Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ORÇAMENTO
PÚBLICO
Análise das demonstrações
financeiras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
As demonstrações contábeis fornecem informações úteis e fidedignas
que refletem as operações realizadas pelas entidades em determinado
período. A administração da entidade é responsável pela elaboração des-
sas demonstrações, cuja finalidade é auxiliar os usuários com informações
sobre o desempenho (lucro ou prejuízo) da organização.
Por meio das demonstrações contábeis, a entidade pode calcular
indicadores capazes de avaliar a sua situação econômico-financeira.
Contudo, para uma avaliação eficiente e sem distorções, a entidade pre-
cisa comparar esses indicados com a média do setor e entre dois ou mais
períodos. Portanto, faz-se imprescindível que a entidade conheça os
cálculos dos indicadores, bem como a sua utilidade para compreender a
realidade da organização, a fim de utilizar essa informação para o processo
de tomada de decisão.
Neste capítulo, você conhecerá as demonstrações contábeis passíveis
de análise. Além disso, verá exemplos de cálculos dos indicadores eco-
nômicos e financeiros, bem como a análise dos seus resultados.
2 Análise das demonstrações financeiras
1 Demonstrações contábeis
As demonstrações contábeis evidenciam os efeitos patrimoniais e financeiros,
o desempenho e o fluxo de caixa da entidade de forma estruturada e simpli-
ficada aos usuários das informações (acionistas, sócios, administradores,
funcionários, consumidores, fornecedores, governo e instituições financeiras).
Por meio delas, são fornecidas informações fidedignas e relevantes, capazes de
ajudar na análise e na avaliação da tomada de decisão, permitindo o alcance
dos objetivos de todos os interessados.
O item 10 da NBC TG 26 (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILI-
DADE [CFC], 2009) determina que o conjunto completo das demonstrações
contábeis se constitui pelo:
balanço patrimonial;
demonstração do resultado do exercício (DRE);
demonstração do resultado abrangente (DRA);
demonstração das mutações do patrimônio líquido (DMPL);
demonstração dos fluxos de caixa (DFC);
demonstração do valor adicionado (DVA);
notas explicativas.
Balanço patrimonial
O balanço patrimonial demonstra, de forma quali e quantitativa, a situação
patrimonial e financeira da entidade (art. 178 da Lei nº. 6.404/76). Contudo,
a sua posição é estática, pois apresenta o patrimônio da companhia em um
determinado período.
Análise das demonstrações financeiras 3
2 Indicadores econômico-financeiros
Segundo Perez Junior e Begalli (2015, p. 313), os indicadores compreendem
“a relação entre contas ou grupos de contas das demonstrações financeiras,
que visa evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou financeira
de uma empresa”. Dependendo do interesse do usuário, podem ser extraídos
das demonstrações contábeis um número maior ou menor de indicadores para
análise (RIBEIRO, 2018). Em geral, a análise dos indicadores é desenvolvida
por meio dos indicadores de liquidez, estrutura de capital, rentabilidade e
atividade, apresentados a seguir.
4 Análise das demonstrações financeiras
Indicadores de liquidez
Os indicadores de liquidez são utilizados para verificar a capacidade de paga-
mento da entidade (MARION, 2019). De maneira geral, existem os seguintes
índices de liquidez:
liquidez corrente;
liquidez seca;
liquidez geral;
liquidez imediata.
A liquidez seca, por sua vez, demonstra o quanto a entidade dispõe de itens
de maior liquidez do ativo circulante para saldar as suas obrigações de curto
prazo (ASSAF NETO, 2015). Ela é calculada por meio da seguinte fórmula:
Para cada R$ 1,00 de passivo circulante, a entidade tem ativos circulantes de R$ 1,33,
em 20X0, e R$ 1,29, em 20X1. O índice apresentou uma queda entre os anos, o que
é explicado pelo aumento de 18,73% do passivo circulante (R$ 9.000, em 20X0, para
R$ 10.686, em 20X1).
Para o cálculo da liquidez seca em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte
fórmula:
Para cada R$ 1,00 de passivo circulante, a entidade tem ativos líquidos de R$ 0,88,
em 20X0, e R$ 0,88, em 20X1. O índice apresentou uma queda entre os anos, o que
é explicado pelo aumento de 18,73% do passivo circulante (R$ 9.000, em 20X0, para
R$ 10.686, em 20X1). Ademais, parte do aumento do ativo entre 20X0 e 20X1 foi em
virtude dos estoques, que são desconsiderados no cálculo do índice de liquidez seca.
