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INSTRUMENTAÇÃO

BIOMÉDICA

Bruna Gerardon Batista


Métodos de diagnóstico
laboratorial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os princípios metodológicos das técnicas mais utilizadas


em laboratório de análises clínicas.
„„ Caracterizar os métodos qualitativos, semiquantitativos e quantitativos.
„„ Explicar o uso de métodos laboratoriais automatizados.

Introdução
Os métodos utilizados no laboratório de análises clínicas contribuem
para o diagnóstico que, na área da medicina e da assistência à saúde,
corresponde ao processo analítico e que auxilia na determinação de uma
conduta em conjunto com o quadro clínico do paciente. Sendo assim,
um laudo laboratorial emitido pode levar à conclusão da existência ou
não de uma doença, além de possibilitar o monitoramento do estado de
saúde de indivíduos e de fornecer informações que podem identificar uma
possível doença de forma prévia, relacionando com o seu prognóstico.
Existem inúmeros processos analíticos complementares que podem
fornecer informações relevantes sobre o paciente.
Neste capítulo, você vai aprender mais sobre os principais métodos
utilizados em laboratório de análises clínicas, assim como sua caracteri-
zação, e vai conhecer os benefícios da automatização para o ambiente
laboratorial, cada vez mais presente na rotina desses espaços.
2 Métodos de diagnóstico laboratorial

Metodologias utilizadas em laboratórios


de análises clínicas
O termo “biodiagnóstico” tem forte relação com as análises clínicas, ou análises
laboratoriais diagnósticas Esse tipo de análise tem como objetivo identificar
o estado de saúde ou a doença de indivíduos por meio da análise de fluidos
corporais, como os seguintes:

„„ sangue;
„„ urina;
„„ sêmen;
„„ fezes;
„„ escarro;
„„ secreções;
„„ derrames cavitários;
„„ líquido cerebrospinal.

Cada material biológico é analisado por meio de métodos específicos,


por isso, em um laboratório, várias metodologias diferentes são utilizadas,
e compreender o seu princípio permite uma visão mais ampla do resultado
obtido. Esses princípios metodológicos são baseados na biologia, na química
e na física e a sua aplicação ocorre em todos os setores do laboratório, como
o setor de bioquímica, de hematologia, de urinálise, de microbiologia, etc.
Podemos citar os métodos ópticos, imunoquímicos (ou imunoensaios), croma-
tográficos, eletroquímicos, entre outros. Entre eles, destacam-se os métodos
colorimétricos, cinéticos, microbiológicos e a citometria de fluxo.

Cultura de material biológico


Para a identificação de uma infecção, por exemplo, o método manual utilizado
é a cultura de material biológico, no qual uma amostra de secreção de ferida é
semeada em placa contendo meio de cultura para que se verifique crescimento
bacteriano. É um passo inicial para a posterior aplicação de métodos automa-
tizados ou manuais que irão facilitar a identificação desse microrganismo.
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Automação para o exame de hemocultura


Ainda com relação ao setor da microbiologia, podemos contar com a auto-
mação para o exame de hemocultura, a qual apresenta vantagens em relação
às metodologias manuais, pois estão relacionadas com a rapidez na emissão
dos resultados e com a diminuição do trabalho técnico.
Nessa metodologia, são utilizados frascos contendo meio de cultura e a
detecção do crescimento bacteriano é baseada na presença de CO2 (pelo sensor
do frasco) produzido pelos microrganismos durante o seu metabolismo. Esse
sensor, que está localizado na base do frasco em contato com o CO2, sofrerá
alteração fluorescente ou mudança de pH e a sua coloração será alterada, o
que será detectado pelo equipamento, que emitirá um alarme sonoro.

