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NOITE ESCURA DA ALMA

Jeremias 20.1 -18: 1 Pasur, filho do sacerdote Imer, que era presidente na Casa do SENHOR, ouviu a
Jeremias profetizando estas coisas. 2 Então, feriu Pasur ao profeta Jeremias e o meteu no tronco que
estava na porta superior de Benjamim, na Casa do SENHOR. No dia seguinte, Pasur tirou a Jeremias do
tronco. 3 Então, lhe disse Jeremias: O SENHOR já não te chama Pasur, e sim Terror-Por-Todos-Os-Lados.
4 Pois assim diz o SENHOR: Eis que te farei ser terror para ti mesmo e para todos os teus amigos; estes
cairão à espada de seus inimigos, e teus olhos o verão; todo o Judá entregarei nas mãos do rei da
Babilônia; este os levará presos à Babilônia e feri-los-á à espada. 5 Também entregarei toda a riqueza
desta cidade, todo o fruto do seu trabalho e todas as suas coisas preciosas; sim, todos os tesouros dos
reis de Judá entregarei nas mãos de seus inimigos, os quais hão de saqueá-los, tomá-los e levá-los à
Babilônia. 6 E tu, Pasur, e todos os moradores da tua casa ireis para o cativeiro; irás à Babilônia, onde
morrerás e serás sepultado, tu e todos os teus amigos, aos quais profetizaste falsamente. 7 Persuadiste-
me, ó SENHOR, e persuadido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste; sirvo de escárnio todo o
dia; cada um deles zomba de mim. 8 Porque, sempre que falo, tenho de gritar e clamar: Violência e
destruição! Porque a palavra do SENHOR se me tornou um opróbrio e ludíbrio todo o dia. 9 Quando
pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então, isso me foi no coração como fogo
ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais. 10 Porque ouvi a murmu-
ração de muitos: Há terror por todos os lados! Denunciai, e o denunciaremos! Todos os meus íntimos
amigos que aguardam de mim que eu tropece dizem: Bem pode ser que se deixe persuadir; então,
prevaleceremos contra ele e dele nos vingaremos. 11 Mas o SENHOR está comigo como um poderoso
guerreiro; por isso, tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão; serão sobremodo

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envergonhados; e, porque não se houveram sabiamente, sofrerão afronta perpétua, que jamais se es-
quecerá. 12 Tu, pois, ó SENHOR dos Exércitos, que provas o justo e esquadrinhas os afetos e o coração,
permite veja eu a tua vingança contra eles, pois te confiei a minha causa. 13 Cantai ao SENHOR, louvai
ao SENHOR; pois livrou a alma do necessitado das mãos dos malfeitores. 14 Maldito o dia em que nasci!
Não seja bendito o dia em que me deu à luz minha mãe! 15 Maldito o homem que deu as novas a meu
pai, dizendo: Nasceu-te um filho!, alegrando-o com isso grandemente. 16 Seja esse homem como as
cidades que o SENHOR, sem ter compaixão, destruiu; ouça ele clamor pela manhã e ao meio-dia, alarido.
17 Por que não me matou Deus no ventre materno? Por que minha mãe não foi minha sepultura? Ou não
permaneceu grávida perpetuamente? 18 Por que saí do ventre materno tão-somente para ver trabalho e
tristeza e para que se consumam de vergonha os meus dias?
Nesse texto lido encontramos o profeta Jeremias num dos piores momentos de sua vida.
Como falei semana passada Jeremias iniciou o seu ministério profético quando ainda possuía cerca de
vinte anos (1.6), muito embora fosse vocacionado à profeta desde o ventre materno (1.5).
Resistiu inicialmente o chamado profético, sua desculpa, era em razão de sua pouca idade. Jeremias
profetizou cerca de um século depois de Isaías, e ambos levaram mensagens de condenação ao reino de
Judá em decorrência de seu pecado.
Não casou, pois foi proibido pelo Senhor como sinal à nação (16.2), e durante cerca de 40 anos desen-
volveu seu ministério profético na capital de Judá, Jerusalém, e por cerca de cinco anos ministrou no
Egito (Jr 43-44).
Profetizou na mesma época de Sofonias e Habacuque (no começo) e Daniel (mais tarde).
O profeta iniciou seu ministério profético no reinado de Josias, mas seu ofício atravessou o reinado dos

