Você está na página 1de 5

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE ARTE VISUAIS

GIOVANA MENESES JANSEN FERREIRA

RESENHA CIENTÍFICA DA OBRA “MUNDOS


DA ARTE”

São Luís

2022
2

Giovana Meneses Jansen Ferreira

Resenha científica da obra “Mundos da Arte”

Resenha submetida ao Programa de

Graduação em Artes Visuais –

Licenciatura, da Universidade Federal


do Maranhão.

Professora: Maira Rocha Gonçalves

São Luís

2022
3

BECKER, S. Howard. Mundos da Arte. Lisboa: LIVROS HORIZONTE, LDA. 1982,


2010.

A obra “Mundos da Arte” de Howard Becker é considerada o principal trabalho do


sociólogo, publicada em 1982 na Universidade da Califórnia, Estado Unidos.
Possuindo a primeira publicação do final do século passado, a obra também possui
uma segunda edição de 2010, comemorativa ao 25° aniversário da editora tradutora
em Portugal, Lisboa. O sociólogo estadunidense fez contribuições para a sociologia
da arte e da música, escrevendo sobre metodologias de escrita socióloga.

Nesse livro, o autor aborda através da investigação sociológica de profissões voltadas


ao campo da arte, uma análise da organização social do que o próprio designa por
mundos da arte, revelando a importância da coletividade e de todos indivíduos que
protagonizam esse meio na criação e difusão de obras de arte, propondo o seguinte
conceito: mundo da arte é uma rede de pessoas em atividade cooperativa, cada um
com seus conhecimentos e funções, para a produção e circulação de obras de arte.
Assim, focando nas outras funções presentes na transformação da obra no que ela é,
saindo da análise exclusiva do artista.

Dessa forma, são abordadas a importância da autoria, os conflitos entre grupos de


apoio e artistas, os públicos diversos, o mercado, os recursos humanos, os grupos
pessoais de apoio e suas importâncias, a comercialização, a crítica, dentre outras
diversas questões que rodeiam os mundos da arte.

“Mundos da Arte” é tido como referência na área de sociologia da arte e apresenta


uma interessante abordagem sobre a dinâmica do mundo da arte, explorando os
aspectos da formação de reputações, a construção de obras, a relação entre artistas
e seus públicos. O autor utiliza uma linguagem acessível e exemplos práticos para
tornar o conteúdo mais compreensível, além de se basear em relatos concretos e em
experiências de profissionais da área, o que acaba sendo útil tanto para estudantes
quanto para profissionais de arte. A divisão de capítulos se dá por 2 índices: o geral e
o de ilustrações. O geral, contendo um total de 12 capítulos, se divide em capítulos
nomeados como: prefácios, mundo das artes, a atividade coletiva, convenções,
mobilização de recursos, distribuição de obras de arte, estética e crítica, a Arte e o
Estado, os profissionais integrados e artistas populares, artesanato e a mudança no
4

mundo das artes. Os capítulos de ilustração se utilizam de fotos e exemplos para


comunicar a linha de raciocínio, os relatos e experiências coletados pelo autor,
contendo desenhos, cartazes, exposições, além de ser um trabalho de síntese e
servindo de embasamento para quem deseja se aprofundar nos estudos da sociologia
da arte.

Para o autor, uma obra começa por uma ideia do artista extraída diretamente de sua
realidade, logo em seguida a ideia necessita tomar forma de algum jeito ou em algum
material, seja visual ou sonoro, através da pintura, escultura, vídeo, música. Após o
processo de concretização, há a distribuição: concertos, exposições, livrarias, logo
vindo a apreciação: o público reage intelectual e emocionalmente à obra, então
verbalizam o que sentiram e pensaram, decidindo se aquela obra artística possui valor
e se deve ser preservada. Depois de canonizada, a obra se torna ensinável nas
escolas e os profissionais do ensino passam a argumentar sobre a obra e sua
importância.

Cada mundo da arte possui suas regras de “memória e esquecimento”, cada mundo
possui seus artistas estabelecidos ou integrados, os que não são profissionais, artistas
“rebeldes”, artistas ingênuos e os artistas do povo. Essas quatro classificações
propostas pelo autor só podem ser entendidas numa pesquisa ao se identificar quem
são, em cada mundo da arte, em cada época. Essas classificações ajudam na análise
para entender os processos de canonização, de memória e de esquecimento que cada
mundo da arte dispõe, as convenções facilitando o entendimento mútuo entre artistas,
grupo de apoio e o público.

Para Becker, o artista que não consegue mobilizar recursos terá suas inovações
fadadas ao fracasso e permanecerá um artista incompreendido, sem relevância. É a
história daqueles que encontraram uma base organizacional para fazerem seu nome
e suas obras perdurarem, que se mantém, que marcam e inovam os mundos da arte.
Só há mudança de paradigma se houver cooperação, se o coletivo, um grupo comum
de indivíduos, estiver envolvido, seja entre artistas, entre críticos, ou na sociedade em
geral. Não é o valor inerente de uma obra que determina a absorção da mesma e de
qualquer que seja sua inovação pelo mundo da arte, como crê o senso comum. Nas
sociedades ocidentais, o que distingue o artista das pessoas comuns é a crença na
ideia de que o artista tem um dom, que foi abençoado ao nascer. Tal mistificação
5

acaba por mascarar horas de trabalho, estabelecimento de contato profissional, de


dedicação e estudo, de revisão, edição, mascara o trabalho de divulgação, do grupo
de apoio. Na realidade, é o mundo da arte quem ensina e quem produz o valor
artístico. É sua rede de cooperações que produz o valor artístico e o que exatamente
deve ser ensinado. É o mundo da arte que cria os parâmetros para a crítica de obras.
Pode-se concluir então que:

“Nesta perpestiva, as obras de arte não representam a produção de autores


isolados, de artistas possuidores de dons excepcionais. Pelo contrário, elas
constituem a produção comum de todas as pessoas que cooperam segundo
as convenções características de um mundo da arte (…)” (BECKER, 1982, p.
54)

A obra de Howard S. Becker tem extrema relevância para a sociologia da arte, assim
como também para a análise dos meios coletivos que compõem os mundos artísticos.
Contribuindo assim para uma análise das produções artísticas e de suas relevância
para a sociedade, assim como quem é o artista e os indivíduos por trás das obras,
servindo assim de contribuição para embasamento sociológico e consciente do TCC
sobre as áreas da arte e dos profissionais que tanto produzem quanto ensinam.

Você também pode gostar