Hemograma
No sangue total, um dos exames mais solicitados em um laboratório de análises
clínicas é o hemograma, que fornece informações sobre as células sanguíneas,
como a contagem e a avaliação de leucócitos, de hemácias e de plaquetas,
e cuja metodologia aplicada envolve tanto a avaliação de índices celulares
quantificáveis (avaliação quantitativa) quanto a avaliação qualitativa (carac-
terísticas celulares) das células (realizada tanto por microscopia quanto por
métodos automatizados).
A maioria dos laboratórios clínicos trabalha com equipamentos automati-
zados e o uso de métodos manuais é pequeno, apenas quando há necessidade
de validação de outra metodologia automatizada, ou para fins de checagem
de leucopenia ou de microcitose, por exemplo. A automação em hematologia
envolve a determinação de parâmetros, como a dosagem de hemoglobina,
a contagem global de eritrócitos, de leucócitos e de plaquetas, por meio de
equipamentos que trabalham com a emissão de sinais de alerta de alterações
( flags), ou seja, marcadores de parâmetros que necessitam avaliação minuciosa
(SOARES et al., 2012).
4 Métodos de diagnóstico laboratorial

Exame qualitativo de urina


Na urina, pode ser detectada uma série de alterações orgânicas apenas com o
resultado de um exame relativamente simples e que utiliza métodos químicos,
físicos e a análise do sedimento urinário: o exame qualitativo de urina (EQU),
também denominado exame comum de urina ou exame de urina tipo I.
Como avaliação química da urina, citamos a determinação de parâmetros
como pH, proteína, glicose, cetona, bilirrubina, urobilinogênio, hemoglobina,
etc, a partir da análise da fita reagente, que pode ser feita tanto de forma
visual quanto com o uso de equipamento de refletometria. A análise física
da urina relata parâmetros de cor, aspecto e densidade da amostra e a análise
do sedimento urinário envolve a técnica de microscopia ou a citometria de
fluxo, que detecta a presença de células, de cristais, de cilindros urinários e
de outros elementos.

A refletometria tem o princípio de observar a proporção entre o fluxo de radiação


eletromagnética incidente em uma superfície — a tira reagente — e o fluxo de radiação
que é refletido, provocando uma alteração na cor das áreas reagentes da tira.

Citometria de fluxo
A citometria de fluxo é uma técnica utilizada para contar, examinar e classificar
partículas microscópicas suspensas em meio líquido, permitindo a análise de
vários parâmetros ao mesmo tempo. Essa técnica é realizada com um aparelho
de detecção óptico-eletrônico, no qual é possível analisar características físicas
e/ou químicas de uma célula.
O princípio da citometria é a utilização de um feixe de luz (laser) de um
único comprimento de onda, direcionado a um meio líquido em fluxo. Cada
partícula suspensa nesse meio líquido que atravessar o laser, dispersa a luz
de uma forma específica; essa combinação de luz dispersa é captada pelos
detectores, determinando, assim, os resultados após explorar vários tipos de
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informação sobre a estrutura física e química de cada célula. Os citômetros


de fluxo modernos são capazes de analisar várias partículas em “tempo real”,
apresentando similaridade a um microscópio; porém, em vez de produzir
imagens da célula produz uma quantificação de um conjunto de parâmetros,
entre eles volume, pigmento, quantidade, antígenos, etc.
Como aplicação da citometria de fluxo é possível citar a realização de um
hemograma que tem a determinação dos seguintes parâmetros:

„„ volume corpuscular médio (VCM);


„„ hemoglobina corpuscular média (HCM);
„„ contagem de plaquetas e leucócitos em um aparelho que utiliza essa
técnica, assim como sua aplicação na urinálise (identificando estruturas
presentes no sedimento urinário).

Imunoensaios
Imunoensaios são baseados na ligação específica de imunoglobulinas (anti-
corpos) com a substância que elas reconhecem (antígeno). Nessa metodologia,
a detecção de um anticorpo na amostra biológica se dá pela presença do
antígeno correspondente presente no teste. Entre os tipos de imunoensaios
estão os seguintes:

„„ imunofixação;
„„ imunocromatografia;
„„ imunodifusão;
„„ hemoaglutinação;
„„ teste enzyme linked immunonosorbent assay (ELISA) (enzimaimuno-
ensaio).

Imunofixação

Como exemplo, podemos citar a avaliação do efeito de vacinas, quando se testa


uma amostra biológica para verificação da presença de um antígeno vacinal
previamente aplicado em um indivíduo. A técnica de imunofixação é utilizada
para determinar qual tipo de imunoglobulina (Ig) está sendo secretada; é uma
detecção de proteínas específicas.
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Imunocromatografia

A imunocromatografia é uma técnica de rápida execução, conhecida como


teste rápido e tem os seguintes componentes:

„„ filtro de amostra — local que promove a distribuição uniforme e con-


trolada do material a ser analisado);
„„ suporte do conjugado — conjugação de anticorpos ou antígenos;
„„ membrana de nitrocelulose — região de análise que contém os reagentes
de captura da linha de teste;
„„ filtro de adsorção — tem a finalidade de puxar o fluido.

