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TEORIA GERAL DO DIREITO

EMPRESARIAL E CAMBIÁRIO

Prof. Dr. Nelson Speranza Filho


Prof. Guilherme Bernardes Filho

Diretor Presidente

Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes

Diretor Tesoureiro

Prof. Frederico Ribeiro Simões

Reitor

UNISEPE – EaD

Prof. Me. Alexander Lopes Neves

Coordenador EaD de área

Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz

Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD)

Material Didático – EaD

Equipe editorial:

Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395

Isis Gabriel Alves

Pedro Ken-Iti Torres Omuro

Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável

Apoio técnico:

Alexandre Meanda Neves

Anderson Francisco de Oliveira

Douglas Panta dos Santos Galdino

Fabiano de Oliveira Albers

Gustavo Batista Bardusco

Kelvin Komatsu de Andrade

Matheus Eduardo Souza Pedroso

Vinícius Capela de Souza

Revisão: Vanessa Schreiner

Diagramação: Larissa Morais Jorge da Costa, Máira Ribeiro Fernandes, Larissa Sayuri Usuki
SOBRE O AUTOR:

Nelson Speranza Filho

Advogado, professor universitário na Faculdade de Peruíbe (FPbe), Universidade Santa Cecília


(UNISANTA), Faculdade UniBR de São Vicente e Faculdade Bertioga (FABE). Doutor em Direito
Ambiental Internacional, mestre em Direito Internacional, especialista em Direito Processual Civil e
em Direito Processual do Trabalho, bacharel em Direito pela Universidade Católica de Santos
(UNISANTOS). Pesquisador do Centro de Estudos em Direito do Mar Vicente Marotta Rangel, da
Universidade de São Paulo (CEDMAR-VMR-USP).

SOBRE A DISCIPLINA:

A disciplina Teoria Geral do Direito Empresarial e Cambiário trata da abordagem inicial do Direito de
Empresa, bem como aborda os aspectos relativos à Propriedade Industrial e ao Direito Cambiário.
Para tanto, esta disciplina tem por fim capacitar o discente nas primeiras linhas do trabalho
empresarial, com vias a sua formação voltada para o atendimento das demandas empresariais
existentes no mercado.

A disciplina tem como ementa:

Teoria geral do Direito Empresarial: conceito de Direito Empresarial; objeto de estudo; histórico;
teoria dos atos de comércio e teoria da empresa; diferenças entre Direito comercial e Direito
empresarial; fontes; características do Direito Empresarial; conceito de empresa; função social da
empresa; a empresa como fonte produtora de riquezas, de postos de trabalhado e elemento de
desenvolvimento socioambiental; conceito de empresário; espécies de empresário; formação e
dissolução da sociedade empresária; elementos da sociedade empresária; aviamento; clientela;
nome empresarial. Propriedade industrial: aspectos gerais sobre propriedade industrial; marca;
desenho industrial; modelo de utilidade; invenção; registro e patente; transferência da propriedade
industrial. Direito cambiário: conceito de títulos de crédito; princípios; classificação; endosso; aval;
protesto; letra de câmbio; nota promissória; duplicata; cheque; outros títulos de crédito.
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e
facilitar a organização e a leitura hipertextual.
SUMÁRIO
UNIDADE I ........................................................................................................................... 5
Capítulo 1 - Teoria geral do direito empresarial ................................................................ 5
Capítulo 2 - Empresa .......................................................................................................14
UNIDADE II .........................................................................................................................25
Capítulo 3 – Propriedade industrial ..................................................................................25
Capítulo 4 – Direito cambiário ..........................................................................................36
UNIDADE III ........................................................................................................................47
Capítulo 5 – Títulos de crédito em espécie I ....................................................................47
Capítulo 6 – Títulos de crédito em espécie II ...................................................................59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................71
UNIDADE I
CAPÍTULO 1 - TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Aspectos históricos

✓ Conceito de Direito Empresarial

✓ Teoria dos atos de comércio e teoria da empresa

✓ Fontes

✓ Características do Direito Empresarial

Introdução
Olá, querido aluno UNISEPE! Seja bem-vindo à disciplina de Teoria Geral do Direito Empresarial.

Nesta disciplina, você será iniciado nas primeiras linhas do Direito Empresarial, com vias à
compreensão dos conceitos basilares sobre esse ramo do Direito.

Assim, para completar seus estudos, visualizamos três etapas do conteúdo que será abordado. A
primeira se refere ao conteúdo inicial do Direito Empresarial, com o estudo focado nos conceitos
básicos, aspectos históricos, fontes, surgimento e encerramento da empresa.

Em um segundo momento, serão estudados os elementos da Propriedade Industrial, haja vista sua
clara ligação com as atividades empresariais, sendo de suma importância para a compreensão
correta dos elementos básicos de exercício e identificação da empresa.

Por fim, o livro-texto atingirá o Direito Cambiário, com o estudo dos títulos de crédito, observando
não apenas suas definições básicas, mas também seus institutos e suas espécies.

Neste capítulo, você estudará os aspectos gerais sobre o Direito Empresarial, sobretudo quanto à
sua formação. Para tanto, serão abordados os aspectos históricos relativos ao surgimento e à
identificação do Direito Empresarial, sendo, em seguida, explanadas as teorias relativas à definição
dos conceitos de comércio e empresa, enquadrando aqueles que exercem esse tipo de labor na
condição especial inerente aos empresários.

Além disso, e não menos importante, serão abordadas as fontes do Direito Empresarial, bem como
suas características, que o identificam como um ramo bastante especial do Direito Privado.

Bons estudos!

1.1 Aspectos históricos


O Direito Empresarial nutre forte ligação com o comércio em si, tendo seu avanço histórico vinculado
à difusão da atividade comercial. Sendo assim, podemos verificar o desenvolvimento histórico com
base em algumas eras.

O comércio remonta à Idade Antiga, com um nascedouro que se origina praticamente junto à
formação das primeiras sociedades humanas. Porém, na era antiga, não se pode falar em formação

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do Direito Empresarial, mas apenas no desenvolvimento do comércio com um parco regramento
jurídico, normalmente atrelado ao Direito Civil.

O grande avanço do comércio e da formação do Direito Empresarial ocorreu na Idade Média, sendo
este o nascedouro histórico do Direito Empresarial enquanto disciplina autônoma. Alguns elementos
que se relacionam com esse contexto foram:

• Comércio nos feudos;

• Expansão normativa sobre os atos de comércio sobretudo na Itália;

• Surgimento do ius mercatorum.

Foram fatores que contribuíram para o fortalecimento da atividade comercial e a necessidade de


criação de um Direito Comercial autônomo em relação ao Direito Civil:

• Expansão das navegações marítimas;

• Busca por mercadorias e especiarias exóticas;

• Fortalecimento da burguesia;

• Deslocamento dos senhores de terras para os centros das cidades;

• Cruzadas;

• Organização das corporações de ofício – surgimento do Direito Estatutário (corporativo).

O Direito Comercial surgiu a partir dos usos e costumes comerciais, preservados pelos próprios
comerciantes, em paralelo ao Direito estabelecido pelo Estado, estabelecendo como fontes:

• Os estatutos mercantis;

• Os usos e Cosmopolitismos comerciais;

• As jurisprudências dos tribunais consulares.

Após a Idade Média e o Renascimento, em 1808, o Direito Comercial recebeu uma codificação
estatal autônoma do Direito Civil com a criação do Código Comercial Francês.

A partir desse momento, os demais Estados começam a assumir a tutela do Direito Comercial, que
antes era deixado ao exercício privado da classe comerciante.

Reflita sobre como o desenvolvimento do Direito Empresarial se deu baseado nos costumes ante a ausência
de participação ou a preocupação estatal com as práticas mercantis.

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1.2 Conceito de Direito Empresarial
Direito empresarial é “o conjunto de regras jurídicas relativas à atividade do homem aplicado à
produção, à apropriação, à circulação e ao consumo das riquezas” (RYN apud REQUIÃO, 2010, p.
31).

Assim, percebe-se que o Direito Empresarial está diretamente ligado à existência e destinação de
riqueza, ou seja, de atividades que impliquem na modificação de patrimônio realizada entre as
pessoas. Difere nesse aspecto do Direito Civil, uma vez que que o Direito Empresarial tem caráter
mercantil, ou seja, as modificações patrimoniais mencionadas ocorrem com o intuito de fazer crescer
a riqueza individual daquele que se apresenta como parte na relação empresarial.

Contudo, para que se possa distinguir quem faz parte da relação empresarial e quem está excluído
desta, entrando, assim, na ceara civil, há que se analisar duas teorias: a Teoria dos Atos de
Comércio, adotada pelo sistema francês; e a Teoria da Empresa, surgida no sistema Italiano.

O Direito Empresarial, embora mantenha seu regramento atual em grande parte inserido dentro do Código
Civil, não perdeu sua autonomia, haja vista que tem não só regras, como princípios próprios.

1.3 Teoria dos Atos de Comércio e Teoria da Empresa


A Teoria dos Atos de Comércio é de origem francesa e surgiu pelo rumo natural histórico que remonta
à ascensão da burguesia nos tempos medievais. Como se pode perceber pelo próprio nome atribuído
à teoria, surgiu a necessidade de se aplicar a norma comercial quando constatada a prática de ato
predefinido como ato de comércio.

Assim, os atos de comércio constituem um rol limitado de práticas de natureza econômica que, entre
si, não mantêm qualquer relação. A título de exemplo, por essa teoria, uma venda de mercadoria
tendo por contraprestação quantias em moeda, se classificada como ato de comércio, tornaria
qualquer pessoa que o realizasse um comerciante e, consequentemente, o submeteria à disciplina
comercial.

Critica-se essa teoria por sua evidente confusão do que são exatamente atos de comércio e se é
adequado classificar por simples atos o enquadramento legal de um fato. Em resumo, segundo a
Teoria dos Atos de Comércio, é matéria de Direito Comercial tudo aquilo que envolva a prática de
atos estabelecidos como de comércio.

Já a Teoria da Empresa, cuja origem é italiana, apresenta-se como teoria moderna e aplicada em
larga escala, inclusive sendo adotada pelo Brasil:
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento da empresa.

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Assim, para essa teoria, foi adotada uma regra geral, um elemento unificador do que se insere no
Direito Empresarial e do que dele está excluído.

Tal critério se apresenta na forma de uma atividade, o que torna indiferente, nesse sentido, as
características subjetivas, ou seja, aquelas inerentes ao sujeito que exerce a atividade, e as
características materiais, que se encontram ligadas à coisa, ou seja, ao bem objeto da atividade.

Assim, empresário (comerciante) não mais é aquele que pratica alguns dos atos inseridos em
limitado rol preexistente, ou aquele que vende, troca, empresta determinado bem. Para a Teoria da
Empresa, empresário é aquele que exerce a atividade empresarial.

A maior diferença estabelecida entre as duas teorias é que, para a Teoria dos Atos de Comércio,
inúmeras atividades estão excluídas da tutela do Direito Empresarial (comercial), em virtude apenas
de não estarem inseridas no rol; enquanto a Teoria da Empresa cria regra ampla de enquadramento
automático, que, inclusive, diante do surgimento de nova atividade, possibilita a aplicação do Direito
Empresarial, desde que a atividade seja “econômica organizada para a produção ou circulação de
bens ou serviços”.

A Teoria dos Atos de Comércio é fortemente criticada, pois não contempla o dinamismo das relações
empresariais, como também não mantém amplo espectro capaz de abraçar a totalidade das práticas
empresariais.

1.4 Fontes
Como todo ramo autônomo do Direito, o Direito Empresarial também tem suas fontes. A fonte, como
o próprio nome diz, é a nascente, como a de um rio. É aquilo que dá origem a alguma coisa, nesse
caso, ao Direito Empresarial.

Como nos demais ramos, as fontes são sempre as mesmas, com pequenas diferenças, sendo as
principais as leis, os costumes e os princípios gerais de direito.

No Direito Empresarial, estudaremos a lei e os costumes com um maior destaque, haja vista sua
preponderância quando o assunto é a criação e o desenvolvimento do Direito Empresarial.

A lei é a fonte primeira do Direito Empresarial, assim como de outros ramos do Direito. Assim, pode-
se dizer que o Direito tem seu nascimento na lei.

A lei tem como características seu surgimento imediato, ou seja, não surge ao longo dos anos, como
os costumes, é criada por ato único ou por uma série de atos contínuos integrantes de um mesmo
processo, em curto espaço de tempo. A lei tem, ainda, a característica de ser impositiva, ou seja, é
obrigatória e tem a garantia de seu cumprimento por meio da força coercitiva do Estado.

As leis empresariais são, via de regra, esparsas, como a Lei de Falências, a Leis das S/As, a Lei do
Cheque, dentre outras. Contudo, têm grande arcabouço de normas apresentadas em forma
codificada, inserida no Código Civil. Diante de tal “união” entre o Código Civil e a legislação

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Empresarial, surge a dúvida sobre a aplicação do Direito Civil e de sua legislação como fonte primária
do Direito Empresarial.

A aplicação do Direito Civil como fonte primária do Direito Empresarial nada mais é do que uma
aberração para o sistema, pois se tratam de ramos autônomos e independentes. A fonte primária do
Direito Empresarial são as normas de natureza empresarial, podendo ser complementadas por leis
de natureza civil sem maiores problemas, desde que de forma subsidiária.

Assim, em resumo, a fonte primária e principal do Direito Empresarial é a Lei Empresarial, podendo
ser completada, em caso de lacuna, por meio do algum dos instrumentos de integração do Direito
(analogia, equidade, entre outros) pela lei civil que seja compatível com aquele Direito.

O Direito Empresarial, mais do que qualquer outro ramo do Direito, em toda sua história, é pautado
nos costumes, tendo estes como fonte subsidiária, ou seja, em complementação à lei, nunca em
substituição.

Costume consiste na “prática uniforme, constante e por certo tempo” (VIVANTE apud REQUIÃO,
2010, p. 54). Assim, o costume surge de forma histórica, pode-se dizer, vem da prática reiterada de
determinados usos (hábitos) que não contrariem a lei, para que sejam reconhecidos como verdade.

Diferem da lei os costumes, por não serem de surgimento imediato, mas criados ao longo do tempo,
podendo levar períodos relativamente longos para sua consolidação. Ainda, diferem da lei no que
tange à desnecessidade da força coercitiva estatal para que sejam reconhecidos e obedecidos.
Advêm da natureza da sociedade.

Os costumes, conforme exposto, não podem contrariar a lei, sob pena de serem proibidos. Contra
legem são os costumes que contrariam a lei; preater legem são aqueles que nem contrariam, nem
concordam com a lei; e secundum legem, como o próprio nome diz, são aqueles que estão em
conformidade com a lei.