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últimos cinco reis de Judá (11-3): Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias.
O profeta Jeremias era impopular. Foi desprezado e perseguido pelos reis devido à mensagem grave de
suas profecias contra a monarquia, os falsos profetas, os sacerdotes e contra os injustos.
Foi acusado de traição, por ordenar, a mando do Senhor, que Judá se entregasse aos babilônicos.
Contudo todas essas lutas o aproximavam cada vez mais de Deus.
Durante os quarenta anos em que profetizou teve pouquíssimos convertidos, e além de seu secretário
Baruque, não se tem conhecimento de qualquer outra pessoa que tenha acreditado em suas profecias, a
ponto de segui-lo.
Era dura e complexa a tarefa de Jeremias. Como profeta, como mensageiro de Deus junto ao povo
havia momento em que Jeremias ficava desanimado. Ele sofreu períodos de depressão. Às vezes, via-se
carregado de sentimentos de desespero e até mesmo de morte.
Se você ainda não leu o livro de Jeremias lhe digo que é um das mais notáveis de todas as experiências
mergulhar no profeta Jeremias.
Ouvir as palavras de Jeremias é um modo de sentir sua dor, sentir seus problemas e ouvir seus lamentos.
Em alguns momentos os sofrimentos de Jeremias se tornaram as agonias da sua própria alma:
Abrir o coração a um profeta tão angustiado quanto Jeremias é doloroso.
A voz de Jeremias é persuasiva, muitas vezes num nível esmagadoramente pessoal.
Ele mantém uma conversa apaixonada consigo mesmo e com Deus, que começa com uma explosão
amarga sobre a natureza do chamado do profeta, passa rapidamente à negação de seu chamado
A ira de Jeremias pelo modo como seus inimigos o ridicularizam, eleva-se, e também o medo e a tristeza.
Sua afirmação de confiança em Deus parece forçada sob as circunstâncias, O capítulo termina com uma

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angustiada pergunta.
Jeremias traz o ponto baixo do ministério de Jeremias, sua noite escura da alma. Nele, o profeta acusa
Deus, rejeita o seu chamado e amaldiçoa o dia em que nasceu.
Jeremias cumpre pena
Para entender o que se passa no capítulo 20 e o motivo da prisão de Jeremias vamos ver do v. 10 ao
15 do capítulo anterior:
14.10-15:10 Então, quebrarás a botija à vista dos homens que foram contigo 11 e lhes dirás: Assim diz
o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do
oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar para os
enterrar. 12 Assim farei a este lugar, diz o SENHOR, e aos seus moradores; e farei desta cidade um
Tofete. 13 As casas de Jerusalém e as casas dos reis de Judá serão imundas como o lugar de Tofete;
também todas as casas sobre cujos terraços queimaram incenso a todo o exército dos céus e ofereceram
libações a outros deuses. 14 Voltando, pois, Jeremias de Tofete, lugar para onde o enviara o SENHOR a
profetizar, se pôs em pé no átrio da Casa do SENHOR e disse a todo o povo: 15 Assim diz o SENHOR dos
Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre esta cidade e sobre todas as suas vilas todo o mal que
pronunciei contra ela, porque endureceram a cerviz, para não ouvirem as minhas palavras.
A palvra Tofete aí significa lugar de chamas, lugar de fogo, ficava no vale de Hinom onde era queimado
o lixo da cidade.
A culpa pelo desespero de Jeremias nesse momento era de um sacerdote chamado Pasur. Como chefe
da segurança no templo, Pasur estava encarregado da polícia das profecias.
Ele ouviu que Jeremias tinha jogado um pote de barro no chão no vale do filho de Hinom (19.1-15).

