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UM OLHAR A MAIS

Trauma em
Psicanálise
Evolução do conceito e aplicação na clínica

DRª ANA CASSIA FRUETT


A DOR NA CONCEPÇÃO
PSICANALÍTICA
“O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso
próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que
nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como
sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se
contra nós com forças de destruição esmagadoras e
impiedosas; de nossos relacionamentos com os outros
homens”

FREUD, 1929, P. 95
TRAUMA

Acontecimento na vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela

incapacidade do ego de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e

efeitos patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica.

Em termos econômicos, caracteriza-se pelo afluxo de excitações que é

excessivo em relação à tolerância e à sua capacidade de dominar e de

elaborar psiquicamente estas excitações.


EVOLUÇÃO DO
CONCEITO

Entre 1890 e 1897 – Teoria da Sedução


Esta teoria explica a etiologia da neurose relacionada a

traumas sexuais precoces originados na infância a partir da

conduta abusadora de adultos.

Fatores que levaram ao abandono da Teoria da Sedução:

Rechaço da comunidade científica;

Fantasia das pacientes histéricas;

Disposição por fixação da libido.


Após 1920 – Neuroses Traumáticas
Além do princípio do prazer (1920)

Compulsão à repetição, ambivalência, agressividade,

sadismo e masoquismo, sentimentos de culpa severos não

podiam mais ser explicados pela crença de que o

funcionamento psíquico é exclusivamente dominado pela

pulsão de vida.

Inibição, sintoma e ansiedade(1926)

Desamparo original dos seres humanos pode ser físico

quando a fonte da indefesa for externa e, psíquico,

quando a fonte for pulsional e sugere que ambos podem

combinar-se.
NEUROSES
TRAUMÁTICAS
As neuroses traumáticas foram investigadas por Freud

como presentes em sobreviventes de acidentes graves

egrandes guerras, e descreve um tipo de neurose em que o

aparecimento dos sintomas é consecutivo a um choque

emotivo, geralmente ligado a uma situação em que o

sujeito sentiu a sua vida sendo ameaçada. Ao afluxo de

excitação que irrompe e ameaça a sua integridade, o

sujeito não pode responder nem por uma descarga

adequada, nem por uma elaboração psíquica.


MODELO ECONÔMICO
Desde o Projeto para uma psicologia científica (1895),

Freud ensina que a tendência primária do aparelho

psíquico é a de fugir das quantidades, por ocasionarem

desprazer ou dor, descarregando-as de acordo com o

princípio de inércia. A partir da estratificação do

psiquismo deverá processar as quantidades,

transformando-as em qualidade, de modo que essas

possam ser tramitadas psiquicamente. Destaca Freud,

que a qualidade só se registra quando as quantidades

não superem a capacidade da consciência para

registrá-las.
O modelo econômico e neuronal da primeira tópica

freudiana leva em conta o valor do corpo como fonte

química da pulsão e também como unidade neurológica,

que processa as diferentes incitações que provém do

interior do organismo e também do exterior.

Frente aos estímulos provenientes do interior não há como

fugir, tampouco o aparelho psíquico do recém-nascido

está capacitado para a ação específica, isto nos diz

Freud (1895). Assim, o primeiro meio de lidar com a dor é a

alteração interna.
FATORES PREDISPONENTES
Para uma situação tornar-se traumática devem concorrer

vários fatores: a intensidade do estímulo; a falta de

hipercatexia dos sistemas para receber o estímulo; a falta de

sinal de angústia que permita a preparação do ego. Freud

(1926) propõe que o desamparo original dos seres humanos

pode ser físico quando a fonte da indefesa for externa e,

psíquico, quando a fonte for pulsional e sugere que ambos

podem combinar-se. Quando o desvalimento decorre de

estímulos ou excitações exógenas, Freud (1920) fala em

neuroses traumáticas.
O DESAMPARO Afirma Freud que a indefesa frente às quantidades

que provém do exterior é semelhante às que

provém do interior " a falta de uma proteção anti

estímulo que resguarde o extrato cortical das

excitações de dentro... dão ocasião a

perturbações econômicas equiparáveis às neuroses

traumáticas. As fontes que produzem estas

excitações são as pulsões do organismo, os

representantes de todas as forças eficazes que

provém do interior do corpo e se transferem ao

aparelho psíquico." (Freud, 1920 p.51)


TOXIDADE DA Quando se produz a situação traumática, o

princípio do prazer é posto fora de ação e a libido

LIBIDO se transforma em angústia, provocando uma

drenagem da vitalidade pulsional, como se fosse

uma hemorragia, e o aparelho tende a esvaziar-se

até chegar ao zero absoluto, cujo funcionamento

estático e não homeostático é patológico.Como

resultado, a libido não se desloca para zonas

erógenas periféricas, como caminho para

estabelecer uma circulação intersubjetiva, senão

que fica aderida ao próprio corpo. “É em relação

com este estancamento que podemos considerar

um estado tóxico”.
TRANSMISSÃO Para a primeira geração, aquela que foi

protagonista ou testemunha dos acontecimentos,

TRANS estes se transformam em indizíveis. [...] Na segunda

geração, aquela que está em contato com o

GERACIONAL possuidor da cripta, a questão se torna inominável.

[...]Quando passa para uma terceira geração, sem

que nada dessa situação tenha podido se

modificar, se transforma em impensável. Já não há

nada em referência ao fato, e o único que existe

são vazios, falhas de semantização, condutas

irracionais, brancos do discurso.

(GOMEL, 2001, p. 258).


Para que uma situação torne-se traumática devem concorrer
vários fatores: a) a intensidade do estímulo; b) a falta de
hipercatexia dos sistemas para receber o estímulo; c) a falta de
sinal de angústia que permitiria a preparação do ego. No texto de
1920, Freud ao tratar das neuroses traumáticas, aponta o choque,
ou o fator surpresa, para esclarecer o estado do psiquismo ao
enfrentar uma situação de perigo sem estar preparado. Indica
ainda, que a indefesa frente a exterioridade promove um estado
de dor que se apresenta como uma hemorragia psíquica e deixa a
economia pulsional devastada. No entanto, Freud (1926) deixa
claro que o trauma não depende exclusivamente da intensidade do
estímulo, mas especialmente do estado de despreparo do
psiquismo, ou seja, o desvalimento do ego.

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