Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Entre o
desinteresse e a desconfiança
Coimbra 2014
1
“toda pesquisa científica requer paciência, autodisciplina e uma inesgotável capacidade de
se aborrecer”. Terry Eagleton.
Questão de partida
2
Resumo
As eleições são nas democracias representativas, o canal mais comum e mais relevante de
participação dos cidadãos na vida politica das sociedades. Apesar das limitações que
encerra esta forma de participação, e do surgimento de outras formas que vão sendo
experimentadas, nomeadamente, formas mais diretas e descentralizadas, o exercício do
voto continua a ser nestas democracias, a principal forma de legitimar o poder politico e
dos cidadãos fazerem representar os seus interesses; ainda que isso nem sempre seja
evidente. É por se reconhecer esta característica do voto como suporte do regular
funcionamento das democracias que o progressivo aumento da abstenção eleitoral, nas
democracias em geral e na Portuguesa em particular, é objecto de preocupação e estudo.
Assumindo que como dito acima, esta é ainda a principal forma de legitimação do poder
politico, a baixa participação, deslegitima esse poder, criando um vazio de representação,
na medida em que os eleitos não representam como é suposto a maioria dos eleitores. As
razões que levam os cidadãos a absterse podem ser estruturais , - uma cultura politica
baixa, falta de informação que suporte as decisões de voto, falta de meios em geral - ou
decisões individuais, em que o cidadão dotado de meios e capacidades para votar, opta
por não o fazer, em função de opções racionais sobre como usar o seu tempo da forma
que entende mais proveitosa, ou a melhor forma de demonstrar o seu entendimento dos
processos democráticos.
3
Indice
1-Introdução …………………………………………………………………………………………………………5
do poder em democracia……………………………………………………………………………..7
2.2- Os números………………………………………………………………………………………….8
4- Objectivos………………………………………………………………………………………………………15
5- Modelo de analise……………………………………………………………………………………….…..15
4
INTRODUÇÃO
5
desenvolvimento da industria é ainda baixo e muito concentrado em sectores de baixo
valor acrescentado.
6
2- Estado da arte
É comum falar hoje, e cada vez mais, da crise das democracias representativas, derivada
da falta de interesse e participação dos cidadãos nos processos eleitorais. Esta ideia de
que o sistema está em crise emerge do reconhecimento de que apesar das insuficiências
da representação, na medida em que esta implica um desvio em relação ao ideal de
participação completa que se realizaria nas democracias diretas, é nas sociedades
numerosas e complexas o meio mais relevante de manter o sistema democrático em
funcionamento regular. Isto mesmo é sublinhado por vários autores que se têm dedicado
ao estudo do funcionamento das sociedades democráticas, como a seguir se mostra .
Começo por sublinhar a importância do voto nas democracias da nossa área geo-cultural,
que são basicamente democracias representativas. E, como tal, a principal forma de
ligação entre a sociedade e as instituições políticas é exactamente o voto, através da
participação eleitoral . (Freire 2001 p 19 ).Um dos pilares fundamentais de legitimação das
democracias liberais assenta nos processos de representação e de delegação de poderes,
em grande parte consubstanciados nas eleições para os órgãos de poder político ( Leite e
Faria 2004 p 1).
A importância desta forma de legitimação do poder politico está ligada a sua capacidade
de mobilizar uma grande parte do eleitorado para questões genéricas do funcionamento
do sistema politico; ao contrário de outras formas de participação que apesar da
visibilidade que lhe advém da sua especificidade, envolvem um nº menor de cidadãos e
dizem respeito a assuntos que interessam apenas a uma parte dos cidadãos. (Freire 2001p
19 ). Apesar desta importância e do consequente problema que representa a abstenção,
as concepções mais liberais tendam a desvalorizar este factor, invocando a experiência de
algumas democracias consolidadas com baixos níveis de participação eleitoral, como os
EUA ou a Suíça.. ( Leite e Faria 2004 ), para estes a abstenção eleitoral não significa
automaticamente ou necessariamente o colapso da arquitetura institucional do estado ou
a deslegitimação da ordem politica que ele subjaz ( Freire,Lobo e Magalhães p 254)
7
2.2- ) Os numeros
Aquilo que se tem vindo a verificar em quase todas as sociedades democráticas é que nas
últimas décadas se tem verificado um decréscimo da participação politica nas
democracias representativas, quer nas consolidadas quer naquelas em processo de
consolidação, ao mesmo tempo em que aumenta a abstenção eleitoral. (Costa 2006 p20)
Nos vinte e dois países da Europa ocidental que realizaram eleições de forma contínua
desde o pós-guerra, a abstenção média entre 1945 e 1949 era de 19%. Após os anos 70,
esse valor não parou de aumentar, ascendendo hoje a 23%1. Nas democracias mais
recentes, as taxas de abstenção são ainda superiores.
