda não
desenvolveu suas redes neuronais bem como, não ensaiou seu intercâmbio
para que este se torne mutuamente contingente e se perceba como agente de
suas ações, como referido na parte I.
As sensações de fome e do seio de sua mãe, que lhe alivia a fome, talvez
sejam os primeiros fenômenos psicológicos, de natureza elementar, que se
observam na criança. O elo com o meio ambiente inicia na boca e é aí que
aparecem as sensações iniciais, isto é, as funções nervosas elementares.
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Sujeitos com lesões maciças dos lobos frontais não apresentam distúrbios de
percepção visual direta. Reconhecem figuras simples, leem palavras simples
ou frases elementares, no entanto a situação muda, quando o objeto
apresentado necessita de um esforço ativo para inibir a primeira impressão e
surge a dificuldade, por exemplo, de perceber figuras estilizadas, objetos em
figura e fundo ou figuras em posição inusitada.
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Agnosia objetal, segundo a terminologia da autora
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5) O sujeito consegue distinguir as cores, mas não sabe a cor que pertence
ao objeto que está pintado, isto é, não consegue lembrar as cores dos
objetos conhecidos, estamos diante da agnosia cromática;
A Agnosia para objetos é uma das formas mais comentadas dos transtornos da
percepção visual. As lesões ocorrem nas zonas parieto-occipital do cérebro,
tendo sua forma mais grave em casos de lesão bilateral das zonas parieto-
occipital, áreas 18 e 19 do lobo occipital.
Uma série de casos foi detectada com focos no hemisfério direito, ocorrendo
agnosia óptico-espacial unilateral. Ao copiar um desenho o sujeito negligencia
o lado esquerdo do desenho. Esta perturbação visuoespacial traz dificuldades
na vida diária do sujeito como em práticas rotineiras do dia-a-dia, que
necessitam de atos motores. O sujeito executa mal movimentos que exijam
orientação visuoespacial elementar, por exemplo, não consegue estender o
cobertor na cama; vestir o casaco ou as calças, e assim por diante. Essa
perturbação recebeu o nome de apraxia do vestir.
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Distorção das letras: apractoagnosia
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Relativo a espelho
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Luria (1981) refere que a agnosia simultânea durante muito tempo foi
conhecida como síndrome de Balint, essa perturbação da gnose visual
manifesta-se devido o fato do sujeito não conseguir captar simultaneamente
duas imagens ficando o volume de sua percepção visual reduzido. Ocorre uma
incapacidade de reconhecer um objeto ou imagem como um todo, embora
todas suas partes possam ser reconhecidas isoladamente, mas o sujeito não
consegue ligar um aspecto ao outro.
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Corpo geniculado externo
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 5: MEMÓRIA
Claudia Azevedo
Este capítulo tem como objetivo entender o que é a memória humana, vamos
abordar de início a memória como função nervosa elementar e o
desenvolvimento desta na criança a partir do substrato biológico e, como se
desenvolve em função nervosa superior e quais os comprometimentos
decorrentes de disfunção ou lesão.
Este passo de procurar entender o que é memória, como ela funciona, quais
características são comuns quando ela falha, e que tipos de comportamentos
são esperados de alguém que tenha uma lesão ou processo degenerativo na
memória, constitui o passo inicial para compreender as possibilidades ou as
dificuldades que o neuropsicólogo encontrará em seu trabalho tanto no
momento da avaliação quanto na reabilitação da memória.
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Nas relações que a criança estabelece com o mundo, aliada ao seu sistema
nervoso, aparato biológico e 1º bloco funcional e, a apropriação dos
conhecimentos humanos, a criança internaliza as estruturas que eram
anteriormente externas, criando um sentido próprio e propiciando o
desenvolvimento das funções nervosas superiores, nos sistemas associativos
do 2º bloco funcional.
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Todo esse trabalho de pesquisa de Hydén ganhou novos adeptos, que levaram
a hipótese atualmente aceita, de que moléculas de RNA / DNA são os
portadores da memória e desempenham o papel decisivo tanto na transmissão
de traços herdados como na retenção de traços de experiências anteriores que
tenham ocorrido, durante a vida do sujeito.
