Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Efésios 1:4
Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor.
Nos escolheu – grego “, escolheu-nos para si mesmo” (ou seja, fora do mundo, Gálatas 1:4):
referindo-se a sua escolha original, falado de como passado.
Nele – A repetição da ideia, “em Cristo” (Efésios 1:3), implica a importância primordial da
verdade que está nEle, e em virtude da união com Ele, o Segundo Adão, o Restaurador
ordenado por nós de eterna, a cabeça da humanidade redimida, os crentes têm todas as
suas bênçãos (Efésios 3:11).
Antes da fundação do mundo – Isto assume a eternidade do Filho de Deus (Jo 17:5,24),
como da eleição dos crentes nEle (2Timóteo 1:9; 2:13).
Diante dele – É para Ele que o crente olha, caminhando como em Sua presença, diante de
quem ele olha para ser aceito no juízo (Colossenses 1:22; compare com Apocalipse 7:15).
Em amor – junto-me a Bengel e outros com Efésios 1:5, “no amor nos predestinou”, etc. As
palavras qualificam a sentença inteira, “que devemos ser santos … diante dEle”. O amor
perdido pelo homem pela queda, mas restaurado pela redenção, é a raiz, o fruto e a soma
de toda a santidade (Efésios 5:2; 1Tessalonicenses 3:12-13). [JFB]
Que a eleição é corporativa é indiscutível, uma vez que Deus escolheu sua igreja antes da
fundação do mundo, sendo ela composta de judeus e gentios crentes conforme Paulo nos diz
em Ef 2.14, 16. O problema é interpretar a passagem como sendo de caráter corporativo
apenas e não individual. Mas analisemos a perícope em questão.
Paulo nos diz que Deus “nos elegeu nele [em Cristo] antes da fundação do mundo, para
sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Alguns interpretam a passagem como
significando que Deus escolheu um povo, isto é, a igreja, como um conceito abstrato, mas
que não escolheu individualmente quem fará parte desse povo. Mas antes de entrar na
análise exegética propriamente dita, analisemos uma ilustração proposta por Thomas
Schreiner a fim de entendermos se a eleição corporativa faz sentido:
“Suponha que você diga: “Eu vou escolher comprar um time de baseball profissional.” Isto faz
sentido se você então compra o Minnesota Twins ou o Los Angeles Dodgers. Mas se você faz
isto, você escolhe os membros daquele time específico sobre outros jogadores individuais em
outros times. Não faz sentido dizer: “Eu vou comprar um time de baseball profissional” que
não tem membros, sem jogadores, e então permite que quem desejar vir jogue no time. No
último caso, você não escolheu um time. Você tem escolhido que haja um time, a composição
do que está totalmente fora do seu controle. Então escolher um time requer que você
escolha um time entre outros juntamente com os indivíduos que o compõem. Escolher que
haja um time não implica na escolha de um grupo sobre outro, mas apenas que um grupo
pode formar em um time se eles quiserem. O ponto da analogia é que se há realmente tal
coisa como a escolha de um grupo específico, então a eleição individual está implicada na
eleição corporativa.”[1]
A ilustração em si demonstra que uma eleição exclusivamente corporativa não faz sentido.
Mas vejamos mais algumas considerações de caráter exegético para a fundamentação da
concepção de uma eleição individual.
O versículo posterior nos diz que Deus “nos predestinou para sermos filhos de adoção por
Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”. O que temos aqui é a
doutrina da adoção. Certamente ninguém afirmaria que indivíduos não são adotados ou que
Cristo redimiu por meio do seu sangue a igreja corporativamente. Mas que Deus adotou
indivíduos, redimindo-os individualmente.
Uma passagem paralela a Efésios 1.4 é Romanos 8.30 que diz: “e aos que predestinou, a estes
também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes
também glorificou.” Todos creem que as bênçãos aqui como o chamado e a justificação, por
exemplo, são individuais. A pergunta é: que sentido faria interpretar essas bênçãos como
sendo individuais e a eleição como exclusivamente corporativa? Nenhum! Isso iria contra os
princípios elementares da hermenêutica.
