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Português - 9ºano

Ficha informativa - “Os Lusíadas” - O Consílio dos Deuses

O Consílio dos Deuses — Canto I (estrofes 20 a 41)

A ideia introduzida na estrofe 19 não é terminada no último verso. Ela é continuada


na estrofe 20. Por isso se utilizou a construção "Já... Quando...", transmitindo a ideia
de ligação temporal entre as duas estrofes: os navegadores portugueses já
navegavam no oceano Índico, quando os deuses se reuniram no Olimpo para
decidirem se permitiam ou não que os portugueses encontrassem um lugar onde
pudessem descansar e recuperar novas forças para enfrentar a viagem no
desconhecido.

A ligação entre as duas estrofes não é meramente sintática, mas revela que a
viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia depende do parecer favorável
dos deuses, da sua vontade perante estes humanos tão decididos. Logo, interligam-se
também aqui o plano da viagem e o plano mitológico e esta associação está presente
em toda a Narração. Os deuses, ao dificultarem ou facilitarem a viagem dos
portugueses, permitem que a ação se desenvolva. O plano mitológico era fundamental
numa epopeia, mas nesta obra os deuses não têm apenas a função de embelezar a
ação, eles são elementos geradores (provocadores) da própria ação.

Depois de caracterizado o espaço onde se vão reunir os deuses, o Consílio inicia-


se com o discurso de Júpiter, o pai dos deuses (estrofes 24 a 29) que, após
apresentar alguns feitos heroicos do povo português, se refere concretamente ao novo
feito que os navegadores pretendiam alcançar e que o destino, o "Fado eterno" , como
lhe chama Júpiter, lhes tinha reservado. A descrição que Júpiter faz da Nação
portuguesa permite a exaltação deste povo, capaz de atos tão grandiosos. Júpiter
determina, então, que os navegadores sejam "agasalhados" na costa africana, quer
dizer, que possam descansar em lugar seguro. O discurso de Júpiter é apresentado
através do discurso direto.

Repara no exemplo: "Quando Júpiter alto, assim dizendo,/Cum tom de voz começa,
grave e horrendo:". O Poeta indicou a personagem que ia falar, utilizando para isso um
verbo declarativo "dizendo" , os dois pontos e a mudança de verso para iniciar o
discurso de Júpiter: "Eternos moradores do luzente...".

Depois de apresentada a decisão de Júpiter, os deuses vão dando a sua opinião


(estrofes 30 a 34), destacando-se a de Baco, que é contra os portugueses, pois
considera que eles se tornarão superiores a si no Oriente, e a de Vénus, que defende
com amor os portugueses. As suas opiniões não são, no entanto, transmitidas em
discurso direto, mas sim em discurso indireto.

Repara também no exemplo: "O padre Baco ali não consentia/No que Júpiter disse,

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conhecendo...". Neste exemplo, não foi Baco que transmitiu a sua opinião, mas sim o
Poeta que a deu a conhecer.
Há ainda uma terceira forma de discurso que não surge neste caso, mas que deves
conhecer, o chamado discurso indireto livre.

Apesar de não haver nenhum caso de discurso indireto livre no texto, imagina este
exemplo: Entre os deuses, Baco dava a sua opinião. Não consentia! Então, os
portugueses iam tornar-se mais famosos do que ele no Oriente? Nem pensar em
perder a sua glória!

Se leres a estrofe 35, apercebes-te que a confusão gerada entre os deuses foi
grande, até os próprios verbos sugerem essa confusão: "rompendo", "Brama",
"murmura", "Rompem-se", "ferve". O tom utilizado nesta estrofe é hiperbólico, há um
exagero intencional da realidade para enfatizar a confusão. É nesse momento que
Marte, o deus da guerra, colocando fim à questão "E, dando uma pancada penetrante"
que até fez tremer o céu (hipérbole) , apresenta a sua opinião favorável aos
portugueses (estrofes 36 a 40), pelo seu amor a Vénus ou por verdadeira admiração
destes homens, aconselhando Júpiter a não voltar atrás na sua decisão, que, assim,
acaba por consentir no que Marte dissera e terminar o Consílio.

