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Aula 03

PM-MG (Soldado) Literatura - 2023


(Pós-Edital)

Autor:
Rafaela Freitas

10 de Março de 2023

15057774611 - kalebe henrique


Rafaela Freitas
Aula 03

Sumário

Lima Barreto ........................................................................................................................... 3

Obras de Lima Barreto ................................................................................................................ 4

ANÁLISE DA OBRA ........................................................................................................................ 5

Triste Fim de Policarpo Quaresma .............................................................................................. 5

Personagens ............................................................................................................................... 5

Resumo da obra .......................................................................................................................... 7

Contexto histórico de Triste fim de Policarpo Quaresma ............................................................ 9

A vida de Policarpo no subúrbio .................................................................................................. 9

Análise da obra e contexto histórico ......................................................................................... 10

Estilo literário da obra Triste fim de Policarpo Quaresma ..........................................................11

Trechos da obra Triste fim de Policarpo Quaresma .................................................................. 12

Primeira parte - A lição de violão .............................................................................................. 12

Segunda parte - No “Sossego” ...................................................................................................13

Terceira parte - Patriotas ...........................................................................................................13

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Rafaela Freitas
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APRESENTAÇÃO
Olá, pessoal! Tudo bem? Estou aqui para liberar para vocês mais uma aula teórica do curso. Vamos
falar sobre a obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto.

Antes de mais nada, vamos esclarecer o que teremos ainda no curso e como serão liberados os
demais conteúdos para vocês.

As duas aulas teóricas a respeito das duas obras literárias exigidas em edital são para a leitura e
conhecimento analítico de vocês (e não substituem a leitura integral do livro, claro).

Sobre a obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, já falamos na aula anterior.
Nela eu liberei uma videoaula que traz um recorte muito importante sobre a maneira como essa
obra é cobrada em provas de concurso. O que falta ainda? Analisar questões sobre a obra! Farei isso
em uma aula ao vivo (dia 24/03/2023, às 14h) e depois virá para o site exclusivamente para vocês.

Na ocasião da aula ao vivo, gravarei também a análise em vídeo da obra base desta aula: Triste Fim
de Policarpo Quaresma. Eu quero gravar vídeos novos dessa obra, com um recorte mais atual. Farei
também questões sobre o livro.

Então, o que teremos ainda?

- Questões comentadas das duas obras em vídeo e em PDF.

- Análise em vídeo da obra Triste Fim de Policarpo Quaresma.

- Assistam ao vivo se preferirem para tirarem as suas dúvidas durante a aula: dia
24/03/2023, às 14h

Tudo está sendo preparado e desenvolvido exclusivamente para este concurso, focando
especificamente em provas de concursos (a análise para vestibulares é diferente).

Vem coisa boa por aí!! Fico à disposição em canal direto caso tenham dúvidas:

professorarafaelafreitas@gmail.com

Boa aula!! Até breve!

Rafaela.

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O AUTOR
Lima Barreto

Caros alunos, em literatura entender um pouco da vida do autor é de grande ajuda, pra não dizer
fundamental, na compreensão de sua obra, especialmente estando de Triste Fim de Policarpo
Quaresma e de Lima Barreto. Nesse livro, Lilia Moritz Schwarcz, uma especialista sobre o autor,
fala um pouco sobre ele.

O Triste Fim de Policarpo Quaresma é uma importante obra na literatura brasileira. Apesar de já
ser cobrado em provas diversas, esse livro pode ser apreciado e pensado por qualquer pessoa
interessada na temática, não apenas por vocês que se preparam para uma prova de concurso. Isso
quer dizer, que a leitura e a análise triste da obra em apreço vai colocar você "em outro nível" de
cultura e de interpretação do mundo.

A obra narra os ideais e as frustrações do funcionário público, Policarpo


Quaresma, homem metódico e nacionalista fanático. Sonhador e ingênuo,
Policarpo dedica a vida a estudar as riquezas do país. Além da descrição política
do final do século XIX, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbios
cariocas na virada do século.

