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Métodos e Técnicas de Investigação – Extensivos (Turma SA3)

Licenciatura em Sociologia – 1º ano

29 de abril de 2021

DISCRIMINAÇÃO SOCIAL: IDADISMO


O IDADISMO NO MERCADO DE TRABALHO

Docente: Ana Saint-Maurice

Discentes:

Diogo Lavrador nº 99934


Matilde Corage nº 98446
Matilde Silva nº 99863
Miguel Monteiro nº 94644

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Índice

I. Introdução............................................................................................................. 3

O Idadismo .................................................................................................................... 3

A Idade e as Atitudes no Trabalho ................................................................................ 4

II. Apresentação do Objeto e dos Objetivos da Investigação ...................................... 6

Alguns Conceitos Base – Trabalho, Setores Económicos, Idade e Preconceito ........... 6

Representações Sociais ............................................................................................... 10

A Reforma ................................................................................................................... 10

O Idadismo no Mercado de Trabalho ......................................................................... 11

Perceções da População em Relação aos Trabalhadores Mais Velhos ...................... 13

III. Modelo de análise e hipóteses ........................................................................... 14

IV. Operacionalização dos conceitos ....................................................................... 16

VI. Anexo ............................................................................................................... 17

VII. Bibliografia ....................................................................................................... 21

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I. Introdução
Todas as ações que incentivem o tratamento diferenciado ou inferiorização de
um indivíduo ou conjunto de indivíduos, devido à sua idade, cor, sexo, etnia,
nacionalidade, orientação sexual, opinião política, ou outro fator diferente, são
consideradas discriminação. Pode ocorrer em diferentes contextos, como político,
religioso, étnico, sexual e social, que é o mais comum. Estes tipos de discriminação
podem dar origem à exclusão social.

Estes comportamentos discriminatórios são considerados crimes ou


contraordenações, dependendo da gravidade da situação. A legislação portuguesa
considera-os crimes discriminatórios sempre que há alguma organização que incite este
tipo de comportamentos contra algum indivíduo. As contraordenações ocorrem quando
um indivíduo é impedido de exercer os seus direitos básicos, como ter acesso a bens e
serviços, à educação, aos sistemas de saúde e ao emprego.

Embora também exista discriminação na comunicação social, os media são um


ótimo recurso para se divulgar e promover informações verdadeiras e consciencializar a
população, bem como, elaborar e divulgar medidas que diminuam e ajudem a combater
a discriminação social.

O Idadismo
O termo idadismo surgiu pela primeira vez em 1969, pelo psicólogo americano
Robert Butler. Em termos gerais, o idadismo passa por ser um preconceito social
baseado somente numa característica, a idade. Este preconceito manifesta-se com
atitudes e práticas negativas em relação aos indivíduos, não existindo uma idade
específica para este tipo de discriminação, mas sim fatores sociais que acentuam em
determinados grupos etários (Marques, Discriminação da Terceira Idade, 2016).

O idadismo, diz assim, respeito à discriminação social e etária praticada através


de comportamentos, atitudes e preconceitos presentes em interações diárias. Desta
forma, o respeito, a dignidade e a individualidade de um indivíduo são postos em causa.
Pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais frequente em relação aos idosos e
este tipo de discriminação pode ser difundido através dos meios de comunicação social.

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Segundo o gerontologista Palmore, a seguir ao racismo e ao sexismo, o idadismo
é um dos maiores preconceitos, atualmente. Como é possível compreender, o idadismo
aumenta de acordo com o envelhecimento progressivo da população. Desta maneira,
esta discriminação assenta num raciocínio em que se determina o valor de um indivíduo
de acordo com a sua idade. A informação científica pode contribuir para a rutura de
todas as ideias pré-concebidas e as pré-noções que a sociedade tem em relação à idade
e aos mais velhos, porém esta parece não ter sido ainda assimilada pelos mais jovens.

A Idade e as Atitudes no Trabalho


O idadismo no mercado de trabalho acontece, não só em relação aos mais
velhos, como também em relação aos mais jovens. Por exemplo, normalmente procura-
se alguém com mais experiência de trabalho do que um “novato" mais inexperiente.
Muitas vezes também se aceita mais facilmente um chefe que seja mais velho. Este caso
vai contra o que foi demonstrado anteriormente, porque num contexto do quotidiano
normalmente o preconceito decorre para com os mais velhos.