A única espécie de costume que é inadmissível é o costume contrário à lei. A lei pode fazer cessar
um costume, por ser fonte primária do Direito e ter força coercitiva, mas um costume jamais poderá
derrogar uma lei.

Em resumo, costume é a prática reiterada de atos reconhecidos como corretos e verdadeiros, cuja
concretização vem com o tempo e que serve de fonte subsidiária ao Direito, no caso em tela, o Direito
Empresarial.

Procure pesquisar mais sobre a influência dos costumes no Direito Empresarial, verificando as práticas
mercantis baseadas puramente em costumes.

1.5 Características do Direito Empresarial


São características do Direito Empresarial que o diferenciam do Direito Civil:

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• Cosmopolitismo: característica que advém da história do Direito Empresarial, posto que é
formado pela pluralidade de povos e costumes. Cosmopolita significa “cidadão do mundo” e
tem a conotação para o Direito de ciência universal que desconhece fronteiras.

• Individualismo: característica que advém da finalidade lucrativa do Direito Empresarial. Por


essa característica percebe-se a acentuada prevalência do interesse individual.

• Onerosidade: característica que simboliza o objeto do Direito Empresarial, é a circulação de


riquezas. A onerosidade, para esse ramo do Direito, aparece com tamanha ênfase que é
presumida. Assim, todo contrato ou toda relação empresarial é presumidamente onerosa, ou
seja, consiste no binômio prestação-contraprestação.

• Informalismo: característica que acentua a história de costumes do Direito Empresarial. O


informalismo advém do dinamismo das relações de comércio, buscando a célere e eficaz
modificação do estado da riqueza das pessoas. O informalismo é regra, só havendo a
necessidade de se observar forma determinada quando a lei expressamente a prever (art.
107, CC).

• Fragmentarismo: característica que denota o caráter legislativo não unificado do Direito


Empresarial. As normas empresariais são excessivamente esparsas.

• Solidariedade: a solidariedade, embora não se presuma, resulte de lei ou da vontade das


partes, para o Direito Empresarial, via de regra, é aplicada por meio da previsão legal. As
normas empresariais pretendem normalmente a solidariedade como forma de
responsabilidade padrão para a atividade tutelada por esse ramo do Direito.

Considerações Finais
Neste capítulo, vimos que o Direito Empresarial remonta ao surgimento da sociedade humana em si,
porém tem seu grande avanço enquanto ramo autônomo do Direito na Idade Média. Isso se dá pelo
claro crescimento econômico da classe burguesa nessa era, lembrando que os assuntos de comércio
eram desenvolvidos e regulamentados à margem do Estado, que não tinha em si interesse em
qualquer regulamentação.

Diante dessa questão, a burguesia medieval resolve estabelecer, pelos costumes de comércio, as
práticas corriqueiras e as normativas necessárias para o desenvolvimento sadio de suas atividades
econômicas. Com isso, surge o que atualmente tratamos como Direito Empresarial, sendo um
resultado das práticas costumeiras que se reiteraram no tempo e passaram a ser de interesse estatal.

Assim, com o surgimento do regramento, vimos que duas teorias se destacaram quando da formação
do ramo em estudo, resultando na Teoria dos Atos de Comércio, de origem francesa, que depois foi
superada pela Teoria da Empresa, de origem italiana.

Pela Teoria da Empresa, o Direito Empresarial passa a ter sua atuação pela definição de uma
atividade específica, denominada atividade empresarial. Assim, considera-se empresário aquele que
exerce essa atividade de forma profissional, ou seja, como sua atividade principal, sua atividade de
sustento familiar, o que difere daquele que realiza um ou outro ato isolado de comércio.

Veja que interessante, uma pessoa que venda seu carro para outra em uma relação particular é
bastante diferente daquela que mantém uma estrutura de compra e venda contínua de veículos,
visando a obtenção de lucros. No primeiro caso, apenas o cidadão pretende realizar a troca de seu
veículo ou vender o patrimônio que tem, em uma relação não profissional e puramente civil. Na outra

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situação, a pessoa pretende fazer das compras e vendas de veículos, sua profissão, não adquirindo
qualquer veículo para uso ou lazer, mas, sim, para que futuramente seja vendido e lhe gere renda.

Por esse motivo, a Teoria dos Atos de Comércio acaba sendo superada, pois para ela o ato em si
seria comercial, enquanto para a Teoria da Empresa há a necessidade de outros elementos, como
a organização da atividade, o seu exercício profissional, entre outros.

ASPECTOS HISTÓRICOS:

• O comércio se origina desde a Idade Antiga, com um nascedouro que remonta praticamente à
formação das primeiras sociedades humanas.

• O grande avanço do comércio e da formação do Direito Empresarial ocorreu na Idade Média.

• Foram fatores que contribuíram para o fortalecimento da atividade comercial:


o Expansão das navegações marítimas
o Busca por mercadorias e especiarias exóticas
o Fortalecimento da burguesia
o Deslocamento dos senhores de terras para os centros das cidades
o Cruzadas
o Organização das corporações de ofício – surgimento do Direito Estatutário (corporativo)

• O Direito Comercial surgiu com base nos usos e costumes comerciais.

• Após a Idade Média e o Renascimento, em 1808, o Direito Comercial recebeu uma codificação estatal
autônoma do Direito Civil com a criação do Código Comercial Francês.
CONCEITO:

• “O conjunto de regras jurídicas relativas à atividade do homem aplicado à produção, à apropriação, à


circulação e ao consumo das riquezas” (RYN apud REQUIÃO, 2010, p. 31)

• A Teoria dos Atos de Comércio é de origem francesa; os atos de comércio constituem um rol limitado
de práticas de natureza econômica que, entre si, não mantêm qualquer relação

• A Teoria da Empresa é de origem italiana; tal critério se apresenta na forma de uma atividade, o que
torna indiferente, nesse sentido, as características subjetivas, ou seja, aquelas inerentes ao sujeito que
exerce a atividade, e as características materiais, que se encontram ligadas à coisa, ou seja, ao bem
objeto da atividade.
FONTES:

• Como nos demais ramos, as fontes são sempre as mesmas, com pequenas diferenças, sendo as
principais as leis, os costumes e os princípios gerais de direito.
CARACTERÍSTICAS:

• Cosmopolitismo

• Individualismo

• Onerosidade

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• Informalismo

• Fragmentarismo

• Solidariedade

Característica que denota o caráter legislativo não unificado do Direito Empresarial. As normas empresariais
são excessivamente esparsas. Isso consiste na característica:
a) Fragmentarismo.
b) Solidariedade.
c) Cosmopolitismo.
d) Onerosidade.
e) Informalismo.
A alternativa correta é a letra A, uma vez que a existência de normas esparsas no Direito Empresarial
representa seu fragmentarismo, caracterizando a ausência de unificação legislativa sobre a matéria.

Questão Objetiva
É matéria de Direito Comercial, tudo aquilo que envolva a prática de atos estabelecidos como de comércio”. A
assertiva se refere a:
a) Teoria da empresa.
b) Teoria dos atos de comércio.
c) Costumes.
d) Lei.
e) Jurisprudência.
Questão Discursiva
Entre as fontes do Direito, quais delas assumem maior destaque dentro do Direito Empresarial?

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Explanadas – explicadas
Inerente – relativos
Atrelado – relacionado
Subsidiária – complementar em segundo plano

Obra: COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 26. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.
Uma obra clássica. Marcada pela clareza de conceitos e objetividade quando do trato da disciplina.
É uma leitura bastante simples e didática. Trata-se de uma obra escrita em volume único, o que facilita bastante
o entendimento sobre o conteúdo geral do Direito Empresarial e, ainda, representa uma aquisição única para
aquele que deseja se aprofundar em seus estudos. Como manual, tem um trato da disciplina mais objetivo,
simplificado, tendo menor conteúdo científico e tratando o tema sob um enfoque mais prático.

Questão Objetiva - GABARITO: B.


Questão Discursiva - Resposta: Os costumes e a lei.

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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 - EMPRESA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Conceito de empresa

✓ Conceito de empresário

✓ Espécies de empresário

✓ Elementos da empresa

✓ Dissolução

Introdução
Agora que já estudamos os aspectos gerais sobre as fontes, características e definições do Direito
Empresarial, chegamos ao momento oportuno para falar sobre a empresa em si. Vale lembrar que a
empresa é uma atividade, ou seja, não é um critério pautado no sujeito, mas, sim, no objeto. Por isso
se diz que a empresa é exercida pelo empresário, e não se deve dizer que a empresa praticou algum
ato, haja vista que não é sujeito de direitos, mas uma atividade. Quem pratica os atos são os
empresários.

Neste capítulo, vamos estudar as definições de empresa, como atividade para a circulação e
produção de bens e serviços, de tal sorte que deve ser exercida por um sujeito de direito, que seria
o empresário.

Além disso, veremos como se dá o surgimento da empresa e quais são seus elementos de
identificação e exercício que tornam a atividade viável.

Por fim, você aprenderá sobre os procedimentos de dissolução das empresas, porém apenas com
aprofundamento no procedimento dissolutório regular, uma vez que a falência será estudada no
futuro em módulo próprio.

Bons estudos!

2.1 Conceito de empresa


O conceito de empresa se subdivide de acordo com a ótica a ser observada, posto que há um cunho
econômico e um cunho jurídico no termo. Assim, temos igualmente um conceito econômico e outro
jurídico. Diz que a empresa, sob o prisma econômico, é o organismo econômico, ou seja, é a entidade
com fim puramente econômico.

Assim leciona Rubens Requião que a empresa é uma “combinação de elementos pessoais e reais,
colocados em função de um resultado econômico, e realizada em vista de um intento especulativo
de uma pessoa, que se chama empresário” (REQUIÃO, 2010, p. 74).

Já para o campo jurídico, a empresa assume um papel de abstração, ou seja, deixa de ser observada
apenas como um organismo (físico) e passa a ser vista como uma atividade.

Percebe-se que, para o estudo do Direito Empresarial, deve-se ver a empresa como atividade que
abrange tanto o material como o imaterial, ou seja, o conceito jurídico de empresa está fundado no

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conjunto de elementos que inclui desde as particularidades econômicas e físicas da empresa, como
também todo o aspecto filosófico, como a finalidade, as relações estabelecidas entre pessoas, dentre
outros.

Dessa forma, tem-se por conceito jurídico de empresa a atividade econômica organizada, exercida
profissionalmente pelo empresário para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Tal conceito consta no artigo 966 do Código Civil:


Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso
de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.

Sendo assim, observe cada um dos elementos desse conceito definido em lei:

• Atividade: é o núcleo do conceito de empresa. A empresa é um objeto, um fazer, não sendo,


portanto, um sujeito de direitos e obrigações.

• Econômica: como o Direito Empresarial tem como característica a onerosidade, a empresa


sempre será uma atividade econômica, visto que envolverá obrigatoriamente movimentação
de riquezas e obtenção de lucro.

• Organizada: a organização se refere à pluralidade de relações jurídicas na qual a empresa


está inserida. Em outras palavras, abrange fornecedores, consumidores, empregados,
pagamento de tributos etc. Além disso, todas essas relações devem ser registradas nos livros
da empresa, que são de escrituração obrigatória.

• Produção: envolve a criação de bens ou a prestação de serviços.

• Circulação: não envolve a criação ou o desenvolvimento de produtos, mas sua especulação,


ou seja, a compra do fornecedor e a entrega ao mercado de consumo por valor mais alto do
que o praticado com o fornecedor.

• Bens: são coisas às quais é atribuído valor econômico.

• Serviços: envolvem a prestação de serviços, um fazer.

Vale ressaltar que, como atividade, a empresa não é sujeito de direitos, mas objeto jurídico, o que
quer dizer que a empresa não tem personalidade ou é capaz de praticar atos, adquirir direitos ou
obrigações. Como objeto, a empresa constitui-se em parte “inanimada” do direito, sem
personalidade.

Da análise da natureza jurídica da empresa e da sociedade é que nasce a maior diferença entre
ambos os institutos que, embora frequentemente confundidos, nada têm em comum. Enquanto a
empresa é objeto, a sociedade é sujeito, ou seja, é capaz de adquirir direitos e obrigações, capaz de
manifestar sua vontade. Assim, pode-se dizer que uma sociedade opera uma empresa (utiliza-se do
objeto), enquanto uma empresa nunca poderá controlar uma sociedade.

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Para melhor caracterizar a diferença entre os institutos, percebe-se que a sociedade é formada por
uma coletividade de indivíduos (formando uma pessoa jurídica); já para o exercício da empresa basta
apenas uma única pessoa física.

É importante memorizar os pontos de destaque que compõem o conceito de empresa, lembrando sempre que
é uma atividade, e não um sujeito.

2.2 Conceito de empresário


Empresário é a pessoa, física ou jurídica, titular da atividade empresarial e que a exerce
profissionalmente. Assim também dispõe o Código Civil, no mesmo artigo 966:
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso
de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.

Profissionalmente, significa que o empresário tem como principal atividade a exploração da empresa.
Para resumir o conceito de empresário, podemos fazê-lo da seguinte forma: empresário é aquele
que exerce profissionalmente a empresa.

Pense em como o conceito de empresa pode ser abrangente e como a ligação entre a empresa e o empresário
deve ser considerada para a composição de seus elementos.

2.3 Espécies de empresário


Do conceito de empresário, percebe-se a possível presença de dois tipos de empresários: pessoas
físicas e pessoas jurídicas.

O empresário pessoa física é aquele que exerce individualmente, em nome próprio, a atividade
definida como empresarial. Para esse tipo de empresa, a pessoa do empresário é realmente a
pessoa física, diretamente.

Para ser empresária, a pessoa física necessita de capacidade civil plena, entendida como a liberdade
para a prática de todos os atos da vida civil (por exemplo, contratar, dever obrigações, cancelar
contratos etc.) (BRASIL, Código Civil, art. 972 e 973). Não confundir capacidade civil plena com
maioridade.

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A maioridade civil é atingida aos 18 anos completos e, como regra geral, é com ela que se obtém a
capacidade civil plena. Entretanto, maiores de 16 anos e menores de 18 anos podem ser plenamente
capazes através da emancipação (BRASIL, Código Civil, art. 976).

A emancipação concede ao menor a capacidade civil plena, desde que autorizada pelos pais ou
representantes legais ou mesmo pelo Juiz. Para a emancipação, o menor deve ser capaz de prover
economicamente o próprio sustento.