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Também ouviu o resumo da profecia que Jeremias comunicou nos arredores do templo, de que Jerusalém
estava prestes a ser quebrada em pedacinhos.
Isso soava como traição; então Pasur fez com que o profeta de Deus fosse preso e torturado: "Pasur,
filho do sacerdote Imer, que era presidente na Casa do SENHOR, ouviu a Jeremias profetizando estas
coisas. Então, feriu Pasur ao profeta Jeremias e o meteu no tronco que estava na porta superior de
Benjamim, na Casa do SENHOR" (20.1-2).
Os regimes "pós-cristãos" nem sempre são agradáveis aos discípulos de Deus.
Jeremias já tinha sido ameaçado antes, mas dessa vez as autoridades agiram de fato. Primeiro, o açoi-
taram e depois o torturaram.
Colocar Jeremias "no tronco" significava mais do que simplesmente prendê-lo. A palavra hebraica refere-
se à torção. Eles colocaram Jeremias na armação, fixando seus punhos e torcendo seu corpo em contor-
ções dolorosas.
O que Pasur fez foi muito perverso. Aparentemente, acabou sentindo remorso, já que liberou Jeremias
na manhã seguinte. Mas o dano já havia sido feito.
Pasur tinha espancado o ungido do Senhor, e opor-se aos pastores fiéis sempre acarreta maldição
divina.
Ao ser libertado, Jeremias cumprimentou Pasur com uma mensagem de juízo — não de si mesmo, mas
do Senhor:
No dia seguinte, Pasur tirou a Jeremias do tronco. Então, lhe disse Jeremias: V 2.b – 6: O SENHOR já
não te chama Pasur, e sim Terror-Por-TodosOs-Lados. Pois assim diz o SENHOR: Eis que te farei ser
terror para ti mesmo e para todos os teus amigos; estes cairão à espada de seus inimigos, e teus olhos

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o verão; todo o Judá entregarei nas mãos do rei da Babilônia; este os levará presos à Babilônia e feri-los-
á à espada. Também entregarei toda a riqueza desta cidade, todo o fruto do seu trabalho e todas as suas
coisas preciosas; sim, todos os tesouros dos reis de Judá entregarei nas mãos de seus inimigos os quais
hão de saqueá-los, tomá-los e levá-los à Babilônia. E tu, Pasur todos os moradores da tua casa ireis para
o cativeiro; irás à Babilônia, onde morrerás e serás sepultado, tu e todos os teus amigos, aos quais
profetizaste, falsamente.
Essa profecia é significativa pelo que ela diz sobre Judá. Com frequência Jeremias advertiu que o juízo
viria do norte, mas até esse ponto ele não havia mencionado o invasor pelo nome.
Aqui, pela primeira vez, aprendemos que Babilônia será o instrumento do juízo divino. A partir desse
ponto, Jeremias mencionará essa feroz cidade mais de duzentas vezes.
A profecia também teve significado para Pasur. As costas de Jeremia ainda latejavam, e seus punhos
ainda ardiam por causa do seu aprisionamento.
Mas a punição de Pasur seria ainda mais grave. Seus amigos cairiam à espada ou morreriam em cati-
veiro, uma profecia que deve ter prejudicado sua vida social.
Suas mentiras seriam expostas e seus crimes pagos com a morte. Jeremias teve até a satisfação de dar
a Pasur um apelido que pegaria: Magor-Missabib.
Pasur significa "frutífero por todos os lados", mas Magor-Missabib significa "terror por todos os lados"
(v. 3).
Leve para o Senhor em oração
Foi isso o que aconteceu, mas não tudo o que aconteceu. Isso não nos diz o que passou pela mente de
Jeremias durante sua noite na prisão.

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Nessa noite quero falar sobre o que devemos fazer nos momentos de sofrimento e depressão.
Jeremias 20 deve ser entendido como o relato da sua noite no tronco, sua noite escura da alma.
Nesses versículos, há pelo menos quatro lições valiosas sobre sofrimento, as quais são relevantes para
todos os tempos porque o povo de Deus sempre sofre, mas que são especialmente relevantes para o
nosso próprio tempo pós-cristão.
A primeira lição é talvez a mais importante: o sofrimento deve ser levado ao Senhor em oração.
Jeremias tinha boas razões para estar desencorajado. Para começar, ele estava em perigo. V. 10: "Por-
que ouvi a murmuração de muitos: Há terror por todos os lados! Denunciai, e o denunciaremos! Todos
os meus íntimos amigos que aguardam de mim que eu tropece dizem: Bem pode ser que se deixe per-
suadir; então, prevaleceremos contra ele e dele nos vingaremos".
Os sacerdotes reuniam-se nos cantos do templo. Jeremias escutava os maldosos sussurros e via os
dedos apontados em sua direção.
Até mesmo seus amigos o observavam, esperando um passinho em falso para que pudessem atacá-lo.
Ele já havia sido espancado e preso.
Qual seria a próxima coisa que fariam com ele? Talvez a perseguição de Jeremias estivesse apenas
começando.
O profeta também estava desanimado por ter se tornado um motivo de piada: "Sirvo de escárnio todo
o dia; cada um deles zomba de mim" (v. 7b).
Quando Jeremias passava pelas ruas da cidade o povo começa a rir e zombar dizendo: "Lá vai o velho
e louco Jeremias.
Vocês ouviram o que ele fez ontem? Pegou um jarro novinho em folha e quebrou no chão, perto das

