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ERA UMA VEZ: UMA EXPERIÊNCIA NA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DE

MUTÃS

Ana Carla Silva Teixeira1


Érica Samily Silva Teixeira¹
Isabel Rodrigues de Carvalho¹
Valdivia Marques Pinto¹
Eugênia da Silva Pereira2

RESUMO: O presente artigo foi resultado de nossas observações no estágio realizado em um


espaço não escolar, que buscou refletir sobre a experiência de pesquisa e estágio em espaços
não formais, mais especificamente na Associação Comunitária de Mutãs (ASCOM), como
forma de aprendizagem do campo de atuação de pedagogas e pedagogos nesses âmbitos.
Assim apresentamos a existência da educação nos diversos espaços e a importância do
educador social como aquele que promove e planeja as atividades presentes. Desse modo,
após nossas observações na ASCOM como ambiente educativo que possui uma biblioteca
comunitária pouco frequentada, realizamos o projeto de intervenção “Era uma vez” que
propôs conhecer e entender a biblioteca pública de Mutãs, como um espaço educativo
importante para a comunidade local e assim estimular novos leitores. Durante o processo
houve aprendizagens e reflexões que vão contribuir de maneira significativa para nossa
jornada como pedagogas. Após a realização do estágio, percebemos a relevância da presença
de um pedagogo nos ambientes não formais, pois esse assume a função de construir
conhecimento, saberes e de educar, já que esses espaços assim como os formais são
destinados a isso.

PALAVRAS-CHAVE: Estágio; Educação não formal; Pedagogos; experiência.

INTRODUÇÃO
A educação é toda prática que leva o ser humano de encontro ao conhecimento, seja ele
empírico ou científico. Desde que o homem inventou a primeira tecnologia e que foi
denominada de fogo, já haviam práticas educativas vinculadas à sobrevivência. Desse modo,
não existe apenas um modelo educativo, em apenas um espaço normativo, pois, seja em casa,
na rua, nos envolvemos em suas práticas. Portanto, não se pode usar apenas um termo de
educação para a sociedade, mas educações, a mesma é uma fração dos modos de vida, que
criam e recriam os modelos de práticas sociais. (BRANDÃO, 1981).
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a experiência de pesquisa e
estágio em espaços não formais, mais especificamente na Associação Comunitária de Mutãs,
como forma de aprendizagem do campo de atuação de pedagogas e pedagogos em espaços

1
Graduandas do 5° semestre de Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia Campus XII.
2
Professora orientadora. Docente da Universidade do estado da Bahia - UNEB Campus XII. E-mail:
eniagbi@hotmail.com
não escolares. A Associação comunitária de Mutãs (ASCOM) desenvolve atividades
educativas não escolares, é localizada no distrito de Mutãs em Guanambi, onde residimos e
por motivos de locomoção e proximidade, se torna uma de nossas justificativas para a escolha
do local.
De acordo com as diretrizes do curso de pedagogia, para adquirirmos experiências
enquanto profissionais que possam ampliar e fortalecer nossas atitudes éticas e competências
precisamos adentrar também em espaços não escolares. As razões pelas quais nos
interessamos em observar o espaço educativo não formal da ASCOM surgiram diante das
discussões e algumas indagações no componente de Estagio e Pesquisa: por que residimos em
Mutãs e não conhecemos a biblioteca presente na associação? Por qual razão não conhecemos
as práticas educativas desenvolvidas ali? E após discutirmos acerca disso escolhemos a
associação comunitária enquanto espaço de estudo e conhecimento.
O pedagogo no exercício de suas funções enquanto influenciador e facilitador de ações
que ensinam, orientam e educam pessoas em diferentes fases do desenvolvimento humano,
deverá estar habilitado a trabalhar em espaços escolares e não escolares, promovendo a
aprendizagem dos sujeitos em diferentes níveis e modalidades do processo educativo. Assim
como na escola, ao envolver-se em procedimentos de organização e gestão, em âmbitos não
formais é de suma importância que o egresso de pedagogia esteja presente para planejar,
executar, coordenar, acompanhar e avaliar projetos e experiências educativas. Assim, se torna
evidente a relevância do pedagogo enquanto agente fundamental para o avanço e andamento
desses espaços (BRASIL, 2006).
Essa comunicação abordara algumas definições a respeito da educação nos diversos
espaços, algumas considerações a respeito da educação não formal e do espaço em que
escolhemos para realizar as nossas intervenções, bem como algumas reflexões sobre a nossa
experiência, as nossas impressões e um pouco de como esse estagio contribui para a nossa
formação e para compreendermos a importância do pedagogo em espaços não escolares.

