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PLANEJAMENTO E

ORÇAMENTO
PÚBLICO
Análise das demonstrações
financeiras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as demonstrações contábeis passíveis de análise.


„„ Resolver os cálculos dos indicadores econômicos e financeiros.
„„ Analisar os resultados obtidos com os cálculos dos indicadores eco-
nômicos e financeiros.

Introdução
As demonstrações contábeis fornecem informações úteis e fidedignas
que refletem as operações realizadas pelas entidades em determinado
período. A administração da entidade é responsável pela elaboração des-
sas demonstrações, cuja finalidade é auxiliar os usuários com informações
sobre o desempenho (lucro ou prejuízo) da organização.
Por meio das demonstrações contábeis, a entidade pode calcular
indicadores capazes de avaliar a sua situação econômico-financeira.
Contudo, para uma avaliação eficiente e sem distorções, a entidade pre-
cisa comparar esses indicados com a média do setor e entre dois ou mais
períodos. Portanto, faz-se imprescindível que a entidade conheça os
cálculos dos indicadores, bem como a sua utilidade para compreender a
realidade da organização, a fim de utilizar essa informação para o processo
de tomada de decisão.
Neste capítulo, você conhecerá as demonstrações contábeis passíveis
de análise. Além disso, verá exemplos de cálculos dos indicadores eco-
nômicos e financeiros, bem como a análise dos seus resultados.
2 Análise das demonstrações financeiras

1 Demonstrações contábeis
As demonstrações contábeis evidenciam os efeitos patrimoniais e financeiros,
o desempenho e o fluxo de caixa da entidade de forma estruturada e simpli-
ficada aos usuários das informações (acionistas, sócios, administradores,
funcionários, consumidores, fornecedores, governo e instituições financeiras).
Por meio delas, são fornecidas informações fidedignas e relevantes, capazes de
ajudar na análise e na avaliação da tomada de decisão, permitindo o alcance
dos objetivos de todos os interessados.
O item 10 da NBC TG 26 (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILI-
DADE [CFC], 2009) determina que o conjunto completo das demonstrações
contábeis se constitui pelo:

„„ balanço patrimonial;
„„ demonstração do resultado do exercício (DRE);
„„ demonstração do resultado abrangente (DRA);
„„ demonstração das mutações do patrimônio líquido (DMPL);
„„ demonstração dos fluxos de caixa (DFC);
„„ demonstração do valor adicionado (DVA);
„„ notas explicativas.

Embora as demonstrações contábeis apresentem finalidades diferentes, elas


são complementares e consistentes entre si. Ou seja, é possível associar os dados
de uma demonstração contábil com as demais. A análise das demonstrações
financeiras considera o cálculo e a avaliação de quocientes, que relacionam,
principalmente, itens e grupos do balanço patrimonial e da DRE.

Balanço patrimonial
O balanço patrimonial demonstra, de forma quali e quantitativa, a situação
patrimonial e financeira da entidade (art. 178 da Lei nº. 6.404/76). Contudo,
a sua posição é estática, pois apresenta o patrimônio da companhia em um
determinado período.
Análise das demonstrações financeiras 3

Demonstração do resultado do exercício


A DRE mostra a situação econômica de uma entidade por meio da apuração do
resultado (lucro ou prejuízo), o qual se traduz na diferença entre o valor total
das receitas realizadas e o valor das despesas incorridas em um determinado
período, segundo o regime de competência.
A utilização de quocientes permite comparar, por exemplo, o ativo circu-
lante com o passivo circulante, em vez de analisar cada um dos elementos de
forma individual (IUDÍCIBUS, 2017). Ademais, o analista consegue comparar
os quocientes com padrões preestabelecidos e captar tendências capazes
de contribuir para a tomada de decisão. De acordo com Iudícibus (2017),
a periodicidade da análise dependerá dos objetivos a serem alcançados pelos
usuários. Para finalidades externas, o cálculo anual ou semestral pode atender
satisfatoriamente aos usuários. Já para a análise interna, os índices podem
demandar acompanhamento mensal, outros até intervalos mais curtos, de-
pendendo do panorama contábil-financeiro da organização.

Recomenda-se a realização de uma comparação dos indicadores econômico-financeiros


com o setor de atividade (i.e., comparação do resultado da companhia em estudo com
os seus concorrentes mais relevantes ou a média do mercado).

2 Indicadores econômico-financeiros
Segundo Perez Junior e Begalli (2015, p. 313), os indicadores compreendem
“a relação entre contas ou grupos de contas das demonstrações financeiras,
que visa evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou financeira
de uma empresa”. Dependendo do interesse do usuário, podem ser extraídos
das demonstrações contábeis um número maior ou menor de indicadores para
análise (RIBEIRO, 2018). Em geral, a análise dos indicadores é desenvolvida
por meio dos indicadores de liquidez, estrutura de capital, rentabilidade e
atividade, apresentados a seguir.
4 Análise das demonstrações financeiras

Indicadores de liquidez
Os indicadores de liquidez são utilizados para verificar a capacidade de paga-
mento da entidade (MARION, 2019). De maneira geral, existem os seguintes
índices de liquidez:

„„ liquidez corrente;
„„ liquidez seca;
„„ liquidez geral;
„„ liquidez imediata.

