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CEEFMTI JOAQUIM BEATO – SERRA – ES

1º TRIMESTRE/QUINZENA 02
SÉRIE:
PROFESSOR:
DISCIPLINA: ( ) 3º ANO TURMA: VALOR:
FABIO CUSTODIO
HISTÓRIA

NOME: DATA NOTA:


___/___
2023

HISTÓRIA

Os filhos das escravizadas depois da Lei do Ventre Livre

A Lei do Ventre Livre (Lei no 3.279), de 28 de setembro de 1871, concedeu liberdade às crianças nascidas de
mulheresescravizadas no Império do Brasil a partir daquela data. Estabelecia, porém, condições: até os 8 anos, o
ingênuo (comoera chamada a criança) ficaria sob tutela do proprietário de sua mãe. Sendo livre, não poderia exercer
nenhum tipo deatividade pelo menos até os 8 anos de idade. A partir daí, se o proprietário assim o quisesse, poderia
manter a criança junto com a mãe até os 21 anos, tendo a prestação de serviços como contrapartida da alimentação
e abrigo. Caso contrário, ela seria entregue aos auspícios do Estado mediante uma indenização.
A lei de 1871 punha fim, também, à estratégia dos escravistas para aumentar ou manter sua escravaria: estimular a
reprodução de suas escravas. Desde o fim do tráfico negreiro, em 1850, para suprir as lavouras com mão de obra, os
fazendeiros dependiam do tráfico humano interno e do ventre das escravas. A lei impedia o uso da escrava como
reprodutora. Isso ocorreu, de fato? A Lei do Ventre Livre teria reduzido substancialmente o número de escravos
disponíveis em uma propriedade? A vida dos filhos das escravas mudou depois da Lei do Ventre Livre? Qual o destino
dessas crianças?
Para responder essas questões, os historiadores se debruçaram na análise de inventários post-mortem, escrituras de
compra e venda de cativos, matrículas de escravos, cartas de alforrias, processos judiciais de disputa de propriedade,
anúncios de jornais e processos criminais. O resultado da pesquisa mostrou uma realidade diferente daquela que a
leifaria supor.

BNCC: 8º ano. Habilidade: EF08HI19, EF08HI20

Ensino Médio: habilidades: EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS404,


EM13CHS503, EM13CHS601,EM13CHS60

O trabalho das crianças escravizadas e alforriadas


Crianças de colo, nascidas livres pela Lei de 1871 e vivendo em contexto escravista. Partida para colheita de

café com carro de boi (detalhe), Vale do Paraíba, 1885, Marc Ferrez.

Após setembro de 1871, as crianças alforriadas pela lei, continuaram a viver dentro das senzalas, junto aos seus
familiares cativos. Esses saíam para o trabalho na lavoura ou na rua, como escravos de ganho, em uma jornada
extenuante de 12-14 horas contínuas. E os pequenos? Seguiam com eles, mesmo os bebês, amarrados às costas de
suas mães, como acontecia antes da lei.
Crianças pequenas trabalhavam arrancando ervas daninhas, semeando frutas, cuidando de animais domésticos.
Segundo Kátia Cardoso, “por volta dos 7 para os 8 anos, a criança não terá mais o direito de acompanhar sua mãe
brincando; ela deverá prestar serviços regulares para fazer jus às despesas que ocasiona a seu senhor, ou até mesmo, à
própria mãe, se esta trabalha de ganho e reside fora da casa de seu dono. […] A idade de sua vida que vai dos sete aos
doze anos, não é mais uma idade de infância, porque já sua força de trabalho é explorada ao máximo […]. Mesmo se
seu rendimento é menor, ele é escravo à part entière, e não mais criança.” (MATTOSO, 1991, p.90-91)
Mott também percebeu aos 7-8 anos as crianças escravas passavam a trabalhar no serviço mais regular. “Deixavam
para trás as últimas ‘regalias’ infantis, aqueles que viviam na casa do senhor, e passavam a desempenhar funções
específicas para sua idade ou já eram treinados para funções que desempenhariam vida afora.” (MOTT, 1989, p.88)
Heloisa Teixeira analisando as listas de ocupações, da cidade mineira de Mariana, constatou que 719 meninos e
meninas escravizadas com idade inferior a 15 anos tinham funções diversas: roceiro (a maioria), candeeiro, pastor,
carpinteiro, sapateiro, alfaiate, serrador, serviço doméstico, cozinheiro, copeiro, lavadeira, costureira, pajem, criado,
servente, mucama etc (TEIXEIRA, 2010, p.86).
a prática, portanto, a situação dos filhos das escravas não mudou significativamente depois de 1871. Vivendo em
propriedades escravistas, os filhos livres das escravas foram mantidos em quase sua totalidade na mesma condiçãoservil
dos cativos de fato.

