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MUTÃS
INTRODUÇÃO
A educação é toda prática que leva o ser humano de encontro ao conhecimento, seja ele
empírico ou científico. Desde que o homem inventou a primeira tecnologia e que foi
denominada de fogo, já haviam práticas educativas vinculadas à sobrevivência. Desse modo,
não existe apenas um modelo educativo, em apenas um espaço normativo, pois, seja em casa,
na rua, nos envolvemos em suas práticas. Portanto, não se pode usar apenas um termo de
educação para a sociedade, mas educações, a mesma é uma fração dos modos de vida, que
criam e recriam os modelos de práticas sociais. (BRANDÃO, 1981).
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a experiência de pesquisa e
estágio em espaços não formais, mais especificamente na Associação Comunitária de Mutãs,
como forma de aprendizagem do campo de atuação de pedagogas e pedagogos em espaços
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Graduandas do 5° semestre de Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia Campus XII.
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Professora orientadora. Docente da Universidade do estado da Bahia - UNEB Campus XII. E-mail:
eniagbi@hotmail.com
não escolares. A Associação comunitária de Mutãs (ASCOM) desenvolve atividades
educativas não escolares, é localizada no distrito de Mutãs em Guanambi, onde residimos e
por motivos de locomoção e proximidade, se torna uma de nossas justificativas para a escolha
do local.
De acordo com as diretrizes do curso de pedagogia, para adquirirmos experiências
enquanto profissionais que possam ampliar e fortalecer nossas atitudes éticas e competências
precisamos adentrar também em espaços não escolares. As razões pelas quais nos
interessamos em observar o espaço educativo não formal da ASCOM surgiram diante das
discussões e algumas indagações no componente de Estagio e Pesquisa: por que residimos em
Mutãs e não conhecemos a biblioteca presente na associação? Por qual razão não conhecemos
as práticas educativas desenvolvidas ali? E após discutirmos acerca disso escolhemos a
associação comunitária enquanto espaço de estudo e conhecimento.
O pedagogo no exercício de suas funções enquanto influenciador e facilitador de ações
que ensinam, orientam e educam pessoas em diferentes fases do desenvolvimento humano,
deverá estar habilitado a trabalhar em espaços escolares e não escolares, promovendo a
aprendizagem dos sujeitos em diferentes níveis e modalidades do processo educativo. Assim
como na escola, ao envolver-se em procedimentos de organização e gestão, em âmbitos não
formais é de suma importância que o egresso de pedagogia esteja presente para planejar,
executar, coordenar, acompanhar e avaliar projetos e experiências educativas. Assim, se torna
evidente a relevância do pedagogo enquanto agente fundamental para o avanço e andamento
desses espaços (BRASIL, 2006).
Essa comunicação abordara algumas definições a respeito da educação nos diversos
espaços, algumas considerações a respeito da educação não formal e do espaço em que
escolhemos para realizar as nossas intervenções, bem como algumas reflexões sobre a nossa
experiência, as nossas impressões e um pouco de como esse estagio contribui para a nossa
formação e para compreendermos a importância do pedagogo em espaços não escolares.
Diante disso, o estágio nos propôs novos olhares e novas aprendizagens no que se
refere à educação formal e informal e sua diferenciação. As experiências e observações se
passaram em um espaço da educação não formal que segundo Trilla (2008, p.39) é “aquela
que se afasta dos procedimentos escolares convencionais desse modo, o escolar seria o
formal, enquanto o não escolar, mas intencional específico, diferenciado seria o não formal”.
Deste modo, os espaços formativos podem ser também as reuniões das comunidades, igrejas,
associações e organizações não governamentais. Apesar de serem diferentes do saber
sistematizado, que se trabalha na escola, ainda assim são conhecimentos, geralmente são
nesses encontros que se discutem os mais variados temas, onde os indivíduos se tornam cada
vez mais politizados.
A educação não formal se faz das mais variadas práticas educativas que permeiam a
sociedade. O conhecimento pode ocorrer sem a sistematização presente na escola, e desse
modo cada âmbito social existe uma forma de conceber os saberes e repassa-los adiante. Na
ASCOM os indivíduos se relacionam e trocam experiências de vida, portanto adquirem
conhecimentos que agregam na vida pessoal e comunitária. Desta forma, é necessária a
valorização desses espaços, e a compreensão desses enquanto ambientes formativos para a
sociedade.