Por exemplo, nas eleições realizadas na Europa de Leste até 1995, a abstenção média foi
de 27%. Em Portugal, a abstenção em eleições legislativas disparou após os anos 70 para
nunca mais baixar (Magalhães 2001 p 1)
Parece pois legitimo concluir que a abstenção é um problema quer das democracias mais
maduras quer das mais jovens como a portuguesa e até nalgumas das mais consolidadas
o problema é ainda maior como ilustra os casos dos Estados Unidos e da Suiça. Os maiores
índices correspondem à Suíça, com 51,2%, seguido pelo Japão (33,7%) e Estados Unidos,
(32,8%).
Na Suíça, pelo menos desde a década de 80, o percentual sempre foi superior a 50%, o
que significa afirmar que, no mínimo, a metade da população com direito de voto se
absteve( Costa 2006 p23). Portugal apesar das suas especificidades relativamente as
democracias ocidentais mais maduras não deixa por isso de seguir a corrente de
progressivo desinteresse dos cidadãos pela participação eleitoral, e o tendencial aumento
da abstenção eleitoral, na última década, nas democracias estabilizadas da Europa, mas
também em Portugal. ( Leite e Faria 2004 p 1 ) ou como afirma Freire; em Portugal,
sobretudo a partir da década de 90, este fenómeno (abstenção) tem-se acentuado
muito, bastante mais do que nas democracias da nossa área geo-cultural. (Freire 2001p
19). Partimos de uma participação de 75,4%, em 1976, e acabámos em 2001 com uma
participação 50,9% (idem). O quadro seguinte dá uma ideia mais visivel do aumento da
abstenção em Portugal no periodo em analise.
8
Quadro estatistico 1
Evolução da taxa de abstenção em todos os actos eleitorais desde 1974
Importa pois, uma vez assumido que o problema existe, passar á sua caracterização e aos
perigos que encerra.
9
3- ) Causas possiveis
Tendo em conta a natureza multicomposta do social é natural que uma avaliação das
causas da abstenção revele múltiplas razões, é isso que se conclui quando se verifica
aquilo que já foi investigado sobre o assunto. São diversas as dimensões envolvidas,
havendo um caráter múltiplo de variáveis, e uma compreensão mais ampla tem de ter
claro que há uma pluralidade e diversidade de enfoques (Costa 2006 p 15).(1) Assim sendo
pode catalogar-se a abstençao segundo as diferentes formas em que ocorre e as
diferentes causas que a provocam; as formas a que aqui se alude são, agrupamentos de
causas prováveis segundo critérios que obedecem a uma logica de classificação das
mesmas entre mais estrutura ou mais acção. Segundo Freire (2004) a abstenção pode
tomar duas formas principais. Pode ser passiva e resultar de factores sociológicos tais
como o isolamento (social e/ou geográfico), ou défice de recursos (instrução, rendimento,
profissão, etc.), ou seja exige a mobilização pessoal de recursos de que muitos cidadãos
não dispõem, sejam eles de ordem material ou imaterial.(estrutura) (Cabral 2001 p 15);.
Ou pode ser activa e resultar de uma recusa do próprio sistema político e da legitimidade
do sistema democrático, (Freire 2001 p 21 ). No mesmo sentido uma outra classificação
pode ser utilizada, a de abstenção apática. O termo foi utilizado por Khan (1992), que a
divide em duas categorias: a que ocorre por falta de incentivo próprio, tal como a
indiferença imposta pela lei do esforço mínimo, ou características psicológicas do
indivíduo e a que decorre de um desincentivo provocado pelas barreiras sociais ou pelas
regras do jogo político e seu desenrolar que tornam os benefícios da participação
inferiores ao custo de votar. (Costa 2006 p 16 ).
É certo que é forçado estabelecer esta distinção entre estrutura e acção, se aceitarmos
que não é realmente possível separar uma da outra, de tal forma elas estão imbricadas,
mas como método para procurar entender o fenómeno em causa pode aceitar-se o seu
uso como o fazem aqui os autores citados.
