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Flor de Belladonna e o vôo das feiticeiras: contribuições à homeopatia

Antes de começar o texto, vale o adendo de que aqui não me refiro à alimentação, mas aos
efeitos da flor de Belladonna e suas contribuições para a saúde. Algo que, inclusive, lhe concedeu a
fama de “erva de bruxa” ou “flor de sabbat”, como veremos adiante.
A planta é altamente tóxica e não deve ser ingerida. Vale o alerta inicial de que nossa
intenção é apenas a transmissão do conhecimento e é fundamental conhecê-la, pois seu uso
indevido pode ocasionar, inclusive, morte. A prescrição medicinal e para fins homeopáticos de
belladonna, bem como uso fitoterápico, sempre deverá ser feita por um profissional da saúde.  
A Belladonna é conhecida popularmente como “Planta-do-diabo” ou “Bagas-do-diabo”, e isso
se deve à fama do uso da flor em sabbats, por feiticeiras. Inclusive, é muito comum a confusão da
planta com a Mandrágora, e vice versa. Belladonna produz um fascínio, como toda bela mulher, que
pode ser letal.
Fonte: Greenme. Beladonna na homeopatia e fitoterapia. Benefícios e
riscos.

Falamos aqui da espécie Atropa belladonna, da família Solanaceae,


arbusto de porte baixo, que ocorre, naturalmente, em alguns países
europeus e na Ásia. É uma planta que possui floração arroxeada para o
negro e cresce em solos úmidos e áreas com pouca luz, geralmente em beiras de rios ou lagos.
A Atropa Belladonna é a principal fonte de extração de atropina (hisciamina) e escopolamina
(hioscina). Os alcalóides tropânicos são derivados das flores e também das folhas. A Atropina da
espécie Atropa belladonna foi isolada em 1831 pelo químico alemão Mein, entretanto, a espécie já
era vastamente utilizada por curandeiras e curiosos, pelas suas propriedades terapêuticas, em
Roma, Egito, Grécia e outros países na Europa.Fonte: Amino. Beladona, Mandrágora, Estramônio:
As Três Ervas Das Bruxas Da Idade Média.
Alguns historiadores indicam que a planta foi muito usada pelas mulheres italianas no século
XVIII, época em que ela recebeu seu nome científico, para dilatar as pupilas – algo que era
considerado muito bonito na época. Um extrato da planta era usado como gotas oculares, fazendo
parte da maquiagem das mulheres naquela época.
“Belladonna” significa “mulher bela” em italiano, enquanto Atropa pode derivar de Atropos, uma
das divindades gregas do destino, responsável pelo fim da vida. O efeito que gera a dilatação das
pupilas deriva da atropina, pois tem atividade anticolinérgica, que bloqueia a capacidade de
contração da íris, provocando um efeito midriático.
As pupilas assim dilatadas eram consideradas mais atraentes porque as pupilas aumentam
com a excitação, em apaixonados, tornando o contato visual mais intenso. No entanto, o uso
prolongado poderia causar cegueira e aumento do batimento cardíaco.

PUPILAS E O PODER DE ATRAÇÃO


A dilatação das pupilas representam um grande “delator” do nosso sentimento, num encontro
romântico, por assim dizer, além de possuir um significado psicológico.
Fonte: Pop Culture Sticker. Desenhado e vendido por Bioshart. Teepublic.com .