Os testes imunocromatográficos são imunoensaios e têm uma técnica


bastante simples; são conhecidos como testes de triagem e possuem elevada
sensibilidade. Um exemplo é o exame beta-hCG (conhecido como teste de
gravidez), que dispensa o uso de reagentes ou equipamentos (Figura 1).

Figura 1. Testes de detecção de HCG urinário.


Fonte: Noomanee Kung/Shutterstock.com.
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O sistema da imunocromatografia consiste na presença do antígeno ou


anticorpo fixado em membrana na forma de linhas. A amostra aplicada no
sistema se liga ao conjugado e, após a migração por cromatografia, há a
formação do imunocomplexo, que é revelado pela visualização da linha. Para
detecção de antígenos podem ser utilizados anticorpos fixados conjugados
ao corante. Assim, a revelação da interação antígeno-anticorpo se dá pela
observação de linhas de coloração rosa ou azul, dependendo do fabricante
do produto que será utilizado (Figura 2).

Teste Controle

Aplicação Reagente Tira de nitrocelulose Tira de absorção


da amostra

Figura 2. Teste rápido de fluxo lateral para Mycobacterium leprae (ML Flow).
Fonte: Adaptada de Bührer-Sékula (2008).

Imunodifusão e hemoaglutinação

Na imunodifusão é possível determinar a concentração de um antígeno na


amostra. Já na hemoaglutinação, são utilizadas hemácias e anticorpos (imu-
noglobulinas) para verificar a presença de antígenos no sangue.

Teste ELISA

O ELISA é um teste imunoenzimático que permite a detecção de anticorpos


específicos, útil no diagnóstico de várias doenças que induzem à produção
de imunoglobulinas e envolvem a fixação do antígeno em uma superfície
sólida, com posterior ligação do antígeno a um anticorpo (presente no soro
do paciente), e associação de um marcador enzimático. A detecção completa é
feita pela análise da presença de alteração de coloração, que ocorrerá quando
a ligação antígeno-anticorpo ocorrer.
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Técnica colorimétrica
A técnica colorimétrica é um método de análise quantitativa que se baseia
na quantificação da cor produzida por uma reação química, comparando-se
com a cor produzida em reação desenvolvida com o uso de soluções-padrão
(soluções de concentração conhecida do analito em questão). De acordo com a
intensidade da cor produzida, infere-se a concentração do analito (substância
que se quer analisar).

Métodos fotométricos
Métodos fotométricos são utilizados para realizar a medida da luz, que pode
ser absorvida, refletida, emitida ou dispersa e, posteriormente, medida por
equipamentos específicos. É um dos métodos mais utilizados em análises
laboratoriais de bioquímica clínica. Muitos métodos de análises bioquímicas
são cinéticos ou cromogênicos de ponto final.

Método cinético de várias leituras


O método cinético de várias leituras baseia-se na medição da absorbância do
analito na amostra em diferentes intervalos de tempo após a adição do reagente
específico, mostrando a constante de formação do produto. Por outro lado,
o método de ponto final irá realizar a medição de absorbância relacionada à
presença do analito contido na amostra, apenas ao término da reação, com a
desvantagem de que o resultado é obtido apenas de uma medida de absorbância.

Método enzimático
Os métodos enzimáticos também são bastante utilizados em laboratório clínico
para determinar a concentração de um analito de interesse. Um exemplo que
pode ser citado é quando a atividade de uma enzima é analisada por meio da
sua reação com um composto químico denominado substrato que gera um
produto. Em geral, a reação é acoplada à uma reação colorimétrica: à medida
que a conversão enzimática se processa e o produto é gerado, há produção de
cor que deve ser medida em espectrofotômetro.
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Para elucidar melhor o princípio desse método, podemos descrever um


