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Artigo em resposta às críticas ao Keppe Motor pelo blog Ceticismo, Ciência &

Tecnologia

Este artigo visa esclarecer questionamentos técnico-científicos de maneira objetiva


sem se atentar para as opiniões expressas pelo autor do blog.

Na descrição do blog, encontramos a proposta do site:

Como se vê, o ponto de vista pelo qual as questões propostas pelo autor do blog são
analisadas evidência uma visão de mundo materialista, alinhada com as ideias
positivistas que rejeitam qualquer metafísica.

Provavelmente, o autor deve ignorar que as leis da física são baseadas em princípios de
onde partem os estudos da física. Dessa maneira, esses princípios são assumidos como
verdadeiros ou válidos, não sendo possível sua demonstração ou prova no âmbito da
matéria. Chamam-se, assim, princípios metafísicos, isto é, que estão além da física.

O Prof. Van Ness (Understanding Thermodynamics, 1969) faz as seguintes observações:


ninguém provou a primeira lei da termodinâmica. A lei da conservação da quantidade
de energia é uma descrição de como a natureza funciona (localmente), não uma
1
explicação. Ou seja, não sabermos por que ela funciona, mas sim como ela funciona.
Portanto, acreditamos nela. Segundo Popper, em Realism and the aim of Science, existe
uma condição que pode falsificar uma lei geral, mas não existe nenhuma condição em
que se pode verificar uma lei geral pela ciência experimental.

As leis da energia são leis metafísicas da natureza. Tomás de Aquino classifica as


ciências intermediárias em vários graus de abstração. As ciências mais abstratas
explicam o porquê (propter quid, em latim) são aceitas pelas ciências de grau de
abstração mais baixo como princípios fundamentais indemonstráveis (C. A. R. do
Nascimento, De Tomás de Aquino a Galileu, ANO). O próprio conceito de energia é difícil
de ser definido no âmbito da ciência experimental, sendo a melhor definição “aquilo que
permanece na mudança” (R. B. Lindsay, The concept of energy and its early historical
development, 1976) que é a própria definição de substância na metafísica de Aristóteles.

Ostwald, prêmio Nobel de química de 1906, um dos fundadores da físico-química,


defende essa ideia do ponto de vista da ciência (L’Énergie, 1910).1 A noção de energia
como substância é também compartilhada por Keppe no seu estudo da nova física da
metafísica desinvertida, mas no seu sentido mais metafísico. Essa visão da energia como
algo além da física é reconhecida, mas rejeitada por autores positivistas como Mario
Bunge, famoso epistemólogo, no seu artigo “Energia: entre a física e a metafísica”
(2016).2 Portanto, o autor que parte dessa visão de mundo já rejeita de antemão esse
princípio.

1
Ver também o tomo Física da Enciclopédia Einaudi, 1984.

2
Bunge, M. La energía entre la física y la metafísica. Revista
de Enseñanza de la Física, 12(1),
53–56. Disponível em: https://revistas.unc.edu.ar/index.php/revistaEF/article/view/16119.

2
O próprio Einstein, cientista dos mais conceituados na física tradicional, já disse “A
ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega”.

Novamente dentro do paradigma positivista não cabe a ciência psicanalítica. Popper no


seu livro sobre realismo científico, um dos seus últimos publicado, esclarece que o
princípio da demarcação, que delimita o que é uma ciência ou não, se refere unicamente
à aplicabilidade do método científico, e não se esse conhecimento é verdadeiro ou não.
Não há nenhuma demarcação nítida entre ciência e metafísica, pois a ciência sempre foi
profundamente influenciada pelas ideias da metafísica que servem como programas de
pesquisa na ciência (veja o caso do atomismo, por exemplo). Mesmo empiricamente
irrefutáveis, esses programas de pesquisa estão abertos à discussão (como no caso da
metapsicologia freudiana e dos princípios da física). Isso significa que o que não atende
ao critério da demarcação não pode ser considerado uma pseudociência, porque mesmo
não atendendo a ele pode ter significado (Popper, Realism and the aim of Science).