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muralhas da cidade. O cara precisa de uma camisa de força.
Ele continua falando palavras sobre inimigos que vêm destruir a cidade".
Lembre-se que Jeremias profetizou por 40 anos antes do cumprimento de suas profecias.
Um insulto foi especialmente cruel. Eles chamaram Jeremias de Magor Missabib, "terror por todos os
lados" (v. 10).
Em outras palavras, pegaram a repreensão que ele fez a Pasur e a usaram contra ele.
Abuso verbal pode não parecer tão sério em comparação com uma boa surra, mas, no final das contas,
esse tipo de zombaria começa a exercer seu impacto.
Jeremias foi desprezado e rejeitado.
Os amigos de Jeremias o traíram — até mesmo, ele pensou, o amigo mais próximo de todos: 7 a:
"Persuadiste-me, Ó SENHOR, e persuadido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste".
Jeremias começou a duvidar se a Palavra de Deus era mesmo realmente verdadeira.
Deus o forçou a profetizar, e ele profetizou, mas onde estava o juízo prometido? Jeremias havia se
tornado um falso profeta?
Ele pensou que estava exprimindo a Palavra do Senhor, mas talvez o Senhor o tivesse enganado (cf.
1Rs 22.22-23; Ez 14.9).
A única coisa que Jeremias poderia fazer com suas dúvidas e sofrimentos era levá-los ao Senhor em
oração.
Ele fez a oração de um crente que sofre.
Podemos imaginá-lo em confinamento solitário, exausto por causa da dor física e emocional. No entanto,
as primeiras palavras de sua boca foram uma invocação: "Ó SENHOR", ele clamou.

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Deus nos dá permissão para levarmos nossos sofrimentos diretamente a ele.
Foi isso o que as pessoas de fé fizeram ao longo da História. Foi o que Jó fez na pilha de cinzas, quando
lamentou a perda de sua família (Jó 3).
Foi o que Elias fez debaixo do pé de zimbro quando quis que o Senhor lhe tomasse a vida (1 Rs 19.4).
Foi o que Davi fez na caverna quando fugiu de Saul (Sl 57). Foi o que Jonas fez na barriga do grande
peixe, quando fugiu de Deus (Jn 2).
Foi até o que Jesus Cristo fez na cruz quando foi crucificado para expiar os pecados de seu povo: "Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46).
Leve os seus sofrimentos para o lugar secreto onde você se encontra com Deus em oração. É aí que
você deve levá-los.
Onde mais você pode descarregar e aliviar seu coração tão livremente? Quem mais irá consolá-lo com
tanta ternura? Não há necessidade de ocultar seus problemas. Leve-os ao Senhor em oração, como
Jeremias fez.
Fogo nos ossos
A segunda lição que Jeremias 20 ensina sobre o sofrimento é que às vezes os crentes sofrem por
causa de Deus.
Jeremias sabia por que o odiavam. A agulha da vitrola parecia estar no mesmo lugar no disco. O pessoal
estava se cansando de ouvi-lo pregar sobre juízo o tempo todo.
"porque Sempre que falo, tenho de gritar e clamar: Violência e destruição! Porque a palavra do SENHOR
Se me tornou um opróbrio e ludíbrio todo o dia" (v. 8).
Deus era o culpado pelos problemas de Jeremias. Não era por culpa do profeta que ele vinha sendo