Um facto é que a idade não é sinonimo de um bom ou mau desempenho no


trabalho, o que é certo, é que são os trabalhadores mais adultos que desempenham
com mais eficiência atividades de requerem precisão, experiência, pontualidade, uma
maior capacidade de solucionar problemas de uma forma rápida, entre outras. A pesar
serem também estes mais propícios a cometer erros com maior frequência e a
necessitarem de mais ajuda do que os mais jovens. (Cabral, 2012) Neste sentido são
estes que sofrem mais com o desemprego.

A diminuição da taxa de natalidade, bem como o aumento da esperança média


de vida, são fatores que potenciam o envelhecimento e que necessariamente irão
desajustar as práticas de recursos humanos específicas para os trabalhadores mais
velhos. Desta forma não será pertinente afirmar que existe, de facto, uma relação
negativa entre o desempenho no trabalho e o envelhecimento, pelo contrário, muitas
vezes, ou quase na maioria das vezes, são os trabalhadores mais velhos que estão mais
satisfeitos e que recebem mais recompensas, por isso é importante ter a consciência
que devemos analisar outros aspetos, para além da idade, quando relacionamos esta no
contexto de trabalho (Cabral, 2012).

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Vários estudos, indicam que a diversidade de idades dentro das organizações
aumenta a probabilidade de haver um clima de discriminação etária maior. Dentro das
organizações existem fatores como o ambiente, as horas de trabalho e a funções
desempenhadas, que influenciam a questão da idade. Ainda a respeito desta, na relação
com o trabalho, alguns investigadores caracterizam-na como uma relação conflituosa,
mas no bom sentido, ou seja, afirmam que esta relação entre trabalho e idade
proporciona uma competição saudável tanto a nível individual como a nível
organizacional. Por isso, podemos aferir que existe estereótipos para ambos os grupos
etários (jovens e adultos). (Cabral, 2012)

Existem ainda implicações legais que atuam sobre os métodos e formas de


contrato dos trabalhadores mais velhos, desta forma destaca-se no trabalho a
experiência e a antiguidade e não a idade.

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II. Apresentação do Objeto e dos Objetivos da Investigação
Objeto de Estudo: Os Setores Económicos Mais Afetados com o Preconceito Social
Idadismo

Em Portugal, o idadismo tem contornos que atingem sobretudo a população


mais velha. Apesar de haver expressões idadistas contra diferentes grupos etários, neste
trabalho iremos abordar o idadismo nas pessoas mais velhas, compreendidas com mais
de 55 anos. A este tipo de idadismo alguns autores têm chamado, em alguns casos,
gerontismo. O idadismo em relação às pessoas com mais 55 anos, assume três
componentes essenciais. (Marques, Discriminação da Terceira Idade, 2016)

O primeiro encontra-se associado a crenças ou a vários tipos de estereótipos que


temos relativamente ao grupo etário de pessoas mais velha, crenças essas que se podem
caracterizar muitas vezes com determinados traços negativos, como por exemplo, a
incapacidade e a doença. (Marques, Discriminação da Terceira Idade, 2016)

Em segundo lugar, as atitudes idadistas estão relacionadas com sentimentos que


se têm em relação ao grupo etário mais velho. Os sentimentos manifestam-se de muitas
formas, embora, muitas vezes assuma formas mais disfarçadas, como por exemplo, a
piedade ou o paternalismo. (Marques, Discriminação da Terceira Idade, 2016)

Por fim o idadismo inclui também uma componente mais comportamental e que
está relacionada com atos mais efetivos em relação as pessoas mais velhas. Este tipo de
comportamento, tem como exemplo, o abuso e maus-tratos que têm alvo os indivíduos
deste grupo etário. (Marques, Discriminação da Terceira Idade, 2016)

Neste sentido o nosso estudo centrar-se-á em aspetos criados a partir de


perspetivas empíricas e tem como objetivos explorar o preconceito de um grupo etário
mais velho no local de trabalho e verificar quais as atividades económicas mais afetadas
com o idadismo.