2.1 A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E O EDUCADOR SOCIAL
A educação, como traz a história, já foi passada de gerações a gerações, variando de
acordo com os costumes de determinados lugares, tribos, culturas, dentre outros. E, ao
contrário do que pensamos, nem sempre existiram escolas com espaços exclusivos para que
essa educação acontecesse. Isso porque a educação existe onde não há escolas e pode existir
em todas as partes, desde que haja troca dentro de uma sociedade. (BRANDÃO, 2007).
Segundo Gohn (2006) são vastos os campos em que a educação pode se fazer
presente, os espaços de educação não formal, por exemplo, buscam a formação do indivíduo
nos aspectos políticos, contribuir para a conscientização dos sujeitos sobre seus direitos
enquanto cidadãos, como também desenvolver potencialidades podendo capacitar os
indivíduos, atentando ainda para o ensino-aprendizagem diferenciado daquele que perpassa os
conteúdos da escolarização formal.
Essa educação se difere da que já existe na escola, onde se trabalham conteúdos
sistematizados "A educação não formal é aquela que se aprende no mundo da vida via os
processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas
cotidianas" (GOHN, 2006, p.28).
É importante lembrar que a educação não formal, nunca pode ser vista em
contrapartida a educação formal, pois esses espaços não escolares complementam e formam
os sujeitos em uma nova dimensão, formando para a vida. É valido ressaltar a relevância do
educador social, pois esse é mediador ou animador de um grupo, ele é o que promove diálogo,
quem planeja as atividades e constrói todo o trabalho com a participação do grupo, pois além
de ensinar, o educador também aprende.
Para Gonh (2009), as atividades preparadas pelo profissional, devem surgir a partir dos
diálogos, da sensibilidade para entender e captar a cultura local, do outro, do diferente, dos
nativos daquela região, bem como a sensibilidade de buscar mecanismos de diálogo entre os
isolados, excluídos e invisíveis da sociedade. O Educador Social atua em uma comunidade
com uma proposta socioeducativa, focado na produção de saberes a partir da tradução de
culturas locais já existentes, e da reconstrução e ressignificação de alguns eixos valorativos
segundo o que existe em confronto com o novo que surgirá.
De acordo com Libâneo (2012, p. 63),
a escola de hoje precisa não apenas conviver com outras modalidades de
educação não formal, informal e profissional, mas também articular-se e
integrar-se a elas, a fim de formar cidadãos mais preparados e qualificados
para um novo tempo.
Devemos então considerar a realidade em que permeia e afeta a educação e esse é um
dos principais papeis da escola: não desconsiderar a importância do educador social e da
educação não-formal, que atualmente se desenvolve em diferentes espaços, ricos de
ensinamentos.
As práticas educativas permeiam a vida humana das mais variadas formas. A criança
que vê um adulto ler um livro se inspira nele e toma gosto pela leitura. Como coloca a
voluntária Jucélia quando disse que “temos aqui a biblioteca, meio desfalcada, mas é ótima.
Hoje mesmo cada um pegou um livro pra levar pra casa. Antes eles não faziam isso. Eu não
sou a professora, mas alguém que orienta e incentiva.”. Portanto, a uma ausência de incentivo
por parte da comunidade em garantir o acesso dos indivíduos à leitura de impressos é um dos
dados que percebemos durante as observações no espaço do ASCOM.
Ainda em conversa com a voluntária perguntamos de quem foi à iniciativa do reforço
escolar no espaço em questão e a mesma nos disse:
Em uma das reuniões do conselho escolar, surgiram essas crianças,
algumas não sabiam ler, escrever e nem conta, nenhum tipo de
operação matemática. Ai a diretora comunicou a gente. Eu pensei,
estou desocupada, precisando de uma atividade, sem força pra
trabalhar, e aposentada, porque não?! Eu vou ser um incentivo para
essas crianças, mesmo que eu não sei tudo que elas precisam, mas eu
recorro a outras pessoas, e até ao Google. Me ofereci de voluntária
(Jucélia, voluntária do ASCOM).
3.3 A INTERVENÇÃO
Durante o processo de escrita do Projeto intitulado “Era uma vez” tinha como objetivo
conhecer a Biblioteca pública de Mutãs, entendendo-a como um espaço educativo importante
para a comunidade local, a principal intencionalidade do grupo era proporcionar através da
leitura aprendizados que iriam contribuir de forma efetiva na vida de cada um. Partindo da
escolha de cada detalhe, cada história, cada brincadeira e cada passo que iriamos tomar e que
no fim, garantisse um resultado satisfatório para ambas as partes, entretanto nos esquecemos
de que os sujeitos ao qual estava se direcionando o projeto, eram subjetivos e assim possuíam
pensamentos, costumes e ideais diferentes das nossas, se tornando a maior dificuldade durante
o estágio.