2 - A EDUCAÇÃO NOS DIVERSOS ESPAÇOS


A Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB), no Art. 1º diz que a educação “abrange todos os processos formativos que
se desenvolvem tanto na vida familiar como na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais”, sendo assim, não existe um conceito para o termo educação, ela
é multifacetada e, portanto está presente em todas as práticas da humanidade a qual o sujeito
está inserido.
Não se pode negar que em tudo que vivenciamos aprendemos alguma coisa. No
decorrer de nossas experiências o aprendizado se aprimora fortalecendo ou derrubando
estereótipos e ideias pré-concebidas. A educação se dá em diferentes âmbitos e é fundamental
para que possibilite essa mudança contínua em nossa vida e na sociedade. Assim, para
Pimenta (1999, p.61) ela é “pratica social que ocorre nas diversas instâncias da sociedade. Seu
objetivo é a humanização dos homens, isto é, fazer dos seres humanos participantes dos frutos
da civilização, da sua construção e do seu progresso, resultado do trabalho dos homens”.
Deste modo podemos abordar diferentes conceitos como educação formal, informal e não
formal.
O que diferencia a educação não formal da informal é que na primeira
existe a intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar
determinadas qualidades e/ou objetivos. A educação informal decorre
de processos espontâneos ou naturais, ainda que seja carregada de
valores e representações, como é o caso da educação familiar (GOHN
2005, p. 100).

Diante disso, o estágio nos propôs novos olhares e novas aprendizagens no que se
refere à educação formal e informal e sua diferenciação. As experiências e observações se
passaram em um espaço da educação não formal que segundo Trilla (2008, p.39) é “aquela
que se afasta dos procedimentos escolares convencionais desse modo, o escolar seria o
formal, enquanto o não escolar, mas intencional específico, diferenciado seria o não formal”.
Deste modo, os espaços formativos podem ser também as reuniões das comunidades, igrejas,
associações e organizações não governamentais. Apesar de serem diferentes do saber
sistematizado, que se trabalha na escola, ainda assim são conhecimentos, geralmente são
nesses encontros que se discutem os mais variados temas, onde os indivíduos se tornam cada
vez mais politizados.
A educação não formal se faz das mais variadas práticas educativas que permeiam a
sociedade. O conhecimento pode ocorrer sem a sistematização presente na escola, e desse
modo cada âmbito social existe uma forma de conceber os saberes e repassa-los adiante. Na
ASCOM os indivíduos se relacionam e trocam experiências de vida, portanto adquirem
conhecimentos que agregam na vida pessoal e comunitária. Desta forma, é necessária a
valorização desses espaços, e a compreensão desses enquanto ambientes formativos para a
sociedade.
2.1 A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E O EDUCADOR SOCIAL
A educação, como traz a história, já foi passada de gerações a gerações, variando de
acordo com os costumes de determinados lugares, tribos, culturas, dentre outros. E, ao
contrário do que pensamos, nem sempre existiram escolas com espaços exclusivos para que
essa educação acontecesse. Isso porque a educação existe onde não há escolas e pode existir
em todas as partes, desde que haja troca dentro de uma sociedade. (BRANDÃO, 2007).
Segundo Gohn (2006) são vastos os campos em que a educação pode se fazer
presente, os espaços de educação não formal, por exemplo, buscam a formação do indivíduo
nos aspectos políticos, contribuir para a conscientização dos sujeitos sobre seus direitos
enquanto cidadãos, como também desenvolver potencialidades podendo capacitar os
indivíduos, atentando ainda para o ensino-aprendizagem diferenciado daquele que perpassa os
conteúdos da escolarização formal.
Essa educação se difere da que já existe na escola, onde se trabalham conteúdos
sistematizados "A educação não formal é aquela que se aprende no mundo da vida via os
processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas
cotidianas" (GOHN, 2006, p.28).
É importante lembrar que a educação não formal, nunca pode ser vista em
contrapartida a educação formal, pois esses espaços não escolares complementam e formam
os sujeitos em uma nova dimensão, formando para a vida. É valido ressaltar a relevância do
educador social, pois esse é mediador ou animador de um grupo, ele é o que promove diálogo,
quem planeja as atividades e constrói todo o trabalho com a participação do grupo, pois além
de ensinar, o educador também aprende.
Para Gonh (2009), as atividades preparadas pelo profissional, devem surgir a partir dos
diálogos, da sensibilidade para entender e captar a cultura local, do outro, do diferente, dos
nativos daquela região, bem como a sensibilidade de buscar mecanismos de diálogo entre os
isolados, excluídos e invisíveis da sociedade. O Educador Social atua em uma comunidade
com uma proposta socioeducativa, focado na produção de saberes a partir da tradução de
culturas locais já existentes, e da reconstrução e ressignificação de alguns eixos valorativos
segundo o que existe em confronto com o novo que surgirá.
De acordo com Libâneo (2012, p. 63),
a escola de hoje precisa não apenas conviver com outras modalidades de
educação não formal, informal e profissional, mas também articular-se e
integrar-se a elas, a fim de formar cidadãos mais preparados e qualificados
para um novo tempo.
Devemos então considerar a realidade em que permeia e afeta a educação e esse é um
dos principais papeis da escola: não desconsiderar a importância do educador social e da
educação não-formal, que atualmente se desenvolve em diferentes espaços, ricos de
ensinamentos.

