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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

CAMPOS ALEGRE

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

BACHARELADO CIENCIAS BIOLOGICAS

ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Professora Dra: Tatiane Barroso

Gabriel Figueiredo de Oliveira Teixeira de Mello

RESENHA DO ARTIGO 3º DO CAPÍTULO III

DO CÓDIGO ÉTICA DO BIÓLOGO

Rio de Janeiro
Quinta feira, 22 de setembro de 2021
Este trabalho tem por objetivo a leitura crítica do Artigo 3º do capítulo I
do Código de Ética do Biólogo, aprovado em de 2002.

O Artigo 3º do Capítulo I do Código de Ética do Biólogo prevê que – “O


Biólogo exercerá sua profissão cumprindo o disposto na legislação em vigor e
na específica de sua profissão e de acordo com o "Princípio da Precaução"
(definido no Decreto Legislativo nº 1, de 03/02/1994, nos Artigos 1º, 2º, 3º e 4º),
observando os preceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.”

Para empreendermos tal análise, antes é preciso compreendermos a


abrangência e significado da categoria “Princípio de precaução”.

Em uma perspectiva filosófica, a concepção do princípio de precaução


está sempre associada a outro princípio: o de prevenção. Isto porque essas
categorias de pensamento indicam também formas jurídicas que possibilitam
“a relação entre, de um lado, a tomada de decisões (políticas, econômicas,
jurídicas, científicas, etc.) e, de outro lado, a possibilidade de se associar essas
decisões a certos eventos futuros e danosos, atribuindo-lhes a qualidade
de consequências. (ZAPATER, 2017).

Considerado dessa forma, o princípio de prevenção na literatura jurídica


envolve estratégias jurídicas que dão conta de consequências sinistras de
determinadas ações para o meio ambiente, que podem ser antecipadas e,
portanto, evitadas por meio de tomadas de decisões. Já o princípio da
precaução, por sua vez, envolve dispositivos “ para lidar com a incerteza
decorrente da impossibilidade de se antecipar as consequências de uma
atividade humana”.( ZAPATER:2017) 

Por essa lógica, é possível assegurar que a distinção entre os conceitos


jurídicos-filosóficos de prevenção/precaução baseia-se no entendimento dos
opostos certeza/incerteza em relação às consequências de uma dada atividade
para o meio ambiente, a partir da qual são oferecidas estratégias jurídicas, no
sistema jurídico e na sociedade, para o tratamento do risco.

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O princípio da precaução, portanto, é um princípio ao mesmo tempo
moral, político e jurídico que indica que se uma ação pode resultar um dano
irreversível público ou ambiental, na ausência de consenso cientifico, a
obrigação sobre tal ação é do praticante.

Definido o escopo do princípio de precaução, é possível proceder a


análise sobre o artigo 3, capitulo I do Código de ética do Biólogo.

O princípio da precaução pode ser relacionado diretamente à busca da


proteção do meio ambiente, como também a segurança da integridade da vida
humana. Este princípio visa à antecipar à ocorrência do dano ambiental e foi
problematizado pela primeira vez na Convenção sobre Diversidade Biológica.
Tal Convenção foi estabelecida durante a notória ECO-92 – a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada
no Rio de Janeiro em junho de 1992 – e é hoje o principal fórum mundial para
questões relacionadas ao tema.

Pode se constatar que diante da crise ambiental gerada pela devastação


assustadora do meio ambiente, a preocupação de evitar a destruição do meio
ambiente passou a ser recorrente para aqueles que procuram uma melhor
qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. Assim, a instauração
de políticas e leis efetivas de proteção ao meio ambiente se fazem urgentes.

No caso do Brasil, se lançarmos um olhar mais atento aos


acontecimentos recentes, como por exemplo o desastre das cidades mineiras
de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), só para citar alguns, vimos que a
atuação efetivamente preventiva do princípio de precaução pode ser muito
menor do que o esperado, especialmente quando se observa que, nas disputas
legais, esses princípios são frequentemente utilizados apenas para justificar
uma desobrigação em relação a danos já ocorridos.

Como observa Zapater (2017), “são várias as causas que, com pouca
preocupação teórica, suscitam o princípio da precaução como fundamento
para inverter o ônus da prova, ou seja, atribuir àquele que nega um dano
ambiental ou a danosidade de uma conduta, o ônus de provar as alegações”

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Diante do exposto, pode-se perceber que o artigo 3º do Capítulo I do
Código de ética contempla de forma bastante ampla a conduta ética no
cumprimento do exercício da profissão de biólogo. Entretanto, de forma mais
especifica, no que tange ao princípio de precaução, cabe alinhar a orientação
filosófica à normatização jurídica para que responsabilização do dano
provocado ao meio ambiente seja efetiva. Isso porque, como diz LUHMANN
(1997), as demandas ecológicas são formuladas e consideradas diversamente
pela economia, pelo direito, pela ciência etc., resulta disso o fato de que,
“quando as teorias ecológicas buscam denunciar as ameaças de catástrofe,
sem considerar essas especificações sistêmicas, acabam por produzir um
moralismo generalista, limitado a uma comunicação da própria ansiedade, o
que seria uma das razões  da falta de ressonância e engajamento, reclamada
pelos próprios ambientalistas”

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Referências :

RESOLUÇÃO Nº 2, DE 5 DE MARÇO DE 2002 Aprova o Código de Ética do


Profissional Biólogo O CONSELHO FEDERAL DE BIOLOGIA.

ZAPATER, Tiago C. Vaitekunas. Princípio da prevenção e princípio da


precaução. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. 1. ed. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível
em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/356/edicao-1/principio-da-
prevencao-e-principio-da-precaucao visualizado em 22/09/2021

MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, prática,


glossário. 3 ed. rev. atual e ampl São Paulo: RT, 2004.In Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/356/edicao-1/principio-da-
prevencao-e-principio-da-precaucao - visualizado em 22/09/2021

LUHMANN, Niklas.  Ecología de la ignorancia. Observaciones de la


modernidad, racionalidad y contingencia en la sociedad moderna. Barcelona:
Ediciones Paidós Ibérica S.A., 1997. Disponível parcialmente em
http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/2390/entre
%20a%20ecologia.pdf?sequence=1&isAllowed=y visualizado 22/09/2021

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