Outra razão pela qual a interpretação de que a eleição é apenas corporativa não faz sentido é
o que está expresso no verso 13 que diz: “no qual também vós, tendo ouvido a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o
Espírito Santo da promessa.” Certamente ele está falando a indivíduos bem como à igreja
enquanto entidade corporativa. Ninguém diria que a igreja é selada com o espírito santo
corporativamente, mas que cada um que crê é selado individualmente.
Analisando Ef 1.4, Forster e Marston afirmam:
“Nós somos escolhidos em Cristo. Isto não significa que nós fomos escolhidos para sermos
colocados em Cristo. Isto significa que quando nós nos arrependemos e nascemos de novo
no corpo de Cristo, nós participamos do seu povo eleito.”[2]
No entanto, o texto não diz que Cristo foi eleito como alguns interpretam. O objeto do verbo
“escolher” é “nos”. Além disso, quando o texto diz “nos escolheu nele” isto provavelmente
significa que Deus escolheu que a salvação seria experimentada “através de Cristo”. Ele é o
agente e a pessoa através de quem a obra eletiva de Deus se concretizaria.
Um comentário de Steve Hays é crucial para o entendimento do texto em questão. Ele diz:
Uma análise do verbo grego pode nos ajudar a compreender melhor o texto. Steve Hays
prossegue:
“O verbo (eklego) normalmente toma um objeto definido: Cristo escolheu os doze apóstolos
(Lc 6.13; Jo 6.70; 13.18; At 1.2). O pai escolheu o filho (Lc 9.35). A igreja escolheu Estêvão (At
6.5). A igreja escolheu Silas e Barnabé (At 15.22). Não há, então, presunção de que o verbo
não toma um objeto definido e/ou tem uma classe plural, abstrata em vista. A noção de
escolha do senso comum é geralmente construída para significar “selecionar de um grupo,”
não “selecionar um grupo”. O uso bíblico simplesmente confirma esta noção.”
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Evangelho de hoje (Mc 6,7-13)
As instruções que Jesus deu a Seus discípulos nos servem hoje como orientação para a trajetória
da nossa vida aqui na terra. Jesus veio instaurar no mundo uma nova maneira de ser e de viver, no
amor e na fraternidade sem dependência das coisas materiais que nos escravizam. Por isto, Ele
nos ensina a caminhar em unidade com os irmãos, nunca seguindo sozinhos (as), e a nos
desapossar de coisas que não são as essenciais para a nossa trajetória. E para que sejamos fiéis
seguidores desse Projeto e obedientes ao Evangelho de Cristo nós também somos enviados (as) a
caminhar aqui na terra tendo o nosso próximo como companheiro com a consciência de que não
podemos viver isolados como uma ilha. Jesus enviou Seus discípulos, dois a dois, pelo mundo a
fora levando a Sua paz e anunciando o Seu reino de amor, deu-lhes poder sobre os espíritos
impuros e recomendou-lhes que não “levassem nada para o caminho, a não ser um cajado”. E
ordenou-lhes: “nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura”, mas acrescentou “que
andassem de sandálias e não levassem duas túnicas”. Jesus também nos dá consciência de
que algumas coisas nos são necessárias, outras, são supérfluas. O cajado é a Sua Palavra posta em
nossas mãos e acolhida no nosso coração. É Ela quem nos dá perseverança e nos sustenta, orienta
os nossos passos e nos faz ir por caminho seguro. O pão, a sacola e o dinheiro são as nossas
preocupações, apreensões e inquietações com a nossa sobrevivência, o nosso bem-estar, cuidados
que mantemos com o alimento, vestimenta e necessidades do dia a dia. Jesus, no entanto, nos
recomenda a usar “sandálias” para que os nossos pés não se machuquem com a dureza da
estrada. Significa a vida de oração e adoração na intimidade do Espírito Santo que nos dá respaldo
e firmeza para caminhar sem machucar os nossos pés e nos motiva a dar passos e a sair do lugar a
fim de enfrentar a vida. Finalmente, Jesus nos diz para não levarmos “duas túnicas”, isto é, o que
