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TEMA

O que é a química forense?

• A ciência forense é uma área interdisciplinar, envolvendo conhecimentos da química,


física, biologia, matemática e outros. Com o intuito de oferecer suporte às
investigações relativas à justiça civil e à criminal.
◦ Em investigações criminais, o foco é desvendar as circunstâncias em que o fato
ocorreu, protegendo a população da ação de criminosos, ou impedindo que
inocentes sejam condenados injustamente.
• Química forense: Se trata da aplicação de conhecimentos químicos no auxílio à justiça
na resolução de assuntos de natureza criminal, através da produção de provas
materiais.
◦ Analisa diversas substâncias em várias matrizes
▪ Drogas ilícitas e lícitas, venenos, acelerantes e resíduos de incêndio,
explosivos, resíduos de disparo de armas de fogo, combustíveis, tintas e fibras.
• Áreas em que o trabalho do químico forense é decisivo: perícias policiais, ambientais
e trabalhistas, determinação de atividade perigosa ou insalubre, atividades industriais,
investigação de doping esportivo, alterações em combustíveis e bebidas, dentre outros.
• A aplicação desta área no campo da criminalística ainda constitui uma nova linha de
pesquisa no Brasil.

Drogas de abuso: o que são e classificação.

• O crescente abuso de drogas, juntamente com os altos índices de apreensões, são


problemas globais, que apresentam um desafio para as autoridades policiais e os
laboratórios forenses a respeito da identificação e análise dessas substâncias
• De acordo com estudos das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODOC), cerca
de 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos, aproximadamente 5% da população
adulta, usaram pelo menos algum tipo de substância entorpecente no ano de 2014.
◦ 29 milhões são usuários dependentes.
◦ Drogas mais utilizadas: maconha e anfetaminas.
• O uso de substâncias psicotrópicas, geralmente derivadas de plantas, na busca de
experiências religiosas ou de prazer e bem-estar, ocorre desde os primórdios da
humanidade.
◦ Estas drogas agem no sistema nervoso central (SNC), modificando o humor, a
consciência, os sentimentos, as sensações, o estado de vigília, dentre outros.
◦ O seu uso abusivo e indiscriminado é um fenômeno mais recente.
• Drogas de abuso são substâncias químicas que desencadeiam efeitos psicoativos
• De acordo com a ANVISA, 1998, drogas de abuso são substâncias químicas
administradas sem indicação terap^^eutica ou orientação médica, das quais grande
maioria é controlada pela protaria nº 344/98-ANVISA.
• A substâncias químicas, mais utilizadas, que provocam dependência física e psíquica
são classificadas em 3 classes, de acordo com sua principal ação no sistema nervoso:
◦ 1- Depressores do SNC: opióides/opiáceos, etanol e barbitúricos.
◦ 2- Estimulantes do SNC: coaína ou crack, anfetaminas, metanfetaminas (como
MDMA) e anorexígenos.
◦ 3- Pertubardores do SNC: drogas alucinógenas, como LSD, psilocibina, mescalina
e canabióides.

Técnicas analíticas mais empregadas às drogas de abuso

• As análises químicas são utilizadas para as mais diversas finalidades, quanto à


detecção do consumo de drogas de abuso.
◦ Uso ilícito de drogas no ambiente de trabalho; na prática esportiva; na prática
clínica; dentre outros.
• A detecção de uma substância psicoativa apreendida é realizada primeiramente a partir
de técnicas de triagem, como testes calorimétricos, para identificação de drogas
apreendidas, e imunoensaios (apresentam alta sensibilidade ), para análise de matrizes
biológicas.
◦ São de fácil execução e fornecem resultados rápidos, podendo ser empregados fora
do laboratório.

Testes calorimétricos
• Se baseiam na mudança de cor como resultado da interação de uma substância com
um meio ácido ou alcalino
• Métodos calorimétricos podem ser usados em análises quantitativas.
◦ Compara-se a cor produzida por uma reação química com uma cor padrão, de
acordo com a intensidade da cor produzida, determina-se a concentração do
analito.
◦ A forma mais segura é utilizando-se o espectrofotômetro para verificar a coloração
de uma reação.
▪ Compara a intensidade da cor com o branco.
▪ Método mais utilizado em análises laboratoriais de bioquímica clínica.

Imunoensaios – EMIT
• É uma técnica baseada na competição entre o xenobiótico presente na amostra e o
rotulado com a enzima glicose-6-fostado desidrogenase (G6PD), ligada aos sítios do
anticorpo.
◦ A atividade enzimática desce devido a ligação do anticorpo com o xenobiótico, e a
amostra pode ser mensurada em termos de atividade enximática
◦ O produto da reação enzimática é o NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo +
H), que resulta em uma variação de absorbância passível de medição por
espectrofotometria.