Quando um grupo de pessoas se reúnem para deliberar sobre alguma coisa, como
foi o caso do Consílio dos deuses, é necessário redigir uma ata dessa reunião. A
palavra Ata teve a sua origem na língua latina e significa "feitos".

Aquilo que se escreve numa ata deve ser inteiramente fiel ao que na realidade se
passou na reunião, não se podem inventar ou exagerar factos. Também não se pode,
no caso de haver um engano, apagar ou rasurar o texto. Deve-se escrever entre
vírgulas "digo" e corrigir a informação errada que se deu. Imagina o seguinte exemplo:
Marte, digo, Júpiter presidiu o Consílio dos deuses.

Sempre que tiveres necessidade de escrever números na ata, deves fazê-lo por
extenso, mesmo a data deve ser totalmente em extenso, como, por exemplo: Aos vinte
e quatro dias do mês de novembro de mil novecentos e noventa e nove...

Para que ninguém altere nada do que foi escrito, todos os espaços em branco da
ata devem ser trancados com um traço. A linguagem a utilizar deve ser muito clara e
objetiva e não se deve recorrer a siglas ou abreviaturas para se escrever mais
rapidamente.

Uma ata tem um número próprio que a abre e deve seguir a seguinte estrutura:
• introdução — onde se deve indicar a data de realização da reunião, o local e a hora,
quem presidiu à reunião, o número de pessoas que estiveram presentes e a
identificação das que faltaram e ainda a ordem de trabalhos a tratar.
• desenvolvimento — onde são referidos os assuntos tratados, as várias intervenções
das pessoas presentes, as decisões que foram tomadas, bem como os resultados de
uma votação, se for realizada.
• encerramento — onde se termina a ata com uma fórmula própria que indique o

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encerramento da reunião por não haver mais nenhum assunto a tratar, a que se segue
a assinatura do presidente da reunião e do secretário que lavrou a ata.

Quando tiveres de assinar uma ata, não o faças sem ler ou ouvir ler o que nela foi
escrito. Uma ata é sempre um documento de grande responsabilidade.

A paragem em Melinde...
Tal como os deuses tinham decidido em Consílio, a armada portuguesa encontra
um lugar para descansar (Canto II, estrofe 73), na costa africana, em Melinde, onde os
navegadores são muito bem acolhidos por toda a gente, em especial pelo rei que já
tinha conhecimento da fama dos portugueses. O rei revela a Vasco da Gama a sua
vontade de conhecer melhor o povo lusíada e pede que este lhe conte tudo sobre a
sua pátria (Canto II, estrofes 109 a 113).
É por isso que o Canto III abre com uma nova invocação, desta vez a Calíope,
musa da epopeia e da eloquência, a quem o Poeta pede que o ensine a narrar com
exatidão aquilo que Vasco da Gama contou ao rei de Melinde.
A partir da terceira estrofe deste canto, há uma mudança de narrador da ação, pois
deixa de ser o Poeta, narrador não participante, para ser Vasco da Gama, um narrador
autodiegético. Vasco da Gama revela nas suas palavras o prazer que tem em contar
ao rei a história do seu povo: "Mandas-me, ó Rei, que conte declarando/De minha
gente a grão genealogia;/Não me mandas contar estranha história,/Mas mandas-me
louvar dos meus a glória." Vasco da Gama torna-se narrador, aquele que conta, e o rei
de Melinde, narratário, aquele a quem a história é narrada.
E é assim que Vasco da Gama inicia a narração da História de Portugal, através de
uma longa analepse, desde a fundação da nacionalidade até ao momento da viagem,
dando-se lugar na ação a um outro plano diferente do da viagem e da mitologia,
o plano da história.

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