Talvez o autor também devesse pesquisar no currículo Lattes os nomes de Tesla e


Freud... Toda quebra de paradigma normalmente vem de autores fora do paradigma
vigente. A universidade cristaliza o conhecimento. Quem já se aventurou em um curso
de mestrado ou doutorado sabe que ideias fora do paradigma dominante dificilmente são
aceitas. Vale lembrar que o famoso filósofo Schopenhauer afirmou que toda a revolução
do conhecimento vem sempre de fora dos muros da universidade. Segundo ele também,
“Qualquer verdade passa por 3 estágios: primeiro, é ridicularizada, segundo é
violentamente combatida, terceiro é aceita como óbvia e evidente”. E o motivo disso é
3
que “Cada homem leva os limites de seu próprio campo de visão para os limites do
mundo”.

O calor dissipado pelo motor está diretamente relacionado à eficiência. Quanto mais
eficiente um motor, menos ele esquenta, pois o calor corresponde à quantidade de
energia não utilizada na conversão de energia elétrica em energia mecânica. Não
significa que o motor não tenha perdas e não produza nenhum calor. Significa que por
ser mais eficiente, produz bem menos calor que os motores menos eficientes.

Quanto ao consumo, o ventilador de teto Universe, comercializado entre 2014 e 2016 no


Brasil, obteve classificação A do INMETRO, sendo o mais eficiente do mercado.

Nos testes realizados por entidade independente de certificação, atestou-se que o Keppe
Motor consumiu, não em teoria, mas na prática, 3W na velocidade mínima.

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Esse consumo tão baixo, como demonstrado pelo engenheiro Roberto Frascari no vídeo
citado, levou muitos incrédulos nesse resultado a repetir os testes em casa, verificando
o resultado por si mesmos (o que não é o caso aqui) e postando vídeos no YouTube.
Além disso, devido a limitações de custo e produção, os protótipos de laboratório são
mais eficientes que os comercializados. Vale lembrar que uma ventoinha de computador
de 5 cm consome algo entre 2 e 4 W, enquanto o Universe tem um diâmetro de 110 cm!

Sem comentários.

Em primeiro lugar, o vídeo citado (https://youtu.be/wiIT-M7S7Io) é de divulgação


científica, e, portanto, simplifica os conceitos para que mais pessoas possam
acompanhar as explicações. Talvez o autor por ter Faraday em mente não tenha
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percebido que o engenheiro Cesar Soos fala em fase motora e fase geradora dentro de
cada ciclo do motor. Os motores convencionais, mesmo os brushless ou de corrente
contínua, não possuem fase geradora em cada giro do motor. Como exemplo, a seguir
apresentamos um ciclo de motor BLDC que só tem uma fase geradora quando o motor
é desligado e o rotor gira por inércia (sistema utilizado para carregar baterias dos carros
elétricos, inclusive).

A seguir temos um ciclo do Keppe Motor em que ocorre alternância de fase motora e
geradora. Como o vídeo fala, a energia é pulsada, o que, na prática, significa que nos
intervalos dos pulsos a fonte está desligada e há geração de energia. Apesar do circuito
ser convencional, seu funcionamento é totalmente diferente do empregado em outros
motores. Quando há um equilíbrio entre essas fases, que é o ponto de ressonância, na
heurística da física keppeana, onde o motor atinge sua eficiência máxima.

6
Por essa inovação tecnológica o Keppe Motor ganhou vários prêmios internacionais,
inclusive o da maior feira de eletrônica do mundo em Hong Kong:

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Fato noticiado em várias mídias por todo o Brasil, mas muito pouco repercutido por elas.

É claro que usar eletricidade para produzir eletricidade é um contrassenso, e, a menos


que se esteja subestimando a capacidade do engenheiro Soos, é evidente que não é
isso que ele está demonstrando... O que ele está demonstrando é que quando os leds
são ligados no motor, o consumo dele não aumenta. Isso significa que essa energia está
disponível para ser utilizada.

