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CBA

CONVENÇÃO BAPTISTA DE ANGOLA

CURSO MÉDIO E BACHAREL EM TEOLOGIA


DISCIPLINA: RELIGIÕES TRADICIONAIS AFRICANAS
FASCÍCULO Nº 2
PROFESSOR: FREDERICO CHIAMBO LOPES

DEUS E O HOMEM

Nas R.T.As, dá a impressão de que Deus não actua directamente no mundo, já que os
intermediários absorvam as intervenções e que ele permaneça na tenção entre os dois
mundos, gerando-se uma indiferença, recíproca entre Deus e o homem.
Por outro lado, a agricultura modificou a “economia do sagrado” por que foram
adquirindo primazia com outras forças: fecundidade, sexualidade, mitologia da mulher e
terra, que se apresentavam mais dinâmicas, concretas, acessíveis e próximos do homem,
suplantando, o distante Deus.

CULTO A DEUS

O banto na sua concepção teológica, acha que ser Todo-Poderoso, plenitude,


transcendente, Deus não necessita de um culto institucionalizado. Render-lhe culto,
seria equipará-lo a uma criatura contingente. Deus desconhece qualquer necessidade de
oferendas, sacrifícios ou de uma liturgia.

A ORAÇÃO

A oração africana é um grito do homem na sua luta pela vida; é a acção de graças e é
louvor. Situa-se no interior da verdadeira luta pela vida.
A necessidade da oração surgi sempre que há uma circustancia especial tal como:
doenças, ou mortes, angustias e medo, necessidades de invocar ou aplacar os
antepassados, aumento de feitiçaria, nascimento, óbitos, iniciações, casamentos,
investidura do chefe, inauguração da aldeia, esterelidade etc.

HABITANTES INTERMÉDIARIOS NO MUNDO INVISIVEL

O banto situa-os como intermediários entre a divindade e os vivos.


O banto concebe-os como mensageiros de Deus, parecendo normal dirigir-se a Deus
através de mensageiros intermediários. A sua missão básica consiste em serem
transmissores do dinamismo vital de que a realizam intercâmbios constantes.

RELAÇÃO PIRAMIDAL ENTRE O HOMEM, OS ESPIRITOS E DEUS

Na sua obra negritude e humanismo, L. Senghor apresenta o seguinte panorama


do mundo: no centro do sistema universal está a existência isto é, a vida a força vital
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existe antes do ser e cria-o. A existência é concebida como uma qualidade inerente não
somente ao homem, mas todos os objectos, animados pelas forças vitais em cujo cume
encontra o único Deus o criador.

GENIOS

Senghor define a religião negra-africana como religião agrária” conserva-se os


génios não são mais que apressadores astros, fenómenos naturais, raios, chuvas, ventos,
epidemias, rios, montanhas, mares dos animais e plantas numa palavra, das
manifestações do ambiente do campo.

FORÇAS TELURICAS

Entende-se por foças telúricas como o lugar de residência de génios, como


centro de comunicação de forças vitais ou como realidades vivas que necessário manter
propícia, ou símbolo da transcendência.

A MORTE

Há muitos grupos que explicam a origem da morte. O primeiro grupo explica a


morte como separação do homem de Deus. Os culpados são o homem e a mulher ou os
dois.
A morte significa ou é definida como a separação (ruptura do equilíbrio) dos elementos
constituídos seguida de uma destruição imediata ou progressiva, total ou parcial, de
certos elementos, enquanto, os outros são promovidos a um novo destino.

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DISCIPLINA: RELIGIÕES TRADICIONAIS AFRICANAS
FASCÍCULO Nº 3
PROFESSOR: FREDERICO CHIAMBO LOPES

