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Anais Do Simposio de Pesquisa em Musica
Anais Do Simposio de Pesquisa em Musica
simpósio
depesquisa
emmúsica2013
anais
SIMPEMUS 6|
simpósio
depesquisa
emmúsica2013
anais
Universidade Federal do Paraná
Reitor
Zaki Akel Sobrinho
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Edilson Sérgio Silveira
Diretora do Setor de Artes, Comunicação e Design
Dalton Razera
Editora do DeArtes
Diretor
Norton Dudeque
anais do
simpósiodepesquisaemmúsica2013
SIMPEMUS 6
norton dudeque
(organizador)
deartes | ufpr
curitiba | 2013
anais do
simpósiodepesquisaemmúsica2013
SIMPEMUS 6
Realização
Apoio
PPGMúsica – UFPR
DeArtes
CDD – 780.01
DeArtes UFPR
Editora do Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná
Rua Coronel Dulcídio, 638
80420-170 Curitiba PR
www.artes.ufpr.br
impresso no Brasil
2013
SIMPEMUS 6 |
simpósio de pesquisa em música 2013
29 e 30 de novembro de 2013
Departamento de Artes | UFPR
Rua Cel. Dulcídio, 638 Batel
Curitiba PR
| programação |
14h00 Ética, semiótica e edição musical: segundo movimento sonatina para flauta e violão de
Radamés Gnattali – Solon Santana
14h30 Rosa Del Ciel, ária da ópera L’Orfeo de C. Monteverdi: pesquisa empírica e
bibliográfica para a construção de uma performance musical – José Brazil
15h00 Robert Schumann, poeta musical ou em torno de “ Zwielicht” : breves sugestões para
uma interpretação – Isaac Chueke
local: sala 103 sessão 1B mediador: Prof. Dr. ÁLVARO CARLINI – Monitor:
Mestrando Thiago Tatsch
14h00 Considerações sobre a correspondência trocada entre Francisco Curt Lange e Cláudio
Santoro de 1942 a 1949 – Alice Belém
14h30 Do conceito metafísico ao fenômeno sonoro: considerações a respeito da mousike no
pensamento de Platão e de Aristóteles – Sarah Roeder
15h30 Romualdo Suriani (1880-1943): atividade musical do maestro italiano em Curitiba, entre
1912-1940 – Alan Rafael de Medeiros
local: sala 101 sessão 1C mediador: Prof. Dr. MAURÍCIO DOTTORI – Monitor:
Mestrando Anderson Zabrocki
13h30 Ode a Benedito de Eduardo Guimarães Álvares: uma análise – Diogo Lefevre
14h00 Webern durch Stockhausen: a estética da Momentform aplicada ao Opus 11/3 – Felipe
Ribeiro
14h30 Wie bin ich froh! op. 25 nº1 para Voz e Piano de Anton Webern, possíveis associações
entre texto, estrutura e forma das séries empregadas – Ernesto Frederico Hartmann
Sobrinho
local: auditório sessão 2A mediador: Prof. Dr. FELIPE RIBEIRO (EMBAP) – Monitor:
Mestranda Kátia Santos
17h00 Liberdade Criativa: Fonética Gestual e Livre Improvisação – Christina Marie Bogiages;
Cleber da Silveira Campos
17h30 Timbre, Análise e Composição: uma proposta colaborativa – Ivan Eiji Simurra; Igor
Leão Maia
local: sala 103 sessão 2B mediador: Profa. Dra. SILVANA SCARINCI - Monitor:
Mestrando Anderson Zabrocki
16h30 Reconstrução da parte de viola de um quarteto e das partes de viola e canto de três
árias da ópera Precipício de Faetonte (BGUC-MM876), de Antônio José da Silva (1705-
1739) e Antônio Teixeira (1707-1774) – Gabriel de Sousa Lima; Márcio Leonel Farias
Reis Páscoa
17h00 A Música nos Teatros Cariocas: repertórios, recepção e práticas culturais – Monica
Vermes
17h30 Aspectos sócio-culturais de Curitiba, Paraná, na última década do século XIX: o Grêmio
Musical Carlos Gomes (1893-1902) – Alvaro Carlini
local: sala 101 sessão 2C mediador: Profa. Ms. MARGARET AMARAL DE ANDRADE
(EMBAP) Monitora: Mestranda Lizzie Lessa
16h30 Abordagem Pontes: uma pesquisa sobre a construção teórica – Vilma de O. S. Fogaça
local: auditório sessão 3A mediador: Prof. Dr. EDWIN PITRE – Monitora: Mestranda
Kátia Santos
10h00 Um brasileiro que faz música: considerações sobre o pensamento musical de Hermeto
Pascoal – Daniel Zanella dos Santos
11h00 Trajetória de Moacir Santos do rádio para o cinema: um caminho comum – Lucas
Bonetti
local: sala 103 sessão 3B (iniciação científica I) mediador: Prof. Dr. DANILO RAMOS
Monitora: Mestranda Melody Falco
local: sala 101 sessão 3C (Iniciação científica II) mediador: Profa. Dra. ROSEANE
YAMPOLSCHI – Monitor: Mestrando Adriano Elias
09h30 Jogo de malha: por uma poética composicional em ‘paisagem sonora mista’ – Julio
Cesar Damaceno; Fátima Carneiro dos Santos
10h00 Composição modular para obras audiovisuais interativas – Alexandre Campos Moraes
e Silva; Lucas Henrique Serpe Diaz
11h00 Um estudo sobre experiências vicárias de músicos mediadas pela internet e sua
relação com a construção das crenças de autoeficácia – Marina Abrahao
11h30 Um estudo sobre elementos da teoria do fluxo presentes na prática musical coletiva de
músicos de grupos de música popular e bandas de rock – Marcos Aloisius Perufo
Damke
local: auditório sessão 4A mediador: Prof. Mr. TIAGO MADALOZO (FAP) Monitor:
Mestrando Anderson Zabrocki
14h00 Memorização e timbre: reflexões a partir da aplicação dos guias de execução nas
Variações ABEGG, op. 1, de Schumann – Bibiana Bragagnolo; Luciana Noda
15h30 O Estado da Arte na Pesquisa sobre a obra para violoncelo de Kaija Saariaho:
resultados iniciais – Camila Durães Zerbinatti; Teresa Mateiro; Guilherme Sauerbronn
de Barros
16h00 o “complexo Ab‐C‐E” em “choro bandido” de Edu Lobo e Chico Buarque: um estudo de
relações entre componentes textuais e musicais – Matheus Henrique de Souza
Ferreira; Sérgio Freitas
local: sala 103 sessão4B mediador: PROFA. DRA. CARMEN CÉLIA FREGONEZE
(EMBAP) – Monitor Mestrando Jean Pscheidt
15h30 Histórias que ouvi e coisas que aprendi com a Sonata op. 147 de Dimitri Shostakóvitch
– Isabel Pereira Duschitz e Sérgio Freitas
16h00 Considerações interpretativas sobre a obra TransFormantes III para vibrafone e live-
electronics – Charles Augusto Braga
local: sala 101 sessão 4C mediador: PROFA. DRA. ROSANE CARDOSO DE ARAUJO
– Monitora - Mestranda Micheline Gois
15h00 Aquisição de habilidades rítmicas no estudo do violão – Luiz Carlos Martins Loyola
Filho
Coordenação geral do Simpemus: Prof. Dr. Norton Dudeque e Profa. Dra. Rosane Cardoso
de Araújo
Coordenação Científica: Prof. Dr. Daniel Quaranta (UFJF) e Prof. Dr. Norton Dudeque
(UFPR)
Pareceristas: Professores doutores Daniel Quaranta (UFJF), Norton Dudeque (UFPR), Silvana
Scarinci (UFPR), Zélia Chueke (UFPR), Carmen Célia Fregoneze (EMBAP), Valéria Luders
(UFPR), Danilo Ramos (UFPR), Orlando Fraga (EMBAP), Guilherme Romanelli
(UFPR),Rosane Cardoso de Araújo (UFPR), Roseane Yampolschi (UFPR) Edwin Pitre (UFPR)
Professores Mediadores: Dra Zélia Chueke (UFPR), Dr. Álvaro Carlini (UFPR), Dr. Felipe
Ribeiro (EMBAP), Dr. Maurício Dottori (UFPR), Ms. Tiago Madalozo (FAP), Dra. Silvana
Scarinci (UFPR), Ms. Margaret Amaral de Andrade (EMBAP), Dra. Roseane Yamploschi
(UFPR), Dra. Carmen Célia Fregoneze (EMBAP), Dr. Edwin Pitre (UFPR), Dr. Danilo Ramos
(UFPR), Dra. Rosane Cardoso de Araujo (UFPR).
Equipe organizadora: alunos mestrandos Anderson Zabrocki, Micheline Gois, Lizzie Lessa,
Veridiana Lima Krüger, Igor Krüger, Kátia Santos, Jean Pcheidt, Débora Bérgamo, Tiago Tatch,
Melody Falco, Adriano Elias, Elder gomes da Silva, Renata Filipack. Aluno graduação: Gabriel
Pfarrius.
xv | apresentação |
| comunicações |
| sessão 1A |
1 Avaliação de conteúdos de Fonética aplicados em uma proposta de ensino da
dicção no Canto na abordagem linguístico-analítica
Jeanne Rocha (UFU)
7 Ética, semiótica e edição musical: segundo movimento sonatina para flauta e
violão de Radamés Gnattali
Solon Santana (UFBA)
16 Rosa Del Ciel, ária da ópera L’Orfeo de C. Monteverdi: pesquisa empírica e
bibliográfica para a construção de uma performance musical
José Brazil (UFPR)
24 Robert Schumann, poeta musical ou em torno de “ Zwielicht” : breves
sugestões para uma interpretação
Isaac Chueke (UNESPAR/EMBAP)
30 Ernst Mahle: obras para clarineta
Herson Amorim (UFPA)
| sessão 1B |
37 O conceito de “fuga” no barroco e o Kyrie de Ligeti
Ísis Biazioli (USP)
43 Considerações sobre a correspondência trocada entre Francisco Curt Lange e
Cláudio Santoro de 1942 a 1949
Alice Belém (UEMG)
51 Mulheres e imigrantes: invisibilidades históricas e as práticas da música culta
em São Paulo na Belle Époque
Fernando Pereira Binder
57 Romualdo Suriani (1880-1943): atividade musical do maestro italiano em
Curitiba, entre 1912-1940
Alan Rafael de Medeiros (UFPR); Álvaro L. R. S. Carlini (UFPR)
Do
| sessão 1C |
64 Ode a Benedito de Eduardo Guimarães Álvares: uma análise
Diogo Lefévre (UNESP)
72 Webern durch Stockhausen: a estética da Momentform aplicada ao Opus 11/3
Felipe Ribeiro (UNESPAR/EMBAP)
81 Intertextualidade em música: presença de uma citação literal na Ária (Cantiga)
da Bachianas Brasileiras n.4, de Heitor Villa-Lobos
Ana Carolina Manfrinato (UFPR)
87 Dualismo harmônico: uma revisão bibliográfica
Diego Borges (UDESC); Sérgio Freitas (UDESC)
| sessão 2A |
93 Composição de Música Textural Assistida por Computador
Wander Vieira (UNICAMP); Jônatas Manzolli (UNICAMP)
105 Liberdade Criativa: Fonética Gestual e Livre Improvisação
Christina Marie Bogiages (UFRN); Cleber da Silveira Campos (UFRN)
111 Cognição e Formalismo: algumas ferramentas conceituais para poética
composicional
Eduardo Frigatti (UFPR)
| sessão 2B |
117 A Música nos Teatros Cariocas: repertórios, recepção e práticas culturais
Monica Vermes (UFES/UNESP/CNPq)
124 Aspectos sócio-culturais de Curitiba, Paraná, na última década do século XIX: o
Grêmio Musical Carlos Gomes (1893-1902)
Alvaro Carlini (UFPR)
133 Entre documentos e depoimentos: análise musical e o “falar de si” na
investigação acadêmica da música popular
Sérgio Freitas (UDESC)
| sessão 2C |
137 Apresentações musicais nas escolas: interações sociais na aprendizagem
pela apreciação musical
Katarina Grubisic (UFSC); Cristiana de Azevedo Tramonte (UFSC)
144 Persuasão verbal e o processo de ensino em El Sistema
Veridiana de Lima G. Krüger (UFPR)
152 Elaboração e validação de uma escala de autoeficácia para alunos de
percepção musical
Lílian Sobreira Gonçalves (UFPR); Rosane Cardoso de Araújo (UFPR)
| sessão 3A |
157 Uma História da Bossa Nova na Capital Pernambucana
Fernando Torres (UDESC)
164 Um brasileiro que faz música: considerações sobre o pensamento musical de
Hermeto Pascoal
Daniel Zanella dos Santos (UDESC)
172 A segmentação do campo da música popular brasileira na década de 1950: o
caso do Trio Surdina
Rodrigo Vicente (UNICAMP)
179 Trajetória de Moacir Santos do rádio para o cinema: um caminho comum
Lucas Bonetti (UNICAMP); Claudiney R. Carrasco (UNICAMP)
184 "Jequibau": algumas considerações
Daniel Vilela (UFPR)
| sessão 3B |
192 Embocadura na flauta transversal
Marina Monroy da Costa Penna UFBA)
201 Entre a fonte e o som
Levy Oliveira (UFMG); Ana Cláudia Assis (UFMG)
207 A harmonia em “Trovas” de Alberto Nepomuceno: em busca de elementos da
poética harmônica
Francisco Wildt (FAP-PR); Heitor B. Vieira (FAP-PR)
218 Semelhanças entre as propostas educacionais de Hans Joaquim Koellreutter e
Raymond Schafer
Andre Greboge (UFPR)
224 Um estudo sobre motivação de alunos estagiários, do curso de licenciatura em
música, no confronto com atividades de docência
Gabriel Silveira Pfarrius (UFPR)
| sessão 3C |
228 Jogo de malha: por uma poética composicional em ‘paisagem sonora mista’
Julio Cesar Damaceno (UEL); Fátima Carneiro dos Santos (UEL)
234 Composição modular para obras audiovisuais interativas
Alexandre Campos Moraes e Silva (UFPR); Lucas Henrique Serpe Diaz (UFPR);
Débora Opolski (UFPR)
242 Pesquisa de Parâmetros Sonoros e Criação Artística
Rodrigo Enoque (UFPR)
248 Um estudo sobre experiências vicárias de músicos mediadas pela internet e
sua relação com a construção das crenças de autoeficácia
Marina Calçado Abrahão (UFPR)
252 Um estudo sobre elementos da teoria do fluxo presentes na prática musical
coletiva de músicos de grupos de música popular e bandas de rock
Marcos Aloisius Perufo Damke (UFPR)
| sessão 4A |
255 Memorização e timbre: reflexões a partir da aplicação dos guias de execução
nas Variações ABEGG, op. 1, de Schumann
Bibiana Bragagnolo (UFPB); Luciana Noda (UFPB)
264 A noção de auditório para a música contemporânea
William Teixeira da Silva (UNICAMP); Silvio Ferraz (UNICAMP)
271 A canção pop/rock na sala de aula, um estudo de caso: problemáticas e
propostas
Jorge A. Falcón (PUCPR); Jetson de Souza (PUCPR)
281 O Estado da Arte na Pesquisa sobre a obra para violoncelo de Kaija Saariaho:
resultados iniciais
Camila Durães Zerbinatti (UDESC); Guilherme Sauerbronn de Barros (UDESC)
288 O “complexo Ab‐C‐E” em “choro bandido” de Edu Lobo e Chico Buarque: um
estudo de relações entre componentes textuais e musicais
Matheus Henrique de Souza Ferreira (UDESC); Sérgio Freitas (UDESC)
| sessão 4B |
293 Novas possibilidades sonoras para percussão a partir de técnicas expandidas
e recursos tecnológicos em tempo real
Pedro Henrique Machado Freire (Universidade de Aveiro); Cleber da Silveira Campos
(UFRN)
301 Validação de Ferramenta Analítica para o estudo de quatro variáveis da
embocadura na Flauta Transversal
Luiz Fernando Barbosa Jr(UFBA); Lucas Robatto (UFBA)
312 A escolha da digitação para performance no contrabaixo: um estudo sobre o
processo de otimização das escolas de contrabaixo
Guilherme Espindula de Oliveira (UFRGS); Fernando Gualda (UFRGS)
318 Histórias que ouvi e coisas que aprendi com a Sonata op. 147 de Dimitri
Shostakóvitch
Isabel Pereira Duschitz (UDESC); Sérgio Freitas (UDESC)
323 Considerações interpretativas sobre a obra TransFormantes III para vibrafone e
live-electronics
Charles Augusto Braga (UFMG); Fernando Rocha (UFMG)
| sessão 4C |
328 Construção das crenças de autoeficácia em aulas de musicalização e flauta
doce
Renata Filipak (UFPR); Rosane Cardoso de Araújo (UFPR)
336 Aquisição de habilidades rítmicas no estudo do violão
Luiz Carlos Martins Loyola Filho (UFPR)
| apresentação |
Norton Dudeque
Coordenador do SIMPEMUS5
Curitiba, novembro de 2013
1
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
COMUNICAÇÃO ORAL:
Jeanne Rocha
Universidade Federal de Uberlândia – jeannerocha@hotmail.com
Abstract: The research was conducted at the Universidade Federal de Uberlândia (UFU) with
10 students Singing, registered in the discipline Diction 4, August-December, 2011, who apply
a teaching based on phonetics (SOUZA, 2009). We present partial results deriving from the
questionnaire collected at the end of the course, with reviews from participants on content
applied, contributing to research on benefits of phonetics in the teaching-learning process in
Singing diction.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa trata-se da abordagem linguístico-analítica, fundamentada
em Fonética, do ponto de vista da articulação dos sons – a Fonética Articulatória
(WEISS, 1980) – e da representação – o Alfabeto Fonético Internacional (AFI) (IPA,
2005) e sua prática, a Transcrição Fonética (TF) (LACERDA & HAMMARSTRÖM,
1952). Nesta abordagem, de acordo com Souza (2009), a compreensão de
descrições articulatórias favorece o aprendizado da pronúncia, uma vez que o
aprendiz passa a conhecer e saber praticar o movimento certo dos articuladores em
seus modos e pontos de articulação, com consciência da corrente de ar no processo
fonatório; já o conhecimento de um alfabeto fonético favorece no entendimento de
como os sons do discurso são transcritos ou representados.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
a) Fonética Articulatória
7. Fazer com que o falante ou cantor produza sons precisos, de forma mais
autêntica.
c) Transcrição Fonética
Transcrição fonética é uma tentativa de se registrar de modo inequívoco o
que se passa na fala. Em sua prática, Weiss (1980) considera ser preciso registrar
cada som, cada modificação e cada traço prosódico com símbolos específicos. Cada
traço fonético (som, combinação de sons, modificação de um som, traços
prosódicos, etc.) é representado por certo símbolo e, vice-versa, cada símbolo
representa um som, uma modificação ou um traço prosódico1.
3. Permite representar os sons, o que ajuda o cantor a ter mais consciência dos
detalhes de cada língua, melhorando na performance vocal;
4. Por ser um sistema acessível a todos, o AFI possibilita aos cantores nacionais
e estrangeiros a oportunidade de cantar em outros idiomas com maior
precisão de pronúncia e um número menor de dúvidas;
Depoimento em destaque: “A partir da grafia dos sons por meio do AFI é possível
cantar no idioma alvo com maior precisão e pureza sonora, evitando
estrangeirismos, maneirismos, vícios e regionalismos” (Participante 9).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MILLER, R. On the art of singing. NY: The Oxford University Press, Inc., 2011.
WEISS, Helga E. Fonética Articulatória: guia de exercício. 2. Ed. Brasília: SIL, 1980.
Notas
1
Um melhor detalhamento sobre transcrição fonética apresenta-se no aporte teórico de nosso
trabalho de Mestrado (ROCHA, 2013).
7
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo delinear relações possíveis entre intérprete/obra/compositor,
intermediados pelo ato editorial, enfocando os aspectos éticos presentes no processo interpretativo
musical na tradição de música de concerto ocidental. A investigação desenvolve-se através do
trabalho de revisão editorial da parte de flauta do segundo movimento da Sonatina para Flauta e
Violão de Radamés Gnattali, problematizando questões teóricas sobre o ato interpretativo - que
envolvem tanto o editor como o músico - através do estudo de fontes para a obra, e as consequências
de decisões editorias para a transmissão da mesma dentro de critérios éticos.
Palavras-chave: Ética. Semiótica. Edição Musical.
ETHICS, SEMIOTICS AND MUSICAL EDITING: THE SECOND MOVEMENT OF THE SONATINA
FOR FLUTE AND GUITAR BY RADAMÉS GNATTALI
Abstract: This research aims to delineate possible relations between performer/work/composer that
are mediated by editorial actions. This approach focuses on some ethical aspects presented by those
relations in the western concert music tradition. The research is based on an editorial revision of the
flute part of the second movement of the Sonatina for Flute and Guitar by Radamés Gnatalli, and
problematizes ethical questions about the interpretative act – which touch both editor and musician –
through the investigation on the sources for the work. The ethical consequences of editorial decisions
for the transmission of the work are also perused.
Keywords: Ethics. Semiotics. Musical Editing.
1
Pesquisa orientada pelo Prof. Dr. Lucas Robatto.
8
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
das condições da verdade, mas, para tratar das lei do pensamento e da sua
evolução, deve debruçar-se antes, sobre as condições gerais dos signos.
(SANTAELLA, 2010, p.2)
Uma das tarefas fundamentais de uma teoria científica é a sua
capacidade de previsão, ou seja, esta “deve constituir um conjunto de regras de
inferências que permitam a previsão dos dados de fato.” (ABBAGNANO, 1998,
p.953) De maneira que tem por finalidade normatizar um determinado fenômeno ou
prática, por isso justifica-se o uso de disciplinas normativas (a estética, a ética e a
semiótica) para estabelecer os pressupostos que devem orientar uma interpretação
musical. Nesta pesquisa dentre as disciplinas normativas elencadas acima serão
abordadas a ética e a semiótica.
O que se procura delinear aqui não é uma teoria científica, que normatize
o ato interpretativo, mas sim utilizar o aparato teórico para descrever e refletir a
respeito da atividade do intérprete, visto que no meio musical existem normas de
interpretação que são estabelecidas pelos músicos dentro uma cultura e de um dado
momento histórico, vide a ornamentação no período barroco e os vário tratados que
tentam descrever esta prática da época. Assim, pretende-se entender a atividade do
músico erudito, dentro da música de concerto de tradição ocidental, na qual o texto
musical desempenha importante papel, pois é o meio pelo qual o intérprete
desenvolve sua performance. O maior desafio não é, portanto, definir as normas de
uma interpretação musical, mas sim descrever e compreender os motivos que
movem o intérprete a estabelecer diretrizes para realização de suas atividades.
2- Ética
Antes de demonstrar as implicações éticas de uma interpretação musical,
é necessário entender o pensar ético adotado para esta pesquisa, pois assim se
pode ter clareza da causa de tais implicações. O pensamento de Hans Jonas
(JONAS, 2006), considerado um dos principais filósofos alemães contemporâneos, é
usado como base para o presente trabalho, devido à representatividade de sua obra
nesta área do conhecimento A partir do pensamento de Hans Jonas fica evidenciado
o aspecto ôntico da ética no ser humano e que, por isso, está presente em todas as
áreas do conhecimento e do fazer humano. Ao ter em mente esta premissa, a
pesquisa procura demonstrar a importância da ética para a interpretação musical.
Embora o autor se preocupe mais com as questões ambientais e tecnológicas,
10
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
também afirma sua importância para as obras de arte, que, como patrimônios
culturais da humanidade, devem ser preservadas:
Dentro desse quadro genérico, que vincula qualquer tipo de
responsabilidade à vida é possível que coisas não vivas se tornem objeto de
responsabilidade, não porque estejam subjetivamente a serviço da vida,
mas como elas próprias, e até mesmo em prejuízo do que se considera
normalmente como sendo o interesse vital. [...] A maior das obras de arte se
tornaria um pedaço mudo de matéria em um mundo sem homens. De outro
lado, sem a obra de arte o mundo habitado por homens se torna um mundo
menos humano, e a vida dos seus habitantes seria mais carente de
humanidade. Assim, a criação da obra de arte faz parte do agir humano
constituinte do mundo; e sua presença é parte do patrimônio do mundo
instituído pelos homens, o único onde os homens podem encontrar abrigo.
Não podemos imputar ao artista a preocupação em aumentar o acervo
artístico ou fomentar a cultura; é melhor que ele se ocupe exclusivamente
de sua obra. Mas, no que concerne à preservação de sua criação por parte
de outros, como patrimônio da humanidade (um dever indubitável), a obra
não se beneficia da imunidade com a qual o seu criador, responsável
apenas pela obra pode se desfazer de todos os seus outros deveres. (Ibid,
p.177-178)
que podem pertencer à outra época, tal consciência advém, em grande parte, de
uma postura ética na sua interpretação.
3 – Semiótica
Em A Estrutura Ausente (ECO, 1976), Umberto Eco procura definir o
campo de estudos da semiótica e sistematizar a estrutura que subjaz do processo de
comunicação, apresenta a seguinte definição:
A Semiologia estuda todos os fenômenos culturais como se fôssem
sistemas de signos – partindo da hipótese de que na verdade todos os
fenômenos de cultura são sistemas de signos, isto é, fenômenos da
comunicação. Ao fazê-lo, interpreta uma exigência difundida nas várias
disciplinas científicas contemporâneas, que justamente procuram, aos mais
variados níveis, reduzir os fenômenos que estudam a fatos
comunicacionais. (ECO, 1976, p.3)
Exemplo 1: Gnattali, Sonatina, 2° mov., cc. 167, diferença de nota entre edição e manuscrito
tecnológica. Tradução do original alemão Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio
de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
SANTAELLA, Lucia. Semiótica Aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
16
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
MODALIDADE: Performance
José Brazil
Universidade Federal do Paraná – josebrazil2108@yahoo.com.br
Rosa del ciel: the aria of the opera L’Orfeo by Claudio Monteverdi: an empirical and
bibliographical research in sense of building a musical performance.
Abstract: This research presents a report on preparations for the musical performance of the
aria Rosa del ciel, from the opera L'Orfeo by C. Monteverdi, which occurred in 2012. The
purpose is to compare the reflections found in a short list of references, especially in Musical
Performance and its Interfaces, edited by Sonia Ray (2006). The work does not present
conclusive since the performance is not limited in any interpretation, but brings the exposure
of involvement in the construction of a musical performance, thus it may serve as a paradigm
or example in building strategies to similar tasks.
Rosa del ciel, vita del mondo, Rosa do céu, vida do mundo,
E degna prole di lui digna descendente daquele
Che l’universo affrena; que domina o universo.
Sol, che’l tutto circondo e’l tutto miri Sol, que tudo circunda e tudo vê
Da gli stellanti giri, dimmi, dentre as órbitas estelares, diga-me,
vedesti mai di me já viste alguém mais do que eu,
più lieto e fortunato amante? tão alegre e afortunado amante?
Fu ben felice Il giorno, Feliz foi o dia
Mio bem, che pria ti vidi; minha querida, quando te vi pela primeira vez;
E più felice l’hora che per te sospirai, e ainda mais feliz a hora que por ti suspirei.
Poi ch’al mio sospirar tu sospirasti. Pois com o meu suspirar tu [também] suspiraste.
Felicíssimo il punto che la candida mano, Felicíssimo o momento que tua mão cândida,
Pegno di pura fede, à me porgesti, símbolo de pura fé, tu me estendeste.
Se tanti cori havessi Tivesse eu tantos corações
Quant’occhio há’l ciel eterno, quanto os olhos que há no céu infinito,
E quante chiome han questi coli ameni e quanto as copas que há nas colinas calmas
Il verde maggio, e verdes de maio,
Tutti colmi sarieno e traboccanti todos [assim] estariam plenos e transbordantes
Di quel piacer ch’oggi mi fa contento. do prazer que hoje me faz contente.