3 – A EXPERIÊNCIA DE PESQUISA E ESTÁGIO EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE


EDUCAÇÃO
A história da Associação Comunitária de Mutãs começou em 1986 a partir da
necessidade da localidade em discutir acerca de melhorias agrícolas. Diante disso, as
primeiras reuniões ocorreram embaixo de árvores, ciente da demanda, a prefeitura de
Guanambi construiu um centro amplo que deu vida ao espaço da comunidade Mutanense.
Assim, começaram a realizar ações para capacitação de agricultores e cursos
profissionalizantes para jovens e adultos. As primeiras atividades realizadas foram formações
em datilografia, costura, pintura, culinária, derivados do leite, embutidos e defumados,
manicure e informática. A ASCOM surgiu como um auxílio para os pequenos agricultores e
empreendedores que não possuíam condições de financiar suas produções nem preparar-se
para isso.
Com grandes melhorias para a comunidade, ao decorrer dos anos surge à parceira com
o Instituto Nordeste e Cidadania, Prefeitura, Arca de Letras, Ministério do Desenvolvimento
Agrário, e assim foi criado o espaço de leitura, a biblioteca comunitária. Com várias doações
de livros de diversos temas e para todos os públicos, o maior intuito do ambiente, era que a
comunidade se envolvesse e utilizasse os materiais disponíveis como fonte de conhecimento e
lazer, porém, segundo a responsável pelo local, poucas pessoas se interessaram e durante a
experiência do estágio, não percebemos um número grandioso de leitores.
Diante disso, após nossas observações entendemos as diversas práticas realizadas.
Além da biblioteca comunitária que possui um acervo para todos os públicos disponível para
Mutãs e região, oferece o reforço escolar voluntário, esse é realizado por uma das sócias, para
alunos com dificuldades de aprendizagem de uma escola municipal do distrito. Há também,
cursos profissionalizantes como o de pedreiro, reuniões constantes para a resolução de
questões agrícolas e com isso, podemos perceber que a ASCOM continua com o mesmo
objetivo. Há ainda uma mudança com relação à história de práticas existentes, encontram-se
agora duas salas que funcionam para a realização da fisioterapia, destinada as pessoas da zona
urbana e rural que necessitam de acompanhamento.
3.1 APRENDIZAGENS E REFLEXÕES DA EXPERIÊNCIA
A ASCOM é sem dúvidas um ponto de referência, para a comunidade local.
Observamos que o lugar possui um grande acervo de materiais pedagógicos referentes ao
antigo programa Todos Pela Alfabetização (TOPA), que se encontravam inutilizáveis, há
programas e projetos que incentivam a agricultura e a permanência do homem do campo no
campo, além de um volume extenso de livros disponíveis para a comunidade. No entanto, nos
atentamos para a necessidade de pensar em uma proposta para que as pessoas percebam o
quanto o espaço para ler é educativo e por isso nosso projeto de intervenção voltou-se com
ênfase para o incentivo à leitura, pois notamos que por maior que seja o acervo falta uma
visibilidade para a biblioteca comunitária.
As impressões do espaço são muito reflexivas, descobrimos no momento da
observação que uma das sócias da ASCOM oferece um reforço escolar voluntariamente para
algumas crianças, além de incentivar o desempenho e o uso dos livros disponibilizados no
local, e isso nos impressionou bastante, pois é visível como ela se envolveu em uma causa
nobre sem fins lucrativos, disponibilizando o seu tempo em prol de outras pessoas, apesar de
não possuir ensino superior está à frente de várias questões referentes à ajuda na comunidade,
sendo também membro do conselho de uma escola.
Muito engajada em suas atividades, a mediadora do reforço, construiu um papel
relevante durante todo o nosso tempo de observação e intervenção, dialogando e colaborando
até no momento de contar, ler e ouvir as histórias, abrindo discussões. A responsável pelo
espaço também se mostrou muito aberta as nossas propostas, é notório que as parcerias são
grandes facilitadoras nesse processo. Então com sua permissão usamos alguns dos materiais
que antes estavam guardados no local, para criar um canto mais acolhedor e que chamasse a
atenção de quem chegasse para convida-los a ler.
O que observamos ainda foi às crianças que acompanhavam os pais durante alguns
eventos casuais no estabelecimento, essas eram as que mais procuravam os livros, assim já
demonstravam algum interesse pela leitura de diferentes gêneros textuais, quadrinhos,
clássicos infantis, entre outros que havia na biblioteca. O espaço recebe pessoas de toda a
comunidade local. As crianças se envolveram muito com o projeto “Era uma vez” e todas as
atividades propostas foram muito bem aceitas, todos que participaram, frequentaram até o
último dia, o que nos levar a pensar como um pequeno incentivo chama a atenção,
despertando novos olhares para que aquele espaço desperte o gosto pela leitura.
O estágio nos permitiu conhecer melhor o lugar, um campo diferente que promove a
educação, sendo de fundamental importância para nós enquanto futuras pedagogas. Perceber
esses âmbitos e possibilitar que outros sujeitos também o percebam como espaço educativo,
fortalece os laços de interação e aprendizagens essenciais para o desenvolvimento humano.