• No entanto, a confirmação da substância se faz necessária e deve ser realizada


utilizando métodos mais específicos para o alvo em análise.
◦ Geralmente se utilizam técnicas cromatográficas acopladas à espectroscopia de
massas.
• Diversas matrizes biológicas são utilizadas em toxicologia clínica e forense para a
detecção de drogas como a urina, o sangue (soro/plasma), cabelo, suor, fígado, saliva,
mecônio, dentre outros, sendo que têm sido desenvolvidos vários métodos analíticos
para a quantificação de drogas nessas matrizes (BORDIN et al., 2015). Os métodos
mais comuns são baseados em técnicas cromatográficas tais como a CG e a CLAE
(COLLINS et al., 2009).

Cromatografia
• Objetiva individualizar os diversos constituintes de uma mistura, a fim de quantificar,
identificar ou mesmo para obter substâncias puras com um excelente grau de
confiabilidade do método.
• A amostra em análise migra através de uma fase estacionária (fixa) por intermédio de
um fluido, fase móvel ou eluente.
◦ Após a introdução da amostra no sistema cromatográfico, os componentes dela se
distribuem entre as duas fases, e passam mais lentamente pela coluna
cromatográfica que a fase móvel.
▪ Ocorre devido à interação entre os componentes com as duas fases.
▪ Forças intermoleculares e efeitos específicos de afinidade e solubilidade
influenciam nessas interações.
• CG – cromatografia gasosa.
◦ Realizada para separar substância voláteis e semivoláteis, não polares/lipofílicas,
de baixa massa molecular.
◦ Podem utilizar detectores universais: ionização (FID). De maior detectabilidade e
seletividade: por captura de elétrons (ECD); de nitrogênio e fósforo (NPD).
◦ Utiliza-se mais a detecção por espectrômetro de massas (EM) e ionização por
impacto de elétrons.
▪ Excelentes limites de detecção e possibilidades de utilização de softwares que
fazem o tratamento dos resultados e possuem biblioteca contendo milhares de
espectros de massas, possibilitando a confirmação das estruturas dos
compostos analisados.
• Cromatografia líquida de alta eficiência – CLAE
◦ Usada para compostos não voláteis, com alta polaridade, ou termicamente
instáveis.
◦ A amostra é dissolvida em um solvente e introduzida na coluna cromatográfica
com a FE, a FM é bombeada com vazão constante, deslocando os componentes da
mistura pela coluna, que se distribuem pelas duas fases de acordo com sua
afinidade. Ao dair da coluna, atravessam um detector que emite um sinal elétrico
que é registrado, formando um cromatograma.
• A cromatografia pode ser associada a diferentes sistemas de detecção, tratando-se de
uma das técnicas analíticas mais utilizadas e de melhor desempenho. Em conjunto
com o espectrômetro de massas, combina-se eficiência de separação e alta seletividade
com obtenção de informação estrutural, massa molar e acréscimo da seletividade.
• A técnica pode ser utilizada para a detecção de drogas de abuso como álcool, maconha
e cocaína. CLAE e CGMS podem confirma usuários de cocaína. CG com detecção de
ionização de chama e amostrado rarefeito, pode ser utilizada para análise material
biológico. E a CLAE pode ser utilizada para identificação de anfetamina, efedrina e
epinefrina.

Espectrometria de massa
• Se fundamenta no estudo da matéria através da formação de íons em fase gasosa,
podendo ou não ocorrer fragmentação, que são caracterizados por suas relações
massa/carga e abundâncias relativas.
• Técnica instrumental mais apropriada para investigação de estrutura e reatividade de
íons.
• O ambiente de alto vácuo é apropeiado para estudar as propriedades intrínseca de
espécies iônicas em fase gasosa, possibilitando a correlação com a fase condensada.
Permite a elucidação estrutural.
• A energia para ionização das amostras é fornecida. Agentes ionizantes
• O princípio de funcionamente do espectrômetro de massas se baseia na detecção de
íons selecionados de acordo com sua razão massa/carga (m/z). Geração de íons
posteriormente identificados.
• Além da identificação de drogas ilícitas, também permitem a determinação da origem
dos entorpecentes através de impurezas contidas no produto, que diferem de uma
localidade para outra, o que permite o combate e o cerco das principais rotas de
tráfego de drogas.

• A figura mostra a distribuição dos recentes métodos analíticos que estão sendo
aplicados em documentoscopia, balística forense e drogas de abuso, entre 1990-200 e
2002-2010 (b e c).
Esquema analítico

• Tabela: apresenta as técnicas de acordo com a Acientific Working Group for de


Analysis of Seized Drugs (SWGDRUG), que podem seer incorporadas em um
esquema analítico para a identificação de drogas ou produtos químicos, agrupadas de
acordo com o maior potencial de seletividade.