Exemplo 1: Texto da ária Rosa del ciel, trecho da ópera L’Orfeo. Tradução por José Brazil.
Tem-se uma visão dentro da obra, que consta de cinco atos, sendo que
este trecho apenas inicia uma longa jornada dramática que passará por dissabores e
18
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
frustrações de um resgate mal sucedido de Euridice, que morre picada por uma
serpente logo no segundo ato. Ao tomar conhecimento destas passagens
dramáticas, poderiam surgir algumas interferências na interpretação. Como parecer
convincente sem se deixar contaminar pelo conhecimento prévio do desfecho da
ação dramática? Os estudos musicais ainda estavam em andamento, portanto seria
preciso buscar mais subsídios. Um exercício de declamação sem música, proposto
pela Prof. Scarinci, ajudaria na fluência do texto. Algo já se configurava em uma
experiência de deleite como quer representar o texto. A partitura utilizada não trazia
indicações de dinâmica nem andamentos, bem como se espera para esta fase do
período barroco. Não por acaso, Gusmão e Gerling (2006, p.67) afirmam que “outros
elementos, mesmo presentes na partitura, não passam de aproximações, como é o
caso de indicações de andamentos ou dinâmica”. Assim o texto deve, de fato,
comandar a música. Sonia Ray (2006, p.8) discorre em seu tópico sobre
“Musicalidade e Expressividade”, citando Williamon: “Para que o músico possa
expandir sua capacidade de expressar musicalidade ele tem de ter boa dose de
imaginação, bem como conhecimento do contexto (estilo, forma, métrica, textura...)
que lhe nutra.” Assim, os intérpretes se voltam para o que deixou o autor como
legado de suas ideias, que sustentaram e deram a ele as regras de sua composição.
Nikolaus Harnoncourt, um pioneiro, traz o seguinte:
A palavra tornou-se a senhora absoluta, a quem a música deveria servir. A
tradição rítmica e harmônica juntamente com a condução melódico-
declamatória, adquiriram independência e valor próprios, resultando daí
uma interpretação musical do texto: uma linguagem sonora integralmente
nova, inaudita até então. (1993, p.146).
3. Considerações finais.
22
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências:
KOBBÉ, G. Kobbé: o livro completo da ópera. Trad. Clovis Marques. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1997.
RAY, S. (org.); BORÉM, F.; CHUEKE, Z.; GERLING, C. C.; GUSMÃO, P. S.; LIMA,
S.A. Performance musical e suas interfaces. Goiânia: Ed. Vieira, 2006.
23
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Partitura:
MONTEVERDI, C. L’Orfeo. Clifford Bartlett, editor. King’s Music, 1993.
1
Tomou-se de empréstimo o termo “ária” para designar uma parte solo cantada em meio à ação
dramática da ópera. O sentido para o termo “ária”, tal qual conhecemos hoje, só seria estabelecido
anos depois da composição de L’Orfeo em 1607.
24
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Isaac Chueke
Unespar/Embap-chuekemusic@hotmail.com
Resumo: Através da análise de sua música e letra, abordaremos o lied “Zwielicht” visando
primordialmente uma interpretação desta obra. Frequentemente encontramos em Schumann
caminhos composicionais que, pelo menos em aparência, poderiam parecer contraditórios. O
trabalho em parceria do cantor e do pianista apontando para uma perfeita sincronia,
esperamos contribuir para os estudos relativos a esta disciplina difundida e conhecida no
mundo anglo-saxão como análise para intérpretes.
Palavras-chave : Análise.Interpretação.Zwielicht.Lied.
Through an analysis of its music and lyrics, we shall cover the lied “Zwielicht”, aiming mainly
a performance of this work. Quite often, we find in Schumann compositional paths that, at
least apparently, could seem contradictory. The mutual collaboration between the singer and
the pianist pointing to a perfect syncronisation, we hope contributing to the studies related to
this discipline known in the anglo-saxon world as Analysis for Performers.
Keywords: Analysis.Performance.Zwielicht.Lied.
Incertezas
26
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Dinâmica e agógica
A respeito da dinâmica empregada por Schumann em Zwielicht, é muito
sutil, até o compasso 24 temos um p indicado para a linha do canto enquanto o
piano por momentos atinge um pp (c.14 e 22). Um crescendo só aparece no final da
primeira metade da peça (c.21) porém este consta apenas na parte do piano.
Um dos aspectos mais interessantes é o que trata da agógica adotada
pelo compositor, verdadeiro poeta musical. Graças à sua escolha do andamento
Langsam, discretamente mas cada vez mais presente, desde o compasso 25 faz-se
mais audível uma movimentação do baixo, por tons e semitons. A partir da
observação das correções de Schumann antes da publicação da peça, observamos
que o compositor risca o ritard. préviamente indicado no compasso 7 ; agirá do
mesmo modo mais adiante, no compasso 30, sem deixar de mencionar sua
eliminação também dos Adagio antes indicados nos compassos 14 e 22.
Qual o motivo para estes procedimentos ? Argumentamos que Schumann
poderia estar preocupado com intérpretes retardando exageradamente o tempo,
particularmente no que se refere a esta passagem do trecho únicamente
27
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Comparando edições
Aproveitamos o momento para analisarmos de modo mais aprofundado
as três edições a que tivemos acesso, a saber : a prova corrigida por Robert
Schumann, a edição revisada e editada aos cuidados de Clara Schumann, pianista
reputada e espôsa do compositor, por último, a edição utilizada por Charles Rosen.
No caso da prova contendo as anotações de Schumann, é notável pela sua
supressão dos Adagios e simultâneamente, pela sua adição de dois Im Tempo,
observações anotadas a lápis e que Clara Schumann se encarrega de respeitar
escrupulosamente. Já a partitura usada por Rosen destoa pelo fato duplo de nela
constarem os Adagio (c.14 e 22) e por estarem ausentes as indicações de uma
retomada do andamento inicialmente previsto, os Im Tempo que deveriam seguir-se
ao ritardando (c.16 e 24). Ou seja, em momentos bem específicos, Rosen segue
justamente o oposto do que desejava Schumann.
Outra indicação ausente tanto na prova do compositor quanto na versão
averbada por sua espôsa e cumprida à risca pela editora Breitkopf & Härtel é a
indicação de marcato para os três ultimos acordes da peça. Na prova examinada por
Schumann encontra-se o sinal de algo que poderia ser interpretado ora como um
staccato ora como uma ligeira acentuação, com certeza no intuito de tornar o som
mais curto e ‘sêco’. Bem ao estilo do típico acompanhamento ao cravo que encerra
os recitativos clássicos, deste modo dispensando o marcato que outrossim poderia
ser interpretado como um sinal para que os acordes fossem sustentados de modo
mais prolongado.
Um final dúbio ?
28
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências:
SCHUMANN, Robert. Liederkreis. Op.39. First edition, proof with pencil corrections
by the composer. Vienna: Tobias Haslinger, n.d. [1842]. Plate T.H. 8760.Disponível
em http://petrucci.mus.auth.gr/imglnks/usimg/1/1f/IMSLP174917-
SIBLEY1802.5003.9625-39087012085199.pdf . Acesso em 13.01.2014.
29
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
1
EICHENDORFF, Joseph Karl Benedikt von. Zwielicht. SCHUMANN, Robert. Liederkreis, Op.39,
1840. Traduzido para o português. RIEDEL, Elke Beatriz. Penumbra. 2010. Disponível em
http://www.recmusic.org/lieder/get_text.html?TextId=5279. Acesso em 13.01.2014.
30
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Resumo: O presente trabalho trata-se de projeto de pesquisa que tem como objetivo um
estudo sobre a obra para clarineta de Ernst Mahle. A metodologia utilizada foi revisão de
literatura e pesquisa bibliográfica. Foi realizada uma classificação, para melhor
entendimento e referência para instrumentistas interessados na obra para clarineta de
Ernst Mahle, baseada nos catálogos de obras do compositor e chegou-se a conclusão de
que a obra, além de vasta, é bastante variada em termos de formação instrumental, e
merece pesquisa e atualizações constantes.
Abstract:
This present work is a research project that aims to study Ernst Mahle's works
for clarinet. The methodology used was the literature review and bibliographic research.
Was realized a classification for better understanding and reference for musicians
interested in Ernst Mahle's clarinet works, based on catalogs of works by the composer
and came to the conclusion that work, in addition to extensive, is quite varied in terms of
instrumental variety, and deserves research and constant updates.
O COMPOSITOR
Clarineta Solo
c 179. Solo (1994)
Duas Clarinetas
33
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Quatro Clarinetas
Duos: Clarineta e Piano
Trios
Quartetos (Madeiras)
Quinteto
Sexteto
Septetos
b 15. Septeto – fl., cl., fg., tpt., trp., trb, pn. (1957)
c 88. Septeto – cl., trp., fg., vl., vla., vcl., cbx. (1975)
Nonetos
c 11. Música concertante (tímpano e sopros) – fl., ob., cl., fg., trp., tpt., trb., tuba
(1958)
34
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
c 97. O amor é um som – soprano, fl., cl., percussão, pn. (vibrafone), vl., vla., vcl.,
cbx. (1976)
c 116. Noneto – ob., cl., fg., trp., 2 vl., vla., vcl., cbx. (1977)
Clarone Solo
Duo: Clarone e Piano
Constatou-se que uma obra não está incluída no catálogo consultado para
esta pesquisa, sendo ela:
(ANDRADE, 1965. pg. 15 apud FREIRE, 2001. pg. 439). Baseado nesses
pressupostos, FREIRE (2001) estabelece quatro estágios de desenvolvimento para
a música brasileira aplicada à clarineta:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KRAUSZ, Luis Sergio. Ernst Mahle. Revista Concerto. (S.l). p. 12-13. Jan/fev. 1999.
Resumo: Este trabalho pretende compreender o Kyrie (1963) de Ligeti a partir da tradição da
“fuga”. Como as principais preocupações composicionais durante o barroco (estrutura
harmônica e formal) aparecem adaptadas para uma linguagem pós-tonal? Para tal,
utilizaremos o estudo de MANN (1987) sobre a história do termo “fuga” e trabalhos analíticos
e biográficos a respeito da obra de Ligeti (CLENDINNING, 1989; TOOP, 1999). Verificaremos
como o plano harmônico do Kyrie é anunciado pelo Sujeito Christe eleison, dialogando com a
forma da peça (apresentação, afastamento e “retorno”), como propõem os tratados barrocos.
Palavras-chave: György Ligeti; Kyrie; Fuga; Alfred Mann (1987); Tradição versus
Modernidade.
Abstract: This work aims to understand the Ligeti’s Kyrie (1963) from the point of view of the
tradition of "fugue". How the main compositional concerns during the Baroque (harmonic and formal
structure) appear adapted to a post-tonal language? For such, we will use the study of MANN (1987) on
the history of the term "fugue" and biographical and analytical papers on the work of Ligeti
(CLENDINNING, 1989; Toop, 1999). So we will see how the harmonic plan in the Kyrie is announced
by the Subject Christe eleison, dialoguing with the formal structure of the piece (presentation, remote
and "return"), as proposed in the Baroque treated.
Keywords: György Ligeti; Kyrie; Fugue; Alfred Mann (1987); Tradition versus Modernity.
1. Introdução
Fig. 1: A falsa polifonia criada a partir das notas iniciais de cada um dos sujeitos dessa fuga.
Fig. 2: Uma das versões do Sujeito Christe eleison (sequência de alturas base para o microcânone
de mezzos, c. 13-28). Note a falsa polifonia das primeiras nove alturas que é retrogradada a partir do
Re# formando um palíndromo perfeito, quase como no plano formal do Kyrie.
Como vimos acontecer com as notas iniciais de cada uma das entradas
dos dois sujeitos desse Kyrie, aqui também uma falsa polifonia que é seguida por
seu retrógrado, nesse caso perfeito, serve de base para a exploração microcanônica
para uma das versões do Sujeito Christe eleison. Assim como nesse caso, quase
todas as outras versões desse sujeito estarão baseadas nessa falsa polifonia
(primeiras nove alturas), sua transposição ou inversão, e serão geralmente
ampliadas ao gosto do compositor por sucessivas simetrias bilaterais, formando
grandes palíndromos, por vezes sobrepostos (cf. BIAZIOLI, 2012).
3. Considerações Finais
Referências Bibliográficas
41
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BIAZIOLI, Ísis. A tradição do termo “fuga” e o Kyrie de Ligeti. In: Anais do XXIII
Congresso Internacional da ANPPOM. Natal, 2013. Disponível em
http://anppom.com.br/congressos/index.php/ANPPOM2013/Escritos2013/paper/view/
2221/563.
LEVY, Bejamin Robert. The electronic Works of Györgu Ligeti and their influence on
his later style. College Park, 2006. 263 páginas. Tese (Doutorado em filosofia).
University of Maryland.
VITALE, Cláudio Horacio. A gradação nas obras de György Ligeti dos anos
sessenta. São Paulo, 2013. 339 páginas. Tese (Doutorando em Música)
Universidade de São Paulo.
1
O mestrado é realizado sob orientação do Professor Doutor Paulo de Tarso Salles no Departamento
o
de Música da ECA/USP, com financiamento da FAPESP (n de processo 2012/02240-6).
2
Bartók foi um grande referencial de pesquisador, professor e compositor no mesmo Conservatório
que Ligeti estudou e lecionou. Estando diretamente relacionado com as pesquisas de Bártok, foi Ligeti
42
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
quem transcreveu suas gravações etnomusicológicas realizadas no início do século (Toop, 1999: 33).
Além disso, Ligeti permaneceu impactado pelo Bartók-compositor desde seus anos de formação,
passando pela fase em que chega a Colônia e já como compositor maduro, como mostra Richard
Toop (1999: 19, 43-44, 79).
3
Como as criações musicais ligadas ao termo “fuga” seguem grandes variações, mesmo se levadas
em conta um mesmo período como o barroco, muitos autores preferem entender o termo “fuga” como
um “procedimento composicional” de imitação e não uma “forma musical”. Essa interpretação é,
segundo Mann, adotada por importantes musicólogos do século XX, como Bukofzer (1910-1955):
“[u]ma explicação mais concisa e bem sucedida é dada por Manfred Bukofzer, que declara que ‘fuga’
não é nem uma forma, nem uma textura, mas um procedimento contrapontístico” (Mann, 1987: 7).
Contudo, se tivermos em mente que nenhuma “forma musical” está sujeita à rigidez e esterilidade que
alguns manuais tentam sugerir, podemos, então, compreender que tantas quantas forem às
manipulações musicais em torno de uma “fuga”, todas dialogarão com o princípio básico lançado já
por Praetorius em 1619, de integrar “um ciclo de exposição fugal, desenvolvimento e recapitulação”
(Mann, 1987: 35) em meio a uma textura imitativa. Nesse sentido, adotamos a interpretação de “fuga”
como “forma musical” capaz de sugerir em si, expectativas composicionais e auditivas que, como tais,
serão seguidas também por Ligeti – como veremos mais adiante neste trabalho.
4
Utilizamos aqui o conceito de “equivalência de oitavas” (Straus, 2000: 1). Apesar de as notas reais
empregadas na peça não pertencerem, todas, a uma mesma oitava (o âmbito real das notas
selecionadas vai de um Re2 no compasso 44 até um Fa4 no compasso 40), entendendo-as como
“classes de alturas” (Straus, 2000: 2), podemos verificar melhor a nossa análise.
5
Com a expressão “falsa polifonia” (compound melody) quero me referir a um procedimento de
escrita melódica onde inúmeros saltos melódicos, dentro de uma escrita de prevalência de graus
conjuntos, impõem à linha uma descontinuidade que acaba por reforçar a percepção de outra escrita
implícita, a da intercalação de duas linhas melódicas em contraponto. Esse procedimento é bastante
recorrente nas Suítes para instrumento melódico de J. S. Bach, como fica evidente na fuga dupla da
o
Suíte para Cello n 5 BWV 1011.
6
A forma em arco em torno de uma nota também aparece na fuga do primeiro movimento de Música
para Cordas, Percussão e Celesta de Béla Bartók, como mostra a análise realizada por Larry J.
Salomon disponível no site http://solomonsmusic.net/diss7.htm.
7
Isso fica claro, por exemplo, com a necessidade da resposta tonal de um sujeito, onde alguns
intervalos são alterados para que a tonalidade seja mantida. Essa prática já é referida por Vincentino
em 1555 (Mann, 1987: 18), mas só a partir de Rameau (1722) que essa sugestão composicional pode
ser explicada por um sistema harmônico que integra a explicação harmônica de toda a peça. Os
compositores anteriores, portanto, já atendiam intuitivamente à necessidade do material, embora não
pudessem explica-la por uma teoria harmônica.
8
A ligação de Ligeti com o contraponto aparece desde seus anos de formação e é reforçada ainda
durante o período no qual lecionou a disciplina na Academia de Música de Budapeste durante a
década de 50. (Clendinning, 1989: 2).
43
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On the Letters between Cláudio Santoro and Francisco Curt Lange from 1942 to 1949
Abstract : The correspondence of the musicologist Francisco Curt Lange is a great potential
source for the research on Brazilian music. The paper examines the letters exchanged with
the composer Cláudio Santoro from 1942 to 1949, showing that the analysis of this set of
letters sheds light on the movement Americanismo Musical, guided by Curt Lange. The
letters express also Santoro’s interchange with the music milieu.
Quando você [Santoro] fizer declarações, lhe peço somente uma coisa: Diga
que o primeiro grande estímulo que você recebeu, foi dado pelo Instituto
Interamericano de Musicologia, que vem o apoiando até hoje. Isto é sempre
4
importante para nós .
Respondo somente hoje suas duas missivas de 29-9- e 16-10-, por falta
absoluta de tempo. Recebi tambem nesses dias a peça do “Ascone” para
canto e cordas, e, a Sonatina do Paz que indiscutivelmente é uma obra
6
prima, uma joia no genero .
Em todo caso a “Sonata para Piano” seguirá por estes dias, pois já está
copiada. Quero que depois de vê-la envie ao Carlos Paz, para ver se ele
pode executar. Tecnicamente não tem dificuldade. Mande-me sua opinião
sincera, pois só deste modo poderei tirar proveito. Peço-lhe também a
fineza de dizer ao Carlos Paz que envie suas impressões "sinceras" sobre
7
as cousas que lhe enviar .
4. Considerações finais
Referências :
VIEIRA, Alice Martins Belém. Diálogos de Cláudio Santoro com a produção musical
contemporânea: um estudo a partir de correspondências do compositor e da análise
musical de obras para piano. São Paulo, 2013. 254 f. Tese (Doutorado em Música).
Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de
São Paulo.
________________________________
Notas
1
Grande parte dessas informações está disponível no website do Acervo Curt Lange, disponível no
endereço <http://curtlange.lcc.ufmg.br/>. Acesso em 27/11/13.
2
Idem nota anterior.
3
Compositor brasileiro (1919-1989) que desenvolveu intensa atuação profissional no Brasil e no
exterior, cuja produção percorreu diversas técnicas e linguagens musicais, incluindo obras tonais,
atonais, dodecafônicas, aleatórias e eletrônicas. Santoro contribuiu significativamente com
movimentos de renovação da linguagem musical no país, tais como o Grupo Música Viva, na década
de 1940, e a música eletroacústica brasileira, nas décadas de 60 e 70.
4
Carta enviada por Curt Lange a Cláudio Santoro em 30 de novembro de 1944.
5
Buscacio analisa como as discussões entre Curt Lange e Camargo Guarnieri sobre obras a serem
editadas no Boletín Latino Americano de Música representa o cruzamento de interesses profissionais:
“As cartas trocadas entre Curt Lange e Camargo Guarnieri estão repletas de passagens em que o
musicólogo e o compositor discutem quais obras deveriam ser impressas, seja através dos Boletíns
ou de outros meios editoriais. Essas composições entrecruzavam diferentes perspectivas estéticas e
interesses sócio-profissionais - o do compositor que poderia obter reconhecimento, através da
publicação de suas criações; o do musicólogo que, como agente mediador da edição, poderia
imprimir seu posicionamento ideológico e artístico; e o do próprio editor que priorizava a viabilidade
mercadológica da edição. Acrescente-se, ainda, que as publicações viabilizaram a promoção de
expressivo intercâmbio entre os compositores e intérpretes, propiciando o estabelecimento de uma
rede de sociabilidades” (BUSCACIO, 2009, p.147). Dada a grande semelhança dos parâmetros
descritos por Buscacio com informações encontradas nas cartas trocadas entre Lange e Santoro,
transpusemos o modelo de reflexão do autor para descrever o cruzamento de interesses também
presente na correspondência entre Lange e Santoro.
6
Carta enviada por Cláudio Santoro a Curt Lange em 22 de outubro de 1942.
7
Carta enviada por Cláudio Santoro a Curt Lange em 7 de junho de 1942.
8
Carta enviada por Curt Lange a Cláudio Santoro em 4 de março de 1942.
51
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Resumo: este trabalho analisa alguns reflexos dos ideários nacionalista e modernista em
duas obras da historiografia musical brasileira: o compêndio História da Música Brasileira
(KIEFER, 1997) e O Coro dos Contrários (WISNIK. 1977). O objetivo é elucidar como os
critérios daqueles ideários conformaram os objetos e abordagens daqueles livros. Após uma
breve exposição sobre as práticas musicais em São Paulo concluo que, ao privilegiar um tipo
particular de Obra e de Compositor, aqueles ideários contribuíram para a inviabilidade de
mulheres e imigrantes, atores históricos decisivos na música da Belle Époque paulistana.
Women and immigrants: historical invisibilities e the serious musical practices on São Paulo’s
Belle Époque.
Abstract: This paper examines some consequences of nationalist and modernist ideas in two
works of Brazilian musical historiography: the compendium Historia da Música Brasileira
(KIEFER, 1997), and O Coro dos Contrários (WISNIK, 1977). The goal is to elucidate how the
criteria of those ideals shaped those books’ objects and approaches. After a short exposition
of the musical practices at São Paulo, I conclude that, by favoring the creation of a particular
type of Work and Composer, those ideals contributed to the invisibility of women and
immigrants, crucial historical actors in São Paulo’s Belle Époque music.
educava e “o melodismo fácil das óperas italianas” era substituído pela música
alemã (idem, 72). Ele não só ecoa opiniões já em voga no século XIX como também
as subscreve. Veja-se por exemplo sua opinião sobre a produção erudita de
Henrique Alves de Mesquita (1830-1906): suas óperas e aberturas “a julgar pelo que
se encontra gravado [...] pode ser perfeitamente esquecida pela história” (idem, 104).
Wisnik assume a mesma postura, trocando o modelo do compositor
artesão pelo vanguardista, pesquisador de novos técnicas de composição. Assim, no
quarto capítulo d’O Coro dos Contrários, ele coloca em paralelo as soluções para
“crise do sistema tonal” desenvolvidas por alguns dos expoentes das vanguardas
europeias1 àquelas desenvolvidas por Heitor Villa-Lobos. Postas ao microscópio, as
obras de Villa serão julgadas por suas qualidades artesanais e estéticas em relação
à superação daquela crise. O nacionalismo nesta metodologia modernista, que
valoriza a renovação técnico-estética revela-se como a identificação de um certo
grau de originalidade e autonomia a serem “afirmados e provados a respeito das
características, expressividade e estilo da música brasileira” (VOLPE, 2001: 14). O
nacionalismo de Wisnik está na busca pela originalidade de Villa-Lobos em relação à
crise da tonalidade.
Não pretendo refutar a validade ou correção das conclusões dos trabalhos
acima citados. Mesmo porque isto demonstraria minha pretensão em substituir uma
história subjetiva, e portanto falsa, por uma outra objetiva e autêntica, logo
verdadeira. Mas, como ensina Wegman, a realidade histórica não pode ser
objetivamente conhecida pois, enquanto “entidade metafísica”, ela “não pode ser
empiricamente conhecida [...] apenas postulada – isto é, novamente criada (2003:
137). Ainda assim, é importante identificar algumas das consequências que este
ideário nacional-modernista produziu. Entre elas está a desvalorização simplista da
importação da cultura musical europeia. E Bruno Kiefer, que abraçou abertamente a
“autoafirmação nacional em termos de música” (1997: 7) faz algumas menções algo
desabonadoras a vários compositores brasileiros. Para ele, Leopoldo Miguez “não
trouxe a menor contribuição para uma música de características brasileiras. A rigor
não foi criador” (idem, 126); Henrique Oswald compusera música “sedutora, mas, ao
mesmo tempo, desenraizada. Falta-lhe a força da terra” (idem, 129) e continua: “[...]
não foi uma personalidade criadora. Sentimos nele um músico deveras excepcional
[...]. Para compor, necessita de determinadas premissas estéticas, criadas por
outros” (idem, 130). Quanto à Glauco Velasquez, uma ou outra obra sua teria
“condições de resistir ao tempo, graças à força e o talento do autor; por razões de
autoafirmação nacional em termos de música certamente não será.” (idem: 136).
53
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3. Conclusão
Referências
Notas
1
São eles: Eric Satie, Arnold Schoenberg, Claude Debussy, Darius Milhaud, Anton Webern, Igor
Stravisnky e Béla Bartók.
2
A lista consta indistintamente como “Souza Lima”. Mas, nesta época, José Augusto de Souza Lima,
irmão mais velho de João de Souza Lima, já era músico renomado em São Paulo.
3
Convém notar que já no segundo ano a unidade conferência/concerto deixou de ser norma. Assim
as reuniões poderiam ter uma ou outra atividade; ou mesmo nenhuma no caso de alguns espetáculos
teatrais ou óperas.
4
As minutas dos programas das reuniões foram compiladas por Ângelo (1998, 259-269).
57
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Romualdo Suriani (1880-1943): musical activity of italian conductor in Curitiba, between 1912-
1940
Abstract: This article presents considerations about the performance of Italian conductor
Romualdo Suriani in Curitiba-PR, making general notes about the different activities performed
by the musician between 1912 - 1940. Given the scarcity of material on the subject, this
preliminary research has as main sources of local research journals, as well as bibliographies
that deal with the social and cultural reality of the city in the first half of the twentieth century.
Keywords: Romualdo Suriani. Military Band of State. Sociedade Sinfônica de Curitiba.
1. Considerações preliminares
A presente abordagem se justifica pelo fato de contribuir para com o
mapeamento da produção musical realizada em Curitiba, ao longo das primeiras
décadas do século XX, período significativo para o desenvolvimento dos espaços de
sociabilidades musicais. Do mesmo modo, auxilia no processo de verificação da
produção musical na cidade, apresentando obras que, em parte, buscaram justificar
os contextos ideológicos e políticos na capital, no momento de instauração do ideário
que tinha por objetivo valorizar a identidade regional do Paraná, conhecido como
Paranismo 1.
Em relação à prática musical desta corrente ideológica, ainda que não
haja trabalhos aprofundados sobre esta temática, sabe-se que esteve em pauta ao
longo das décadas de 1920 a 1940, buscando justificar e criar um público apreciador
alinhado à estética ambicionada pelos envolvidos no movimento, tal como o músico
e maestro italiano Romualdo Suriani (1880-1943). Entusiasta desta corrente, se
inseriu no cenário musical paranaense por meio de sua produção musical, de sua
prática musical como maestro da Banda da Força Militar do Estado, do mesmo modo
aliado ao seu trabalho de animador cultural e de divulgação da obra do compositor
Carlos Gomes.
Dada a escassez de documentação que aprofunde a análise sobre
Romualdo Suriani, neste trabalho são realizados apontamentos gerais sobre sua
58
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trajetória em Curitiba, desde sua chegada, em 1912 até o início da década de 1940,
período no qual se manteve ativo na capital paranaense. Compreender esta
personagem, procurando delinear aspectos de sua trajetória social e artística,
possibilita levantar características gerais visando a considerações sobre uma
musicologia local, que, mesmo não isolada, relaciona-se a um contexto político e
ideológico específicos de afirmação da identidade local.