Vamos então, antes da análise da obra-prima do autor, falar sobre o grande artista que a
compôs!

Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu em 13 de maio


de 1881, falecendo muito novo, em 1922, com apenas 41
anos de idade. Lima Barreto (como ficou conhecido) era
insistente, e foi uma voz ativa a falar sobre a escravidão
e o racismo em uma época que ninguém mais queria
falar sobre isso – afinal, era um momento pós-Abolição
(lembre-se que a abolição da escravatura aconteceu em
1888).

O autor falou sobre corrupção, política e criticou a


literatura de sua época. Hoje, ele é considerado um pré-
modernista. Foi um crítico das falhas do sistema
republicano e defensor dos direitos à cidadania. Causas bastante nobres!

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Sua obra está impregnada de fatos históricos e de uma perspectiva da sociedade


carioca. Analisa os ambientes e os costumes do Rio de Janeiro e faz uma crítica à
mentalidade burguesa da época.

Nesse sentido, ao contrário do que se espera, Lima Barreto foi uma voz solitária e descreditada
por muitas pessoas. Sua primeira obra antes de Triste Fim foi duramente criticada pelos
especialistas. Mesmo assim, o autor não deixou silenciar sua voz ativa, que bom!!

A obra de Lima Barreto que foi escrita na primeira década do século XX, no período da
primeira república, representou a fase de transição da literatura em que as influências
europeias vão se exaurindo e surge uma verdadeira renovação da linguagem e da
ideologia.

Esse período que não chegou a constituir um movimento literário foi denominado de Pré-
Modernismo. Entre outros autores do Pré-Modernismo destacam-se "Euclides da Cunha"
e "Monteiro Lobato".

Lima Barreto era neto de escravos. Sua mãe, Amália, faleceu ainda em sua infância de
tuberculose. Seu Pai, João Henriques, sofria de surtos psicóticos há algum tempo. É possível,
conforme alguns autores, ver em Policarpo Quaresma um reflexo do pai de Lima Barreto, que
também era um nacionalista. A obra que vamos analisar, então, "conversa" com a realidade do
próprio autor.

O autor teve complicações com o alcoolismo, motivo que o levou à morte precoce em 1922. Como
na época alcoolismo era associado a doenças mentais, foi internado em um hospício duas vezes.
Nessas ocasiões, também escreveu sobre suas experiências de internação em relatos lindíssimos e
também tristes. .

Atualmente, a obra de Lima Barreto continua relevante e passa a ganhar significados mais fortes,
por exemplo, para movimentos identitários negros. Assim, é importante conhecê-lo e reconhecer
a relevância dessa obra.

Obras de Lima Barreto

✓ Recordações do Escrivão Isaías Caminha, romance, 1909


✓ Aventuras do Dr. Bogoloff, humor, 1912
✓ Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance, 1915
✓ Numa e Ninfa, romance, 1915
✓ Vida e Morte de M. J. Gonzaga e Sá, romance, 1919

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✓ Os Bruzundangas, sátira política e literária, 1923


✓ Clara dos Anjos, romance, 1948
✓ Coisas do Reino do Jambon, sátira política e literária, 1956
✓ Feiras e Mafuás, crônica, 1956
✓ Bagatelas, crônica, 1956
✓ Marginália, crônica sobre folclore urbano, 1956
✓ Vida Urbana, crônica sobre folclore urbano, 1956

ANÁLISE DA OBRA

Triste Fim de Policarpo Quaresma

Essa icônica obra foi inicialmente publicada em um jornal (como era comum naquela época), em
1911, o Triste Fim de Policarpo Quaresma é a obra mais conhecida de Lima Barreto. É engraçado
notar que, embora a sua maestria, ele é um escritor que não recebeu o devido reconhecimento em
sua época, sendo atualmente resgatado para ser mais estudado. Que ótimo!

O personagem principal desta obra é um patriota obcecado. O significado do nome Policarpo


Quaresma já remete ao sofrimento, à dor e à abstinência. Tudo isso causado por uma devoção
quase sagrada ao Brasil. No livro, Lima Barreto contará a história desse personagem que simboliza
todo um contexto histórico do país.