A NOÇÃO BANTO DE DEUS E A SUA PROXIMIDADE

É necessário assimilar o pensamento teológico banto, que encontra dificuldade


em conciliar a ideia de um “Deus distante” o outro” com a certeza de um Deus Pai que
quer bem aos seus filhos. Por isso confiam n’Ele, e sentem-no presente nas suas vidas.
Não se pode compreender a milenária consistência do monoteísmo banto sem a certeza
da proximidade de Deus acreditando e confiando tanto individualmente como
comunitariamente.
“Que cada um de nós reflicta de novo sobre os provérbios da nossa língua que
falam de Deus, e que lhes aplique o significado depois de analisados. Descobrir-se-há
que os sentimentos de reconhecimento, de suplica, de acção de graças e de louvor
enchem não só a área banto, mas também o continente negro.
A sacralidade do universo precisa da comunicação com o vértice da pirâmide
vital. Se Deus estivesse ausente do seu pensamento, poderíamos afirmar que o banto
tinha renegado a sua fé, desprezando a sua opção totalizante e se lançaria indefeso no
torvelinho vital. O que no contexto cultural tradicional é impensável.
É pena que o culto aos antepassados, que quase monopolizou as atenções de
missionários e etnólogos por ser o mais imediato e espelhado, tenha fechado o caminho
a observação que deveria ter descoberto nos bantos uma referencia vital e permanente a
Deus. Estes e os negros africanos não nos explicaram totalmente as suas experiencias de
Deus. Estes e os negros africanos não nos explicaram totalmente as suas experiencias de
Deus, que todos esperamos para nos enriquecer. Urge esclarecer até que ponto Deus
preside, motiva e vivifica a religião tradicional.
“ Eles não precisam de recitar um credo, o seu credo está neles. No seu sangue,
no seu coração. Tudo o que acreditam de Deus exprimem-no através de termos
concretos, de atitudes e de actos de adoração. O indivíduo acredita naquilo em que os
outros membros da comunidade acreditam: é uma fé comunitária.” (convertendo-se um
individuo principalmente um chefe ou respeitável, convertem-se todos ou pelo menos
em massa.
As constantes referencias a Deus que se ouve em qualquer conversa, denotam
uma presença activa da divindade nas suas vidas. Deus é nomeado, suplicado e tornado
como testemunha porque ocupa um lugar central. Demonstram que reconhecem uma
relação viva e contínua com Deus. Está presente nos seus lábios e no seu coração
sobretudo como criador, todo-poderoso, fonte de vida e Pai dos homens. Nas mais
variadas circunstâncias aparece uma recordação uma petição, um louvor, uma
exclamação de agradecimento ou uma queixa confiante. Exclamações como estas: como
Deus quiser” esta no coração de Deus” só Deus o sabe” Deus é Pai” Deus te cure para o
orgulho dos curandeiros” Deus não despeja” não abandona” etc.
Em muitas etnias, a chuva “ é a agua de Deus”, o sol o olho de Deus” e o trovão a sua
voz irada”.
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No culto individual, e privado, fazem-lhe pequenas ofertas que têm por fim
renovar a fé na sua Omnisciência, demonstrar-lhe amor e respeito, fazer-lhe súplicas
pessoais e por vezes familiares.
A oração a Deus que, como veremos, aparece directa, confiante, fervorosa, e
abundante, que nos leva a intuir que o banto sente a relação pessoal, o Tu divino, com
uma frescura espontânea e uma profundidade que ainda desconhecemos.
“Afirmar, consequentemente, que na religião banto Deus não se mete na vida
quotidiana e nos assuntos dos homens, é obrigar as pessoas a passar pelo buraco da
agulha” segundo (Darmann).

