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RECUPERAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE UMA PLANTA DE MBR EM 4 AÇÕES DE

BAIXO CUSTO
Biol. Ana Luiza Fávaro
Eng. João Rosa

INTRODUÇÃO

Atualmente, em função da demanda por reuso de água em vários segmentos como empresas municipais, indústrias, shoppings e centros
comerciais estão encontrando na tecnologia MBR (Biorreator de Membranas) a viabilidade técnica e econômica para reusar seus efluentes
de forma segura e eficiente.
A grande vantagem do MBR é aliar o processo biológico, largamente implantado e dominado a muito tempo, com o processo de separação
por membranas, que se consolidou efetivamente no mercado de tratamento de água e efluentes.

DESAFIO

Buscando reduzir o custo da sua conta de água, um shopping center localizado no estado de São Paulo trata todo o esgoto sanitário e
também dos restaurantes em uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do tipo MBR conforme apresentado na Figura 1, utilizando
membranas de placa plana da Toray. O efluente tratado, também chamado de “permeado” é 100% reutilizado para dar descarga nos vasos
sanitários, make up de torre de resfriamento e irrigação das áreas verdes deste shopping.
A vazão de projeto dessa planta de MBR é de 11 m3/h, contudo o shopping não conseguia operar esta planta com uma vazão acima de 4
m3/h, pois acima dessa vazão a Pressão Transmembrana (TMP) aumentava drasticamente, sendo necessário fazer limpezas químicas com
uma frequência muito maior do que previsto em projeto.
Além dessas dificuldades operacionais supracitadas, a qualidade da água de reuso para descarga nos sanitários geradas no MBR, estava
com eficiência de remoção de DBO muito aquém dos padrões alcançáveis por esta tecnologia.
Todo este cenário frustrou o usuário da tecnologia MBR, pois esse sistema que é considerado o estado da arte no tratamento de efluente,
tem justamente em sua robustez, estabilidade e eficiência, suas maiores vantagens.

Figura 1 – Membranas de placa plana instaladas no biorreator antes do início da operação do MBR.

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METODOLOGIA

Para resolver o problema do MBR desse shopping center a ACQUA EXPERT realizou um trabalho de consultoria com o objetivo de descobrir
o causa da formação do fouling (entupimento) das membranas, isto é, para descobrir o que estava causando o aumento da TMP, fazendo
com que a equipe de operadores tivesse que fazer uma limpeza química semanal dessas membranas. Este trabalho teve duração de três
meses e ocorreu conforme descrição abaixo.
• Passo 1: Inicialmente a equipe de engenharia da ACQUA EXPERT revisou os cálculos de projeto do MBR para serem confrontados
com a qualidade real do esgoto gerado pelo shopping. Isso porque muitas vezes os projetos são feitos com dados estimativos e
distintos da realidade quando a planta entra em operação.
• Passo 2: Além disso foram checados os controles de processo e operação da planta de MBR. Isso incluiu, acompanhamento
operacional do tratamento biológico, quanto o monitoramento das membranas.
• Passo 3: Foi feita também uma avaliação dos microrganismos do lodo do biorreator, pois um lodo com muito EPS (Substâncias
Poliméricas Extracelulares) ou com baixa eficiência pode causar fouling orgânico na membrana, que por sua vez também resulta
no aumento da TMP.

SOLUÇÕES APRESENTADAS

1. Um erro muito comum em projetos de tratamento de esgoto de shopping centers é considerar no projeto apenas o esgoto
sanitário gerado pelos banheiros, excluindo a carga gerada pelos restaurantes da praça de alimentação, que por sua vez, é gerada
em diferentes concentrações durante a semana e nos fins de semana. Assim sendo, a equipe de engenharia da ACQUA EXPERT
identificou que a equalização da planta deste shopping center não era suficiente, pois não segurava os picos de DQO e DBO dos
finais de semana. Em função disso foi adotada uma equalização que resultou numa melhora da eficiência do tratamento
biológico.
2. Outro problema que foi observado pela equipe da ACQUA EXPERT foi a ausência de uma estratégia operacional da ETE. O
shopping praticamente não fazia nenhum controle de processo e de operação do MBR. Então um mini-laboratório foi implantado
ao lado da ETE e um plano de controle de dados foi estabelecido, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Parâmetros de Controle de Processo e Controle Operacional implantados no MBR do Shopping center.