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Toda esta análise cuidadosa se espreita por esta rede de categorias dando
continuidade ao processo por estruturas hierarquizadas, chegando ao terceiro
bloco funcional pela área primária deste e, por conseguinte a secundária e
terciária que sobrepostamente irão dar sequência as informações recebidas,
formando matrizes multidimensionais a partir das quais o sujeito deverá
escolher, de cada vez, o sistema que, naquele momento particular, irá formar a
base para a codificação. Neste momento estamos falando das funções
desempenhadas pelo terceiro bloco funcional, que tem como objetivo planejar,
regular e verificar a atividade cerebral.
Esta abordagem dos processos de memória mostra, que longe de ser simples
e passivo, o processo de recordação é de natureza complexa e ativa. Um
sujeito que deseja lembrar-se de certo item de informação exibe uma
determinada estratégia de lembrança, escolhendo os meios necessários,
distinguindo os sinais importantes e inibindo os não importantes, selecionando,
na dependência do objetivo da tarefa, os componentes sensoriais ou lógicos do
material fixado e os encaixando em sistemas apropriados (Kintsch, 1970a;
1970b; Shiffrin,1970; Posner, 1963;1969; Reitman, 1970, apud Luria, 1981).
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A autora refere ainda, que a memorização não arbitrária caracteriza-se por leis
próprias, isto é, existe uma série de fatores dos quais dependerá uma melhor
ou pior memorização do material.
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não conseguem reter uma série curta de palavras faladas, sendo capazes de
reter apenas a primeira ou a última, na maior parte dos casos. O defeito da
memória áudio verbal surge de forma isolada. Na fase aguda, após o
surgimento da condição afásica, o sujeito pode apresentar dificuldade de
compreender a fala de outras pessoas, mas em geral, esse sintoma
desaparece rapidamente. Neste caso a audição está preservada, as parafasias
estão ausentes e a escrita também é mantida. O que aponta para a
possibilidade de lesão só do nível mnésico do sistema audio verbal.
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Este capítulo não tem como objetivo explorar os quadros de demências em sua
amplitude, mas nortear através do exposto acima, como estes se caracterizam
e se diferenciam.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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CAPÍTULO 6 –ORIENTAÇÃO
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Portanto, nesta etapa, o meio é ainda mais facilmente percebido através das
mãos, do próprio toque de objetos a materiais concretos, até que possa
desenvolver estruturas mais complexas que permitam a criação de
representações internas destes.
Os autores ressaltam que para a criança não está bem definida a distinção
entre o que é realidade e o que é fantasia, pois ainda são funções muito
elementares. Até o desenvolvimento da orientação pessoal, a criança ainda
está dissociada do mundo, concentrada apenas em si, necessitando que outro
mais experiente lhe mostre a realidade externa, como referenciado nas crises
psicológicas.
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do corpo com o ambiente, pois dela emerge uma representação mental que em
si é um marco de referência no estabelecimento de relações com o externo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Aos três anos a criança já é capaz de fazer cópias de traços, empilhar objetos
e desenvolver o equilíbrio. A partir desta idade poderá coordenar movimentos
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Fonseca (1995) observa ainda, que só apartir dos cinco ou seis anos é que a
criança irá apresentar dominância lateral de olhos, mãos e pés, pelo
desenvolvimento de novas conexões cerebrais, de regulação e ativação
cortical, o que possibilita a demonstração da capacidade de equilíbrio estático e
dinâmico, a verificação da necessidade ou não de utilização de apoios ao ficar
parado e ao locomover-se, subir escadas, manipular objetos e andar nas
pontas dos pés, conseguindo ficar apoiado em um único pé e realizar
movimentos dissociados de saltos, corridas e ultrapassar obstáculos.
Deste modo dos três aos seis anos, acontece o desenvolvimento dos atos
motores, associado ao desenvolvimento da fala e da linguagem, da escrita e da
leitura, pela maturação do aparato biológico, associado aos estímulos
ambientais e culturais e, dos sete aos oito anos, observa-se maior
desenvolvimento das regiões pré-frontais, lobos têmporo-occipito-parietais e
área somestésica-motora, bem como das regiões límbicas do córtex, o que
possibilitará a constituição da capacidade gnósico-práxica, possibilitando a
realização de atos motores simples mediados por sistemas aferentes auditivos,
como a reprodução de batidas, gestos simbólicos e sequências de postura,
tarefas que dependem de flexibilidade mental e controle dos impulsos pelo
córtex frontal, bem como a coordenação acústico-motora, que possibilita a
execução de atos motores, mediados por sistemas aferentes auditivos. Assim,
entre os sete e oito anos, já se verifica as zonas de intercomunicação entre
áreas auditivas-visuais-motoras, envolvendo a integração têmporo-occipito-
parietal e frontal, que se desenvolverão até a fase adulta.