DEUS E O HOMEM

Quem não aprofundou a vida banto ou não está dentro da sua religiosidade,
encontra uma das maiores dificuldades em entender a religião tradicional quando aborda
a relação Deus-homem. “ O Deus da cultura africana apresenta-se aos ocidentais como a
grande incógnita” (Leopold Senghor).
Poder-se-ia suspeitar que o banto não resolve com nitidez a presença de Deus na
vida. Embora ele tenha criado e conheça tudo, a sua intervenção no mundo apresentar-
se-ia duvidosa e a relação pessoal com ele correria perigo. Precisamos de classificar a
tensão entre a participação vital e o monoteísmo nítido. Por um lado, o banto deve
atender primordialmente a interacção. Por outro lado reconhecer a supremacia divina e
atende a sua presença na vida. Sem esclarecer este dilema não se consegue entender a
sua religiosidade.
Diante do monoteísmo professado, levanta-se a presença omnímoda (algo total
completa abrangente, integrada, abraçando, adjectivo da palavra: que abraça e
entende tudo) da magia, há momentos em que parece que o banto dá a primazia absoluta
a Deus chamando-o inclusivemente com nomes tão profundos eterno como “Pai”. Os
comportamentos habituais porém parecem dar a entender que a magia, os intermediários
ofuscam Deus de tal maneira que o relegam para um segundo plano, com uma vida
pessoal sem relação nenhuma com os homens. Dá a impressão de que Deus não actua
directamente no mundo, já que os intermediários absorvem as intervenções e que ele
permanece neutro na tensão entre os dois mundos gerando-se uma indiferença recíproca
entre Deus e os homens.
Este apontamento divino não se devia somente a uma espécie de cansaço pós
criativo que obrigou Deus a retirar-se depois de decidir entregar o mundo a outros seres
para que o completassem e governassem, nem a sua grandeza imensa incompatível com
qualquer preocupação pelos assuntos ordinários dos homens” o afastamento divino
traduz na realidade o crescente interesse do homem pelas suas próprias descobertas
religiosas, culturais e ecuménicas. A força de se interessar pelas hierofanias da vida, de
descobrir o sagrado da fecundidade terrestre e de assistir solicitado por experiencias
religiosas mais concretas (mais carnais, inclusive orgias), o homem “primitivo” afasta-
se do Deus transcendente e celeste.
A sacralidade pela vida obcecou o homem e arrastou-o a apoiar-se nas
hierofanias vitais. Por isso abandonou a “sacralidade que transcendia as suas
necessidades imediatas e quotidianas.” Como desconhecem a revelação e o Deus de
Jesus Cristo não podem encontrar em Deus o gozo da filiação em Cristo, nem o
descanso definitivo e feliz, embora estas duas realidades estejam latentes como
aspiração suprema na medula da religião tradicional.

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Parece-nos que a sua vivencia religiosa torna patente o “ existencial sobrenatural” a
sede do infinito “ e o desejo natural de ver a Deus,” embora se debatam na tremenda que
a interacção lhes apresenta.

O CULTO A DEUS

Os bantos não rendem a Deus culto oficial público e institucionalizado. Só


realizam cultos em situações que exijam faze-lo, tais como um culto familiar ou
comunitário não existem templos, altares, oferendas e sacrifícios públicos, festas,
sacerdócio, nem precisam de lugares, momentos fixos ou tempos dedicados ao culto e
adoração a Deus.
Deus não necessita do culto institucionalizado. Vive numa esfera superior ao
circuito da vida. Como é um Deus bom, não se teme a sua cólera. A sua bondade
impede um culto regular. Oferecer-lhe sacrifícios para o aplacar, torna-lo a uma criatura
contingente Deus desconhece qualquer necessidade. Porque precisaria de oferendas
sacrifícios ou de uma liturgia solene?
A transcendência divina impede a concretização do culto, porque ninguém sabe o que
Deus deseja “como oferecer-lhe alguma coisa, se já é dono de tudo?
Em contrapartida, o culto aos antepassados aparece muito espalhado e constante, porque
é sempre necessário mantê-los propícios e muitas vezes torna-se necessário aplaca-los e
suplicar-lhes. Alem disso, precisam da atenção permanente dos vivos; pela sua condição
diluir-se-iam se interrompesse a corrente vital.
A religião tradicional fundamenta-se em crenças que se vivenciam
permanentemente e que se expressam e robustecem por símbolos, gestos, palavras e
ritos. Não são necessários lugares oficializados. O banto, participante-comungante entra
espontaneamente em comunicação com a vida e com as permanentes mensagens,
manifestações e solicitudes, do mundo invisível. Cada pessoa pode ser, ao mesmo
tempo fiel e sacerdote do culto privado.

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A ORAÇÃO

O banto é orante porque te consciência da sua situação na pirâmide vital e pela


necessidade originada da casualidade mística. A sua fé, como opção pela vida, exige e
consegue que o fiel e a comunidade se mantenham em atitude orante ou suplicante.
Por e para a vida, valor supremo e fim ultimo do homem. A oração recreia a
harmonia desejada porque previne o perigo, consolida a vida, corrige a desordem repara
a ofensa e intercede pelas necessidades. Atende primordialmente a interacção vital. Por
isso todos os lugares e qualquer tempo, podem ser instantes de oração, lugares de culto
momentos de fé activa “ todos os homens em África são” ministros do culto” (segundo
J. Mbiti).