nós mantemos como reserva para quando nos faltar o principal. Todas estas recomendações nos
levam à consciência de que a confiança na Providência do Pai é a melhor poupança que podemos
nutrir em nós mesmos. Quando fazemos a experiência de depender completamente do Amor de
Deus Pai que se manifestou por meio de Jesus Cristo, verificamos que nada trazemos nas mãos, no
entanto, nada nos falta. Dessa forma, nós temos poder até sobre os espíritos impuros, pois a
capacidade de Deus habita em nós. Não precisamos também ficar mudando de lugar a todo
instante. Jesus nos recomenda para que tenhamos perseverança. Ele não nos envia para longe, Ele
quer nos ensinar essa nova mentalidade a partir dos nossos relacionamentos familiares. – Como
você tem feito a caminhada da sua vida? – Você tem se preocupado em levar, pão,
sacola, dinheiro, duas túnicas? – A oração tem sido sandália para os seus pés? Em
qual cajado você tem se apoiado? – Você acha que precisa de muitas coisas para viver
e dar testemunho de Jesus? – Quais as armas que você está usando para conquistar
a sua família? – Qual a impressão que você está deixando dentro da sua casa em
Ainda a nível de contexto, é importante recordar que Jesus constituiu os Doze com duas
finalidades: “E constituiu Doze, para que ficassem com ele, e para enviá-los a pregar, com
autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3,14). Ora até aqui, no capítulo sexto, os Doze
tinham apenas estado com Jesus, acompanhando-o na sua itinerância, escutando sua
pregação e observando os sinais operados. O episódio de Nazaré faz Jesus perceber que era
chegado o momento de enviá-los, pois a necessidade era grande. Jesus sabia que eles ainda
não estavam totalmente prontos, pois no prosseguimento do Evangelho lhes fará diversas
correções e advertências pelas incoerências percebidas (cf. Mc 8,33; 10,35). No entanto, era
necessário fazer um primeiro teste, tendo em vista as exigências das circunstâncias.
Jesus confere aos discípulos os mesmos dons que recebeu do Pai, e os capacita a tornarem
real a sua própria presença durante a missão: “dando-lhes poder sobre os espíritos
impuros” (v. 7b). Esses espíritos impuros são todas as forças do mal presentes no mundo que
geram violência, injustiça, exclusão, morte e preconceito; é tudo o que impede o ser humano
de uma relação saudável com o Deus da vida e com o próximo e consigo mesmo; por isso, se
constituem como obstáculos à realização do Reino de Deus. Muitas vezes, esses elementos
eram criados pela própria religião, como a segregação e condenação por doenças físicas e
psíquicas. O poder (em grego: evxousi,a – ekzussia) conferido sobre tudo isso é o mesmo
que o próprio Jesus já exercia. Não é um poder de domínio sobre as pessoas, mas o contrário:
é o poder de combater tudo o que escraviza e priva o ser humano de sua liberdade e
dignidade plenas.
Tendo sido rejeitado em seu próprio povoado, Jesus via a rejeição como uma possibilidade
bem concreta e possível, por isso, preveniu também os seus discípulos: “Se em alguma lugar
não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés,
como testemunho contra eles” (v. 11). Essa recomendação reflete bem o momento vivido por
Jesus em Nazaré. Ainda chocado (cf. Mt 6,6) com a rejeição ali recebida, Jesus alerta os
discípulos a não insistirem, pois devem respeitar a liberdade das pessoas; o Reino é
anunciado e oferecido, mas não pode ser imposto. Mais uma vez, o evangelista aproveita
também essas mesmas palavras para combater a tendência na comunidade de afastar-se do
princípio da hospitalidade. Todos devem estar disponíveis a acolher o peregrino, sobretudo,
quando esse é portador da Boa Nova. O “testemunho contra” não é uma forma de
condenação, mas a confirmação de que o Evangelho foi proposto, porém foi rejeitado. As
consequências para quem rejeita o Evangelho é viver privado do amor e da bondade de Deus,
tão essenciais para o sentido da vida.