Alguns Conceitos Base – Trabalho, Setores Económicos, Idade e Preconceito


É pertinente, explicar um pouco do conceito de trabalho, no sentido em que este
se trata de um conceito dinâmico e que abrange todo o tema deste estudo.
Primeiramente é importante percebermos que a palavra “trabalho”, não apresenta um

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significado único e explicito, este é, pois, um conceito muito “aberto” que pode ter
vários entendimentos, dependendo de pessoa para pessoa e do que se quer tratar e
falar. Trabalho pode ser interpretado de uma maneira emocional, lembrando, portanto,
dor, tortura, suor do rosto e fadiga, como também de uma forma racional,
interpretando-o como o homem em ação de sobrevivência e realização (Albornoz,
1986). Até no dicionário português esta palavra apresenta mais que um significado,
podemos em contexto com este estudo, defini-la, afirmando que esta se trata de uma
“atividade coordenada de carácter físico e intelectual, necessária a qualquer tarefa,
serviço ou empreendimento” (Albornoz, 1986).

Quando falamos de trabalho é interessante e pertinente, analisar também o


Direito no trabalho, este tem o mesmo significado que acima referido. Nesta vertente é
importante perceber que existe dois tipos de trabalho humano, o por contra própria e
o por conta de outrem, sendo este, aquele que consta no objeto e âmbito deste ramo
jurídico (Fernandes & Abrantes, 1º Semestre- 4º ano, 2019-2020). O trabalho por conta
de outrem pode assumir juridicamente duas formas, um trabalho desenvolvido de
forma autónoma por um prestador de serviços ou um trabalho desenvolvido de forma
subordinada. A primeira forma é um caso de “trabalho auto-organizado”, em que o
trabalhador dispõe da sua aptidão profissional de acordo com as suas condições de
tempo, lugar e esforço para realizar o trabalho, a segunda forma consta de um caso de
“trabalho hétero-organizado”, neste caso o trabalhador insere-se numa atividade
dirigida por outrem (beneficiário do trabalho) e, por isso, cabe ao destinatário do
trabalho determinar as condições da atividade a realizar pelo trabalhador, neste sentido
podemos caracterizar este tipo de trabalho, como trabalho dependente, por necessitar
de uma força de trabalho e, esta ser mediada por uma remuneração (Fernandes &
Abrantes, 1º Semestre- 4º ano, 2019-2020).

Associado a este conceito, achamos também que vale apena falar sobre os
setores económicos, analisando o conceito destes. Os setores económicos, são três, o
primário, o secundário e o terciário. O primário tem como objetivo produzir a matéria-
prima para depois abastecer o setor secundário, as suas atividades produtivas são a
agricultura, a pecuária e o extrativismo, o setor secundário é, pois, o que diz respeito á
indústria, à produção de bens a partir dos materiais vindos das atividades do setor

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primário, neste setor constam então as fábricas e tudo o que envolva a criação de algo,
como por exemplo a construção civil, a geração de energia, a produção de máquinas,
entre outros. Por fim temos o setor terciário, que fazem parte, os serviços e o comércio.
Este terceiro setor tem crescido de forma exponencial, devido à revolução tecnológica
pela qual o mundo inteiro atravessa, desta forma, o que acontece hoje em dia, é que
existe uma supervalorização da informação, o que permite uma relação entre a
economia e as relações comerciais e de informações. Ainda com esta revolução
podemos notar uma sofisticação, especialização e eficiência dos serviços, como é o caso
do turismo, das telecomunicações, da informática, entre outros, que crescem de forma
abrupta e que, por isso, absorvem cada vez mais pessoas. (Brasil Escola , 2020)

De um modo geral, não podemos afirmar que o setor terciário é o mais


importante, mas atualmente é aquele que abrange uma maior diversidade de emprego,
logo aquele que emprega um maior número de trabalhadores, como podemos ver tanto
no Gráfico 1 (Anexo), que diz respeito ao emprego nos setores económicos em Portugal,
como no Quadro 3 (Anexo), que compara o emprego nos setores económicos em
Portugal com o resto da Europa.

Desta forma, concluímos assim que, uma elevada percentagem de população


economicamente ativa, que esteja inserida num determinado setor da economia,
contribui para o aumento do desenvolvimento económico bem como para o índice de
urbanização de um país. (Brasil Escola , 2020).