Pessoas que não tenham capacidade civil plena, por conta da idade ou mesmo devido a doenças ou
acidentes que tenham reduzido suas capacidades mentais, não podem ser empresários como regra
geral (BRASIL, Código Civil, art. 974 e 975).

Os incapazes, quer por idade ou por interdição (interditos), não podem iniciar a atividade empresarial.
Todavia, caso essa incapacidade tenha ocorrido após o prévio exercício da atividade empresarial
(tais pessoas já eram empresários quando então se tornaram incapazes) podem exercer a atividade
empresarial, caso autorizados pelo juiz, que irá analisar os riscos da empresa.

Esse exercício é realizado por meio de representante (para os absolutamente incapazes) ou


assistente (para os relativamente incapazes), somente para continuar a empresa antes exercida por
ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança (falecido que o contemplou com quotas
societárias).

A mulher casada não necessita da outorga do marido para ser empresária (BRASIL, Código Civil,
art. 977 a 980). A pessoa jurídica que exerce atividade empresarial é chamada de sociedade
empresária. Ao contrário do que comumente se diz, a sociedade é empresária e não empresarial,
visto que quem é o titular da atividade é a sociedade e não as pessoas que a compõem.

Assim, as pessoas físicas que juntam esforços para o exercício da atividade empresarial e constituem
uma sociedade não podem ser denominadas empresários, posto que a sociedade e os sócios se
tratam de pessoas diferentes.

Para que possa existir uma pessoa jurídica, são necessários os seguintes requisitos:

• Sócios plenamente capazes (conforme já estudado);

• Objeto lícito;

• Forma prevista em lei.

A pessoa jurídica, assim como a física, também tem personalidade jurídica, sendo sujeito de direitos
e obrigações.

Não necessariamente a pessoa jurídica que exercerá a atividade empresarial será uma sociedade,
visto que existem os Empresários Individuais (EIs) e os Microempresários Individuais (MEIs), que
têm regras próprias.

A sociedade empresária nada mais é do que uma sociedade que exerce atividade empresarial. Por
ser sociedade, normalmente será composta de uma pluralidade de sócios, pessoas físicas ou
jurídicas, salvo se for constituída sociedade unipessoal, podendo os cônjuges ser sócios, desde que
não sejam casados nos regimes da Comunhão Universal e da Separação Obrigatória.

A sociedade empresária terá seu início com o registro de seus atos constitutivos na Junta Comercial
do Estado, no nosso caso, a JUCESP. As sociedades não registradas na JUCESP, ou mesmo

17
registradas em outros órgãos, são consideradas sociedades de fato e têm como penalidade a
responsabilidade ilimitada de seus sócios pelas dívidas societárias.

Existem duas espécies de empresários, a pessoa física e a pessoa jurídica, mas o fato de existir uma sociedade
(pessoa jurídica) não significa que esta deve contar com a pluralidade de pessoas.

2.4 Elementos da empresa


Os elementos da empresa são divididos em duas categorias: elementos de identificação e elementos
de exercício.

Diz-se do elemento de identificação aquele que remete qualquer pessoa à ideia de determinada
empresa. Em outras palavras, os elementos de identificação de uma empresa são aqueles que a
diferenciam de outra, tornando-a individualizada e proporcionando sua fácil identificação.

São vários os elementos de identificação, dentre eles o nome empresarial, as marcas, entre outros
que serão vistos a seguir.

O nome empresarial é a expressão “para designar a firma ou denominação adotada por pessoa física
ou jurídica pela qual se fazem conhecidas no exercício de suas atividades” (REQUIÃO, 2010, p. 267).

O nome empresarial tem como escopo a identificação da atividade empresarial praticada pelo
empresário, bem como a identificação conjunta desse sujeito, ou seja, o nome empresarial remete
àquele que o conhece, à pessoa do empresário e à atividade por ele praticada.

No Brasil, é adotado o sistema da veracidade, ou autenticidade do nome empresarial, em que o nome


empresarial pode ser dividido em duas espécies, a firma e a denominação, e deve observar as
normas legais para sua escolha.

Firma, ou razão social, é nome que remonta à atividade de uma sociedade de pessoas, ou uma
empresa individual. Esse nome tem a conotação de assinatura pela sociedade, ou empresa
individual. Por assinatura, deve-se entender que em quaisquer documentos constará como nome
(assinatura) a firma, ou razão social de uma empresa, ainda que a assinatura (aquela que é dada à
caneta no final dos contratos, por exemplo) seja realizada pelo punho de um representante.

A firma, ou razão social, é composta pelo patronímico (nome de família) dos sócios, por exemplo,
Souza e Silva Ltda., ou Souza e Silva Alimentos Ltda. Vale ressaltar que a razão social é composta
apenas pelo nome dos sócios cuja responsabilidade é ilimitada, com exceção das sociedades
limitadas.

Já em caso de firma individual, deverá o nome empresarial ser o nome do empresário, como por
exemplo, Antonia Silveira ME.

Denominação, ou nome fantasia, é um nome “inventado” pelos sócios e que deve conter
obrigatoriamente expressão que remonte à atividade empresarial, e pode, facultativamente, conter o
nome de algum dos sócios, por exemplo, Lanches Delicinha S/A, ou Comidas da Vovó Ltda.

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Vale ressaltar que a denominação é apenas aceita nas sociedades anônimas, limitadas e em
comandita por ações, não sendo admitido validamente em nenhum outro tipo societário.

Sociedades estrangeiras que tenham autorização para atuar no Brasil deverão apresentar em seu
nome empresarial a expressão “do Brasil” ou “para o Brasil”.

O nome empresarial goza de exclusividade em toda a área de seu registro. Por área de registro
entende-se aquela em que se encontra a Junta Comercial competente em que se realizou o registro.
No Brasil, as juntas têm atuação estadual, assim, uma empresa goza de proteção em seu nome por
todo o Estado em que foi registrada. Contudo, é possível estender a proteção para todo o território
nacional por meio de requerimento para todas as Juntas Comerciais do país. Com isso, o nome
empresarial será exclusivo em todo o país.

A exclusividade protege a atividade empresarial, evitando que nomes homógrafos ou homófonos


sejam também registrados, de forma que duas empresas tenham nomes iguais ou extremamente
semelhantes, causando confusão.

A solução de conflitos que versem sobre nomes semelhantes não tem maior regramento, havendo
processo administrativo nas Juntas Comerciais para a solução de conflitos. Há, ainda, que se
ressaltar que o primeiro a registrar o nome terá preferência em sua manutenção, visto que o ato de
registro é o que marca o início da sociedade empresária.

O nome empresarial, na espécie de firma, é inalienável, visto que seu conteúdo se confunde com o
nome civil dos sócios ou do empresário individual, assim ninguém pode vender o próprio nome.

Contudo, com a venda de uma sociedade, ou até mesmo de uma firma individual, o nome pode ser
mantido SE vier precedido do nome do novo sócio seguido da expressão “sucessor de”, por exemplo,
Julio Bolonhesa Comércio de Massas, sucessor de Maria Calabresa Comércio de Massas.

Em outra vertente, tal limitação à venda de nome empresarial não se estende à aplicação de
denominação, pois esta se trata de uma criação fictícia, um nome fantasia, como é conhecida. Assim,
a fantasia pode mudar de titularidade sem maiores problemas, pois não há vinculação com a pessoa
e o nome civil dos sócios da sociedade alienante.

Além disso, não se deve confundir o elemento identificativo da empresa, nome empresarial, com o
título do estabelecimento empresarial, que pode ser adotado tanto na forma de denominação como
firma e se vincula ao estabelecimento, recebendo a mesma proteção conferida ao nome empresarial.

Outro elemento de identificação é a marca, que será estudada em capítulo próprio, quando tratarmos
da Propriedade Industrial.

Os elementos de exercício da empresa são aqueles que têm caráter de presença da atividade.
Assim, enquanto os elementos de identificação remontam à ideia de quem desempenha a atividade,
os elementos de exercício demonstram onde e como essa atividade está sendo desempenhada.

Estabelecimento empresarial é o complexo de bens móveis (universitas fact), corpóreos e


incorpóreos, destinados à atividade empresarial pelo empresário.

Vale ressaltar que uma vez criado um estabelecimento empresarial, este recebe tratamento global
de bem móvel e imaterial, assim qualquer bem imóvel que seja utilizado na atividade empresarial fica
necessariamente excluído do conceito de estabelecimento empresarial.

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Diante desse conceito, há que se diferenciar as espécies de estabelecimentos empresariais, sendo
eles a matriz, as filiais ou sucursais.

Matriz não é, ao contrário do que diz o senso comum, o meio estabelecimento de uma empresa, e
sim o local (se não houver disposição expressa no estatuto ou contrato social) em que ficam
centralizadas as decisões.

Portanto, a matriz está no centro decisório, onde o empresário exerce seu poder de governo sobre a
empresa, no local em que as decisões principais e as de maior vulto são tomadas. Filiais, sucursais
ou agências são os demais estabelecimento empresarias pertencentes ao empresário que estão
vinculados às decisões da matriz. Alguns autores fazem a distinção entre os termos filial e sucursal,
dando maior ênfase de importância à sucursal como uma espécie de estabelecimento secundário,
logo abaixo, em cadeia hierárquica, à matriz. Contudo, tal distinção é irrelevante, pois não há
qualquer importância prática na diferenciação de filiais e sucursais como há em relação a estas e à
matriz.

O estabelecimento empresarial pode ser cedido, bastando para isso o acordo das partes, bem como
o instrumento de venda, que não precisa ser público, visto que os bens imóveis não integram o
estabelecimento empresarial.

A venda deve ser registrada na Junta Comercial, e a alteração pode ser averbada no registro das
empresas envolvidas. Com a venda após o registro, toda a transação passa a ter eficácia contra
terceiros, assim como ocorre na venda de imóveis, por exemplo.

Outro ponto fundamental é a consequente obrigação negativa que surge ao alienante de não contrair
novo estabelecimento de forma a apresentar concorrência ao adquirente. Tal obrigação tem prazo
legal previsto de cinco anos, contudo pode ser reduzido pelo acordo das partes.

A proibição visa a impedir a concorrência, ressalte-se, e não a aquisição de outro estabelecimento


para o exercício de atividade empresarial diversa. Vale ressaltar, ainda, que o estabelecimento
comercial não é passível de penhora, sendo os bens que o compõem, individualmente, penhoráveis,
contudo, o conglomerado não é bem-visto pela doutrina e jurisprudência.

Pesquise mais sobre os elementos de empresa, sobretudo sobre a clientela e o aviamento.

2.5 Dissolução
O encerramento da sociedade empresária se dá de duas formas:

• Procedimento dissolutório regular;

• Falência.

Vale mencionar que o mero encerramento das atividades não extingue a personalidade jurídica da
sociedade empresária, o que pode gerar sua responsabilização por dívidas contraídas durante sua
existência.

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O procedimento dissolutório regular será exercido toda vez que a empresa detenha numerários
suficientes para que possa custear seu encerramento, quitando os valores que deve. É estruturado
em três fases, conforme quadro que segue:

Abrange a vontade das partes de encerrar a sociedade ou mesmo


outras hipóteses de encerramento da sociedade empresária descritas
Dissolução no art. 1.033 ss., do Código Civil

É a quitação de todas as dívidas da sociedade (passivo) com seu


patrimônio (ativo). (art. 1102 ss., CC)
Liquidação

Quitadas as dívidas da sociedade, caso sobre patrimônio, este será


dividido entre os sócios conforme suas quotas societárias.
Partilha

A falência de uma sociedade empresária pode ocorrer por dois motivos:

• Falência de fato: em que o passivo é superior ao ativo, ou seja, não há patrimônio suficiente
para pagar todas as dívidas societárias;

• Falência jurídica: em que, independentemente do ativo e do passivo da sociedade, as


práticas dos atos falimentares descritos no art. 94 da Lei de Recuperação de Empresas e
Falência (Lei nº 11.101/2005) são suficientes para que a sociedade tenha declarada sua
falência.

Considerações Finais
Neste capítulo, você viu os elementos essenciais sobre a empresa, como ela consiste em uma
atividade que reúne elementos específicos para sua identificação. Viu também que a empresa, como
atividade, precisa ser exercida por um sujeito de direitos, que pode ser uma pessoa física ou jurídica
e que assume a posição de empresário. Assim, será uma pessoa física toda vez que a empresa for
exercida diretamente pela pessoa natural, sem a interposição de qualquer abstração jurídica.

Já a pessoa jurídica é formada pela criação de sociedades empresárias, que podem ser unipessoais
ou pluripessoais. Quando criada uma sociedade ou realizada a atividade por uma pessoa física,
verifica-se que alguns elementos são essenciais ao desenvolvimento válido da empresa como
atividade, quais sejam, os elementos de exercício e os elementos de identificação.

Além disso, uma vez que a empresa comece a funcionar, somente poderá ser extinta por meio da
realização de procedimento dissolutório, ao passo que a mera cessação da atividade não implicará
em sua extinção, haja vista que vige, no sistema nacional, o Princípio da Manutenção da Empresa.

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Por meio desse princípio, o que se pretende é resguardar a existência da empresa para que esta
continue atingindo seus fins sociais, uma vez que a atividade é intimamente ligada ao
desenvolvimento econômico nacional.

CONCEITO DE EMPRESA

• Sob o prisma econômico é uma “combinação de elementos pessoais e reais, colocados em função de
um resultado econômico, e realizada em vista de um intento especulativo de uma pessoa, que se
chama empresário” (REQUIÃO, 2010, p. 74).

• A empresa não é sujeito de direitos.


CONCEITO DE EMPRESÁRIO

• Empresário é a pessoa, física ou jurídica, titular da atividade empresarial, que a exerce


profissionalmente.
ESPÉCIES DE EMPRESÁRIO

• O empresário pessoa física é aquele que exerce individualmente, em nome próprio, a atividade definida
como empresarial.

• A pessoa jurídica que exerce atividade empresarial é chama de sociedade empresária.