DIALOGO ORAÇAO

Como o banto é primordialmente um comungante com a vida e com a vida


participada, esta convicção converte-se em diálogo-oração sem necessidade de tempos
ou horas marcadas. A pirâmide vital é considerada como prioridade absoluta.
Assim, desde Deus até ao antepassado menos qualificado, a todos deve suplicar.

O CONCEITO

“ A oração é o elemento principal pelo qual o crente comunica com a divindade.


Pela oração dá-se conta que é possível um diálogo entre dois seres, um, divino e outro
humano. O diálogo religioso pela oração testemunha que, a divindade é um ser pessoal,
activo dotado de palavra, um ser vivo, que pode escutar.
A oração africana é um grito do homem na sua luta; é acção de graças e é
louvor. Como diante de Deus não há mundo do homem”.
O ser homem é força; o adversário é o destruidor da força; o homem é vida, o seu
adversário é a morte. Deste modo o drama do homem é uma verdadeira luta pela vida. É
no interior desta luta que se situa a oração.

AS FÓRMULAS

Ainda que estereotipadas, admitem tantas variedades quantas as circunstâncias


especiais, podendo também ser modificadas pelo fervor e espontaneidade do fiel. O
banto aparece como um orante fervoroso, fervoroso, inspirado, espontâneo e livre na
expressão e no gesto, com profunda fé e confiança. Ora de pé, sentado, de joelhos,
prostrado em terra, dançando, cantando, gesticulando, em voz baixa, em altos gritos.
A oração é adoração, louvor, interpelação, acção de graças de oferendas e
sobretudo de petição e súplica. Os hinos e orações, que afectam a comunidade,

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costumam recitar-se com grande aparato musical e danças. A maioria conserva um
sabor arcaico.
Os tambores quase nunca faltam. No culto comunitário. O canto musica e dança
as expressões mais genuínas e vitais do banto preparam, acompanham tornam o culto
fervoroso transportam facilmente o fiel a comunhão religiosa e consolidam a fé
comunitária. Estas orações são fórmulas fixas as tradicionais inerentes à herança
literária do clã não são fruto da inspiração individual ou da improvisão.

HABITANTES INTERMEDIÁRIOS NO MUNDO INVISÍVEL

Abordamos uma das crenças mais profundas da religião tradicional.


Em certos aspectos quase sempre fundamentais, encontramos um fundo de crenças
unânimes, embora noutras as noções e conceitos não sejam claros, unânimes e conceitos
bem definidos.
Muitas interrogações ficam sem respostas. É necessária uma investigação mais apurada.
Alem disso, a diversidade de grupos apresenta um conglomerado de peças que, por
vezes é difícil de combinar.

A confusão da terminologia
A terminologia usada pelos outros frequentemente confunde e falsifica. Empregam-se
sem aquilatar a sua realidade e o seu conteúdo, expressões como “ deuses” semi deuses”
espíritos dos antepassados” “mansos” espíritos da natureza” que desfiguram a crença
banto.

O CONCEITO

Deus quis hierarquizar sob a sua autoridade o poder vital e a interacção para
manter a ordem harmónica do universo, sem os privar da liberdade, cujo abuso introduz
o mal no mundo invisível está povoado de espíritos génios e antepassados com
diferentes modalidades. Por não esclarecer a sua identidade, cometeram-se erros ao
descreve-los ou arbitrariamente estabeleceram diversas estratificações e panteões.
Todavia a pirâmide vital e o monoteísmo banto evitam qualquer confusão. Deus,
único e criador, permanece num âmbito superior qualitativamente diferente.
Nunca usurpam o lugar de Deus mesmo que pela participação um lugar
preponderante. O banto situa-os como intermediários entre a divindade e os vivos
Há muitas expressões que lhe atribuem esta mediação. Medir o grau de liberdade
e independência na sua gerência poderosa, apresenta-se como um dos pontos menos
claros da religião tradicional. Esta mediação ainda não analisou devidamente e leva-nos
a contradições. Embora apareçam como intermediários, gozam de tal poder que, as
vezes parecem que ofuscam a presença divina. A polarização por estes seres da maior
parte do culto religioso, exige, alem disso, outra explicação. O banto, que desconhece o
Deus de Jesus Cristo, deseja apenas uma felicidade natural; a sua esperança termina
numa comunhão vital comunitária agora e depois da morte. Como sabe que pode
adquirir esta felicidade com a ajuda destes seres, a eles se dirige, neles confia e a eles
teme. Não espera uma ordem nova. O banto desconhecedor das leis naturais e submerso
na casualidade mística, caminha por um meio desconhecido, misterioso e por um meio
desconhecido preocupante povoado de forças estranhas e sente-se inseguro e ameaçado;
busca protecção e amparo.
Por isso, ocupam um lugar eminente na vida religiosa, embora a não totalizem
como frequentemente se julgam. Não se encontram entre os bantos muitos originantes