Do conceito Idade, no contexto do nosso estudo (O Idadismo no Mercado de


Trabalho), é importante analisarmos o envelhecimento e em que é que este consiste.
Portanto podemos primeiramente dizer que o envelhecimento é um processo
multidimensional e que ao longo das décadas tem vindo a evoluir. Este refere-se a
mudanças psicológicas, biológicas e sociais, que ao longo do tempo afetam o individuo
a nível organizacional, individual e socialmente (Cabral, 2012), mas para percebermos
melhor o que é o envelhecimento, temos de perceber os efeitos da idade no local de
trabalho, que são avaliados através da idade cronológica, a idade funcional, a idade
psicossocial e a idade organizacional.

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Começando por descrever a idade cronológica, esta diz respeito à idade
calendarizada, ou seja, aquela que distingue os mais velhos dos mais novos, a partir do
calendário natalício. Neste sentido quando falamos em “trabalhador mais velho”,
referimo-nos a trabalhadores com idades compreendidas entre os 40 e os 75 anos e,
dependendo do estudo em causa estes limites podem mudar, por exemplo no caso do
estudo do mercado de trabalho os limites dizem respeito a idades iguais ou superiores
a 50 anos ou 55 anos (Cabral, 2012). A idade funcional, por outro lado, baseia-se no
desempenho do individuo no trabalho, reconhecendo que as diferentes idades
proporcionam habilidades individuais distintas, ou seja, com o aumento da idade
cronológica, os indivíduos, como anteriormente visto, passam por mudanças físicas e
psicológicas que, necessariamente irão ser sentidas na saúde do próprio individuo e, que
afetarão as capacidade psíquicas e habilidades cognitivas e por consequência o próprio
desempenho do individuo. (Cabral, 2012). A idade psicossocial, também denominada
por idade subjetiva, refere-se à idade que o individuo sente ter, em termos de aparência
com de atos, este tipo de idade é muitas vezes referido como auto-perceção, por ser a
perceção que nós temos de nós próprios em relação a idade. Por fim a idade
organizacional, retrata o envelhecimento dos indivíduos em postos de trabalhos nas
organizações, esta refere-se á desclassificação dentro da empresa, à habilidade na
carreira ou à obsolescência (Cabral, 2012).

Para finalizar, resta-nos definir o conceito de preconceito, visto que este se


insere na vertente da discriminação e, é importante a sua definição para perceber o
contexto do estudo em causa. Preconceito, tal como o nome indica, é um pré-
julgamento sobre algo, ou seja, é um juízo de valor feito à priori do conhecimento
necessário para tal. Este geralmente baseia-se em generalizações erradas a respeito de
um determinado grupo social. Neste sentido, podemos afirmar que o preconceito é
ressoltado de um ato discriminatório sobre algo ou alguém.

No contexto do nosso trabalho, o nosso objetivo é averiguar a existência do


preconceito contra a população mais envelhecida no mercado de trabalho, que provem
da discriminação social contra o grupo etário dos mais velhos.

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Representações Sociais
O conceito de representação encontra-se muito presente no campo da filosofia,
sendo reintroduzido nas ciências humanas por Moscovici em 1961, na sua tese de
doutoramento e, foi neste estudo que se introduziu o conceito de representações
sociais. Moscovici afilia a ideia da representação no campo da sociologia aos trabalhos
de G. Simmel, a Max Weber, a Émile Durkheim, entre outros. (Borges)

As representações passam por processos de construção e reconstrução, que vão muito


além do indivíduo, na sociedade e no grupo que integra. Nos grupos ou sociedades, no
qual o individuo faz parte, existe uma partilha de vários conjuntos de valores, crenças,
comportamentos, atitudes e cultura que permite a cada grupo ou sociedade ter a sua
própria visão do mundo “comum” (Borges).