A liquidez corrente relaciona quanto a entidade dispõe de bens e direitos


a curto prazo (disponíveis e conversíveis em dinheiro) em relação às suas
obrigações a curto prazo (IUDÍCIBUS, 2017). Em geral, é considerada como
o melhor indicador de análise de liquidez nas empresas. A liquidez corrente
é calculada por meio da seguinte fórmula:

A liquidez seca, por sua vez, demonstra o quanto a entidade dispõe de itens
de maior liquidez do ativo circulante para saldar as suas obrigações de curto
prazo (ASSAF NETO, 2015). Ela é calculada por meio da seguinte fórmula:

Já a liquidez geral evidencia a capacidade de pagamento da entidade a


curto e longo prazos, considerando todas as contas que serão convertidas
em dinheiro (ALMEIDA, 2019). Ela é utilizada como medida de segurança
financeira da entidade a longo prazo, demonstrando a sua capacidade de saldar
os seus compromissos (ASSAF NETO, 2015). A liquidez geral é calculada
por meio da seguinte fórmula:
Análise das demonstrações financeiras 5

Por fim, a liquidez imediata revela a capacidade da empresa de saldar as


dívidas de curto prazo imediatamente. Normalmente, essa liquidez é baixa,
devido ao pouco interesse das companhias em manterem recursos monetários
em caixa (ASSAF NETO, 2015). A liquidez imediata é calculada por meio
da seguinte fórmula:

No quadro a seguir, é apresentado o balanço patrimonial de uma sociedade empresarial


em 31 de dezembro de 20X1.

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Disponi- 3.036 3.484 Forne- 2.544 3.159


bilidades cedores

Contas 3.912 3.718 Emprés- 2.832 3.276


a rece- timos a
ber de pagar
clientes

Apli- 1.872 2.171 Impos- 2.436 2.717


cações tos a
financeiras recuperar

Estoques 3.180 4.407 Salários 1.188 1.534


a pagar

Ativo 12.000 13.780 Passivo 9.000 10.686


circulante circu-
lante

Realizável 2.376 2.886 Emprés- 1.872 1.794


a longo timos a
prazo pagar

Investi- 2.760 3.289 Passivo 1.872 1.794


mento não cir-
culante
6 Análise das demonstrações financeiras

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Imobi- 3.744 4.524 Capital 6.600 7.280


lizado social

Intangível 1.920 2.171 Reserva 5.328 6.890


de lucros

Ativo não 10.800 12.870 Patri- 11.928 14.170


circulante mônio
líquido

Ativo 22.800 26.650 Passivo 22.800 26.650


total + patri-
mônio
líquido

Para o cálculo da liquidez corrente em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte


fórmula:

Liquidez corrente 31/12/20X0 = ativo circulante/passivo circulante


Liquidez corrente 31/12/20X0 = R$ 12.000/R$ 9.000
Liquidez corrente 31/12/20X0 = 1,33
Liquidez corrente 31/12/20X1 = Ativo circulante/passivo circulante
Liquidez corrente 31/12/20X1 = R$ 13.780/R$ 10.686
Liquidez corrente 31/12/20X1 = 1,29

Para cada R$ 1,00 de passivo circulante, a entidade tem ativos circulantes de R$ 1,33,
em 20X0, e R$ 1,29, em 20X1. O índice apresentou uma queda entre os anos, o que
é explicado pelo aumento de 18,73% do passivo circulante (R$ 9.000, em 20X0, para
R$ 10.686, em 20X1).
Para o cálculo da liquidez seca em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte
fórmula:

Liquidez seca 31/12/20X0 = (ativo circulante – estoques – despesas pagas


antecipadamente) / passivo circulante
Liquidez seca 31/12/20X0 = (R$ 12.000 – R$ 3.180) / R$ 9.000
Liquidez seca 31/12/20X0 = 0,98
Liquidez seca 31/12/20X1 = (ativo circulante – estoques – despesas pagas
antecipadamente) / passivo circulante
Liquidez seca 31/12/20X1 = (R$ 13.780 – R$ 4.407) / R$ 10.686
Liquidez seca 31/12/20X1 = 0,88
Análise das demonstrações financeiras 7

Para cada R$ 1,00 de passivo circulante, a entidade tem ativos líquidos de R$ 0,88,
em 20X0, e R$ 0,88, em 20X1. O índice apresentou uma queda entre os anos, o que
é explicado pelo aumento de 18,73% do passivo circulante (R$ 9.000, em 20X0, para
R$ 10.686, em 20X1). Ademais, parte do aumento do ativo entre 20X0 e 20X1 foi em
virtude dos estoques, que são desconsiderados no cálculo do índice de liquidez seca.
Para o cálculo da liquidez geral em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte
fórmula:

Liquidez geral 31/12/20X0 = (ativo circulante + ativo realizável a longo prazo) /


(passivo circulante + passivo não circulante)
Liquidez geral 31/12/20X0 = (R$ 12.000 + R$ 2.376) / (R$ 9.000 + R$ 1.872)
Liquidez geral 31/12/20X0 = R$ 14.376 / R$ 10.872
Liquidez geral 31/12/20X0 = 1,32
Liquidez geral 31/12/20X1 = (ativo circulante + ativo realizável a longo prazo) /
(passivo circulante + passivo não circulante)
Liquidez geral 31/12/20X1 = (R$ 13.780 + R$ 2.886) / (R$ 10.686 + R$ 1.794)
Liquidez geral 31/12/20X1 = R$ 16.666/R$ 12.480
Liquidez geral 31/12/20X1 = 1,34

Para cada R$ 1,00 de dívida total de curto e longo prazos, a entidade tem ativos
circulantes e realizáveis a longo prazo de R$ 1,32, em 20X0, e R$ 1,34, em 20X1. O índice
apresentou uma melhora entre os anos, o que é explicado pela diminuição de 4,17%
do passivo não circulante (amortização do empréstimo) e pelo aumento de 21,46%
no ativo não realizável a longo prazo.