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insultado durante o dia inteiro.
Ele simplesmente dizia o que Deus lhe mandava dizer. Embora pessoas como Pasur culpassem o men-
sageiro, o verdadeiro problema era com a mensagem.
Jeremias sofria por causa de Deus.
Ao refletir sobre seu problema, Jeremias apresentou uma possível solução: v 9-a: "Não me lembrarei
dele e já não falarei no seu nome".
Ele disse: "É isso aí! Para mim já deu. Vou pendurar minhas sandálias e arranjar um trabalho de verdade.
Não falarei mais a Palavra do Senhor".
Havia só um problema em tentar manter a Palavra de Deus reprimida dentro de si.
“Jeremias anuncia o impossível, ele renúncia e depois declara imediatamente que não pode demitir-se;
ele sai, mas não pode sair".
"Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então, isso me foi no coração
como fogo ardente, encerrado nos meus ossos: já desfaleço de sofrer e não posso mais" (v. 9).
A Palavra de Deus é como um fogo inextinguível e incontrolável nos ossos do ministro do evangelho.
Sento-me à minha mesa com as Escrituras abertas diante de mim, ansiando pela chegada do Dia Senhor.
Trabalho durante a semana com uma impaciência santa para que o chamado à liturgia seja lido, os
hinos sejam cantados e o sermão possa começar.
Ha momentos em que a Palavra de Deus pesa em mim com tanta força que a pregação è uma catarse,
a libertação de um fardo aparentemente grande demais para suportar por um só minuto a mais.
Contudo, quando falou sobre o fogo nos seus ossos, Jeremias não estava falando sobre os prazeres do
ministério. Ele não estava testificando das delícias de pregar no Espírito Santo.

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Ele não estava dizendo que o coração dele ardia em chamas com o evangelho.
Em vez disso, seu coração queimava com juízo. A palavra ardente nos seus ossos era a lei e não a
graça.
Ele não estava ansioso para pregar, mas relutante, pois sabia que o juízo seria derramado assim que
abrisse a sua boca.
Jeremias teria dado qualquer coisa para ter um ministério mudo, mas a Palavra de Deus não lhe permitia
permanecer em silêncio.
O fogo nos seus ossos inevitavelmente explodia para fora de seus lábios.
Isso lembra àqueles que ensinam vocês devem dizer apenas o que Deus diz na sua Palavra. Essa é uma
das grandes lições do ministério de Jeremias.
Ele estava cercado por falsos profetas que diziam qualquer coisa que as pessoas desejassem ouvir. Eles
diziam: “Paz, paz", mesmo quando não havia paz (6.14; 8.11).
Mas Jeremias era um profeta verdadeiro. A marca distintiva de um verdadeiro profeta é que ele não
prega nada exceto a Palavra de Deus.
Quando houve paz, Jeremias disse “Paz"; mas, quando não havia paz, ele disse: “Não há paz".
Pastores fiéis pregam tanto a lei quanto a graça, tanto a justiça quanto a misericórdia, tanto o juízo
quanto a salvação. A pregação autêntica perturba tanto quanto consola.
Ás vezes, a pregação leva ao sofrimento. Proclamar a verdadeira Palavra de Deus pode acarretar opo-
sição, hostilidade e até perseguição, como aconteceu com Jeremias.
Às vezes, os cristãos sofrem por causa da Palavra de Deus, especialmente se vivem numa cultura que
virou as costas para Deus.

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Nesses momentos, o cristão vive pelo chamado de Deus.
Jeremias precisava tomar coragem a partir das promessas que Deus havia feito assim que o comissionou
para ser um profeta:
R 1.18-19: “Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de ferro e por muros de bronze,
contra todo o país, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra
o seu povo. Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te
livrar".
Essa comissão deixou claro que Jeremias sofreria por causa de Deus. Contudo, o Senhor prometeu mais
do que sofrimento; ele prometeu que seu profeta seria salvo.
Jesus Cristo faz a mesma promessa aos seus discípulos. Em certa ocasião, Jesus explicou como eles
sofreriam por sua causa; como seriam maltratados e odiados pelo mundo.
Por causa de Cristo, eles seriam até mortos, como realmente aconteceu mais tarde. Mas Jesus terminou
com uma promessa: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por
aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" (Jo 16.33).
Esse é um maravilhoso versículo para guardar na memória e aplicar à vida diária. Os cristãos têm muitas
dificuldades neste mundo.
As vezes ficamos deprimidos, frequentemente desanimados, muitas vezes desencorajados. De vez em
quando nos perguntamos, "Por que isso está acontecendo comigo'?'
Jesus ensina que sofrer por que é cristão não é uma surpresa. Neste mundo você terá aflições. Mas
tenha bom ânimo; Cristo venceu o mundo.
Chamado à adoração