Nas representações sociais, o envelhecimento implica alguns constrangimentos como a


mudança de papéis, a identidade da pessoa, a reforma, a redução de contactos sociais
e a perda de poder decisão, o que irá implicar uma mudança no papel social dos mais
velhos. Este facto coincide com as expetativas da sociedade para a faixa etária dos maios
velhos, afetando muitas vezes estes, pela criação de ideias pré-concebidas e erradas
sobre os mesmos. “Esta traça a quebra de toda uma rotina que o indivíduo criou durante
anos em volta do seu emprego acabando, muitas vezes, por despertar no idoso um
sentimento de perda de utilidade social. Com a reforma o indivíduo adquire o estatuto
de reformado, o que pode conferir-lhe a perda do seu papel social e a sua exclusão
social.” (Penetro, 2017)

A Reforma
Portugal é dos países com a idade mais alta de acesso à reforma, estando em
quarto no pódio, neste sentido a idade para se poder reformar atinge então atualmente
os 66 anos e 6 meses, mas com base nas estatísticas do Instituto Nacional de Estatística
de 2021, a nível da esperança média de vida aos 65 anos, podemos perceber que este
apresenta em media mais 19,7 anos, ou seja, espera-se que os indivíduos vivão até aos
84 ou 85 anos,(Quadro 2, Anexo), o que significa um aumento previsto da idade da
reforma para 2022, como já foi confirmado pelo governo e publicado no diário da

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Républica a 10 de Março de 2021, segundo o jornal Economia. Neste sentido a idade de
acesso à pensão de velhice irá aumentar para um mês.

Com os dados 2019, podemos ver que o índice de envelhecimento era de 16,32
% (Quadro 1, Anexo), logo é percetível que a população portuguesa se encontra
envelhecida e trabalha até muito tarde.

Atualmente, o ato da reforma já esta mais que incutido na sociedade, no sentido


em que qualquer indivíduo quando inicia a sua carreira já sabe o que vai acontecer no
fim do seu percurso profissional, porém existem cada vez mais “reformados” que
continuam no mercado de trabalho. Segundo a teoria de Daniel Levinson, psicólogo
americano, todos os indivíduos passam por quatro estágios durante a sua vida: a infância
(0-20 anos), a idade jovem adulta (20-40 anos), a meia-idade (40-60 anos) e por fim a
idade adulta tardia (+60 anos). Nesta perspetiva, é importante perceber a questão da
discriminação para com os mais velhos, bem como as suas consequências e a própria
visão de quem é alvo desta, pois qualquer indivíduo vai chegar à idade adulta tardia. É
importante solucionar este problema, que afeta pessoalmente e profissionalmente o
trabalhador. (Guilherme, 2016)

O Idadismo no Mercado de Trabalho


É fundamental analisar com clareza as questões face à discriminação para com
os trabalhadores mais velhos. O envelhecimento é um fenómeno natural e, como
comprovado por estudos posteriores, tanto trabalhadores jovens como trabalhadores
envelhecidos desempenham as suas funções de igual maneira, não havendo grandes
diferenças, a não ser por puro preconceito. Abordar este tema da discriminação para
com os mais velhos parece algo evidente no que toca a questões de domínio no local de
trabalho, neste sentido parece percetível que em relação a este assunto os estudos
demonstrem que existe um estereótipo negativo em relação aos trabalhadores mais
velhos, por estes serem considerados em relação aos outros (mais jovens) pouco
produtivos e com menos pré-disposição para serem ensinados e promovidos.
(Guilherme, 2016)

Como já visto anteriormente, definir uma idade concreta para “trabalhador mais
velho” não é direto nem objetivo, têm por de trás muitas outras implicações. Neste

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sentindo definimos essa idade como, os indivíduos com idades superiores a 55 anos. A
partir do Quadro 4, (Anexo), podemos perceber que existe um maior número de pessoas
não ativas no grupo etário daqueles que consideramos mais velhos, o que evidencia uma
clara diferença nesta questão de idades, ou seja, mais uma vez podemos comprovar que
os “mais velhos”, cada vez mais estão a perder lugar no mundo de trabalho.