Indicadores de estrutura de capital


Os indicadores de estrutura de capital analisam o endividamento da entidade,
relacionando-o com os capitais de terceiros (passivos) investidos nos negó-
cios da entidade (ALMEIDA, 2019). Para isso, são utilizados os seguintes
indicadores:

„„ índice de endividamento geral;


„„ índice de relação de capitais de terceiros e capitais próprios;
„„ índice de composição do endividamento;
„„ índice de imobilização de capitais próprios.
8 Análise das demonstrações financeiras

O índice de endividamento geral demonstra o percentual de participação


de recursos de terceiros no total de recursos captados pela entidade (ALMEIDA,
2019). Ele é calculado por meio da seguinte fórmula:

onde:

Passivo total = passivo circulante + passivo não circulante

O índice de relação de capitais de terceiros e capitais próprios, por


sua vez, reflete o percentual de recursos de terceiros em relação aos recursos
próprios. Ele é calculado por meio da seguinte fórmula:

De acordo com Almeida (2019, p. 146), o índice de composição do endi-


vidamento retrata “[…] o percentual de capitais de terceiros de curto prazo
(passivo circulante) em relação ao total dos capitais de terceiros (passivo
circulante e passivo não circulante)”. Ele é calculado por meio da seguinte
fórmula:

onde:

Passivo total = passivo circulante + passivo não circulante

Por fim, o índice de imobilização de capitais próprios ou imobilização


do patrimônio líquido evidencia o percentual aplicado ao ativo não circulante
imobilizado em relação ao patrimônio líquido. Ele é calculado por meio da
seguinte fórmula:
Análise das demonstrações financeiras 9

Uma sociedade empresarial apresentou o seguinte balanço patrimonial em 31 de


dezembro de 20X1:

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Disponi- 3.036 3.484 Fornece- 2.544 3.159


bilidades dores

Contas a 3.912 3.718 Emprés- 2.832 3.276


receber de timos a
clientes pagar

Aplicações 1.872 2.171 Impostos a 2.436 2.717


financeiras recuperar

Estoques 3.180 4.407 Salários 1.188 1.534


a pagar

Ativo 12.000 13.780 Passivo 9.000 10.686


circulante circulante

Realizável 2.376 2.886 Emprés- 1.872 1.794


a longo timos a
prazo pagar

Investi- 2.760 3.289 Passivo 1.872 1.794


mento não
circulante

Imobilizado 3.744 4.524 Capital 6.600 7.280


social

Intangível 1.920 2.171 Reserva 5.328 6.890


de lucros

Ativo não 10.800 12.870 Patrimô- 11.928 14.170


circulante nio líquido

Ativo total 22.800 26.650 Passivo 22.800 26.650


+ patri-
mônio
líquido
10 Análise das demonstrações financeiras

Para o cálculo do índice de endividamento geral em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-


-se a seguinte fórmula:

Endividamento geral 31/12/20X0 = [passivo total / (passivo total +


patrimônio líquido)] × 100
Endividamento geral 31/12/20X0 = [(R$ 9.000 + R$ 1.872) / (R$ 22.800)] × 100
Endividamento geral 31/12/20X0 = 47,68%
Endividamento geral 31/12/20X1 = [passivo total / (passivo total
+ patrimônio líquido)] × 100
Endividamento geral 31/12/20X1 = [(R$ 10.686 + R$ 1.794) / (R$ 26.650)] × 100
Endividamento geral 31/12/20X1 = 46,83%

Para cada R$ 1,00 de capitais disponíveis, a entidade tem obrigação de pagar


R$ 0,48, em 20X0, e R$ 0,47, em 20X1. Não houve uma mudança brusca nesse indicador,
e pode-se dizer que ele se manteve estável.
Para o cálculo do índice de relação de capitais de terceiros com capitais próprios
em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Relação de capitais de terceiros com capitais próprios 31/12/20X0 =


(passivo total/patrimônio líquido) × 100
Relação de capitais de terceiros com capitais próprios 31/12/20X0 =
[(R$ 9.000 + R$ 1.872) / (R$ 11.928)] × 100
Relação de capitais de terceiros com capitais próprios 31/12/20X0 = 91,15%
Relação de capitais de terceiros com capitais próprios 31/12/20X1 =
(passivo total/patrimônio líquido) × 100
Relação de capitais de terceiros com capitais próprios 31/12/20X1 =
[(R$ 10.686 + R$ 1.794) / (R$ 14.170)] × 100
Relação de capitais de terceiros com capitais próprios 31/12/20X1 = 88,07%

Para cada R$ 1,00 de capitais próprios, a entidade tem dívidas com terceiros de
R$ 0,91, em 20X0, e R$ 0,88, em 20X1. Pode-se observar uma diminuição no índice, em
decorrência do aumento de 16,89% no patrimônio líquido (principalmente reserva
de lucros) entre os anos.
Para o cálculo do índice de composição de endividamento em 31/12/20X0 e
31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Composição de endividamento 31/12/20X0 = (passivo circulante/passivo total) × 100