• Para que possa existir uma pessoa jurídica, são necessários os seguintes requisitos:
o Sócios plenamente capazes (conforme já estudado)
o Objeto lícito
o Forma prevista em lei

• A sociedade empresária terá seu início com o registro de seus atos constitutivos na Junta Comercial
do Estado, no nosso caso, a JUCESP.
ELEMENTOS DA EMPRESA

• Elemento de identificação é aquele que remete qualquer pessoa à ideia de determinada empresa:
o nome empresarial
▪ Firma, ou razão social
▪ Denominação, ou nome fantasia
o as marcas

• Elementos de exercício da empresa são aqueles que têm caráter de presença da atividade:
o Estabelecimento empresarial
o Clientela
o Aviamento
DISSOLUÇÃO

• O encerramento da sociedade empresária se dá de duas formas:

• Procedimento dissolutório regular

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o Fases:
▪ Dissolução (ato)
▪ Liquidação
▪ Partilha

• Falência

QUESTÃO: Para que alguém seja considerado empresário, é necessário que:


a) Não exerça a empresa profissionalmente.
b) Exerça a empresa excepcionalmente.
c) Pratique atos de comércio.
d) Exerça a empresa profissionalmente.
e) Constitua pessoa jurídica na modalidade de sociedade empresária.
A alternativa correta é a letra D, uma vez que é empresário aquele que exerce a empresa como sua atividade
principal, ou seja, sua profissão.

Questão Objetiva
QUESTÃO: Para o exercício da atividade empresarial, deve o sujeito:
a) Ter capacidade plena.
b) Ter capacidade limitada.
c) Ter maioridade civil.
d) Ter menoridade civil.
e) Ser casado.
Questão Discursiva
Quais são as modalidades de nomes empresariais?

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Outorga – autorização
Cônjuges – casados
Remonta – refere-se
Patronímico – popularmente conhecido como sobrenome

Obra: MARTINS, Fran. Curso de direito comercial: empresa comercial, sociedades empresárias, comércio
eletrônico, lei de Anticorrupção empresarial, responsabilidade empresarial, registro de empresa, concorrência.
37. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014
Obra de leitura aprofundada. Vale-se de uma linguagem mais complexa. Aborda conteúdos mais profundos e
específicos, que são de tamanha importância ao estudo do Direito Empresarial em sua completude. É uma
obra voltada para o trato do Direito Societário em si, com a abordagem dos conceitos básicos do Direito
Empresarial em seus primeiros capítulos. Interessante abordagem sobre a responsabilidade dos sócios que
será utilizada futuramente. Trata com aprofundamento os princípios da Ordem Econômica atinentes ao Direito
Empresarial.

Questão Objetiva - GABARITO: A.


Questão Discursiva - Resposta: Firma, ou razão social; e denominação, ou nome fantasia.

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UNIDADE II
CAPÍTULO 3 – PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Ao término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Aspectos gerais sobre a propriedade industrial

✓ Marca

✓ Invenção

✓ Modelo de utilidade

✓ Desenho industrial

✓ Segredo industrial

Introdução

Quanto à teoria geral do Direito Empresarial, você já está com uma boa base.

Agora, é importante lembrar que todos os conceitos devem ser revisados, bem como sugere-se um
acompanhamento dessa revisão em conjunto com a lei, principalmente quanto ao procedimento
dissolutório, que é bastante complexo em seus regramentos.

No capítulo anterior, falamos sobre os elementos de identificação das empresas, dentre os quais foi
mencionada a marca. As marcas são, de fato, elementos de identificação da empresa, porém são
tratadas em separado, haja vista que se unem a outros institutos jurídicos intimamente relacionados
ao desenvolvimento da atividade empresarial.

Esses institutos são as propriedades industriais, compreendendo não apenas a marca, como sinal
identificativo, como também as invenções, os desenhos industriais e os modelos de utilidade.

É evidente que o desenvolvimento das empresas nem sempre resulta no surgimento dessas
propriedades, mas ainda que não seja esse o fim empresarial, é, com certeza, o meio para o
desenvolvimento.

Imagine uma loja de roupas locais; nessa loja, inúmeras marcas são utilizadas, o que agrega valor
às peças de vestuário. Nessa mesma loja, são usados ferros de passar roupa ou, até mesmo, estes
são substituídos por passadores de roupas a vapor. Veja que, neste último exemplo, falamos de
invenções, modelos de utilidade, além da existência da marca e nada, em absoluto, refletia a
atividade final da empresa em questão (loja de roupas).

Por esse motivo, falar em empresa e não mencionar a propriedade industrial seria uma tarefa
impossível.

Bons estudos!

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3.1 Aspectos gerais sobre a Propriedade Industrial

A propriedade industrial regulamenta a proteção e os direitos que envolvem as propriedades com


aplicação eminentemente empresarial.

Nesse sentido:

O direito industrial é a divisão do direito comercial que protege os interesses dos


inventores, designers e empresários em relação às invenções, modelos de utilidade,
desenho industrial e marcas. (COELHO, 2020, p. 139)

Os bens tratados como propriedades industriais são as invenções, os modelos de utilidade, os


desenhos industriais e as marcas.

O diploma legal que regulamenta a propriedade industrial, em todas as suas formas, é a Lei de
Propriedade Industrial, Lei nº 9.279/96.

Conheça a Lei de Propriedade Industrial, acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm

3.2 Marca

A marca é o sinal distintivo de determinado produto, mercadoria ou serviço (REQUIÃO, 2010, p. 282).
Assim, diz-se que a marca tem a função de individualizar um produto ou linha de produção de forma
a fidelizar a clientela que tenha sido atraída por ele.

É por meio da marca que se pode adquirir sempre os produtos de determinado fabricante, sendo que
a ela estão atreladas todas as características do sujeito (fabricante/empresário), dentre elas sua
fama, suas qualidades, seus defeitos, entre outros.

São requisitos das marcas:

• Originalidade – significa dizer que a marca deve ser desimpedida, ou seja, não pode se
utilizar de sinais proibidos ou que copiem outras marcas já existentes. A marca deve ser
original, proveniente da criação imaginativa humana.

• Novidade – a novidade, diferentemente do que ocorre com a originalidade, advém da ideia


do registro da marca, ou seja, é novo aquilo que não tem registro, ainda que a ideia não seja
inédita.

• Licitude – a marca não deve contrariar, por seus sinais, a lei, a moral e os bons costumes.

São tipos de marcas:

• Verbais ou nominativas – são aquelas compostas por frases ou palavras isoladas.

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• Emblemáticas ou figurativas – são aquelas formadas por desenhos, figuras ou formas
abstratas.

Quanto as suas espécies são classificadas como:

• Singulares ou especiais – visam a identificação de um único produto ou objeto.

• Gerais ou genéricas – visam a identificação da procedência de um produto, indicando a


empresa que o produz.

• Coletiva – é aquela que tem mais de um titular, ou seja, um grupo de pessoas se utiliza da
marca, que remete, por sua vez, a todo o grupo, quando aplicada.

• De certificação – é aquela que tem por objetivo atestar a qualidade de um determinado


produto e sua conformidade com normas técnicas. Ex. INMETRO.

• Alto renome – são aquelas marcas que têm enorme conhecimento pelo público, gozando de
proteção especial, inclusive quanto ao registro em ramos diversos.

• Notórias – são aquelas que, devido ao seu alto nível de conhecimento, gozam de proteção
que independe de registro, por exemplo, Coca-Cola.

Contudo, alguns sinais não podem ser registrados como marcas, sendo aqueles previstos no artigo
124, da Lei nº 9.279/96:

Art. 124. Não são registráveis como marca:

I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais,


públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva
designação, figura ou imitação;

II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de suficiente forma


distintiva;

III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos bons
costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade
de consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimento dignos de respeito e
veneração;

IV - designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o


registro pela própria entidade ou órgão público;

V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de


estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão
ou associação com estes sinais distintivos;

VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo,


quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado
comumente para designar uma característica do produto ou serviço, quanto à
natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação
do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

VII - sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda;

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VIII - cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo
peculiar e distintivo;

IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que


possa falsamente induzir indicação geográfica;

X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza,


qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina;

XI - reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada para garantia de


padrão de qualquer gênero ou natureza;

XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como marca coletiva
ou de certificação por terceiro, observado o disposto no art. 154;

XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural, social, político,
econômico ou técnico, oficial ou oficialmente reconhecido, bem como a imitação
suscetível de criar confusão, salvo quando autorizados pela autoridade competente
ou entidade promotora do evento;

XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da União, dos


Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, ou de país;

XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de


terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;

XVI - pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico singular ou


coletivo, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;

XVII - obra literária, artística ou científica, assim como os títulos que estejam
protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de causar confusão ou associação,
salvo com consentimento do autor ou titular;

XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha relação com
o produto ou serviço a distinguir;

XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo, de


marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico,
semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia;

XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou serviço, salvo


quando, no caso de marcas de mesma natureza, se revestirem de suficiente forma
distintiva;

XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de acondicionamento, ou,


ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito técnico;

XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de terceiro; e

XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o requerente
evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua atividade, cujo titular seja
sediado ou domiciliado em território nacional ou em país com o qual o Brasil
mantenha acordo ou que assegure reciprocidade de tratamento, se a marca se
destinar a distinguir produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de
causar confusão ou associação com aquela marca alheia.

O registro de nova marca será realizado por meio de requerimento ao INPI (Instituto Nacional de
Propriedade Industrial), com endereçamento ao presidente do instituto.

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Com a protocolização do requerimento, haverá o depósito, contando a data do pedido que será
submetido a exame para aprovação ou rejeição do registro. Após a aprovação, é cabível recurso
administrativo, se negada, ou será expedido certificado de registro para concretizar o ato de
aprovação.

O cancelamento, ou a nulidade do registro, pode ser declarado por meio de Ação de Nulidade,
prevista na Lei nº 9.279/96, e tem por objetivo submeter à apreciação do Poder Judiciário, registro
que se imputa violar disposição da lei. Assim, o INPI ou outro interessado pode ingressar com a ação
para questionar a legitimidade de determinado registro, desde que o faça no prazo prescricional de
cinco anos. Transcorrido o prazo, a marca ter-se-á por legítima e ficará consolidada.

O prazo de validade da marca termina em dez anos, contudo pode ser prorrogado por período igual,
até que a atividade cesse ou que o registro seja cancelado. Caducará o registro quando no prazo de
cinco anos a marca não tiver sido utilizada no país após o seu registro.

A marca pode ser submetida à cessão, à transferência e ao contrato de licença de uso.

• Cessão – consubstancia-se na alienação da marca, seja por ato inter vivos ou por sucessão
causa mortis. Assim, a marca, como bem imaterial, pode ser perfeitamente alienada para
terceiro que preencha os requisitos da lei.

• Transferência – a transferência é o ato que concretiza a cessão, caracterizando-se por ser


uma anotação no registro da marca, em que constará a mudança na titularidade.

• Contrato de Licença de Uso – trata-se de contrato que permite, como o próprio nome diz, o
uso da marca por terceiro, ou terceiros, mediante remuneração, sem transferir a propriedade.
Grosso modo, para melhor entendimento, poder-se-ia estabelecer comparativo com um
aluguel da marca.

Reflita em como a marca pode agregar valor à determinado produto.

3.3 Invenção

O conceito de invenção não está inserido na lei, devendo, para tal, ser a propriedade com fins
industriais, nova e proveniente da criatividade humana.

Assim, a lei apenas delimita aquilo que não é invenção, disciplinando em seu art. 10:

Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade:

I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;

II - concepções puramente abstratas;

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III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros,
educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;

IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação


estética;

V - programas de computador em si;

VI - apresentação de informações;

VII - regras de jogo;

VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos


ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e

IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na


natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de
qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

Alguns requisitos devem ser observados para a concessão da patente, a saber:

• Novidade – é novo aquilo que é desconhecido pelo estado da técnica. Por estado da técnica,
temos todo o acervo de estudo e pesquisas conhecidas pelos cientistas e demais
especialistas.

• Atividade inventiva – uma atividade é inventiva, ao passo que não decorre naturalmente ou
de forma óbvia do estado da técnica; ou seja, a atividade inventiva se consubstancia na
capacidade humana de criar alternativas inusitadas para problemas, por meio do uso de
técnicas cuja decorrência lógica não implique na solução alcançada.

• Industriabilidade – significa dizer que o invento deve ter aplicação em atividade produtiva.

• Desimpedimento – os impedimentos são de ordem pública, ou seja, desde que o interesse


público não seja desfavorecido pela concessão de patente, a patente pode ser realizada sem
problemas.

Lembre-se de que a invenção assume o caráter de novidade, algo que não foi ainda criado no mundo industrial.

3.4 Modelo de utilidade

O modelo de utilidade é definido no artigo 9º da Lei de Propriedade Industrial:

Art. 9º É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte


deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,

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envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua
fabricação.

Assim, grosso modo, diz-se que o modelo de utilidade surgiu para melhorar a utilização de um
invento. Dessa forma, o modelo de utilidade não precisa gerar algo inédito, como ocorre na invenção,
contudo deve apresentar nova forma de utilização.

Os requisitos para o registro do modelo de utilidade são os mesmos da invenção, notando-se,


evidentemente, que o caráter de novidade não faz menção ao ineditismo, e sim à nova apresentação
com melhoria funcional do que já existe.

Ressalta-se que a melhoria é um caráter primordial do modelo de utilidade, sem a melhoria o modelo
será recebido como adição de invenção apenas.

O modelo de utilidade é intimamente ligado à ideia da invenção, contudo não tem o mesmo caráter de
ineditismo, sendo uma criação derivada de outra, literalmente um melhoramento ou uma releitura de algo que
já exista.

3.5 Desenho industrial

Previsto no artigo 95 da Lei de Propriedade Industrial, é conceituado como:

Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto


ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,
proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que
possa servir de tipo de fabricação industrial.

Diferentemente do que ocorre com a invenção ou o modelo de utilidade, o desenho industrial visa
apenas a apresentação de um produto, alterando sua aparência, em nada modifica sua utilidade.

Pesquise sobre as formas dos produtos, como constituem elementos de seu marketing e como contribuem
para a valorização dos produtos.

3.6 Segredo industrial

O segredo industrial pauta-se pela criação de uma invenção, ou modelo de utilidade cujo registro não
foi efetuado, evitando, assim, que a técnica nova se torne pública.

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Com o segredo industrial, o inventor pode manter eternamente o domínio sobre sua técnica sem que
mais ninguém possa tomar conhecimento, desde que mantenha suas informações em
confidencialidade.

Não há qualquer proteção ao segredo industrial, o que implica dizer que, uma vez descoberto o
segredo por outra pessoa interessada, se esta levar o mesmo à registro, terá adquirido o direito de
exclusividade no uso do invento ou modelo.

3.7 Prazos de validade

A invenção tem validade de vinte anos, e o modelo de utilidade, de quinze anos.

Os desenhos industriais têm validade por dez anos, podendo ser prorrogado esse prazo por mais
cinco anos por três vezes sucessivas.

Após o término do prazo, toda propriedade industrial cai em domínio público, ou seja, o conhecimento
técnico passa a ser universal, bem como qualquer pessoa pode utilizar-se da invenção ou modelo,
ou desenho, livremente.