Parâmetros Pontos de Amostragem Frequência


pH(1) Entrada do biológico Diariamente
Temperatura(1) Entrada do biológico Diariamente
OD(1) Biorreator Diariamente
DBO(2) Entrada do biológico e permeado Semanalmente
DQO(1) Entrada do biológico e permeado Diariamente
Óleos e Graxas(2) Entrada do biológico Semanalmente
SST(1) Entrada do biológico e Biorreator Diariamente
N amoniacal(1) Entrada do biológico e permeado Semanalmente
Nitrito e Nitrato(1) Permeado Semanalmente
P total(1) Entrada do biológico e permeado Semanalmente
Idade do Lodo(1) Cálculo Semanalmente
Relação A/M(1) Cálculo Semanalmente
Turbidez(1) Permeado Diariamente
Análise Microbiológica(2) Biorreator Quinzenalmente
(1) Análises realizadas no laboratório da ETE
(2) Análises realizadas em laboratório externo (contratado)

3. A análise microbiológica do lodo do biorreator é imprescindível para um bom controle operacional de qualquer sistema de
tratamento biológico, incluindo o MBR, pois as bactérias formadoras de flocos biológicos (Figura 2) são os principais responsáveis

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pela remoção de carga orgânica e remoção de nitrogênio. Vale salientar, que diferentemente do sistema de lodos ativados
convencional, não há sedimentação dos flocos biológicos e sim uma filtração pela membrana, sem a necessidade de flocos bem
formados para que o MBR atinja uma alta eficiência. As bactérias filamentosas também não são um problema no MBR, como é
no lodo ativado convencional, mas sua identificação é importante, pois elas indicam se a relação A/M do biorreator está
adequada, se a concentração de OD está dentro dos padrões ideais, se há concentração de nutrientes está em equilíbrio, etc.
Dentro dessa avaliação também é possível avaliar se a quantidade de EPS está dentro de um nível aceitável ou se está em excesso,
o que indica um risco de formação de biofouling e aumento de TMP. Essa avaliação é feita através do teste de nanquim (Figuras
3a e 3b), sendo este método simples e rápido de resposta ao EPS. Por fim, na análise microbiológica está incluída também a
quantificação e identificação dos protozoários & metazoários (Figuras 4a e 4b), que são excelentes bioindicadores da qualidade
do afluente e da qualidade operacional da planta. Voltando então para o nosso case, a ACQUA EXPERT realizou algumas análises
microbiológicas do lodo do MBR instalado no shopping e os resultados mostraram que a microbiota estava em excelente
equilíbrio (Figura 5), isto é, os flocos biológicos estavam com características comum para um sistema MBR, o teste do naquim
mostrou que havia pouco EPS e a análise dos protozoários apontou para um alta quantidade e diversidade de organismos,
indicando que o aumento da TMP dessa planta não era de origem biológica.

Figura 2 – Flocos biológicos de um sistema MBR. In vivo.100x. Contraste de Fase.

A B

Figura 3 – A - Flocos biológicos encobertos pela tinta nanquim, isto é, com pouco EPS. In vivo.100x. Contraste de Fase.0
B – Flocos biológicos totalmente contornados pela tinta nanquim, indicando excesso de EPS. In vivo.100x. Contraste de Fase.

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A B

Figura 4 – A – Protozoários ciliados fixos da espécie Opercularia registrados no biorreator de um sistema MBR. In vivo.400x. Contraste de Fase.
B – Metazoário Nematóide (verme) registrado no biorreator de um sistema MBR. In vivo.100x. Contraste de Fase.

Figura 5 - Flocos biológicos e protozoários registrados no biorreator do sistema MBR do shopping center desse estudo de caso.. In vivo.100x. Contraste de Fase.

4. Por fim, outra ação realizada pela ACQUA EXPERT foi revisar o monitoramento dos parâmetros operacionais da membrana,
conforme o manual do fornecedor (Toray), incluindo o cálculo da TMP, vazão de ar de limpeza, ciclo de filtração e relaxamento
e procedimentos de limpeza química das membranas. Foi observado que a equipe de operação do shopping não estava
calculando a TMP da forma correta e este procedimento foi também corrigido.
A Tabela 2 apresenta os resultados conquistados após o trabalho de consultoria da ACQUA EXPERT.
Tabela 2 – Melhorias conquistadas no MBR do shopping center após a consultoria da ACQUA EXPERT.
Item avaliado Antes da Consultoria da A. Expert Depois da Consultoria da A. Expert
Tanque de Equalização 1 hora 6 horas
SST no biorreator 3,5 a 25 g/L (sem controle) 10 g/L e 12 g/L (com controle)
Limpeza química das membranas Realizada a cada 7 dias A cada 3 meses
Vazão de produção do permeado 4,0 m3/h 11,0 m3/h
DBO média do efluente tratado 40 a 60 mg/L 5 a 10 mg/L

CONCLUSÃO

Através da implantação dos controles operacionais e adequação do projeto para a realidade da qualidade do efluente bruto, foi possível
operar a planta com a vazão de projeto de maneira estável e eficiente. Esta é uma premissa válida para qualquer tipo de tratamento
biológico, inclusive para tecnologias avançadas como MBR.
As limpezas químicas reduziram de 1 vez por semana para 1 vez a cada 3 meses, que está alinhado para este tipo de aplicação, que apesar
de ser basicamente sanitária tem uma forte contribuição de restaurantes, conferindo alta DBO e DQO.
Com todas essas melhorias o custo operacional da planta reduziu drasticamente.

ACQUA EXPERT Engenharia Ambiental


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