Você está na página 1de 2

Análise de Fonte Primária:

Canção da Cruzada Albigense

A Canção da Cruzada Albigense


Título original, em occitano antigo: Cansó de la crozada [Cançon de la Crosada, conhecido
em francês como: Chanson de la croisade albigeoise].
Poema épico occitano antigo que narra os eventos da Cruzada Albigense [março de 1208 a
junho de 1219].
Modelada na velha canção de gesta francesa, foi composta em duas partes distintas:
Guilherme de Tudela escreveu a primeira por volta de 1213, e um continuador anônimo
terminou o relato [estudos recentes propuseram o trovador Gui de Cavalhon como autor da
segunda parte].
É uma das três principais narrativas contemporâneas da Cruzada Albigense, sendo a Historia
Albigensis de Pierre des Vaux-de-Cernay e a Chronica de Guilherme de Puylaurens as outras.
Há um único manuscrito sobrevivente de toda a Canção.
CONTEÚDO
Primeira parte: escrita por Guilherme de Tudela (ele se autodenomina "maestre W." nos
laisses 1 e 9). O autor também nomeia a data do início da composição, como 1210 (laisse1 9).
Compreende os primeiros 2.749 versos, em 130 laisses (estrofes rimadas de duração variável),
e leva a história ao início de 1213. É fortemente partidário, a favor dos cruzados e contra seus
oponentes, os cátaros e os sulistas em geral. O texto tem o uso mais antigo do termo cruzada
(como crozada).
Segunda parte: compreende os restantes 6.811 versos do poema, nos laisses 131 a 214. A
identidade do autor não é certa, embora o nome de Gui de Cavalhon tenha sido proposto
recentemente. Esta segunda parte cobre os acontecimentos de 1213 em diante e assume o
ponto de vista oposto, crítico dos cruzados e fortemente a favor dos sulistas (embora não do
catarismo). Para os historiadores, a Canção é importante para todo este período porque é a
única fonte narrativa importante que assume o ponto de vista do sul, o Languedoc; é
1
Laisse é um tipo de estância [estrofe com 6 versos decassílabos e hexassílabos com rima consoante],
de longitude variável, encontrada na literatura francesa medieval [na épica, as canções de gesta, canções de feitos
memoráveis ou heróicos, ex.: La Chanson de Roland ou El Cantar de Mio Cid]. A sua estrutura é determinada e
justificada pela literatura oral ou mnemônica, com raízes na épica homérica, e que tem como exemplo, na
literatura brasileira, o cordel nordestino..
especialmente importante de abril de 1216 a junho de 1219, porque a narrativa em prosa de
Pierre des Vaux-de-Cernay torna-se mais esboçada e incompleta a partir de 1216.
O autor era aparentemente um homem educado, exibindo algum conhecimento de teologia e
direito, e pertencia à diocese de Toulouse (já que chama o bispo Folquet de Marselha "nosso
bispo").
Michel Zink sugere que esteve com Raimundo VII de Toulouse em Roma e na Provença
durante os anos de 1215 e 1216. O poeta menciona a morte de Guido de Montfort, que na
verdade ocorreu em 1228; é questionável se toda a parte 2 foi escrita após essa data, ou se a
referência à morte de Guy foi uma inserção posterior.
Saverio Guida propôs que Gui de Cavalhon seja o autor. Gui, além de trovador, era também
nobre e um dos mais fiéis aliados de Raimundo VI de Toulouse – é questionável se toda a
parte 2 foi escrita após essa data, ou se a referência à morte de Guy foi uma inserção
posterior.

Philipe Rosa de Lima. PRINCIPAIS FONTES PRIMÁRIAS


1.1 Hystoria Albigensis, Pedro de Vaux-de-Cernay; Membro da Igreja e que sem dúvida
sua obra reflete em grande parte a posição da instituição. Escrita originalmente em latim e
no formato em prosa; pertence ao gênero historiográfico.
1.2 Cronica magistri Guillelmi de Podio Laurentii ou Crônica, de Guilherme
de Puylaurens.
Escrita em prosa e em latim, a é um relato que descrever os principais eventos ocorridos no
Languedoc relativos ao desenvolvimento da heresia cátara e suas consequências.
A originalidade da obra de Puylaurens reside na sua posição ambígua enquanto
cronista da Cruzada: o autor apóia a Cruzada mesmo sendo um habitante de Toulouse.
Todavia, percebe-se em sua crônica um sentimento de traição da “causa da fé” por parte
dos cruzados que teriam abandonado o combate à heresia cátara para se ocupar com
interesses mesquinhos em um certo momento. Ao analisar um período mais extenso em
comparação com as outras fontes narrativas, Guilherme formula a sua interpretação
de que a guerra que foi convocada para combater o catarismo terminou na verdade se
transformando em uma guerra de conquista. Apesar de Guilherme de Puylaurens não
perdoar os excessos da instituição eclesiástica, ele confere aos cruzados franceses a
maior culpa pela decadência do propósito original da Cruzada Albigense.

1.3. Canso
A Canso de la Crozada48é a fonte narrativa da Cruzada Albigense que melhor
descreve o desenvolvimento do conflito pela visão dos occitanos. Escrita em forma de
verso e composta originalmente no idioma provençal, a Canso pertence ao gênero das
canções de gesta. Como bem definiu Michel Zink,
As canções de gesta são poemas épicos. Elas confirmariam então a lei que
quer que a epopéia seja por todo lugar uma manifestação arcaica da literatura
se a dialética da inovação e da continuidade própria à Idade Média não vier
mais uma vez confundir a questão. São poemas narrativos cantados – como
seu nome o indica – que tratam de grandes feitos do passado – como seu
nome o indica igualmente.

Você também pode gostar