Considerações Finais
Neste capítulo, vimos que a propriedade industrial é intimamente ligada ao desenvolvimento da
empresa, ao passo que é por meio dos inventos e dos modelos de utilidade que se consegue
aprimorar o desenvolvimento da atividade de empresa, tornando-a melhor e mais lucrativa.

Além disso, vimos que as marcas e os desenhos industriais têm sua ampla utilização vinculada ao
fomento da identidade empresarial, com a identificação de produtos ou, até mesmo, da empresa,
como também pelo aformoseamento daquilo que é oferecido, tornando o produto ou serviço prestado
mais atrativo. Com isso, a propriedade industrial está para a empresa como os Direito Autorais estão
para o homem em suas relações civis de cultura.

O ser humano é inventivo por natureza, sendo que seria completamente impossível desvincular a
prática empresarial de sua capacidade inventiva, fazendo com que o regramento da propriedade
industrial seja extremamente necessário para a garantia das criações humanas com aplicabilidade
industrial.

Contudo, conforme visto, a propriedade industrial tem vias ao fomento da atividade de indústria, que
deve ser entendida em seu amplo espectro. A propriedade industrial tem aplicação prática e
empresarial, seu foco é a produção, a melhoria da vida em si sob um aspecto de consumo. Difere
dos direitos autorais, ao passo que estes estão ligados à cultura, ao desenvolvimento do saber
humano.

Assim, um livro técnico de Direito é reflexo da cultura, fomentando o desenvolvimento da ciência em


si, enquanto a máquina responsável pelo encadernamento e pela reprodução do texto em sua via
impressa é relacionada à propriedade industrial.

32
ASPECTOS GERAIS SOBRE A PROPRIEDADE INDUSTRIAL

• O direito industrial é a divisão do direito comercial que protege os interesses dos

inventores, designers e empresários em relação às invenções, aos modelos de


utilidade, ao desenho industrial e às marcas (COELHO, 2020, p. 139).

• Lei de Propriedade Industrial, Lei nº 9.279/96.

MARCA

• A marca é o sinal distintivo de determinado produto, mercadoria ou serviço.

• São requisitos:

o Originalidade

o Novidade

o Licitude

• O registro será realizado no INPI.

• A marca pode ser submetida à cessão, à transferência e ao contrato de licença de uso.

INVENÇÃO

• O conceito de invenção não está inserido na lei, devendo, para tal, ser a propriedade com fins
industriais, nova e proveniente da criatividade humana.

MODELO DE UTILIDADE

• É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação
industrial que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo que resulte em melhoria
funcional no seu uso ou em sua fabricação.

DESENHO INDUSTRIAL

• Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental


de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original
em sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial.

SEGREDO INDUSTRIAL

• O segredo industrial pauta-se pela criação de uma invenção ou de um modelo de utilidade cujo registro
não foi efetuado, evitando, assim, que a técnica nova se torne pública.

• Não há qualquer proteção ao segredo industrial.

PRAZOS DE VALIDADE

33
• invenção – vinte anos

• modelo de utilidade – quinze anos

• desenhos industriais – dez anos prorrogáveis por mais cinco anos por três vezes sucessivas

Considera-se ___________________ a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de


linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original em sua
configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial
a) Modelo de utilidade.
b) Invenção.
c) Marca.
d) Segredo industrial.
e) Desenho industrial.

Resposta correta: E.
Todo aformoseamento ou forma de apresentação de produtos ou serviços, caracterizado como sua aparência,
é definido como desenho industrial.

Questão Objetiva
É patenteável como _____________________ o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação
industrial que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo que resulte em melhoria funcional
no seu uso ou em sua fabricação.
a) Modelo de utilidade.
b) Invenção.
c) Marca.
d) Segredo industrial.
e) Desenho industrial.
Questão Discursiva
Informe quais são os requisitos para registro de uma marca.

34
Obra: FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
Uma obra moderna, marcada pela clareza de conceitos e objetividade quando do trato da disciplina. É uma
leitura bastante simples e didática. Como manual, tem um trato da disciplina mais objetivo, simplificado, tendo
menor conteúdo científico e tratando o tema sob um enfoque mais prático. Trata com aprofundamento os
princípios da ordem econômica atinentes ao Direito Empresarial.

Agrega – soma

Distintivo – identificativo

Atreladas – relacionadas, vinculadas

Imputa – atribui

Questão Objetiva - Resposta correta: A


Questão Discursiva
Resposta: São requisitos: originalidade; novidade; licitude.

35
UNIDADE II
CAPÍTULO 4 – DIREITO CAMBIÁRIO
Ao término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Conceito de títulos de crédito

✓ Princípios

✓ Classificação

✓ Endosso

✓ Aval

✓ Protesto

Introdução

Chegou a hora de iniciarmos a segunda parte de nossa disciplina de Teoria Geral do Direito
Empresarial e Cambiário, uma vez que concluímos a teoria geral do Direito Empresarial.

Você já sabe o que é empresa, como ela é desenvolvida, quais são as modalidades de empresário
que nosso sistema admite, bem como estudou a fundo os elementos de identificação e exercício da
empresa e, em seguida, aprofundou-se nas propriedades industriais.

Agora chegou o momento de estudar o Direito Cambiário, a parte do Direito Empresarial que resulta
na circulação de crédito no mercado econômico, através da transmissão de títulos representativos
dessas relações creditícias.

Nesse primeiro contato, serão abordados os aspectos gerais do Direito Cambiário, que, vale a pena
enfatizar, não é ramo independente, mas parte do Direito Empresarial.

Assim, veremos as definições gerais sobre os títulos de crédito, bem como observaremos os
princípios específicos que os definem e individualizam.

Neste capítulo, também estudaremos a classificação dos títulos de crédito, que pode variar de título
para título, bem como os institutos do aval, endosso e protesto, que são institutos aplicáveis a todos
os títulos de crédito como padrão.

Bons estudos!

4.1 Conceito de título de crédito

O conceito de título de crédito está estampado no Código Civil, em seu artigo 887:

Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e


autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

Assim, verifica-se que o conceito legal aduz a alguns elementos essenciais que são representados
pelos princípios a seguir:

36
• Títulos são documentos

• Constituem direito literal

• Instituem relações de crédito autônomas

Reflita em como os títulos de crédito podem tornar, ou tornaram, as transações comerciais mais simples em
relação ao transporte de valores e pagamentos.

4.2 Princípios

Todo título de crédito tem princípios próprios inerentes à sua condição especial, sendo intimamente
ligados aos conceitos anteriormente estudados. Observe:

• Cartularidade: somente pode exercer os direitos representados no título quem o possuir


(possuir a cártula/papel/título) no original. Hoje a questão é relativizada pelos títulos digitais.

• Literalidade: os direitos aos quais se refere o título devem estar escritos no próprio título sob
pena de nulidade.

• Autonomia: divide-se em dois subprincípios.

o Abstração: quando o título circula (por endosso), não se vincula à relação jurídica
que lhe deu causa.

o Inoponibilidade: das exceções pessoais a terceiros de boa-fé: é o desdobramento


processual do princípio da abstração; assim, quando o título circula (por endosso),
não podem ser alegadas no processo quaisquer defesas em relação ao negócio
jurídico que deu causa à emissão do título, mas somente aspectos formais de validade
do título ou referentes à relação entre o endossante e o endossatário.

Os princípios relativos aos títulos de crédito são específicos e denotam sua autonomia creditícia, sem os quais
os títulos perderiam sua representatividade de crédito.

37
4.3 Classificação

A classificação dos títulos de crédito é bastante variada. Sendo assim, podem ser verificados quanto
à forma de circulação, ao modelo, à estrutura e às hipóteses de emissão. Observe o esquema a
seguir:

Fonte: Ramos (2017)

Assim, as classificações podem ser entendidas da seguinte forma:

• Quanto à forma de circulação:

o Ao portador: é aquele que circula pela tradição simples do título.

o Nominal à ordem: é aquele que identifica expressamente seu titular e admite


transmissão via endosso.

o Nominal não à ordem: é aquele que identifica expressamente seu titular e não admite
transmissão via endosso.

o Nominativos: são aqueles cujo registro de titularidade é feito em local específico e


mantido junto ao emissor do título. Para que haja transferência, deve haver a alteração
do registro.

• Quanto ao modelo:

o Livres: embora tenham requisitos legais, não têm modelo específico.

o Vinculados: são aqueles cujo modelo é padronizado por órgão ou entidade


governamental.

38
• Quanto à estrutura:

o Ordem de pagamento: consistem em títulos que são emitidos por um sacador, para
que o sacado faça o pagamento ao tomador. Assim, apresentam três situações
jurídicas distintas.

o Promessa de pagamento: são aqueles em que existem apenas duas situações


jurídicas, aquele que promete realizar o pagamento (e que pagará) e aquele que se
beneficia do pagamento.

• Quanto às hipóteses de emissão:

o Causais: apenas pode ser emitido em hipóteses permitidas em lei.

o Abstratos: não têm condicionamento em suas causas de emissão.

A classificação dos títulos é geral, de forma que se apresenta uniforme para todos, sendo que cada espécie
enquadrará classificações próprias a depender de sua utilização.

4.4 Endosso

É o ato cambial responsável pela transferência dos créditos representados pelo título de crédito.

De modo geral, o instituto do endosso está disciplinado nos arts. 11 e seguintes da Lei Uniforme de
Genebra (Decreto nº 57.663/66).

São sujeitos do endosso:

• Endossante: quem era o antigo tomador do título e transferiu o crédito nele representado a
terceiro.

• Endossatário: a quem o título é transferido, tornando-se o novo tomador/beneficiário do


crédito nele descrito.

São efeitos do endosso:

• Transferência do crédito representado na cártula.

• Garantia do endossante pelo crédito cedido ao endossatário.

O endosso é realizado com a aposição da assinatura do endossante no verso da cártula ou no


anverso, desde que acompanhado nesse caso da expressão “por endosso” ou equivalente.

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São espécies do endosso:

• Próprio: é o ordinário, que produz os efeitos típicos do endosso.

o Em branco: é aquele que não identifica o endossatário, tornando o título ao portador


em relação à sua circulação;

o Em preto: é aquele que identifica o endossatário.

• Impróprio: não produz os efeitos típicos do endosso, transferindo apenas a posse do título,
sem a totalidade dos direitos a ele relativos.

o Mandato: confere ao endossatário poderes para agir como procurador/mandatário,


exercendo em nome do endossante os direitos contidos no título, como poder de
cobrar, protestar, executar etc. É realizado com a aposição junto ao endosso da
expressão “por procuração”, “para cobrança”, “valor a cobrar” ou equivalente. Vide
arts. 18, LU e 917, CC. O mandatário responde pelos excessos no exercício de seus
poderes.

o Caução: é também chamado de pignoratício ou endosso garantia, pois é aquele em


que a cártula é transferida a terceiro a título de garantia de empréstimo, de maneira a
autorizar que o endossatário se torne o beneficiário do título no caso de
inadimplemento do endossante em relação ao empréstimo. Vide arts. 19, LU e 918,
CC.

Endosso póstumo ou tardio: está disciplinado no art. 20, LU e art. 920, CC. É aquele que é dado
após o protesto do título, produzindo os efeitos de uma cessão de crédito, conforme dispõe o Código
Civil. Nada impede que o título seja endossado após seu vencimento, caso em que produzirá seus
efeitos normalmente, mas, caso o seja após o protesto, produzirá os efeitos de uma cessão de
crédito.

Endosso parcial ou limitado: é aquele em que é transferida apenas parte da dívida representada
no título. É vedado de forma expressa nos arts. 12, LU e 912, CC.

Não há limites quanto ao número de endossos. O endossante pode endossar o título com a cláusula
“sem garantia”, hipótese em que não será coobrigado por seu pagamento. Pode ainda endossar com
a cláusula de proibição de novo endosso, não respondendo pelo pagamento do título perante às
pessoas a quem o título for posteriormente endossado (art. 15, LU).

40
4.5 Aval

É o ato de natureza cambial por meio do qual um terceiro (avalista) se responsabiliza pelo pagamento
de obrigação constante em título de crédito, respondendo em condição equiparada ao avalizado.
Está disciplinado como regra geral no art. 30 e seguintes da LU e art. 897, CC.

Como regra geral, o aval é realizado com a aposição da assinatura do avalista no anverso (frente)
do título, sem impedimento de que seja feito no verso da cártula, hipótese em que deverá ser
acompanhado da expressão “por aval” ou equivalente. O aval é dotado de autonomia em relação à
obrigação avalizada, de maneira que o avalista não pode opor exceções pessoais do avalizado ou
discutir a causa debendi.

O aval pode, ainda, ser contrário à vontade do avalizado ou ocorrer antes mesmo do surgimento da
obrigação do avalizado. Para o aval, é exigida a outorga uxória nos casos em que o avalista não for
casado no regime da separação absoluta de bens (convencional ou obrigatória), sob pena de
nulidade da garantia (art. 1.647, III, CC).

São espécies de aval:

• Em branco: aval que não indica o avalizado. Nesse caso, presume-se que foi dado em favor
do sacador/emitente do título.

• Em preto: é o aval que especifica em favor de quem foi dado, indicando, portanto, o
avalizado.

• Simultâneos: também chamados de coavais, ocorrem quando duas ou mais pessoas


avalizam um título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial. Nesse caso, os
avalistas se tornam responsáveis solidários pela dívida avalizada.

• Sucessivos: também chamados de aval de aval, ocorrem quando uma pessoa avaliza outro
avalista. Nesse caso, os avalistas dos avalistas terão a mesma responsabilidade do
avalizado, isto é, aquele que pagar a dívida terá direito de regresso em relação ao total que
pagou, e não apenas em relação a uma parte dela.

Pesquise sobre as diferenças existentes entre o aval e a fiança.

4.6 Protesto

É o “ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação


originada em títulos e outros documentos de dívida” (art. 1, Lei nº 9.492/97). É regulado pela Lei de
Protestos, Lei nº 9.492/97.

41
O protesto será tirado por três motivos (art. 21):

• Falta de pagamento

• Falta de aceite

• Falta de devolução

São espécies:

• Facultativo: via de regra, protestar um título é uma faculdade do credor, de modo que, se
optar por não o fazer, poderá cobrar o crédito disposto no título somente do devedor principal
e seus avalistas;

• Necessário: o protesto somente é indispensável se o credor desejar cobrar os codevedores,


como é o caso do endossante, que é garantidor do título que endossou, conforme já
estudamos. O protesto ainda pode ser necessário para outras finalidades, como é o caso do
disposto no art. 94, I, da Lei nº 11.101/05, que disciplina que para o pedido de falência é
necessário que o credor comprove que o devedor tem 40 salários-mínimos protestados.