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Jeremias animou-se durante a sua noite escura da alma. De repente, ele interrompeu sua queixa para
realizar um miniculto.
Ele estava sozinho e com medo, deprimido e desencorajado, mas ofereceu um pequeno salmo de louvor
a Deus (20.11-13).
Disso, há uma terceira lição a ser aprendida: Deus sempre deve ser louvado, mesmo em meio ao
sofrimento.
O culto de Jeremias foi curto, mas completo. Seu salmo continha três elementos — uma confissão de
fé, uma oração por libertação e um hino de louvor.
Sua confissão de fé foi assim: v. 11: "Mas o SENHOR está comigo como um poderoso guerreiro; por
isso, tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão; serão sobremodo envergonhados; e, porque
não se houveram sabiamente, sofrerão afronta perpétua, que jamais se esquecerá".
Jeremias não entendia o que estava acontecendo com ele. Até o Senhor parecia estar contra ele.
No entanto, continuou testemunhando do que sabia ser verdadeiro sobre o caráter de Deus.
"Aqui, o Profeta profetiza o auxílio de Deus contra todas as conspirações formadas contra ele.
Pois, de um lado, amigos maldosos tentam reservadamente fazê-lo cair numa cilada, e, por outro lado,
os inimigos declarados se opõem a ele publicamente, mas, ainda assim ele não duvidou de que Deus
seria uma proteção suficiente para si".
Jeremias sabia que o Senhor estava com ele mesmo que parecesse que Deus estava longe. O profeta
sabia que o Senhor é forte, ainda que pareça distante.
Ele sabia que os perversos seriam derrotados mesmo quando parecessem triunfantes. Então, o profeta
confiantemente confessou que o Senhor o salvaria.

13
Em seguida, Jeremias orou pedindo ajuda: 12 "Tu, pois, Ó SENHOR dos Exércitos, que provas o justo e
esquadrinhas os afetos e o coração, permite veja eu a tua vingança contra eles, pois te confiei a minha
causa".
Jeremias não quis resolver as coisas sozinho, mas entregou sua causa ao Senhor. Ele orou para que
fosse justificado enquanto seus inimigos fossem punidos.
Jeremias encerrou seu culto com um hino de louvor. Ele cantou: v 13: "Cantai ao Senhor, Louvai ao
SENHOR; pois livrou a alma do necessitado das mãos dos malfeitores".
Podemos imaginar que Jeremias se inclinou no tronco enquanto cantava. Talvez não tivesse fôlego para
cantar um longo hino, mas conseguiu pelo menos uma curta canção de louvor.
Como Paulo e Silas fizeram anos e anos depois (At 16.25), Jeremias louvou o Senhor na prisão.
Veja que seu salmo se refere à pessoa necessitada no singular.
Literalmente, o Senhor "livrou a alma do necessitado" (20.13), sendo este o próprio profeta. Ele passou
das suas dúvidas para um lugar de forte confiança no Senhor.
Desse modo, Jeremias mostra como louvar a Deus durante a noite escura da alma.
Como Jeremias, o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) foi preso por causa da Palavra de
Deus.
Bonhoeffer suportou sua noite escura da alma num campo de concentração nazista. Contudo, não parou
de louvar a Deus: "Estou sozinho, mas tu não me deixas. Estou inquieto, mas em ti há paz".
É sempre bom louvar ao Senhor, mas é especialmente bom em meio ao sofrimento. A melhor coisa a
fazer quando estamos desencorajados é ir ao culto.
Continue confessando, continue orando, continue cantando. Mesmo quando você tiver uma queixa a