A temática abordada neste artigo está inserida no contexto do grupo de
pesquisa UFPR/CNPq, intitulado Música Brasileira: estrutura e estilo, cultura e
sociedade, na linha Musicologia histórica: sociedades civis vinculadas à Música no
Paraná, séculos XX.
2
músicos formados nos diferentes instrumentos pelo maestro Leo Kessler (1882-
1924) e Antônio Melillo (1900-1966) no Conservatório de Música do Paraná (a partir
de 1916).
A única referência localizada até o momento que aborda a criação da
SSC afirma que “em 1930, Romualdo Suriani, então mestre da Banda de Música da
Força [Militar] do Estado, transformou-a em uma verdadeira banda sinfônica, criando
na ocasião a Sociedade Sinfônica de Curitiba”. Ao que tudo indica, ele uniu
instrumentistas de sopro e percussão que tinha à disposição na banda militar e
agregou músicos externos para formar a família das cordas, incluindo alunos
formados pelo Conservatório de Leo Kessler, que a esta época era dirigido por
Antônio Melillo, também colaborador da Sociedade Sinfônica de Curitiba. O concerto
inaugural da SSC foi realizado a 10 de maio de 1930, no Teatro Guaíra.
A primeira matéria jornalística localizada abordando a fundação da
Sociedade Sinfônica de Curitiba é datada de 29 de abril de 1930, entretanto não são
apresentados maiores detalhes sobre a criação deste grupo orquestral. O que se
verificou na notícia é atuação em conjunto dos maestros Romualdo Suriani, Ludovico
Seyer e Antônio Melillo, assim como o considerado “nivelamento cultural” da cidade
de Curitiba com as demais capitais brasileiras, a partir da consolidação desta
orquestra.
Este concerto é também o primeiro da Sociedade Sinfônica de Concertos,
recém organizada pelos músicos Antônio Melillo, Ludovico Seyer e
Romualdo Suriani, os quais têm a sua direção. É de esperar que o
adiantado público de Curitiba corresponda a tão nobre empreendimento, já
porque os seus organizadores só por si constituem uma verdadeira
garantia. Porque irá colocá-la em plano igual às demais capitais do Brasil.
(IN Gazeta do Povo, 29 de abril de 1930. Divisão de Documentação
Paranaense, Biblioteca Pública do Paraná)
3. Considerações finais
A música em Curitiba, nas primeiras décadas do século XX, era
disseminada de maneira heterogênea e vivenciada por um público heterogêneo,
devido à ausência de prática cultural solidamente constituída. Este quadro fazia com
que a vida musical na capital paranaense se movimentasse de maneira eclética,
originando diferentes espaços de sociabilidades para a apreciação da música,
verificáveis nas práticas musicais dos cineteatros, nos recitais realizados pelas
sociedades e clubes musicais, mesmo nos eventos de maior porte oferecidos pelo
maestro Romualdo Suriani à frente da Banda da Força Militar do Estado, ao longo
das décadas de 1910, 1920 e 1930.
Este levantamento preliminar sobre esta personagem relevante do ponto
de vista sócio cultural na capital paranaense, pode contribuir para o mapeamento
mais aprofundado das práticas musicais em Curitiba ao longo do século XX,
colaborando na verificação dos espaços de sociabilidade musicais locais, do
repertório disseminado, da reprodução e da fruição musical, bem como, por fim, das
63
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências
COSTA, Marta Morais. Curitiba, Teatro e Euforia, 1927. Revista Letras, Curitiba,
n°39, p.21-45, 1990.
Diogo Lefèvre
IA-UNESP (Grupo de Pesquisa: Teorias da Música – e-mail: diogolefevre@ig.com.brl
Resumo: Este artigo aborda Ode a Benedito, de Álvares, baseada em texto de Penna. A
análise de uma peça musical composta a partir de um poema envolve um exame da estrutura
musical e do texto literário. Escritos de Motte, Lewin e Danuser reforçam tal opinião. A partir
de conceitos de teoria literária (definidos por Goldstein e Tavares) e musical (definidos por
Forte e Oliveira) se demonstra que o compositor foi sensível à seleção de palavras realizada
pela poetisa e cuidou da estrutura musical através de relações motívicas e intervalares.
Abstract: This paper approaches Ode a Benedito by Álvares, based on a text by Penna. The
analysis of a musical piece composed taking a poem as a point of departure includes an
examination of the musical structure and of the literary text. Writing of Motte, Lewin and
Danuser supports this opinion. Concepts of literary and musical theory (as explained by
Goldstein and Tavares, Forte and Oliveira) help to prove that the composer was sensitive to
the words selection made by the poetess and cared about the musical structure by means of
motivic and intervallic relationships.
1. Introdução
rítmico-métricos empregados pela linha vocal daquela canção (Saget mir). Hermann
Danuser (2004: p. 357-365), ao enfocar a peça Soupir de Ravel, mostra relação
entre a sintaxe peculiar do poema de Mallarmé e a maneira como Ravel realiza a
escrita instrumental de sua composição, de maneira que um período extremamente
extenso do poema conserva certa unidade sonora em sua versão musical através de
um ostinato igualmente duradouro.
Ode a Benedito
Seu corpo, Benedito, é o corpo mais bonito!
E que olhos, que olhos!
Meu Deus, os olhos de Benedito!
Às vezes ficam verdes!
O nariz de Benedito!
A boca de Benedito!
O pescoço, o colo,
as toleimas, as tiróides,
as meias de Benedito
enternecem a quem quer que as veja!
Os pés de Benedito!
São feios, mas que falanges!
Que falácia essa ode que [por hora] a ti ofereço, meu
Benedito,
quando tu és o corpo mais bonito!
O título de “Ode” se justifica pela atitude de exaltação do eu-lírico diante
de Benedito. Tal atitude se verifica, por exemplo, pela pontuação: o poema não faz
uso do ponto final, contém apenas exclamações. O louvor a Benedito também se
manifesta pela enumeração das partes de seu corpo: os olhos, o nariz, o pescoço, o
colo. Ao se prosseguir o exame do nível lexical do poema, ou seja, verificar “de quais
palavras ele se compõe, [...] quais as categorias gramaticais presentes no poema,
qual delas predomina e como são empregadas no texto” (GOLDSTEIN: 2001, p. 60),
pode se constatar que, para um texto laudatório, a quantidade de adjetivos
empregados é relativamente pequena. Se o primeiro adjetivo que aparece no texto
inicia a glorificação característica do poema, ao dizer que o corpo de Benedito “é o
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SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
corpo mais bonito”, por outro lado o eu-lírico atribui aos pés de Benedito a
característica oposta, ao dizer que eles “são feios”. O contraste entre esses dois
termos beira ao oxímoron: “a ligação entre duas ideias ou pensamentos, que, na
realidade se excluem” (TAVARES, 1991: p. 347). Além disso, causa estranheza que
os pés de Benedito não sejam belos, quando antes se afirmou que as suas meias
“enternecem a quem quer que as veja!”.
Em sua composição, Eduardo Guimarães Álvares valoriza a surpresa
causada pelo adjetivo “feios”, colocando grande ênfase nos “pés de Benedito” e
fazendo com que o momento no qual se pronuncia o referido termo soe como um
anticlímax. Assim, a cantora por duas vezes diz “Os Pés”, na primeira vez
empregando a voz falada e na segunda iniciando uma frase cantada que atinge a
mais longa e mais aguda nota vocal da Ode a Benedito até esse ponto, o Mi bemol
(ver Figura 2). Tal nota soa ao mesmo tempo em que todos os instrumentos que
participam dessa peça (clarinete em mi bemol, trombone e percussão) executam
frases formadas por notas rápidas, ao mesmo tempo utilizando grande extensão do
campo de tessitura. A densidade da escrita instrumental dessa passagem também
se reflete no aspecto harmônico, pois a reunião das classes de altura executadas
pela voz e pelos instrumentos nesse compasso 168 resulta no total cromático.
Quando no compasso seguinte se canta “são feios” todos os instrumentos silenciam,
gerando o já mencionado anticlímax. Aqui é necessário um parêntese para explicar o
conceito de classes de altura. Quando se fala em classe de altura, está se referindo
a uma nota independentemente da oitava em que ocorre e ao mesmo tempo, para
fins analíticos, notas enarmônicas estão sendo consideradas como pertencentes a
uma mesma classe de equivalência, de maneira que
“Mi sustenido seja o mesmo que Fá ou Sol dobrado bemol, por exemplo. [...]
Como consequência da equivalência de oitava e da equivalência
enarmônica qualquer altura [do sistema temperado] pertence a uma e
apenas uma de 12 classes de altura distintas” (FORTE, 1973: p. 2).
3. Conclusão
Referências:
FORTE, Allen. The Structure of Atonal Music. New Haven and London: Yale
University Press, 1973.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, Sons, Ritmos. 13ª Edição. São Paulo: Editora Ática,
2001.
LEWIN, David. Studies in Music with Text. New York: Oxford University Press, 2006.
OLIVEIRA, João Pedro Paiva de. Teoria Analítica da Música do Século XX. 2a
Edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2007.
PENNA, Alícia Duarte; VITORINO, Júlio Cesar. Duo Terno e Gravata. Belo
Horizonte: [s.n.], 198?.
TAVARES, Hênio Último da Cunha. Teoria Literária. 10a Edição. Belo Horizonte: Villa
Rica Editoras Reunidas, 1991.
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Figura 1: Compassos 146-148 da obra Pétala Petulância de Eduardo Guimarães Álvares (movimento
Ode a Benedito).
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Figura 2: Compassos 165-172 da obra Pétala Petulância de Eduardo Guimarães Álvares (movimento
Ode a Benedito).
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Figura 3: Compassos 175-179 da obra Pétala Petulância de Eduardo Guimarães Álvares (movimento
Ode a Benedito).
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Resumo: o presente ensaio propõe uma análise estética e formal da obra Opus 11/3
(1914) de Anton Webern (1883-1945) sob a ótica da Momentform encontrada em obras
como Kontakte (1958-60) de Karlheinz Stockhausen – conceito e peça elaborados na
década de 1950 pelo mesmo.
Abstract: the following essay presents a formal and aesthetic analysis of Anton
Webern’s Opus 11/3 (1914) through Karlheinz Stockhausen’s Momentform theory, which
can be found in works such as Kontakte (1958-60) – both piece and concept developed
during the 1950s.
1. Problemática
1
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Figura 2. Klavierstück IX
2
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2. Momentform
Isto tudo não surgiu somente de um insight do compositor. Esta é uma tendência
que vem se desenvolvendo desde o período romântico tardio até Stockhausen:
Debussy (1862-1918) com a expansão temporal utilizada em La mer, Wagner (1813-
1883) em Parsifal, Schönberg (1874-1951) em Moses und Aron, assim como o
próprio Webern – mesmo em suas miniaturas. A reflexão gerada por estes
compositores, além de muitos outros, levou a um imenso desenvolvimento da
temporalidade atingindo seu cume com a forma-momento de Stockhausen,
principalmente na obra Kontakte de 1958-60. Richard Toop (2005) define
Momentform como uma forma de escuta que se concentra no presente, no agora,
sem necessariamente criar materiais sonoros que dependam de um antes ou que
indiquem um depois. Ainda segundo Toop, na forma-momento existe uma
3
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[Karel] Goeyvaerts e eu tocamos sua sonata para piano. [...] A peça foi
violentamente atacada por Theodor Adorno. [...] Ele criticou essa peça (...)
dizendo que era absurda [...]. Adorno não a entendia de maneira alguma.
Ele disse, não há trabalho motívico. Então eu levantei [...] e defendi esta
peça [...]. Eu disse, mas Professor, você está procurando por uma galinha
em uma pintura abstrata. (STOCKHAUSEN, 2000: 36)
4
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3. Análise
A seguinte análise pretende realizar uma leitura do opus 11/3 usando como
filtro/ferramenta analítica as teorias de Stockhausen sobre momentform. Importante
frisar que o objetivo aqui não é de localizar similaridades técnicas e/ou gestuais
simplesmente, mas sim de verificar que a teoria por trás de Kontakte acha vida em
outros contextos também.
A primeira estratégia de análise deste ensaio foi de explorar o opus 11/3
enquanto excerto de Kontakte; ou seja, buscar na obra elementos fundamentais à
teoria da momentform. Em uma análise elementar desta peça, pode-se chegar a
seguinte conclusão: o primeiro “momento” (compassos 1-3) apresenta um envelope
dinâmico acentuado no início e seguido de uma cauda de ressonância. O segundo
momento (compassos 3-6) é um pequeno discurso contrapontístico, enquanto que o
terceiro (compassos 7-10) possui uma característica mais espectral: violoncelo
ressoa harmônicos de um material oriundo do piano. O silêncio entre cada momento
colabora para que o ouvinte segmente o trecho como três ideias distintas (Figura 4).
5
77
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Emprestando o jargão da set theory (teoria dos conjuntos), a ilustração acima aponta
relações intervalares e tendências gestuais muito semelhantes e simétricas no
contexto global. Momento I e III, por exemplo, apresentam uma certa característica
comum separadas apenas pelo Momento II, esta enquanto estrutura contrastante.
Verifiquemos agora, em uma investigação mais comparativa, dois momentos
simultaneamente – um do opus 11/3 e outro de Kontakte (Figura 6).
6
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7
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Novamente, o intuito aqui não é decifrar algum tipo de mensagem comum a ambas
peças, assim como funcionam os Códigos do Torá (mensagens ocultas
supostamente inseridas na bíblia). Não, a concepção desta análise é a de entender
a momentform enquanto um conceito mais amplo, não restrito à obra de
Stockhausen somente e sim como um posicionamento, uma atitude, que possa
ressoar com obras de muitos outros compositores.
4. Conclusão
8
80
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Referências
TOOP, Richard. Six Lectures from the Stockhausen Courses Kurten 2002. Kurten:
Stockhausen-Verlag, 2005.
9
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Resumo: Com este trabalho, através de elementos musicais relevantes que pudessem ser
comparados entre si, teve-se a intenção de mostrar as referências feitas à obra de J. S. Bach,
à estética barroca e à música popular do Brasil do início do século XX presente na Bachianas
1
Brasileiras n. 4, de Heitor Villa-Lobos. Para isso, esta pesquisa foi baseada em conceitos e
definições da intertextualidade atrelada a estudos tradicionais de análise musical. Após sua
concretização, constatou-se a presença de uma citação literal de outra obra composta pelo
próprio Villa-Lobos: a canção Itabaiana que está presente no terceiro movimento, Ária
(Cantiga).
Abstract: Through relevant musical elements that could be compared, had become intent
showing references to the work of J. S. Bach, the Baroque aesthetic and popular music of
Brazil from the early twentieth century on the Bachianas Brasileiras no. 4, Heitor Villa-Lobos.
To this end, this research was based on intertextuality concepts linked to traditional studies of
musical analysis. After their completion, the presence of a literal citation from another work
composed by Villa-Lobos was noted: the Itabaiana song that is present in the third movement,
Ária (Cantiga).
Sobre citação, Gouvêa (2007: 60-62) afirma que ela é uma das formas de
intertextualidade. Ela traz um trecho, ou mesmo trechos, de outros textos
incorporados ao novo texto. Tais trechos podem ou não ser cópias literais; em geral,
as citações tendem a levar o receptor do novo texto a se reportar ao anterior, caso
este conheça. Para Zani (2003: 123), “a citação firma-se por mostrar a relação
discursiva explicitamente e todo o discurso citado é, basicamente, um elemento
dentro de outro já existente”. Ou seja, a citação é uma maneira evidente de
intertextualidade. Entretanto, uma consideração importante de Sant'Anna deve ser
aproveitada: a intertextualidade é um fenômeno que depende do receptor (leitor,
ouvinte ou apreciador). Se o receptor não tiver a informação a priori, não
reconhecerá o texto original; logo, não poderá apreciar um recurso intertextual como
tal (NOGUEIRA, 2003: 4). Todavia, nessa peça, nota-se algumas peculiaridades em
relação aos elementos extramusicais que corroboram para a percepção dessa
intertextualidade. O nome do movimento, Ária (Cantiga), tem relação com o que, de
fato, o movimento é: uma cantiga, Ó mana deix’eu ir, disposta em forma de ária da
capo4. Outro aspecto a se ressaltar é para quem esse movimento foi dedicado; todos
os movimentos da versão original5 da Bachianas Brasileiras n.4 são para piano e
foram dedicados a pianistas; entretanto, esse movimento que faz referência a uma
canção, embora seja para piano, é o único que fora dedicado a um cantor, Sylvio
Salema.
Referências
1
Este artigo é excerto da minha dissertação de mestrado: Bachianas Brasileiras n.4, de Heitor Villa-
Lobos: um estudo de intertextualidade.
2
Ou Itabayana, como está no manuscrito de autoria não identificada fornecido, gentilmente, pelo
Museu Villa-Lobos. O manuscrito é dedicado a Sylvio Salema, assim como o terceiro movimento da
Bachianas Brasileiras n.4. Entretanto, Nóbrega (1976, p.73) informa que José Vieira Brandão tem
uma peça coral também denominada Itabaiana e baseada no mesmo tema Ó mana deix’eu ir. Apesar
da insistente procura, não foi encontrada nenhuma versão impressa de Itabaiana durante a realização
desta pesquisa.
3
Na pesquisa feita, não foram encontrados registros dessa canção anteriores a Villa-Lobos.
Posteriormente, entretanto, Ó mana deix’eu ir também é conhecida pelo nome de Caicó- (Cantiga)
devido a uma gravação no CD Sentinela de Milton Nascimento em 1980 e depois regravada pela
dupla Pena Branca e Xavantinho e também por Ney Matogrosso. Além disso, há a utilização do refrão
de Ó mana deix’eu ir pelo cantor e compositor pernambucano Alceu Valença na canção Porto da
Saudade de 1981 e esse mesmo refrão reaparece em uma canção interpretada por dois grupos de
forró, um cearense e outro baiano, intitulada Forrobodó, na qual introduzem esse refrão numa
espécie de “algo comum” que dá familiaridade ao regionalismo da canção.
4
Forma musical de ária em que há uma seção A, uma seção B contrastante e a repetição de A.
5
Posteriormente, em 1942, o próprio Villa-Lobos a orquestrou.
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Diego Borges
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) - carta.social@yahoo.com.br
nota “tem” uma quinta e uma terça (relação ascendente) ou se ela “é” uma quinta e
uma terça (relação descendente). Arthur von Oettingen cria nova terminologia para
ressaltar a simetria entre os modos. Em Harmoniesystem in dualer Entwicklung
(1866), Oettingen desenvolve um princípio “dual” para a harmonia: a propriedade de
se ter uma nota fundamental comum (Tonicität) é contrastada com a propriedade de
se ter um harmônico comum (Phonicität). Este princípio é estendido a escalas e
funções harmônicas, as quais são inspiração para o próximo e mais conhecido
dualista. Hugo Riemann, em obras como Musikalische Logik (1874) e Natur der
Harmonik (1882), entre outras (cf. MICKELSEN, 1977, p.26-27), se apropria,
desenvolve ou reforma muitos dos conceitos anteriores, com destaque para a série
de subtons, baseada em múltiplos da corda.
Outros teóricos se aventuraram nos caminhos do dualismo: no âmbito
austro-germânico, após Riemann, destacam-se nomes como Sigfrid Kar-Elert,
Hermann Erpf e Sven Emanuel Svensson. Na França, o dualismo foi abordado por
autores de prestígio como Vincent d’Indy e Edmond Costère. No Cours de
Composition Musicale (1912), D’Indy trata do conceito dual de résonnance
supérieure et inférieure estendendo-o até a harmonia. Costère levou o princípio de
inversão de D’Indy para a microtonalidade em Lois et Styles des Harmonies
Musicales (1954).
De forma geral, críticas dirigidas ao dualismo estão relacionadas ao
questionamento da necessidade de validação científica para a música, à validade
acústica dos subtons, à estruturação descendente da harmonia menor, a dúvida
quanto ao título de “dualista” dado a alguns teóricos, como Zarlino e Hauptmann, e
também ao distanciamento da prática musical. Os dualistas são acusados de forçar
uma explicação natural para a harmonia menor, recorrendo a combinações
arbitrárias. Tais críticas estão ligadas à forte ideia do baixo fundamental de Rameau
como único gerador da harmonia “natural”, fazendo com que alguns dualistas
mantenham a fundamental sobre a nota mais grave mesmo na harmonia menor, e
causando discrepâncias de interpretação por parte dos monistas.
Mais recentemente, pesquisadores se propuseram a estudar, resumir,
criticar ou reforçar o dualismo harmônico. Dentre eles, incluem-se os trabalhos de
Bernstein (1993; 2006), Harrison (1994), Riley (2004), Klumpenhouwer (2006; 2011),
Rehding (2011) e Tymoczko (2011). Alguns abordam aspectos do dualismo em
pesquisas específicas sobre algum teórico, tais como Burnham (1992) e Mooney
(2000) sobre Riemann, Clark (2001) sobre Oettingen, e Moshaver (2009) sobre
Hauptmann. No Brasil, o tema perpassa trabalhos como o de Ramires (2001) sobre
Costère, Bittencourt (2009) e Taddei (2012) sobre Riemann, Freitas (2010) sobre
harmonia e Barros (2005) sobre Ernst Mahle.
90
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Referências:
FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Que acorde ponho aqui? Harmonia, práticas
teóricas e o estudo de planos tonais em música popular. São Paulo, 2010. Tese
(Doutorado em Música). Unicamp.
HAUPTMANN, Moritz. Harmony and metre. Londres: Swan Sonnenschein & Co.,
1888.
INDY, Vincent d'. Cours de Composition Musicale. 5. ed. Paris: A. Durand et Fils,
1912.
SNYDER, John. L. Harmonic dualism and the origin of the minor triad. Indiana
Theory Review, Indiana, v. 4, p. 45-78, 1980.
Jônatas Manzolli
jotamanzo@gmail.com
Introdução.
1
95
1. Referência Teórica
Chemillier (2001) afirma que nos fins dos anos sessenta Ligeti
desenvolve uma técnica de escritura que se assemelha a estruturas próprias da
biologia, da física molecular e da matematicamente que descrevem a
evolução, multiplicação ou geração de formas por processos iterativos. Bader
(2003) já relaciona-a com a Teoria dos Fractais e com a música Amadinda
africana, além da influência dos compositores de música minimalista como
Steve Reich e Terry Riley. De forma complementar, a abordagem de
Clendinning (1993) parte do ponto de vista de que essa escritura parte do
processo que é definido como “pattern-meccanico-goup” ou “grupos de padrões
mecânicos”, que surgiu a partir das experiências de Ligeti na infância com sons
de tique-taques de relógios.
Chemillier (2001) ao descrever a escritura textural de Ligeti relaciona-a
com a textura de alguns vegetais. Para esse autor, a textura dos musgos e dos
96
líquens são bastante homogêneas, mas não são tão regulares quanto a
texturas dos cristais. Essas texturas são repletas de pequenas asperezas e
acidentes que se destacam em um contexto indiferenciável.
Em Bader (2003), esse conceito é derivado de uma estrutura rítmica
básica rápida (Grundschicht) reiterada numa sequência de pulsos regulares
não contados, mas apenas sentidos. Essa construção textural propicia a
percepção de uma camada emergente a qual é gerada por processos
assimétricos. Esses processos são reiterados em longas durações que variam
no tempo e possuem valores várias vezes menores que os do pulso. Já para
Clendinning (1993) as massas sonoras criadas por Ligeti são provenientes de
um efeito de superposição de camadas de elementos que são tratados
independentemente e nas quais nenhuma delas se destaca, há um processo
de iteração que gera micro-cânones entre as partes das camadas. Um quarto
ponto de vista é o de Roig-Francolí (1995) que expande a noção da escritura
textural de Ligeti em direção ao conceito de “net-structures”, ou estrutura de
teias.
2. Modelo Computacional
controlados pelo músico executante. Também observa que ruídos ou sons com
longas durações tendem a desaparecer da consciência do ouvinte e percebidos
novamente quando são modificados, transformados ou alocados em
terminações no discurso musical. Reside aí a justificativa da necessidade do
uso dessas simulações computacionais também para propiciar a elaboração
dos cortes ou transições dos agregados com o objetivo de proporcionar uma
escuta reiterada ao refinar-se a elaboração do material textural.
Assim, o que estamos desenvolvendo é a categorização dos elementos
da estrutura musical textural para criar funções e relações. Em seguida,
realizamos e dispomos o material sonoro através de simulações
computacionais que se utilizam de processos estocásticos2 para a escolha e
construção desses agregados sonoros, como também, sua disposição no
espaço-tempo.
2
Processos estocásticos são aqueles que têm origem em eventos não determinísticos, com origem
em eventos aleatórios.
99
A B
010 011101
10001011 000110
1110 10110
101000 1110001
00010100
11
1110100
000
0
Tabela 1: disparos realizados pelo patch demonstrado na Figura 1.
Figura 4: ferramenta responsável pela geração das camadas que irá compor o agregado rítmico.
3. Resultados e Discussão
Conclusão:
103
REFERÊNCIAS
BADER, Rolf. Berechnung Fraktaler Strukturen in den Etüden für Klavier von György
Ligeti. Musikwissenschaftliches Institut Hamburg. Hamburg. 2003.
HOFSTADTER, Douglas R. Gödel, Escher, Bach: an Eternal Golden Braid. New York:
Baic Books, 1999.
Resumo: O objetivo desse estudo é analisar e categorizar os gestos não verbais utilizados pelos
músicos durante uma performance de improvisação livre coletiva. Para tanto, buscamos
parametrizar níveis de “liberdade criativa” a serem utilizados durante o momento da
performance. A metodologia basea-se na formação de grupos de improvisação, onde as
performances serão gravados no formato de áudio e vídeo para posterior análise. Entrevistas
semiestruturadas ainda serão feitas com os músicos e comparadas com as gravações. A
categorização dos gestos não verbais utilizados na performance foram baseados nas definições de
Davidson e Salgado Correia (2002), sendo: Regulatório, Emblemático/Ilustrativo, Adaptativo e
Demonstrativo.
Abstract: The goal of this study is to analyze and categorize the non-verbal gestures used by musicians
during a performance of free collective improvisation. For this, we will attempt to parameterize levels
of “creative freedom” to be used during the moment of the performance. The methodology is based on
the formation of improvisation groups, where the performances will be recorded in audio and video
format for later analysis. Semi-structured interviews will be held with the musicians and analyzed
together with the recordings. The categorization of the non-verbal gestures used in performance is based
on the definitions from Davidson and Salgado Correia (2002): Regulatory, Emblematic/Illustrative,
Adaptive, and Demonstrative.
1. Introdução
para usá-la ou não numa sessão de improvisação. O performer ainda pode buscar
novos sons, gestos musicais e técnicas que estão fora da sua zona de conforto
musical (BORGO, 2002).
Esta improvisação, classificada como idiomática ou livre, é geralmente
relacionada a uma prática musical de criação espontânea. Na improvisação livre, o
processo sinérgico realizado entre os músicos no momento da performance
vinculado a ausência de parâmetros pré-estabelecidos gera analogamente a obra
como sendo o “resultado” musical durante todo o período em que o processo esteja
acontecendo (BAILEY, 1992; BORGO, 2002; MENEZES, 2010). Logo, a obra
musical torna-se “sinônimo” do processo e não o contrário.
Intérpretes com vários e diferentes backgrounds musicais podem se juntar
e realizar uma improvisação livre, pois não existe a necessidade de conhecerem um
idioma em comum como uma partitura “tradicional”, por exemplo. (BAILEY, 1992)
A improvisação livre pode ser dirigida de várias maneiras. Os parâmetros
aqui são pensados em mensagens ou estímulos para delimitar os níveis de
“controle” do processo, vindo de fontes externas ou internas. Por esse tipo de
“controle”, relacionam-se diversos e diferentes estímulos para os intérpretes no
momento da improvisação. Nesta pesquisa, os controles são divididos da seguinte
forma:
a) controle estimulo externo (CEE): imagens, símbolos, gestos
vindo dos próprios músicos ou mesmo de uma pessoa que não
esteja tocando;
b) controle estímulo interno (CEI): formas pré-estabelecidas
e/ou regras especificas dizendo o que pode ou não pode ser
feito.