Ainda analisando também o Quadro 5, (Anexo), que diz respeito às ofertas de


emprego, em média anual, por setor económico, podemos perceber que o setor que
mais emprega trabalhadores é o terciário, o que nos leva a entender que é nesse preciso
setor que a questão do idadismo é mais acentuada. Compreendemos esta questão, no
sentido em que cada vez mais o setor terciário engloba mais tecnologia e mais gestão
de dados e informação, neste sentido, necessariamente ou não, dependendo da
perspetiva, os mais velhos são deixados para trás. Podemos ver este facto com um
exemplo empírico muito simples: A maioria dos nossos avós, têm um conhecimento
tecnológico muito reduzido, pois têm mais dificuldade em acompanhar os avanços e as
inovações do século XXI, do que nós (filhos e netos), por isso, estes no que toca à entrada
no mercado de trabalho, acabam por ser deixados de parte pela maioria das empresas
e instituições.

Estes factos acontecem, porque, este tipo de preconceito é discretamente


tolerado pela sociedade, quase como se fosse um hábito, ou uma coisa considerada
natural. No trabalho o idadismo é facilmente identificado, quando averiguamos, por
exemplo, a maneira como são selecionados os candidatos, através da imposição do
limite de idades para os cargos.

Neste sentido podemos então perceber que, no trabalho muitas vezes são os
mais velhos, os mais discriminados, não só pela idade, mas também pelas capacidades
físicas e todas as consequências que vêm com o aumento da idade. Desta forma, leva a
que, socialmente, as pessoas comecem a olhar para estes com pena e não com respeito
e, assim acontece no trabalho também. (Vicente, 2011).

Uma forma de contrariar estes factos seria a igualdade de oportunidades, de


maneira a funcionarem como um motor motivacional para os trabalhadores mais
velhos, mas infelizmente em Portugal o mesmo não acontece. É cada vez mais difícil

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entrar ou reentrar no mercado de trabalho, não só pela ambiguidade do método de
recrutamento das empresas como também pelo nível de exigência absurdo. (Guilherme,
2016)

Perceções da População em Relação aos Trabalhadores Mais Velhos


No mercado de trabalho ainda existem muitos preconceitos e estereótipos para
com os trabalhadores mais velhos, porém é necessário compreender até que ponto é
que a população tem algum conflito por existirem indivíduos mais velhos no mercado
de trabalho. Atualmente, um indivíduo com mais de 50 anos já é considerado velho para
entrar ou reentrar no mercado de trabalho. Assim, alguém que ainda não esteja na idade
da reforma, mas que também não seja novo, fica estagnado e sem emprego. Os
estereótipos e preconceitos associados a este tema podem não ter apenas a ver com a
idade, mas também com a capacidade de aprendizagem, orientação, sociabilidade e
agilidade.

Apesar de algumas mudanças de mentalidades e de toda a informação que


existe, os indivíduos mais envelhecidos ainda são prejudicados no mercado de trabalho.
Normalmente os trabalhadores mais jovens não apresentam compromissos familiares,
o que muitas vezes representa um encargo no mundo da procura de emprego. É
também necessário salientar que “a discriminação contra os trabalhadores mais velhos
não é meramente um caso de prejuízo individual, é também uma construção social,
institucionalizada no mercado de trabalho e noutros sistemas sociais e económicos”.
(Santos, 2014)

Ao contrário do esperado, segundo a investigação de Luís Firmino Antunes dos


Santos (Santos, 2014), os trabalhadores mais velhos não são percecionados de forma
negativa em relação ao envolvimento e motivação no mercado de trabalho. Ainda que
o resultado seja positivo, nem todas as empresas veem os trabalhadores mais velhos
como uma mais-valia.

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III. Modelo de análise e hipóteses

O idadismo no mercado de trabalho está intrinsecamente ligado à idade pois este


é o principal fator de discriminação que vemos no mesmo. O idadismo tem também
relações diretas com a reforma, pois esta é o significar do fim de uma vida passada no
mercado de trabalho.

Por outro lado, os setores económicos estão ligados à reforma na medida em


que, esses setores incluem a vida trabalhadora, vida essa que, eventualmente, chega a
um fim, denominado de reforma.

Outra relação importante apresentada é a dos setores económicos com o


trabalho. Tal como já foi dito, os setores económicos existentes baseiam-se,
maioritariamente, no emprego/trabalho, para analisar certos aspetos dos mesmos é
necessário então debruçar sobre o trabalho.