dos métodos para a dosagem da glicose. A enzima glicose oxidase presente
no reagente, em presença de oxigênio, catalisa a oxidação da glicose presente
na amostra do paciente, o que leva à formação de peróxido de hidrogênio.
A enzima peroxidase também presente no reagente catalisa a reação de oxida-
ção do fenol pelo peróxido de hidrogênio, em presença de 4-aminoantipirina,
formando um composto violáceo (antipirilquinonimina) com absorção máxima
em 505 nm. A concentração desse composto e a consequente intensidade
da cor são diretamente proporcionais à concentração de glicose na amostra.
A maioria dos laboratórios reliza as reações químicas (setor de bioquímica)
que quantificam analitos em sistema de “química úmida” (reações em meio
líquido), porém a “química seca” é outra possibilidade, em que são utilizadas
pastilhas impregnadas com os constituintes da reação e o produto da reação
é analisado por meio da reflectância.

Fotometria de chama
A fotometria de chama é a mais simples das técnicas analíticas baseadas em
espectroscopia atômica. O equipamento realiza a técnica que irá determinar
a dosagem de eletrólitos, por exemplo sódio (Na+) e potássio (K+), em uma
amostra clínica. Nessa técnica, a solução a ser analisada é exposta à ação de
uma chama. Os átomos são excitados e, ao retornarem ao estado de repouso,
emitem luz. O comprimento de onda da luz emitida é específico para cada
elemento e pode ser quantificado em condições adequadas (OKUMURA;
CAVALHEIRO; NÓBREGA, 2004).
Esse método está em crescente desuso em laboratórios clínicos, sendo
substituído por eletrodos seletivos ou sensores de íons, caracterizando a me-
todologia eletrodo íon seletivo (ISE). Os eletrodos de íons seletivos são
eletrodos de membrana que respondem seletivamente a alguns íons e esses
equipamentos são compostos por um medidor, uma sonda e os componentes
sensíveis às concentrações iônicas.
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Cromotografia, quimioluminescência, fluorescência e


imunoturbidimetria
Existem ainda outras metodologias utilizadas em laboratórios clínicos e que
também merecem atenção, como as listadas a seguir.

Cromatografia

A cromatografia é um método físico-químico de separação de substâncias de


uma mistura, ou seja, tem sua base na migração diferencial dos componentes
de uma mistura ou amostra em um suporte líquido, sólido ou gasoso. Envolve
uma fase móvel e uma fase estacionária, classificando, assim, em:

„„ cromatografia gasosa — consiste na “vaporização” da substância em


um gás de arraste e posterior migração por meio da coluna de croma-
tografia, utilizada no fracionamento de proteínas, enzimas, peptídeos
e aminoácidos);
„„ cromatografia de troca iônica — há uma resina trocadora de íon, a
amostra entra em contato com a resina e há passagem pela coluna de
cromatografia liberando, assim, os íons que estavam interagindo com a
resina, utilizada para fracionar peptídeos, aminoácidos, hemoglobinas
e hemoglobina glicada);
„„ high pressure liquid chromathography (HPLC) — é a cromatografia
líquida, com elevada sensibilidade, alta velocidade de reação e grande
desempenho com confiabilidade e rapidez na liberação de resultados.
Utiliza um líquido como fase móvel, que é injetado na coluna cromato-
gráfica a altas pressões, e diferentes tipos de fase estacionária, variando
de acordo com o que se quer analisar.

Quimioluminescência

Quimioluminescência é uma reação química que gera energia luminosa. Nessa


técnica, são utilizados marcadores fluorescentes ou quimioluminescentes que
realizam emissão de luz via reação química envolvendo compostos sintéticos,
como o luminol, com posterior detecção por fluorômetros ou luminômetros
de alta sensibilidade. Sua facilidade de adaptação à automação explica o seu
uso cada vez mais frequente em laboratórios de médio e grande porte.
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Fluorescência

Fluorescência é quando um fluorocromo absorve energia na forma de espectro


luminoso, tornando-se eletricamente “excitado” e, ao liberar essa energia,
emite luz em um comprimento de onda específico. Essa luz é quantificada em
equipamentos específicos, como um microscópio de fluorescência, por exemplo.

Imunoturbidimetria

Essa técnica mede a diminuição da luz ao passar por um complexo antígeno-


-anticorpo. Em outras palavras, a turbidimetria mede o quanto a solução
antígeno-anticorpo absorve da luz e o quanto ela deixa passar, sendo utilizada
para medir a concentração plasmática de diversas proteínas.