2. Materiais e Métodos
3. Resultados e Discussões
4. Conclusões
Referências:
BAILEY, D. Improvisation: Its Nature and Practice in Music. United Kingdom: The
British Library National Sound Archive, 1992. 146p.
BERLINER, P.F. Thinking in Jazz: The Infinite Art of Improvisation. Chicago and
London: The University of Chicago Press, 1994. Pp.883
110
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
HALL, T. Free Improvisation: A Practical Guide. Boston, Ma: Bee Boy Press, 2009.
COMPOSIÇÃO
Referências
Boulez, Pierre. A música hoje 2. trad. Geraldo Gerson de Souza. São Paulo
Perspectiva: 1992.
_____. The new music: the avant-garde since 1945. Bristol: Oxford University
Press, 1984.
Gregg, Vernon. Memória humana. Trad.: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar,
1976.
Rosen, Charles. The Classical Style. 2ed. London: Faben and Faben, 1990.
Tenney, James. Meta Hodos and Meta Meta Hodos. 2ed. Oakland: Frog Peak
Music, 1988.
MODALIDADE: MUSICOLOGIA
Mónica Vermes
UFES / IA-Unesp / CNPq – mvermes@gmail.com
Resumo: A intensa vida cultural do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o século XX
tinha os teatros como um de seus espaços principais. A tradição da historiografia musical
brasileira, que trata música erudita e música popular como entidades isoladas, tem registrado
as atividades musicais desenvolvidas nos teatros cariocas desse período de forma parcial. O
projeto aqui apresentado propõe um levantamento do repertório musical praticado nos
principais teatros da cidade do Rio de Janeiro entre 1890 e 1920.
Music in the Theaters of Rio de Janeiro: repertoires, reception and cultural practices (1890-
1920)
Abstract: Theaters were one of the main venues of the intense cultural life of Rio de Janeiro
at the turn of the twentieth century. The traditional Brazilian musical historiography, dividing
the activities as either related to classical music or to popular music as isolated entities, has
recorded musical activities on Rio theaters’ of this period partially. The present project
proposes a survey of the musical repertoire performed in major theaters in the city of Rio de
Janeiro between 1890 and 1920.
Keywords: Rio de Janeiro – music, Rio de Janeiro – theaters, musical theater genres, cultural
practices.
O propósito inicial que deu origem ao projeto foi traçar um mapa da cena
musical carioca do corte cronológico estabelecido, que permanece como pano de
fundo que orienta a reflexão deste trabalho. Daí, que o assunto mais geral deste
projeto sejam as atividades musicais realizadas na cidade do Rio de Janeiro entre
1890 e 1920. Capital da recém-proclamada República, o Rio era palco de uma
atividade musical fervilhante e variada. Tais atividades tinham lugar em vários
espaços: teatros, clubes, residências, salões, cinemas e na rua. O repertório musical
incluía óperas italianas, modinhas, lundus, música de câmara, maxixes, sambas,
música sinfônica pautada nos moldes centro-europeus dos séculos XVIII e XIX,
vários gêneros de teatro musical. As personagens envolvidas nessas atividades
incluíam músicos profissionais e amadores, empresários, afinadores de piano,
professores de música, proprietários de estabelecimentos comerciais musicais,
editores de música, críticos, público. A movimentação das pessoas pela cidade e o
trânsito dos repertórios para além de seus espaços de origem ou destinos
preferenciais tornam essa rede musical complexa e interessante. A apreensão dessa
totalidade, das relações entre essas várias personagens, repertórios, práticas e
instituições, sujeitas ainda aos estímulos e choques com forças políticas,
econômicas e culturais mais gerais, exige uma abordagem que leve em
consideração essa polifonia e exige também recortes precisos que a tornem
abordável. Mas, como fazer esse recorte preciso de forma a não perder de vista a
dinâmica de trânsitos e trocas do conjunto?
Espírito Santo ao longo do século XIX. Esta obra, O Império do Divino: festas
religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900, serve-nos também como
referência metodológica, pelo tipo de fontes empregadas (literatura de ficção, jornais,
relatos de memorialistas, cronistas e folcloristas, documentos oficiais) e pelos
pressupostos, expressos nesta passagem:
Cabe ao historiador evidenciar o envolvimento dessas manifestações
[festivas das classes populares] com as lutas sociais mais amplas e com a
dinâmica entre o sentido por vezes comunitário das festas e as diferentes
versões, significados e apropriações dos seus variados participantes, seus
modos e tempos. Os modelos simplistas e dualistas de oposição entre
cultura popular e erudita ou entre cultura dos dominados e dominantes
devem ser revistos. (ABREU, 1999, p. 29)
Neste caso, escolhi os teatros da cidade do Rio de Janeiro como eixo
para o levantamento e análise de repertórios e práticas. Privilegiando um recorte por
espaço, ao invés de selecionar determinado gênero musical ou trajetória de um
indivíduo ou grupo, pretendemos observar a variedade de manifestações que tinha
lugar nesses espaços.
Referências:
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 Anos de Música no Brasil. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1956.
CERNICCHIARO, Vincenzo. Storia della Musica nel Brasile: dai tempi coloniali sino
ai nostri giorni. Milano: Fratelli Riccioni, 1926.
MARZANO, Andrea. “A magia dos palcos: o teatro no Rio de Janeiro no século XIX”
In MARZANO, Andrea & MELO, Victor Andrade de (Orgs.). Vida Divertida: histórias
do lazer no Rio de Janeiro (1830-1930). Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.
Notas
1
A partir de um levantamento inicial que tomou como referência os teatros listados no Anexo “Teatros do
Brasil” na Enciclopédia da Música Brasileira (Marcondes, 1998, p. 863), complementado a partir das
informações tomadas dos trabalhos de Andrea Marzano, particularmente o artigo “A magia dos palcos: o teatro
no Rio de Janeiro no século XIX” (2010), e do site “Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro”
http://www.ctac.gov.br/centrohistorico/bibliografia.asp?acao=A&, chegamos a esta versão final após consulta ao
recém-publicado Teatros do Rio de José Dias (2012).
123
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
2
Muitos destes teatros mudaram de nome (em alguns casos várias vezes) ao longo de sua existência.
Registramos aqui os nomes com que apareceram pela primeira vez dentro do período compreendido pelo projeto
(1890-1905).
3
Esta e as demais traduções são nossas.
124
Cultural and artistic aspects of Curitiba in the last decade of the nineteenth century:
1
a ) Grêmio Musical Carlos Gomes (1893-1902)
Abstract: This paper presents preliminary results of research related to the Grêmio Musical Carlos
Gomes (1893-1902) as regards primary sources of research, formed mainly by newspaper library:
periodicals edited by daily press organs then existing in Curitiba, PR, as the newspaper A República
or the Jornal do Commercio. Besides these, it was considered privileged way the contents of
scrapbook containing newspaper articles and various events programmes belonging to the maestro
Alberto Monteiro (1855-c. 1930). The research makes possible the drafting timeline, Grêmio's
Musical Carlos Gomes activities in Curitiba, starting series of articles related to this music-related
civilian agency in Paraná.
Keywords: Socio-cultural History. Grêmio Musical Carlos Gomes (GMCG). Curitiba (PR). Alberto
Monteiro. Civil entities musicals of Paraná.
Figura 2: Página de álbum do maestro Alberto Monteiro com programa de concerto sem identificação.
de estudos posteriores.
O álbum de recortes pertencente ao maestro Alberto Monteiro foi classificado por
três assuntos distintos: a) atividades do Grêmio Musical Carlos Gomes; b) atividades do
Grêmio Musical Orpheon Paranaense (fundado em 1906); e c) atividades profissionais
diversas desempenhadas pelo maestro, em especial, aquelas desenvolvidas ainda no
século XIX, entre 1891 a 1900. Tanto o item b quanto o item c serão abordados em outras
oportunidades.
Do acervo digital, seção Hemeroteca, da Biblioteca Nacional, além do jornal A
República e do Jornal do Commercio, foram consultados outros órgãos da imprensa de
Curitiba referentes aos últimos anos do século XIX, como o A Tribuna, o O Município, e o
Almanach do Paraná, entre outros. Nenhum desses periódicos se encontra digitalizado de
maneira regular e, portanto, foram consultados esporadicamente e quando houve a
necessidade de maiores esclarecimentos.
Figura 3: Fundadores do GMCG: (de cima para baixo, esquerda para direita) maestro Alberto
Monteiro, Álvaro Barbosa, Gabriel Monteiro, Antenor Monteiro, Alberto Leschaud, Frederico Lange,
Athanásio Leal, Augusto Stresser, Júlio Bellini, Belarmino Vieira, Annibal Requião, Gabriel Ribeiro.
Alguns dos eventos patrocinados pelo Grêmio Musical Carlos Gomes, como o
concerto dramático e baile para os feridos do conflito da Lapa, em 1893, no mesmo ano
de sua fundação, ou as exéquias realizadas por ocasião do falecimento do compositor
Carlos Gomes, em 1896, ou ainda a revista cômica e burlesca Lord Bung, também 1896,
angariaram elogios e, por vezes, críticas da imprensa local curitibana, conforme pode ser
observado nos periódicos da época:
Cronologia das atividades do Grêmio Musical Carlos Gomes entre 1893-1899 estabelecida em pesquisa
nos jornais A REPÚBLICA (em negrito), DIARIO DO COMMERCIO (em itálico) constantes na Hemeroteca
digital da Biblioteca Nacional e somadas aos PROGRAMAS DE CONCERTOS (em rubrica sublinhada e
indicada por números ordinais) e por REPORTAGENS SEM IDENTIFICAÇÃO (em rubrica sublinhada e
indicadas por CGXX-X) ambas constantes no álbum de recortes pertencente ao maestro Alberto d'Oliveira
Monteiro (período 1893-1899)
1893
09mai - fundação do GMCarlosGomes (artigo de Sebastião Paraná de 1923 com histórico GMCG)
07dez - 2 - Convite 07dez1893 - concerto GMCarlosGomes 10dez1893)
09dez - 1 - Convite 09dez1893 - concerto GMCarlosGomes 10dez1893
10dez - GMCarlosGomes - 1º concerto na Sociedade Saengerbund (artigo S.Paraná 1923 histórico GMCG)
10dez - 3 - Programa do concerto GMCarlosGomes 10dez1893 na Sociedade Saengerbund
1894
10fev - 4 - 20fev1894 (Reportagem concerto GMCarlosGomes) para vítimas da Revolução Federalista
22fev - GMCarlosGomes - Programa para os feridos da Lapa
25fev - 5 - Programa GMCarlosGomes 25fev1894 - para vítimas da Revolução Federalista
03mar - GMCarlosGomes - sarau dançante - Beneficio do maestro Adolpho Corradi
10mar - GMCarlosGomes - Oficio de donativos aos feridos da Lapa
01mai - 6 - Programa 01mai1894 (sem indicação local)
19ago - GMCarlosGomes - sarau musical íntimo [estréia de discípulos musicais]
20ago - 7 - Programa 20ago1894 - Sarau íntimo estréia discípulos musicais
21nov - 8 - Programa 21nov1894 (sem indicação local)
[21nov] CG015-1 - GMCarlosGomes - sarau (vide programa 8 Concerto Santa Cecilia]
22nov - GMCarlosGomes - Cathedral de Curitiba - 1º concerto de Santa Cecilia
28nov - Escola de Artes e Indústrias do PR estabeleceu acordo com GMCarlosGomes
10dez - 9 - Programa 10dez1894 (sem indicação local)
1895
20jan - GMCarlosGomes - Sarau musical e dramático
02fev - 10 - Programa 02fev1895 (sem indicação local)
[02fev] CG015-2 - artigo em alemão – “Einakter”: Um quarto duas camas
05fev - GMCarlosGomes - sarau musical dançante
[05fev] CG005-1 CGCarlosGomes - sarau musical
24abr - GMCarlosGomes - 2º aniversário do GMCG
26abr - GMCarlosGomes - Eleição nova diretoria
09mai - 11 - 09mai1895 - Concerto de 2º ano instalação do GMCG
[11mai] CG0011-3 - GMCarlosGomes [Segundo aniversário do GMCG]
11mai - GMCarlosGomes - 2º aniversário do GMCG
[11mai] CG007-3 - GMCarlosGomes [Segundo aniversário do GMCG]
26jun - GMCarlosGomes - Nova diretoria - três irmãos Monteiro (Alberto, Antenor, Gabriel)
11jul - 13 - Programa 11jul1895 (sem indicação local)
18jul - 14 - Programa 18jul1895 (sem indicação local) Concerto para Alberto Monteiro
25jul - GMCarlosGomes - Soirèe para Alberto Monteiro
10ago - GMCarlosGomes - Programa para Alberto Monteiro
12ago - GMCarlosGomes - concerto-baile
12ago - Conservatório de Bellas Artes dedicou 7º concerto para GMCarlosGomes
18ago - Conservatório de Bellas Artes dedicou 7º concerto para GMCarlosGomes
20ago - Conservatório de Bellas Artes dedicou 7º concerto para GMCarlosGomes
07set - GMCarlosGomes realizou festa íntima Antonino Correia
18set - 15 - Programa 18set1895 (sem indicação local)
24set - GMCarlosGomes - sarau
26set CG005-5 - coluna Painéis, de Cecy – [Jornal] A Tribuna
[26set] CG005-6 - Artigo escrito em alemão
27set - GMCarlosGomes - Sarau dançante
131
1896
07jan - Agradecimento Ex-cego Antonio Ferreira para GMCarlosGomes
08jan - convocação GMCarlosGomes para Lord Bung
[08jan] CG021-3 - Lord Bung
06mar - GMCarlosGomes – Lord Bung - 2º apresentação
[06mar] CG021-1 - GMCarlosGomes - Lord Bung - [A República ms]
[06mar] CG021-4 - GMCarlosGomes - Lord Bung - [Diário da Tarde ms]
[06mar] CG021-4 - GMCarlosGomes - Lord Bung - [Gazeta do Povo ms]
07mar - GMCarlosGomes – Lord Bung - revista Curitybana
07mar - GMCarlosGomes – Lord Bung - benefício para a Biblioteca Pública
08mar - GMCarlosGomes - comentário sobre Lord Bung - revista Curitybana
10mar - GMCarlosGomes - comentário sobre Lord Bung
[06mar] CG021-2 - GMCarlosGomes - Lord Bung - [A República]
12mar - GMCarlosGomes - Alberto Monteiro recebeu batuta
[12mar] CG017-6 - GMCarlosGomes sarau [Operário Livre: batuta p/ Alberto Monteiro por Nestor Castro]
19mar - GMCarlosGomes - sobre Lord Bung (comentário Azevedo Macedo)
08abr - GMCarlosGomes - sobre Lord Bung (comentário Azevedo Macedo)
09abr - GMCarlosGomes - sobre Lord Bung (comentário Azevedo Macedo)
26abr - GMCarlosGomes - assembléias
28abr - GMCarlosGomes - comunicado: ingressos extras para sócios somente membros familiares
09mai - 17 - Programa 09mai1896 (sem indicação local) 3º. aniversario fundação
12mai - GMCarlosGomes – ‘Quadro negro’ sobre Lord Bung (protesto de Brazílio de Carvalho)
12mai - GMCarlosGomes - Concerto
17mai - GMCarlosGomes - Nova Diretoria
[18ago] CG017-4 GMCarlosGomes
19ago - 18 - Programa 19ago1896 (sem indicação local)
21ago - GMCarlosGomes - sarau dramático musical
25ago - GMCarlosGomes - “Clube mais popular Curityba”
16set - GMCarlosGomes - para Claudino dos Santos
19set - 19 - Programa 19set1896 (sem indicação local)
19set - GMCarlosGomes - Carlos Gomes - Homenagens póstumas
[22set] CG09-1 e CG09-2 Homenagens Carlos Gomes [por Nestor de Castro]
[22set] CG011-1 e CG011-2 Homenagens Carlos Gomes [por Nestor de Castro]
22set - GMCarlosGomes - exéquias de Carlos Gomes
26set - GMCarlosGomes - para Claudino dos Santos
15out - GMCarlosGomes - Club Curitybano - exéquias de Carlos Gomes
22out - GMCarlosGomes - festa para Major Arthur Lopes
11nov – compositor Carlos Gomes - programação das exéquias
03dez – Programa conjunto de GMCarlosGomes e da Sociedade São Vicente Paula
08dez - 20 - Programa 08dez1896 (sem indicação local)
[08dez] CG007-1 GMCarlosGomes (vide programa do dia 08 de dezembro de 1896)
[08dez] CG007-2 GMCarlosGomes (vide programa do dia 08 de dezembro de 1896)
10dez - GMCarlosGomes - Concerto
11dez - GMCarlosGomes - Quadro GMCG para Leôncio Correia
27dez - GMCarlosGomes – revista Fui a Curityba, de Claudino Santos
1897
132
1898
12fev - 24 - Programa 12fev1898
09mar - GMCarlosGomes - ameaça dissolução
09mai - 25 - Programa 09mai1898 (sem indicação local)
09mai CG017-2 GMCarlosGomes - 5º aniversário – Alberto Monteiro apresentou a abertura 9 de maio
11mai - GMCarlosGomes - 5º aniversario – Alberto Monteiro apresentou a abertura 9 de maio
[11mai] CG005-4 GMCarlosGomes - 5º aniversário
29mai - GMCarlosGomes - retrato Sant’Anna Gomes
01nov - 26 - Programa 01nov1898 (sem indicação local)
18dez - 27 - Programa 18dez1898 (sem indicação local)
1899
13jul - GMCarlosGomes - Sarau
[16jul] CG017-3 GMCarlosGomes - sarau
16jul - 28 - Programa 16jul1899 (sem indicação local)
08set - 29 - Programa 08set1899 (sem indicação local)
[08set] CG019-4 - [Vide Programa 29] - [Jornal] Diário da Tarde
[17set] CG019-3 - [Vide Programa 29] - [Jornal] O Sapo
26nov - 30 - Programa 26nov1899 (sem inicação local)
[26nov] CG019-1 - [Vide Programa 30] reg. Joaquina Ferreira - [Jornal] O Município
[26nov] CG019-2 - [Vide Programa 30] reg. Joaquina Ferreira - [Jornal] Tribuna do Paraná
26nov - GMCarlosGomes - Festa Santa Cecilia programa
i Um tipo de goma arábica que, de maneira surpreendente, não deteriorou o material com o passar dos
anos e também não possibilitou a presença de insetos como traças.
ii Augusto Stresser, Annibal Requião e Frederico Lange talvez sejam os únicos integrantes do GMCG
sobre os quais foram localizadas referências de pesquisa, em forma de artigos científicos e
dissertações. Sobre todos os demais integrantes, inclusive, sobre o maestro Alberto Monteiro, não há
informação, até o momento, de nenhum estudo realizado e publicado.
133
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
segmento musical que, por fim, se tornou o refrão da canção “Amazon River” que
ganhou versos do poeta Paulo César Pinheiro (1949-) e foi lançada no álbum
“Brasilian Serenata” de 1991. Recortando o relato de Dori Caymmi encontramos
declarações como: “é inexplicável”, “sei lá. É um momento em que, de repente tem
um click, bate, que de repente você tem uma música”, “eu pedi ao [contrabaixista
estadunidense] Jimmy Johnson pra fazer um solo e ele não sabia, e eu dei uma
cagada que eu fiz o... (canta melodia do refrão de “Amazon River”)... e descobri um
triângulo que eu não sabia que existia em música, porque eu não tenho técnica
nenhuma”. “E aí descobri essa triangulação da mesma melodia que sai de Láb
menor, Dó menor, pra Mib menor e Láb menor outra vez... espontânea”. “E foi pura
sorte, eu fiz na cagada... não foi nada pensado”.
Contudo, estudando “Amazon River” a partir das gravações comerciais já
lançadas pelo artista e do documento em partitura disponibilizado em seu sítio na
internet (CAYMMI, 1991), é possível sustentar conclusões analíticas que oferecem
um nítido contraste complementar aos informes e apreciações fornecidas pelo
próprio compositor nesta entrevista. Assim, considerando referências do campo da
teoria de escola – tais como Bribitzer-Stull (2006), Cinnamon (1986, p. 6-12), Gauldin
(2009, p. 534-542 e 631-645), Kinderman e Krebs (1996, p. 17-33), Kopp (2002, p.
230-234), Lerdahl (2001, p. 89-104), Salzer e Shachter (1999, p. 182-188 e 190-191)
e Taruskin (1996, p. 265-267 e 280-283) – bem como do campo da jazz theory – tais
como Boling e Coker (1993, p. 16-17), Delamont (1965, p. 269-275), Herrera (1995,
p. 117-121), Mangueira (2006, p. 72-73) e Nettles e Graf (1997, p. 162-165) –, a
audição e leitura deste documento musical evidencia escolhas, razões e raciocínios
harmônicos, melódicos e fraseológicos como: o emprego do ciclo de teças maiores
coligando as áreas tonais de Si maior, Mib maior e Sol maior e o emprego de um
nítido encadeamento melódico apoiado nas terças e sétimas de acordes que se
sucedem por progressões de quintas diatônicas. Constatações desta ordem
permitem então observar o refrão de “Amazon River” como uma espécie de
paráfrase, ou recriação, que seleciona e combina soluções musicais salientes em
dois Standards jazzísticos de grande prestígio – a saber: “All the things you are”, a
exitosa canção de Jerome Kern (1885‐1945) e Oscar Hammerstein II (1895‐1960) já
chamada de a “apoteose do ciclo de quintas” (FORTE, 1995, p. 75) e de “a canção
perfeita” (SCHWARTZ apud FORTE, 1995, p. 73) e “Giant Steps”, a influente
composição do saxofonista e compositor estadunidense John Coltrane (1926‐1967)
gravada em 1959.
O segundo caso faz uma espécie de caminho inverso. Partindo de uma
análise da lead sheet publicada por Chediak (1992, p. 148-149), podemos destacar
alguns traços da canção “Refazenda” lançada em 1975 pelo violonista, cantor e
compositor Gilberto Gil (1942-). Digamos, esquematicamente: trata-se de uma
135
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências:
CHEDIAK, Almir (Ed.). Songbook Gilberto Gil. Volume 2. Rio de Janeiro: Lumiar
Editora, 1992.
FORTE, Allen. The American popular ballad of the golden era 1924-50. Princeton,
NJ: Princeton University Press, 1995.
GAULDIN, Robert. La práctica armónica en la música tonal. Madrid: Ed. Akal, 2009.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura.
In: ______. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989, p. 13-41.
LERDAHL, Fred. Tonal pitch space. New York: Oxford University Press, 2001.
NETTLES, Barrie e GRAF, Richard. The chord scale theory & jazz harmony.
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PRINS, Gwyn. História oral. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: Ed. da UNESP, 1992. p. 163-198.
Katarina Grubisic
Universidade Federal de Santa Catarina – kataviola@hotmail.com
Cristiana Tramonte
Universidade Federal de Santa Catarina – tramonte@ced.ufsc.br
Resumo: Este artigo analisa as interações sociais na aprendizagem pela apreciação musical
ocorridas em apresentações musicais em escolas municipais de Florianópolis, Santa
Catarina, promovidas pelo projeto social “Orquestra Escola”. Verificou-se, entre outros
resultados, que a interação entre Orquestra Escola e alunos das escolas públicas pode
incentivar e promover a aprendizagem musical.
Abstract: This paper seeks to analyze the social interactions on learning in music
appreciation that occurred in musical performances at public schools in Florianópolis, Santa
Catarina, that was promoted by the social project “School Orchestra." It was found, among
other results, that the interaction between School Orchestra and students of public schools
can encourage and promote musical learning.
1. Introdução
da atividade em grupo foi descrito por "um som muito bom” Sobre o trabalho em
grupo declara: “aprendi que em um grupo nós conseguimos fazer muita coisa”.
Este caso confirma que conforme (KLEBER, 2005) as práticas musicais
são resultantes de experiências socioculturais de “caráter coletivo e interativo dos
sujeitos, ou seja, cada um traz ao grupo suas próprias experiências e dentro das
vivências musicais vão se formando novas noções de valores pessoais e sociais”.
Figura 1. Trabalho realizado numa escola após um concerto didático. (fonte: Arquivo Pessoal da Professora
Bárbara Hass/ 2011).
6. Considerações finais
Referências:
FLEURI, Reinaldo Matias & SOUZA Maria Izabel Porto. Entre limites e limiares de
culturas: educação na perspectiva intercultural. In|: FLEURI, Reinaldo Matias ( org) .
Educação Intercultural.Mediações necessárias. DP&A, 2003.
SOUZA, Jusamara. (org.). 2008. Aprender e Ensinar Música no Cotidiano. 179. Porto
Alegre: Sulina.
VIGOTSKI, Lev Semenovich, 2010. Psicologia Pedagógica, São Paulo: Ed. Martins
Fontes, 2010.
144
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Title of the paper in English (fonte Helvetica, tamanho 10, negrito, espaço simples,
centralizado)
Abstract: This article discusses the Venezuelan musical education project known worldwide
as El Sistema under the motivational point of view, the theoretical based for the Social
Cognitive Theory of Albert Bandura. The aim of this work was to relate the practice of
teaching/learning of this project with the sources of self-efficacy development. Through a
literature search and exploratory and interpretative character was possible to consider that in
El Sistema verbal persuasions that occur on the part of teachers and other musicians who
attend the concerts of orchestras, strengthen self-efficacy beliefs of students.
1. Introdução
De acordo com Bandura (1997), estas crenças podem ser formadas pelo
indivíduo a partir da interpretação de quatro fontes principais: experiência de
domínio, experiência vicária, persuasão verbal e estados físicos e emocionais.
Assim, nosso objetivo neste trabalho é investigar a relação entre a prática de
ensino em El Sistema e as crenças de autoeficácia propostas por Bandura. Aqui
enfocaremos no aspecto denominado por Bandura como persuasão verbal.
Para dar conta do objetivo deste estudo uma pesquisa bibliográfica de caráter
exploratório e interpretativo foi desenvolvida com base em material já elaborado,
conforme indica Gil (2002), principalmente a partir de livros, documentos e artigos
científicos para delinear a relação entre o processo de ensino em El Sistema e as
persuasões verbais propostas por Bandura. “Embora em quase todos os estudos
seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas
exclusivamente a partir de fontes bibliográficas”. (GIL, 2002, p. 44). A próxima etapa
desta pesquisa consiste na realização de um estudo multicasos a ser realizado nos
147
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Quando entrei aqui no Teatro Teresa Carreño, não esperava entrar no céu e
ouvir estas vozes celestiais. A verdade é que nunca havia sentido uma
148
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
emoção tão grande, e senti não só pela emotividade deste momento, mas
devo dizer também pela qualidade (DOMINGO, 2005).
Vimos uma orquestra em que os pés de seus músicos não tocavam o solo
(literalmente). Escutei a menor orquestra do mundo dirigida por um dos
maiores diretores do mundo... Gustavo, tocando a Marcha Eslava e guiados
por um menino de oito anos e não entendo como uma criança de sua idade
tenha tanta técnica no violino. E especialmente vi no rosto de todos eles o
que sempre acreditei que é a música: alegria, comunicação e alegria
(RATTLE, 2005).
Considerações Finais
Referências:
ABREU, José Antonio. El Sistema. In: ARVELO, Alberto. Tocar y luchar . Caracas,
Venezuela: Fundación Musical Simón Bolívar, 2005. Vídeo, 1,11m.
150
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
ARAÚJO, Rosane Cardoso. Motivação e ensino de música. In: ILARI, Beatriz Senoi
& ARAÚJO, Rosane Cardoso (Orgs.). Mentes em música. Curitiba: Editora UFPR,
2009.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ªed. São Paulo: Atlas,
2002.