Nas primeiras horas da manhã, mulheres e homens escravizados saem com suas peneiras para
a colheita de café, levando suas crianças. Alforriadas pela Lei de 1871, elas devem prestar
serviços ao seu senhor até os 21 anos. Vale do Paraíba, Marc Ferrez,1885.
Opção pelo trabalho dos nascidos livres
Crianças eram, portanto, uma mão de obra útil o que levou os escravistas a tentarem contornar o que
consideravam “prejuízo” ao seu patrimônio. Por má-fé dos senhores, muitas crianças libertas pela lei de 1871, foram
avaliadas comoescravas seja pela omissão de sua condição de livre ou pela manipulação da data de seu nascimento.
Tendo o direito de escolher entre os serviços dessas crianças, a partir dos 8 anos de idade, ou uma indenização pela
criação dos mesmos, a grande maioria dos senhores escolheu a primeira opção.
Segundo dados obtidos no Relatório do Ministro da Agricultura de 1885, do total de 400 mil ingênuos – como eram
chamados os filhos livres das escravas – registrados até aquele momento, apenas 118 foram entregues ao Estado
emtroca da indenização de 600$000, número que não correspondia a 0,5% do total de crianças nascidas livres de
mãe escrava em todo o país (CONRAD, 1978, p.144).
Os escravistas usaram a prestação de serviço dos ingênuos até completarem 21 anos, como forma de ressarcimento
pela criação recebida. Isso incluía até os bebês e crianças pequenas. Foi o caso de Joana, de apenas 1 ano de idade
que foi arrolada no inventário de 1876:

“declaram os herdeiros que a ingênua Joana de idade de 1 ano […] preste seus futuros
serviços aos herdeiros solteiros,quais dona Albina, dona Maria, dona Blaudina, dona
Emínia, dona Eliza porque assim ficará em companhia de seu pai, e os seus futuros
serviços será uma fraca recompensa aos referidos herdeiros solteiros pelo trabalho da
criação da mesma.” (TEIXEIRA, 2010, p. 76).

Venda de crianças no Brasil escravista do século XIX

A lei proibia a venda de criança desacompanhada dos familiares, fosse ela escrava ou alforriada. Mas nem sempre a lei foi
respeitada. Na charge de Ângelo Agostini, escravos e animais fazem parte do mesmo lote. Na legenda: “Podem continuar a
considerar o escravo um animal como qualquer outro e sujeito a ser comprado, vendido, surrado etc.”. Revista Ilustrada, n. 413,
1885, p.4-5.