Composição de endividamento 31/12/20X0 = [R$ 9.000 / (R$ 9.000 + R$ 1.872)] × 100
Composição de endividamento 31/12/20X0 = 82,78%
Composição de endividamento 31/12/20X1 = (passivo circulante/passivo total) × 100
Composição de endividamento 31/12/20X1 = [R$ 10.686 / (R$ 10.686 + R$ 1.794)] × 100
Composição de endividamento 31/12/20X1 = 85,63%
Análise das demonstrações financeiras 11

Em 20X0, a entidade tinha 82,78% de capitais terceiros de curto prazo em relação ao


total dos capitais de terceiros. No ano seguinte, a composição do endividamento passou
para 85,63%, em virtude do aumento de 18,73% do passivo circulante (principalmente
fornecedores e salários a pagar).
Para o cálculo do índice de imobilização do patrimônio líquido em 31/12/20X0 e
31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Imobilização do patrimônio líquido 31/12/20X0 = (ativo não circulante imobilizado/


patrimônio líquido) × 100
Imobilização do patrimônio líquido 31/12/20X0 = (R$ 3.744/R$ 11.928) × 100
Imobilização do patrimônio líquido 31/12/20X0 = 31,39%
Imobilização do patrimônio líquido 31/12/20X1 = (ativo não circulante imobilizado/
patrimônio líquido) × 100
Imobilização do patrimônio líquido 31/12/20X1 = (R$ 4.524/R$ 14.170) × 100
Imobilização do patrimônio líquido 31/12/20X1 = 31,93%

Para cada R$ 1,00 do patrimônio líquido, a entidade tem obrigação de pagar


R$ 0,31, em 20X0, e R$ 0,32, em 20X1. Não houve uma mudança brusca nesse indicador,
e pode-se dizer que ele se manteve estável.

Indicadores de rentabilidade
Os indicadores de rentabilidade avaliam o desempenho econômico da entidade,
relacionando o lucro apurado na DRE com diferentes parâmetros, tais como
vendas, ativos e patrimônio líquido (ALMEIDA, 2019). Em geral, os analistas
utilizam quatro índices:

„„ retorno das vendas ou margem líquida;


„„ retorno sobre ativos;
„„ rentabilidade sobre o patrimônio líquido.

O retorno das vendas ou margem líquida demonstra o percentual do


resultado líquido da entidade em um determinado exercício comparado ao
seu faturamento. Ele é calculado por meio da seguinte fórmula:
12 Análise das demonstrações financeiras

Já o retorno sobre ativos evidencia o potencial de geração de lucros da


entidade em relação ao investimento nos ativos. Ele é calculado por meio da
seguinte fórmula:

Por fim, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido mostra o percentual


de lucratividade obtido pelo capital próprio investido pelo capital próprio
investido na entidade. Ela é calculada por meio da seguinte fórmula:

Uma sociedade empresarial apresentou o balanço patrimonial e DRE em 31 de de-


zembro de 20X1:

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Disponi- 3.036 3.484 Fornece- 2.544 3.159


bilidades dores

Contas a 3.912 3.718 Emprés- 2.832 3.276


receber de timos a
clientes pagar

Aplicações 1.872 2.171 Impostos a 2.436 2.717


financeiras recuperar

Estoques 3.180 4.407 Salários 1.188 1.534


a pagar

Ativo 12.000 13.780 Passivo 9.000 10.686


circulante circulante

Realizável a 2.376 2.886 Emprés- 1.872 1.794


longo prazo timos a
pagar
Análise das demonstrações financeiras 13

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Investi- 2.760 3.289 Passivo 1.872 1.794


mento não
circulante

Imobilizado 3.744 4.524 Capital 6.600 7.280


social

Intangível 1.920 2.171 Reserva 5.328 6.890


de lucros

Ativo não 10.800 12.870 Patrimô- 11.928 14.170


circulante nio lí-
quido

Ativo total 22.800 26.650 Passivo 22.800 26.650


+ patri-
mônio
líquido

31/12/20X0 31/12/20X1

Receita bruta de vendas 67.800 74.580

( – ) Tributos sobre vendas (8.136) (8.950)

( – ) Devolução de vendas (3.390) (3.729)

( – ) Descontos incondicionais concedidos (6.780) (8.203)

= Receita líquida 49.494 53.698

(–) Custo das mercadorias vendidas (23.730) (25.357)

(=) Resultado bruto 25.764 28.341

( – ) Despesas com vendas (9.492) (10.900)

( – ) Despesas gerais e administrativas (11.526) (12.679)

( – ) Outras despesas (860) (972)

= Resultado antes das receitas e das 3.886 3.790


despesas financeiras
14 Análise das demonstrações financeiras

31/12/20X0 31/12/20X1

( – ) Despesas financeiras (1.540) (1.650)

( + ) Receitas financeiras 1.360 1.420

= Resultado antes dos impostos e das 3.706 3.560


participações

( – ) Despesas com imposto de renda e (1.491) (1.367)


contribuição social

( – ) Participação dos administradores (593) (631)

(=) Lucro líquido do exercício 1.622 1.562

Para o cálculo do retorno das vendas em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte


fórmula:

Retorno das vendas 31/12/20X0 = (resultado líquido/receita líquida de vendas) × 100