PAJARES, Frank; OLAZ, Fabián. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão
geral. In: BANDURA, Albert; AZZI, Roberta Gurgel; POLYDORO, Soely Aparecida
Jorge.Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed Editora S. A.
2008, 97-114.
RONY. Seu instrumento. In: ARVELO, Alberto. Tocar y luchar. Caracas, Venezuela:
Fundación Musical Simón Bolívar, 2005. Vídeo, 1,11m.
151
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
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Resumo: O objetivo neste trabalho foi a criação de uma escala para avaliação das crenças
de autoeficácia de alunos de percepção musical, matriculados em cursos de graduação em
música de uma IES de Curitiba. Nesta pesquisa procurou-se seguir as orientações apontadas
por Bandura (2006) para construção do instrumento de medida (escala de autoeficácia). Os
resultados mais significativos desta pesquisa mostram uma relação direta entre o tempo de
estudo de música e as crenças de autoeficácia em relação à disciplina de Percepção Musical.
Abstract: The present work aims at creating a scale to assess the auto-efficacy beliefs of the
Curitiba IES musical perception students. Our research follows the Bandura (2006) guiding
addressed to build a measurement tool (auto-efficacy scale). The research most significant
results show a direct relation between the time periods students spent studying music and
their auto-efficacy beliefs concerning Musical Perception.
1. Introdução
O objetivo neste trabalho foi a criação de uma escala para avaliação das
crenças de autoeficácia de alunos de percepção musical, matriculados em cursos de
graduação em música de uma IES de Curitiba. Uma vez que a autoeficácia é um
constructo que não pode ser observado de forma direta, só podendo ser revelada
pelo próprio participante da pesquisa, faz-se necessária a aplicação de um
instrumento particular de medida que possa revelar esta variável interna (MACEDO,
2009).
As crenças de autoeficácia, segundo Azzi & Polidoro (2006, p. 16) são
crenças referentes “às convicções do indivíduo sobre suas habilidades de mobilizar
suas faculdades cognitivas, motivacionais e de comportamento necessárias para a
execução de uma tarefa específica em determinado momento e dado contexto”.
Bzuneck (2001), por sua vez, explica que a crença de autoeficácia é uma percepção
pessoal (ou avaliação) que o indivíduo tem sobre suas habilidades, seus
conhecimentos, enfim, suas capacidades. Cavalcanti (2009) explica que as crenças
de autoeficácia devem ser medidas como capacidades de enfrentar tarefas que
representem uma dificuldade, um desafio ou um obstáculo a ser transposto para que
esta tarefa venha a ser realizada com êxito.
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2. Primeira etapa
3. Segunda etapa
4. Terceira etapa
Referências:
BANDURA, A. Guide for constructing self-efficacy scales. In: PAJARES, F.; URDAN,
T. (Ed.) Self-efficacy beliefs of adolescents. San Francisco: Santa Clara University,
2006, p.307-337.
ETNOMUSICOLOGIA/MUSICOLOGIA
Fernando Torres
UDESC – saxcia@gmail.com
Abstract: This work is the result of a research project that turns into dissertation presented to
the graduate in music UDESC (State University of Santa Catarina) program. The purpose of
the survey is to gather and analyze documentation allowing an understanding of the place of
gender in the Bossa Nova musical context of Recife (1950/1960) and the action of those
involved in this context. Seeks to understand the local nexus of symbolic horizon related to
Bossa Nova, and how it focused on the horizon Recife, who were the characters, authors and
actors, places, and its mode of action in the 1950s and 1960s. There is evidence of an
unconsolidated nor analyzed on the history of Bossa Nova axis outside Rio / Sao Paulo
documentation. Our intention is to frame our research line through more decentralized and
relational perspectives conformation of musical genres.
1. A Bossa Nova
A Bossa Nova, do ponto de vista histórico, durou bem pouco. Com apenas
quatro anos de atuação decisiva, os seus expoentes, Tom Jobim e João Gilberto,
logo foram procurar em outras terras novos mercados para suas canções (CASTRO,
1990). Porém as músicas do movimento continuam sendo executadas, por músicos
profissionais e estudantes da música, em várias formações instrumentais ou vocais,
até os dias de hoje. Segundo Almir Chediak, devido a uma aceleração no processo
de conscientização das harmonias. Já não era mais possível anotar os acordes das
músicas da Bossa com as posições tradicionais, tanto músicos quanto professores
tiveram que estudar mais. A única maneira era através das cifras, hoje um sistema
predominante na música popular (CHEDIAK, 1986).
A Bossa Nova acontece como um clímax de um movimento que para
alguns começa desde os anos 30, com uma busca pela modernização. Ary Barroso,
Custódio Mesquita e Noel Rosa, já semeavam harmonizações e letras inusitadas
para sua época. E é no sentido da harmonia que a Bossa Nova irá se destacar
(AGUIAR, 1993). A complexidade das harmonias nas composições da Bossa Nova é
sua grande identidade, acompanhada da sua batida de violão característica. Tanto
que muitas vezes a letra é preterida. Sobre a importância da harmonia na Bossa
Nova, Chediak cita:
Segundo Menescal (2005), é por causa disso que surge no Rio de Janeiro
um número considerável de academias de violão, que é o principal instrumento da
Bossa Nova. Carlos Lyra e Roberto Menescal (que estão entre os músicos-
compositores principais e fundadores da Bossa Nova) figuram entre os professores
de violão dessas academias, e passam a transmitir seus conhecimentos para
aqueles que desejam aprender as harmonias inusitadas daquele movimento. Ainda
segundo Menescal, dentre seus alunos estão músicos que iriam influenciar não só a
Bossa Nova como toda a música brasileira. São alguns exemplos: Edu Lobo, Nara
Leão e Marcos Valle.
Em contrapartida, Távola (1999) e Tinhorão (1974), entendem que a
Bossa Nova não revolucionou em nada, apenas modernizou aspectos do jazz e do
movimento impressionista, juntando um ritmo que fica entre o samba e o próprio
jazz. Além de Tom Jobim, que é talvez o compositor mais importante do movimento,
com sua formação acadêmica em piano, que trouxe consigo as harmonias
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Jobim e até Elis Regina. Em seu livro, Eis aqui os Bossa – Nova, Zuza Homem de
Mello reproduz o depoimento de Marcos Valle: “Em agosto de 1966, ‘Samba de
Verão’ foi gravado pelo Walter Wanderley nos Estados Unidos, chegando a
segundo lugar nas paradas de sucesso (MELLO,2008: p.213). Já Ruy Castro
assinala: ““(...) desde a explosão de ‘Summer Samba’ que vendera um milhão de
cópias na gravação de Walter Wanderley e já fora editada pela Duchess Music”
(CASTRO, 1990: p.390).
Na capital pernambucana existia uma gravadora, a ROZENBLIT, que
possuía alguns selos, dentre eles o Mocambo (mais direcionado à música local) e o
AU (artistas unidos), esse considerado por alguns como um dos esteios da Bossa
Nova. Em sua dissertação de mestrado Leonardo Saldanha entrevista o maestro
DUDA, que faz o seguinte relato sobre o disco: VELHOS SUCESSOS EM BOSSA
NOVA, gravado no Recife pela Rozenblit:
3. Considerações
Referências:
.
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MODALIDADE: Comunicação
Resumo: Neste artigo é realizada uma revisão de literatura sobre o pensamento musical de
Hermeto Pascoal, principalmente do conceito de música universal utilizado pelo compositor.
São identificados e discutidos quatro temas principais recorrentes tanto em entrevistas de
Hermeto quanto na literatura acadêmica sobre ele. Conclui-se que que a música universal e o
pensamento que a rege estão subordinados à prática musical do compositor.
Abstract: This paper reviews a literature about the musical thought of Hermeto Pascoal,
specially about the concept of universal music used by the composer. We identify and discuss
four main recurring themes both in Hermeto’s interviews and in the scholar literature about
him. We conclude that the universal music and the thought that governs it are subordinate to
the composer’s musical practice.
com o resultado sonoro de suas músicas. Isto se deve em parte pela maneira
intuitiva e improvisada em que ocorre o desenvolvimento e a exposição de seu
pensamento, a exemplo de como acontece o processo de criação em sua música
(COSTA-LIMA NETO, 2009: 173).
É possível perceber em suas declarações que a década de 70 foi o
período em que Hermeto amadureceu as ideias que ele afirma carregar desde
criança. Em uma entrevista de 1973, Hermeto demonstra a preocupação em não
vincular sua música a nenhum local específico:
[...] Eu acho que um músico nem deve se preocupar em fazer música
brasileira, ou americana, ou isto, ou aquilo. Deve é se preocupar em fazer a
sua própria música. [...] Agora, eu não me preocupo se a música é
brasileira, ou argentina, ou alemã, ou o que é, porque eu acho que a música
supera qualquer fronteira, a música não vive arraigada num chão. Ela vem
por cima, ultrapassa tudo o que tem por baixo. Cai na cabeça de cada um,
de quem captar (PASCOAL, 1973).
No mesmo ano desta citação pode ser encontrada a primeira referência a
uma ideia de universalidade em títulos na sua obra: o nome do seu primeiro disco
autoral gravado no Brasil, A música livre de Hermeto Pascoal (1973). O termo
“música livre” provavelmente é um dos primeiros que o compositor elaborou para
tentar definir sua música. Ele reflete a tentativa de se desvincular de qualquer rótulo
comercial e também de qualquer ligação regional, e demonstra que Hermeto ainda
não chamava sua música de música universal.
A tentativa de desterritorializar sua música está ligada ao fato de ele
acreditar na tendência de as músicas dos mais distintos lugares se juntarem para
criar algo novo. Neste ponto, suas idas e vindas aos Estados Unidos parecem ter
contribuído para o desenvolvimento deste pensamento. Parece ter sido naquele país
que o compositor confirmou seus ideais de que a música não tem fronteiras. Nesta
declaração de 1975 ele já fala da universalidade da música:
[...] Lá [nos Estados Unidos] eu acho que a música está cada vez se unindo
mais. Não só a brasileira, mas de outros países que também têm muitos
ritmos. [...] E isto está caminhando para um negócio universal. A música
está cada vez mais universal (PASCOAL, 1975, grifo meu).
Ao afirmar que a música está cada vez mais universal, Hermeto parece se
referir à maneira como ele vê a tendência geral da música na época, e não somente
de sua obra. Em outro trecho da mesma entrevista ele se inclui neste zeitgeist:
A música é uma só, e não quero nunca que digam que sou um músico de
jazz, que eu sou um músico de não sei o que, disso ou daquilo. Quero
apenas continuar, quero ser um músico, um cara universal (PASCOAL,
1975).
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que nos Estados Unidos ele
confirma sua visão de que as músicas estão se juntando, ele acredita que é no Brasil
que o campo estaria mais fecundo para este tipo de pensamento: “Nos EUA eles
estão apavorados. Estão procurando uma maneira diferente de fazer as coisas. Eles
166
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estão só no jazz e no rock. Não saem disso.” (PASCOAL, 1973). Em uma entrevista
de 1975 ele complementa:
Aqui [no Brasil] estão sendo feitas as coisas mais novas e mais importantes,
enquanto lá fora todos estão esgotados. [...] Mas isso não quer dizer que eu
vou sair brandindo as raízes ou fazendo afirmação de nacionalismo musical.
Folclore? O que é isso? Pra mim só existe música. Ela é universal e está
acima de rótulos ou marcas. Eu nunca digo que sou um “músico brasileiro”,
mas um brasileiro que faz música. Porque, como músico, sou universal
(Hermeto apud COSTA-LIMA NETO, 2010: 46).
A próxima referência encontrada em títulos de obras à sua ideia de
universalidade da música aparece no nome disco Brasil Universo em 1986, com um
lapso de treze anos entre este e o disco de 1973 citado anteriormente. O título reflete
parte do pensamento de Hermeto com relação à diversidade cultural brasileira, uma
das fontes para o surgimento do termo música universal em sua carreira. Para ele o
Brasil é um universo, “o país mais colonizado do mundo”, onde “não poderia ter outra
coisa que não música universal” (Hermeto apud ARRAIS, 2006: 7).
A diversidade cultural aparece constantemente como um dos assuntos
que fazem parte do pensamento musical de Hermeto. Suas declarações
frequentemente trazem à tona itens que remetem a diversidade de estilos, de fontes,
de materiais: “Compus esta música pensando nas bandinhas de música das cidades
do interior de todas as partes do mundo. Porque elas são grandes fontes
cristalinas de música.” (PASCOAL, 2004: 280, grifo meu).
O compositor realiza este pensamento em forma de música misturando
elementos de diversas influências, que para ele podem abarcar todas as músicas e
sons do mundo. Hermeto considera que grande parte do saber fazer artístico
consiste em saber misturar (ARRAIS, 2006: 7):
As pessoas pensam que evoluir é fazer uma harmonia cada vez mais
pesada. Para mim evolução é saber mexer com misturas. O mais difícil
nessa música que eu chamo de universal é justamente saber misturar...
Evolução é saber misturar (Hermeto apud ARRAIS, 2006: 7).
Nesta mistura da música universal de Hermeto estão inclusos tanto
elementos de tradições musicais, principalmente populares, assim como sons que
são considerados habitualmente como “não musicais”: sons de animais (como
porcos, cigarra, papagaio, pássaro); vozes humanas faladas (que podem ser
empregadas tanto em gravações que são manipuladas em estúdio, quanto tratadas
como um tipo de melodia que é arranjada e trabalhada pelo compositor, no caso da
“música da aura”); a utilização de variados objetos como recursos sonoros, dentre
outros. Costa-Lima Neto (2008) atribui esta atitude de Hermeto a uma práxis que ele
realiza desde sua infância.
Os ruídos da natureza são parte fundamental do pensamento musical de
Hermeto, aparecendo como um dos elementos que contribuem para que sua música
receba o status de experimental. Dentre estes ruídos, é proeminente o uso de sons
de animais como pássaros, cigarra, porcos, entre outros, que aparecem de variadas
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formas. Outro aspecto da música de Hermeto que contribui para o seu status
experimental é o uso da voz falada, que tem papel importante na obra do compositor
apesar de sua música ser considerada instrumental. A mais característica
manifestação do uso da voz em sua música acontece no que ele denomina de
“música da aura”, onde o compositor reproduz em algum instrumento musical o
contorno melódico de uma fala pré-gravada, criando posteriormente uma harmonia e
um arranjo. Além da música da aura, a voz é utilizada de diversas outras maneiras
na música do compositor: em melodias sem letra dobrando temas e solos e ainda:
[Hermeto] também canta (O Galho da roseira, Quebrando Tudo! Nem um
talvez, Mestre Mará) e utiliza a sua voz e a de outros intérpretes de maneira
não convencional (Velório, Missa dos Escravos, Cannon, Igrejinha). As
palavras são muitas vezes desmembradas em sílabas e letras sem
conteúdo semântico, com valor apenas sonoro (COSTA-LIMA NETO, 2010:
56).
Além dos sons (de animais e da voz falada) que não são tradicionalmente
considerados musicais, Hermeto também inclui em sua música diversos objetos, que
são tratados como instrumentos musicais. Somente no disco Mundo Verde
Esperança (2002) a lista já é grande: panela com água (batendo no fundo), frigideira,
tamancos, pilões, bonecos, serrote, bacia com mola, rói-rói, calota com água, pele
solta, apito e balas mastigadas dentro do copo. Em geral estes objetos fazem parte
da seção percussiva, enriquecendo a paleta de timbres sem altura definida
disponíveis em seu grupo. Com menos frequência, alguns outros objetos são usados
como instrumentos melódicos ajudando a ampliar a gama de timbres nas melodias,
como a chaleira com bocal de trompete que ele usa repetidamente em suas
apresentações.
Partindo para os sons tradicionalmente musicais que Hermeto inclui na
música universal, as principais fontes sonoras são os mais diversos gêneros1 de
música popular. O esforço dele para não ter sua obra encaixada dentro de nenhum
rótulo convencional, parece denotar não a negação dos gêneros musicais, mas
justamente a inclusão deles como possibilidades dentro da sua música. Referências
podem ser encontradas até mesmo nos títulos das músicas, como alguns ritmos
nordestinos em Forró Brasil e Forró em Santo André, Arrastapé alagoano e Frevo
em Maceió. Outras referências a gêneros podem ser encontradas nas músicas
Chorinho Pra Ele e Aquela Valsa, Suíte Paulistana e Suíte Norte, Sul, Leste, Oeste,
Suíte Mundo Grande e Chorinho MEC.
No entanto, Hermeto não se considera um músico de um estilo musical
específico, apesar de estar frequentemente no repertório de grupos tradicionais de
choro ou de jazz, como por exemplo, a música Bebê, “que originalmente, é um
baião, mas é tocada em rodas e por grupos de choro.” (CAMPOS, 2006: 54). Esta
citação ilustra a maneira como Hermeto pensa a inclusão de ritmos tradicionais em
sua obra:
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[...] A gente faz muita misturada; você não escuta um ritmo predominando o
tempo todo. Sempre muda, muda, muda. Rápido. A harmonia nem se fala.
Então isso é o que eu chamo de música universal (Hermeto apud ARRAIS,
2006: 7).
Esta mudança rápida de ritmos da qual Hermeto fala pode ocorrer dentro
de uma mesma música – variando de um segmento para outro – assim como de
uma música para outra. Com a numerosa produção do compositor, mesmo que em
uma música um ritmo predomine, num curto espaço de tempo ele irá compor outra,
provavelmente com inúmeros outros elementos. Desta maneira, para ele a mistura
de estilos não está apenas dentro de cada composição, mas também na sua obra
como um todo.
Ao longo de sua carreira pode ser percebida uma predileção por gêneros
musicais de tradições que estão fora do eixo do mass media. Os critérios de
qualidade musical de Hermeto não parecem estar vinculados somente a aspectos
estritamente formais, mas principalmente aos valores culturais que certas
manifestações carregam. A música difundida nos grandes meios de comunicação,
com todos os seus processos mercadológicos, está em profundo desacordo com os
ideais de Hermeto, que sempre rejeitou qualquer possibilidade de intervenção da
indústria cultural em sua obra. Sendo assim, a participação das músicas ditas
“comerciais” parece estar restringida dentro da música universal.
Na música de Hermeto a mistura tem como um de seus objetivos
proporcionar novidade. Hermeto sobrepõe e justapõe elementos muitas vezes
contrastantes, que resultam geralmente em uma música descontínua, cheia de
transformações.
Na música de Hermeto Pascoal, a mistura deve favorecer fortes contrastes:
variações acentuadas de andamentos, timbres contrastantes, densidades
distintas, fortes mudanças entre as partes de suas composições. Todos
seus fortes contrastes, bem como as transformações e incessantes
mudanças que sofrem suas músicas, são motivadas por sua amizade pelo
novo. Contrastes e mudanças devem surpreender pela novidade e pelo
impacto (ARRAIS, 2006: 9).
É possível observar nas declarações do compositor, que ligado a esse
anseio pelo novo, há uma busca por evolução. Este conceito de evolução não está
ligado necessariamente a um anseio por uma música melhor e mais válida, mas
apenas que as músicas devem ser feitas sempre de uma maneira inusitada,
diferente. Em vários momentos Hermeto comenta sua busca por evolução,
procurando realizá-la principalmente através das misturas.
Todas estas ideias estão subordinadas ao modus operandi intuitivo e
improvisado que caracteriza o processo de criação de Hermeto. Parte deste
processo é descrito por Costa-Lima Neto (1999), que estudou a metodologia de
trabalho de Hermeto e Grupo entre 1981 e 1993.
De acordo com Costa-Lima Neto, o que distingue improvisação de
composição para Hermeto parece ser mesmo a escrita; depois que a música era
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Referências:
CAMPOS, Lúcia Pompeu de Freitas. Tudo isso junto de uma vez só: o choro, o forró
e as bandas de pífanos na música de Hermeto Pascoal. 2006. 143 p. (Dissertação
de Mestrado em Música) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2006.
PASCOAL, Hermeto. Calendário do Som. 2. Ed. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2004. 414 p.
______. Hermeto Paschoal: não gravo mais no Brasil. Entrevista a Valdir Zwetsch.
Revista Pop, out. 1975. In: VELHIDADE. Website. Disponível em: <
http://velhidade.blogspot.com.br/search/label/Hermeto%20Pascoal> Acesso em: 10
jun. 2012.
______. Hermeto Pascoal. Revista Super Pop, jun. 1973. Entrevista. In:
VELHIDADE. Website. Disponível em: < http://velhidade.blogspot.com.br/
search/label/Hermeto%20Pascoal> Acesso em: 10 jun. 2012.
171
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Notas
1
Neste trabalho, as palavras gênero, estilo e ritmo terão um uso fluído, significando aquilo que se
percebe de imediato na música, como o que a faz ser uma valsa, ou ter um ritmo de maracatu, etc.
Assim como acontece na fala de Hermeto, não se tenta aqui estabelecer uma definição estanque
para cada um destes termos.
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MODALIDADE: Etnomusicologia
The segmentation of the field of brazilian popular music in the 1950s: the case of Trio Surdina
Abstract: From a study of the phonography of Trio Surdina, we discuss to what extent the
work of the group indicates the segmentation process of the field of brazilian popular music in
the 1950s, a time when new technologies, sonorities, modes of listening and fields of activity
for popular musicians to emerge. Integrating the phenomenon of urbanization and the
restructuring of class society, the socio-cultural scenario that involving the trajectory of Trio
Surdina is characterized by the reconfiguration of the hierarchy of legitimacy and tastes, which
guides the field of popular music.
Keywords: Brazilian Popular Music. 1950’s. Trio Surdina. Segmentation.
acesso a uma camada mais ampla da população. Vale lembrar, bairros como
Ipanema e Copacabana, entre outros, já haviam se constituído enquanto espaços
turísticos relativamente elitizados (MATOS, 1997; SARAIVA, 2007).
Nessa fase, parece se configurar de modo mais evidente uma cisão entre
uma produção denominada como “comercial” ou “massiva”, voltada para o grande
público, e outra mais “intelectualizada” ou “sofisticada”, que atendia às expectativas
de frações da classe média. Esta tendência se caracterizava pelos programas de
música de concerto e música instrumental. Já a primeira era representada pelos
programas de auditório e radionovelas, atrações que alcançavam índices de
audiência mais expressivos. Aliás, como os auditórios permitiam a participação
ostensiva do público, e sendo este composto predominantemente pela população de
baixa renda, ocorreu, de acordo com José Ramos Tinhorão (1981), uma espécie de
“reação elitista” por parte dos segmentos médios. Eram frequentes, por exemplo, a
veiculação na imprensa de críticas de caráter preconceituoso, como no caso em que
chegaram a definir o público feminino e afrodescendente com a expressão “macacas
de auditório”.1
Como “resposta” ao fenômeno dos auditórios, surge entre os anos 1940 e
1950 programas que buscavam dar um tratamento mais “digno” e “elegante” (esses
termos são correntes na imprensa daquela época) à música popular como, por
exemplo, Quando os maestros se encontram, que contava com os arranjos de
maestros como Radamés Gnattali, Léo Peracchi, Alceu Bocchino, Alberto Lazolli
etc.; ou ainda, o programa Ritmos do Copacabana, transmitido diretamente do hotel
Copacabana Palace.2
Em síntese, esses dados indicam a relativa segmentação da programação
radiofônica e da própria música popular, posto que os produtores buscavam atender
faixas específicas do público consumidor de acordo com seus modos de vida,
hábitos, ideias, gostos etc. Aliás, a tendência dos pequenos conjuntos coincidiu com
a emergência de uma nova geração da classe média no segundo pós-guerra, que
fez das pequenas boates da zona sul o seu espaço de entretenimento. Conforme
aponta Gilberto Velho, entre as décadas de 1930 e 1960 o bairro de Copacabana,
por exemplo, cresceu num ritmo maior que o da cidade do Rio de Janeiro, resultado
da migração intensa de habitantes oriundos de bairros como Botafogo, Tijuca, entre
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outros (VELHO, 1975: 21-24). Esse processo se intensificou entre 1940 e 1950 e, de
acordo com o autor, sob a alegação de que estavam à procura de um lugar
“moderno”, com “divertimentos” e “facilidades”, a maioria das pessoas se deslocava
para Copacabana em função do “prestígio social” e “status” que essa mudança
implicava. Em outras palavras, no imaginário de certas frações da classe média, a
simples mudança para o bairro significava uma forma de ascensão social, “mesmo
não havendo alterações na ocupação ou na renda das pessoas” (Ibidem: 89).
Ao inserir esse processo particular numa conjuntura mais ampla, observa-
se que não apenas o Rio de Janeiro, mas o país todo atravessava uma fase de
transformações sociais e econômicas significativa a partir dos anos 1940. A indústria
nacional se modernizava e se expandia num ritmo acelerado. A este fenômeno se
somam o crescimento vertiginoso das cidades e a consequente reestruturação da
sociedade de classes, uma vez que o movimento migratório para os centros urbanos
se acentua num espaço de tempo relativamente curto, intensificando o processo de
estratificação social. Vale lembrar, a maior parte da população que se dirigia às
grandes cidades pertencia às classes menos favorecidas economicamente,
deslocando-se do meio rural e de regiões de extrema pobreza. Em função da falta de
planejamento urbano, entre outros fatores, tem-se a marginalização de parte
significativa desses contingentes nas metrópoles em formação, haja vista sua baixa
escolaridade, não especialização (profissional), taxa de natalidade elevada etc.
(MELLO & NOVAIS, 1998: 560-586). Assim, o acesso ao mercado de trabalho e ao
consumo se dava de forma parcial entre as classes subalternas. Nesse momento, o
campo de produção cultural, a indústria e o comércio se articulam de maneira cada
vez mais orgânica, atuando no sentido de transformar a nova “massa” em
“consumidores” - o papel do rádio foi decisivo nesse aspecto -, bem como criar e
atender suas expectativas nos planos material e simbólico, por mais ilusórias e
mistificadoras que sejam as relações que começam a se instituir (MICELI, 2005:
125-156). Em suma, pode-se dizer que a reconfiguração do campo da música
popular e o fenômeno das pequenas boates da zona sul do Rio de Janeiro não se
dissociam do processo de estratificação social que se acentua entre as décadas de
1940 e 1950.
175
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Considerações finais
Bibliografia
MAMMÍ, Lorenzo. “João Gilberto e o projeto utópico da bossa nova”. In: Novos
Estudos CEBRAP, nº34, 1992.
MATOS, Maria Izilda Santos de. Dolores Duran: experiências boêmias em
Copacabana nos anos 50. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
177
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MELLO, Jorge. Gente Humilde: Vida e Música de Garoto. São Paulo: Edições SESC-
SP, 2012.
MICELI, Sérgio. A noite da madrinha e outros ensaios sobre o éter nacional. São
Paulo: Companhia das Letras, 2005.
SAROLDI, Luiz Carlos & MOREIRA, Sônia Virginia. Rádio Nacional, O Brasil em
Sintonia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1984.
TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: do gramofone ao rádio e TV. São Paulo:
Ática, 1981.
Fontes documentais
Notas
1
O termo “macacas de auditório” foi cunhado pelo jornalista Nestor de Hollanda. Ver: “Auditórios viciados”.
Revista Rádio Visão, nº 2, 15 de maio de 1947 (apud TINHORÃO, 1981: 75-84).
2
Acervo Rádio Nacional, MIS-RJ.
3
Uma das principais fontes para se conhecer uma parcela dos debates estético-ideológicos aflorados em meados
dos anos 1950, é a Revista da Música Popular (1954-1956), editada por Lúcio Rangel e Pérsio de Moraes. A
defesa da música nacional, “autêntica” e tradicional é a tônica dos discursos que pautam o periódico, os quais se
opunham aos chamados “estrangeirismos” e “comercialismos” que haviam supostamente “invadido” o Brasil
naqueles anos - como o jazz, o bolero, a rumba etc.