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em que intervenham elementos femininos deificados como a terra esposa de Deus ou
deusa lua.

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Em quase toda África negra se conservam mitos que narram como o homem foi
criado para não passar pela morte. Esta chegou como consequência de faltas originais
que separaram o homem de Deus, ou como castigo pelo comportamento desordenado do
homem que tratou mal o mensageiro da imortalidade ou por que este não conseguiu
cumprir a sua missão segundo (Jhon Mbiti).
Alguns mitos são ocasião de falar da verdadeira queda “. Quase em nenhuma
parte se julga natural a morte tal como exixte na actualidade e não se pensa que tenha
existido sempre. As explicações que se dão não conicidem” (Kagame).
O primeiro grupo de mitos explica a morte como a separação do homem de
Deus. Os culpados são o homem e a mulher inevitavelmente. A imortalidade física foi
alterada. Certos animais mensageiros da morte ou da vida. Quase sempre aparecem o
camaleão, o lagarto, o cão, o bode, morcego e a serpente que protagoniza a imortalidade
por que muda de pele.

CARACTERIZAÇÃO

Para os bantos, a morte é um acontecimento brutal, contrario à natureza e a


harmonia, embora sempre a esperança ontológica, visto que destrói certos componentes
da pessoa. Acarreta uma diminuição da vida.
Vêem-na como um fracasso da solidariedade, a máxima perturbação da
participação vital uma consequência da fragilidade humana. Por isso cada morte
entristece o grupo alerta-o contra possíveis repetições e, se não por violência, agita a
comunidade que emprega a terapêutica místico-mágica para remediar o desconcerto.
Enquanto em algumas sob culturas a morte é dolorosa, isto é, provocando a
tristeza às pessoas que perdem o seu ente querido, chorando estrangulando-se,
arrancando os cabelos muitas vezes tentativas de se lançar na cova do defunto, outras
desdramatizam-na; aceitam-na com resignação, paz e calma. Não há um gesto de revolta
nem uma queixa, daí a ideia da ausência do medo.
Depois da morte encontra-se-ão com os antepassados e continuarão unidos aos
vivos. A solidariedade não se dilui, viverão em família.

SIGNIFICADO DA MORTE

Para o banto a morte é o “fim do existir como vivente” o antepassado passa a


ser um “existente não vivente”. Assim “ umuxima” é o ser vivo que tem inteligência e o
“ umuximo” (termo ruandez) o ser vivo com inteligência, ou melhor, “ ser privado de
vida que têm inteligência.” Segundo Tempels, há que distinguir o ser percebe pelos
sentidos e a “coisa em si mesma.” Com a coisa eles pensam na forma interior própria,
na sua natureza essencial ou na força.

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“ Sempre ouvi dizer aos velhos que o próprio homem continuava a existir, ele
mesmo, o pequeno homem que se oculta por detrás da forma que se percebe de fora,
o Muntu que se ve entre os vivos. Daí, que pensam que o muntu não se pode traduzir
pelas nossas expressões. O muntu tem naturalmente um corpo visível, mas este não é
próprio muntu.
Um negro culto dizia-me em certa ocasião: com muntu nós queremos significar
não tanto o que em francês chamais homem, mas pessoa” (Estermann).

A MORTE COMO UMA INICIAÇÃO

O homem morto transforma-se em “outra coisa” sem semelhança neste


mundo. A morte ocasiona uma mudança de estado porque é uma “passagem” que
modifica a personalidade. No pensamento banto, a morte, apesar de destruição e
desordem, aparece como um momento necessário da vida que brota no nascimento e
culmina no estado de antepassado.
Entre “ser vivo” e ser antepassado. Entre “ser vivo dá-se uma continuidade
ontológica. A participação vital transforma-a num ciclo que, que, em teoria, nunca
pode terminar. O antepassado, alem de perdurar, prolonga-se na sua descendência.
Em realidade, o banto não delimita a vida terrestre, morte e vida depois da morte.
Tudo é resultado dum processo que arrancou do nascimento.