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Assim, o trabalho poderá ser considerado uma atividade motora que traduz um
trabalho mental superior, exclusivo do humano, por depender de funções
mentais internas muito complexas, como a atenção seletiva, a integração,
interação e a transformação da informação sensorial, o desenvolvimento de
estruturas de representação, as operações sequencializadas, o processamento
a partir da captação das imagens advindos dos instrumentos e o seu contexto
espaço-temporal, a memória voluntária e avaliação de estratégias na tomada
de decisões. (Leontiev, 1973)
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j) parapraxia de imitação;
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l) negligência lateral;
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Perturbações das funções motoras resultantes das varias lesões cerebrais são
divididas em elementares (lesão de mecanismos executantes, eferentes dos
movimentos), decorrentes de lesões em elos subcorticais do sistema piramidal,
e verificam-se transtornos na forma de paresia ou paralisia de mão ou braço,
perna ou tronco (contralateral a lesão), paralisia branda e até mesmo paralisia
espasmódica (desintegração dos correspondentes movimentos), paresias com
transtornos sensitivos (lesões dos setores corticais pós-centrais). Khomskaya
(2003) ressalta que lesão nas vias piramidais e nas regiões subcorticais do
cérebro, acarretam desintegração total dos movimentos, como paralisia
contralateral, desintegração unilateral dos movimentos da mão ou braço e do
pé ou perna, hemiplegias de diminuição parcial das funções motoras de um dos
lados (hemiparesias). Lesão dos lobos corticais e subcorticais do sistema
extrapiramidal levam ao aparecimento de transtornos motores diferentes,
dinâmicos ou estáticos. Em lesões do nível cortical do sistema extra-piramidal
(córtex pré-motor), ocasionam perturbações motoras espasmódicas contra-
laterais.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 8- PENSAMENTO
Para um bebê, todo o mundo se restringe, antes de mais nada, ao seu próprio
corpo e a tudo quanto lhe possa proporcionar conforto. A percepção que tem
do mundo é, sob muitos aspectos, passiva. A criança ainda confunde a
atividade primitiva de sua imaginação e os rudimentos de experiência anterior
com a realidade. Tudo isso só pode influenciar o pensamento da criança de
modo muito claro, e temos que afirmar resolutamente que o pensamento da
criança de três a quatro anos nada tem em comum com as formas de
pensamento do adulto, que foram criadas pela cultura e por longa evolução
cultural.
É por meio das palavras que o ser humano pensa, como já referido. A
generalização e a abstração só se dão pela linguagem e com base nelas
melhor compreendemos e organizamos o mundo à nossa volta.
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Certamente isto não significa que os pensamentos das crianças não tenham
suas leis próprias. Ao contrário, há leis bastante claras do pensamento infantil
que diferem das leis do pensamento dos adultos. Uma criança de 3 ou 4 anos
de idade possui sua própria lógica primitiva, possui seus próprios modos
primitivos de pensamento, todos eles determinados pelo fato de que esse
pensamento manifesta-se sobre uma base primitiva de comportamento, que
ainda não teve confrontos suficientemente sérios com a realidade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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CAPÍTULO 9- LINGUAGEM
Aline Ugliano
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O hemisfério esquerdo está associado à grande parte dos componentes responsáveis pelos processos da linguagem, contudo,
outros componentes linguísticos também são processados no hemisfério direito como a prosódia e semântica, ou ainda, quando o
hemisfério esquerdo não está disponível, o hemisfério direito pode substituí-lo. (Quintino-Aires, 2010, p.59-60)
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Entendemos como frase a unidade básica da expressão narrativa, um método de análise e generalização de
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responde com outro som (que denominaremos A’). Diante do som A’, o bebê
recebe estímulos auditivos aliados com estímulos visuais, táteis, sinestésicos e
motores que auxiliam na formação de novas conexões nervosas e no processo
de iniciar uma nova resposta, seja ela qual for.
O bebê emitirá um segundo som B e o cuidador rebaterá mais uma vez com o
som B’. Nessa relação elementar entre o bebê e o cuidador, dá-se início ao
que Leal (2010) chama de diálogo primário e Vygotsky (1996) relata como a
crise do período pós-natal, como já referido anteriormente.