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Em primeiro lugar, é vendido como um motor mais eficiente, mas não que gera mais
energia do que consome. Em segundo lugar, ele emite pouco calor e não nada de calor,
como já esclarecido acima. Em terceiro lugar, não viola nem a primeira nem a segunda
lei da termodinâmica. Essa é uma questão difícil de explicar para leigos, mas vamos
tentar!

Para isso vamos utilizar um parâmetro chamado de COP (Coefficient Of Performance ou


coeficiente de desempenho). O COP é uma medida de eficiência. A eficiência de
qualquer máquina ou sistema pode ser calculada como a razão entre a quantidade de
trabalho realizado pela máquina e a quantidade de trabalho fornecido à máquina.
Quando se contabiliza todas as fontes de energia (sistema fechado), esse valor pode ser
no máximo 1 (ou 100%) e, geralmente, se utiliza o símbolo η, segundo a primeira lei
da termodinâmica, que nos diz que a energia não pode ser criada nem destruída.
Diferentemente da eficiência η, o COP mede a eficiência em relação à fonte principal de
energia sem computar outras fontes possíveis de energia (sistema aberto).

No caso de uma bomba de calor, o COP é a relação entre a energia térmica útil produzida
e o consumo de energia elétrica. Um COP de 2,5 significa que a bomba de calor fornece
2,5 vezes mais energia térmica ao sistema do que consome em energia elétrica. Ele não
faz isso criando energia ou sendo mais de 100% eficiente. Faz isso utilizando a energia
térmica já presente no ar exterior, no solo ou na água.

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https://greenbusinesswatch.co.uk/cop-vs-spf

Na fórmula técnica, COP é escrito como Q/W, onde Q é o calor gerado e W é a potência
utilizada. No exemplo acima, assumindo que 5kW é a saída de calor pela bomba de calor
e que gera isso usando 2kW de energia elétrica e 3kW de energia do ar externo. Então,
o COP da bomba de calor será 2,5. Nesse cálculo, a fonte principal de energia é a elétrica
(2kW), não sendo levada em conta a fonte de energia secundária que é o calor do
ambiente. O mesmo é verdade para uma bomba de calor geotérmica, mas a temperatura
do solo varia menos e não cai tão rapidamente no inverno.

Em resumo, o COP leva em conta apenas as energias quantificáveis no sistema,


deixando de fora outras energias captadas ou regeneradas pelo sistema. Dessa forma,
pode ter valores superiores a 1 (maiores que 100%).

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Temos também o exemplo da destilador:

O destilador com regeneração pode atingir um COP de 7.

Essa medida do COP também é utilizada em outros sistemas regenerativos (onde há


recuperação da energia, ver Çengel, Termodinâmica), como, por exemplo, os motores
Ericsson e Stirling.

https://www.ohio.edu/mechanical/stirling/engines/beta.html

Como se pode ver na figura, além da transferência de calor pelo ar entre o espaço de
compressão e expansão, o regenerador transfere calor diretamente da fonte quente

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(heater) para a fonte fria (cooler), aumentando, assim, a eficiência do motor. Se
computarmos a energia mecânica produzida pelo movimento do êmbolo dividida pela
energia térmica transferida pelo ar, mais a energia térmica transferida pelo regenerador,
temos η que é no máximo 1 segundo a primeira lei da termodinâmica. No entanto,
quando computamos o COP, não levamos em conta a energia transferida pelo
regenerador, portanto, elevando seu valor acima de 1 em geral (daí o termo overunity
utilizado para descrever eficiências maiores que 1).

Esquema termodinâmico de um motor Stirling com


regeneração (https://www.sciencedirect.com/topics/engineering/stirling-
cycle ).

Para ver um experimento prático demonstrando o ganho de eficiência com o sistema


regenerativo no motor Stirling, assista ao vídeo no YouTube: Como funciona um motor
Stirling Alfa e com regenerador (Disponível em: https://youtu.be/5OdqD0wCyaQ).

