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aspectos analíticos,
investigações de
intoxicações fatais
e não fatais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A toxicologia forense é uma aplicação da toxicologia com finalidade pericial
e legal. Seu uso mais frequente ocorre na identificação de substâncias que
possam ter gerado a morte ou causado danos à saúde humana. As principais
áreas de ação da toxicologia forense são o após a morte (post-mortem), o teste
de drogas e o desempenho das drogas de uso humano. Esta área se utiliza
de técnicas analíticas modernas para a identificação correta da substância
química agente causal de morte.
Neste capítulo, você vai estudar os passos da toxicologia analítica na área
forense e ver quais são suas principais vantagens e desvantagens. Você também
vai estudar como é realizada a investigação de intoxicações fatais, que busca
identificar a causa morte (causa mortis), e quais são as principais amostras
biológicas utilizadas na toxicologia forense. Por fim, vai ver as principais into-
xicações criminosas não fatais.
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especificidade;
sensibilidade;
curva de calibração;
limite de detecção;
linearidade;
precisão;
exatidão;
recuperação;
estabilidade;
robustez.
Sangue
O sangue é uma das principais amostras, preferencialmente coletada de locais
periféricos, como as veias femorais. O volume necessário varia de 5 a 40mL
de sangue, dependendo da análise a ser realizada. Uma alíquota da coleta
deve ser armazenada em tubo contendo fluoreto de sódio (0,5 a 2%) como
conservante, especialmente quando for realizado doseamento de álcool,
cianetos e cocaína. Sempre que possível, é importante coletar em duplicata,
para uma segunda análise toxicológica. As amostras de sangue não devem
ser coletadas por pressão de cortes feitos nos membros do cadáver, pois isto
pode alterar a concentração das substâncias a serem pesquisadas, devido a
alterações dinâmicas (MOREAU; SIQUEIRA, 2017).
A amostra de sangue apresenta vantagens em relação a da urina, pois a
amostra urinária apenas indica uma exposição anterior à droga, sem evidências
conclusivas sobre o tempo exato de possível exposição, ou seus prováveis
efeitos fisiológicos, o que no sangue é claramente relacionado (ISSA, 2019).
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Urina
A coleta da urina deve ser realizada a partir da bexiga, utilizando-se agulha
e seringa ou cateter uretral, sempre antes do início da necropsia. Alguns
pontos devem ser levados em consideração, como o uso de cateter antes do
óbito, pois podem ser encontrados resíduos de anestésico na bexiga, como a
lidocaína, usada no gel para a colocação do cateter. A conservação da urina
é realizada com uso do fluoreto de sódio na concentração de 1%; o fluoreto
inibe a conversão de glicose em etanol pelas bactérias (é inibidor da enolase)
(MOREAU; SIQUEIRA, 2017).
Humor vítreo
O humor vítreo é um líquido em forma de gel, que preenche o globo ocular;
representa 80% do volume do olho e está localizado entre a retina e o crista-
lino. É uma região não vascularizada, com baixo conteúdo de proteína (menor
do que o da urina), e apresenta pH entre 7,0 e 7,8.
Sua coleta deve ser realizada por punção com agulha fina, apropriada para
coletas intraoculares. O volume a ser coletado é entre 2 e 3mL, e o conteúdo
de cada olho deve ser armazenado de forma separada. O líquido coletado deve
ser armazenado com fluoreto de sódio 0,5 a 2%. Esta amostra apresenta uma
matriz relativamente simples e de fácil obtenção, e é um material estável, com
pouca probabilidade de contaminação e resistente à decomposição devido
à localização isolada (DINIS-OLIVEIRA et al., 2010; MOREAU; SIQUEIRA, 2017).
Bile
Algumas drogas são eliminadas junto com a bile, especialmente nas superdosa-
gens de paracetamol, cocaína (e seus principais metabólitos, benzoilecgonina,
metilesterecgonina, cocaetileno) e opiáceos, por isso ela é utilizada. Trata-se
de uma coleta bastante simples na necropsia; caso o paciente tenha removido
anteriormente a vesícula biliar, seu conteúdo pode ser adquirido pela aspiração
do ducto biliar, com o uso de agulha e seringa (DINIS-OLIVEIRA et al., 2010).
Tecidos
Quando a causa e as circunstâncias do óbito são desconhecidas, recomenda-
-se coletar amostras de tecidos como tecido adiposo, rim, fígado, cérebro e
pulmão. O fígado deve ser coletado preferencialmente do lóbulo direito, cerca
de 10 a 20g. As amostras teciduais devem estar livres de agentes fixantes. Cada
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Cabelos
O cabelo é um tipo de amostra alternativa, que pode ser usado para testes
de drogas. É fácil de coletar, transportar e armazenar. A principal vantagem
sobre as demais amostras é o maior tempo de detecção, já que, no cabelo,
esse tempo pode chegar a três meses (sangue e urina, por exemplo, apenas
expressam exposição recente). No entanto, a contaminação ambiental é
uma grande preocupação com os testes de cabelo, portanto os laboratórios
devem tomar precauções especiais durante a preparação das amostras para
garantir a remoção da contaminação ambiental (ISSA, 2019; MOREAU; SIQUEIRA,
2017). Outra questão é que o cabelo com tratamento químico, como tinturas,
alisamentos e outros tratamentos artificiais, pode conter metais em sua
composição, que podem interferir no método proposto.
Em cabelos lavados regularmente e não tratados por produtos agressivos,
os medicamentos são geralmente bem detectados, chegando a ser detec-
tados pelo menos um ano após a ingestão. Um estudo de cabelo comprido
evidenciou a presença de droga em segmentos distais em mais de três anos
após a cessação do consumo (PRAGST; BALIKOVA, 2006).
Portanto, o cabelo sem um tratamento químico vísivel deve ser lavado
no laboratório com solventes para remover óleos e/ou potenciais agentes
contaminantes. É possível realizar a determinação em cabelo lavado e em
outro não lavado, para comparação dos resultados encontrados (MOREAU;
SIQUEIRA, 2017).
álcool (etanol);
benzodiazepínicos;
barbitúricos;
anfetaminas;
maconha (Canabis sativa);
opiáceos (morfina, metadona e codeína);
cocaína ou crack;
heroína;
alucinógenos (LSD — dietilamida do ácido lisérgico —, cogumelos tóxicos);
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cetamina;
ecstasy (MDMA — 3,4-metilenodioximetanfetamina — e fentanilas se-
melhantes, MDEA — 3,4-metilenodioximetiletilanfetamina —, MBDB
— N-metilbenzodioxazolilbutamina).
ácido gama-hidroxibutírico (GHB).
Etanol Soro CG
(Continua)
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(Continuação)
Referências
ALLAN, A. R.; ROBERTS, I. S. D. Post-mortem toxicology of commonly-abused drugs.
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Acesso em: 6 nov. 2020.
SMITH, M. P.; BLUTH, M. H. Forensic toxicology. Clinics in Laboratory Medicine, v. 36,
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S0272-2712(16)30058-0/fulltext. Acesso em: 6 nov. 2020.