Em 1960, um grupo de pesquisadores e psicólogos estudaram o modo


como as nossas pupilas se dilatam quando nosso corpo se excita ou é
estimulado, seja por interesse intelectual, emocional, visual (estético) ou
sexual.
Com base no resultado, houve um debate se rostos com pupilas
dilatadas seriam ou então poderiam ser percebidos por seus espectadores
como mais atraentes, já que funcionariam como um sinal de interesse sexual.
Isso ocorreria porque nosso cérebro processa  dilatação da pupila de outras pessoas, de
maneira automática, o que indica que essa percepção de atração poderia de fato ocorrer.
Com  isso, a teoria e sabedoria popular, que considerava as pupilas dilatadas atraentes, vários
séculos antes, poderia ter uma razão de ser.
ATROPOS – DIVINDADE GREGA
O nome dado às plantas do gênero Atropa vem de Atropos, que é uma das três irmãs que
tecem o destino, na mitologia grega. Atropos seria a “inflexível” aquela a quem cabia cortar a corda
ou o fio da vida.
As outras irmãs eram Cloto, a tecelã, que tecia o fio da vida de todos os homens, desde o
nascimento até a morte e Laquesis, a partilhadora, que analisava o tamanho do fio do destino, que
receberia mais ou menos vida que cada ser vivo teria, inclusive a de seu pai
Zeus.Fonte: http://atropabelladonna.weebly.com/
Ou seja, essas três divindades seriam responsáveis pelo destino das pessoas, sendo o nome Atropa
relacionado aos efeitos letais que esse gênero de
plantas possui, quando ingeridas de maneira
desapropriada.

LENDAS E HISTÓRIAS
Belladonna é uma planta envolta em mitos,
suspense e admiração. Já foi causa de muitos
envenenamentos na antiguidade. Nos tempos
medievais foi muito utilizada por feiticeiros e bruxas.
Era considerada na antiguidade a planta favorita
do diabo, tendo este então o que chamaríamos de
exclusividade do uso e cultivo. De acordo com mitos
históricos, ele próprio espalhava todas as noites o seu sangue na planta para que ela crescesse.
Ao contrário das bruxas, os camponeses eram temerosos à Belladonna, pois acreditavam que
se alguma parte da planta fosse mantida em casa, iria chamar os espíritos do mal, o que permitiria
que os demônios atacassem suas famílias, plantações ou gados. Quem se atrevesse a descumprir
essa espécie de “lei” e mantivesse a planta em suas casas seria visitado pelo próprio diabo, que iria
então punir os “ousados”, determinando inclusive a morte como penalidade.
Além disso, as bagas de Belladonna seriam um teste para crianças gulosas, que caso a
provassem poderiam não resistir às punições dolorosas. Em festas dionísicas ou bacanais, o vinho
era geralmente adulterado com a planta de belladonna, que gerava efeitos de alucinações.
O VÔO DAS BRUXAS
Na Idade Média, fazia parte do “unguento das bruxas”, tendo sido aplicado sobre a pele para
gerar estados alterados de consciência. O efeito causado dava a impressão de estar voando por
lugares imaginários e outras experiências psicodélicas, no que foi retratado como o “vôo das bruxas”.
Muitos dos que prepararam o tal unguento acabaram nas fogueiras da Inquisição.
Esses unguentos, conhecidos como “fórmulas de voo”, era passado em certas partes do corpo,
principalmente nas mais peludas, e esfregado sobre o cabo de uma vassoura, que era colocada entre
as pernas pelas bruxas como se fosse um instrumento de voo. Na verdade, a vassoura da bruxa
funcionava como um instrumento de masturbação. Em contato com as mucosas vaginal e anal o
unguento era absorvido mais rapidamente pelo organismo.
Em resumo, as bruxas teriam então usado a planta em seus preparos, junto com mandrágoras
e outras plantas com efeito alucinógeno.
Fonte: O voo das bruxas, por
Francisco de Goya.
Algumas feiticeiras utilizavam a belladonna também para adivinhar o futuro, pegando
carona nas alucinações e estados alterados de consciência, tomando quantidades
regulares da planta por via oral – prática bastante perigosa.

Belladonna era adicionada ao vinho em festas dionísicas, o que gerava uma espécie de
alucinação coletiva e como fonte de desinibição para orgias e transes mágicos ou delírios.

BELLADONNA E PARACELSO

Paracelso, astrólogo, médico e alquimista, atribuiu à belladonna a similaridade com o


signo de escorpião e indicou uma fórmula que continha suas flores e folhas secadas e
trituradas junto ao açafrão e cânfora como poderoso perfume para afugentar miasmas e
“larvas do astral”.