3.2 O QUE APONTAM OS SUJEITOS


Durante as observações e experiências vivenciadas no espaço, vários foram os
apontamentos levantados para nós durante esse processo. A ASCOM é de propriedade
pública, logo todos os moradores da comunidade de Mutãs podem ter acesso aos benefícios
vinculados à mesma. Entretanto, observamos que a um desprendimento quanto ao acesso com
os materiais de cunho educativo. Por mais que exista a fisioterapia, e que nesses momentos
haja uma interação e práticas de socialização, os livros continuam abandonados a mercê da
poeira e das traças.
Em conversa com a presidente, a mesma nos informou que trabalha no ambiente há 25
anos, ou seja, desde 1992. Desse modo, ela sabe todas as demandas da localidade, por isso
quando foi questionada qual a função daquele espaço ela nos disse que era “para ajudar os
produtores rurais, facilitar a vida deles, para conseguir semente, trator para comunidade, casa
de farinha, declaração de terra e tem o espaço de leitura.” (Joana, presidente do ASCOM). E
complementou dizendo “O que precisa mais aqui é os sócios participarem mais, fazerem um
trabalho voluntário para ajudar a comunidade. 900 pessoas já foram sócias aqui, mas depois o
número caiu para em média 180 sócios.”.
Percebemos em quase todas as falas que o espaço em geral preocupa-se mais com as
atividades vinculadas a parte da agricultura, e não veem a ASCOM, enquanto espaço
educativo de leitura, dessa forma as crianças acabam se ausentando desse espaço, por não
enxerga-lo como educativo ou até mesmo por desconhecê-lo. Brandão (1981) nos colabora
dizendo que a criança que vê, entende e imita e desse modo aprende a fazer a coisa, sendo
assim, as aprendizagens acontecem através das relações impostas entre os indivíduos. Criou-
se um mito que apenas a educação escolar é válida, o que impede do individuo conceber os
diversos conhecimentos.
Toda parte pode haver redes e estruturadas sociais de transferência de saber
de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criado a sombra de algum
modelo de ensino formal e centralizado. Porque a educação aprende com o
homem a continuar o trabalho da vida (BRANDÃO, 1981, p.13).