4
Esses parâmetros eram compartilhados por críticos musicais contemporâneos (1951-1955) como Claribalte
Passos (Revista Carioca), Vinicius de Moraes (Revista Flan), Lúcio Rangel (Revista da Música Popular, Mundo
Ilustrado e Lady), Silvio Túlio Cardoso (O Globo, Revista da Música Popular), Paulo Medeiros (Última Hora) e
Jaime Negreiros (O Jornal), por exemplo. Com exceção da Revista da Música Popular, reeditada recentemente
178
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pela FUNARTE (2006), os demais periódicos podem ser encontrados nos acervos da Biblioteca Nacional e
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.
5
Toda a produção fonográfica do Trio Surdina fora registrada pela gravadora Musidisc, uma das primeiras
especializadas em long-playing a atuar no país. Além desta, destacavam-se a Sinter, uma subsidiária da norte-
americana Capitol, e a Radio, pertencente a Ovídio Grottera.
6
Tomamos de empréstimo aqui as reflexões de Lorenzo Mammì acerca da Bossa Nova e dos novos modos de
escuta instituídos no campo da música popular brasileira com o advento deste “movimento” (1958), representado
inicialmente pelo estilo interpretativo de João Gilberto, pelas composições de Tom Jobim e letras de Vinicius de
Moraes. A “contenção de excessos”, o “intimismo” e a “escuta interessada” são algumas das características
centrais da música bossa-novista (MAMMI, 1992).
179
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Abstract: This work is a partial result of an ongoing research named “The film scoring as
genesis of the creative process in the work of Moacir Santos”, which aims to delineate a
language of Moacir Santos (1926-2006) as an audiovisual composer, between 1963 and
1966, in his Brazilian productions, and show the relations with his posterior compositional
work, recorded after 65. During the socio-historic research about the life of Santos it was
known that his trajectory has points of similarity with other important musicians of the 40’s -
70’s musical scenario. Among them, the top names are Radamés Gnattali, Guerra-Peixe, Leo
Peracchi e Remo Usai.
Pudemos constatar até o presente momento que Moacir Santos faz parte
de uma segunda geração de maestros-arranjadores que trabalharam nas principais
rádios e que acabaram se deparando com a composição para cinema e televisão. É
possível enquadrar em uma primeira geração os compositores que atuaram durante
as décadas de 1940 e 1950 nas duas principais companhias cinematográficas
brasileiras do período, a Atlântida e a Vera Cruz. Na Atlântida, os seguintes músicos
trabalharam em trilhas musicais1: Lírio Panicalli (1906-1984), Alexandre Gnatalli
(1918-), Léo Peracchi, Lindolpho Gaya (1921-1987), Radamés Gnatalli, Guerra-
Peixe, Guio de Moraes (1916-) e Waldir Calmon (1919-1982) (FERREIRA, 2010: 58),
já na Vera Cruz a lista de compositores é formada por: Radamés Gnattali, Francisco
Mignone (1897-1986), Gabriel Migliori (1909-1975), Guerra-Peixe e Enrico Simonetti
(1924-1978) (ONOFRE, 2005: 16). Pesquisas já demonstraram que esse grupo de
180
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Referências:
183
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
ADAMI, Antonio. “O cinema em casa”: uma era do rádio. In: Antonio Adami et al
(Orgs.). Mídia, cultura e comunicação 2. São Paulo: Arte & Ciência, 2003, p. 125 -
136.
FERREIRA, Sandra Cristina Novais Ciocci. Assim era a música da Atlântida: a trilha
musical do cinema popular brasileiro no exemplo da Companhia Atlântida
Cinematográfica. Dissertação de mestrado. Campinas, SP: Universidade Estadual
de Campinas, 2010.
Notas
1
Aqui, levamos em consideração apenas as composições instrumentais das trilhas musicais,
excluindo-se do escopo do trabalho as diversas canções contemporâneas às produções que eram
inseridas nas trilhas, na forma de números musicais ou não.
2
A existência da música instrumental original foi solidificado no produto teledramatúrgico,
principalmente na telenovela, no início da década de 1970. Uma figura importante para a
determinação e definição dos modos de utilização de músicas instrumentais e canção é o maestro
Júlio Medaglia. Para saber mais, veja o trabalho de ANTONIETTI (2012).
184
Daniel Vilela
UFPR - danielvilela_cata@hotmail.com
Introdução
1. No Balanço do Jequibaui
2. Contexto e Contribuições
188
iii
O gênero também marcou presença no disco intitulado “Paulicéia”
(2010) através da gravação da composição “Duo n. 14” do maestro Eduardo
Escalante, com interpretação do trompetista Paulo Ronqui e do violonista
Clóvis Barbosa. Além disso, fez parte do repertório composicional de Paulo
Bellinati com a música Carlo`s Dance (2006), gravada no álbum do grupo
Quaternaglia que leva o título de Jequibau (2012).
Considerações Finais
As evidências nos dão uma nova perspectiva acerca do período que foi
o pano de fundo no qual surgiu e se desenvolveu o Jequibau. Pois, apontam
para o fato da existência de outra manifestação musical além das já
conhecidas e estudadas. Também nos mostram um gênero que perdurou,
mesmo com pouca divulgação, de maneira significativa até os tempos atuais.
190
Referências
CURIA, Wilson. Moderno Método para Piano Bossa Nova. 1 ed. São Paulo:
Edições Sidomar, 1971.
PERPÉTUO, Irineu Franco. Cyro Pereira, Maestro. 1. ed. São Paulo: DBA Artes
Gráficas, 2005, 118 p.
Notas
i
‘No Balanço do Jequibau’ é o título do Jequibau mais gravado.
ii
Disponível em <www.jequibau.com.br>. Acessado em 11/12/2013.
iii
Paulicéia – Obras para trompete solo. Gravadora: Tratore. Selo: Fábrica Discos. 2010.
192
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MODALIDADE: Performance
1. Introdução
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2. Embocadura
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3. Discurso técnico
Em geral, o som mais agradável na flauta se parece mais com a voz de uma
contralto do que de uma soprano, e imita os sons da voz humana
195
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provenientes do peito, o que se pode chamar tons de peito. Tem que ser
feito todo o possível para imitar o som dos flautistas que sabem produzir
com seu instrumento um som claro, penetrante, sonoro, redondo, masculino
e ainda, agradável. QUANTZ, 1752, p. 53 ²
O que pode ser para uns considerado como um som “cheio e belo” pode
para outros ser “ruidoso e áspero”. Isso porque, o som que se considera bonito é
uma questão de gosto estético individual ou de corrente estética coletiva, podendo
haver grandiosas diferenças de tendências de um flautista para outro. Não há o certo
ou errado, porém a busca da embocadura se volta para que tipo de tendência se
almeja seguir.
Justamente essa subjetividade do ideal sonoro, agregada com a
dificuldade de visualização do funcionamento físico e anatômico da embocadura,
permite lacunas nos discursos de descrição teórica da técnica. Essas lacunas
facilmente provocam questionamentos e polêmicas seculares.
A escassez de traduções de textos e métodos de flauta para o português,
aliada a essa subjetividade, ampliam a dimensão das abordagens diversas, por
vezes contraditórias em alguns pontos já existentes no cenário flautístico e realça a
necessidade da construção de um discurso teórico coerente e engajado com a física
e anatomia humana.
A subjetividade em descrições pedagógicas, juntamente com a escassez
e dificuldade de acesso a materiais de referência pode influenciar diretamente na
velocidade e qualidade de assimilação do aluno. A dificultosa visualização da ação
da embocadura amplia as dúvidas decorrentes da subjetividade nas descrições, por
se tratar de movimentos faciais pequenos que ocasionam grande variação sonora,
isso sem falar da coluna ar, condição primordial, que não tem como ser visualizada,
assim como abertura do palato e da garganta. O aluno, com isso, tem dificuldade em
descrever o que faz para obter uma boa sonoridade. Futuramente, no papel de
professor, esse antigo aluno permanece com as mesmas dúvidas, possivelmente
gerando na geração seguinte de flautistas o mesmo quadro da sua geração.
Para mudar essa situação, algumas ações no campo de pesquisa devem
ser feitas, como traduções das obras mais comumente usadas ao português, com
isso as descrições teóricas dos autores se tornam mais acessíveis, e definição de
196
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3.1 . Contradições
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consciente da flauta para fora ou para dentro no ato de tocar e cobertura do orifício
do bocal com os lábios.
Reunidos esses diversos pontos divergentes (pois são diversas
estratégias diferentes para obtenção do resultado final) na prática e propagação da
técnica da flauta transversal, averigua-se a total validade de um estudo que
catalogue e defina fronteiras entre modelos diferentes. Desse modo evitando a
perpetuação destas aparentes contradições que podem resultar em modelos
desconexos e ineficientes de produção sonora.
198
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4. Conclusão
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Referências:
LA QUADRA, Patricio de. The Sound Oscillating Air Jets: physics, modeling and
simulation in fluete-likes instruments. 2006. 165 f. Dissertação (Doctor of Philosophy)
– Department of Music and the Committee on Graduate Studies of Stanford
University.
MATHER, Roger. The Art of Playing The Flute. Iowa City: Romney, 1980. V.2
200
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Música
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SADIE, Stanley. Dicionário Groove de Música. Ed. Concisa. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1994, 1048p.
SCHECK, Gustav. Die Flöteund Threr Musik. Mainz: Schott, 1981. Tradução Lucas
Robatto.
Notas
______________________________
¹ Diferentemente dos outros instrumentos de sopro, a flauta não possui nenhuma parte que adentre
ou cubra os lábios do instrumentista, tornando mais difícil explicar em que se baseia o processo de
produção sonora, tanto visualmente como acusticamente.
² Em general, el sonido más agradable de la flauta se parece más a la voz de una contralto que a la
de una soprano, imita lós sonidos de la voz humana que provienen del pecho, a los que les puede
llamar tonos de pecho. Hay que hacer todo lo possible por imitar el sonido de los flautistas que sabem
producir con su instrumento un sonido claro, penetrante, sonoro, redondo, masculino y sin embargo
agradable.
201
1. Introdução
uma peça para Viola da Gamba intitulada Harke, harke do compositor escocês
Tobias Hume (aproximadamente 1569 – 1645). Já o tremolo de cordas é
indicado pela primeira vez na ópera Il Combattimento di Tancredi e Clorinda
(1624) de Monteverdi (1567-1643). Outra técnica rara para esta época e
também encontrada nesta obra de Monteverdi é o Strappare que, devido às
indicações do compositor na partitura e ao contexto de batalha em que foi
utilizado, obtém um caráter expressivo semelhante ao que é conhecido hoje
como pizzicato Bartok.
algumas teclas para que as cordas vibrem por simpatia, execução direta nas
cordas do piano utilizando a mão, dedos ou outros objetos, realização de
harmônicos pressionando os pontos nodais das cordas, abafamento, utilização
de sons produzidos no corpo do instrumento, interação com eletrônica (pré-
gravada ou Live electronic) e utilização da voz.
Referências
CAGE, J. Sonatas and Interludes. Nº 6755. New York: Edition Peters, 1960.
206
DIETEL, G. 'Spectrum 3', 25 contemporary works for solo piano from around
the world. Metronome-MET-CD-1053 (Myers). 2001.
i
Este trabalho tem o apoio do CNPq/Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG.
ii
A disciplina consiste em aulas individuais de piano com carga horária de 15 aulas semestrais.
Dentre seus objetivos está o aprendizado e/ou aprimoramento da técnica básica aliada às
“habilidades funcionais do piano” (Corvisier 2008) bem como o desenvolvimento de
potencialidades ligadas à expressividade que permitam ao aluno realizar de forma satisfatória
um determinado repertório. (Assis 2013)
iii
Técnica onde cordas de pesca são utilizadas para simular um arco de violino acionando as
cordas do piano.
207
RESUMO EXPANDIDO:
Heitor Bonifácio
Faculdade de Artes do Paraná – email?
Resumo: O presente texto realiza uma breve análise harmônica da canção Trovas de Alberto
Nepomuceno (1864-1920), com o objetivo principal de estabelecer fundamentos para a solução
da seguinte problemática de pesquisa: quais elementos harmônicos podem ser destacados de
modo a contribuir para uma compreensão da construção da linguagem harmônica da peça? A
metodologia empregada foi a identificação de três elementos, com base na sua definição por
tratados práticos de harmonia: cadências, emprego de inversões e acordes cromáticos.
Conclui-se que a identificação de elementos de linguagem harmônica, bem como um exame de
como tais elementos são empregados, pode contribuir para uma leitura não só técnica, mas
também expressiva da obra.
o
Abstract: This article presents a brief harmonic analysis of Trovas n 1, by composer Alberto
Nepomuceno (1864 – 1930), aiming at the solution of the following question: what harmonic
elements should be identified in order to better comprehend the harmonic language of a piece?
Methodology was focused in the identification of three different aspects of harmony: cadences,
chord inversions and chromatic chords. Conclusions point to the fact that the identification of
such elements, as well as an analysis of how they are used, can contribute to an understanding
of the musical work not only from a technical point of view, but also expressive.
1. Introdução
2. Cadências
Walter Piston define a cadência como “...a mais importante fórmula usada para
209
A primeira frase do canto (c. 5 – 8) chega numa tríade da dominante com a terça no
baixo:
210
E na segunda frase desse período, a frase conclui no VII invertido, como substituto da
dominante. Essa semicadência marca uma mudança de textura junto com o verso “O
amor pertubou-me tanto”:
211
No compasso 24, a melodia conclui a frase com uma apojatura sobre o V7 (fá# -
sol), que vem precedido do ii6/5. Aqui, devido ao desenho da melodia, a semicadência
não soa tanto como uma chegada no V, mas como uma cadência autêntica que teve sua
conclusão expressivamente omitida.
3. Inversões
natural.” (PISTON, 1930: p. 88). Sobre o acorde de segunda inversão, o autor afirma:
“Uma vez que a quarta é um intervalo dissonante e o de sexta uma consonancia
imperfeita, o acorde seis quatro é um acorde instável.” (PISTON, 1930: p. 117). Koentopp
comenta sobre a segunda inversão: “... o uso do acorde da segunda inversão será
limitado a três opções: acorde de passagem, no momento de uma cadência, e como
bordadura.” (KOENTOPP, pg.42, 2010). Além das três situações mencionadas, o acorde
de sexta e quarta pode ser empregado pelo seu caráter de tensão e ambiguidade à
medida que isso for um efeito desejado pelo compositor. No início da canção, quando
é apresentado o canto, a segunda frase (compassos 9 – 12) é harmonizada com uma
progressão usando acordes na seguna inversão, o que gera um movimento descendente
por graus conjuntos na linha do baixo:
4. Acordes cromáticos
“Todo os acordes de uma escala menor ou maior podem ter a sua própria
dominante chamada de dominante secundária, exceto pelos acordes formados por
tríades diminutas como VIIº grau da escala maior e o IIº e o VIIº graus da escala
menor. As tríades diminutas não servem como Tônicas porque elas podem ser
encaradas como um acorde de dominante incompleto”. (KOENTOPP, 2010: p.
141)
5. Conclusão
E ainda:
O poema está na primeira pessoa do singular, Nas duas primeiras
quadras, o poeta idealiza o sofrimento amoroso, se sentenciando à solidão ou
mesmo à morte como podemos dizer a partir dos dois últimos versos “... minha
alma não sendo tua, não será de mais ninguém”. O poema se estrutura
basicamente em torno de antíteses( morto, vivo ; canto, choro; de dia sonhando,
de noite acordado) e através delas o poeta dá expressão formal às contradições
causadas pelo sentimento amoroso em sua alma atormentada. (2007, p. 28)
Referências:
KIEFER, Bruno. História da música brasileira: dos primórdios ao inicio do séc. XX. Porto
Alegre: Editora Movimento, 1977.
MODALIDADE: Cognição
Resumo: Este trabalho diz respeito a uma pesquisa teórica em andamento referente a duas
propostas educacionais de música surgidas no séc. XX, sendo elas as propostas de
Raymond Murray Schafer e a de Hans Joaquim Koellreutter. Tendo em vista a necessidade
de sugestões de propostas pedagógicas frente às necessidades da educação musical no
Brasil, a pesquisa final visa criar um panorama de utilização das ideias dos autores, partindo
dos pontos de vista semelhantes até então apreendidos, que serão expostos neste texto.
Similarities between the educational proposals of Hans Joachim Koellreutter and Raymond
Murray Schafer
Abstract: This paper concerns a theoretical research in progress regarding two proposals for
musical education emerged in the twentieth century, these being proposed by Raymond
Murray Schafer and by Hans Joachim Koellreutter. Considering the need of suggestions for
pedagogical proposals that meet the needs of musical education in Brazil, this research aims
to create a panorama of utility and range of the principal ideas of the authors, based on the
similar views so far seized, that will be exposed in this text.
Keywords: Musical education. Murray Schafer. Hans Joaquim Koellreutter. Active methods.
th
20 Century.
1. Introdução
2. Os autores
cada vez mais rápido de novos movimentos artísticos pelo mundo (FONTERRADA,
2008, p. 178 - 179). Portanto, a primeira semelhança é a crítica dos autores em
relação aos métodos de ensino tradicionais, tendo em vista que, com o mundo cada
vez mais dominado pela indústria fonográfica e marcado pela ramificação cada vez
maior das artes e seus estilos, havia a necessidade de novas propostas de ensino,
tão abrangentes quanto flexíveis o possível, para atualizar os modos de ensino e
poder assim, contemplar as novas artes.
o docente deve ser capaz levantar dúvidas e questionar os alunos para que estes
lhe demonstrem o que precisam aprender.
A ideia da flexibilidade da ordem de conteúdos se enquadra no panorama
brasileiro uma vez que o ensino musical voltou a ser obrigatório muito recentemente
e em muitos casos não está sendo adequado por falta de mão de obra qualificada.
As atividades de discussão e reflexão frente a ideias musicais podem ser
consideradas uteis principalmente em turmas mais avançadas no ensino musical.
Mas para que ambas as propostas de conteúdo funcionem, é necessário que o
professor esteja aberto para aprender com seus alunos. Os autores classificam o
professor como uma pessoa com conhecimentos maiores e mais profundos, mas
que nem por isso, tem todos os conhecimentos musicais. Para as propostas, o
professor ideal é o que é capaz de indagar e guiar a criação das respostas.
5. Considerações finais
Deste modo, a partir do que foi possível averiguar da bibliografia até então
consultada, notaram-se semelhanças entre as propostas em aspectos de conteúdo,
do papel do docente, de avaliação, de repertório, de audição, de execução e
composição, de ensino e da prática musical. Portanto, conclui-se que com as
adaptações necessárias nos diversos contextos educacionais de música, nos quais
o professor pode ter de atuar, as semelhanças até agora levantadas podem servir
como ponto de partida para o ensino musical que vise formar indivíduos críticos e
musicalmente independentes, com um conhecimento derivado da escuta e
exercitado através de práticas composicionais e interpretativas.
Referências:
Livros:
Capítulo de Livro:
Legislação:
MODALIDADE:
Resumo: Esta pesquisa de iniciação científica, em andamento, traz como objetivo geral
verificar níveis de crenças de autoeficácia de alunos em fase de estágio, do curso de
licenciatura em música, no confronto com atividades de docência. Nesse sentido procuramos
verificar a motivação conforme os níveis de crenças de autoeficácia (Bandura, 1986) dos
sujeitos a serem pesquisados, professores em formação no curso de licenciatura em música
da UFPR, na fase de estágio.
Abstract: This scientifics iniciation research, which is in process, has the general objective of
verify levels of self-efficacy judgements of student trainees graduating in musical education on
confrontation with teaching activities. This way we’re searching for verify the motivation
according as levels of self-efficacy judgements (Bandura, 1986) of the population about to be
researched, forming teachers in graduation on musical education of UFPR, in the trainees
phases.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa de iniciação científica1, em andamento, traz como objetivo
geral verificar níveis de crenças de autoeficácia de alunos em fase de estágio, do
curso de licenciatura em música, no confronto com atividades de docência.
Começadas as atividades com leituras de publicações sobre motivação e música,
para reconhecimento do “estado da arte” deste foco de pesquisas na literatura
nacional e internacional, já tem sido possível verificar o valor que as contribuições do
construto central da Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura (1977) traz para esta
pesquisa: as crenças de autoeficácia. As crenças de autoeficácia se referem a uma
avaliação que o sujeito faz sobre suas capacidades para enfrentar diferentes ações.
Nesse sentido procuramos verificar a motivação conforme os níveis de
crenças de autoeficácia dos sujeitos a serem pesquisados, professores em formação
no curso de licenciatura em música da UFPR, na fase de estágio. Para tal também
se apresenta como objetivo específico a própria compreensão do referencial teórico
com que estamos a abordar essa questão da motivação, e as práticas de ensino e
aprendizagem musicais desenvolvidas pelos participantes da pesquisa.
2. REFERENCIAL TEÓRICO:
225
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
3. METODOLOGIA:
Esta pesquisa, que ainda está em andamento, tem sido desenvolvida em
duas fases distintas. A primeira (fase atual) é o estudo do referencial teórico – Teoria
social cognitiva de Albert Bandura – e o estudo sobre motivação e práticas musicais
em geral. A segunda fase compreende o estudo de campo, cuja metodologia,
descrevemos abaixo.
3.1 Método: Será utilizado o estudo de levantamento (ou survey) como
método para esta pesquisa. De acordo com Gil (2008) e Babbie (1999), o estudo de
levantamento é um delineamento exploratório que permite verificar dados sobre
comportamento de determinado grupo, por meio da interrogação direta.
226
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Esta pesquisa traz implicações para os estudos sobre motivação e música
especialmente para os estudos que tratam da formação de professores de música e
para os estudos sobre processos motivacionais e prática musical. Uma abordagem
sobre o tema das crenças de autoeficácia do aluno licenciando estagiário favorece a
compreensão de fatores psicológicos envolvidos na prática deste aluno e pode
auxiliar na reflexão sobre formação docente nas instituições que trabalham com
cursos de licenciatura em música.
Referências:
BANDURA, Albert. A evolução da teoria social cognitiva. In: A. Bandura, R.G. Azzi &
S. Polydoro (Orgs.). Teoria social cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 43-67.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. - São Paulo:
Atlas,
2008.
1
Este texto tem vínculo com o grupo de pesquisa PROFCEM/CNPq/UFPR
228
Abstract: This paper is the result of a survey conducted at the level of scientific
research, which aimed to experience a compositional poetics in soundscape , called
by us 'mixed soundscape', given from the inter-relationship between the musical
acoustic composition and the soundscape composition , a compositional poetics that
emerged in the 1970s in Canada, and that keeps expanding nowadays. The ethical
and aesthetic issues that are implicit on this compositional poetics are what
guarantee a brand of contemporary in the beginning of this century, that has been
discussed, with some emphasis, the relationship between the individual and the
soundscape around him. Furthermore, thinking in other ways of compositions in
soundscape can contribute to expand the own idea of soundscape composition.
1. Introdução
paisagem sonora, que pode ser definida, sinteticamente, como “qualquer porção
de um ambiente sônico visto como um campo de estudos” (SCHAFER, 1997, p.
366).
Devido à própria natureza de seu objeto de estudo, uma das
principais atividades do WSP consistiu no registro (gravação) de sons
ambientais em diferentes contextos. A partir desses materiais, alguns
pesquisadores e compositores engajados no projeto desenvolveram uma poética
composicional, denominada por Barry Truax como soundscape composition
(TRUAX, 1996, p. 54).
O que parece caracterizar a composição de paisagem sonora “é a
presença de sons ambientais em contextos reconhecíveis”, cujo propósito é
“invocar associações, memórias e a imaginação do ouvinte relacionadas à
paisagem” (TRUAX, 1996, p. 54-55). Além disso, outra intenção do compositor
de paisagem sonora seria a promoção da conscientização do ouvinte em relação
ao som ambiental. Neste sentido, Truax (1996) aponta para o fato de que
enquanto o uso de fontes concretas, por parte do compositor, faz com que o
ambiente permaneça o mesmo (pois o compositor simplesmente capta seus
elementos do ambiente), a composição de paisagem sonora bem-sucedida tem
o propósito de mudar a consciência do relacionamento entre o ouvinte e o
ambiente.
Ainda de acordo com os princípios estéticos e composicionais da
soundscape composition, o compositor não “usa” os sons a seu bel-prazer, pois,
como observa Truax, em tal composição, o som “usa” tanto o compositor quanto
o ouvinte, “naquilo que ele (o som) evoca em cada um deles: a riqueza ou a
dificuldade em verbalizar imagens e associações e tudo aquilo que guia a
composição e sua recepção”. Nessa poética composicional é o som que faz a
mediação do relacionamento entre compositor/ouvinte e o contexto ambiental e
social, “refletindo-o, comentando-o, imaginando sua forma ideal, investigando
seus significados internos”; o som é o foco, ele “guia a composição”: é como se
alguém estivesse “compondo e sendo composto através do som” (TRUAX, 1996,
p. 60).
230
2. Materiais e métodos
3. Resultados e Discussão
4. Considerações finais
Referências:
Alexandre Campos
UFPR - alexmesilva@gmail.com
Débora Opolski
UFPR - deboraopolski@gmail.com
Lucas Diaz
UFPR - luque.ufpr@gmail.com
Resumo: Este trabalho tem o intuito de discutir questões sobre a trilha sonora em narrativas
audiovisuais não lineares, relatando um dos experimentos da pesquisa de iniciação
científica Produção sonora para audiovisual interativo. Com o intuito de resolver a questão
da continuidade e interação entre os fragmentos de vídeos não lineares, o trabalho
apresenta uma estratégia de composição baseada nas idéias da música aleatória e em
exemplos de interatividade em jogos eletrônicos.
Abstract: This paper aims to discuss issues about the soundtrack in non-linear audiovisual
narratives, reporting one of the experiments of the the research Sound production for
interactive audiovisuals. In order to solve the question of continuity and interaction between
fragments of non-linear videos, the work presents a compositional strategy based on the
ideas of aleatory music and examples of interactivity in video games.
1. Introdução
3. Aleatoriedade
#
4. Processo composicional do experimento I
1 Tradução do autor: “Discovering oneself in the midst of a large forest with no idea of the way out, one is
hardly likely to find the flowers beautiful or the bird calls fascinating. However with the introduction of only
a marginal trail or signpost, one can move around with a completely different sensation. Because
electroacoustic resources offer the potential to create particularly exotic forest of sound there is a
compelling need for references. Itʼs important to understand that a point of reference need not be familiar
timbres rhythms, but a process that is comprehended by the listener. A person in the forest finds security
in the function of the paths and signposts, not in the paths or posts themselves”.
239
soar natural para o ouvinte e a trilha acompanhar a imagem sem precisar de recortes e
sem perder a sincronia.
Abaixo, uma sistematização estrutural sobre a pesquisa relatada, aplicada
ao experimento I:
REFERÊNCIAS:
GRIFFITHS, Paul. A música moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
241
PURCELL, John. Dialogue Editing for motion pictures. Focal Press publications, 2007.
Resumo: O século XX viu florescer uma grande quantidade de gêneros e formas artísticas.
Em muitos casos, como na arte sonora, essas formas trouxeram uma transformação dos
modos convencionais de criação. Por se tratar de uma nova forma de uso do som em
criações artísticas e por estabelecer relações com outras áreas de criação, além de uma nova
forma de trabalho com o material sonoro, essa pesquisa pretende abordar essa vertente
artística, a arte sonora, através do conceito de dialogismo do linguista e filósofo russo Mikhail
Bakhtin, tendo em vista que essa perspectiva considera um tipo de relação dialógica entre
várias disciplinas, no campo artístico e conceitual. Essa perspectiva fundamenta a criação de
uma obra original envolvendo vídeo-arte e música eletroacústica.