A ligação com o signo de escorpião se deve ao fato do remédio ser associado aos surtos
de raiva, violência e distruição. As “larvas do astral”, de acordo com Paracelso, são
elementos que atuam de forma danosa na psique humana e na alma gerando uma perda
de controle por meio de obsessões e alucinações, durante esses estados de convulsão. A
energia do signo de escorpião passa pela compreensão da sexualidade e do poder de
transformação. Utilizando esse poder de forma abusiva e sem equilíbrio fugimos da
nossa ação com livre arbítrio voltada ao bem, para sermos governados pelas moiras da
mitologia, ou seja, termos nosso destino controlado por terceiros e eventualmente, a
morte.

Para entender o lado oculto, para ter acesso ao conhecimento, é preciso consciência em
seu uso e em todo poder que ele lhe acarreta. Toda ação gera consequências.

Fonte: página-título do Tratado


Médico-Químico de Paracelso, publicado em Frankfurt, 1605.
“Só a dose faz o veneno” – Paracelso.

O USO DA BELLADONNA NA HOMEOPATIA

Na antiguidade, a planta era utilizada para tratamentos de depressão, psicose e doenças


espirituais, bem como para envenenamentos. Tudo depende sempre da dosagem. A
mesma erva que pode matar, pode levar cura. Era igualmente usada em rituais e para
produzir visões do plano astral.

Fonte: Kanashimi on
Belladonna (1973).
A tintura de Beladona é atualmente usada na homeopatia como tratamento de tosse,
febre, epilepsia, entre outros. De acordo com o professor Moreno, personalidade atropa
belladonna se refere a uma pessoa compassiva, protetora, amável, comportando-se como
um anjo na saúde e um demônio quando adoecido. Harmonizado é benevolente,
podendo anular-se para o bem do outro. No entanto, o excesso de renúncia do “eu” pode
desconectá-lo de si próprio, torná-lo sem vontade própria, é o escravo, humilhado e
subjugado. Na doença, bate com a cabeça na parede e arranca seus cabelos, por isso se
agravam seus sintomas quando lhe cortam o cabelo.

Quando em fúria, agride a si mesmo e aos outros à sua volta. Quando desarmonizado,
perde a consciência e não reconhece mais a si mesmo, começa a delirar. Muitas vezes
utilizado em processos inflamatórios de aparecimento brusco e violento, com face
avermelhada, olhar brilhante, calor facial (calor, vermelhidão e queimação – tríade de
identificação belladonna na homeopatia). Deitado na cama de noite, possui a sensação de
flutuar.
Do ponto de vista simbólico, belladonna é relacionada ao elemento fogo, então quando
adoece o paciente tem tudo dentro de si em ardência muito alta, como se queimasse.
Fortes espasmos, contração do ventre e tosse rouca intensa e pronunciada.
De acordo com Vannier, o complementar na homeopatia para belladonna geralmente é o
sulphur e a calcarea carbonica.
Belladonna é preventivo homeopático, de acordo com Moreno, para apendicites,
pneumonias e hidrofobia (o medo da água).
CASO CLÍNICO:
* Cadela Nina, pequeno porte, raça spitz alemão, 3 anos. Apliquei belladonna 6CH porque
agia com latidos violentos na aproximação de qualquer estranho (depois também para os
próximos).
Cadela com crises de sufocamento, especialmente quando se excitava pela presença de
pessoas ao redor, com latidos muito estridentes e excesso de ansiedade.
Tosse muito rouca, “de cachorro”, como se fosse sufocar e vir a óbito.
Ministrei belladonna 6CH por um mês, tendo melhorado cerca de 80% de seus sintomas.
Isenção de responsabilidade: Conteúdo para fins informativos e educativos. Não
recomendamos, sob qualquer hipótese, o abandono de remédios ou quaisquer
substituições por conta própria. Não utilize flores e ervas, sem o acompanhamento de
profissionais da saúde, indicados a acompanhar o seu caso. Não utilize qualquer
medicamento homeopático sem orientação profissional.

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