Personagens

Antes de fazer para vocês o resumo da obra, sugiro que conheça os principais personagens!

Policarpo Quaresma: também conhecido como Major Quaresma, é o personagem principal da


obra. Todo o livro mostra como o nacionalismo ingênuo de Policarpo Quaresma vai ser testado na
realidade social que ele encontra.

No princípio do livro ficamos conhecendo mais sobre o personagem, as suas rotinas, os seus hábitos
e, principalmente, a paixão pelo seu país.

Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor
comum, palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave e absorvente. Nada de ambições
políticas ou administrativas; o que Quaresma pensou, ou melhor: o que o patriotismo o fez
pensar foi num conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditações sobre os seus
recursos, para depois então apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno
conhecimento de causa.

Adelaide: irmã do personagem principal. Ela mora com ele e vai acompanhá-lo ao longo da
história.

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Olga: afilhada de Policarpo Quaresma, inteligente e possui com o personagem principal uma
relação de carinho mútuo.

Armando Borges: marido de Olga, um homem ambicioso e corrupto. Por isso, não é bem
apreciado pela sua esposa.

Felizardo: homem negro que trabalha como empregado no sítio comprado por Policarpo
Quaresma.

General Albernaz: vizinho do personagem principal, participará da preparação de uma festa “bem
brasileira” com Policarpo Quaresma.

Maria Rita: o General Albernaz e Policarpo Quaresma buscam ajuda desta mulher já idosa para
conhecer cantigas populares brasileiras. Ela é uma mulher negra que era escravizada e vive em
condição de pobreza.

Ricardo Coração dos Outros: professor de violão de Policarpo Quaresma e se torna seu amigo. Ele
é apreciado por Quaresma por tocar músicas populares.

Doutor Campos: presidente da Câmara e tenta corromper o personagem principal, que nega o
apelo. Assim, tornam-se inimigos.

Vicente Coleoni: pai de Olga, é um imigrante italiano que é grato a Policarpo Quaresma por ter-
lhe emprestado dinheiro em momento de dificuldade.

Genelício: empregado do Tesouro, é um bajulador e é cheio de artimanhas para agradar aos chefes
e subir de cargo.

Marechal Floriano: presidente do Brasil de 1891 a 1894, sendo um dos personagens da história.

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Resumo da obra

A história se na capital do Brasil, na época, a cidade de Rio de


Janeiro. Policarpo Quaresma, logo no início da obra, já se apresenta
como um homem metódico. Ele é conhecido em seu bairro pelos
seus hábitos diários, que costumam ocorrer sempre nos mesmos
horários, sem alteração. Ao mesmo tempo, ele é também muito
apaixonado por tudo o que diz respeito ao Brasil: Major Quaresma
é um nacionalista.

Policarpo Quaresma, mais conhecido como Major Quaresma, há


quase trinta anos trabalhava como subsecretário no Arsenal de
Guerra e vivia numa casa em São Januário, mantendo uma rotina fixa
de horários e costumes. Era um homem pequeno, magro e usava
cavanhaque. Mantinha o olhar sempre baixo, porém profundo
quando mirava algo. Os vizinhos o respeitavam por ser um homem
abastado, mas estranhavam seus hábitos reclusos – só recebia
visitas do compadre e sua filha.

Embora publicada em 1915, século XX, a trama ocorre no século XIX, e Policarpo Quaresma tem
um desejo ardente em incentivar as pessoas a apreciarem uma cultura nacional puramente
brasileira. Por isso, ele começou aulas de violão com Ricardo Coração dos Outros, um famoso
cantor de modinhas. Esse evento causou alvoroço na vizinhança e contrariedade em sua irmã,
Adelaide, com quem vivia, já que o instrumento não era considerado nobre, mas um hábito de
desocupados. Mais tarde, junto com o General Albernaz, decidiu produzir uma festa que resgatasse
canções e danças tradicionais brasileiras.