Para o cálculo da liquidez geral em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a seguinte
fórmula:
Para cada R$ 1,00 de dívida total de curto e longo prazos, a entidade tem ativos
circulantes e realizáveis a longo prazo de R$ 1,32, em 20X0, e R$ 1,34, em 20X1. O índice
apresentou uma melhora entre os anos, o que é explicado pela diminuição de 4,17%
do passivo não circulante (amortização do empréstimo) e pelo aumento de 21,46%
no ativo não realizável a longo prazo.
onde:
onde:
Para cada R$ 1,00 de capitais próprios, a entidade tem dívidas com terceiros de
R$ 0,91, em 20X0, e R$ 0,88, em 20X1. Pode-se observar uma diminuição no índice, em
decorrência do aumento de 16,89% no patrimônio líquido (principalmente reserva
de lucros) entre os anos.
Para o cálculo do índice de composição de endividamento em 31/12/20X0 e
31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:
Indicadores de rentabilidade
Os indicadores de rentabilidade avaliam o desempenho econômico da entidade,
relacionando o lucro apurado na DRE com diferentes parâmetros, tais como
vendas, ativos e patrimônio líquido (ALMEIDA, 2019). Em geral, os analistas
utilizam quatro índices:
31/12/20X0 31/12/20X1
31/12/20X0 31/12/20X1
Para cada R$ 1,00 de vendas, a entidade apura resultado líquido de R$ 0,03 em 20X0
e em 20X1. Não houve uma mudança brusca nesse indicador, e pode-se dizer que
ele se manteve estável.
Para o cálculo do retorno sobre ativos em 31/12/20X0 e 31/12/20X1, aplica-se a
seguinte fórmula:
Indicadores de atividade
Os indicadores de atividade expressam relacionamentos dinâmicos que
impactam, direta ou indiretamente, a posição de liquidez e rentabilidade.
Em geral, os analistas avaliam os seguintes indicadores:
Se a análise for sobre a efetividade da gestão dos estoques, o analista pode utilizar o
giro de estoque, por meio do qual avaliará o número de vezes que a entidade repôs
o seu estoque em virtude das vendas. O giro de estoque é calculado por meio da
seguinte fórmula:
Se a análise for relacionada ao número de vezes que a entidade recebe as suas vendas
a prazo, será utilizado o giro do contas a receber, calculado por meio da seguinte
fórmula:
31/12/20X0 31/12/20X1
Pode-se concluir que a empresa apresenta, em média, 22 dias para que seus produtos
acabados fiquem parados no estoque.
Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 31 dias para fabricar o seu produto.
Para o cálculo do PMV em 31/12/20X1, considere um estoque médio de produto
acabado de R$ 1.210:
Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 17 dias para vender o seu produto.
Para o cálculo do PMC em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:
Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 26 dias para receber pelas vendas
realizadas.
Análise das demonstrações financeiras 21
Pode-se observar que a empresa gira 14,07 vezes até receber por suas vendas. Ou
seja, ela espera 26 dias para receber dinheiro pela venda a prazo (12 meses dividido
por 14,07 vezes).
Para o cálculo ciclo operacional em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:
Pode-se observar que a empresa apresenta, em média, 96 dias no seu ciclo opera-
cional, que contempla a aquisição de matérias-primas até o recebimento de vendas.
Para o cálculo do PMPF em 31/12/20X1, considere compras no valor de R$ 19.860:
Pode-se concluir que a empresa leva, em média, 90 dias para pagar os seus
fornecedores.
Para o cálculo do giro do contas a receber em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula
Pode-se observar que a empresa gira 6,96 vezes para saldar os seus compromissos
financeiros com fornecedores. Ou seja, ela espera 1 mês e 22 dias para pagar os seus
fornecedores (12 meses dividido por 6,96 vezes).
Para o cálculo do ciclo financeiro em 31/12/20X1, aplica-se a seguinte fórmula:
Pode-se observar que a empresa apresenta, em média, 44 dias no seu ciclo financeiro,
que contempla o tempo para pagar os seus fornecedores até receber as suas vendas.
22 Análise das demonstrações financeiras
Indicadores de liquidez
De acordo com Marion (2019), os índices de liquidez são aplicados para avaliar
a capacidade de pagamento da empresa, isto é, eles compreendem uma apre-
ciação de se ela apresenta condições para saldar as suas obrigações financeiras.
Essa capacidade de pagamento pode ser analisada, considerando-se o prazo
imediato, o curto prazo ou o longo prazo.