Dadas as instruções de envio, “Então os doze partiram e pregaram que todos se
convertessem” (v. 12). Quanto ao conteúdo específico da pregação, o evangelista não entra
em detalhes. Apenas diz que consistia num anúncio de conversão. Ora, conversão (em grego:
metanoia – metanoia) significa mudança de mentalidade e pensamento. A adesão aos valores
do Evangelho exige rupturas com a maneira tradicional de pensar e compreender as coisas,
inclusive a relação com Deus. Jesus percebeu em Nazaré que era urgente que aquele povo
passasse por um processo de conversão, passando a uma jeito novo de conceber o mundo, a
vida e Deus. Por isso, enviando seus discípulos a outros povoados, propõe que todas as
pessoas passem por esse processo. Com a mentalidade antiga conservadora, apegada à lei,
era impossível acolher a novidade do Reino de Deus.
Ao ler e meditar hoje esse trecho do Evangelho segundo Marcos, a comunidade cristã é
convidada a refletir sobre a sua fidelidade aos ensinamentos de Jesus e a o seu envio, para
recuperar aquilo que é realmente essencial à vida cristã. No mundo de hoje, marcado pelo
individualismo e pela competitividade, não faltam questionamentos sobre a eficácia do
anúncio cristão. A única resposta adequada a esses questionamentos é a coragem dos cristãos
e cristãs para voltarem a viver à maneira de Jesus, como ele mesmo recomendou aos
primeiros discípulos enviados.
Se em apenas três décadas após a morte de Jesus, Marcos percebeu que sua comunidade já
dava sinais de distanciamento da sua proposta de vida, muito mais pode ser percebido depois
de dois mil anos. Por isso, a necessidade de conversão é cada mais urgente. Que possamos,
enquanto cristãos e cristãs, identificar os males que nos impedem de viver radicalmente o
que Jesus propõe, para o Reino de Deus ser de novo experimento e vivido.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ainda na sua terra Jesus começou a enviar os doze discípulos a pregar. O texto em que Jesus os envia nos
mostra algumas coisas bem interessantes sobre o ide. No caso desse texto a maioria das instruções são
bastante específicas para os discípulos, mas alguns princípios ainda podem ser observados em nossos dias.
A primeira característica que vemos no texto é que Jesus enviou os discípulos dois a dois. Esta é uma
característica muita importante quando tratamos sobre companheirismo e mesmo sobre guerra espiritual.
Não é bom que os servos de Jesus atuem sozinhos, pois podem cair em engano. O companheirismo é
importante para que exista equilíbrio no ministério. Quando tratamos sobre guerra espiritual este princípio
também é importante. O ide de Jesus não é um simples ir e falar de Deus e do arrependimento, mas um
saque ao inferno. O evangelismo é a ponta da lança que atinge o diabo e por isso é claro que as hostes
malignas se levantarão contra todos que se dispuserem a ir em nome do Senhor. Por isso é importante que
sejam sempre dois, para que ambos se fortaleçam em Cristo. Este é um princípio válido até hoje.
"E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para
a obra a que os tenho chamado" Atos 13:2.
Talvez a característica mais importante desse texto seja o chamado. Veja que o primeiro ato de Jesus foi
enviar os doze. Eles não foram pregar a palavra de livre e espontânea vontade, mas foram incumbidos e
direcionados por Deus. Esse é um princípio que, apesar de ter sido esquecido, é muito real ainda nos nossos
dias. Aliás, muitos dos ditos homens de Deus do nosso tempo não foram chamados para o ministério. É por
isso que existe tanta mescla e erro nas denominações.
Para ser chamado por Deus devemos primeiro conhecê-lo e depois nos colocar diante dele em oração, jejum
e súplica para que do alto venha o nosso chamamento pelo Espírito Santo. Foi assim com Paulo, outrora
Saulo, profundo conhecedor da lei que passou vários anos no deserto para só depois ser chamado por Deus
para o ministério. Ele e Barnabé não só foram chamados, como foram chamados pelo poder do Espírito
Santo. E não foram apenas separados como também foram enviados pelo Espírito Santo (Atos 13:4), que
lhes indicou o caminho pelo qual deveriam seguir.
Glória seja dada a Deus que em tudo age soberanamente em todas as coisas! Ele é quem deve nos guiar nos
mínimos detalhes, em todo o tempo e em todos os nossos caminhos.