Para cumprir a tarefa, foram atrás da Maria Rita, uma mulher velha que viveu escravizada antes da
Abolição. Quaresma e Albernaz insistiram que ela cantasse alguma canção tradicional, mas ela não
lembrava. Evidentemente, nenhum deles percebeu que, talvez, o pedido feito à velha mulher
negra a fizesse lembrar de um passado doloroso e sensível em sua memória.

Frustrados, Quaresma e Albernaz encontraram um poeta que dizia conhecer várias canções
tradicionais brasileiras. Mais tarde, o Major Quaresma acaba se frustrando novamente porque
descobre que essas músicas eram na verdade estrangeiras. Ele queria “arranjar alguma cousa
própria, original, uma criação da nossa terra e dos nossos ares.” – portanto, nada estrangeiro.

Nessa obsessão de compartilhar com todos uma cultura genuinamente brasileira, Policarpo
Quaresma propôs à Câmara um projeto que tornasse o tupi-guarani o idioma oficial do Brasil, o que
era algo um pouco (talvez muito) absurdo. Isso fez com que ele se tornasse um motivo de chacota
nos jornais. No fim, o Major Policarpo Quaresma foi internado em um hospício por causa de suas
ideias.

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No hospital psiquiátrico, recebeu visitas apenas de sua afilhada, Olga, e Ricardo Coração dos
Outros. Após o fim da sua internação, Policarpo Quaresma decide se mudar para um sítio afastado
da cidade – e chamou-o de “Sítio do Sossego”. Apesar do sossego que pretendia, Quaresma ainda
estava aflito: tentou plantar na terra de sua pátria amada que teria o solo mais fértil, mas descobriu
que seria impossível algo dar fruto sem os adubos estrangeiros.

A nova vizinhança de Policarpo Quaresma chamou a atenção de Olga por causa da miséria que
havia ali. Mesmo com tanta terra para plantar, as pessoas eram pobres e o lugar tinha um clima
triste. Um dos habitantes explicou que “Terra não é nossa… E ‘frumiga’?… Nós não ‘tem’
ferramenta… isso é bom para italiano ou ‘alamão’, que governo dá tudo… Governo não gosta de
nós…”

Um funcionário público, Antônio, advertiu Quaresma: “O senhor verá com o tempo, major. Na
==2375e4==

nossa terra não se vive senão de política, fora disso, babau!”. Logo mais tarde, o major recebeu uma
oferta corrupta do presidente da Câmara, dr. Campos, e recusou. Assim, acabaram se tornando
inimigos, criando mais uma razão de aflição para Policarpo Quaresma.

Frustrado com a vida afastada da cidade, Policarpo Quaresma decide retornar ao Rio de Janeiro
quando soube da eclosão da Revolta da Armada. Os marinheiros se rebelaram contra o governo de
Floriano Peixoto, e o Major Quaresma decidiu se voluntariar para defender o seu presidente.

O autor faz referências, por exemplo, à Revolta da Armada, rebelião organizada


pela Marinha brasileira para fazer oposição aos dois primeiros governos
republicanos do Brasil, que cada vez mais apresentavam características da
ditadura: primeiramente o governo de Marechal Deodoro da Fonseca e, em
seguida, o governo do Marechal Floriano Peixoto.

Além de o contexto histórico de Triste fim de Policarpo Quaresma ter como base
o governo ditatorial de Floriano Peixoto, o autor também fez críticas sociais a
algumas questões da sociedade dessa época, como, por exemplo, a troca de
favores políticos, as injustiças sociais e a burocracia.

Inicialmente corria tudo bem com o major. Ele havia escrito um projeto agrícola para o Brasil, que
acabou sendo lido pelo próprio Floriano Peixoto. Na ocasião, o presidente elogiou o Quaresma
como sendo um “visionário.”