São efeitos:

• Possibilita a cobrança dos codevedores.

• Torna a cobrança pública (oponível erga omnes).

• Gera a inscrição do nome dos devedores nos órgãos de proteção ao crédito.

• Interrompe a prescrição (não se aplica mais a súmula 153, STF, em razão do art. 202, III, CC.

É possível o pedido de sustação de protesto somente quando este ainda não foi lavrado; do contrário,
somente é possível a sustação de seus efeitos, permanecendo o protesto nos assentamentos do
Cartório de Protesto de Títulos e Documentos até seu devido cancelamento.

Esse cancelamento pode ser feito mediante pagamento no próprio cartório ou em outro lugar. Nesse
último caso, o protesto somente poderá ser cancelado por aquele que o registrou, ou seja, o antigo
credor, salvo se este fornecer autorização ao devedor para fazê-lo. Na prática, tal autorização é
prática bastante comum e é chamada de carta de anuência. O cancelamento do protesto é ônus do
devedor.

Veja o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça quanto à responsabilidade civil referente ao


protesto:

Súmula 475 - Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário


que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco
ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e
avalistas.

Súmula 476 - O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde


por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário.

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Todos os documentos protocolizados para protesto serão analisados em seus caracteres formais e
terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao tabelião de protesto investigar a ocorrência
de prescrição ou caducidade (art. 9º, Lei de Protesto).

Saiba mais como funciona o protesto nos cartórios. Acesse:


https://www.tabelionatoportobelo.com.br/protesto-de-titulos-o-que-e-e-como-funciona/

Considerações Finais
Neste capítulo, vimos as primeiras linhas sobre o Direito Cambiário, abordando os aspectos de
definição, classificação e princípios dos títulos de crédito.

Vale mencionar que os títulos de crédito são documentos fundamentais na sistemática econômica
nacional, que, embora no contexto atual de transferências eletrônicas tenha perdido sua aplicação
prática, são historicamente essenciais ao desenvolvimento das transações econômicas e, ainda,
mantêm suas funcionalidades e aplicações práticas.

Os títulos de crédito, conforme visto, são documentos que representam, em si mesmos, toda uma
relação de crédito autônoma, desprovidos de vinculação negocial para sua existência, o que confere
a eles uma circulação bastante dinâmica.

Contudo, os títulos têm sido menos utilizados no mundo real ao passo que as transações eletrônicas
têm substituído sua valia, com transações usando cartões de crédito ou débito e, até mesmo, o uso
de transferências que se operam em tempo real, como o PIX.

Mas não se pode imaginar que os títulos de crédito perderam por completo sua justificativa de
existência, bem como sua circulação, visto que hodiernamente ainda se vê a figura do cheque com
certa circulação, principalmente quando se referem a pagamentos de numerários mais elevados ou,
até mesmo, a existência das duplicatas, que se mantêm em franco uso no meio empresarial.

Sendo assim, os títulos de crédito, assim como o Direito Cambiário, ainda nutrem a força que obriga
seu estudo no mundo cotidiano, sendo a base para a formação de processos de execução em sua
grande maioria.

CONCEITO DE TÍTULOS DE CRÉDITO

• O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido,
somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

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PRINCÍPIOS

• Cartularidade

• Literalidade

• Autonomia

o Abstração

o Inoponibilidade

CLASSIFICAÇÃO

• Quanto à forma de circulação

o Ao portador

o Nominal à ordem

o Nominal não à ordem

o Nominativos

• Quanto ao modelo

o Livres

o Vinculados

• Quanto à estrutura

o Ordem de pagamento

o Promessa de pagamento

• Quanto às hipóteses de emissão

o Causais

o Abstratos

ENDOSSO

• É o ato cambial responsável pela transferência dos créditos representados pelo título de crédito

AVAL

• É o ato de natureza cambial por meio do qual um terceiro (avalista) se responsabiliza pelo pagamento
de obrigação constante em título de crédito, respondendo em condição equiparada ao avalizado.

PROTESTO

• É o “ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada
em títulos e outros documentos de dívida” (art. 1, Lei nº 9.492/97).

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“Confere ao endossatário poderes para agir como procurador/mandatário, exercendo em nome do endossante
os direitos contidos no título, como poder de cobrar, protestar, executar etc.”. O trecho citado refere-se ao:
a) Endosso em preto.
b) Endosso caução.
c) Endosso mandato.
d) Endosso em branco.
e) Endosso próprio.
Resposta correta: C.
O trecho se refere ao endosso mandato, que confere poderes ao endossatário para que realize a cobrança do
título em lugar do credor do título, sem conferir ao endossatário a titularidade do crédito.

Questão Objetiva
Pessoa a quem o título é transferido, tornando-se o novo tomador/beneficiário do crédito nele descrito:
a) Endossante.
b) Avalista.
c) Endossatário.
d) Protestante.
e) Sacador.
Questão Discursiva
Defina título de crédito.

Obra: MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
Uma obra clássica, obra de leitura aprofundada. Vale-se de uma linguagem mais complexa. É uma obra de
trato aprofundado dos títulos de crédito. Trata-se de leitura obrigatória quando o assunto é a abordagem dos

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princípios e das características dos títulos de crédito. Embora seja uma obra complexa, de linguagem mais
técnica, tem um conteúdo bastante profundo e detalhado sobre cada instituto relativo aos títulos de crédito.

Transmissão – transferência

Emitido – sacado

Cártula – título

Aposição – colocação

Questão Objetiva - Resposta correta: C


Questão Discursiva
Resposta: O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido,
somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

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UNIDADE III
CAPÍTULO 5 – TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE I
Ao término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Letra de Câmbio

✓ Nota Promissória

✓ Cobrança da Letra de Câmbio e da Nota Promissória

Introdução

Com base na teoria geral do Direito Cambiário, foi possível verificar que os títulos de crédito surgiram
como documentos representativos, de forma autônoma, de toda uma relação creditícia estabelecida
entre os sujeitos envolvidos na formação desse documento.

Por seus princípios básicos, verifica-se que os títulos de crédito trazem em seu conteúdo a prova de
uma relação contratual de crédito, valendo independentemente das causas que os originaram,
sendo, inclusive, desvinculados, em regra, dessas causas.

Além disso, você também estudou três figuras importantes relativas aos títulos de crédito, que são o
aval, o endosso e o protesto.

O aval consiste em uma forma de garantia de aplicação específica nas relações cambiárias, em que
o avalista se vincula ao pagamento do título como se fosse o devedor principal, diferindo da relação
civil de fiança.

O endosso é o instituto responsável pela garantia de circulação dos títulos, o que remonta ao
dinamismo que deles se espera, ao passo que atuam como substitutos de moeda. Por fim, o protesto
se apresenta como uma forma de cobrança pública dos títulos não pagos.

Vale mencionar que os títulos de crédito surgiram historicamente na Idade Média, sendo que foram
criados para facilitar as trocas comerciais de uma cidade para a outra, evitando, assim, o transporte
de moedas por longos caminhos e que poderiam ser objeto de assaltos ou outros crimes. Sendo
assim, neste capítulo, você estudará dois títulos de origem medieval, mas que mantêm sua vigência
até os dias atuais, sendo a letra de câmbio e a nota promissória.

Vale ressaltar que esses títulos são a base de estudos para os demais, visto que são os modelos
representativos mais completos de ordem de pagamento e promessa de pagamento,
respectivamente.

Bons estudos!

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5.1 Letra de Câmbio

É o título de crédito mais antigo, tendo surgido na Idade Média com a finalidade de facilitar a
movimentação de quantias financeiras entre diferentes cidades por conta das variadas moedas
adotadas por elas.

É regida pela Lei Uniforme (Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966).

Consiste em uma ordem de pagamento, envolvendo, portanto, três situações jurídicas: uma pessoa
(sacador/emitente) ordena que alguém (sacado) pague a outrem (tomador/beneficiário).

Para a elaboração de uma letra de câmbio, devem ser observados os requisitos legais dos artigos
1º e 2º da Lei Uniforme:

• A expressão letra de câmbio;

• Uma ordem incondicional para pagamento de quantia determinada;

• O nome do sacado;

• O nome do tomador;

• A assinatura do sacador;

• A data do saque;

• O lugar do pagamento ou a menção de um lugar junto ao nome do sacado (vide art. 4º, LU –
letra domiciliada);

• O lugar do saque ou a menção de um lugar junto ao nome do sacador.

Vale mencionar que a época do pagamento não é requisito para emissão da letra. Ante sua ausência
será considerada a letra à vista (art. 2º, LU).

Denomina-se saque a emissão da letra de câmbio. Seu saque envolve três hipóteses:

• À ordem do próprio sacador: sacador = tomador

• Sobre o próprio sacador: sacador = sacado

• Por ordem e conta de terceiro: sacador, sacado e tomador são pessoas distintas (é a situação
ordinária)

A letra de câmbio pode ser emitida em branco ou incompleta, caso em que deve ser preenchida pelo
credor conforme combinado (art. 891, CC e Súmula 387, STF)

Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido
de conformidade com os ajustes realizados.

Súmula 387: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser
completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

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Via de regra, quanto à circulação, a letra é endossável (à ordem), conforme dispõe art. 11, LU,
considerando-se implícita essa cláusula. Entretanto, nada impede a aposição da cláusula “não à
ordem” ou expressão equivalente.

O devedor principal da letra é sacado após seu aceite, sendo o sacador codevedor da letra (art. 9º,
LU). Caso o sacado se recuse a aceitar a letra ou não a pague, o tomador poderá cobrar diretamente
o sacador. Quanto ao aceite, é o ato pelo qual o sacado assume obrigação cambial e se torna o
devedor principal da letra (aceitante).

Art. 25. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra "aceite" ou
qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como
aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra.

Quando se trate de uma letra pagável a certo termo de vista, ou que deva ser
apresentada ao aceite dentro de um prazo determinado por estipulação especial, o
aceite deve ser datado do dia em que foi dado, salvo se o portador exigir que a data
seja a da apresentação. À falta de data, o portador, para conservar os seus direitos
de recurso contra os endossantes e contra o sacador, deve fazer constar essa
omissão por um protesto, feito em tempo útil. É realizado através da aposição da
assinatura do sacado ou de procurador com poderes especiais para tanto (art. 11 do
Decreto 2.044/1908), junto da expressão “aceito” ou “aceitamos”.

Se a letra for emitida contra mais de um sacado, o tomador deve apresentá-la ao primeiro cujo nome
consta do título e sucessivamente aos demais.

O aceite é facultativo (exceto nas letras a tempo certo da vista), mas irretratável, podendo, também,
ser total ou parcial (art. 26, LU).

Art. 26. O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da
importância sacada.

Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a


uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite.

Há duas espécies de aceite parcial:

• Aceite-limitativo: aceita parte do valor da letra.

• Aceite-modificativo: altera alguma condição de pagamento da letra.

A cláusula “não aceitável” faz com que a letra somente possa ser apresentada ao sacado na data de
seu vencimento, impossibilitando este de fazer aceite-modificativo que antecipe o vencimento da
letra. Essa cláusula não é admitida nas letras a certo termo da vista.

Apresentada a letra para aceite, o sacado deverá devolvê-la de imediato (art. 24, LU), não podendo
retê-la, sob pena de responsabilização penal (art. 168. CP). Pode o sacado requerer ao tomador que
a letra lhe seja reapresentada novamente no dia seguinte ao da primeira apresentação (prazo de
respiro). Aceita a letra, cabe ao tomador aguardar até a data de seu vencimento. Vencida a letra,
esta tornar-se-á exigível, devendo ser apresentada ao aceitante para pagamento.

O prazo para protesto de letra de câmbio é de dois dias úteis contados do vencimento (art. 44, LU).

Quanto ao vencimento, classificam-se:

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• Letra com dia certo: é a que vence em data preestabelecida pelo sacador (termo).

• Letra à vista: é a que vence no dia da apresentação do título ao sacado, não havendo
prefixação de data específica. O tomador deverá apresentá-la para pagamento dentro do
prazo de um ano a partir de sua emissão.

• Letra a certo termo da vista: é a que vence após certo prazo, estipulado pelo sacador
quando de sua emissão, que se inicia a partir do aceite (vista) da letra. O tomador deverá
apresentar a letra para aceite dentro de um ano contado da data de emissão (art. 23, LU)

• Letra a certo termo da data: vence após um prazo estipulado pelo sacador, mas que se
inicia da emissão (saque) da letra.

Observe o modelo de letra de câmbio para melhor compreensão:

A letra de câmbio tem pouca aplicação no cenário brasileiro, uma vez que depende do aceito do sacado, que
implica uma relação muito marcante de boa-fé

50
Como a nota promissória não é título de modelo vinculado, pode ser gerado de qualquer forma, desde que
apresente seus requisitos. Acesse e consulte esse gerador online de notas promissórias:
https://nota-promissoria.com/

5.2 Nota Promissória

É regida pela Lei Uniforme (Decreto Nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966) e Decreto nº 2.044/1908
(arts. 54 e 55).

Consiste em uma promessa de pagamento, envolvendo, portanto, duas situações jurídicas: uma
pessoa (promitente/emitente/subscritor/sacador) promete que pagará determinada quantia líquida a
outra pessoa (tomador/beneficiário).

Tem como requisitos (art. 75 da LU):

• A expressão nota promissória;

• Uma promessa incondicional para pagamento de quantia determinada;

• O nome do tomador;

• A data do saque;

• A assinatura do sacador;

• O lugar do saque ou a menção de um lugar junto ao nome do sacador.

Vale ressaltar que a época do pagamento não é requisito para emissão da nota promissória. Ante
sua ausência será considerada à vista (art. 76, LU).

Art. 76. O título em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não
produzirá efeito como nota promissória, salvo nos casos determinados das alíneas
seguintes.

A nota promissória em que se não indique a época do pagamento será considerada


à vista.

Na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi passado considera-se como
sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor
da nota promissória.

A nota promissória que não contenha indicação do lugar onde foi passada considera-
se como tendo-o sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor.

51
Quanto ao saque, verifica-se que também é considerada a emissão da nota.

A nota promissória pode ser emitida em branco ou incompleta, caso em que deve ser preenchida
pelo credor conforme combinado (art. 891, CC e Súmula 387, STF), assim como ocorre na letra de
câmbio:

Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido
de conformidade com os ajustes realizados.