A busca de uma otimização dos custos nos laboratórios de análises clínicas é indis-
pensável para a redução dos valores médios pagos pelo cliente por cada exame.
Como exemplo, podemos citar os Estados Unidos, país que tem uma política de
gestão com dados bem documentados e, no ano de 1990, tinha uma receita média
por exame de US$ 24, em 1995 era de US$ 16 e, em 2005, esse valor já estava próximo
a US$ 10. Nesse contexto, a distribuição dos custos técnicos sofreu uma mudança
importante. Em 1991, os gastos foram representados por 43% em quadro pessoal, 35%
em equipamentos e reagentes e 22% de despesas gerais, enquanto no ano de 1999,
essa distribuição foi de 65%, 15% e 20%, respectivamente. Essa tentativa de diminuir os
valores gastos é resultado da pressão por reduções de custos. A pressão aqui descrita
é relacionada com os colaboradores da empresa, que exigem uma maior segurança,
a produtividade do processo com a eliminação de atividades desnecessárias com
combinação das atividades em processos únicos (simplificação) e a padronização do
processo, o que leva à redução na quantidade de documentação de suas atividades.
A automação na medicina laboratorial também permite o gerenciamento remoto
dos analisadores, padronização de protocolos de interfaceamento e facilidade na
integração de plataformas (CAMPANA; OPLUSTIL, 2011).
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Métodos qualitativos, semiquantitativos e


quantitativos
Um método é um conjunto de meios dispostos para que se atinja determinado
objetivo. Exitem muitos métodos analíticos utilizados e cada um deles descreve
e explica de forma diferente o que se busca saber. Por exemplo, cada método
tem a capacidade de determinar uma concentração de analito em uma amostra
por meio de formas diferentes de dosagens desse analito. Esses métodos podem
ser classificados como qualitativos, quantitativos ou semiquantitativos.

Quantitativos
Uma análise quantitativa pode ser caracterizada como a separação e a deter-
minação da quantidade de um analito em uma amostra que busca determinar
a concentração. A dosagem de ácido úrico tem seu resultado em números
determinando a quantidade do analito no soro do paciente. Esse resultado é
obtido após a aplicação de um método enzimático colorimétrico, enquadrando
essa metodologia como quantitativa.

Semiquantitativos
Em métodos de análise semiquantitativa são atribuídos valores; porém, não há
a necessidade de atribuir um valor que corresponda exatamente à magnitude
real. O objetivo dessa análise é produzir resultados mais detalhados, mas sem
sugerir valores absolutos, apenas relatando se esse valor é “superior a” ou “in-
ferior a”. Um exemplo de metodologia semiquantitativa pode ser observada em
técnicas de aglutinação em látex, que utiliza partículas de látex sensibilizadas
com antígenos ou anticorpos. Na rotina laboratorial, esses exames são muito
utilizados pela facilidade de manuseio e interpretação do resultado, pois os
casos positivos são submetidos a uma diluição seriada que revelará a titulação,
podendo ser superior a 64 mg/L, por exemplo.

Qualitativos
Os métodos qualitativos têm como objetivo determinar a natureza do composto
em uma amostra, não têm o intuito de obter concentrações, podendo indicar
apenas se há ou não presença de determinada substância em uma amostra.
Um método qualitativo pode ser exemplificado pelo teste rápido beta-hCG
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imunocromatográfico, que pode fornecer um resultado positivo ou negativo,


independentemente da concentração do hormônio presente na amostra.

Os métodos quantitativos estão relacionados com uma garantia de precisão de re-


sultados porque o resultado obtido se refere à concentração do analito de interesse
na amostra. No laboratório de análises clínicas, o uso dessa metodologia favorece a
determinação do valor real da concentração da substância de interesse. Diferentes
metodologias podem ter como resultado final um dado quantitativo. Por exemplo,
métodos enzimáticos colorimétricos expressam seus resultados quantitativos, de-
terminam qual é a concentração do analito na amostra após a catálise da reação e a
formação de um complexo colorímetro (DALFOVO; LANA; SILVEIRA, 2008).