As causas “mais estruturais” serão aqui entendidas como aquelas em que o defice de
recursos tem um peso superior da opção de exercer ou não o direito de voto do que a
10
vontade própria de o fazer. Ou dito de outra forma as causas mais estruturais serão
aquelas mais ligadas á posse de recursos. As causas “mais ação” serão as mais ligadas ao
livre arbitrio dos individuos considerados como tendo recursos de todos os tipos para
exercer o direito de voto em condições de liberdade e consciencia, mas que por motivos
vários optam por não o fazer, implicando uma maior ligação a valores.
“O André Freire mostrou que, no caso português, mas também lá fora, o actual crescimento
da abstenção eleitoral não é, nem podia ser, tradicional. Isto é, os factores sociológicos
tradicionais que tendiam a explicar a abstenção – a daquela figura imaginária da senhora
idosa e analfabeta, que vive “para trás do sol posto”, sociologicamente distante do sistema,
mas sem que isso chegue a afectar este último – não aumentaram. (Cabral2001p 16)
A imagem da “senhora idosa e analfabeta que vive “para trás do sol posto”, traduz de
forma quase completa os indicadores sociais que sustentavam as causas que justificavam
a abstenção. Estão presentes nesta alegoria, os indicadores demográficos como o
isolamento espacial, a idade e o defice de instrução, entendidos como sendo as principais
causas da abstenção nos estudo iniciais sobre a abstenção. Este defice de recursos pode
traduzir-se em, desencorajamento dos cidadãos em face do grau elevado de
11
conhecimentos técnicos exigidos á actividade politica ( Martins p195), ou no sentimento
de menor competência política ou falta de integração dos cidadãos relativamente às
instituições e aos processos democráticos (Leite e faria 2004 p 1) (11). Esta abstenção
provocada pela falta de recursos reflete as desigualdades estruturais da democracia e
pode ser vista como violação da própria democracia . (Magalhães 2001p 3) . A falta de
integração social, entendida como sendo capaz de potenciar um nivel elevado de
contactos interpessoais que fornecem informação sobre temas e candidatos, (Magalhães
2001p 3), e de forma generica o acesso á informação e educação eram tambem vistos
como tendo influencia determinante no processo de decisão de exercer o voto. Em
resumo, o defice de recursos, a falta de integração social, a falta de competencia politica e
conhecimentos tecnicos seriam as principais causas da abstenção, que poderiam ser
consideradas estruturais na medida em que não dependiam da vontade própria dos
individuos, mas do que a estrutura social envolvente lhes concedia como ferramentas
para exercer o voto. No entanto, a evolução em sentido contrário dos indicadores
relativos a estes aspectos, que evoluiram positivamente e os da participação eleitoral que
evoluiram negativamente induziram a necessidade de procurar em factores mais ligados a
ação as causas para o aumento da abstenção.
È a insuficiencia das explicações baseadas nas causas estruturais que leva a que a enfase
na procura de respostas para o fenomeno da abstenção se desloque para as causas mais
ligadas ao individuo á sua capacidade de escolha . Como o entendem Leite e Faria:
12
As causas estruturais estão ligadas á insuficiencia de recursos de vários tipos as
causas ação, estão ligadas a valores e atitudes dos individuos.(Magalhães 2001 p 4 )
que apesar de serem moldadas nas estruturas sociais onde estes pertencem, não
têm o caracter deterministico que têm as causas estruturais; elas condicionam mas
não determinam a opção de votar ou não dos eleitores. Tal como para as
estruturais, têm sido apontadas várias causas especificas que poderiam justificar o
aumento da abstenção no periodo mais recente
Intuitivamente, é razoavel pensar que o grau de confiança que os individuos têm nos
politicos e nas instituições são um factor que influencia o comportamento eleitoral, e em
termos da investigação cientifica feita sobre a matéria, existem estudos que apontam para
tal influencia. Alguns autores defendem que existe um certo consenso, de um
questionamento a respeito dos partidos politicos, um declínio acentuado da confiança e
credibilidade, de sua importância enquanto instância de representação (Costa 2006 p23)
(4), e que esses grau de confiança está diretamente relacionado com a participação
eleitoral,revelando que quanto maior essa confiança maior a participação eleitoral( Freire;
Magalhães 2002 p10 ). No entanto segundo outros autores a confiança como atitude
explicativa da abstenção não pode ser tomada como certa já que Estudos em diversos
países têm revelado efeitos muito modestos da confiança institucional sobre os níveis de
participação política individual (Magalhães 2001 p5). A confiança nas instituições pode
asssim ser entendida como indutora da intenção de voto ou não ter muito a ver com isso,
ou pode ainda e um tanto paradoxalmente ser indutora da abstenção quando se indicia
uma demonstração de conformismo politico ou de satisfação com a democracia.(Martins
2004 p194), ou ainda como delegação de poder por parte dos cidadãos em instituições
politicas nas quais depositam confiança.(Magalhães 2001 p6). Conclui-se que apesar da
confiança nos politicos e nas instituições ser assiduamente reclamada como constituindo
causa maior da abstenção eleitoral,essa assunção está longe de poder ser entendida
como um dado adquirido.