Abstract: The twentieth century saw the flowering of genres and art forms and in many cases,
as for example in the sound art, they searched for transforming the conventional ways of
creating. Having in mind that it is a new way of using sound in artistic creations and of
establishing relationships with other areas of creation, this research aims to address this
artistic movement – sound art – through the concept of dialogism of the Russian linguist and
philosopher Mikhail Bakhtin, considering that this view considers a kind of dialogic relationship
between the various disciplines, in the conceptual and artistic fields. This perspective grounds
the creation of an original work involving video art and electroacoustic music.
formas mais ou menos complexas no que diz respeito ao uso dos materiais e modos
de relação entre esses materiais no contexto de uma obra artística.1 Nesses casos,
o dialogismo presente nas relações dinâmicas entre materiais, nos valores que
marcam as fronteiras significativas de cada meio, e nos padrões de uso de cada
meio, em particular – consiste em um jogo de interferências mútuas que afetam a
percepção desses trabalhos, no tempo e no espaço, em complemento, gerando uma
expansão das formas tradicionais de trabalho artístico sem anular as características
individuais de cada meio, ou seja, obras que mantém uma unidade em sua
composição gerada a partir de conceitos diversos da criação artística.
A partir de uma perspectiva dialógica, então, é que entendemos o conceito de arte
sonora. Conforme Lílian Campesato e o compositor Fernando Iazzetta
(CAMPESATO e IAZZETTA, 2006: p. 776), o termo se refere a uma reunião de
gêneros artísticos em que o som é o material de referência para uma forma
expandida de composição, uma forma em que tanto os sons como o espaço e o
tempo se misturam para efetuar uma nova forma de expressão. Devido a essa
característica “multidisciplinar”, a arte sonora, segundo Campesato e Iazzetta,
estaria situada na “borda” entre a música e as outras artes. Desse modo, o processo
composicional que dá sentido a essa pesquisa teórica tem por princípio que o
conceito de arte sonora apresenta uma dimensão dialógica que implica certa
autonomia e definição dos limites de uma obra, enquanto se distingue como tal
presença.
Os trabalhos de arte sonora em geral enfatizam o uso de materiais e aspectos
composicionais que não se empregam regularmente na música tradicional, como a
espacialidade, a performance e a plasticidade do som. Justamente por ser fruto de
uma relação dialógica entre meios e formas artísticas distintas, a trama de fatores
estruturais que geram caracteristicamente uma estética própria não se conforma
com procedimentos composicionais que em geral estão associados às formas
artísticas convencionais. Em “arte sonora” se observa uma dimensão nova relativa à
temporalidade e espacialidade dos materiais, além de processos de criação
mediados pelas novas tecnologias de áudio, pelo tratamento do som como objeto de
escultura ou pela ideia de uma experiência multissensorial do trabalho
composicional, como um todo.
Referências:
Livros:
Dissertações:
247
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
CAMPESATO, Lílian. Arte Sonora: Uma Metamorfose das Musas. São Paulo, 2007.
[173p.]. Dissertação (Mestrado em Música). Universidade de São Paulo.
1
http://www.artesonoro.net/ManuelRochaIturbide.html (Acessado pela última vez no dia 13/10/2013).
2
http://www.ufjf.br/eimas/ (Acessado pela última vez no dia 13/10/2013).
3
http://www.inhotim.org.br/ (Acessado pela última vez no dia 13/10/2013).
4
http://www.visionessonoras.org/ (Acessado pela última vez no dia 13/10/2013).
248
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Resumo: Este trabalho se trata de uma pesquisa de Iniciação Científica que se encontra em
andamento. Tem como base a Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura, com foco principal
nos aspectos de motivação e das crenças de autoeficácia (BANDURA et al., 2008), que estão
presentes ao longo do aprendizado de estudantes de música. O objetivo deste estudo é
verificar a construção das crenças de autoeficácia de estudantes de música por meio de
experiências vicárias vivenciadas no processo de aprendizagem musical mediado pela
internet.
Abstract: This paper is about an in progress scientific initiation study. Is based on Albert
Bandura's Social Cognitive Theory, focusing primarily on the motivation aspects and self-
efficacy beliefs (BANDURA et al., 2008), which are present throughout the music students
learning. The objective of this study is to investigate the construction of self-efficacy beliefs in
musics students through vicarious experiences in the music learning process mediated by the
internet.
2. Motivação
249
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
3. Crenças de autoeficácia
4. Metodologia
4. Considerações finais
Referências:
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de Pesquisa Social. 5.ed. São Paulo: Atlas,
1999.
PAJARES, F.; ORLAZ, F. Teoria Social Cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral.
In: BANDURA, A.; AZZI, R.; POLYDORO, S.. Teoria Social Cognitiva: conceitos
básicos. São Paulo: Artmed, 2008.
1 Notas
prazer nas suas atividades cotidianas e não simplesmente em vivê-las. Para realizar
este estudo o autor se apoiou em pesquisas feitas com várias pessoas de todo o
mundo.
2. Metodologia
segunda etapa conterá uma escala tipo Likert, de 5 ou 7 pontos, para verificação das
categorias dos elementos da experiência do fluxo presentes na prática musical dos
entrevistados. O questionário testado inicialmente em um estudo piloto, será
analisado sobre a confiabilidade e coerência interna das questões. Após esta análise
será aplicado com a população definitiva.
A análise dos dados, por sua vez, será feita por meio de tratamento
estatístico e trazendo elementos para caracterização do grupo e para a verificação
da incidência dos elementos do fluxo presentes (ou não) na prática dos músicos
participantes.
3. Considerações Finais
4. Referências
Livro
CSIKSZENTMIHALYI, M. A descoberta do fluxo. Psicologia do envolvimento com a
vida cotidiana. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
255
MODALIDADE: COGNIÇÃO
Bibiana Bragagnolo
UFPB - bibi_bragagnolo@hotmail.com
Luciana Noda
UFPB - lucnoda@gmail.com
Abstract: This paper presents the application and test of the performance cue’s
memorization model (CHAFFIN et al. 2002) in Robert Schumann´s Abegg Variations.
The timbre was the parameter chosen for the selection of the performance cues used
to memorize the piece for performance. The partial results of this research reveal the
potentiality of the timbre as criteria to select performance cues for rescue of
information from memory and also in the optimization of the interpretation.
Keywords: Memorization. Performance cues. Timbre. Abegg Variations.
1. Introdução
aqueles nos quais o intérprete deve focar sua atenção, pois com eventual falha
podem levar à outra sessão da obra. (CHAFFIN, CRAWFORD, IMREH, 2002,
p. 170). Nos guias expressivos reside a possibilidade da inclusão do timbre
como parâmetro para seleção dos guias de execução. A premissa é que ao
aliar o timbre, que é um aspecto ligado à expressividade e individualidade, à
memorização, esta se torne mais eficaz e, possivelmente, mais expressiva.
O conceito de timbre aqui adotado combinará os conceitos de
McAdams e Seashore apresentados por Holmes (2012). De maneira mais
genérica, o timbre é definido por McAdams como “o atributo da sensação
auditiva que distingue dois sons que são iguais em afinação, duração e
intensidade” (McADAMS apud HOLMES, 2012, p. 303). Esta definição é
perfeitamente aceitável do ponto de vista físico, porém não representa as
propriedades artísticas e potencial expressivo do timbre. Seashore, por sua
vez, utiliza o termo “sonância” (sonance) e o define como “as sucessivas
mudanças e fusões que tomam lugar em um som de momento para momento”
e recomenda esta definição como o entendimento do termo em um contexto
musical (SEASHORE apud HOLMES, 2012, p. 303). Neste trabalho o
entendimento de timbre levará em conta as perspectivas destes dois autores,
abrangendo tanto o aspecto físico quanto o expressivo de tal parâmetro
musical.
A metodologia para a realização desta pesquisa contou com duas
etapas principais: (1) seleção dos guias de execução para a performance de
memória da peça, com base no timbre, juntamente com a descrição e
justificativa de decisões interpretativas que envolvem manipulação do timbre
nos guias selecionados; (2) teste dos guias selecionados em três performances
públicas onde a peça foi executada de memória. A metodologia desta pesquisa
envolveu a utilização de um diário de estudo, onde foram anotadas questões
sobre as sessões de estudo (o que foi estudado, como foi estudado, falhas de
memória ocorridas e suas respectivas localizações na partitura) e também
impressões subjetivas sobre o processo de aplicação do modelo de
memorização através de guias de execução nas Variações Abegg de
Schumann. Além disso, as sessões de estudo e os três recitais realizados
258
Exemplo 2 - Citação do tema na voz aguda da mão direita no Cantabile (c. 108.3 – 112) como
guia de execução expressivo vinculado ao timbre
3. Teste dos guias de execução selecionados em
apresentações públicas
Referências:
i
Os resultados parciais apresentados neste trabalho fazem parte de uma pesquisa de
mestrado, onde a manipulação do tempo também foi escolhida como critério para seleção dos
guias de execução utilizados na performance de memória das Variações Abegg de Schumann.
ii
Em pesquisa anterior o timbre foi utilizado como parâmetro de seleção de guias de execução
expressivos em uma peça do século XX, a Mini Suíte das Três Máquinas de Aylton Escobar
(BRAGAGNOLO, 2012). Em outro trabalho, guias de execução expressivos foram escolhidos a
partir de outro parâmetro, a manipulação do tempo, e serviram de suporte na performance de
memória do Tema e Variação I das Variações Abegg de Schumann (BRAGAGNOLO; NODA,
2013).
264
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
MODALIDADE: Cognição
Silvio Ferraz
UNICAMP – silvioferrazmello@gmail.com
Resumo: O trabalho promove uma reflexão sobre a entidade receptora do discurso musical,
através da acepção de Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tytec no Tratado da
Argumentação: a Nova Retórica. Esse referencial permitirá a discussão sobre o papel do
auditório e sua influencia no fluxo discursivo. Para que a discussão seja devidamente
transposta ao campo musical, foram elencados como objetos de análise a Sequenza XIV, de
Luciano Berio e Maknongan, de Giacinto Scelsi.
Palavras-chave: Retórica musical. Recepção. Discurso musical. Música contemporânea.
Abstract: This paper hosts a reflection about the receiver entity of the musical discourse
through the concept written by Chaïm Perelman and Lucie Olbrechts-Tyteza in The New
Rhetoric: a Treatise on Argumentation. This reference allow discussing on the role of the
audience and its influence in the discursive stream. To transfer this issue for music, they are
chosen as objects of analisys, both Luciano Berio’a Sequenza XIV and Giacinto Scelsi’s
Maknongan.
Keywords: Musical rhetoric. Reception. Musical discourse. Contemporary music.
1. Introdução
“Well I prefer that, I must say I prefer that, that what, oh you know, who you,
oh I suppose the audience, well well, so there’s an audience...” (BECKETT,
The Unnamable, p. 381 apud. BERIO, Sinfonia, III mov.)
2. Metodologia
3. Os auditórios de Perelman
sempre limitado, já que seu mero papel particular permanecerá assim avaliado por
um remanescente.
A heterogeneidade do auditório não difere, se levada às últimas
conseqüências, da heterogeneidade existente em cada ser, que é passível de
mudanças, dialeticamente falando, e contém um grande número de pressupostos e
paradoxos interiores. Desse modo, o estabelecimento de um estatuto do auditório
favorece o processo de construção do discurso, pois traça um plano definido de
negociação de seus significados, diferente do racionalismo, que conferiu toda a
autoridade para o espírito abstrato desse auditório.
Em uma realidade do saber que lida com colapsos da visão racionalista
de mundo, a retórica volta a ser relevante como ferramenta (organon [ὄργανον]) que
opera além das relações lógicas, que é o estado em que ainda jaz muito da
discussão sobre significação musical. Nesse estado prévio, tal discussão teria
resultados generalizantes ilegítimos, que apenas tautologizariam uma intuição
particular3. Sendo assim, não se pretende estabelecer a ideia de um discurso
totalizante, que se dirija ao “espírito divino”, mas a compreensão da imagem que
cada orador (compositor, intérprete) faz de seu auditório universal, baseado em seu
conhecimento prévio, e resultando no fechamento da tríade orador – discurso –
auditório. O discurso tem seu sentido em função de seu auditório e mesmo o
auditório, assume essa condição em função das presunções do orador, sendo essa
cadeia contínua e dinâmica.
O valor da tradição para Berio é inestimável, pois ele parte dela, não
como entidade histórica, mas como elemento de comunhão com o auditório. Como
foi dito, ele parte dela, não se limitando, mas superando-a e muito, adquirindo,
contudo, um vínculo comunicativo dentro do discurso, realizando a tarefa de
transformar objetos simbólicos e conceituais em objetos passíveis de serem
sentidos. A música, então, não comunica por si só, mas cria a possibilidade de se
comunicar no espaço criado. Como fora afirmado em outro trabalho “música é um
268
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
espaço de escuta virtual esperando para ser atualizado, mesmo quando ninguém
não quer ouvi-la” (FERRAZ, 2001, p. 6)
Assim, a obra de Berio é condicionada para ser aberta ao público
permitindo “que o ouvinte ‘escolha’ e eleja ‘seus’ elementos formais” (BERIO, 1983,
p. 19), proporcionando uma escuta ativa ao auditório, incluindo-o no processo
discursivo, como é definido no esquema retórico. Ele faz uso de figurações que
consigam alterar a expectativa do público, trazendo figuras rítmicas de danças do Sri
Lanka e construindo um gesto no violoncelo que não corresponde a nada antes
escrito no repertório do instrumento, ao mesmo tempo em que, no exemplo anterior,
constrói uma linha bastante próxima à linguagem tradicional.
Berio afirma sua posição frente ao que foi acima exposto, sobre a tensão
entre o refletir sobre a audiência e se render incondicionalmente a ela:
“Hoje, o ouvinte tem uma tendência a fazer uso de toda a música passada
como se ela fosse um bem de consumo. Isso faz sentido, porque, para o
ouvinte, o passado é a mais disponível fonte de conhecimento musical,
embora essa tendência freqüentemente carregue sinais de uma frustração
ideológica inconsciente, pois está enraizada não em um código de valores
musicais plausíveis, mas na forma como nós somos condicionados pelo
mercado.” (BERIO, 2006, p. 61)
6. Considerações finais
Referências:
DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Felix. Mil platôs. Tradução de Suely Rolnik. Volumes
1-4. São Paulo: Ed. 34, 1997.
FERRAZ, Silvio. Music and communication: does music want to communicate at all?
In. MikroPolyphonie. Australia, v. 7, p. 1, 2001.
SCELSI, Giacinto. Les anges sont ailleurs.... Edição de Sharon Kanach. Paris: Actes
Sud, 2006.
1
ARISTÓTELES, 2005, p. 104.
2
PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 38.
3
PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 37.
4
KOSSOVITCH, 2013.
5
BERIO, 1988, p. 86.
6
SCELSI, 2006, p. 151.
271
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Jorge A. Falcón
PUCPR – jorge.falcon@pucpr.br
Jetson de Souza
PUCPR - jetsonsouza15@hotmail.com
Abstract: This paper describes the process used for the recognition of rhythmic, melodic,
timbral and accentual structures as a tool for developing criterias for the recognition and
transcription of musical pieces. The framework was selected by the menu of the discipline,
indicating the work of musical structures in major and minor modes (major scale was used in
this case). From this we suggest ways of inter-relationship between different sound
dimensions for understanding the musical phenomenon as a whole.
Keywords: musical perception, pop/rock song, musical analysis.
Introdução e problemática :
Às vezes os desafios na educação musical aparecem nos lugares menos
esperados. Nesta caso, um de nos (Falcón) deparou-se, como professor, com a
tarefa de dar sentido á ideia de percepção musical dentro da disciplina Treinamento
Perceptivo, na grade curricular do PPC da PUCPR. Havendo os alunos trabalhado
anteriormente com um outro professor, à minha função cabia integrar as práticas das
habilidades paramétricas que haviam sido desenvolvidas na turma, objetivando uma
compreensão multidirecional e multifuncional da música. Ao fazer uma avaliação do
estado do treinamento auditivo da turma foi observado que:
• Alguns exercícios atendiam necessidades específicas, como leitura e ditados
rítmicos não estavam relacionados a estruturas musicais ou a contextos
musicais reais, sendo apenas exercícios abstratos e distantes da realidade
musical dos alunos
• A literatura é desatualizada, ou quase “ginástica”. A literatura disponível na
nossa língua é exígua e antiga, enquanto boa parte da literatura que
analisamos da área de outras línguas (basicamente inglês) é pouco
integralizadora parecendo exercícios técnicos ginásticos e unidimensionais.
• Falta da compreensão da música desde um ponto de vista amplo ou
integrador.
272
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
O processo
Níveis rítmicos – grade métrica
O primeiro passo foi o reconhecimento de infraestruturas, ou neste caso
específico algum tipo de grade métrica que organize a distribuição dos eventos
sonoros no tempo, para todos os instrumentos. Em um trabalho anterior de um de
nos (Falcón e Nicknich, 2013) estudaram-se os níveis rítmicos a partir de matrizes
binárias e ternárias. Desta maneira, uma matriz binária (absoluta, por ser totalmente
binária) representa-se assim:
274
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
som pausa
curto longo
Alturas:
Para o trabalho de reconhecimento e posterior escrita das alturas, os
alunos já tinham habilidades para o reconhecimento dos graus da escala maior (1 a
7) e a construção de acordes dentro dos modelos da harmonia funcional tradicional.
Para evitar a complexidade desnecessária (devido aos limites do cérebro segundo
observado acima), procedemos a simplificar os primeiros passos e ir acrescentando
276
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Si Ré Ré Ré Ré Si
Exemplo 6 reconhecimento das notas (como graus da escala –em números- de Sol, neste caso)
O terceiro passo foi juntar o resultado da parte rítmica com a parte das
alturas.
Referências:
BREGMAN, Albert. Auditory scene analysis. London: The MIT Press, 1999.
Discografia:
compreensão emic do fenômeno, e Pérez Fernández (1987) para uma compreensão do sincretismo
rítmico
3
em América Latina.
Embora não seja o escopo deste e trabalho, é bom salientar que os acentos próprios da língua do
texto “Long as I remember...” ajudam também como quarto elemento acentual, porém, é impossível
aplicar uma regra, toda vez que a liberdade criativa do compositor pode propositalmente desvirtuar a
relação acentos musicais – acentos linguísticos.
281
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Resumo: Este artigo apresenta os resultados iniciais da investigação sobre o Estado da Arte
na Pesquisa sobre a obra para violoncelo de Kaija Saariaho e integra pesquisa de mestrado
em curso sobre a obra Sept Papillons, para violoncelo, de Saariaho. Os referenciais teórico-
metodológicos são FERREIRA (2002), KERR & CARVALHO (2005) e ARROYO & JANZEN
(2007). Verificou-se a predominância de abordagens que dialogam com, ou, partem de:
técnicas espectrais, processos da música eletroacústica e a área de música e tecnologia.
The State of Art in the research on Kaija Saariaho´s cello compositions: initial results
Abstract: This paper presents the initial results of the research on the State of Art in the
research on Kaija Saariaho´s cello compositions and integrates an ongoing masters research
on Saariaho´s cello piece Sept Papillons. The theoretical and methodological frameworks
used are FERREIRA (2002), KERR & CARVALHO (2005) and ARROYO & JANZEN (2007).
We verified the predominance of approaches that dialogue with, or depart from: spectral
techniques, processes of electroacoustic music and the music technology area.
Keywords: Kaija Saariaho. Cello. State of the Art. Music and Technology.
1. Introdução
2. Referenciais Teórico-Metodológicos
3. Resultados Iniciais
Ano Artigos
1983 SAARIAHO, Kaija. Using the computer in a search for new aspects of timbre organization and composition.
Proceedings of the Rochester 1983 International Computer Music Conference. Eastman School of Music.
International Computer Music Association, 1983, p.269-73. San Francisco.
1985 SAARIAHO, Kaija. Shaping a Compositional Network with Computer. Proceedings of the 1984 International
Computer Music Conference. IRCAM, Paris. International Computer Music Association, 1984, p.163-5. San
Francisco.
1987 SAARIAHO, Kaija. Timbre and Harmony: Interpolations of timbral structures. Contemporary Music Review, Vol.
2, Part 1, p. 93-133. Harwood Academic Publishers, Switzerland.
1993 CHABOT, Xavier; SAARIAHO, Kaija; BARRIÈRE, Jean-Baptiste. On the Realization of NoaNoa and Près, Two
Pieces for Solo Instruments and Ircam Signal Processing Workstation. Proceedings of the 1993 International
Computer Music Association. Waseda University, Japan. University of Michigan Library, p. 210-213. Michigan.
2000 POUSSET, Damien. The Works of Kaija Saariaho, Philippe Hurel and Marc-André Dalbavie – Stile
Concertato, Stile Concitato, Stile Rapresentativo. Translated by Joshua Fineberg and Roman Hyancinthe.
Contemporary Music Review, Vol. 19, Part 3, p. 67-110. Harwood Academic Publishers, Switzerland.
2000 KANKAANPÄÄ, Vesa. Displaced time: transcontextual references to time in Kaija Saariaho´s Stilleben.
Organised Sound, Vol. 1, Issue 2, p.87-92. Cambridge University Press. United Kingdom.
2003 SIVUOJA-GUNARATNAM, Anne. Desire and distance in Kaija Saariaho´s Lohn. Organised Sound, Vol. 8, Issue
1, p.71-84. Cambridge University Press. United Kingdom.
2003 RIIKONEN, Taina. Shaken or stirred – virtual reverberation spaces and transformative gender identities in
Kaija Saariaho´s NoaNoa (1992) for flute and electronics. Organised Sound, Vol. 8, Issue 1, p. 109-115.
Cambridge University Press. United Kingdom.
2004 LORIEUX, Grégoire. Une analyse d´Amers de Kaija Saariaho. Revue DÉMéter, revue électronique du Centre
d'Etude des Arts Contemporains de l'Université Lille 3, Novembre 2004, p. 1-34. Villeneuve-d'Ascq, France.
2005 RIIKONEN, Taina. Shared sounds in detached movements: flautist identities inside the ´local-field´spaces.
Organised Sound, Vol. 9, Issue 3, p.223-242. Cambridge University Press. United Kingdom.
284
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
2010 O´CALLAGHAN, James. EIGENFELDT, Arne. Gesture transformation through electronics in the music of
Kaija Saariaho. Proceedings of the Seventh Electroacoustic Music Studies Network Conference, Shangai, 21-24
June 2010, p. 1-24. Shangai.
Periódicos
*2013 MAO-TAKACS, Clement. 2
Kaija Saariaho: l’ombre du songe. Tempus Perfectum - Revue de Musique, Nr. 11, abril
2013. Symétrie, Paris.
Livros
2009 MOISALA, Pirkko. Kaija Saariaho. Women Composers Collection. University of Illinois Press, Urbana and Chicago.
2011 HOWELL, Tim; HARGREAVES, Jon; ROFE, Michael; Ed. Kaija Saariaho: Visions, Narratives, Dialogues.
Ashgate Publishing Limited. Farnham, United Kingdom.
3
*2013 SAARIAHO, Kaija; ROTH, Stéphane. Le passage des frontières. Écrits sur la musique. Musica Falsa, Paris.
Quadro 1: Textos Acadêmicos que focalizam a temática da obra de Kaija Saariaho.
4. Mapeamento
Objetivos Descrever os processos composicionais que Realizar uma análise da obra Amers, com
originaram a peça, em especial a utilização foco nos princípios da técnica espectral
da Estação de Processamento Sonoro do utilizados pela compositora e que serviram
Ircam e as possibilidades de interação entre de material básico para diversos níveis da
meios acústicos (instrumentos solistas) e estrutura musical.
eletrônicos (os processadores e sons
processados pré-gravados ou gerados em
tempo-real)
Problematização Investigar as possibilidades de interação A análise musical pode mostrar que
entre a prática musical e os meios princípios da técnica espectral podem
eletrônicos nos processos composicionais e servir como elementos geradores de uma
durante a performance instrumental. Isto é composição inteira? Caso possa, de que
possível? Até que ponto? Quais são os forma acontece?
resultados deste processo?
Procedimentos Descrição dos processos composicionais e Análise musical e Análise espectral.
Metodológicos de situações de performance e recepção
estética.
Resultados Segundos os autores: “Nas duas peças, a Segundo o autor: “o uso de seu gestual
parte para electrônicos amplifica e ártico, frio, um trinado de violoncelo
desenvolve a estrutura sonora do vertical sobre o Mi bemol 1, que é a
instrumento solo, exemplifica a estreita origem da evolução harmônico- timbrística
relação entre os materiais sonoros e a e formal da peça: os princípios derivados
estrutura musical, e explora estratégias em da notação/escrita dos trinados regem
tempo real para o controle sobre várias toda a obra, do todo aos seus mínimos
sínteses [sonoras] e os algoritmos de detalhes”
processamento de sonoro.”
Quadro 5: Mapeamento dos artigos de Chabot et al (1993) e Lorieux (2004), através dos títulos e
resumos.
Referências:
HOWELL, Tim; HARGREAVES, Jon; ROFE, Michael; Ed. Kaija Saariaho: Visions,
Narratives, Dialogues. Farnham, United Kingdom: Ashgate Publishing Limited, 2011.
Exemplo 1: Plano tonal da canção “Choro Bandido” de Edu Lobo e Chico Buarque.
291
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências:
BAILEY, Robert (Org.). Richard Wagner: Prelude and Transfiguration from Tristan
and Isolde. New York: Norton & Comp, 1985.
LOBO, Edu. Songbook Edu Lobo. Rio de Janeiro, Lumiar Ed., 1994.
PEFORMANCE
Resumo: Este artigo faz uma exposição de algumas das novas possibilidades sonoras
surgidas no repertório de percussão desde a década de noventa até os dias atuais. A
pesquisa tem como objetivo a execução e posterior análise crítica de obras pré-selecionadas
para percussão com expansões sonoras por processos diversos. A metodologia é
compreendida desde o processo de estudo técnico e interpretativo das peças pré-
selecionadas, passando pela exploração das possibilidades timbrísticas dos instrumentos
convencionais e não-convencionais, até os resultados obtidos em oficina de experimento com
processos de interação tecnológica.
New possibilities for percussion sound from expanded technical and technological resources
in real time.
Abstract: This paper makes an exhibition of some new sonic possibilities arising in the
percussion repertoire since the nineties until today. The research aims to performance and
subsequent critical analysis of pre-selected pieces for percussion with sound expansions by
various processes. The methodology is understood from the interpretation studies of selected
pieces, exploring the possibilities of sounds of the conventional instruments and non-
conventional instruments, to the results obtained in experiments with processes of
technological interaction.
1. Introdução
Figura 1: Notação da peça Velocities com o uso de “x” substituindo a nota real pela nota expandida.
particulares. Esta nos parece ser a forma de expansão sonora mais comum e
utilizada pelos percussionistas, pois algumas delas já fazem parte do repertório dos
instrumentos de percussão. Outra possibilidade muito usada refere-se ao uso de
abarcam esse tipo de repertório, porém essas obras acabam exigindo certa
maturidade por parte do instrumentista, para estabelecer uma relação direta entre a
Tractus Mobilis III, de Marcilio Onofre, foi composta no ano de 2010. Esta obra
apresenta uma gama de novas possibilidades sonoras utilizando um vibrafone e dois
triângulos de diferentes tamanhos. Segundo o compositor, a intenção nessa obra foi
fundir os parciais harmônicos do vibrafone com os do triangulo, em diferentes
regiões de alturas. Para tanto, o compositor utiliza técnicas expandidas de diversas
formas, desde as mais comuns como o uso do arco ou rattan, até expansões
técnicas como encostar suavemente a ponta do cabo da baqueta sobre a ponta da
tecla enquanto ela vibra, provocando leve ruído e ainda tocar o vibrafone com
baquetas de xilofone, com notas articuladas e glissandos.
298
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Neste estudo, se propõe uma nova forma de expansão, a qual utiliza uma
peça que tem suas expansões e estéticas estabelecidas pelo compositor, mas que
agora será expandida por processamentos eletrônicos. Segundo CAMPOS e
MANZOLLI (2010) a maioria dos processamentos sonoros atuais referen-se a três
tipos de ambientes de programação computacional, sendo: MAX/MSP; SuperCollider
e Pure Data (Pd).