Automação no laboratório de análises clínicas


Os relatos relacionados com a área das análises clínicas são feitos desde 1000
a.C., por meio de escritos em papiros com a descrição de parasitas intestinais
(AMARAL; BARBOSA; CORREIA, [2015?]). Os povos hindus já descreviam
a urinálise como o mais antigo teste laboratorial com finalidade diagnóstica
e a técnica era baseada na observação da turvação, do odor, do volume e
da cor da urina. Porém, apenas após a invenção do microscópio, no século
XVII, foi que a medicina laboratorial teve seu marco notável e, a partir daí,
os fabricantes começaram a desenvolver novas lentes que beneficiaram a
técnica da microscopia.
A palavra “automação” tem origem do latin automatus e significa mover-se
por si. Sendo assim, tanto as técnicas computadorizadas quanto as mecânicas
têm o objetivo de tornar processos mais eficientes, aumentando a produção
com menor gasto de energia (mão de obra especializada, tempo e desperdícios)
e gerando maior segurança (CAMPANA; OPLUSTIL, 2011).
Os avanços tecnológicos proporcionam, na maioria das vezes, diversos
benefícios, além de facilitar a vida do indivíduo que está envolvido nessa
tecnologia. Nos laboratórios clínicos, a análise de exames como o hemograma,
por exemplo, já pode ser executada em um processo totalmente automatizado,
diminuindo o tempo de cada procedimento, a chance de erro humano e os
riscos de contaminação, não só dos profissionais mas também das amostras.
14 Métodos de diagnóstico laboratorial

Essa gama de qualidades dos equipamentos automatizados os torna fortes


candidatos para o futuro do laboratório. É importante ressaltar que, além do
avanço tecnológico, há a implementação de novos parâmetros, fazendo com
que a inovação se destaque no mercado. Por fim, mais uma vantagem da
automação pode ser caracterizada com o aumento da produtividade, a partir
do momento em que pode se estabelecer um fluxo maior de trabalho.
O mercado da medicina laboratorial cada vez mais exige altos padrões de
qualidade, com base na expectativa dos clientes em relação ao serviço que
será prestado. Com relação à assistência à saúde, essa qualidade é focada na
segurança do paciente, e busca a minimização de erros e a redução dos prazos
de resultados, além da confiabilidade dos resultados obtidos. Os métodos
automatizados também passam pelo processo de validação de parâmetros e
possuem um elevado nível de exatidão e precisão dos resultados.
As possibilidades de automação na medicina laboratorial são amplas e
podem ser implementadas a partir da fase pré-analítica, caracterizada por
envolver processos anteriores à realização do ensaio laboratorial propriamente
dito e que interferem diretamente na qualidade do resultado final. Nessa
etapa, estão a coleta do material biológico, a manipulação, o processamento
e a entrega das amostras aos analisadores, também chamado de triagem.
A relevância de um processo de automação nessa fase se dá a partir da análise
de que o maior número de erros cometidos no laboratório acontece na fase
pré-analítica, variando de 31,6% a 84,5% de todos os erros.
Apesar da evolução voltada para a fase pré-analítica, os maiores avanços
ocorreram na fase analítica, em que praticamente todos os equipamentos são
processos automatizados. O início da automação em laboratórios foi registrado
nos ensaios bioquímicos enzimáticos, com equipamentos que apresentavam
um desenho de ensaios em cubetas em um fluxo contínuo. A necessidade da
implementação de diferentes detectores de adsorção de moléculas em fases
sólidas trouxe ao mercado novas gerações de equipamentos para diferentes
metodologias.
Alguns modelos de automação da fase analítica e da fase pré-analítica têm
sua base nos processos apresentados no Quadro 1, a seguir.
Métodos de diagnóstico laboratorial 15

Quadro 1. Processos da fase pré-analítica e analítica

Fase pré-analítica Fase analítica

Robô móvel — consiste Stand alone automation (SAA) — é


em um modelo robô que uma interessante alternativa por ser
realiza o transporte dos tubos um processo de automação isolado.
coletados até os equipamentos Como exemplo, podemos citar um
e se adapta a diferentes tipos equipamento que faz alíquota de
de amostras e tubos, sendo amostras ou um equipamento que dosa
flexível quanto às mudanças de eletrólitos. Esse modelo permite que
layout da área técnica. Porém, as empresas que possuam um volume
desvantagens existem e podem pequeno de trabalho possam investir
ser exemplificadas pela quantidade em um equipamento automatizado.
de tubos que o robô poderá
transportar e também pela falta
de interface com o equipamento
que recebe as amostras.