Súmula 387: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser
completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

Deve ser realizada a devida identificação do sacador, constando seu documento de identidade, CPF
ou qualquer outro capaz de identificá-lo. Caso não identifique o tomador será emitida ao portador.

Quanto à circulação, via de regra a nota promissória é endossável (à ordem), conforme dispõe art.
11, LU, considerando-se implícita esta cláusula. Entretanto, nada impede a aposição da cláusula
“não à ordem” ou expressão equivalente.

O devedor principal da nota promissória é o próprio sacador do título, visto que, como promessa de
pagamento, não há a situação de sacado e, até mesmo, a aplicação do instituto do aceite.

Quanto ao vencimento, pode ser:

• Dia certo: é a que vence em data preestabelecida pelo sacador (termo).

• À vista: é a que vence no dia da apresentação do título ao sacador, não havendo prefixação
de data específica. O tomador deverá apresentá-la para pagamento dentro do prazo de um
ano a partir de sua emissão.

• A certo termo da vista: é a que vence após certo prazo, estipulado pelo sacador quando de
sua emissão, que se inicia a partir do visto. Apesar da nota promissória não comportar em
seu regime jurídico o instituto do aceite, o art. 78 da LU dispõe que é possível a emissão da
nota promissória a certo termo da vista, ocasião em que o título deverá ser levado ao visto
do subscritor(sacador) dentro do prazo de um ano a contar do saque, correndo a partir do
visto o prazo estipulado para vencimento do título.

• A certo termo da data: vence após um prazo estipulado pelo sacador, mas que se inicia da
emissão (saque).

O uso da nota promissória era bastante comum nos contratos bancários até o surgimento da cédula
de crédito bancário, novo título de crédito introduzido no ordenamento jurídico pátrio pela Lei nº
10.931/2004.

Pontos importantes:

• Caso seja emitida nota promissória ligada a contrato bancário, esta perde sua abstração e
autonomia, visto que está vinculada ao contrato, sendo possíveis as exceções de caráter
pessoal a terceiros, posto que cientes de tal situação.

52
• A nota promissória conserva sua executividade (art. 784, CPC) mesmo que vinculada a
contratos bancários, salvo se o contrato descaracterizar sua liquidez.

• Súmula 258, STJ: “a nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza
de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou”.

• A cláusula-mandato inserida em contrato bancário é nula, conforme súmula 60, STJ: “é nula
a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no
exclusivo interesse deste”.

Observe o modelo de nota promissória para melhor entendimento:

A nota promissória é o único título consistente em promessa de pagamento e que tem utilidade até os dias
atuais, embora seja um modelo medieval.

5.3 Cobrança da Letra de Câmbio e da Nota Promissória

O art. 77 do Decreto nº 57.663/66 dispõe que todos os prazos e medidas de cobrança da letra se
aplicam às notas promissórias. O art. 70 do Decreto nº 57.663/66 dispõe que todas as ações contra
o aceitante relativas à letra de câmbio prescrevem em três anos contados do vencimento.

Já as ações contra os endossantes e sacador prescrevem em um ano, a contar do protesto ou do


vencimento se houver cláusula “sem despesas”.

53
As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em seis meses,
contados do dia em que o endossante pagou a letra.

O art. 71 do Decreto nº 57.663/66 prevê que a prescrição somente se interrompe em relação à


pessoa que gerou a interrupção. Os arts. 49 a 53 do Decreto nº 2.044/1908 preveem a ação cambial
e os prazos prescricionais para seu exercício, porém a legislação aplicável nesse caso é a LU, ou
seja, o Decreto nº 57.663/66.

Quanto à nota promissória, como o art. 70 da LU não se refere de modo específico à nota
promissória, o STJ decidiu pela aplicação dos seguintes prazos prescricionais:

• Três anos a contar do vencimento para ação executiva (art. 206, §3º, VIII, CC e REsp
1.262.056);

• Três anos a contar do fim do prazo anterior para ação de locupletamento que segue o rito
ordinário (REsp 1.323.468/DF)

• Cinco anos para ação monitória (súmula 504, STJ: “O prazo para ajuizamento de ação
monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar
do dia seguinte ao vencimento do título”).

A cobrança da letra/nota será feita por meio de execução por quantia certa, conforme os arts. 824 e
seguintes do CPC, por serem títulos do tipo executivo extrajudicial (art. 784, I, CPC)

A cláusula “sem despesas” ou “sem protesto” ou equivalente dispensa o beneficiário do título de fazer
o protesto para exercer seus direitos de ação (art. 46, LU). Os sacadores, aceitantes, endossantes e
avalistas de uma letra/nota são solidariamente responsáveis pelo seu pagamento (art. 47, LU).

É relevante mencionar que o protesto é requisito obrigatório para que o credor possa mover ação
judicial pertinente nos seguintes casos: para suprir o aceite nos títulos cujo aceite era necessário
(letra de câmbio e duplicata); no pedido de falência por impontualidade e na execução contra
devedores indiretos (endossantes e seus avalistas). Nesse caso, o protesto deve ser tempestivo, sob
pena de não mais ser possível a execução contra os devedores indiretos.

Pesquise sobre as possibilidades de cobrança dos títulos de crédito.

Considerações Finais
Vimos que os títulos de crédito tiveram origem na Idade Média e que conservaram sua vigência ao
longo dos anos, sendo regulamentados internacionalmente, bem como mantendo sua importância
no meio econômico até os dias atuais.

Os títulos de crédito surgem como meios representativos de moeda, facilitando o pagamento e a


realização de atividades empresariais por meio de sua simplificação de transporte e segurança nas

54
relações comerciais medievais. Com o desenvolvimento do mercado e de novas técnicas, é evidente
que algumas relações cambiárias sofreram transformação e que isso refletiu nos títulos de crédito.

Foi estudada a letra de câmbio como modelo mais completo de ordem de pagamento, em que
existem três situações jurídicas que devem ser contempladas: o sacador, o sacado e o tomador. A
letra de câmbio é baseada na confiança, por isso esse modelo acaba tendo, culturalmente, pouca
aceitação do Brasil, porém o título ainda encontra-se em vigência e pode ser visto em algumas
relações de comércio internacional. Historicamente, surgiu com base na necessidade de conclusão
de relações comerciais entre uma cidade e outra, evitando o transporte pesado de muitas moedas,
bem como o risco de perda durante as viagens, sendo que os títulos eram levados para pagamento
por instituições bancárias instaladas nas cidades.

Já a nota promissória se apresenta como o modelo de promessa de pagamento, sendo ainda


amplamente utilizada no sistema atual em relações particulares, como uma forma de garantia pelo
pagamento de dívidas. Esses títulos são os dois basilares, uma vez que representam a estrutura da
ordem de pagamento e da promessa de pagamento.

Reflita sobre como os dois títulos estudados representam modelos básicos de ordem de pagamento e
promessa de pagamento, facilitando a compreensão dos demais.

LETRA DE CÂMBIO

• É regida pela Lei Uniforme (Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966).

• Consiste em uma ordem de pagamento, envolvendo, portanto, três situações jurídicas: uma pessoa
(sacador/emitente) ordena que alguém (sacado) pague a outrem (tomador/beneficiário).

• Denomina-se saque a emissão da letra de câmbio.

• Pode ser emitida em branco ou incompleta.

• É endossável.

• O devedor principal da letra é sacado após seu aceite.

• O aceite é facultativo, podendo também ser total ou parcial.

• Quanto ao vencimento:

o Letra com dia certo

55
o Letra à vista

o Letra a certo termo da vista

o Letra a certo termo da data

NOTA PROMISSÓRIA

• É regida pela Lei Uniforme (Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966) e Decreto nº 2.044/1908
(arts. 54 e 55).

• Consiste em uma promessa de pagamento, envolvendo, portanto, duas situações jurídicas: uma
pessoa (promitente/emitente/subscritor/sacador) promete que pagará determinada quantia líquida a
outra pessoa (tomador/beneficiário).

• Pode ser emitida em branco ou incompleta.

• Caso não identifique o tomador será emitida ao portador.

• Quanto ao vencimento:

o Dia certo

o À vista

o A certo termo da vista

o A certo termo da data

COBRANÇA DA LETRA DE CÂMBIO E DA NOTA PROMISSÓRIA

• Todos os prazos e as medidas de cobrança da letra se aplicam às notas promissórias.

• Ações contra o aceitante relativas à letra de câmbio prescrevem em três anos contados do vencimento.

• Ações contra os endossantes e sacador prescrevem em um ano a contar do protesto ou do vencimento


se houver cláusula “sem despesas”.

• Ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em seis meses contados
do dia em que o endossante pagou a letra.

• Quanto à nota promissória:

o Três anos a contar do vencimento para ação executiva (art. 206, §3º, VIII, CC e REsp
1.262.056).

o Três anos a contar do fim do prazo anterior para ação de locupletamento.

o Cinco anos para ação monitória.

56
QUESTÃO: Quando ao vencimento, a nota promissória pode ser, exceto:
a) Parcelada.
b) Dia certo.
c) À vista.
d) A certo termo da vista.
e) A certo termo da data.
A alternativa correta é a letra A. Todas as modalidades apresentadas compreendem situações de vencimento
que são aceitas pela nota promissória, diferentemente do que ocorre com a assertiva A, que prevê uma forma
de pagamento em si, que, inclusive, não corresponde ao que pode ser representado em promissória.

1 -QUESTÃO: Denomina-se emissão:


a) O aceite da letra de câmbio.
b) O aval da letra de câmbio.
c) O saque da letra de câmbio.
d) O pagamento da letra de câmbio.
e) O transporte da letra de câmbio.

2 -A letra de câmbio pode ser emitida em branco?

Obra: MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito. 8. ed. v. 3. São Paulo: Atlas,
2014.

57
Uma obra moderna, marcada pela clareza de conceitos e objetividade quando do trato da disciplina. É uma
leitura bastante simples e didática. Como manual, tem um trato da disciplina mais objetivo, simplificado, tendo
menor conteúdo científico e tratando o tema sob um enfoque mais prático. Obra que versa exclusivamente
sobre os títulos de crédito, de forma que se torna uma leitura bastante agradável sobre o tema em comento.
Vale a pena a leitura.

Creditício – representativo de crédito


Diferindo – diferente
Aposição – colocação
Suprir – suplantar, completar

Gabarito:
1C
2 - Resposta: Sim, desde que seja completada de boa-fé pelo tomador para apresentação ao pagamento.

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UNIDADE III
CAPÍTULO 6 – TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE II
Ao término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Duplicata

✓ Cheque

Introdução

Com base na teoria geral do Direito Cambiário, foi possível verificar que os títulos de crédito surgem
como documentos representativos, de forma autônoma, de toda uma relação creditícia estabelecida
entre os sujeitos envolvidos na formação desse documento.

Por seus princípios básicos, verifica-se que os títulos de crédito trazem em seu conteúdo a prova de
uma relação contratual de crédito, valendo independentemente das causas que os originaram,
sendo, inclusive, desvinculados, em regra, dessas causas.

Além disso, você também estudou três figuras importantes relativas aos títulos de crédito: o aval, o
endosso e o protesto.

O aval consiste em uma forma de garantia de aplicação específica nas relações cambiárias, em que
o avalista se vincula ao pagamento do título como se fosse o devedor principal, diferindo da relação
civil de fiança.

O endosso é o instituto responsável pela garantia de circulação do título, o que remonta ao


dinamismo que deles se esperam, ao passo que atuam como substitutos de moeda.

Por fim, o protesto se apresenta como uma forma de cobrança pública dos títulos não pagos.

Vale mencionar que os títulos de crédito surgiram historicamente na Idade Média, foram criados para
facilitar as trocas comerciais de uma cidade para a outra, evitando o transporte de moedas por longos
caminhos e que poderiam ser objeto de assaltos ou outros crimes.

Assim, após o estudo dos modelos mais antigos, emergiu a possibilidade de estudo de modelos mais
novos, quais sejam, a duplicata e o cheque.

Verifica-se que a duplicata é criada como sucessora da letra de câmbio em termos de aplicabilidade,
sendo extremamente semelhantes, porém emitidas com maior confiabilidade relativa ao seu
pagamento, sendo menos dependentes da boa-fé.

Já o cheque vem como ordem de pagamento focado para as relações de crédito imediatas,
objetivando normalmente o pagamento de numerários mais elevados.

Bons estudos!

59
Pense em como a necessidade de aceite tornou a letra de câmbio um título superado, fazendo emergir a
necessidade de um título mais novo e confiável, que independesse da boa-fé

6.1 Duplicata

Foi criada no Brasil com a finalidade de substituir a letra de câmbio nas relações mercantis, visto que
esta carece de uso corrente devido à necessidade de boa-fé quando da prática do aceite.

É regida pela Lei nº 5.474/1968 (Lei das Duplicatas – LD).

Consiste em uma ordem de pagamento, envolvendo, portanto, três situações jurídicas: uma pessoa
(sacador/emitente) ordena que alguém (sacado) pague a outrem (tomador/beneficiário).

Na duplicata, a situação de sacador e tomador é ocupada pelo vendedor, enquanto a de


aceitante/sacado é ocupada pelo comprador.

Seus requisitos estão descritos nos art. 2º da LD:

• A expressão duplicata;

• A cláusula à ordem;

• A data de emissão coincidente com a data da fatura;

• Os números da fatura e da duplicata;

• A data do vencimento;

• O nome e o domicílio do vendedor (sacador);

• O nome, o domicílio e o número de inscrição no cadastro de contribuintes do comprador


(sacado);

• A importância a ser paga, por extenso e em algarismos;

• O local do pagamento;

• O local para o aceite do sacado;

• A assinatura do sacador.

Saque é a emissão da duplicata.

60
A duplicata é título causal, ou seja, seu saque somente é permitido nas hipóteses previstas em lei,
quais sejam:

• Compra e venda mercantil

• Contrato de prestação de serviços

A duplicata é título de modelo vinculado, devendo seguir rigorosamente os padrões de emissão


fixados pelo Conselho Monetário Nacional. Via de regra, a duplicata é endossável (à ordem),
considerando-se requisito esta cláusula, conforme art. 2º, LD. Entretanto, nada impede a aposição
da cláusula “não à ordem” ou expressão equivalente.

A duplicata é título emitido pelo credor, sendo o comprador ou tomador dos serviços seu devedor
(sacado). A utilização da duplicata inicia-se com a emissão da fatura pelo vendedor (art. 1º, LD),
dentro do prazo de 30 dias da data da entrega ou despacho das mercadorias, em que são
discriminadas as mercadorias, conforme §1º, art. 1º, LD, para apresentação ao comprador.