• Categoria A: maior nível de seletividade através de informações estruturais.


• Categoria B: maior nível de seletividade através de características físico químicas sem
informação estrutural.
• Categoria c: baixo nível de seletividade, fornecem informações gerais.

• Quando uma técnica validada de categoria A é incorporada no esquema analítico, pelo


menos uma outra técnica , que explora diferentes propriedades químicas ou físicas da
droga (de qualquer categoria) deve ser usada para auxiliar a identificação.
◦ Caso não seja possível utilizar técnicas de categoria A, emprega-se pelo menos 3
técnicas validadas, sendo necessário o uso de duas técnicas de categoria B.
• Um sistema analítico adequado deve atingir um nível suficiente de seletividade para
permitir uma conclusão cientificamente relevante para os protocolos de jurisdição.
• Os métodos de categoria A e B, que são os mais utilizados em análises qualitativas e
quantitativas, são geralmente técnicas caras e requerem reagentes específicos e
altamente puros, o que incentivou pesquisas de dispositivos e metodologias mais
baratas e fáceis de operar, mas que possam fornecer a mesma especificidade dos
demais procedimentos.

Problemática
• A análise de drogas de abuso é uma das áreas que desperta maior interesse pela
comunidade científica quanto a química forense..
◦ Além de identificar os principais componentes que constituem uma amostra de
droga e caracterizá-la como ilícita, a química forense pode ser utilizada na
identificação de compostos químicos remanescentes do processo de refino ou
fabricação, fornecendo perfis químicos e elementos que correlacionam amostras de
diferentes apreensões, podendo-se identificas rotas e origens geográficas de
produção.
◦ Técnicas que não exigem a preparação das amostras vêm sendo aplicadas,
possibilitando a obtenção de resultados rápido, seguros e reprodutíveis
▪ A EASI-MS (easy ambient sonic-spray ionization mass spectrometry), por
exemplo, permite detectar ingredientes ativos e excipientes orgânicos
diretamente a partir da superfície de um comprimido de ecstasy, ou mesmo
fornecer resultados mais robustos na análise de placas cromatográficas de
camada delgada (TLC), normalmente empregadas em rotinas de Perícia
Forense
• 1- esquemas de vária etapas: A maioria dos métodos desenvolvidos para identificar a
presença de drogas de abuso em dependentes químicos, há a necessidade de vários
procedimentos de preparo de amostras, maior tempo de análise, ou vária corridas
cromatográficas.
• 2- Limitações das técnicas:
◦ Técnicas calorimétricas.
▪ rápido, simples e baixo custo, porém indicados apenas para testes de triagem.
▪ Alto risco de sofrer interferência por outros elementos.
◦ Imunoensaios:
▪ Reatividade cruzada: compostos semelhantes às moléculas previamente
restadas podem positivar o teste. O teste é presuntivo e não conclusivo.
▪ Controle de temperatura e pH específicos para funcionamento.
▪ Matrizes biológicas utilizadas devem ser limpas (soro, plasma, urina, LCR),
sendo impossível de utilizar para analisar diretamente matrizes como sangue
total putrafato, conteúdos estomacais, dentre outros.
◦ Cromatografia
▪ Embora muito eficiente, é limitado devido a sua natureza metodológica,
limitando-se a compostos não polares, suficientemente coláteis e
termoestáveis, condições que não são atendidas por todas as substâncias.
▪ E o procedimento de derivatização, recomendado para converter analitos
polares ou termicamente estáveis em produtos voláteis, e para melhorar seu
perfil cromatográfico e o seu espectro de massas, é um procedimento muito
dispendioso, por consumir muito tempo no preparo das amostras e elevar o
custo da análise
◦ A maioria das metodologias analíticas é considerada complexa por envolver
preparação da amostra, ou pouco
• 3- Necessidade da reciclagem de métodos e conhecimentos: necessário para avaliar
qual técnica poderá ser mais produtiva na abordagem de um problema prático
específico considerando-se que o desenvolvimento de técnicas mais eficientes
fornecerão dados mais seguros, em menores tempos, além de oferecer melhor custo-
benefício. Além da necessidade de novas técnicas capazes de serem aplicadas de
forma menos complexa, mantendo a precisão, veracidade e eficiência, o que se faz
extremamente importante, pois alguns dos trabalhos de perícia ocorrerão fora de
ambientes controlados (laboratório), além de que esses resultados poderão ser usados
em futuros julgamentos.
• Métodos alternativos e mais eficientes,, menos complexos, com custos viáveis, que
tendam ao máximo de classes de drogas são cruciais para o sucesso da toxicologia
forense.

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