13
3.3.2) O eleitor racional e individualista
14
4- Objectivos
5- Modelo de análise
15
5.2- Explicitação do modelo de análise
Tal como resulta do estado da arte, o modelo de análise que a esta proposta de
investigação diz respeito desenvolverse-á segundo duas abordagens complementares;
uma que segue uma linha presente em (Magalhães 2001 ) que procura interrogar as
modificações na estrutra social em Portugal no que concerne aos fatores que limitam, ou
impedem os cidadãos de exercer plenamente o seu direito de voto. Esta aproximação ao
problema assenta na assunção teorica,- e em confirmações empiricas- de que os cidadãos
mais desfavorecidos em termos de educação, de rendimento, de acesso á informação ou
de distancia fisica aos centros do poder, são aqueles que mais se abstêm. Deste modo, a
verificação da hipotese de que o aumento da abstenção ainda estaria relacionado com a
permanencia de sectores da população que careceriam destas condições para o pleno
exercicio dos seus direitos civicos; nomeadamente o voto; será avalido pela existencia ou
não de correlações entre a evolução dos resultados eleitorais para todos os actos
eleitorais ocorridos desde 1975, com a evolução de indicadores sociais, nomeadamente,
educativos, demográficos e económicos. Quer os indicadores eleitorais quer os
indicadores sociais serão os disponiveis na base de dados Pordata provenientes da
Comissão nacional de eleições e do INE, respectivamente.
Concretamente, será utilizada como variável dependente a taxa de abstenção dos diversos
actos eleitorais e como variáveis independentes; a evolução do índice de envelhecimento,
a evolução do índice de urbanização enquanto indicadores demográficos; a evolução da
taxa de analfabetismo e a evolução da taxa de escolarização como indicadores educativos;
a evolução do rendimento das famílias e a população por actividade económica enquanto,
enquanto indicadores económicos.
16
Hipótese 2- O aumento da abstenção é dominantemente explicado pela variação, da
confiança relativamente aos políticos e às instituições
Hipótese 3- O aumento da abstenção é função do desinteresse dos Portugueses em
relação á politica
17
Para o tratamento da hipótese relativa ao interesse na política, usar-se-ão também os
dados do Eurpean SocialSurvey, nomeadamente as eventuais correlações entre a variável
dependente abstenção e as variáveis independentes: “How interested in politics”;
“Making mind up about political issues”; “Could take an active role in a group involved
with political issues. Tal como para o caso da hipótese anterior, far-se-á o estudo separado
de cada variável e o estudo da média do conjunto das variáveis independentes.
18
5.3-Esquematização do modelo de análise
Abstenção eleitoral
20
11- Leite, José Manuel e Faria , Sérgio (2004), A abstenção nas eleições legislativas de
2002.
http://www.ics.ul.pt/ceapp/conferencias/portugalavotos/viegasfaria/aabstencaoel
eitoralde2002.pdf
12- Magalhães, Pedro e Faria, Sérgio (2003) Legitimidade, confiança institucional e
descontentamento eleitoral em Portugal
mailto:http://www.ics.ul.pt/ceapp/english/conferences/portugalatthepolls/pmaga
lhaessfaria/Legitimidadeconfiancainst.pdf
13- Cabral, Manuel Vilaverde (2004) Confiança, mobilização e representação política
(portugal,2002)
http://www.ics.ul.pt/ceapp/conferencias/portugalavotos/mvillaverdecabral/confia
ncaport.pdf
21
22