De seguida, o trabalho está ligado com a reforma, com o idadismo no mercado


de trabalho e com o preconceito. Está ligado à reforma pois é o fim do mesmo, está
ligado ao idadismo pois é onde este incide na maior parte dos casos e, está ligado ao
preconceito pois o idadismo não é o único tipo de discriminação existente no mercado
de trabalho, existem muitos outros tipos como o racismo, a orientação sexual, entre
outros.

Por fim, observamos que o preconceito está também associado ao idadismo no


mercado de trabalho e o idadismo no mercado de trabalho ao preconceito, tal como

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acontece com a idade pois, a discriminação relacionada com as idades dos indivíduos no
mercado de trabalho é, efetivamente, uma forma de preconceito.

Hipótese 1 - Não foi observada qualquer relação entre o desenvolvimento económico e


o desenvolvimento social

Hipótese 2 - Não foi observada qualquer relação entre o desenvolvimento económico,


mas existe influência do desenvolvimento social.

Hipótese 3 - Não foi observada qualquer relação entre o desenvolvimento social, mas
existe influência do desenvolvimento económico.

Hipótese 4 - Existe uma relação entre o desenvolvimento social e o desenvolvimento


económico.

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IV. Operacionalização dos conceitos
Enunciado da
Conceito Dimensão Indicador
Pergunta
Média de idade por Em que área trabalha
Atividade económica ou já trabalhou?
setor económico
Encontra-se
Taxa de empregabilidade
atualmente
nos +60 anos
empregado?
Já alguma vez foi
Desenvolvimento vítima de algum
económico Preconceito no local de
preconceito no local
trabalho
Emprego de trabalho?
Tenciona continuar a
Taxa de possíveis trabalha quando
trabalhadores em idade atingir a idade da
de reforma reforma?
Qual o distrito onde
Área de Residência População por distrito
reside?
Desenvolvimento
Participação cívica Taxa de alfabetização Qual o seu nível de
humano
escolaridade?

O modelo de análise apresentado anteriormente, permite a observação da


relação entre as hipóteses e os conceitos. De forma a operacionalizar estes conceitos, é
necessário enumerar as dimensões e os indicadores dentro de cada conceito. O
desenvolvimento económico situa-se na dimensão “Atividade económica”, tendo como
indicador “Média de idade por setor económico”, ainda no mesmo conceito temos como
dimensão “Emprego”, contando com os indicadores “Taxa de empregabilidade nos +60
anos”, “Preconceito no local de trabalho” e “Taxa de possíveis trabalhadores em idade
de reforma”. O último conceito ilustrado é o “Desenvolvimento humano”, com
dimensões tais como “Área de Residência” e “Participação cívica” tendo como
indicadores “População por distrito” e “Taxa de alfabetização”.

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VI. Anexo
Quadro 1 - Índice de envelhecimento em 2019

Local de residência (NUTS - 2013) (1) Índice de


envelhecimento
Período de
referência dos
2019

N.º
Portugal PT 163,2
Continente 1 165,9
Região Autónoma dos Açores 2 97,2
Região Autónoma da Madeira 3 129,5

Fonte: INE, Estimativas anuais da população residente

Quadro 2 – Esperança de vida aos 65 anos

Período de referência dos dados (1) Sexo Esperança de


vida aos 65
anos
(Metodologia
2007 - Anos) por
Sexo; Anual
Local de
residência
Portugal

PT
Ano
2018 - 2020 HM 19,69 &
H x
M x
2017 - 2019 HM 19,61
H 17,70
M 21
2016 - 2018 HM 19,49
H 17,58
M 20,88
2015 - 2017 HM 19,45
H 17,55
M 20,81
2014 - 2016 HM 19,31
H 17,44
M 20,73

Fonte – INE, Tábuas completas de mortalidade

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Quadro 3 - População Empregada por setor económico na EU e em Portugal, entre 2008-
2019, (%)

Fonte: Eurostat | Institutos Nacionais de Estatística, PORDATA

Gráfico 1 - População Empregada por setor económico em Portugal, entre 1974-2020,


(Milhares)

Fonte: Eurostat | Institutos Nacionais de Estatística, PORDATA

Quadro 4 –Taxa de População ativa, por grupo etário, em Portugal, (2010-2019), (%)