Com isto, a música de Onofre (2010) ganha uma nova estética, pois
agora, o interprete dispõe de um ambiente com outras noções de tempo e duração.
Sobre a colocação do interprete neste contexto, CAMPOS (2008) comenta que, ao
se utilizar da improvisação como processo de mediação, passa a desempenhar a
função de elemento de coesão na estrutura da obra. Em nossa pesquisa, mesmo a
obra sendo composta fora deste contexto, o intérprete toma uma característica
improvisatória diante do novo ambiente e passa a ser um elemento fundamental na
estrutura do produto final.
299
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
6. Metodologia
7. Conclusão
Referências:
ONOFRE, Marcílio. Tractus Mobilis III. Para Vibrafone e Triângulos. João Pessoa,
Paraíba: Obra registrada em programa computacional de edição de partitura
“Sibelius,” 2010.
STASI, Carlos. Canção Simples de Tambor. São Paulo: Obra registrada em partitura
manuscrita, 1990.
301
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
MODALIDADE: Performance
Lucas Robatto
Universidade Federal da Bahia – robattolucas@gmail.com
Resumo: Este trabalho aborda a técnica flautística como uma série de ações
interdependentes que buscam determinados resultados sonoros desejadas no
instrumento. Tais ações são numerosas, e o grau de interdependência entre elas permite
muitas variações em cada aspecto isolado, resultando em diferentes abordagens e
estratégias de execução para uma mesma tarefa musical. O objetivo principal deste
estudo é verificar o grau de acuidade e a aplicabilidade prática deste método de
verificação visual no estudo das relações de interdependência destes parâmetros
variáveis, apontando um possível caminho para futuros estudos em performance.
Validation of Analytical Tool for the study of four embouchure variables in the Sound
Production of Flute
Abstract: The present work addresses the flute technique as a series of interdependent
actions aiming a desired function of the instrument. Such actions are numerous and the
level of interdependency among them allow many variations in each single aspect,
resulting in different performance approaches and strategies for the same musical task.
The main purpose of this research is to verify the level of accuracy and practical
applicability of this visual method on the study of the relationship and interdependency of
those variables parameters in flute playing, opening a possible path to future studies in
flute performance.
1. Introdução
Imagem 1 - Variáveis altura (h) e largura (H) da embocadura, distância desta embocadura até a
aresta do bocal (W). Imagem frontal produzida através de gravação em vídeo da embocadura e a
visão lateral foi reproduzida com o auxilio de um espelho fixo a lateral
Aresta do bocal
y
Saída de ar
x
θ θ
Imagem 2 – Figura ilustrativa da Imagem refletida lateralmente. Eixo tangente à flauta e a distância
W formam duas semirretas dando origem ao ângulo de posição θ.
3. Métodos e Procedimentos
até a flauta (W) e o ângulo de posição desta distância em relação à flauta (θ) com o
intuito de conhecer distintas estratégias e verificar se estas medições conseguem
identificar e mensurar alguns parâmetros variáveis presentes nas diferentes
abordagens para a produção de som.
Os procedimentos utilizados nesta pesquisa foram baseados nos dados
obtidos na publicação “The Sound of Oscillating Air Jets: Physics, Modeling and
Simulation in Flute-Like Instruments” de Patrício de La Cuadra (2005).
A Imagem 3 apresenta o equipamento utilizado para a montagem do
experimento.
5. Resultados e Discussão
6. Considerações Finais
Referências:
1
COSSETTE, Isabelle, et al. From Breath to Sound: Linking Respiratory Mechanics to
Aeroacoustic Sound Production in Flutes. Acta Acustica United with Acustica, v. 96, n. 4, p. 654-667,
2010.
CUADRA, Patricio de la, et al. Analysis of flute control parameters: A comparison
between a novice and an experienced flautist Control parameters and experimental setup Comparison
between players Sound production. Forum Acusticum 2005 Budapest, p. 27–31, 2005.
FABRE, B; HIRSCHBERG, A. Physical modeling of flue instruments: a review of lumped
models. Acta Acustica United with Acustica, v. 86, p. 599–610, 2000.
312
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
MODALIDADE: PERFORMANCE
Guilherme Espindula
UFRGS – guilhermespindula@gmail.com
Fernando Gualda
UFRGS – fernandogualda@hotmail.com
Resumo: Esta pesquisa busca identificar como contrabaixistas podem estar sendo influenciados
pelas duas principais escolas de digitação de contrabaixo. A revisão cronológica de métodos de
técnica de contrabaixo, artigos e teses revela crescente citação de ambas digitações ao longo da
história. Foi desenvolvido um questionário online, através do qual podem ser escolhidos trechos do
repertório que possibilita várias soluções de digitação. Com os resultados obtidos será possível
propor novas metodologias de execução e ensino utilizando as tecnologias disponíveis do século XXI.
Abstract: This research aims to identify how double bass players may have been influenced by the
two main schools of fingering. Chronological review of literature on methods for double bass playing,
research articles and academic dissertations reveals increasing number of works citing both
approaches. An online questionnaire has been developed, through which players can select fingerings
for excerpts of repertoire for double bass that enables multiple solutions. Results may help developing
new methodologies for playing and teaching double bass using XXI century technologies.
O contrabaixista pode escolher diferentes digitações para executar uma obra. Essas
escolhas podem ser representadas tanto por um padrão técnico próprio derivado de
sua experiência musical, quanto por padrões estabelecidos previamente por outros.
Historicamente, possibilidades de técnica foram organizadas de acordo com a
preferência pessoal de contrabaixistas que se perpetuou seja por tradição oral,
através de alunos, ou pela publicação de métodos. Esse desenvolvimento de
técnicas levou à formação de escolas. Essas escolas de contrabaixo são, portanto,
generalizações tanto de soluções de digitação, quanto de outras questões técnicas.
313
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
A escola Italiana originou-se com Giovanni Bottesini, sendo difundida por Isaia Bille.
Embora o método do Bottesini (1887) tenha sido o primeiro a divulgar a escola
italiana, foram os sete volumes publicados por Bille (1922) que a disseminou. Sua
visão sobre a técnica de digitação, a escola teve poucas republicações.
Prunner (1955)
Montag (1962)
Sankey (1968) *
Murray (1968)
Streicher (1977)
Portnoi (1978)
Rabbath (1980)
Rollez (1980)
Petracchi
(1982)
Koehler (1990)
Wolf (1991)
Reike (1993)
Salles (1997) Kestenbaum (1997)
Gale (2000)
Morton (2002) *
Levinson (2002)
Bradetich (2009)
Lago (2010)
Borém (2011)
OʼBrien (2012)
Figura 1: Revisão cronológica de métodos de técnica de contrabaixo, artigos e teses que revela
crescente citação de ambas digitações ao longo da história.
315
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Para verificar essas tendências, foi desenvolvido um questionário online, com uma
interface para que os contrabaixistas marquem a digitação que melhor satisfaça a
execução de um trecho musical. Essa interface possibilita a verificação empírica da
tendência para uma, ou outra escola de digitação. Foram escolhidos exemplos de
escalas, arpejos e padrões melódicos que possibilitem várias soluções de digitação.
O questionário também inclui listas dos métodos estudados para identificar influência
de escolas específicas durante a formação do músico, assim como questões
discursivas para que se possa descrever detalhadamente preferências de digitação.
Figura 2: Escala de dó maior e interface através da qual contrabaixistas selecionam suas digitações.
316
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências:
BENFIELD, Warren. The art of double bass playing. Miami, Florida 33014: Cummy-
Birchard Inc, 1973.
BRADETICH, Jeff. Double Bass: Ultimate Challenge. Idaho: Music For Ali To Hear,
lnc, 2009.
BRUN, Paul. The New History of the Double Bass. Villeneuve dAscq - France: Pau
Brun Productions, 2000.
317
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
KESTENBAUM, Milton. (1977). Extension and 3rd finger. USA.Bass World: The
Journal of the International Society of Bassists. v.3, n.2, Winter, p.259.
KOEHLER, William K.(1990). Left hand technique and the use of the four finger-
system and cello extensions.USA. The Journal of the International Society of
Bassists. V. 16, n.3, Fall, p. 16 – 20.
LEVINSON, Eugene. The school of agility. New York: Carl Fischer, 2002.
MACTIER, Duncan. Daily Exercises for Double Bass. London. Mctier Music, 1994.
MORTON, Mark. Dr. Morton's double bass technique: concepts and ideas.
Columbus, OH: Basso-Profondo Publications, 1991.
RABATH, Fraçois. Nouvelle technique de Ia contrabasse, vols i ii iii & iv. Paris:
Alphonse Leduc, 1980.
REINKE, Gerd. Carl Flesch. Scale System. Berlin: Verlag Von Ries & Erler, 1994.
SIMANDL, Franz. New Method for String Bass Vol. I e 11. New York: International
Music Company.
STREICHER, Ludwig. Scale and Chords Studies for Double Bass. Müchen: Ludwig
Doblinger, 2000.
1
Digitações no contrabaixo são indicadas por números que representam os dedos da mão esquerda:
1- Indicador, 2-Médio, 3-Anelar e 4-Mínino.
2
Durante o Brasil colônia, o contrabaixista Lino José Nunes escreveu um método para contrabaixo
que utilizava somente os dedos 1 e 4. Como somente foi encontrado na Biblioteca Nacional em 2012,
não configura uma escola de contrabaixo.
318
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Histórias que ouvi e coisas que aprendi com a Sonata Op. 147 de
Dmítri Shostakóvitch
Existe uma sonata para viola que estava destinada a ser a última
composição musical de alguém que trabalhou até seus últimos dias, consciente da
iminência de sua própria morte. A última obra do compositor russo Dmitri
Shostakóvitch (1906-1975) é também sua única obra dedicada à viola: a Sonata
para Viola e Piano Op. 147, de 1975. Personagem controverso, Shostakóvitch
inspirou pesquisas, biografias e debates, especialmente acerca de sua postura
colaborativa diante do regime stalinista vigente na Rússia a partir de 1924 (cf.
COELHO, 2006; FAYE, 2000; ROSS, 2009). Vivendo um século de transformações
intensas e impactantes (cf. COTANDA, 2009), Shostakóvitch trabalhou no limiar
entre o abstracionismo e as prescrições estéticas dos líderes de seu país numa
permanente e criativa negociação política e musical que, entretanto, em diferentes
níveis e maneiras, atinge aos músicos em geral (cf. FISCHERMAN, 2011).
Shostakóvitch consagrou-se como um dos grandes do século XX, produziu uma obra
vasta e variada em diversos gêneros musicais (cf. HULME, 2010; RILEY, 2004) e foi
aclamado tanto pela cultura dissidente quanto pela cultura oficial (cf. McKAY, 2000).
Na fase inicial, que coincidiu com o futurismo, experimentou a música industrial e
mecanicista (cf. COUTO JÚNIOR, 2004; MAIA, 2008). Mais tarde, com o stalinismo,
se viu monitorado por um programa estatal que denegria o formalismo e restringia a
música experimental em prol de uma música simplificada e supostamente
identificada com valores populares apregoados pelo realismo socialista que
explorava o potencial propagandístico das artes (cf. ACS, 2011; GAY, 2009;
HARTMANN, 2010; MARON, 2004). Aqui vale notar que, como observam diversos
comentaristas, ao contrário do que acontecia com sua visada produção sinfônica (cf.
COELHO, 2006; RADICE, 2012), foi na música de câmara que Shostakóvitch
encontrou maior espaço para a expressão autoral e o experimentalismo.
319
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
É significativo para o repertório da viola contar com uma obra escrita por
um compositor no auge da maturidade e com o prestígio de Shostakóvitch. A viola é
um instrumento de conotações especiais para alguns compositores que chegaram a
elegê-la como voz solista por sua capacidade de expressar sentimentos de grande
beleza ou melancolia. Excetuando Paul Hindemith, a viola não foi exatamente a
primeira opção em obras para instrumento solista e, para alguns outros
compositores, a escolha da viola solista ocorreu somente ao final de suas vidas (cf.
MAURICE, 2000). A Sonata para Viola de Shostakóvitch foi dedicada ao violista
Fiódor Drujínin (1932-2007), integrante do Quarteto Beethoven, com o qual
Shostakóvitch manteve estreita relação chegando inclusive a consultá-lo sobre
detalhes técnicos do instrumento, como a possibilidade de execução, em tempo
rápido, dos incomuns intervalos harmônicos de quartas paralelas ligadas. Com a
meticulosa exploração artística deste recurso, até então pouco usual no repertório da
viola, Shostakóvitch estimulou um significativo desenvolvimento técnico instrumental
(cf. ROXBURGH, 2013). Sob o ponto de vista composicional, a utilização de
intervalos de quartas justas é ostensiva na Sonata para Viola, tratando-se de uma
característica motívica que, portanto, unifica a obra como um todo (cf. MAURICE,
2000). A sonata estreou um mês após a morte do compositor e seu sucesso
conquistou repercussão internacional sendo executada em vários países em questão
de meses. A obra despertou o interesse da comunidade musical estimulando
transcrições para violoncelo e versões alternativas para viola e orquestra (cf.
DINERCHTEIN, 2008; FAYE, 2000; HULME, 2010). As razões ou motivações do
compositor para escrever esta sonata nos momentos finais de sua vida conformam
uma espécie de tema correlato que estimulou a imaginação e a criação de mitos.
Sobre tal tema, Dinerchtein (2008) compilou depoimentos que fundamentam duas
principais linhas de interpretação: uma delas, construída quase que inteiramente em
bases precárias, reúne conjeturas e especulações sustentando que o compositor
teria assumido uma postura deliberada de despedida, assim, o Op. 147 seria algo
como um auto-réquiem. Outros atestam o oposto, Shostakóvitch demonstrou
otimismo e ânimo para novos projetos até seus últimos momentos. Dinerchtein
conclui que não há, de fato, nenhuma evidência genuína de que uma mensagem de
320
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Referências:
FAYE, Laurel E. Shostakóvitch: a Life. New York: Oxford University Press, 2000.
FISCHERMAN, Diego. Música y Política In: ______. El siglo XX y más allá. Buenos
Aires: Eterna Cadencia Ed., 2011. p. 75-82.
HULME, Derek C. Dmitri Shostakóvitch catalogue the first hundred years and
beyond. Lanham EUA: The Scarecrow Press Inc., 2010.
LEE, Soo Mi. Musical borrowing in four twentieth-century works for Viola by
Hindemith, Bloch, Bacewicz and Shostakóvitch. 2010. Thesis (Doctor of Musical
Arts) - University of Cincinnati, EUA. 2010.
322
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
RILEY, John. Dmitri Shostakóvitch: a life in film. New York: I.B. Tauris, 2005.
ROSS, Alex. O resto é ruído. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Fernando Rocha
UFMG - fernandorocha70@gmail.com
Resumo: Este trabalho pretende discutir possibilidades interpretativas da obra
TransFormantes III para vibrafone e live-electronics, tendo como base os conceitos de
conexão e direccionalidade (Menezes, 2013: 70) e (Bitondi, 2012, ), bem como algumas
peculiaridades e dificuldades da execução do repertório misto com eletrônica em tempo
real.
1. Introdução
A presente comunicação é parte da pesquisa que desenvolvo no curso de
mestrado em performance musical, na qual são discutidas algumas possibilidades
de interpretação de obras para vibrafone e live-electronics, focalizando o estudo das
peças TransFormantes III (1997), do compositor brasileiro Flo Menezes e Sequitur XI
do compositor austríaco Karlheinz Essl. Este texto pretende apresentar e discutir
questões de interpretação relacionada a certos fragmentos da obra TransFormantes
III.
A performance de obras mistas, em geral, requer uma logística mais
elaborada para sua execução do que as obras acústicas convencionais, uma vez
que exige uma série de equipamentos apropriados. Freire (2007) discute essas
peculiaridades do repertório misto, salientando a importância de condições
favoráveis para que o intérprete possa preparar com maior qualidade a interpretação
de uma obra eletroacústica. O autor menciona materiais com os quais o
instrumentista deve contar como, por exemplo, computador de alta qualidade, alto-
falantes, pedais, entre outros equipamentos. Estas condições sugerem que o
intérprete considere outras questões além da performance propriamente dita.
No mesmo contexto, Rocha (2008) menciona que é essencial estudar a
obra com o setup completo, ou seja, instrumentos de percussão e equipamentos
eletrônicos necessários. Assim, podemos compreender que esta o ensaio com a
eletrônica completa é fundamental, pois torna viável ensaiar o repertório e
determinar as possibilidades de interpretação de maneira mais profunda. Além disso,
esse preparo confere ao intérprete o maior domínio dos resultados da eletrônica em
324
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
tempo real.
No que diz respeito à obra TransFormantes III (1997) para vibrafone e
live-electronics, de Flo Menezes, a música foi concebida em sete breves
movimentos, cada um com aproximadamente um minuto de duração, denominados
pelo compositor de “formantes”, em menção metafórica ao conceito acústico de
mesmo nome. Estes provêm a forma estrutural da obra, sendo uma características
marcante desta composição. Os sete formantes devem ser apresentados de maneira
fragmentada durante o concerto. Ou seja, deve-se intercalar os formantes com as
outras obras contidas no concerto, sendo necessário que sua ordem seja mantida.
Assim, enquanto o Formante 1 será apresentado ao início do concerto, o Formante 7
deverá encerrá-lo. A fragmentação gera dificuldades para que o performer consiga
amalgamar a obra durante sua execução. Essa questão reforça as justificativas para
que sejam definidas a seguir escolhas interpretativas que possam tornar a obra mais
conectada.
3 Considerações interpretativas
Durante toda a obra identificamos trechos delimitados por estruturas
harmônicas (ver figura 1, retângulos amarelo, verde e vermelho), que não coincidem
com quase nenhuma possibilidade de fraseado ou gesto musical (ver figura 1,
gestos em cinza). Contudo, estes fraseados não sincrônicos podem atuar como
conectores das seções harmônicas, evitando rupturas entre as transições dos
materiais harmônicos identificados. O intérprete pode se apoiar no reconhecimento
desta elaboração composicional para obter fraseados contínuos e com maior fluidez.
Figura 1: partitura do formante 1de Transformantes III de Flo Menezes, com marcações de fraseado,
estruturas harmônicas e entrada de processo eletrônico em tempo real (time freezing)
4 Considerações finais
Podemos concluir que a de preparação de obras mistas em tempo real,
quando realizada com boa qualidade, ou seja provida de equipamentos electrónicos
necessários, nos possibilita não apenas ensaiar a performance, como também
compreender procedimentos eletrônicos envolvidos na composição. Portanto, pode-
se considerar que a performance está subordinada à compreensão destes
processos.
A compreensão dos conceitos inerentes a obra TransFormantes III pode
proporcionar uma performance mais coesa, unindo os meios acústicos e eletrônicos,
os processos composicionais perceptíveis no momento da performance e
valorizando elementos para a percepção do público.
Referencias bibliográficas:
BITONDI, Matheus. Direcionalidade em duas melodias do século XX: Syrinx, de
Clause Debussy e a primeira das Três peças para clarinete solo, de Igor Stravinsky.
1
Recurso muito utilizado nos instrumentos de percussão, no qual o músico toca figuras muito rápidas que
simulam uma nota longa.
327
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
PER MUSI, Revista acadêmica de música, Belo Horizonte, n. 26, p. 47. 2010
FREIRE, Sérgio. Anamorfoses (2007), para percussão e eletrônica ao vivo. In: Anais
do III Seminário Música Ciência e Tecnologia. São Paulo, 2008, p. 98-108.
RINK, John. Analysis and (or?) performance. In: RINK, J. (ed.) Musical performance.
A guide to understanding. London: University Press, 2004.
Partitura:
MENEZES, Flo. TransFormantes III. São Paulo: [s/ed.], 1997. Partitura de execução. 1 partitura (9 p.).
Vibrafone e eletrônica em tempo real.
328
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Renata Filipak
UFPR – refilipak@gmail.com
Abstract: This paper presents partial results of a research on self-efficacy beliefs developed in
introductory music and recorder lessons and group workshops. The aim was to verify if the indicators
of the sources that constitute the self-efficacy beliefs – namely, personal experience of success,
vicarious experiences, verbal persuasion and emotional reactions – had influence and/or strengthened
those beliefs in those students participating in classes and workshops. The survey indicates that
children strengthened their self-efficacy beliefs precisely by performing the group learning exercises.
Keywords: self-efficacy beliefs; introduction to music; recorder
1. Introdução
2. Crenças de autoeficácia
3. Metodologia
3.1. Método
Para dar conta do objetivo deste trabalho, optamos por realizar uma Survey
de pequeno porte. Machado (2007, p. 62) descreve a survey como um método que
“envolve a realização de uma pesquisa de campo, na qual a coleta de dados é
330
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
4. Resultados
Os resultados mais significativos da análise da escala seguem apresentados
por categorias. Cada categoria foi observada em diferentes questões:
a. Reações afetivas (RA), questões 1, 4 e 5.
b. Experiências vicárias (EV), questões 2, 3, 6, 7, 8 e 9.
c. Experiências de êxito (EE), questão 10.
331
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
Questão 1 (RA) - Você se sente bem nas aulas de flauta? Nessa Questão não
apareceram as opções “Nunca”, “Raramente” e “Às vezes”, ficando a maioria na
opção “Sempre”. (Ver Tabela 1)
Questão 1 Número de Respostas Percentual
5 (Sempre) 9 81,81%
4 (Quase sempre) 2 18,18%
3 (Às vezes) 0 0%
2 (Raramente) 0 0%
1 (Nunca) 0 0%
Tabela 1: Questão 1
1 (Nunca) 0 0%
Tabela 3: Questão 5
Questão 6 (EV) - Quando você vê alguém tocando uma peça difícil, você
tem vontade de tocar da mesma forma? Ainda as respostas em sua maioria ficam
nas escolhas “Sempre” e “Quase sempre”. (Ver Tabela 5)
Respostas
RA
0% 2;
6%
1;
3%
5
(Sempre)
4
(Quase
sempre)
6;
18%
3
(Às
vezes)
Para o grupo das Experiências Vicárias (EV), a maioria das respostas foi
“Sempre” e “Quase sempre” indicando, novamente, a reação positiva em relação à
334
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
aprendizagem nas aulas por meio de observação e imitação de seus pares. (Ver
Gráfico 2)
Resposta
EV
1;
1 % 0;
0%
5; 8 %
5
(Sempre)
4
(Quase
sempre)
3
(Às
vezes)
34;
52%
26;
3 9% 2
(Raramente)
1
(Nunca)
Para o grupo das Experiências Pessoais de Êxito (EE), mais uma vez as
respostas “Sempre” e “Quase sempre” apareceram, sugerindo um retorno positivo
em relação ao êxito próprio perante o grupo. Essas respostas totalizam os 100%.
Resposta
EE
0;
0% 0;
0 %
0;
0 %
1; 9%
5
(Sempre)
4
(Quase
sempre)
3
(Às
vezes)
2
(Raramente)
1
(Nunca)
10;
91%
5. Referências
KRUGER, I; ARAÚJO, R.C. O Processo de aprendizagem da composição musical
em aulas coletivas por meio das experiências vicárias. Anais do IX Simpósio de
Cognição e Artes Musicais. Belém: UFPA, 2013.
PAJARES, F.; ORLAZ, F. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral
In: BANDURA, A.; AZZI , R.G.; POLYDORO, S. (Orgs.). Teoria social cognitiva.
Porto Alegre: Artmed, 2008, p.97-114.
COGNIÇÃO
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo o levantamento de dados acerca dos fatores
relacionados à aquisição de habilidades rítmicas no aprendizado do violão. O objetivo foca-se
especialmente na identificação dos problemas e dificuldades encontrados no aprendizado do
violão, as causas e possíveis soluções para estas questões, em especial por meio do
treinamento rítmico. O instrumento utilizado foi o questionário, respondido por 20 professores
de violão de Curitiba/PR. Constatou-se que os professores apontam o ritmo como a principal
dificuldade no aprendizado/execução do violão, corroborando com os teóricos revisados
neste trabalho. Fatores como falta de treinamento, dificuldades de percepção, dificuldades
motoras, etc. são apontados para a explicação da dificuldade rítmica.
Abstract: The current study aims to survey data about factors related to the acquisition of
rhythmic skills in acoustic guitar learning. The objective focuses on the identification of
problems and difficulties in learning the guitar, the causes and possible solutions to these
issues, in particular through the rhythmic training. The instrument used was a questionnaire,
which was answered by 20 guitar teachers from Curitiba/PR. It was found that teachers
pointed out the rhythm as the main difficulty in learning / playing of the acoustic guitar, which
corroborates the theorists reviewed in this study. Factors such as lack of training, difficulties in
perception, motor difficulties, etc. are pointed to the explanation of rhythmic difficulty.
Keywords: rhythmic skills. acoustic guitar. rhythmic train. learning/playing of the acoustic
guitar.
1. INTRODUÇÃO
1
Trabalho orientado pela Professora Dra. Rosane Cardoso de Araújo (UFPR).
337
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
QUESTÃO
1
Nº
de
prof
que
lecionam
p/
a
faixa
FAIXA
ETÁRIA
etária
FAIXA
1
15
FAIXA
2
20
FAIXA
3
16
FAIXA
4
5
Tabela
1:
Faixa
Etária
Nota-se que todos os professores dão aula para a “Faixa 2”; 16 dos 20
dão aula para a “Faixa 3”; 15 dos 20 dão aula para a “Faixa 1” e apenas 5 dos 20
lecionam para a “Faixa 4”. O que demonstra que a maior demanda de professores é
338
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
QUESTÃO
4
SIM
20
NÃO
0
NÃO
SEI
0
Tabela
2
-‐
Diferença
de
desempenho
Por meio do gráfico é possível notar que o treino cotidiano é o fator mais
apontado pelos professores – 14 dos 20 – na contribuição para o desenvolvimento
de habilidades rítmicas, corroborando, mais uma vez, com a teoria de Sloboda
(2006) sobre a repetição e desenvolvimento de hábito. Sloboda afirma que para uma
habilidade complexa como tocar um instrumento são dedicadas centenas de horas
para se alcançarem graus moderados, e milhares de horas para tornar-se expert. O
segundo fator mais apontado dentre os principais – 12 de 20 – são os exercícios
práticos de rítmica. Em terceiro lugar – com 10 apontamentos – está o solfejo
rítmico. Em quarto lugar – com 9 apontamentos – está a audição diária de música. O
quinto fator mais apontado como principal fator é a formação musical na infância e
em último lugar estão outros dois fatores citados por professores que são a prática
de conjunto e a escuta de gêneros musicais diversificados.
A questão de número 7 restringe as opções da questão 6 a uma só,
tornando-a do tipo objetiva de única escolha, e pede que os professores elejam o
principal fator para o desenvolvimento de habilidades rítmicas (ver Gráfico 5 –
Principal fator para o desenv. de habilidades rítmicas).
343
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
QUESTÃO
8
SIM
18
NÃO
1
NÃO
SEI
1
Tabela
3
-‐
Importância
da
escuta
musical
cotidiana
O professor que assinalou a opção “não sei”, justificou sua escolha afirmando
que a influência na aquisição de habilidades rítmicas depende do tipo de repertório
escutado.
A última questão, de número 9, perguntou aos professores se eles acreditam
que a família e o contexto familiar influenciam na aquisição de habilidades rítmicas,
e, mais uma vez, a grande maioria respondeu que “sim” (ver Tabela 4 – Influência da
família e contexto familiar).
QUESTÃO
9
344
SIMPEMUS 6 | Simpósio de Pesquisa em Música da UFPR | 2013
SIM
16
NÃO
4
NÃO
SEI
0
Tabela
4
-‐
Influência
da
família
e
contexto
familiar
3. CONCLUSÃO
Referências:
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. - São Paulo:
Atlas, 2008.
ISBN 85-98826-24-0