1. Comprometimentos da linguagem
Essas observações iniciais são ricas informações para uma boa investigação
do estado neuropsicológico, contudo as dificuldades na função de linguagem
são amplas e contemplam outras estruturas além da fala.
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Segundo Khomskaya (2003), “o Homem, para além da audição não-verbal, possui uma audição especializada para captar os sons
da fala”. (p.159)
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Afasia Motora Eferente (ou Afasia de Broca): ocorre em caso de lesão das
porções inferiores do córtex da área pré-motora, também conhecida como área
de Broca, crianças com essa afasia apresentam dificuldades em pronunciar as
palavras sem conseguir traduzir os pensamentos em linguagem pronunciando
sons não articulados, embora compreendam o discurso que lhes é dirigido. Nas
lesões menos graves, mantém-se preservada a análise dos sons e articulação
de algumas palavras, no entanto está comprometida a organização motora (ou
cinética) do ato da fala perturbando sua “melodia cinética” conforme menciona
Luria (1991) devido à dificuldade em mudar de uma posição articulatória para
outra e executar atos motores em série, surgindo as perseverações verbais e
acarreta disfunções secundarias da escrita, leitura e até mesmo compreensão
da fala. Portanto, a área de Broca tem relações bilaterais com as estruturas
temporais do cérebro funcionando em conjunto com um sistema único
refletindo em todo o seu modo de funcionamento cerebral.
Para o diagnóstico da Afasia, é importante que aconteça sem que haja alguma
patologia dos aparelhos sensoriais, paralisias capazes de impedir a elocução
da palavra oral ou sua expressão escrita. A Afasia sempre diz respeito à perda
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Essa classificação é didática e a afasia poderá apresentar-se em vários níveis de comprometimento.
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De acordo com Peña-Casa Nova (1991), para que ocorra o processo de leitura,
são necessários:
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Na leitura fonológica (ou indireta) estabelece uma relação entre a leitura com a
linguagem, em que a palavra escrita é codificada à palavra falada e o
significado acontece da mesma forma da linguagem oral.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
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Aline Ugliano
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Observa-se então, que a área pré-frontal está integrada tanto ao meio interno
como ao meio externo, integrando as funções cognitivas com as funções
afetivas e emocionais, no “concerto cerebral” e a produção final, será o
comportamento humano, mais ou menos independente, criativo, flexível,
autônomo, prático, objetivo ou subjetivo, estável ou não, em diferentes
aspectos, de acordo com o desenvolvimento e integridade de cada uma das
estruturas e funções integrantes do “concerto”.
De acordo com Vygotsky (1997), o comportamento humano é a expressão do
conjunto das funções nervosas superiores as quais desenvolvem-se desde o
nascimento do sujeito, a partir do seu substrato biológico, que na interação
mediada pelos instrumentos utilizados por seus cuidadores, especialmente a
linguagem, lhes possibilitou a construção dos significados do seu momento
histórico, o que por sua vez, possibilita a construção dos sentidos pessoais.
E o comportamento regulado e dirigido a metas, depende fundamentalmente
da emoção, da vontade e da imaginação, que se transformam no
desenvolvimento social em funções altamente complexas que possibilitam: a
capacidade de iniciativa para a ação, quer seja prática ou mental; o
levantamento de hipóteses para a consecução da ação através da análise das
possibilidades de resolução dos problemas que são apresentados, possibilitado
pela flexibilidade do pensamento e utilização de recursos cognitivos e criativos;
a tomada de decisão, pela mobilização da autonomia e auto regulação para
proceder o julgamento sobre a melhor estratégia a ser utilizada; a manutenção
do interesse inicial, da motivação e do foco no objetivo a ser conquistado, o
que garante a ação produtiva, através da capacidade de auto controle e
inibição da atenção involuntária aos estímulos distratores, bem como de outros
interesses irrelevantes ao objetivo inicial e a capacidade de perceber o
feedback do ambiente, processos fundamentais e necessários para a ação
contextualmente apropriada.
É o comportamento produtivo que possibilita a realização das tarefas diárias, a
atividade criativa e o convívio social harmônico a medida que possibilitam ao
sujeito atender as demandas internas e externas, com maior ou menor
desgaste de energia.
