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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História
Disciplina: História e interdisciplinaridade - Filosofia – semestre
letivo 2022.1
Código da disciplina: FL526
Docente: Thiago André Moura de Aquino
Discente: Natally Sara Oliveira Nascimento Souza

Resposta ao questionamento: qual a desvantagem da história como ciência na


construção da vida histórica

Resumo

Este trabalho possui o objetivo de, com base no livro de Nietzsche: "Segunda
consideração intempestiva: Da utilidade e desvantagem da história para a vida", de 1875,
trazer a reflexão sobre a desvantagem que o estudo da ciência histórica pode causar na vida
histórica, analisando especificamente cada um dos três tipos de história citados por
Nietzsche: monumental, antiquária e crítica.

A história em excesso

Para Nietzsche a busca pela felicidade, e para o ser humano conseguir viver bem,
pode ser o poder de esquecer. Para exemplificar isso, o autor usa o exemplo da ovelha, que
após fazer algo, se perguntarmos sobre o que ela acabou de fazer, já não se lembrará mais. E
o homem já não esquece tão facilmente, então sua felicidade, bem estar e o futuro de suas
ações podem se comprometer pelo excesso da História.

Isso acontece porque na visão de Nietzsche, quando o homem entra em contato com
um excesso de experiências históricas, ele pode perder o instinto porque passa a analisar tudo
o que acomete a sua ação, fazendo comparações sobre o que aconteceu no passado e o que
está para acontecer no presente, e dessa forma não consegue exercer influência sobre a sua
realidade atual. Isso faz com que a história se resume à conclusão da humanidade.

A partir do entendimento, que a história em excesso é o que se torna prejudicial às


ações do indivíduo, porque o paralisa diante dos acontecimentos. É possível fazer uma
ligação com o pensamento do historiador Marc Bloch, de que o passado e o presente
dependem um do outro para que se estabeleça uma construção da vida histórica. Então
quando a ação do homem é paralisada isso afeta por consequência diretamente o estudo da
vida histórica. Isso acontece porque, como Marc disse, a história é a ciência que estuda o
homem através do tempo.

Para exemplificar melhor como esse problema se torna uma realidade a partir da
história como ciência, é preciso também analisar qual o direcionamento dos três tipos de
história quanto ao passado, que não deve ser tomada apenas como algo prejudicial a vida
histórica, porque como o próprio livro de Nietzsche mostra, também é possível fazer um bom
uso dela.

Os três tipos de história e sua relação com a vida histórica

Iniciando pela história monumental, que se baseia somente na vontade de estudar e


preservar os grandes feitos do passado, então não é dado nenhum valor para o que é atual.
Isso prejudica novamente os feitos atuais da humanidade. Visto que, o homem não sente
vontade de fazer nada diferente e inovador, porque tem em sua consciência que aquilo não
será valorizado e nem reconhecido, então novamente a vida histórica é afetada porque o que
resta para os historiadores é estudar somente os feitos que foram grandiosos e estão bem no
passado, porque a partir do momento que ele construir uma conexão entre o que existiu e o
presente, aquilo passa a não ser mais tão valorizado como antes.

O segundo tipo de história que o autor cita em seu texto é a antiquária, que é a história
que valoriza somente os feitos de sua região e impossibilita que sejam buscadas referências
em outros lugares, o que para os estudiosos dessa história permite que a história de um povo
não se perca diante do novo e do estranho. Mas isso, não é somente uma coisa boa, visto que,
quando o homem se apega somente aos seus próprios hábitos e costumes, ele se torna incapaz
de reconhecer as ligações exteriores que fizeram tal povo adquirir tais costumes e hábitos.

Um exemplo do quanto isso pode ser prejudicial à vida histórica, é o Brasil. É de


conhecimento geral que o Brasil é um país totalmente diversificado e isso quer dizer que tudo
que engloba o Brasil como um país, vem de uma mistificação entre diversas culturas e
hábitos de vários lugares. Então se quando faz um estudo sobre o Brasil e não estudamos
todas as contribuições dos outros povos, a exemplo dos africanos, na construção da nossa
sociedade atual, não se torna possível compreender ela por completo. Isso faz com que a
construção da vida histórica aqui também se torne algo inalcançável.
O terceiro e último tipo de história a ser considerado pelo autor, é a história crítica, ela
não está aqui para servir de argumento em relação às desvantagens causadas pelo estudo da
história na vida histórica, e sim,.como intermédio, porque ela tem uma visão mais balanceada
entre a adoração feita ao passado, que é a história monumental e a conservação total da
história antiquária.

Conclusão

Através desses conceitos e exemplos, espero que seja possível compreender como o estudo da
história como ciência pode afetar negativamente a vida histórica. Mas que também não se
tome por uma visão errônea que a história não deve ser compreendida como ciência porque
só tem males a oferecer, porque suas atribuições e benefícios para a sociedade também são
inúmeros.

Referências

BLOCH, Marc Leopold Benjamin, Apologia da história, ou, O ofício de historiador. — Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e


desvantagens para vida. Tradução Marco Antônio Casanova. – Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2003.

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