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Deus, confesse sua fé nele, ore por libertação e louve o nome dele.
A pergunta final
Outra lição que aprendemos com Jeremias é que em nosso relacionamento com Deus existe espaço
para dizer que está doendo.
Em nosso relacionamento com Deus existe espaço para nossas dúvidas, nossas lamentações, nosso
choro. Deus não foge de nós quando o desespero e mesmo a depressão nos levam ao fundo do poço
Quando li esse texto desejei terminar o sermão aqui. É tentador concluir com o salmo de louvor de
Jeremias, mas não é assim que o próprio profeta concluiu.
A Bíblia deve ser recebida da maneira que se apresenta, e dessa vez ela conclui com palavras que
exprimem depressão:
V 14 – 17: 14 Maldito o dia em que nasci! Não seja bendito o dia em que me deu à luz minha mãe! 15
Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho!, alegrando-o com isso
grandemente. 16 Seja esse homem como as cidades que o SENHOR, sem ter compaixão, destruiu; ouça
ele clamor pela manhã e ao meio-dia, alarido. 17 Por que não me matou Deus no ventre materno? Por
que minha mãe não foi minha sepultura? Ou não permaneceu grávida perpetuamente?
Em vez de celebrar o dia de seu nascimento, Jeremias o amaldiçoou. Ele queria voltar na história e
amaldiçoar tudo e todos que tiveram algo a ver com seu nascimento.
Ele desejou que o homem com a notícia de seu nascimento o tivesse estrangulado. Na verdade, ele
desejou que Deus o tratasse com tanta dureza quanto havia tratado Sodoma e Gomorra.
Jeremias passou de louvor a maldição a uma grande velocidade.
Um versículo é um hino de grande louvor; o próximo é uma imprecação de completo desespero.

15
Até Calvino ficou confuso; para ele, parecia "uma leviandade indigna do santo homem passar repenti-
namente da gratidão a Deus para imprecações, como se tivesse se esquecido de si mesmo".
Talvez Jeremias tenha se esquecido de si mesmo, mas esses versículos estão associados.
Podem até mesmo não estarem associados pela lógica, mas quem diz que a vida da alma em sofrimento
é sempre lógica?
As maldições de Jeremias seguem os seus louvores porque foi assim durante a sua noite escura da
alma.
Devemos reconhecer a natureza confusa, quase esquizofrênica, da vida cristã. Nós somos, ao mesmo
tempo, santos e pecadores.
Embora nossos pecados estejam perdoados, nós continuamos a pecar.
Num minuto nós louvamos e no próximo, amaldiçoamos; num momento nos regozijamos no plano de
Deus, e no próximo, resistimos à sua vontade.
As maldições de Jeremias formam um lamento amargo, o mais amargo do livro de Jeremias, senão de
toda a Escritura.
Parece que a intenção dele é "nos impressionar e comover.
Juntamente com outros torturados os clamores de Jeremias e de outros companheiros sofredores nas
Escrituras permanecem para que não nos esqueçamos da intensidade da longa luta ou da fragilidade do
ser humano.
Jeremias parou apenas logo antes de maldiçoar a Deus ou seus pais, ambos crimes capitais em Israel
(Lv 20.9).
Na verdade, ele não pensou em acabar com tudo, mas desejava que jamais tivesse começado: "Por que

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saí do ventre materno tão somente para ver trabalho e tristeza e para que se consumam de vergonha os
meus dias?" (Jr 20.18).
Jeremias conhecia a dificuldade da perseguição, a tristeza de observar seu povo rejeitar a Palavra de
Deus e a vergonha da humilhação pública.
Todo esse sofrimento colocou um ponto de interrogação gigante sobre a sua existência.
Embora fosse forte em sua fé, houve momentos em que ele tinha mais perguntas do que respostas.
Nessa ocasião, ele questionou sua criação, sua salvação e sua vocação. E ele faz isso em oração em
conversa com Deus.
CONCLUSÃO
Caminhamos hoje com Jeremias num dos piores momentos de sua vida.
Foi possível sentir o peso dramático de suas palavras, foi possível sentir sua dor e sua angústia quando
desejou a não existência.
As palavras de Jeremias são fortes. Embora o sofrimento possa colocar um ponto de interrogação sobre
a existência, ele jamais tem a última palavra.
1 – Minha primeira aplicação aqui vem baseada no final do capítulo 20, esse capítulo termina com uma
pergunta que o próprio Jeremias não pôde responder, mas para a qual as escrituras fornecem uma boa
resposta.
Por que Jeremias saiu do útero para ver problemas e tristezas?
Como vimos, Deus já havia dado a resposta a Jeremias assim que o chamou para o ministério.
O profeta precisava se lembrar da primeira coisa que o Senhor lhe disse: "Antes que eu te formasse no
ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta as