Através de inúmeros experimentos eletrofisiológicos, Luria (1981) observou o
aumento ou diminuição da atividade nas áreas frontais, quando são
apresentados problemas intelectualmente complexos para serem resolvidos
pelo sujeito, com as estruturas íntegras, em comparação às performances de
sujeitos acometidos por lesões.
Observou ainda em casos de lesão dos lobos frontais, perturbação apenas das
formas superiores de atenção voluntária, enquanto as formas elementares do
reflexo de orientação, denominada atenção involuntária, provocada por
estímulos irrelevantes do ambiente, permanecem intactas e até aumentadas
em alguns casos.
Dessa forma, afirmou que os lobos frontais, particularmente suas zonas
mediais, regulam os processos de ativação, que estão na base da atenção
voluntária, fundamental para todo trabalho mental produtivo, bem como para a
atividade consciente, que de acordo com Vygotsky (1997), refere-se à noção
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Cabe ressaltar que emoção e afeto, denominações usados por alguns autores
como sinônimos, de acordo com Reich (1998, apud Lane, 2004), coerente à
visão de que os aspectos fisiológicos e os psicológicos do sujeito não se
dissociam, concluiu que as emoções são sensações herdadas da espécie, que
só ganham sentido, quando as identificamos em nossa história de vida, através
da rememoração, de fatos ou experiências registradas, o que as torna
conscientes e são expressas através do riso ou do choro, enquanto os afetos
seriam as emoções nomeadas pela linguagem e portanto já conscientes para o
sujeito, visto que anteriormente já foram vivenciadas e significadas.
“As emoções de origem filogenética, no ser humano, ao se
confrontarem com a capacidade adquirida, ontogeneticamente, de uma
linguagem articulada, apta a ultrapassar o aqui e agora, ou seja, ampliar
as dimensões de espaço e tempo do pensamento, foram nomeadas e
identificadas como afetos, tais como o medo, a raiva, a alegria, etc.”
(Lane, 2004, p.111)
Quintino Aires (2010), afirma que os afetos intensificam a ação humana, seja
aumentando-as, gerando alegria, ou diminuindo-as, produzindo tristeza, bem
como, quando não foram desenvolvidas as funções que possibilitam a
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Fala do autor em aula ministrada no IPAF LEV VYGOTSKY, em 18/08/2012.
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No início da vida, as experiências são sentidas com elevada carga afetiva, pela
imaturidade das funções nervosas do bebê, que fica a mercê das sensações de
prazer e desprazer, o que pode ser observado frente a experiência do bebê
que entra no choro intenso por sentir o desprazer gerado pela fome, frente o
qual, não tem recursos de defesa e gradativamente, passa a generalizar esta
experiência à outras sensações de desprazer. Bem como, vivencia a
experiência do prazer de mamar e ser saciado, aconchegado e protegido, o
que também generaliza gradativamente para outras situações similares.
Com o amadurecimento biológico do cérebro da criança, estimulado pelas
relações de cuidado vividas, possibilitará o desenvolvimento das funções
nervosas superiores, gradativamente, as emoções vão se diferenciando e os
nexos emocionais vão se estabelecendo de formas mais sofisticadas e
complexas.
Observa-se então, que as situações são constantemente analisadas pelo
sujeito a partir do seu significado e relacionadas às suas necessidades e pode-
se definir como “experiência emocional” o nexo estabelecido entre a
experiência de tais significados do ponto de vista afetivo e não do julgamento e
do raciocínio.
Uma estimulação afetiva que leva à seleção de estímulos que sejam
relacionados ao prazer ou ao desprazer sentidos e esta seleção de estímulos
passa a provocar um impacto afetivo na medida que o nexo emocional é
estabelecido. Assim, as emoções poderão vir acompanhadas por reações
fisiológicas como sudorese, taquicardia etc., mais ou menos intensas, pois o
processo emocional é o dinamismo que permite o contato com o meio externo,
ainda que não seja conhecido pelo sujeito.
O processo emocional é o dinamismo que possibilita o contato com o meio
externo e os nexos que serão construídos e dependerão dos relacionamentos
que o sujeito vivenciar, pois estes é que lhe proporcionarão os significados de
prazer ou desprazer diante dos estímulos que o ambiente proporciona.
Assim, se o bebê vivencia uma experiência de intenso desprazer provocado
pela fome, no quarto escuro, mas esta é prontamente e constantemente
substituída pela experiência do prazer possibilitado pela presença do cuidador
que promove a saciedade e companhia, o nexo que será estabelecido será o
da vivência prazerosa.