CAUSAS DA MORTE

O banto tem a noção de que todos temos que morrer. Entretanto, a pergunta
que ele deixa no ar é: porque devo morrer agora? Quando esta morte for violenta,
provocada por um agente físico, aceitam-na por vezes como originada por uma causa
segundo. Assim as mortes nas guerras ou as ocasionadas por raios, inundações,
incêndios ou acidentes. Outras vezes vêem aí a mão justiceira de Deus ou a acção
malévola dum agente pessoal. Raramente a atribuem a Deus. Ele pode tirar a vida que
deu. Atribuem-lhe em casos inexplicáveis e, então, emude um por que a sua vontade é
inapelável; aceitam-na com resignação.

A MORTE NATURAL E NÃO NATURAL

A morte de um ancião rodeado de numerosa descendência é a única que


podem considerar “natural.” Morrem felizes por que passam a plenitude de
antepassados. As restantes mortes são anormais; a participação vital foi violentada.
As maiorias das mortes são atribuídas a acção mágica. Os agentes que
manejam mortiferamente a inter acção vital podem ser os antepassados que não
foram devidamente honrados, guardam rancores a uma pessoa ou simplesmente são
levados pela sua índole maléfica. Nestes casos, urge a necessidade de aplaca-los para
que não se multipliquem as mortes.
O banto acredita que algum membro da comunidade, dotado de poderes
mágicos ou que deles se apoderou, fulmina a vítima e permanece oculto.

OS SUPEITOS DA MAGIA

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Geralmente acusam os misantropos, apáticos, defeituosos, irascíveis, a quem
os familiares ou o adivinho odeiam, e os mais ricos da comunidade.
A morte feliz patenteia a harmonia vital que a pessoa consegue com os dois
mundos, o seu recto comportamento ético e a sua fé religiosa concretizada em obras.
Por isso a morte infame ou desgraçada converte-se no maior opróbrio.

EXISTE OUTRA VIDA DEPOIS DA MORTE?

A crença banto numa vida futura aparece clara e firme. Vivem dependentes do
mundo invisível e têm de se comportar com rectidão para ganhar a companhia dos
antepassados.
Erradamente, lançou-se a hipótese de que esta crença seria devida à influência
árabe ou cristã. Sem convicção da sobrevivência depois da morte ficariam
desmoronados os pilares da cultura banto. Nos túmulos pré-históricos encontram-se
restos de oferendas e de sacrifícios oferecidos aos antepassados. O monoteísmo e esta
crença constituem os dois pilares mais excelentes da religião tradicional.
Não esperam encontra-se com Deus. Por isso não anseiam por um céu como
também não tem o inferno. O mais além explica-se embora confusamente e com
divergências em termos puramente naturais, isto é, o homem viverá uma vida mais
poderosa.

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ACTIVIDADES DOS ANTEPASSADOS

As relações entre antepassados e mundo visível, sobretudo a sua comunidade de sangue,


fundamentam uma das crenças bantos mais firmes.
A sua intervenção nunca é “sobrenatural” realiza-se dentro do único entrelaçado
natural que Deus fixou.
Os mortos são os verdadeiros chefes guardiões dos costumes. Velam pela
conduta dos seus descendentes a quem recompensam ou castigam segundo observam ou
não os ritos e costumes. A fidelidade às tradições o respeito pelos anciãos e pelos
mortos, o cumprimento das cerimonias estão permanentemente sob o se controlo”
Jogam um papel decisivo nos grandes acontecimentos individuais e sociais tais
como: nascimento, iniciação, casamentos, mortes, calamidades, empreendimento,
harmonia social, defesa contra a magia prosperidade natural, viagens.

O MEDO

O medo é a consequência da sua “perniciosa intervenção, rouba a paz e


transforma com demasiada frequência, a religiosidade numa cadeia de ritos,
propiciatórios defensivos. Provoca uma prática religiosa que brota do medo. Todavia
“são os melhores sustentáculos da ética, sem o temor das suas represarias, a sociedade
cumpria com facilidade na decomposição da moralidade e dos valores sociais.

