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OBRAS:

CHRISTOPHE DEJOURS

Dejours nasceu em 1949 e vive em


Paris. É doutor em medicina,
especialista em medicina do
trabalho, em psiquiatria e
psicanalista.

Atualmente é professor titular da


cadeira de Psicanálise, Saúde e
Trabalho do Conservatoire
National des Arts et Métiers, Paris.

E diretor da equipe
Psychodynamique du Travail et de
l'Action, uma das raras equipes no
mundo que estuda a relação entre
trabalho e doença mental.
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A LOUCURA DO TRABALHO (1980)


Obra pioneira, que deu início as
discussões sobre o tema no Brasil
IMPORTÂNCIA: TRABALHO E MEDO
1) Seus estudos trouxeram elementos
para compreender o medo, fadiga, Para Dejours o medo está presente em diferentes situações de
ansiedade e exploração do trabalho; e esse medo se desdobra de forma diferenciada conforme
sofrimento no contexto do trabalho. a relação tarefa-organização do trabalho.
2) Revelou o impacto do trabalho Há sinais diretos do medo como as condições físicas e químicas do
parcelado e repetitivo no psiquismo trabalho (vapores, temperatura, gases, ruído).
dos trabalhadores.
O risco real existe em qualquer lugar, qualquer que seja sua
3) Descobriu as estratégias defensivas
amplitude ela gera um estado de medo permanente.
elaboradas pelos coletivos dos
trabalhadores para enfrentar os Eles são evidentes nos discursos que representam o medo: “a
riscos no seu trabalho – importante fábrica é um vulcão”, “um barril de pólvora”, um animal enorme e
na segurança do trabalho. furioso”.
4) Mostrou os verdadeiros motivos dos
comportamentos adotados pelos
trabalhadores diante do risco. 3 4

TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL (medo e ideologia São características da estratégia: a) Pseudo-inconsciência (sistema
ocupacional defensiva) defensivo para controlar o medo); b) Caráter coletivo: a eficácia é
assegurada pela participação de todos.
Área em que ocorrem inúmeros acidentes.
Neste sentido a resistência as campanhas de segurança ocorre
Também verifica-se nesta área uma resistência dos trabalhadores as
porque os trabalhadores não gostam de lembrar de “seus medos”.
normas de segurança.
Nesta ideologia defensiva é importante a coesão: o grupo elimina
Porém esta “resistência” (desprezo, ignorância e a inconsciência em
aquele que não suporta o risco (há seleção grupal). Gozação de
relação ao risco) é apenas uma fachada.
novatos = teste de ideologia-defesa.
A “resistência” é na verdade um mecanismo de defesa necessário
A “inconsciência” é o preço que pagam para superar a carga de
que busca conter a vivência do medo.
medo do trabalho.
Se o medo não fosse neutralizado (aparecendo a qualquer momento
Esta ideologia defensiva não funciona em trabalhos parcelados e
do trabalho) as tarefas não seriam continuadas.
repetitivos.
Negação e desprezo pelo perigo é uma simples inversão da
afirmação de risco (estratégia simbólica que afirma a iniciativa e o
domínio sobre o perigo).

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TRABALHADORES DA INDÚSTRIA (o medo em tarefas submetidas a
ritmos de trabalho)
TRABALHO E ANSIEDADE
Nestes casos as defesas coletivas (construção civil) não
São várias as situações que geram ansiedade nos trabalhadores:
funcionam, e o risco é assumido individualmente.
a) degradação do equilíbrio psico-afetivo: ocorre devido a
Trabalhadores das indústrias possuem consciência dos riscos a
desestruturação das relações psico-afetivas com colegas de
sua integridade física. Neste caso a origem do medo está; a) nos
trabalho, discriminação, suspeitas e relações de violência ou
riscos das más condições de trabalho e; b) no ritmo do trabalho.
agressividade com a hierarquia.
Também, é comum ansiedade em trabalhadores que começam num
b) desorganização do funcionamento mental: ocorre devido a auto
novo posto.
repressão do funcionamento mental individual num esforço para
Mesmo com aquisição da habilidade o resultado é colocado em manter comportamentos condicionados.
xeque pelo aumento de cadência que poderá surgir (ritmo de
c) Ansiedade relativa a degradação do organismo
trabalho, velocidade e produção).
d) Ansiedade gerada pela “disciplina da fome”: medo do
RESISTÊNCIA A MUDANÇA = ao adquirir certo hábito e rendimentos desemprego.
de controle do posto de trabalho agarram-se para não perder estas
vantagens.