E ainda, este nexo será ampliado gradativamente para outras situações da vida
da criança, ampliando as vivências de prazer no contato com o ambiente no
qual convive, o que constitui-se em condições adequadas para a construção do
sujeito curioso e produtivo.
Portanto, a vivência da experiência emocional, mais ou menos intensa, que
caracteriza a emoção produtiva, que promove o crescimento pessoal através
do aprendizado ou a emoção negativa que bloqueia e paralisa a ação prática
ou mental, como por exemplo, os estados de pânico frente a qualquer situação
nova ou mesmo corriqueira, que impedem o sujeito utilizar seus recursos
intelectuais ou práticos, dependerá dos nexos construídos, nas relações
interpessoais vividas, na quantidade e qualidade de significados que estas
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10.3 Vontade
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10.4 Imaginação
De acordo com Vygotsky (2009) toda e qualquer atividade que produza algo
novo, seja material ou não, como as produções mentais e artísticas, são
consideradas atividades criadoras do homem e as distingue entre atividades
reconstitutivas ou reprodutivas e combinatórias ou criadoras.
O tipo de atividade criadora reconstitutiva está primariamente ligada à memória
e consiste na reprodução de condutas anteriormente criadas e elaboradas ou
repetição de impressões precedentes, como por exemplo, quando um pintor
reproduz em suas telas as marcas de lembranças vivenciadas em sua infância
ou lugares e cidades visitados ou ainda, quando elabora desenhos de
situações já vistas, observadas e registradas.
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ordem verbal dada, permanecia em sua memória, mas não era capaz de
controlar a ação iniciada.
Assim, ações que sejam solicitadas por ordens faladas podem ser facilmente
substituídas por outras, pois os componentes de um arranjo comportamental
complexo são substituídos por outros, verificando-se inércia de estereótipos
motores que implicam na passagem de um movimento para outro,
demonstrando que a ordem verbal ou a intenção podem permanecer em sua
memória, mas não mais controlam a ação, pois perderam sua influência
reguladora, como o caso do paciente que a caminho do refeitório por estar com
fome e com intenção de comer, ao encontrar um grupo que vinha em sua
direção, os acompanhou em outro caminho.
Observa-se ainda, que estes sujeitos, frente a uma ordem de imitar o
movimento de seu interlocutor, não terá dificuldade, mas se for dada uma
ordem falada e o modelo for contrário, terá dificuldade para obedecer a
instrução e se a instrução for conflitante, do tipo “quando eu erguer o meu
punho você deve erguer o seu dedo”, não conseguirá decodificar o significado
e reproduzir a ordem falada, repetindo o modelo do gesto. Ainda, se lhe for
solicitado que bata com um lápis sobre a mesa num ritmo de forte-fraco-fraco,
passará a bater em ritmo contínuo enquanto reproduz verbalmente a ordem
dada, também de modo distorcido.
Verificou-se então, que nas lesões das zonas pré-motoras, a inércia patológica
se estende apenas aos componentes efetores da ação, embora a execução do
programa como um todo não seja perturbada, enquanto nas lesões maciças
dos lobos frontais, observa-se inércia no próprio esquema da ação,
impossibilitando a execução do programa, o que demonstra o fracasso destes
sujeitos diante de provas nas quais são solicitadas a mudança de estratégia
para sua resolução e ainda, deixam de notar seus erros, demonstrando que
além da perda do controle sobre suas ações, perdem a capacidade de conferir
os resultados das próprias ações, mesmo que recordando a tarefa que lhes foi
atribuída.
Luria (1981) observou também, que os casos de disfunção da capacidade de
programação, regulação e verificação da atividade dos lobos frontais, também
acarretam alterações nos processos da memória, quanto
“a capacidade de criar motivos estáveis de recordação e de manter o
esforço ativo requerido pela recordação voluntária, por um lado, e
capacidade de passar de um grupo de traços para outro, por outro,
resultando a reprodução de materiais “ (p.183)
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As lesões em zonas médias dos lobos frontais, que estão ligadas às regiões
límbicas, acarretam perturbações na diminuição do tono cortical, que leva a
distúrbios do estado de vigília e redução da capacidade crítica, pela diminuição
do controle nos processos conscientes e podem ser observados em sujeitos
que não conseguem mais se orientar em relação ao tempo e ao espaço,
produzindo excessivas confabulações e consciência instável.
