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Análise de ruído conforme NR-15 em uma empresa metal mecânica

Resumo:

O ser humano se for submetido a níveis de ruído acima do tolerável, pode

induzir a PAIR (perda auditiva induzida por ruído). O valor de 140 dB (decibel) é o

máximo que nossos tímpanos podem suportar sob pena de rompimento, sendo que

o desconforto acústico, com danos para o organismo humano, começa nos 90 dB.

O excesso de ruído influência no humor, perturba a concentração, perda de apetite

e causa fadiga auditiva. A NR-15 (Norma Regulamentadora) trata sobre

“Atividades e Operações Insalubres”, e estabelece níveis de segurança para o

trabalhador conforme atividade e risco. Este artigo analisou o nível de ruído

intermitente gerado por diferentes processos de fabricação em uma pequena

empresa da área metal mecânica situada na região oeste do Paraná. As medições

foram feitas próximas ao ouvido do trabalhador.

Palavras-chave:

excesso, intermitente, norma regulamentadora.

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Noise analysis according to NR-15 in a metalworking company

Abstract:

The human being, if subjected to noise levels above the tolerable, can induce NIHL

(noise-induced hearing loss). The value of 140 dB (decibel) is the maximum that our

eardrums can withstand under penalty of rupture, and the acoustic discomfort, with damage

to the human body, starts at 90 dB. Excessive noise influences mood, disturbs

concentration, loss of appetite and causes hearing fatigue. NR-15 (Regulatory Norm) deals

with “Unhealthy Activities and Operations” and establishes levels of safety for workers

according to activity and risk. This article analyzed the level of intermittent noise generated

by different manufacturing processes in a small company in the metalworking area located

in the western region of Paraná. Measurements were taken close to the worker's ear.

Key words:

excess, intermittent, regulatory standard.

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INTRODUÇÃO

Segundo BRAGA (2002) o conceito de som (ou ruído) vem da física

acústica que é o resultado da vibração acústica capaz de produzir sensação auditiva.

O som, como a poluição está associado ao “ruído estridente” ou ao “som não

desejado”. BRAGA (2002) ainda conclui que embora o conceito de som esteja

perfeitamente definido pela física, o conceito de ‘som não desejado’ (como

poluição) é muito relativo. O mesmo autor cita que para muitos, um show de rock

não passa de uma fonte extraordinária de poluição auditiva; para outros é a pura

expressão da arte musical contemporânea.

Porém, PEPPLOW (2010) cita que o ruído é um risco físico. Entende-se por

ruído um barulho ou um som indesejável, frequentemente produzido por máquinas,

equipamentos ou processos cujos efeitos no organismo compreendem distúrbios

gastrintestinais, irritabilidade, vertigens, nervosismo, aceleração do pulso e elevação

da pressão arterial.

O ruído pode ser classificado em (BRAGA, 2002):

 Continuo: som que se mantém no tempo;

 Intermitente: som não continuo, em que nos intervalos

há dissipação de pressão;

 Impulsivo: som proveniente de explosões, escape de gás, etc

 Impacto: som proveniente de certas máquinas, como

prensa gráfica, por exemplo.

A medida do nível de ruído é feita pelo decibelémetro/dosímetro, e a

unidade de medida do som é o decibel.


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O decibel é definido como sendo igual a 10 vezes o logaritmo decimal da

razão entre pressão sonora e uma pressão de referência (BRAGA, 2002). Ou seja,

qualquer pequeno aumento em um valor (decibel) significa um grande acréscimo de

intensidade de som.

Na área de metal mecânica, diversos processos produtivos (como usinagem

soldagem, e outros) produzem inúmeros ruídos provenientes dos diversos tipos de

máquinas e equipamentos. Um trabalhador deste ramo poderá estar exposto a uma

condição de ambiente insalubridade.

O objetivo deste trabalho é analisar os níveis de ruído contínuo ou

intermitente em uma empresa metal mecânica de uma cidade de pequeno porte da

região oeste do Paraná e comparar com a NR-15.

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MATERIAL

A Tabela 1 a seguir apresenta o nível sonoro de diversas atividades humanas

TABELA 1 – Nível sonoro das atividades humanas

ATIVIDADE Nível (dB)

Limiar auditivo 0

Estúdio de gravação 20

Biblioteca forrada 30

Sala de descanso 40

Escritório 50

Conversação 60

Datilografia 70

Tráfego 80

Serra circular 90

Prensas excêntricas 100

Marteletes 110

Aeronaves 130

Limiar da dor 140

FONTE: BRAGA et. al 2

Segundo BRAGA (2002) o valor de 140 dB é o máximo que nossos

tímpanos podem suportar sob pena de rompimento, sendo que o desconforto

acústico, com danos para o organismo humano, começa nos 90 dB. O excesso de

ruído influência no humor, perturba a concentração, perda de apetite e causa fadiga

auditiva. Os efeitos danosos do ruído ao ser humano são: perda auditiva (temporária

ou permanente), interferência da fala, perturbações do sono, estresse e hipertensão.

A Norma Regulamentadora 15 – NR 15 – Atividades e Operações

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Insalubres – indica os “limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente”.