Retorno das vendas 31/12/20X0 = (R$ 1.622/ R$ 49.494) × 100
Retorno das vendas 31/12/20X0 = 3,28%
Retorno das vendas 31/12/20X1 = (resultado líquido/receita líquida de vendas) × 100
Retorno das vendas 31/12/20X1 = (R$ 1.562/ R$ 53.698) × 100
Retorno das vendas 31/12/20X1 = 2,91%

Para cada R$ 1,00 de vendas, a entidade apura resultado líquido de R$ 0,03 em 20X0
e em 20X1. Não houve uma mudança brusca nesse indicador, e pode-se dizer que
ele se manteve estável.
Para o cálculo do retorno sobre ativos em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a
seguinte fórmula:

Retorno sobre ativos 31/12/20X0 = (resultado líquido/ativo total) × 100


Retorno sobre ativos 31/12/20X0 = (R$ 1.622/ R$ 22.800) × 100
Retorno sobre ativos 31/12/20X0 = 7,11%
Retorno sobre ativos 31/12/20X1 = (resultado líquido/ativo total) × 100
Retorno sobre ativos 31/12/20X1 = (R$ 1.562/ R$ 26.650) × 100
Retorno sobre ativos 31/12/20X1 = 5,86%

Para cada R$ 1,00 em investimento no ativo, a entidade apura resultado líquido de


R$ 0,07, em 20X0, e R$ 0,06, em 20X1. A diminuição desse índice se deve ao aumento de
16,89% do ativo total (principalmente imobilizado e estoques) entre os dois períodos.
Análise das demonstrações financeiras 15

Para o cálculo da rentabilidade sobre o patrimônio líquido em 31/12/20X0 e


31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Rentabilidade sobre o patrimônio líquido 31/12/20X0 = (resultado líquido/


patrimônio líquido) × 100
Rentabilidade sobre o patrimônio líquido 31/12/20X0 = (R$ 1.622/ R$ 11.928) × 100
Rentabilidade sobre o patrimônio líquido 31/12/20X0 = 13,60%
Rentabilidade sobre o patrimônio líquido 31/12/20X1 = (resultado líquido/
patrimônio líquido) × 100
Rentabilidade sobre o patrimônio líquido 31/12/20X1 = (R$ 1.562/ R$ 14.170) × 100
Rentabilidade sobre o patrimônio líquido 31/12/20X1 = 11,02%

Para cada R$ 1,00 de capital próprio investido, há retorno de R$ 0,14, em 20X0, e R$


0,11, em 20X1. A redução do indicador se deve ao aumento de 18,79% do patrimônio
líquido (principalmente reserva de lucros).

Indicadores de atividade
Os indicadores de atividade expressam relacionamentos dinâmicos que
impactam, direta ou indiretamente, a posição de liquidez e rentabilidade.
Em geral, os analistas avaliam os seguintes indicadores:

„„ prazo médio de estocagem;


„„ prazo médio de fabricação;
„„ prazo médio de venda;
„„ prazo médio de cobrança;
„„ prazo médio de pagamento a fornecedores;
„„ ciclo operacional;
„„ ciclo financeiro.

O prazo médio de estocagem (PME) compreende o tempo médio verifi-


cado desde a aquisição do material até́ a sua requisição na produção, ou seja,
o tempo médio (em dias) que a matéria-prima permanece no estoque até ser
consumida no processo de produção. Ele é calculado por meio da seguinte
fórmula:

PME = (estoque médio de matéria-prima/custo das mercadorias vendidas) × 360


16 Análise das demonstrações financeiras

Se a análise for sobre a efetividade da gestão dos estoques, o analista pode utilizar o
giro de estoque, por meio do qual avaliará o número de vezes que a entidade repôs
o seu estoque em virtude das vendas. O giro de estoque é calculado por meio da
seguinte fórmula:

Giro de estoque = custo dos produtos vendidos/


estoque médio de produtos acabados

O prazo médio de fabricação (PMF) consiste no tempo médio (em dias)


que a companhia precisa para realizar a fabricação de seus produtos. Ele pode
ser calculado por meio da seguinte fórmula:

PMF = (estoque médio de produtos em elaboração/


custo das mercadorias vendidas) × 360

O prazo médio de vendas (PMV) ou prazo médio de estocagem dos


produtos acabados evidencia o tempo médio (em dias) que o produto gasta
desde a sua fabricação até́ a venda, ou seja, o prazo que o produto acabado
permanece em estoque até ser vendido. Ele pode ser calculado por meio da
seguinte fórmula:

PMV = (estoque médio de produtos acabados/


custo das mercadorias vendidas) × 360

O prazo médio de cobrança (PMC) compreende o prazo médio (em


dias) que a companhia espera para receber as vendas realizadas. Ele pode ser
calculado por meio da seguinte fórmula:

PMC = (duplicatas a receber (média)/receita operacional líquida) × 360


Análise das demonstrações financeiras 17

Se a análise for relacionada ao número de vezes que a entidade recebe as suas vendas
a prazo, será utilizado o giro do contas a receber, calculado por meio da seguinte
fórmula:

Giro do contas a receber = receita operacional líquida/duplicatas a receber (média)

O prazo médio de pagamento a fornecedores (PMPF) representa o


tempo médio (em dias) que a companhia efetua os pagamentos das matérias-
-primas adquiridas junto aos fornecedores. Ele pode ser calculado por meio
da seguinte fórmula:

PMPF = (fornecedores a pagar (média)/compras) × 360

Se a análise for relacionada ao número de vezes que a companhia conseguiu saldar os


seus compromissos com os fornecedores, será utilizada a rotação de fornecedores,
calculada por meio da seguinte fórmula:

Rotação dos fornecedores = compras/fornecedores a pagar (média)

O ciclo operacional mostra em quantos dias, em média, a empresa adquiriu


matérias-primas no tempo de produção de seus produtos, nos períodos de
estocagem e no recebimento de suas vendas. Dessa maneira, o cálculo do
ciclo operacional será o somatório de todos os prazos médios, conforme a
fórmula a seguir:

Ciclo operacional = PME + PMF + PMV + PMC


18 Análise das demonstrações financeiras

O ciclo financeiro, por sua vez, compreende o tempo médio transcorrido


desde a primeira até a última movimentação financeira do ciclo operacional
(BAZZI, 2019). Dessa maneira, ele é calculado da seguinte forma:

Ciclo financeiro = ciclo operacional – prazo médio de pagamento a


fornecedores

Uma sociedade empresarial apresentou o balanço patrimonial e a DRE em 31 de


dezembro de 20X1:

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Disponi- 3.036 3.484 Fornece- 2.544 3.159


bilidades dores

Contas a 3.912 3.718 Emprés- 2.832 3.276


receber de timos a
clientes pagar

Aplicações 1.872 2.171 Impostos a 2.436 2.717


financeiras recuperar

Estoques 3.180 4.407 Salários 1.188 1.534


a pagar

Ativo 12.000 13.780 Passivo 9.000 10.686


circulante circulante

Realizável a 2.376 2.886 Emprés- 1.872 1.794


longo prazo timos a
pagar

Investi- 2.760 3.289 Passivo 1.872 1.794


mento não
circulante

Imobilizado 3.744 4.524 Capital 6.600 7.280


social

Intangível 1.920 2.171 Reserva 5.328 6.890


de lucros
Análise das demonstrações financeiras 19

31/12/20X0 31/12/20X1 31/12/20X0 31/12/20X1

Ativo não 10.800 12.870 Patrimô- 11.928 14.170


circulante nio lí-
quido

Ativo total 22.800 26.650 Passivo 22.800 26.650


+ patri-
mônio
líquido

31/12/20X0 31/12/20X1

Receita bruta de vendas 67.800 74.580

( – ) Tributos sobre vendas (8.136) (8.950)

( – ) Devolução de vendas (3.390) (3.729)

( – ) Descontos incondicionais concedidos (6.780) (8.203)

= Receita líquida 49.494 53.698

( – ) Custo das mercadorias vendidas (23.730) (25.357)

(=) Resultado bruto 25.764 28.341

( – ) Despesas com vendas (9.492) (10.900)

( – ) Despesas gerais e administrativas (11.526) (12.679)

( – ) Outras despesas (860) (972)

= Resultado antes das receitas e das 3.886 3.790


despesas financeiras

( – ) Despesas financeiras (1.540) (1.650)

( + ) Receitas financeiras 1.360 1.420

= Resultado antes dos impostos e das 3.706 3.560


participações

( – ) Despesas com imposto de renda e (1.491) (1.367)


contribuição social

( – ) Participação dos administradores (593) (631)

(=) Lucro líquido do exercício 1.622 1.562


20 Análise das demonstrações financeiras

Para o cálculo do PME em 31/12/20X1, considere um estoque médio de matéria-


-prima de R$ 1.520:

PME = (estoque médio de matéria-prima/custo das mercadorias vendidas) × 360


PME = (R$ 1.520/R$ 25.357) × 360
PME = 22 dias

Pode-se concluir que a empresa apresenta, em média, 22 dias para que seus produtos
acabados fiquem parados no estoque.

Giro de estoque = custo das mercadorias vendidas/


estoque médio de produtos acabados
Giro de estoque = R$ 25.357/R$ 1.520
Giro de estoque = 16,80 vezes

Pode-se observar que os estoques da sociedade empresária se renovaram 16,80


vezes em virtude das suas vendas. Ou seja, o estoque da empresa demora 21 dias
para ser vendido (12 meses dividido por 16,80 vezes).
Para o cálculo do PMF em 31/12/20X1, considere um estoque médio de produto
em elaboração de R$ 2.160:

PMF = (estoque médio de produto em elaboração/


custo das mercadorias vendidas) × 360
PMF = (R$ 2.160/R$ 25.357) × 360
PMF = 31 dias

Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 31 dias para fabricar o seu produto.
Para o cálculo do PMV em 31/12/20X1, considere um estoque médio de produto
acabado de R$ 1.210:

PMV = (estoque médio de produto acabado/custo das mercadorias vendidas) × 360


PMV = (R$ 1.210/R$ 25.357) × 360
PMV = 17 dias

Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 17 dias para vender o seu produto.
Para o cálculo do PMC em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

PMC = (média das duplicatas a receber/receita operacional líquida) × 360


PMC = {[(R$ 3.912+R$ 3.718) / 2] / R$ 53.698} × 360
PMC = 26 dias

Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 26 dias para receber pelas vendas
realizadas.
Análise das demonstrações financeiras 21

Para o cálculo do giro do contas a receber em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Giro do contas a receber = receita operacional líquida/duplicatas a receber (média)


Giro do contas a receber = R$ 53.698/R$ 3.815
Giro do contas a receber = 14,07 vezes