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Em termos genéricos, temos:

O COP pode ser estendido por analogia a outros sistemas que não sejam térmicos
(elétricos, mecânicos etc.). A seguir temos o exemplo de um circuito elétrico regenerativo
de Paul Babcock (exemplos extraídos da palestra Open Systems thermodynamics,
proferida por Peter Linderman):

O Keppe Motor também utiliza circuitos regenerativos com topologia diferente da do


Babcock. Justamente o que é feito no circuito com o sistema chamado de turbo de
regeneração de energia: essa energia disponível é reaplicada ao motor, aumentando sua
potência e sua eficiência, conforme demonstrado pelo experimento do engenheiro
Alexandre Frascari no vídeo https://youtu.be/wiIT-M7S7Io.

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Nos estudos realizados na Alemanha, foi calculado um COP de 1.2 para o protótipo OU-
04 testado, corroborando os princípios adotados. Esse resultado controverso necessita
de mais experimentos para sua confirmação definitiva, mas esses estudos foram
interrompidos em função dos altos custos envolvidos.

Os motores Keppe Motor industrializados, como os de ventiladores e bombas, têm um


COP inferior a 1. No entanto, pode-se apresentar alguns experimentos que também
corroboram as hipóteses adotadas. Como veremos no exemplo do ventilador Universe a
seguir.

Os dois motores Keppe ao


lado são exatamente iguais.
No motor da esquerda,
adicionamos seis pequenos
ímãs (veja a seta na foto).
Quando medimos a entrada
de energia dessas duas
configurações para a mesma
potência de saída (ou seja, a
mesma pá do ventilador na
ímãs adicionais
mesma velocidade),
observamos o seguinte:

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Sem os ímãs adicionais: Potência elétrica consumida = 25 Watts.

Com os ímãs adicionais: Potência elétrica consumida = 20 Watts.

Podemos ver que, quando adicionamos os ímãs, a potência elétrica consumida cai 5W.
Podemos raciocinar que esses 5 W são energia que vem de outra fonte de energia.
Nesse caso, os ímãs são essa fonte de energia. Mas, segundo Keppe, ímãs não
produzem energia (não é o metal do ímã que produz energia). O ímã simplesmente capta
a energia do espaço e a converte em magnetismo. Assim, podemos dizer que a energia
captada do espaço melhorou a eficiência do motor (mesmo que não seja overunity).

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Bom, essa é a opinião do autor... Para se reconhecer uma física da metafisica
desinvertida, em primeiro lugar, é necessário reconhecer que há uma física que tem seus
conceitos derivados da metafísica. Caso contrário, não há como argumentar. O próprio
Aristóteles já dizia que, se o mundo fosse apenas matéria, não haveria necessidade da
metafísica, pois tudo poderia ser explicado pela física, isto é, pelo movimento da matéria.
Será essa pretensão da ciência possível? Não creio.

Esse é o princípio fundamental da física da metafisica desinvertida: tudo é energia. Existe


uma energia no espaço que sustenta tudo que existe, inclusive a matéria (não o contrário,
que a energia é produto da energia, por isso se diz metafísica desinvertida). Ignorar isso
limita a possibilidade de avanço tecnológico e científico. É o que Keppe está dizendo
neste trecho. A tecnologia Keppe Motor, apesar de uma modesta aplicação desses
princípios na prática, já mostra excelentes resultados.

A física invertida tem vários nomes para essa energia do espaço que seria o que os
antigos chamavam de “éter”. Como essa palavra se tornou tabu na ciência, são utilizados
outros nomes como energia do vácuo, energia do ponto zero, campos, potenciais,
energia escura, matéria escura etc. Mas, com certeza, para a compreensão desses
conceitos é necessária uma mentalidade metafísica.

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Responder aos comentários do autor realmente foi um trabalho penoso devido à postura
que adota. No entanto, aceitei esse “sacrifício” na esperança de que pessoas de
mentalidade aberta possam ler, esclarecer as dúvidas levantadas e apreciar o trabalho
da nova física de Keppe.

Alexandre Frascari

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