O MAL E SUA ORIGEM

A realidade extensíssima do mal e o receio permanente obssessionam o banto.


Ele teve de encontrar uma explicação etiológica e uma razão para a sua persistência.
Não admitem nem sequer a suspeita de que em Deus possa estar a origem do mal ou que
tenha querido a acção dos seres maléficos. Se alguma catástrofe natural tem sua origem
em Deus, obedece a um castigo merecido que deve servir de exemplo.
O mal provem das criaturas pervertidas, espíritos, antepassados, feiticeiros e
pessoas que desvirtuam a inter acção . A explicação do mal é consequência lógica da
participação vital. Todo mal é força vital degenerada, deformada, causalidade mística
pervertida.

A REPARAÇÃO DO MAL

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A transgressão duma regra religiosa ou social acarreta a culpabilidade pessoal,
desencadeia a acção vindicativa dos guardiões do grupo. Ao culpado só lhe resta
confessar a sua culpa e purifica-la pela reparação.
Esta cadeia suspeita-acusação-castigo, dum membro da comunidade, a que
corresponde identifica dinâmica vingativa dos outros membros destroca a solidariedade
horizontal e origina um caudal subterrâneo de ódio, medos e mortes. O observador
superficial não o detecta, pelo contrário, admira-se da fraternidade e hospitalidade que
aparecem exteriormente.
Na realidade correspondem à instituição e normas sociais e ás aspirações do
banto. Casualidade mística deturpa e empobrece, tornando os “ africanos brutais, cruéis,
demolidores e hostis os bantos, como todos os homens, são capazes do bem e do mal.
Mas é pena que a causalidade mística e o poder ominimoda da magia impossibilitem de
concretizar as aspirações de harmonia-paz que a cultura banto persegue como valor
mais precioso.

CULTO AOS ANTEPASSADOS

O culto aos antepassados desenrola-se com especial intensidade e frequência. “ É


a verdadeira religião de todos os bantos do sudeste e varia pouco de tribo a tribo.”
Para o norte “ a religião tem por base um culto intensivo aos antepassados.
Torna-se ofensivo para os bantos falar de “ ancestrolatria,” seria a maior deturpação dos
seus princípios religiosos. “ Embora o culto aos antepassados nos introduza mais
intimamente no segredo da religião africana, é necessário considera-lo como uma
concepção filosófica da vida, um instrumento ao serviço da sociedade um modo de
acesso ao divino: é a forma exterior da religião.”
O banto os considera intermediários entre Deus e o mundo visível, no sentido de
que têm de se submeter aos desígnios já fixados por Deus.

A LITURGIA BANTO

A liturgia banto é um encontro eficaz com a vida comunitária. O banto nas


oferendas, sacrifício e ritos através dos quais comunga com o mundo invisível,
proclama o mistério da comunhão vita e, sem dúvida, a obra divina, celebra a inter
acção e actualiza a comunhão salvadora. O culto em definitivo, potencializa a vida
comunitária e mantem viva em cada menbro a responsabilidade de se lhe entregar como
sendo a obrigação ética de mais valor e mais apto para consolidar a união entre os vivos,
a paz e harmonia sociais, ao reunir os membros do grupo junto ao chefe-sacerdote. O
culto efectiva a participação no sagrado e realiza o que o rito significa: a comunhão
entre os membros. O individuo participante toma consciência de ser útil, de viver ao
serviço do hgrupo e da sua comunidade. A sua vida atinge uma finalidade; não encontra
o absurdo nem o vazio; e a sua dedicação a solidariedade fortifica a comunidade e
robustece a esperança.
A liturgia banto confirma e reforça a solidariedade, e só se entende e se realiza
na medida em que vivem em solidariedade. Esta por ser vivencia religiosa-existencial
permanente, exige a expressão exterior, ritual.
Cremos, porem, que a sua religiosidade se enraíza e nutre de uma vivencia
“mística” que não pode excluir a dialéctica contemplação-acção, amor-temor, doação-
súplica, comunhão-petição.” As cerimonias colectivas são os ritos maiores, a mais alta
expressão da vida da moral social, e intelectual do grupo, a manifestação e o manancial

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da sua vitalidade, a que o padre Aupiais chama de “o cerimonialismo dos grupos
negros.”

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