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AMBIENTES DE ESCRITÓRIO (a ansiedade e as “relações de trabalho”) O CASO DAS TELEFONISTAS (a exploração do sofrimento)
O trabalho de escritório: não consegue efetivar o controle pelo Ao avaliar o caso das telefonistas Dejours verifica que o sofrimento
“cronômetro da fábrica”, então o controle é feito pela rivalidade e mental é usado para a submissão do corpo, ou seja, a condição para
discriminação. submeter o corpo aos critérios de produtividade é a erosão da vida
“Táticas” de comando técnicas de discriminação. mental.
As relações hierárquicas são assim fontes de ansiedade, através do Componentes:
uso de repreensões e favoritismos para dividir os trabalhadores. O a) Hierarquia, comando, controle e organização do trabalho: o
trabalho fica escamoteado e há um deslocamento para questões eixo central dessa violência de poder é o estado permanente
pessoais (manipulação psicológica). de controle (visando uma disciplina eficaz) e o trabalhador é
As avaliações dos chefes influenciam: salário, avaliação de tarefas, controlado a qualquer momento, sem saber em que momento
os atrasos autorizados, os atrasos punidos, falsas esperanças de o controle é exercido. Cria-se um autocontrole (o medo de
promoção. ser vigiado gera uma autovigilância).
Outra estratégia é tentar que os empregados falem dos seus colegas b) A forma e o conteúdo do trabalho: a forma e o conteúdo
(criando um sistema de suspeitas e “espionagem”). impedem qualquer relacionamento. É um serviço de
comunicação que proíbe a relação psico-afetiva. Ex.:
Esta atmosfera de trabalho envenena as relações entre empregados
proibição em passar variações de humor e não se admite
(cria suspeitas, rivalidades e perversidades). variação de vocabulário.
As principais vítimas deste sistema são as mulheres.
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RESULTADO
Reações agressivas são provocadas pelo interlocutor, pelo
controle, pela tarefa inadequada. O SOFRIMENTO QUE PRODUZ O TRABALHO
Quanto mais se enerva, mais se sente agressiva e mais intensifica O controle das telefonistas é uma tecnologia mediada pelo
a auto-repressão. sofrimento psíquico.
Na impossibilidade de uma saida direta da agressividade qual a Para aumentar a produção basta puxar a “rédea” do sofrimento
saída/destino dessa agressividade? psíquico.
1) Ela volta a agressividade contra si mesmo: ao orientar essa No caso das telefonistas, o sofrimento resulta da organização do
energia para uma adaptação a tarefa ela transforma trabalho “robotizante” que expulsa o desejo próprio do sujeito. A
agressividade em culpa. É um circulo vicioso onde a frustração, tensão e a agressividade são utilizadas para aumentar
frustração alimenta a disciplina. o ritmo de trabalho.
2) Trabalhar mais depressa: não há possibilidade de
exteriorizar a agressividade por causa do controle exercido
pela controladora. Assim a saída para a agressividade é
trabalhar mais depressa.

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CONTRIBUIÇÕES DA OBRA
LACUNAS DA OBRA Ilustra de forma clara os diferentes mecanismos de defesa (que
permitem sobreviver ao sofrimento imposto pela organização do
Confusão entre psicologia concreta e abstrata (desinteresse pela trabalho vigente) utilizados pelos trabalhadores.
situação real do trabalho) com ênfase exclusiva no discurso dos
O autor identifica mecanismos de defesa ocupacional defensiva de
trabalhadores (motivado pela psicanálise que dá mais ênfase ao
caráter individual, e também coletiva vigentes em determinadas
discurso).
áreas de produção.
Ênfase na subjetividade que acarreta dificuldade no grau de O autor questiona a forma como o trabalho é organizado ao
certeza dos resultados e risco de cair no relativismo (espaço para resgatar a dimensão coletiva do sofrimento e as regras impostas
novas interpretações). pelo grupo para a execução das tarefas.
Contrariamente ao título da obra, não se pode provar uma
Ausência do enfoque no trabalho O trabalho possui articulação patologia mental decorrente do trabalho. Uma das hipóteses de
entre o objetivo (ser orgânico) e o subjetivo (mental, simbólico). Dejours é colocar a organização do trabalho como causa de uma
Para Dejours o trabalho é uma categoria marginal que só é FRAGILIZAÇÃO SOMÁTICA (há um bloqueio nos esforços do
abordado por meio do discurso. trabalhador para adequar o modo operatório às necessidades de
sua estrutura mental).