Com a vitória do Exército, Quaresma foi posto no cargo de carcereiro. Entretanto, essa função nas
prisões permitiu que o major testemunhasse as injustiças cometidas contra os prisioneiros. Os

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marinheiros rebeldes eram fuzilados, o que fez com que Policarpo Quaresma redigisse cartas e
críticas endereçadas ao próprio Floriano Peixoto, a fim de mudar a situação.

Por maior que fosse a boa intenção e o sentimento de justiça pela sua pátria que Policarpo
Quaresma tivesse, seu posicionamento foi visto como uma traição ao governo. Seu próprio ídolo,
Floriano Peixoto, mandou fuzilar o major. E esse foi o triste fim do nosso Policarpo Quaresma.

Contexto histórico de Triste fim de Policarpo Quaresma

Em 1889, a monarquia chegou ao fim para dar lugar ao regime republicano. A partir daí, iniciou-se
um processo de reforma dos centros urbanos das grandes cidades, com o objetivo de substituir a
arquitetura portuguesa por um espaço moderno. No Rio de Janeiro, tais reformas ficaram
conhecidas como “bota-abaixo”, tendo início em 1902.

Em função disso, houve a extinção dos cortiços, de onde os pobres moradores se deslocaram para
espaços que, mais tarde, foram chamados de favelas. Muitos de seus habitantes eram escravos
libertos no ano de 1888 e seus descendentes. Mas a pobreza não estava restrita ao Sudeste. No
Nordeste do país, a seca contribuía para o aumento da miséria.

Em contrapartida, o café fazia a riqueza dos fazendeiros de São Paulo, que detinham também
poder político durante o período histórico conhecido como República Velha, que durou de 1889 a
1930. Desse modo, o Brasil apresentava evidentes problemas sociais e inevitáveis conflitos
políticos.

Durante os primeiros anos de governo republicano, ocorreu, no Rio de Janeiro, a Revolta da


Armada, entre 1891 e 1894. Esse movimento foi promovido por integrantes da Marinha que
pretendiam depor o presidente Floriano Peixoto. Porém, eles não obtiveram apoio popular e nem
do Exército, de forma que o movimento foi duramente contido."

A vida de Policarpo no subúrbio

Ao narrar a vida de Policarpo Quaresma no subúrbio do Rio de Janeiro, Lima Barreto acaba por
fazer uma descrição dessa camada social e da rotina de um funcionário público.

Dessa maneira, Ricardo Coração dos Outros gozava da estima geral da alta sociedade
suburbana. É uma alta sociedade muito especial e que só é alta nos subúrbios. Compõe-se
em geral de funcionários públicos, de pequenos negociantes, de médicos com alguma
clínica, de tenentes de diferentes milícias, nata essa que impa pelas ruas esburacadas
daquelas distantes regiões, assim como nas festas e nos bailes, com mais força que a
burguesia de Petrópolis e Botafogo. (...) o orgulho da aristocracia suburbana está em ter
todo dia jantar e almoço, muito feijão, muita carne-seca, muito ensopado

O romance de Lima Barreto faz um retrato do subúrbio e do tempo em que o escritor viveu,
trazendo ao público hábitos e problemas de um estrato social específico.

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Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, além de contar a história pessoal de um protagonista


excêntrico, Lima Barreto aproveita para fazer um registro, e uma crítica, do meio onde estava
inserido, com todo o preconceito, o racismo e a hipocrisia que assistia no seu dia a dia.

Análise da obra e contexto histórico

Tempo: o livro foi publicado em


Espaço: a trama ocorre na cidade 1915, mas os fatos históricos da
Narrador: a história é narrada em do Rio de Janeiro, capital do obra tratam do período de mais
terceira pessoa. Brasil na época. Foi também de 20 anos atrás, no tempo da
onde o livro fora publicado. presidência de Floriano Peixoto
(1891-1894).

Fatores externos: o cenário


Foco narrativo: a narrativa enfoca histórico em que o autor posiciona
a trajetória de Policarpo a história é pós-Abolição, na
Quaresma, personagem principal Primeira República e já no
da história. governo do segundo presidente
do Brasil, Floriano Peixoto.