Esta norma recomenda para uma jornada de 8 horas diárias de trabalho, a máxima

exposição diária permissível é de 85 dB. Porém, se o nível for de 115 dB, O tempo

de exposição máxima cai para 7 minutos, e não é permitido expor sem proteção

adequada (EPI – Equipamento de Proteção Individual). Outros valores e tempo de

exposição no Anexo 1.

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ANEXO 1 – Limites de Tolerância para Ruído contínuo ou

intermitente – NR15

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METODOLOGIA

Para elaboração deste artigo, foram realizadas as seguintes etapas:

 Visita na empresa;

 Mapeamento dos processos produtivos;

 Coleta dos dados – os níveis de ruído contínuo ou intermitente foram

medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão

sonora (decibelímetro DEC-460 – fabricante INSTRUTHERM)

operando no circuito de compensação “A” e circuito de resposta lenta

(SLOW). As leituras foram feitas próximas ao ouvido do trabalhador;

 Comparação com o ANEXO N.º 1 da NR-15 – Limites de tolerância

para ruído contínuo ou intermitente.

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RESULTADOS

A visita ocorreu no ano de 2013 em uma empresa do ramo metal mecânica

situada no município de Assis Chateaubriand-PR, cuja população estimada em 2013

é de 33.988 habitantes (IBGE, 2014). Em acordo comum, para que fosse possível a

realização da coleta de dados, a empresa solicitou que não divulgasse o nome. A

empresa é de pequeno porte (abaixo de 100 funcionários) e atua na área de

usinagem, conformação mecânica e soldagem.

A Tabela 2 – Medições e Resultados - demonstra o tempo de exposição dos

empregados (equipamento), nível de ruído, tempo de exposição e limites. No caso,

os valores encontrados de nível de ruído intermediário, foram consideradas para

efeito de análise a máxima exposição diária permissível relativa ao nível

imediatamente mais elevado, conforme a NR-15.

Contudo, na jornada de trabalho na empresa visitada, ocorreram períodos de

exposição a ruído de diferentes níveis, e foi considerados os seus efeitos combinados

(Exposição diária – Eq 1) de forma que foi a soma das frações obtidas para os

diversos níveis de ruído (onde Cn é o tempo total diário em que o trabalhador fica

exposto a um nível de ruído específico, e Tn é o tempo máximo diário permissível a

este nível, segundo a NR-15).

Eq. (1)
C1 C2 C3
Exposição _ diária    ... 
Cn

T1 T2 T3 Tn

Se a somatória dos períodos de exposição a ruído de diferentes níveis for

maior que 1 (um), indica que o funcionário está exposto diariamente a um ambiente
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insalubre.

TABELA 2- Medições e Resultados

MEDIÇÃO EQUIPAMENTO NÍVEL DE TEMPO TEMPO RELAÇÃO


RUÍDO MÉDIO MÉDIO PERMITIDO Cn/Tn
ESTIMADO PELA NR-15
DE CONFORME
EXPOSIÇÃO NÍVEL DE
(Cn) RUÍDO (Tn)

1 Torno (funcionário 1) 79,5 dB 6 horas 8 horas (85 dB) -

2 Fresadora (funcionário 2) 81,9 dB 6 horas 8 horas (85 dB) -

Moto esmeril
3 (funcionários 1 e 89,5 dB 1 hora 4 horas (90 dB) 0,25
2)

4 Serra circular
(funcionários 1 e
2) 91,8 dB 30 minutos 3 horas (92 dB) 0,16

5 Jato de ar 20 minutos (108


comprimido 107,8 dB 10 minutos
(funcionários 1 e 2) 0,5
dB)

Exposição diária estimada (∑Cn/Tn) 0,91

As Figuras 1 e 2, são fotos de algumas medições realizadas durante a visita.

FIGURA 1 - Fresadora

Apesar do jato de ar comprimido ter emitido um ruído elevado (chegando a

108,3 dB), o uso deste equipamento é feito durante um curto período (alguns

segundos) e várias vezes no decorrer do dia de trabalho.

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FIGURA 2. Limpeza utilizando jato de ar comprimido

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CONCLUSÃO

Na empresa visitada, a exposição diária pode variar conforme a jornada de

trabalho do funcionário e da demanda de produção. O tempo de exposição em cada

máquina é sempre menor do que 8 horas diárias (ex: 6 horas no torno e fresadora).

Existe a necessidade de avaliar qual o tempo de exposição permitido para valores de

ruídos diferentes de 85 dB (8 horas – Anexo 1), como obtidos no torno e fresadora.

Não é correto afirmar que 80 dB e 85 dB tenham tempos permitidos iguais de

exposição.

Além disso, na empresa visitada, o empregador fornece EPIs (protetor

auricular tipo plug com atenuação de 12 dB, óculos de proteção de policarbonato e

luvas) para a neutralização da possível insalubridade. Com isso acaba diminuindo o

risco de exposição aos ruídos provenientes das máquinas.

Cabe ao empregador fiscalizar o uso correto dos EPIs e do empregado o uso

correto e manutenção do mesmo. Tomando essas medidas, o empregador e

empregado seguem o limite estabelecido pela NR-15 na questão do ruído contínuo

ou intermitente, preservando a saúde ocupacional de todas as pessoas envolvidas na

empresa.

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REFERÊNCIAS

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