A legislação de 1869 proibia a separação de suas mães, pela venda, de crianças escravizadas menores de 15 anos.
A lei de 1871, reduziu a idade para 12 anos. Houve casos, porém, em que a lei foi burlada. Em 1874, o menino
Fortunato, de 5 anos de idade, propriedade de Antônio de Pádua Dias foi vendido, apesar de sua pouca idade,
sozinho. Em 1880, o menino Ezequiel, de 11 anos, propriedade do senhor Lucindo Gonçalves Dias, morador da
freguesia de Barra Longa, foi vendido ao senhor Quintino Gonçalves Dias, morador de Mariana, Minas Gerais
(TEIXEIRA, 2010).
O historiador Robert Conrad, revela a venda dos serviços de crianças filhos de escravas, nos jornais cariocas das
décadas de 1870 e 1880. Os anúncios informavam os nomes, idades e “qualidades” dos ingênuos. Em um deles, um
jornal carioca de 1881, incluía 10 ingênuos cujos preços variavam de 400 mil-réis para um rapaz de 9-10 anos de idade.
Até 10 mil-réis por um menino de 2 anos. “Apesar de repetidos protestos da imprensa e do próprio governo, a ‘venda’
deingênuos continuou até 1884.” (CONRAD, 1978, p. 142).
A preferência era por meninos e meninas na faixa de 10 a 14 anos. Havia razões para isso: o valor inferior ao dos escravos
a dultos, a expectativa de vida longa (a taxa de mortalidade era muito alta entre zero a 9 anos), ao potencial de trabalho
que já evidenciavam nessa faixa etária e o fato de serem menos propícios a insubordinações e desacatos. Os pequenos
cativos eram, muitas vezes, comercializados sozinhos, o que incorria em desrespeito à lei que proibia a vendade crianças
desacompanhadas de seus familiares.
A situação começou a mudar nos anos 1880, quando ocorrre significativa redução da venda de crianças assim como de
crianças no trabalho escravo graças ao aumento das alforrias fornecidas pelos escravistas ou obtidas pelo pecúlio dos
escravos.
A mentalidade escravista da sociedade brasileira, contudo, não mudou. O conto “Negrinha“, de Monteiro Lobato, de
1920, revela que a Lei do Ventre Livre não libertou as crianças negras da mentalidade escravista dos senhores brancos,
carregada de preconceito e racismo. Negrinha, a pequena órfã de sete anos, “nascera na senzala, de mãe escrava, e
seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida,
que a patroa não gostava de crianças”. Sua patroa, descreve Lobato, “nunca se habituara ao regime novo – essa
indecência de negro igual a branco”.

Trabalhando a Lei do Ventre Livre em sala de aula


A leitura do texto original é uma oportunidade para o aluno trabalhar o documento primário. Neste caso, o professor
faz apenas uma apresentação da lei: do que se trata, quando foi feita e a quem se destinava. Os aspectos mais
importantes da lei devem ser levantados pelos alunos no trabalho investigativo do documento na íntegra. Ele está
disponível no Blog da Biblioteca Nacional (acesso em 07.05.2022). Sugerimos que a leitura se concentre nos seguintes
artigos:

➢ Artigo 1° – parágrafos 1°, 3° e 7°


➢ Artigo 4° – parágrafo 7°
➢ Artigo 8° – parágrafos 4° e 5°

A Lei do Ventre Livre ainda não tinha sido promulgada quando foi feita essa foto. Mas ela revela
a presença das crianças e o seu trabalho nas fazendas escravistas. Secagem de café na fazenda
de Quititi, Georges Leuzinger, Jacarepaguá. RJ, c. 1865, ColeçãoGilberto Ferrez, Instituto Moreira
Salles.
Lei do Ventre Livre - 1871

O projeto da Lei do Ventre Livre foi proposto pelo gabinete conservador presidido pelo visconde do Rio Branco
em 27 de maio de 1871. Por vários meses, os deputados dos partidos Conservador e Liberal discutiram a
proposta. Em 28 de setembro de 1871 a lei nº 2040 após ter sido aprovada pela Câmara, foi também aprovada
pelo Senado. Embora tenha sido objeto de grandes controvérsias no Parlamento, a lei representou, na prática,
um passo tímido na direção do fim da escravatura.

"Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos
da Nação e outros e providencia sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e, sobre a libertação
anual de escravos.

A princesa imperial regente, em nome de Sua Majestade o imperador o senhor d. Pedro II, faz saber a todos os
súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1º: Os filhos da mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei, serão considerados de
condição livre.

§1. Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão
obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos.

Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá a opção, ou de receber do Estado a indenização
de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No primeiro caso o
governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade da presente lei. A indenização pecuniária acima
fixada será paga em títulos de renda com o juro anual de 6%, os quais se considerarão extintos no fim de trinta
anos. A declaração do senhor deverá ser feita dentro de trinta dias, a contar daquele em que o menor chegar à
idade de oito anos e, se a não fizer então, ficará entendido que opta pelo arbítrio de utilizar-se dos serviços do
mesmo menor.

§3. Cabe também aos senhores criar e tratar os filhos que as filhas de suas escravas possam ter quando
aquelas estiverem prestando serviço. Tal obrigação, porém, cessará logo que findar a prestação dos serviços
das mães. Se estas falecerem dentro daquele prazo, seus filhos poderão ser postos à disposição do governo.