A intervenção se deu durante cinco dias, no período da tarde das 13h30min às 17
horas. Primeiramente nos preocupamos em organizar o espaço da sala de vídeo,
ornamentando o local, para cativar o público de maneira lúdica. Assim cada dia era tratado
um tema diferente, utilizando os livros como ferramenta de aprendizado, tais como a leitura
proporcionando a amizade, os sentimentos, cuidado com o meio ambiente e respeito às
diferenças. Desse modo, cada dia da semana utilizou-se de uma estória para discutir temas do
dia a dia das crianças, logo em seguida demonstrávamos isso com questionamentos e
reflexões para que todos pudessem se expressar e promover de fato o gosto pela leitura. Os
livros podem ser um reflexo da vida real, e por isso trazíamos cada estória para o contexto da
criança.
Depois de cada leitura e reflexão sobre o assunto, partíamos para a parte das brincadeiras
que também foram pensadas de acordo com o que já havia sido debatido, como por exemplo,
leu-se o conto da pomba e a formiga que se tratava da amizade e companheirismo e depois
brincadeiras que exercitavam o trabalho em equipe e ajuda mútua. Sendo assim, cada ideia era
explorada ao máximo e dessa forma esperávamos que o aprendizado fosse maior.
Acreditamos que sendo aleatórias, talvez as crianças não conseguissem internalizar a ideia
que queríamos para cada dia.
A forma como esquematizamos cada tema se desenvolveu muito bem, pois cada educando
escutava o conto, poesia ou estória logo em seguida já opinavam, pedia para ler também ou
até mesmo desabafavam sobre algum tipo de angústia relacionando com o que já havia sido
dito. Entretanto, crianças são muito elétricas e se desenrolam muito rápido, no primeiro dia o
que tinha sido programado, foi realizado num período muito curto de tempo e tivemos que
criar novas estratégias imediatamente, como solicitar que fizessem desenhos e mais
brincadeiras e depois repensamos o projeto de acordo com a demanda.
Diante do projeto de intervenção houve diversas situações que pudemos levar conosco
como ensinamentos no decorrer de nossa caminhada enquanto pedagogas. Observamos a
importância do educador em estar apto para lidar com as mais variadas situações que poderão
surgir de acordo com o local e público a qual lida. Assim a relevância do planejamento,
pesquisa enfim, da parte teórica influenciando e norteando a prática.
Podemos dizer o quão é importante ir à busca de novas metodologias que comuniquem e
tenham haver com o público a que direcionamos nossas ações. A primeira lição que tiramos
foi a de precisarmos nos preparar para comunicarmos com as crianças de acordo com suas
subjetividades e diferenças. Deste modo, ir a procura de dinâmicas que estimulassem a
vontade de aprender a mensagem passada pelo conto, trouxe uma transformação. A forma de
argumentar e organizar as próprias falas fez parte de um projeto grandioso.
Enfim, as relações estabelecidas durante o período da intervenção serão as maiores
lembranças que levaremos conosco, os abraços calorosos e os sorrisos diante de cada
brincadeira, atividade e dinâmica influenciaram a nossa esperança no papel de futuras
educadoras. Assim, após o choro de uma criança, ao sinalizamos o fim do projeto,
ressaltamos a importância do pedagogo ou pedagoga na Associação Comunitária de Mutãs
que pudesse realizar trabalhos que estimulassem a leitura e a procura pelo espaço da
biblioteca. Tal acontecimento, só iria acrescentar a ASCOM e influenciar novos leitores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? São Paulo, Brasiliense, 1° ed. 1981.
GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política. 3ªed -São Paulo, editora
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jan./mar. 2006.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; THOSCHI, Mirza Seabra. Educação
Escolar: Políticas, Estrutura e Organização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
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30/11/2017
LIBÂNEO, José. Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2010.
PIMENTA, Selma Garrido. O estagio na formação de professores: unidade entre teoria e
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PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores: identidade e saberes da docência.
In: PIMENTA, Selma Garrido. (Org). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo:
Cortez Editora, 1999. p. 15 a 34. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Desktop/projeto-
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TRILLA, Jaume,. Educação formal e não-formal, pontos e contrapontos; org. Valéria
Amorin Arantes. São Paulo, 2008, p.167.