As práticas educativas permeiam a vida humana das mais variadas formas. A criança
que vê um adulto ler um livro se inspira nele e toma gosto pela leitura. Como coloca a
voluntária Jucélia quando disse que “temos aqui a biblioteca, meio desfalcada, mas é ótima.
Hoje mesmo cada um pegou um livro pra levar pra casa. Antes eles não faziam isso. Eu não
sou a professora, mas alguém que orienta e incentiva.”. Portanto, a uma ausência de incentivo
por parte da comunidade em garantir o acesso dos indivíduos à leitura de impressos é um dos
dados que percebemos durante as observações no espaço do ASCOM.
Ainda em conversa com a voluntária perguntamos de quem foi à iniciativa do reforço
escolar no espaço em questão e a mesma nos disse:
Em uma das reuniões do conselho escolar, surgiram essas crianças,
algumas não sabiam ler, escrever e nem conta, nenhum tipo de
operação matemática. Ai a diretora comunicou a gente. Eu pensei,
estou desocupada, precisando de uma atividade, sem força pra
trabalhar, e aposentada, porque não?! Eu vou ser um incentivo para
essas crianças, mesmo que eu não sei tudo que elas precisam, mas eu
recorro a outras pessoas, e até ao Google. Me ofereci de voluntária
(Jucélia, voluntária do ASCOM).

Como já foi afirmado pela presidente da associação, existe um déficit de trabalho


voluntário tanto lá quanto na sociedade no geral. A maioria dessas crianças, são carentes e por
esse motivo, enxergam esse reforço como uma forma de alcançar seus objetivos escolares.
Notamos também a disparidade existente entre as crianças que não possuíam computador e
por isso necessitam de livros para as tarefas escolares e as outras que já tinham acesso,
demonstravam menos interesse. Diante dessas percepções, e durante as intervenções, notamos
que as crianças estão cada vez mais distantes da leitura de impressos. As tecnologias
revolucionaram o mundo, e dessa forma pegar um livro de papel, não parece tão interessante
para a maioria.
Durante os momentos de ler uma estória, percebíamos o tédio e desinteresse por parte
de alguns. Desse modo, se a criança vive sua vida, baseando-se no lúdico e na imaginação, o
que será das futuras gerações se esses costumes se perderem através dos tempos? Outro ponto
importante, e que deve ser destacado, é a falta de calor humano na escolarização atual.
Durante as brincadeiras, histórias e momentos de atividades, foi notório para todos os
envolvidos a surpresa das crianças quando sentávamos no chão para colorir, a participação
nas brincadeiras e conversas informais, tanto que não conseguiram nos enxergar enquanto
professoras em atuação.
Ao findar do estágio, o choro de alguns e consternação, foi tocante, justamente pelo
fato de notarmos o quanto essas crianças sentem a falta de uma aproximação professor e aluno
, pois a escola está cada vez mais preocupada com os conteúdos do que com as experiências
do educando. Por isso é válido dizer que “o ser humano se desenvolve e se transforma
continuamente, e a educação pode atuar na configuração da personalidade a partir de
determinadas condições internas do individuo” (LIBÂNEO, p.74, 2010).