Pode-se observar que a empresa gira 14,07 vezes até receber por suas vendas. Ou
seja, ela espera 26 dias para receber dinheiro pela venda a prazo (12 meses dividido
por 14,07 vezes).
Para o cálculo ciclo operacional em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Ciclo operacional = PME + PMF + PMV + PMC


Ciclo operacional = 22 + 31 + 17 + 26
Ciclo operacional = 96 dias

Pode-se observar que a empresa apresenta, em média, 96 dias no seu ciclo opera-
cional, que contempla a aquisição de matérias-primas até o recebimento de vendas.
Para o cálculo do PMPF em 31/12/20X1, considere compras no valor de R$ 19.860:

PMPF = (fornecedores a pagar (média)/compras) × 360


PMPF = {[(R$ 3.159 +R$ 2.544) / 2] / R$ 19.860} × 360
PMPF = 52 dias

Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 90 dias para pagar os seus
fornecedores.
Para o cálculo do giro do contas a receber em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula

Giro do contas a receber = compras/fornecedores a pagar (média)


Giro do contas a receber = R$ 19.860/R$ 2.851,50
Giro do contas a receber = 6,96 vezes

Pode-se observar que a empresa gira 6,96 vezes para saldar os seus compromissos
financeiros com fornecedores. Ou seja, ela espera 1 mês e 22 dias para pagar os seus
fornecedores (12 meses dividido por 6,96 vezes).
Para o cálculo do ciclo financeiro em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:

Ciclo financeiro = ciclo operacional – PMPF


Ciclo financeiro = 96 – 52
Ciclo financeiro = 44 dias

Pode-se observar que a empresa apresenta, em média, 44 dias no seu ciclo financeiro,
que contempla o tempo para pagar os seus fornecedores até receber as suas vendas.
22 Análise das demonstrações financeiras

3 Análise dos indicadores


econômico-financeiros
A seguir, serão analisados cada um dos indicadores econômico-financeiros.

Indicadores de liquidez
De acordo com Marion (2019), os índices de liquidez são aplicados para avaliar
a capacidade de pagamento da empresa, isto é, eles compreendem uma apre-
ciação de se ela apresenta condições para saldar as suas obrigações financeiras.
Essa capacidade de pagamento pode ser analisada, considerando-se o prazo
imediato, o curto prazo ou o longo prazo.
Para avaliar o quanto a companhia dispõe imediatamente (caixa, bancos e
aplicações financeiras de curtíssimo prazo) para saldar os compromissos de
curto prazo, será utilizado o indicador de liquidez imediata. Se a organização
deseja analisar a capacidade de pagamento a curto prazo, ela poderá utilizar
em sua análise tanto a liquidez corrente como a liquidez seca. No entanto,
os parâmetros entre esses indicadores são diferentes. A liquidez corrente
considera todo o ativo circulante, ao passo que a liquidez seca desconsidera
as contas estoques e despesas pagas antecipadamente.
Martins, Miranda e Diniz (2019) afirmam que os estoques representam uma
parte significativa do ativo circulante de algumas empresas e estão sujeitos
a riscos de liquidez, em virtude das diferentes formas de avaliação, roubos e
furtos, obsolescência, deterioração, entre outros, podendo levar tempo para
serem convertidos em dinheiro. As despesas pagas antecipadamente já foram
desembolsadas e não há alta liquidez, uma vez que se espera a sua realização
dentro de um determinado período. Por esse motivo, elas são desconsideradas
no índice de liquidez seca. De acordo com Marion (2019), a liquidez corrente
demonstra o índice global da situação, ao passo que a liquidez seca pode ser
considerada um índice conservador, capaz de minimizar as incertezas.
Para a análise da capacidade financeira da entidade no longo prazo,
a liquidez geral evidencia a capacidade de pagamento da empresa a longo
prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro e relacionando
com tudo o que já assumiu como dívida (MARION, 2019).
Análise das demonstrações financeiras 23

Os prazos de pagamento do passivo e de recebimento do ativo podem ser diferentes,


ainda mais se forem considerados passivos e ativos a longo prazo. Em algumas situações,
os índices de liquidez corrente e seca são considerados mais razoáveis, em decorrência
de vultuosos empréstimos a longo prazo.

Indicadores de estrutura de capital


O endividamento geral permite informar se a entidade utiliza mais recursos
próprios ou de terceiros, mostrando a sua capacidade financeira.

Deve-se tomar cuidado com a análise do endividamento geral, pois não é adequado
para a organização apresentar um percentual muito alto ou muito baixo em rela-
ção ao mercado. Isso porque, quando ele é alto, tal fato indica que a empresa pode
comprometer uma parcela considerável do seu fluxo de caixa com as obrigações
financeiras. Já quando há pouca dívida, em comparação com empresas do mesmo
setor, a organização pode não estar usando a alavancagem (utilização de recursos),
o que acarretaria aumento de lucratividade.