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MARIE-FRANCE HIRIGOYEN
precursora do termo “assédio moral” (segundo ela “assédio”
psicoterapeuta e vitimóloga francesa. denota a qualificação psicológica da vítima: que sofre o desprezo, o
principal obra: “Assédio moral: a maltrato e humilhação e “moral” trata do bem e do mal ou seja o
violência perversa no cotidiano” (1998) agressor: com sua intenção de fazer mal a alguém.
Maior expoente
internacional na DEFINIÇÃO DE ASSÉDIO MORAL
questão sobre assédio
moral, suas obras Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por
fornecem a base do comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam
conhecimento na luta
trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou
contra o assédio moral.
psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar
o ambiente de trabalho (Hirigoyen, 2003, p. 65).

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ASSÉDIO MORAL

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MOMENTOS DO ASSÉDIO MORAL 2.Segundo momento (violência manifesta)

1.Primeiro momento (evitação do conflito) É feita sob uma violência fria, de golpes sujos, de injúrias, de
ameaças veladas, de olhares acusadores, de humilhações verbais,
O agressor ataca com pequenos toques indiretos, uma mentira, uma da depreciação de tudo que pertence ao outro ou diz respeito à
afronta sutil, sem provocar abertamente o conflito. A vítima submete- vítima. O ódio do agressor agora manifesta-se abertamente, é
se, preferindo não se mostrar ofendida e procura tentar um acordo a
desencadeado em resposta às reações da vítima. Essas atitudes do
arriscar-se no conflito. Esses ataques, porém, vão se multiplicando e
a pessoa é acuada, posta em situações de inferioridade, submetida a agressor têm em vista manter o controle sobre a vítima, seja por
manobras hostis e degradantes de forma recorrente, por períodos desarmá-la, seja por desencadear uma reação violenta da vítima
cada vez maiores, o que pode chegar à violência manifesta. contra o próprio agressor, invertendo a situação (agressor-agredido)
A primeira fase constrói-se por meio de um processo de sedução, e levando a vítima a sentir-se culpada, confusa e envergonhada de si
durante o qual a vítima é desestabilizada e perde progressivamente a
mesma.
confiança em si mesma. Nessa fase, trata-se primeiro de seduzi-la,
enredá-la, para finalmente, controlá-la, retirando-lhe a liberdade.
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PERFIL PSICOLÓGICO DOS PROTAGONISTAS REAÇÕES e COMBATE AO ASSÉDIO

Para Hirigoyen, o agressor é um perverso narcisista e a vítima ideal 1. NA JUSTIÇA: já existem leis aprovadas:
tem um caráter pré-depressivo. O ataque perverso caracteriza-se por
a) Projeto de Lei 4742/01, que tipifica, no Código Penal, o crime de
ter em mira as partes vulneráveis do outro, a vítima, não é em si
mesma masoquista ou depressiva. Os perversos vão mobilizar e assédio moral no ambiente de trabalho.
usar essas características que nela existem. b) Lei veda empréstimos do BNDES a empresas que tenham prática
de assédio moral
PESSOAS MAIS VISADAS c) Lei nº 4.326, de 2004, sobre criação do Dia Nacional de Luta contra
o Assédio Moral
Aquelas que apresentam certa capacidade de resistir à autoridade:
os indivíduos acima dos cinqüenta anos, julgados menos produtivos E projetos de lei:
e adaptáveis e porque temem o desemprego estrutural. As mulheres
com uma conotação machista e sexista e invariavelmente evoluem a) Projeto de lei sobre assédio moral nas relações de trabalho; b)
para o assédio sexual. E também qualquer tipo de discriminação Projeto de lei sobre coação moral; c) Projeto de Lei nº 80, de 2009,
(racial, religiosa, por deficiência física, em função de orientação sobre coação moral no emprego; d) Lei nº 8.112: assédio moral Lei nº
sexual).
21 8.666: coação moral. 22

2. MOVIMENTOS ORGANIZADOS e PUBLICAÇÕES:

a) Organizações: www.assediomoral.org, sindicatos (CUT,


FENAJUFE, SINQUIMSP, SINEDUC, SINJUS-MG e outros)

b) Facebook (Grupos): “A-reagir Assedio Moral”, “SOS Assédio


Moral”, “Sem assédio moral é melhor no trabalho”.

c) Cartilhas e livros.

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