Para avaliar o quanto a companhia dispõe imediatamente (caixa, bancos e
aplicações financeiras de curtíssimo prazo) para saldar os compromissos de
curto prazo, será utilizado o indicador de liquidez imediata. Se a organização
deseja analisar a capacidade de pagamento a curto prazo, ela poderá utilizar
em sua análise tanto a liquidez corrente como a liquidez seca. No entanto,
os parâmetros entre esses indicadores são diferentes. A liquidez corrente
considera todo o ativo circulante, ao passo que a liquidez seca desconsidera
as contas estoques e despesas pagas antecipadamente.
Martins, Miranda e Diniz (2019) afirmam que os estoques representam uma
parte significativa do ativo circulante de algumas empresas e estão sujeitos
a riscos de liquidez, em virtude das diferentes formas de avaliação, roubos e
furtos, obsolescência, deterioração, entre outros, podendo levar tempo para
serem convertidos em dinheiro. As despesas pagas antecipadamente já foram
desembolsadas e não há alta liquidez, uma vez que se espera a sua realização
dentro de um determinado período. Por esse motivo, elas são desconsideradas
no índice de liquidez seca. De acordo com Marion (2019), a liquidez corrente
demonstra o índice global da situação, ao passo que a liquidez seca pode ser
considerada um índice conservador, capaz de minimizar as incertezas.
Para a análise da capacidade financeira da entidade no longo prazo,
a liquidez geral evidencia a capacidade de pagamento da empresa a longo
prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro e relacionando
com tudo o que já assumiu como dívida (MARION, 2019).
Análise das demonstrações financeiras 23
Deve-se tomar cuidado com a análise do endividamento geral, pois não é adequado
para a organização apresentar um percentual muito alto ou muito baixo em rela-
ção ao mercado. Isso porque, quando ele é alto, tal fato indica que a empresa pode
comprometer uma parcela considerável do seu fluxo de caixa com as obrigações
financeiras. Já quando há pouca dívida, em comparação com empresas do mesmo
setor, a organização pode não estar usando a alavancagem (utilização de recursos),
o que acarretaria aumento de lucratividade.
Indicadores de rentabilidade
Quando apresenta percentual positivo, o retorno das vendas ou margem
líquida demonstra que a entidade teve bom resultado. Quanto maior for o
índice, melhor será para a entidade, uma vez que isso evidencia rentabilidade
dentro do exercício.
O retorno sobre ativos auxilia na mensuração do retorno de capitais
totais (próprios e de terceiros) investidos pela companhia (RIBEIRO, 2018).
Dessa maneira, ela precisa remunerar os terceiros com lucros apurados na sua
atividade produtiva. Se a lucratividade obtida não for suficiente para compen-
sar os capitais de terceiros, a entidade procurará outras fontes de recursos e,
consequentemente, aumentará o seu endividamento.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido demonstra a lucratividade da
entidade em relação ao capital próprio investido nela. Assim, é importante que
o patrimônio líquido seja alto para que os acionistas ou proprietários tenham
maiores retornos em relação ao seu capital aplicado.
Indicadores de atividade
Um alto PME prejudica o capital de giro, pois não transforma o estoque em
dinheiro. Como consequência, ele aumenta os custos e afeta o desempenho,
bem como o fluxo de caixa da entidade.
Se a entidade conceder longo prazo aos seus clientes e seus fornecedores concederem
curto prazo para pagar as suas compras a prazo, ela necessitará de capital de giro
adicional para realizar os seus negócios. Nessa situação, a companhia pode trabalhar
com uma maior margem de lucro sobre as vendas, prolongar os prazos de pagamento
e aplicar uma política agressiva de cobrança e desconto bancário (IUDÍCIBUS, 2017).
Segundo Almeida (2019), quanto mais longo for o ciclo operacional, maiores serão as
necessidades da entidade de buscar recursos no mercado para financiar o seu ciclo
operacional. Por esse motivo, é essencial que a entidade acompanhe sistematicamente
esse ciclo e tome medidas para reduzi-lo até um ponto ideal.
Algumas fases operacionais podem ser financiadas por meio de compras a prazo e
postergação de prazos para pagamentos de despesas, como, por exemplo, salários e
encargos sociais. Se a empresa não conseguir ser financiada dessa forma, ela precisará
utilizar fundos, como utilização de recursos próprios, aquisição de empréstimos e
financiamentos, bem como descontos de duplicatas (ASSAF NETO, 2015).
Leitura recomendada
SOUZA, A. F. (Coord.). Análise financeira das demonstrações contábeis na prática. São
Paulo: Trevisan Editora, 2015.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.