Sempre que o índice de relação de capitais próprios e de terceiros for


inferior a 1 ou superior a 100%, a entidade apresentará excesso de capitais
próprios sobre os capitais de terceiros, o que indica que ela apresenta liberdade
financeira na sua tomada de decisões. Em contrapartida, quando os capitais de
terceiros forem investidos na empresa em proporções maiores que os capitais
próprios, esse índice será́ superior a 100%, evidenciando a existência de depen-
dência financeira junto aos seus credores. Além disso, a entidade encontrará
dificuldades para a obtenção de recursos financeiros no mercado, uma vez
que existirão poucas garantias disponíveis para oferecer (RIBEIRO, 2018).
24 Análise das demonstrações financeiras

A análise da composição do endividamento visa a verificar a necessidade


da entidade de ter ou não de gerar recursos a curto prazo para saldar as suas
obrigações. Segundo Ribeiro (2018), quanto menor for o índice, menor será o
valor a pagar a curto prazo em relação às obrigações totais. Dessa maneira,
a empresa terá maior tempo para gerar recursos financeiros, visando a saldar
todos os seus compromissos, além de apresentar melhor situação financeira.
Quando a imobilização do patrimônio líquido for inferior a 100%, pode-se
perceber que a entidade não imobilizou todo o seu patrimônio líquido. Dessa
maneira, a participação dos capitais próprios para financiar o ativo circulante
será menor, ao passo que a dependência da empresa em relação aos capitais
de terceiros será maior. Se esse indicador for superior a 100%, observa-se que
a empresa aplicou todo o capital próprio e, ainda, uma parcela de capitais de
terceiros no ativo fixo (RIBEIRO, 2018).

Indicadores de rentabilidade
Quando apresenta percentual positivo, o retorno das vendas ou margem
líquida demonstra que a entidade teve bom resultado. Quanto maior for o
índice, melhor será para a entidade, uma vez que isso evidencia rentabilidade
dentro do exercício.
O retorno sobre ativos auxilia na mensuração do retorno de capitais
totais (próprios e de terceiros) investidos pela companhia (RIBEIRO, 2018).
Dessa maneira, ela precisa remunerar os terceiros com lucros apurados na sua
atividade produtiva. Se a lucratividade obtida não for suficiente para compen-
sar os capitais de terceiros, a entidade procurará outras fontes de recursos e,
consequentemente, aumentará o seu endividamento.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido demonstra a lucratividade da
entidade em relação ao capital próprio investido nela. Assim, é importante que
o patrimônio líquido seja alto para que os acionistas ou proprietários tenham
maiores retornos em relação ao seu capital aplicado.

Em geral, conforme explica Ribeiro (2018), os acionistas ou proprietários da entidade


comparam o ganho obtido com o capital investido com o ganho que obteriam se este
tivesse sido investido no mercado financeiro ou no mercado de capitais.
Análise das demonstrações financeiras 25

Indicadores de atividade
Um alto PME prejudica o capital de giro, pois não transforma o estoque em
dinheiro. Como consequência, ele aumenta os custos e afeta o desempenho,
bem como o fluxo de caixa da entidade.

Um estoque alto pode ocorrer em virtude de obsolescência do produto, mix incorreto


no portfólio, falta de controle de estoques ou uma combinação desses fatores (BLATT,
2001).

Um PMR baixo é favorável para a entidade, pois demonstra a sua efetivi-


dade na cobrança dos seus direitos e contribui para uma boa gestão de caixa.

Se a entidade conceder longo prazo aos seus clientes e seus fornecedores concederem
curto prazo para pagar as suas compras a prazo, ela necessitará de capital de giro
adicional para realizar os seus negócios. Nessa situação, a companhia pode trabalhar
com uma maior margem de lucro sobre as vendas, prolongar os prazos de pagamento
e aplicar uma política agressiva de cobrança e desconto bancário (IUDÍCIBUS, 2017).

O ciclo operacional se inicia no momento da aquisição das matérias-primas,


ao passo que o ciclo financeiro compreende o período entre o momento do
desembolso inicial de caixa para o pagamento das matérias-primas e a data
do recebimento da venda do produto acabado (ASSAF NETO, 2015).
26 Análise das demonstrações financeiras

Segundo Almeida (2019), quanto mais longo for o ciclo operacional, maiores serão as
necessidades da entidade de buscar recursos no mercado para financiar o seu ciclo
operacional. Por esse motivo, é essencial que a entidade acompanhe sistematicamente
esse ciclo e tome medidas para reduzi-lo até um ponto ideal.

Algumas fases operacionais podem ser financiadas por meio de compras a prazo e
postergação de prazos para pagamentos de despesas, como, por exemplo, salários e
encargos sociais. Se a empresa não conseguir ser financiada dessa forma, ela precisará
utilizar fundos, como utilização de recursos próprios, aquisição de empréstimos e
financiamentos, bem como descontos de duplicatas (ASSAF NETO, 2015).

ALMEIDA, M. C. Análise das demonstrações contábeis em IFRS e CPC: facilitada e sistema-


tizada. São Paulo: Atlas, 2019.
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro.
11. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
BLATT, A. Análise de balanços: estruturação e avaliação das demonstrações financeiras
e contábeis. São Paulo: Makron Books, 2001.
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Brasília, DF: Presidência da República, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 8 ago. 2020.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC). Resolução CFC nº 1.185. Aprova a NBC
TG 26 – Apresentação das demonstrações contáveis. Brasília, DF: CFC, 2009. Disponível
em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1185.pdf. Acesso em: 8 ago. 2020.
IUDÍCIBUS, S. Análise de balanços. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
MARTINS, E.; MIRANDA, G. J.; DINIZ, J. A. Análise didática das demonstrações contábeis.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
Análise das demonstrações financeiras 27

PEREZ JUNIOR, J. H.; BEGALLI, G. A. Elaboração e análise das demonstrações financeiras.


5. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanços. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

Leitura recomendada
SOUZA, A. F. (Coord.). Análise financeira das demonstrações contábeis na prática. São
Paulo: Trevisan Editora, 2015.

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