§7. O direito conferido aos senhores no §1º transfere-se nos casos de sucessão necessária, devendo o filho da
escrava prestar serviços à pessoa a quem nas partilhas pertencer a mesma escrava.

Art. 4º. É permitido ao escravo a formação de um pecúlio com o que lhe provier de doações, legados e
heranças, e com o que, por consentimento do senhor, obtiver do seu trabalho e economias. O governo
providenciará nos regulamentos sobre a colocação e

segurança do mesmo pecúlio.

§7. Em qualquer caso de alienação ou transmissão de escravos é proibido, sob pena de nulidade, separar os
cônjuges, e os filhos menores de doze anos, do pai ou mãe.

Art. 8º. O governo mandará proceder à matrícula especial de todos os escravos existentes no Império, com
declaração de nome, sexo, estado, aptidão para o trabalho e filiação de cada um, se for conhecida.

§4. Serão também matriculados em livro distinto os filhos da mulher escrava que por esta lei ficam livres.
Incorrerão os senhores omissos, por negligência, na multa de cem mil réis a duzentos mil réis, repetidas tantas
vezes quantos forem os indivíduos omitidos e, por fraude, nas penas do artigo 179 do Código Criminal.

§5. Os párocos serão obrigados a ter livros especiais para o registro dos nascimentos e óbitos dos filhos de
escravas nascidos desde a data desta lei. Cada omissão sujeitará os párocos a multa de cem mil réis.
ATIVIDADES: Os filhos das escravizadas depois da Lei do Ventre Livre

1. Preencha os campos abaixo.


A Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de______________________ , concedeu_______________
às______________ nascidas de mulheres________________________ a partir daquela data. Estabelecia,
porém, condições:
● Até os________anos de idade, a criança ficaria sob___________________ do_____________ de
sua mãe;
● A criança não poderia exercer nenhum tipo de________________ até a idade de____________ anos;
● Quando a criança completasse_________________ anos, o proprietário tinha duas opções:
1. Entregar a criança ao____________ recebendo por isso uma______________________ ;
2. Manter a criança até os__________ anos tendo essa que prestar_____________ ao proprietário.

2. Partida para colheita de café com carro de boi, Vale do Paraíba, 1885, Marc Ferrez.

a) Trace um círculo nas crianças e adolescentes presentes na foto.


b) Qual desses menores de 21 anos poderiam estar alforriados pela Lei do Ventre Livre?
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c) Se você fosse uma autoridade inspecionando o cumprimento da Lei do Ventre Livre, como faria para verificar
a idade dessas pessoas marcadas na foto? (Veja na Lei, artigo 8º e seus parágrafo 4º e 5º).
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3. Partida para colheita de café, Vale do Paraíba, 1885, Marc Ferrez.

a) Trace um círculo nas crianças e adolescentes presentes na foto.

b) Qual é a obrigação do senhor em relação às crianças menores de 8 anos enquanto suas mães trabalham? (Veja
na Lei, artigo 1º, parágrafo 3º)
-
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c) Imagine que você é um agente do governo e recebeu uma denúncia de que o proprietário dos escravos acima
maltratou os filhos menores de 21 anos de suas escravas. O que a lei determina nesse caso? (Veja na Lei, artigo 1º,
parágrafo 6º).
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4. Secagem de café na fazenda de Quititi, Georges Leuzinger, Jacarepaguá, Rio de Janeiro, 1865, Coleção
Gilberto Ferrez, Instituto Moreira Salles (detalhe).
5. Família e suas escravas, c.186, Revert Henry Klumb (c.1825-c.1886).

6. Menino escravo vendedor, c.1870, Albert Henschel.

a) As fotos 4, 5 e 6 são anteriores à Lei do Ventre. O que a Lei mudou na vida das crianças escravas?
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b) Quais atividades exercem essas crianças escravas?


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c. Observando essas fotos e as anteriores, qual poderia ser, na sua opinião, a opção da maioria dos proprietários
quando o filho da escrava completava 8 anos? (Volte à questão 1 para se lembrar das duas opções dos proprietários).
Justifique.
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