17
nações" (1.5).
Jeremias rastreou seus problemas de volta ao útero. Mas ele não voltou o suficiente. Deus podia traçar
suas promessas de volta até antes do útero.
Deus Ele tinha um propósito para a vida de Jeremias desde antes do início dos tempos.
O profeta precisava ser lembrado de que, desde toda a eternidade, o Senhor o havia separado para a
salvação e para o ministério.
Talvez você precise desse mesmo lembrete. Você está sofrendo? É ridicularizado pelos seus amigos ou
familiares? Os inimigos estão esperando para atacar você?
Sente-se abatido pela iniquidade da sociedade contemporânea? Há momentos em que você se pergunta
por que é que saiu do útero da sua mãe?
Foi por isto: Deus separou você para a salvação e para Ele. Antes do início dos tempos, ele planejou
salvar você em Cristo: "assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo" (Ef 1.4a).
Então, ele separou você para fazer a obra dele. "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para
boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10).
O sofrimento pode colocar um ponto de interrogação gigante sobre nossa vida, mas a graça de Deus
sempre tem a última palavra.
Nada que está acontecendo em sua vida foge dos propósitos de Deus. Você pertence a Ele.
2 – E isso me leva a minha segunda aplicação: Não fuja e nem negue a sua dor. Quanto mais você
tentar esconder, quanto mais você tentar negar sua situação ficará pior.
Tem pessoas que pensam: eu sou duro, eu sou forte, eu passo por tudo e não faço o menor lamento.
Na verdade essas pessoas escondem suas dores, seus sofrimentos numa máscara de força.

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E isso deixa a pessoa amarga, dura e fria mas no fundo ela não consegue lidar com suas próprias dores.
Esconder e negar não é solução
Jeremias por todo o seu livro vive essa realidade, por 40 anos ele foi solitário, ele viveu o drama de ser
fiel a Deus e ser rejeitado justamente devido sua fidelidade.
Jeremias não tinha amigos, Jeremias não tinha os irmãos da Igreja para conversar pois todos queriam
distância dele e de suas duras profecias.
Aí ele derrama seu choro, seu lamento, sua angústia e sua dor diante de Deus. É ótimo levar nossas
dores a Deus, mas tem momentos que tudo o que queremos é um ombro amigo de nosso lado.
Lendo essas palavras de Jeremias eu gostaria de estar lá e poder lhe dar um abraço e dizer para ele:
chore, chore!
É muito complicado enfrentar os piores momentos da vida sem ter ninguém ao nosso lado para chorar
conosco, para nos dar um abraço como quem diz: eu não sei o que fazer ou falar mas estou aqui.
Mas, você tem amigos, você tem uma Igreja que anda ao seu lado, somos todos pecadores, mas ainda
podemos chorar juntos.
3 – Em mina última palavra de aplicação quero fazer referência a um texto que se relaciona muito com
o que falamos aqui.
Abra Dt 32.39: Vede, agora, que Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e
eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão.
Jeremias eu seu sofrimento ora a Deus, ele também louva a Deus, ele se lamenta de forma forte diante
de Deus, e ele faz tudo isso porque ele sabe que Deus é soberano.
Leia novamente o texto de Dt 32.39: Vede, agora, que Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além

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de mim; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão.
Jeremias sabia disso por toda a sua vida. Não são os governos do mundo e nem seus inimigos os
responsáveis por seus sofrimentos. Ele sabia que tudo estava nas mãos de Deus.
Não pense você que o covid é um vírus que fugiu das mãos de Deus e está pelo mundo causando
estrago. Não pense você que o covid foi enviado por satanás para causar dano ao mundo.
Mesmo que ela tenha sido criado em laboratório, vindo de animais, mesmo que não saibamos muita
coisa sobre ele, Deus sabe tudo sobre ele.
Por mais assustado que possa parecer assim como satanás o covid é um instrumento nas mãos de Deus.
Usado para que os propósitos de Deus se cumpram nesse mundo.
Por isso não se assuste quando os irmãos da igreja também pegam covid. Se lembre das palavras de
Jó: temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?
Eu vou ficar escondidinho dentro de casa até o vírus passar e não me achar. Se for vontade de Deus
ele vai te achar dentro da sua casa.
Aprenda com Jeremias: Ore, louve a Deus, lamente diante de Deus, mas acima de tudo dependa de
Deus e de sua soberania. Se submeta ao controle soberano de Deus.

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