Uma realidade do ide é o embate contra as castas espirituais do mal. Como já dito no texto, o evangelismo é
a ponta da lança do evangelho. A palavra nos diz que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja
do Senhor. E isto não foi dito à toa. Primeiro que nós, enquanto Igreja, devemos entender o nosso ide e nos
levantar contra as portas do inferno para o saquear. Mas também devemos que compreender que estes
espíritos malignos se levantarão contra nós. Eles, todavia, não prevalecerão. Aleluia!
Assim como Jesus concedeu aos discípulos autoridade sobre os espíritos malignos, também nós recebemos
tal autoridade mediante Cristo Jesus. Quando falamos sobre o ide devemos entender que a nossa luta não é
contra carne e sangue, mas contra os principados e potestades nas regiões espirituais. Se o Senhor lhe
incumbiu do ide, saiba que a maior parte do que Deus fará se resume em sua santificação e oração antes de
mesmo de dar o primeiro passo. A vitória do enviado de Deus não se resume em seus dons ou habilidades,
mas no agir sobrenatural do Espírito Santo. É esse agir que devemos buscar em oração.
Se estamos sendo guiados por Deus, também por Deus seremos sustentados em todas as nossas
necessidades. A nossa pouca fé deve sempre confiar na provisão que o Senhor nos dará em todo lugar que
estivermos. Por isso foi dito: "digno é o trabalhador do seu salário" Lucas 10:7. A palavra não mente e não
mudará. Se labutamos a causa do Senhor, então certamente ele mesmo nos sustentará em todas as coisas.
Entretanto, dura é essa palavra para aqueles que dependem das coisas deste mundo! Essa é a vida que Deus
requer daqueles que são chamados para cumprir o seu ide.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--
1. Nos sete Círculos deste bloco (Mc 3,13-6,13), cresceu o conflito e apareceu o mistério de Deus
que envolvia a pessoa de Jesus. Agora, chegando no fim, a narração entra numa curva. Começa
a aparecer uma nova paisagem. O texto que meditamos neste encontro é um resumo do segundo
bloco e faz a ligação com o terceiro bloco (Mc 6,14 a 8,21). Ele tem duas partes bem distintas,
como os dois pratos da balança. A primeira descreve como o povo de Nazaré se fecha frente a
Jesus (Mc 6,1-6). A segunda descreve como Jesus se abre para o povo da Galileia enviando os
discípulos em missão (Mc 6,7-13).
2. No tempo em que Marcos escreveu o seu evangelho, as comunidades cristãs viviam uma
situação difícil, sem horizonte. Humanamente falando, não havia futuro para elas. A descrição do
conflito que Jesus viveu em Nazaré e do envio dos discípulos, que alargava a missão, despertava
nelas a criatividade. Pois para quem crê em Jesus não pode haver uma situação sem horizonte.
II. COMENTANDO
É sempre bom voltar para a terra da gente. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como
de costume, no dia de sábado, foi para a reunião da comunidade. Jesus não era coordenador,
mesmo assim ele tomou a palavra. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua
opinião. Mas o povo não gostou das palavras dele e ficou escandalizado. Jesus, um moço que
eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? O povo de Cafarnaum
tinha aceitado o ensinamento de Jesus (Mc 1,22), mas o povo de Nazaré se escandalizou e não
aceitou. Motivo? “Esse não é o carpinteiro, filho de Maria?” Eles não aceitaram o mistério de Deus
presente num homem comum como eles! Para poder falar de Deus ele teria que ser diferente
deles!
Como se vê, nem tudo foi bem-sucedido. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a
Boa-nova, estas são as que se recusam a aceitá-la. O conflito não é só com os de fora de casa,
mas também com os parentes e com o povo de Nazaré. Eles recusam, porque não conseguem
entender o mistério que envolve a pessoa de Jesus: “De onde vem tudo isso? Onde foi que
arranjou tanta sabedoria? Ele não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, de Joset, de
Judas e de Simão? E suas irmãs não moram aqui conosco?” Não deram conta de crer.
Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: “Um profeta só não é
estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família!” De fato, onde não existe
aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo
querendo, não pôde fazer nada. Ele ficou admirado da falta de fé deles.