O romance, publicado em 1915, é dividido em três partes. Cada uma delas possui cinco capítulos.
Além de narrar a história do protagonista, ele também relata fatos da vida daqueles que o cercam
(como sua afilhada Olga), mostra características do subúrbio e discute questões políticas da
época."

Policarpo Quaresma representa o ufanismo nacionalista sobre a formação do Brasil enquanto uma
nação. O objetivo do personagem, então, é afirmar o Brasil como um país independente, com
uma cultura singular e original, um idioma próprio.

O Major Quaresma tenta insistentemente procurar esses elementos no Brasil. A história conta as
frustrações do personagem nessa busca, como quando tenta plantar algo em sua terra e descobre
que é necessário comprar adubos estrangeiros para ter sucesso no plantio.

No entanto, Quaresma se esquece das condições que o Brasil emergiu: seu passado colonial e seu
estado de nação dependente. Conforme a análise do sociólogo Florestan Fernandes, a
descolonização do Brasil nunca se tornou uma realidade concreta. As formas de sociabilização, as
condições sociais em que as pessoas vivem e a dependência do Brasil em relação às nações
dominantes nunca mudou.

Lima Barreto, autor do livro, deixa esse aspecto bastante evidente. Os brasileiros fora dos centros
das cidades vivem na miséria, sem terra própria e sem condições de cultivá-la. As pessoas

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anteriormente escravizadas continuam em estado de pobreza, e as relações senhoriais continuam


vivas entre as pessoas.

A população negra brasileira, que é a maioria no país, continuou, mesmo depois da Abolição da
Escravidão, ocupando em geral serviços que não lhe garantia uma ascensão econômica. Apesar
disso, Policarpo Quaresma muitas vezes naturaliza essa condição de miséria e apenas busca uma
“cultura popular tradicional” como símbolo nacional, mas não questiona em que medida o Brasil é
uma nação independente para todas as pessoas.

Falar de nação, de língua-mãe, de uma cultura genuína, pode fazer sentido em nações europeias
dominantes. Países como o Brasil, com passado colonial, possui outros problemas que não
podem ser ignorados. Policarpo Quaresma teve de enfrentar esses problemas quando procurou
por uma nação independente e genuína no Brasil.

O próprio Lima Barreto teve de encarar, durante sua vida, muitas barreiras sociais. É verdade que
o Brasil entrou em uma eclosão do capitalismo após a Abolição e a Primeira República, mas a
sociedade não rompeu com concepções escravistas e autoritárias. Um exemplo desse
autoritarismo é do próprio Floriano Peixoto, que manda fuzilar Policarpo Quaresma.

Ainda conforme Florestan Fernandes, a Abolição acabou significando uma “revolução de branco
para branco.” Como criar, nessas condições, uma identidade nacional genuína? Lima Barreto
consegue apontar para essas contradições em sua obra. Em suas ironias, o autor capta o caráter
das relações sociais de sua época.

Na obra de Lima Barreto, esse nacionalismo ingênuo com a realidade concreta do Brasil acabou,
assim, em um triste fim.

Estilo literário da obra Triste fim de Policarpo Quaresma

Já vimos que se trata de um romance pré-modernista.

Dentre as características pré-modernistas presentes na obra, destacam-se as seguintes:

✓ Nacionalismo e regionalismo.
✓ Denúncia social.
✓ Temas históricos e cotidianos.
✓ Linguagem coloquial.

É importante lembrar que, para muitos estudiosos, o Pré-modernismo não é considerado uma
escola literária por possuir várias produções artísticas e literárias diferentes.

A obra faz também uma clara crítica ao ROMANTISMO BRASILEIRO. Estilo literário que surgiu
logo após a Independência do Brasil (1822) e teve como primeira geração a chamada
NACIONALISTA ou INDIANISTA. No Romantismo, o idealismo era a tônica da subjetividade e havia
uma busca quase que insensata de se criarem símbolos que representassem o Brasil: indígenas e a

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natureza. Deixo a seguir um exemplo de poema do Romantismo para que você possa verificar esse
tom nacionalista sobre o qual eu falo:

Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde Canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossas flores têm mais vida,
Nossa vida mais amores
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde Canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Gonçalves Dias)

Texto mais famoso do romantismo primeira geração, o poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias,
representa o Brasil romântico, idealizado, perfeito. A exaltação da natureza é imensa. O eu-lírico que se diz
exilado pede a Deus que um dia possa voltar para a terra da qual tanto sente falta, o Brasil.