3.3 A INTERVENÇÃO
Durante o processo de escrita do Projeto intitulado “Era uma vez” tinha como objetivo
conhecer a Biblioteca pública de Mutãs, entendendo-a como um espaço educativo importante
para a comunidade local, a principal intencionalidade do grupo era proporcionar através da
leitura aprendizados que iriam contribuir de forma efetiva na vida de cada um. Partindo da
escolha de cada detalhe, cada história, cada brincadeira e cada passo que iriamos tomar e que
no fim, garantisse um resultado satisfatório para ambas as partes, entretanto nos esquecemos
de que os sujeitos ao qual estava se direcionando o projeto, eram subjetivos e assim possuíam
pensamentos, costumes e ideais diferentes das nossas, se tornando a maior dificuldade durante
o estágio.
A intervenção se deu durante cinco dias, no período da tarde das 13h30min às 17
horas. Primeiramente nos preocupamos em organizar o espaço da sala de vídeo,
ornamentando o local, para cativar o público de maneira lúdica. Assim cada dia era tratado
um tema diferente, utilizando os livros como ferramenta de aprendizado, tais como a leitura
proporcionando a amizade, os sentimentos, cuidado com o meio ambiente e respeito às
diferenças. Desse modo, cada dia da semana utilizou-se de uma estória para discutir temas do
dia a dia das crianças, logo em seguida demonstrávamos isso com questionamentos e
reflexões para que todos pudessem se expressar e promover de fato o gosto pela leitura. Os
livros podem ser um reflexo da vida real, e por isso trazíamos cada estória para o contexto da
criança.
Depois de cada leitura e reflexão sobre o assunto, partíamos para a parte das brincadeiras
que também foram pensadas de acordo com o que já havia sido debatido, como por exemplo,
leu-se o conto da pomba e a formiga que se tratava da amizade e companheirismo e depois
brincadeiras que exercitavam o trabalho em equipe e ajuda mútua. Sendo assim, cada ideia era
explorada ao máximo e dessa forma esperávamos que o aprendizado fosse maior.
Acreditamos que sendo aleatórias, talvez as crianças não conseguissem internalizar a ideia
que queríamos para cada dia.
A forma como esquematizamos cada tema se desenvolveu muito bem, pois cada educando
escutava o conto, poesia ou estória logo em seguida já opinavam, pedia para ler também ou
até mesmo desabafavam sobre algum tipo de angústia relacionando com o que já havia sido
dito. Entretanto, crianças são muito elétricas e se desenrolam muito rápido, no primeiro dia o
que tinha sido programado, foi realizado num período muito curto de tempo e tivemos que
criar novas estratégias imediatamente, como solicitar que fizessem desenhos e mais
brincadeiras e depois repensamos o projeto de acordo com a demanda.
Diante do projeto de intervenção houve diversas situações que pudemos levar conosco
como ensinamentos no decorrer de nossa caminhada enquanto pedagogas. Observamos a
importância do educador em estar apto para lidar com as mais variadas situações que poderão
surgir de acordo com o local e público a qual lida. Assim a relevância do planejamento,
pesquisa enfim, da parte teórica influenciando e norteando a prática.
Podemos dizer o quão é importante ir à busca de novas metodologias que comuniquem e
tenham haver com o público a que direcionamos nossas ações. A primeira lição que tiramos
foi a de precisarmos nos preparar para comunicarmos com as crianças de acordo com suas
subjetividades e diferenças. Deste modo, ir a procura de dinâmicas que estimulassem a
vontade de aprender a mensagem passada pelo conto, trouxe uma transformação. A forma de
argumentar e organizar as próprias falas fez parte de um projeto grandioso.
Enfim, as relações estabelecidas durante o período da intervenção serão as maiores
lembranças que levaremos conosco, os abraços calorosos e os sorrisos diante de cada
brincadeira, atividade e dinâmica influenciaram a nossa esperança no papel de futuras
educadoras. Assim, após o choro de uma criança, ao sinalizamos o fim do projeto,
ressaltamos a importância do pedagogo ou pedagoga na Associação Comunitária de Mutãs
que pudesse realizar trabalhos que estimulassem a leitura e a procura pelo espaço da
biblioteca. Tal acontecimento, só iria acrescentar a ASCOM e influenciar novos leitores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estagio é o momento em que planejamos atividades, brincadeiras, oficinas,


dinâmicas, etc. É nessa etapa de formação, que nós, como futuras pedagogas, começamos a
construir a nossa identidade de professoras. Porém, sempre que vamos fazer algo novo, vamos
com um pré-conceito formado em nossas cabeças, com alguma ideia pré-estabelecida.
Imaginávamos que seria fácil adentrar em um espaço não formal e lá desenvolver
atividades, pois não seria necessário seguir regras, padrões, conteúdos obrigatórios, mas esse
período de estágio nesse espaço nos proporcionou uma grande experiência, pois não estava
explícito para nós que o educador atual apresenta-se como um “malabarista” no sentido de
desdobrar-se entre as variadas atribuições que lhe foram impostas.
As aprendizagens foram mútuas durante o estágio, já que aprendemos a respeitar o
tempo do outro, e compreender os diversos significados que um mesmo ambiente por ter. As
crianças não possuem preconceitos, ama sem olhar a quem, e desse modo, grandes
conhecimentos foram conquistados para a nossa formação. Portanto, a vivência do projeto
“Era uma vez” ficara guardada não apenas na lembrança, mas nas futuras práticas que iremos
exercer, porque para além das teorias, a prática modificou o nosso jeito de olhar o outro.
Esses espaços são destinados à construção de conhecimento e se faz necessária a
atuação do pedagogo para entender os processos de organização e gestão da educação atual.
Após a realização do estágio, concluímos que a presença de um pedagogo nos espaços não
formais é de extrema importância, pois esse assume a função de construir conhecimentos e
saberes e de educar, função essa que não poderia ser desempenhada por nenhum outro
profissional. A tarefa do pedagogo nesses espaços se faz bem ampla, pois ele pode
desenvolver diversas atividades, em biblioteca, em um centro de reabilitação, em um
laboratório de informática etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; THOSCHI, Mirza Seabra. Educação
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