O art. 2º da LD dispõe que poderá ser emitida uma duplicata dessa fatura com a finalidade de
circulação comercial.

Emitida a duplicata, será enviada ao comprador para que a aceite (o aceite é obrigatório) e a devolva
(art. 7º, LD). Caso se recuse a aceitá-la deverá justificar tal ato (art. 8º, LD). Devolvida a duplicata, o
credor aguardará até seu vencimento para resgate, caso esta não seja à vista.

Quanto ao aceite, assim como na letra de câmbio, é o ato pelo qual o sacado assume obrigação
cambial e se torna o devedor principal do título (aceitante). Todavia, na duplicata o ato de aceite é
obrigatório, ocasião em que não é requisito essencial para a cobrança do devedor da duplicata.

Apesar de obrigatório, o aceitante pode se recusar a aceitar em caso de:

• Avaria ou não recebimento das mercadorias quando não expedidas ou não entregues por
sua conta e risco.

• Vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias devidamente


comprovados.

• Divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

Há duas espécies de aceite: o expresso e o presumido.

• O aceite expresso é aquele exarado no título, tornando-o completo e dotado de executividade.

• O aceite presumido decorre tacitamente da aceitação das mercadorias sem qualquer


oposição (recusa do aceite). Entretanto, tal ato não concede à duplicata a executividade,
requerendo, para tanto, a apresentação de documento hábil comprobatório da entrega das
mercadorias e prova de que não houve recusa no aceite.

Quanto às hipóteses de cobrança da duplicata, são três as vias possíveis:

61
• Execução:

o Duplicata com aceite expresso: título executivo extrajudicial

o Duplicata com aceite presumido: depende da comprovação da entrega das


mercadorias se for movida em face do devedor principal (comprador)

• Ação monitória: tem cabimento em relação às duplicatas sem aceite expresso e quando não
se consegue comprovar a entrega de mercadorias de forma inequívoca.

• Protesto: pode ocorrer por três motivos, conforme art. 13, LD:

o Por falta de aceite

o Por falta de devolução

o Por falta de pagamento

Interessante instituto é a figura do protesto por indicações, disposto no art. 13, §1º, LD, que ocorre
no protesto por falta de devolução da duplicata, que será protestada sem a apresentação do título,
mas de acordo com os dados constantes no Livro de Registro de Duplicatas. Visando evitar o
protesto por indicações, é comum na prática a emissão de triplicata que, apesar de somente ser
admitida pela lei quando extraviada ou perdida a duplicata, tem sido admitida pela jurisprudência.

Quanto ao vencimento, pode ser classificada:

• Letra com dia certo: é a que vence em data preestabelecida pelo sacador (termo).

• Letra à vista: é a que vence no dia da apresentação do título ao sacado, não havendo
prefixação de data específica. O tomador deverá apresentá-la para pagamento dentro do
prazo de um ano a partir de sua emissão.

A execução da duplicata prescreve de acordo com o art. 18 da Lei de Duplicata:

Art 18 - A pretensão à execução da duplicata prescreve:

l - contra o sacado e respectivos avalistas, em 3(três) anos, contados da data do


vencimento do título;

ll - contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto;

Ill - de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 (um) ano, contado da data
em que haja sido efetuado o pagamento do título.

§ 1º - A cobrança judicial poderá ser proposta contra um ou contra todos os


coobrigados, sem observância da ordem em que figurem no título.

§ 2º - Os coobrigados da duplicata respondem solidariamente pelo aceite e pelo


pagamento.

62
Observe um modelo para melhor entendimento:

A duplicata surgiu como título causal, relacionado à compra e venda mercantil e à prestação de serviços, não
podendo ser emitido em outros momentos

Veja que o cheque mantém sua utilidade atualmente, em que pese ter pedido aplicabilidade dadas as diversas
formas eletrônicas de pagamentos que o sucederam, como cartões de crédito e até mesmo transferências
bancárias em tempo real, como o PIX.

6.2 Cheque

É regulado pela Lei Uniforme do Cheque (Decreto nº 57.595/66) e Lei nº 7.357/85.

É ordem de pagamento à vista emitida contra o banco em razão de fundos que a


pessoa (emitente) tem naquela instituição financeira. (RAMOS, 2017, e-book).

63
Inclusive em relação ao cheque pré-datado, o Superior Tribunal de Justiça, em que pese a lei
estabelecer que se trata de ordem de pagamento à vista, reconhece a responsabilidade civil daquele
que desconta o cheque antecipadamente:

Súmula 370: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-


datado. (SÚMULA 370, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 16/02/2009, DJe
25/02/2009)

É título de modelo vinculado.

São requisitos de validade, estampados no artigo 1º da Lei do Cheque:

Art. 1º O cheque contém:

I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em


que este é redigido;

II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;

III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);

IV - a indicação do lugar de pagamento;

V - a indicação da data e do lugar de emissão;

VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes


especiais.

Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes


especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela
mecânica ou processo equivalente.

Vale mencionar que a falta dos requisitos essenciais invalida o título com a qualidade de cheque,
salvo algumas exceções:

Art. 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente
não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:

I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar


designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é
pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no
lugar de sua emissão;

II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado


junto ao nome do emitente.

É título nominal como regra, mas pode ser emitido ao portador caso seu valor seja inferior a R$
100,00 (art. 69, Lei 9069/95).

A autonomia do cheque tem sido relativizada, sendo entendida como não absoluta nos casos de
cheque emitido em garantia, devendo ser admitida a investigação da causa debendi.

Tem cláusula à ordem implícita, assim como a letra de câmbio e a promissória. Não é título de crédito
de aceitação compulsória, mas, se admite o pagamento em cheque, só pode recusá-lo a um
consumidor mediante justa causa.

64
São espécies:

• Cruzado (arts. 44 e 45, Lei do Cheque)

• Visado (art. 7º, Lei do Cheque)

• Administrativo (art. 9º, III, Lei do Cheque)

• Para ser creditado em conta (art. 46, Lei do Cheque)

Vale mencionar que o cheque pode ser sustado, devendo-se, para tanto, observar o quanto disposto
nos artigos 35 e 36 da Lei do Cheque:

Art. 35 O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê de contra-


ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões
motivadoras do ato.

Parágrafo único - A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado


o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque
até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do art. 59 desta Lei.

Art. 36 Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado


podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição
fundada em relevante razão de direito.

§ 1º A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem


reciprocamente.

§ 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente.

Quanto à cobrança e à apresentação do cheque, devemos verificar:

• Prazo de apresentação: 30 dias mesma praça; 60 dias praça diferente, contados da data da
emissão (art. 33, Lei do Cheque).

• O decurso do prazo de apresentação não impede o desconto do cheque no banco (art. 35,
LC).

• Prescrição: seis meses (art. 59, LC) após o prazo de apresentação. No caso de cheque pré-
datado, esse prazo se inicia da data em que o cheque foi apresentado ao banco (enunciado
40 da I Jornada de Direito Comercial da CJF).

• Cobrança:

o O cheque é título executivo extrajudicial.

o O cheque prescrito não poderá ser executado.

o O cheque prescrito pode ser cobrado por meio de ação de locupletamento (art. 61, LC
– prescreve em (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição) que
conserva a natureza cambial.

65
o Prescrita a ação de locupletamento, pode ser cobrado por ação de cobrança/monitória
(súmula 299 e 531, STJ) (art.62, LC) que não conserva a natureza cambial (prescrição
cinco anos para a monitória).

Observe o modelo para melhor entendimento do tema:

Considerações Finais
Neste capítulo, vimos que os títulos de crédito tiveram origem na Idade Média e que esses títulos
conservaram sua vigência ao longo dos anos, sendo regulamentados internacionalmente, bem como
mantendo sua importância no meio econômico até os dias atuais.

Os títulos de crédito surgem como meios representativos de moeda, facilitando o pagamento e a


realização de atividades empresariais por meio de sua simplificação de transporte e segurança nas
relações comerciais medievais.

Com o desenvolvimento do mercado e de novas técnicas, é evidente que algumas relações


cambiárias sofreram transformação e que isso refletiu nos títulos de crédito.

Foi estudada a letra de câmbio como modelo mais completo de ordem de pagamento, em que
existem três situações jurídicas que devem ser contempladas: o sacador, o sacado e o tomador.

A letra de câmbio é baseada na confiança, por isso esse modelo acaba tendo, culturalmente, pouca
aceitação do Brasil, porém o título ainda encontra-se em vigência e pode ser visto em algumas
relações de comércio internacional.

Historicamente, surgiu com base na necessidade de conclusão de relações comerciais entre uma
cidade e outra, evitando o transporte pesado de muitas moedas, bem como o risco de perda durante
as viagens, sendo que os títulos eram levados para pagamento por instituições bancárias instaladas
nas cidades.

Já a nota promissória se apresenta como o modelo de promessa de pagamento, sendo ainda


amplamente utilizada no sistema atual em relações particulares, como uma forma de garantia pelo
pagamento de dívidas.

Esses títulos são os dois basilares uma vez que representam a estrutura da ordem de pagamento e
da promessa de pagamento. Com base neles, observa-se o surgimento de títulos mais modernos,
como a duplicata em lugar da letra de câmbio, retirando o elemento de base na boa-fé e substituindo-
o por um aceito compulsório. Por outro lado, o cheque surgiu nas relações interpessoais como um

66
substituto também da letra de câmbio, tornando ágil o pagamento de numerários elevados, que
importariam em grande risco negocial em caso de necessário transporte.

Pesquise sobre o posicionamento da jurisprudência a respeito do cheque pré-datado e a responsabilidade civil


decorrente de seu saque antecipado.

Saiba mais sobre a duplicata mercantil neste vídeo:


https://www.youtube.com/watch?v=4kV7gaFk-cc&t=5s

DUPLICATA

• Foi criada no Brasil com a finalidade de substituir a letra de câmbio nas relações mercantis, visto que
esta carece de uso corrente devido à necessidade de boa-fé quando da prática do aceite.

• É regida pela Lei nº 5.474/1968 (Lei das Duplicatas – LD).

• Consiste em uma ordem de pagamento, envolvendo, portanto, três situações jurídicas: uma pessoa
(sacador/emitente) ordena que alguém (sacado) pague a outrem (tomador/beneficiário).

• Saque é a emissão da duplicata.

• A duplicata é título causal, ou seja, seu saque somente é permitido nas hipóteses previstas em lei,
quais sejam:

o Compra e venda mercantil

o Contrato de prestação de serviços

• É título de modelo vinculado.

• É endossável.

• Aceite é obrigatório.

67
• Aceitante pode se recusar a aceitar em caso de:

o Avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua
conta e risco.

o Vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente


comprovados.

o Divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

• Espécies de aceite

o Expresso

o Presumido

• Cobrança da duplicata

o Execução

o Ação monitória

o Protesto

• Quanto ao vencimento

o Letra com dia certo

o Letra à vista

CHEQUE

• É regulado pela Lei Uniforme do Cheque (Decreto nº 57.595/66) e Lei nº 7.357/85.

• “É ordem de pagamento à vista emitida contra o banco em razão de fundos que a pessoa (emitente)
tem naquela instituição financeira” (RAMOS, 2017, e-book).

• É título de modelo vinculado.

• É título nominal como regra, mas pode ser emitido ao portador caso seu valor seja inferior a R$ 100,00.

• Tem cláusula à ordem implícita.

• Quanto à cobrança:

Prazo de apresentação: 30 dias mesma praça; 60 dias praça diferente

QUESTÃO: Via de regra, a duplicata é endossável (à ordem), considerando-se requisito esta cláusula. Assinale
a alternativa correta:
a) A cláusula à ordem pode ser cancelada pela expressão “não à ordem”.

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b) Por ser modelo vinculado a cláusula não pode ser cancelada.
c) O trecho é incorreto, visto que a duplicada não é endossável.
d) A cláusula à ordem na duplicata é elemento essencial de validade do título, não podendo ser cancelada.
e) Pode ser cancelada a cláusula de endosso simplesmente pela censura (riscar) a cláusula.
A alternativa correta é a letra A, uma vez que a cláusula à ordem é implícita e intrínseca do título, porém pode
ser cancelada pela aposição expressa “não à ordem” ou “não endossável”.

1 -QUESTÃO: O cheque é título de modelo:


a) Endossável.
b) Não endossável.
c) Vinculado.
d) Livre.
e) Causal.

2- Como funciona a cláusula “à ordem” no cheque?


Resposta: É implícita, porém pode ser censurada pela expressão “não à ordem”, ainda que o cheque seja de
modelo vinculado.

Obra: RAMOS, André L. S. C. Direito empresarial: esquematizado. São Paulo: Método, 2015.
Uma obra moderna. É uma leitura bastante simples e didática. Trata-se de uma obra escrita em volume único,
o que facilita bastante o entendimento sobre o conteúdo geral do Direito Empresarial e, ainda, representa uma
aquisição única para aquele que deseja se aprofundar em seus estudos. Talvez seja uma das melhores obras
de Direito Empresarial, contemplando não só os conceitos gerais, como também toda a disciplina relativa ao
Direito Societário e Cambiário. É uma obra completa, simples, objetiva e de leitura bastante agradável.

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Confiabilidade – relativo à confiança
Creditício – representativo de crédito
Diferindo – diferente
Aposição – colocação

Gabarito:
1 -Resposta: c
2- Resposta: É implícita, porém pode ser censurada pela expressão “não à ordem”, ainda que o cheque seja
de modelo vinculado.

COELHO, Fábio U. Manual de direito comercial: direito de empresa. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito. 8.ed. v. 3. São Paulo: Atlas, 2014.
______. Manual de direito empresarial. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
MARTINS, Fran. Curso de direito comercial: empresa comercial, sociedades empresárias, comércio
eletrônico, lei de Anticorrupção empresarial, responsabilidade empresarial, registro de empresa, concorrência.
37. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
______. Títulos de crédito. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
NEGRAO, Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
RAMOS, André L. S. C. Direito empresarial: esquematizado. São Paulo: Método, 2015.
Referências Bibliográficas
COELHO, Fábio U. Manual de direito comercial: direito de empresa. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito. 8.ed. v. 3. São Paulo: Atlas, 2014.

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______. Manual de direito empresarial. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
MARTINS, Fran. Curso de direito comercial: empresa comercial, sociedades empresárias, comércio
eletrônico, lei de Anticorrupção empresarial, responsabilidade empresarial, registro de empresa, concorrência.
37. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
______. Títulos de crédito. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
NEGRAO, Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
RAMOS, André L. S. C. Direito empresarial: esquematizado. São Paulo: Método, 2015.

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