É a esse nacionalismo idealista e irreal que Lima Barreto tão brilhantemente critica.

Trechos da obra Triste fim de Policarpo Quaresma

Para finalizar a nossa análise, nada como as palavras do próprio narrador, certo? Dessa forma, será possível
compreender melhor a linguagem de Lima Barreto; então, confira a seguir alguns trechos das três partes do
enredo da obra.

Primeira parte - A lição de violão

“Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e
quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era
subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da
padaria francesa.

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Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o
bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário,
bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno
matematicamente determinado, previsto e predito.

A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-
se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: “Alice, olha que são horas; o Major
Quaresma já passou.”

E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além
do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos,
gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.”

Segunda parte - No “Sossego”

“Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha, entretanto, o aspecto tranqüilo e satisfeito de quem se julga
bem com a sua sorte.

A casa erguia-se sobre um socalco, uma espécie de degrau, formando a subida para a maior altura de uma
pequena colina que lhe corria nos fundos. Em frente, por entre os bambus da cerca, olhava uma planície a
morrer nas montanhas que se viam ao longe; um regato de águas paradas e sujas cortava-a paralelamente
à testada da casa; mais adiante, o trem passava vincando a planície com a fita clara de sua linha capinada;
um carreiro, com casas, de um e de outro lado, saía da esquerda e ia ter à estação, atravessando o regato e
serpeando pelo plaino. A habitação de Quaresma tinha assim um amplo horizonte, olhando para o levante,
a “noruega”, e era também risonha e graciosa nos seus caiados. Edificada com a desoladora indigência
arquitetônica das nossas casas de campo, possuía, porém, vastas salas, amplos quartos, todos com janelas,
e uma varanda com uma colunata heterodoxa. Além desta principal, o sítio do “Sossego”, como se chamava,
tinha outras construções: a velha casa da farinha, que ainda tinha o forno intacto e a roda desmontada, e
uma estrebaria coberta de sapê.”

Terceira parte - Patriotas

“Havia mais de uma hora que ele estava ali, num grande salão do palácio, vendo o marechal, mas sem lhe
poder falar. Quase não se encontravam dificuldades para se chegar à sua presença, mas falar-lhe, a cousa
não era tão fácil.

O palácio tinha um ar de intimidade, de quase relaxamento, representativo e eloqüente. Não era raro ver-
se pelos divãs, em outras salas, ajudantes-de-ordens, ordenanças, contínuos, cochilando, meio deitados e
desabotoados. Tudo nele era desleixo e moleza. Os cantos dos tetos tinham teias de aranha; dos tapetes,
quando pisados com mais força, subia uma poeira de rua mal varrida. Quaresma não pudera vir logo, como
anunciara no telegrama. Fora preciso pôr em ordem os seus negócios, arranjar quem fizesse companhia à
irmã. Fizera Dona Adelaide mil objeções à sua partida; mostrara-lhe os riscos da luta, da guerra,
incompatíveis com a sua idade e superiores à sua força; ele, porém, não se deixara abater, fizera pé firme,

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Rafaela Freitas
Aula 03

pois sentia, indispensável, necessário que toda a sua vontade, que toda a sua inteligência, que tudo o que
ele tinha de vida e atividade fosse posto à disposição do governo, para então!... oh!”

Fico por aqui, pessoal! na próxima aula, trarei questões comentadas das duas obras literárias exigidas para
este concurso.

Temos um encontro marcado para o dia 24/03/2023, às 14h, no canal do Estratégia Concursos!

Até a próxima aula!

Prof.ª Rafaela Freitas

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