3. Marcos 6,6b-13: Envio dos doze para a missão
O conflito cresceu e tocou de perto a pessoa de Jesus. Como ele reage? De duas maneiras. 1)
Diante do fechamento da sua família e do seu povoado, Jesus deixou Nazaré de lado e começou
a percorrer os povoados nas redondezas. 2) Ele abriu a missão e intensificou o anúncio da Boa-
nova. Chamando os doze, os enviou com as seguintes recomendações: deviam ir dois a dois,
receberam poder sobre espíritos maus, não podiam levar nada no bolso, não deviam andar de
casa em casa e, caso não fossem recebidos, deviam sacudir o pó das sandálias e seguir adiante.
E eles foram. É o começo de uma nova etapa. Agora já não é só Jesus, mas é todo o grupo que
vai anunciar a Boa-nova de Deus ao povo. Se a pregação de Jesus já dava conflito, quanto mais
agora, com a pregação de todo o grupo! Se o mistério já era grande, ainda será maior com a
missão intensificada.
III. ALARGANDO
Envio e missão
No tempo de Jesus havia vários outros movimentos de renovação. Por exemplo, os essênios e os
fariseus. Também eles procuravam uma nova maneira de conviver em comunidade e tinham os
seus missionários (cf. Mt 23,15). Mas estes, quando iam em missão, iam prevenidos. Levavam
sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida. Pois não confiavam na comida do povo, que
nem sempre era ritualmente “pura”.
a) Deviam ir sem nada. Não podiam levar nada, nem bolsa, nem ouro, nem prata, nem dinheiro,
nem bastão, nem sandálias, nem sequer duas túnicas. Isto significa que Jesus os obriga a confiar
na hospitalidade. Pois quem vai sem nada vai porque confia no povo e acredita que será
recebido. Com esta atitude criticavam as leis de exclusão, ensinadas pela religião oficial, e
mostravam, pela nova prática, que tinham outros critérios de comunidade.
b)Deviam comer o que o povo lhes dava. Não podiam viver separados com sua própria comida e
deviam aceitar a comunhão de mesa. Isto significa que, no contato com o povo, não deviam ter
medo de perder a pureza tal como era ensinada na época. Com esta atitude criticavam as leis da
pureza em vigor e mostravam, pela nova prática, que tinham outro acesso à pureza, isto é, à
intimidade com Deus.
c)Deviam ficar hospedados na primeira casa em que fossem acolhidos. Isto é, deviam conviver de
maneira estável e não andar de casa em casa. Deviam trabalhar como todo o mundo e viver do
que recebiam em troca, “pois o operário merece o seu salário” (Lc 10,7). Em outras palavras, eles
deviam participar da vida e do trabalho do povo, e o povo os acolheria na sua comunidade e
partilharia com eles casa e comida. Significa que deviam confiar na partilha. Isto também explica a
severidade da crítica contra os que recusavam a mensagem (Lc 10,10-12), pois não recusavam
algo novo, mas sim o seu próprio passado.
d) Deviam tratar dos doentes e necessitados, curar os leprosos e expulsar os demônios (Lc 10,9;
Mt 10,8). Isto é, deviam exercer a função de “defensor” (goêl) e acolher para dentro do clã, dentro
da comunidade, os que viviam excluídos. Com esta atitude criticavam a situação de desintegração
da vida comunitária do clã e apontavam saídas concretas.
Estes eram os quatro pontos básicos que deviam marcar a atitude dos missionários ou das
missionárias que anunciavam a Boa-nova de Deus em nome de Jesus: hospitalidade, comunhão
de mesa, partilha e acolhida aos excluídos (defensor, goêl). Caso estas quatro exigências fossem
preenchidas, eles podiam e deviam gritar aos quatro ventos: “O Reino chegou!” (cf. Lc 10,1-12;
9,1-6; Mc 6,7-13; Mt 10,6-16). Pois o Reino de Deus que Jesus nos revelou não é uma doutrina,
nem um catecismo, nem uma lei. O Reino de Deus acontece e se faz presente quando as
pessoas, motivadas pela sua fé em Jesus, decidem conviver em comunidade para, assim,
testemunhar e revelar a todos que Deus é Pai e Mãe e que, portanto, nós, seres humanos, somos
irmãos e irmãs uns dos outros. Jesus queria que a comunidade local fosse novamente uma
expressão da Aliança, do Reino, do amor de Deus como Pai, que faz de todos irmãos e irmãs.