Anos
35-44 45-54 55-64 65 ou
mais
2010 90,8 85,0 54,3 16,6
2011 90,8 83,6 53,6 14,5
2012 90,6 84,5 53,3 14,6
2013 90,1 84,8 54,4 13,4
2014 91,3 84,9 55,3 11,9
2015 91,6 84,9 57,0 11,6
2016 91,9 85,6 58,4 11,1
2017 92,0 86,6 61,5 11,3
2018 92,2 86,8 63,4 11,5
2019 92,4 87,7 64,4 11,7
Fonte: Institutos Nacionais de Estatística, PORDATA

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Quadro 5 – Ofertas de Emprego (média anual) disponíveis por setores económicos, em
Portugal, (2010-2020), Milhares

Anos Primário Secundário Terciário

2010 0,5 3,7 7,7


2011 0,5 2,8 6,1
2012 0,6 2,3 5,6
2013 0,8 3,7 7,8
2014 0,8 4,9 10,7
2015 x x x
2016 0,8 3,4 9,1
2017 0,9 3,4 8,6
2018 0,6 3,2 8,1
2019 0,5 2,8 8,1
2020 0,4 2,5 6,7

Fonte: IEFP/MTSSS-METD, PORDATA

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VII. Bibliografia
I. Bibliografia Académica

Obras de Referência Técnico-Científica

Palmore, E. (2001). The Ageism Survey: First findings. The Gerontologist, 41, pp.
572-575.

Albornoz, S. (1986). O que é o trabalho . São Paulo: editora e livraria brasiliense.

Marques, S. (2016). Discriminação da Terceira Idade. Lisboa.

Artigos de Revistas Científicas

Ferreira-Alves, J., & Ferreira Novo, R. (2006). Avaliação da discriminação social


de pessoas idosas em Portugal, pp. 65-77.

Teses de Doutoramento e/ou Mestrado

Marques, S., Batista, M., & Alcântara da Silva, P. (2012). A promoção do


envelhecimento ativo em Portugal: preditores da aceitação de um chefe mais velho, pp.
53-73. Universidade do Porto.

Cabral, V. K. (2012). O Envelhecimento no contexto organizacional, O papel da


idade e análise do seu impacto nas relações de trabalho [Dissertação de Mestrado em
Gestão de Recursos Humanos, ISCTE-IUL]. Repositório Iscte.

Guilherme, P. A. (2016). Idadismo nos trabalhos mais velhos: o caso num serviço
público português [Dissertação de mestrado em Psicologia, ISCTE-IUL].Repositório Iscte.

Fernandes, P. M., & Abrantes, P. J. (1º Semestre- 4º ano, 2019-2020). Direito do


Trabalho. Faculdade de Direito da Universidade de Nova de Lisboa .

Vicente, D. d. (2011). A idade como limite ao trabalho: idadismo dos recrutadores


na triagem curricular [Dissertação de Mestrado, em Psicologia, ISCTE-IUL]. Repositório
Iscte.
Santos, L. F. (2014). Perceção de Discriminação pela Idade, dos Profissionais da
Área Comercial com Idade >50 anos. Universidade do Porto.

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II. Referências da Informação Não-Académica

Artigos de Jornal

Eco, S. (2021). Idade da reforma sobe um mês. Para se reformar em 2022 terá de
trabalhar até aos 66 anos e sete meses. Retirado a 26 de abril de 2021, de
https://eco.sapo.pt/2021/03/10/idade-da-reforma-sobe-um-mes-para-se-reformar-
em-2022-tera-de-trabalhar-ate-aos-66-anos-e-sete-meses/

Jornal Económico, S. (2020, 2021). Portugal entre países europeus com idade
mais alta de acesso à reforma. Retirado a 26 de abril de 2021, de
https://eco.sapo.pt/2020/02/01/portugal-entre-paises-europeus-com-idade-mais-alta-
de-acesso-a-reforma/

Outras Publicações Específicas da Internet

APAV. (2021). Discriminação. Retirado a 26 de abril de 2021, de


https://apav.pt/uavmd/index.php/pt/intervencao/discriminacao

Escola, B. (2020). Setores económicos. Retirado a 28 de abril de 2021, de


https://brasilescola.uol.com.br/geografia/setores-economia.htm

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