As alterações da volição estão associadas à diminuição da atividade volitiva,
que podem ser pela diminuição, caracterizando a hipobulia, na qual o sujeito
deixa de sentir vontade para fazer suas atividades, encontra-se em grande
estado de desânimo e falta de energia para as tarefas, muitas vezes associada
à apatia ou indiferença afetiva, que está relacionada à fácil fadiga e dificuldade
na tomada de decisões e resoluções de problemas, são sintomas típicos de
quadros de depressão grave, como descreve Delgalarrondo (2000).
Nos estados de depressão estão identificados sintomas afetivos relacionados a
tristeza, apatia, tédio, irritabilidade, ansiedade, desesperança, alterações nas
esferas neurovegetativas (sono, apetite, cansaço, concentração, etc.),
alterações ideativas, alterações cognitivas, baixa auto valoração, perturbações
na vontade, alterações na psicomotricidade e idéias delirantes, associadas
frequentemente a fatores ambientais externos, neuroquímicos, uso de
substâncias químicas, sendo esta condição reativa ou cronificada.
No inverso encontram-se as manias ou estados eufóricos expandidos, com
aceleração de funções psicológicas, como a manifestação na agitação
psicomotora, exaltação, logorréia e aceleração de pensamento, nestes casos
verifica-se na literatura alguns sintomas recorrentes, como o aumento da
autoestima, insônia, distrabilidade, irritabilidade, arrogância,
heteroagressividade, desinibição social e sexual, aumento compulsivo de
compras, idéias de grandeza e aumento de importância social e quadros de
alucinações. Cabe ressaltar aqui que pacientes idosos ou em casos de lesões
cerebrais prévias em fase de manias, apresentam quadros de confusão,
desorientação e redução do nível da consciência. Nos quadros das manias,
esta excitação pode passar por fases de normalidade e ser rapidamente
alternada por sintomas depressivos, oscilando o estado de humor básico, bem
como a ação volitiva, comuns em transtornos bipolares.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Revendo todo o trabalho desse livro, podemos concluir que atingimos o nosso
objetivo inicial, que era apresentar nosso olhar sobre a constituição das
funções nervosas superiores e da personalidade, responsáveis pelo
funcionamento do psicológico adulto.
Nesse sentido é com muito prazer e orgulho que chegamos ao final deste livro,
fruto de um percurso que teve origem em 2000, com o Doutor Quintino Aires,
idealizador e precursor da Psicologia Clínica Sócio Histórica, que atravessou o
oceano para nos apresentar o modelo de trabalho inovador, eficaz e muito
dinâmico. Conhecer a Psicologia Sócio Histórica de Vygotsky, Luria, Leontiev e
o método de trabalho clínico de Maria Rita Mendes Leal foi um marco
importante em nossas vidas, tanto pessoal como profissional .
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Claro que tivemos muitas falhas, recebemos muitas críticas, mas com o tempo
e o empenho do grupo, que gradativamente foi crescendo, chegamos até aqui.
Rosa nos ensinou muito com sua persistência e deixou muita saudade quando
em junho de 2012 faleceu, mas temos certeza de que está vibrando por nós em
outra dimensão.
Com todas estas mudanças o IPAF, mais maduro e arrojado, enviou uma
profissional para Moscou para aprender com a discípula de Luria, a Dra. Janna
Glozman, o método, desenvolvido por ela, de habilitação através de exercícios
motores para crianças com dificuldades de aprendizagem. Esse aprendizado
culminou com a implantação do Centro de Habilitação e Reabilitação Luria-
Glozman, sob a coordenação de Beatriz Ramiro, profissional também muito
dedicada e competente apesar da juventude.
Também foi criado o Corpo Clínico formado por uma equipe de profissionais
convidados por seu desempenho, seriedade, comprometimento profissional,
para atender às pessoas que buscam atendimentos no IPAF, para avaliação
neuropsicológica, psicoterapia e habilitação ou reabilitação, sob a coordenação
de Claudia Azevedo, profissional competente, esforçada, ética e, sobretudo
muito amiga.
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Obrigado a todos.
Simone Marangoni
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SOBRE OS AUTORES
ALINE UGLIANO
CARLA ANAUATE
CLAUDIA AZEVEDOI
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MARIANGELA ROSSI
SIMONE MARANGONI
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