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Os níveis arbitrários são mais usados pela maioria dos arqueólogos

brasileiros. São camadas de sedimento de espessura constante (8,10 ou

15 cm, em geral), retiradas e consideradas como unidades de escavação.

Todos os vestígios encontrados naquela espessura são assim considerados cronologicamente próximos.
Este método apresenta riscos importantes, já que as camadas naturais possuem superfície irregular e um
a espessura de alguns centímetros. U m nível arbitrário tanto pode corresponder a alguns minutos como
a vários milênios. Portanto, esta técnica deve

ser reservada aos sítios ou camadas de sítios nos quais os níveis naturais

não podem ser percebidos (densidade fraca de vestígios, ausência deníti-\

da descontinuidade vertical entre eles, aliados a um a grande homogenei-\

dade da matriz sedimentar); Nestas condições, não somente a contempòraneidade dos vestígios é
duvidosa, como o estudo das estruturas é quase

impossível. Num abrigo de Minas Gerais existem vestígios localizados a

menos de um metro de distância horizontal um do outro, e de mesma

profundidade, mas separados por vários milênios. ,

Certos arqueólogos tentam escavar exclusivamente por níveis naturais, enquanto outros só querem usar
unidades arbitrárias. Em boa lógica, o próprio sedimento e os vestígios devem sugerir a escolha, sendo
preciso, por vezes, combiná-los no mesmo sítio (figura 2).

'‘O” (erodido) — coleta de superfície 7/10 = escavação por níveis arbitrários

2,4 = escavação por níveis naturais 1, 3, 5, 6 (estéril) = retirados de uma vez

Figura 2. Escavação adaptada às variações do sedimento e dos vestígios.

Classificação dos sítios em função da estratigrafia. Quando os vestígios estão expostos e visíveis na
superfície do chão atual, o sítio é chamado de superfície, situação freqüente em zonas altas expostas à
erosão. Se a

erosão atuar durante algum tempo, ás informações disponíveis serão

muito restritas, pois, se estruturas são destruídas, os carvões lixiviados ou

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impossíveis de serem datados e várias ocupações humanas podem ter

misturado, nas superfícies, resíduos não-sincrônicos, cuja proximidade o


arqueólogo terá dificuldade de interpretar (por exemplo, nós podemos

hoje fazer um piquenique embaixo de um abrigo e deixar nosso lixo junto

com o de nossos predecessores recentes ou não); Isto pode inclusive ter

p acontecido no passado, em zonas então eródidas, mas que foram poste-

! riormente fossilizadas, quando as condições locais mudaram, e conjun-

> tos agora presos na matriz sedimentar contêm também material mistura-

\ do. Pode-sè ímagmar, então, a complexidade do trabalho do arqueólo g o .

Quando os vestígios encontram-se dentro do sedimento, o sítio tem

uma estratigrafia, existindo um só nível arqueologicamente fértil, dir-se-á

que o sítio tem um único componente; havendo vários, serámulticomporsencial; homogêneo, sè todos
os componentes pertencerem à mesma

cultura; heterogêneo, no caso contrário. Existem, evidentemente, sítios

com um componente superior erodido e outros em estratigrafia.

Os componentes ou níveis estão in loco quando se pode considerar

que os vestígios estão mais ou menos no mesmo lugar em que foram

abandonados. São(femexidos no nível quando o material foi deslocado

(em geral horizontalmente) sem que tenha havido mistura de vestígios

provenientes de: vários níveis. Caso contrário, trata-se de um conjunto remexido totalmente; a causa de
tal perturbação pode ser um desmoronamento, galerias de animais, escavações de covas, etc.

/ Classificação dos sítios pela posição. Certos sítios aproveitam proteções naturais contra o
intemperismo. São os chamados sítios sob abrigo.

Os outros sao sítios a céu aberto: sejam eles instalados em zonas

altas (sítios defensivos), nas encostas de morro (encontra-se na literatura a

expressão ‘sítios colmares’) ou acampamentos em regiões baixas, perto

da água (sítios de terraços). Geralmente, os homens pré-históricos m odificaram pouco a topografia


local, mas existem sítios construídos: círculos

de pedras de Minas Gerais, Bahia e Amapá (cromlech, de uma palavra celta), aterros (cerritos do Rio
Grande do Sul, mounds de Marajó), depósitos

espessos de lixo modificando a paisagem no litoral meridional (sambaquis). A topografia foi também
modificada por escavações pré-históricas,

como as galerias e casas semi-subterrâneas do planalto brasileiro.

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