Esteiras de transporte — Modular automation (MA) — esse


consiste em esteiras que realizam sistema requer um menor investimento
o transporte de amostras entre os e permite integrar diferentes fases
setores do laboratório e podem da automação em tempos diferentes
ter interface, garantindo um apresentando flexibilidade. As
fluxo automatizado contínuo. plataformas modulares permitem a
A desvantagem desse tipo integração dos processos pré-analíticos
de automação tem relação com os analíticos. O ponto-chave
com a baixa flexibilidade de do sucesso é a consolidação de
tipos de amostras que se faz metodologias distintas em uma única
possível transportar, aliada à plataforma, o que reduz o número
dificuldade de alteração de de equipamentos que necessitam ser
layout ou introdução e expansão implementados e, como consequência,
com novos equipamentos. traz benefícios em termos de velocidade,
de quantidade de amostras coletadas
e de atividades manuais (transporte
das amostras entre plataformas). Como
exemplo, citamos um equipamento
interfaceado que transporta a
amostra para o equipamento em
que será feita a análise do analito de
interesse ou, ainda, equipamentos
de automação em bioquímica que
congregam, em um único equipamento,
o módulo de processamento de
reações colorimétricas e cinéticas.

(Continua)
16 Métodos de diagnóstico laboratorial

(Continuação)

Quadro 1. Processos da fase pré-analítica e analítica

Fase pré-analítica Fase analítica

Braços robóticos — são braços Task target automation (TTA)


articulados cilíndricos que podem — direciona e suporta atividades
se movimentar em diferentes específicas dos processos laboratoriais
direções. A aplicação desses que demandam bastante trabalho
modelos depende da configuração manual e podem resultar em acidentes
dos equipamentos no entorno. biológicos e erros. Essa automação foi
desenvolvida pensando na recepção
de amostras, na aliquotagem, na
distribuição, na retirada de tampas e
no armazenamento. Os laboratórios
que possuem um fluxo grande de
quantidade de processos de diferentes
tipos de amostras e tubos são os
grandes beneficiados, pois podem
reduzir custos de até 70% dos gastos
totais. Como exemplo, podemos citar
um equipamento capaz de realizar
alíquotas de uma amostra que necessita
de análise em diferentes setores,
agilizando o processo e minimizando
erros e perdas de amostras.

Identificadores com código de Total laboratory automation (TLA)


barras — a automação voltada — teve início no Japão e expandiu
para a identificação do paciente, para a América do Norte na década
referindo a ele um código de barras, de 1990. Esse modelo de automação
possibilita o interfaceamento do envolve todos os processos do
cadastro e da comunicação com laboratório (fase pré, pós e analítica).
os equipamentos analíticos, para Essas plataformas funcionam com a
que, por meio dessa leitura, os integração de equipamentos analíticos
exames previamente cadastrados de diferentes tipos e metodologias
sejam realizados, excluindo a que são conectados por uma esteira
necessidade de programação e envolvem diferentes setores
de exame requerido para cada como a bioquímica, a imunologia,
amostra. Além disso, essa a hematologia e a coagulação.
identificação inicial do paciente
vai beneficiar o armazenamento
da amostra, facilitando a busca
do tubo, caso necessário.

(Continua)
Métodos de diagnóstico laboratorial 17

(Continuação)

Quadro 1. Processos da fase pré-analítica e analítica

Fase pré-analítica Fase analítica

Nessa identificação, está São incluídos nesse processo


envolvida também a minimização a identificação das amostras, a
de erros com relação à troca centrifugação, a aliquotagem,
de amostras, pois o tubo já a separação e a distribuição, o
apresenta uma identificação da transporte, a retirada de tampas, a
amostra que ali será inserida. introdução e a remoção das amostras
nos equipamentos analíticos, o
armazenamento de amostras, a
busca de amostras para repetição
de exames e a geração de amostras
secundárias, além do seu descarte. Para
isso, o gerenciamento de amostras é
feito por meio do código de barras e
possibilita operar com diferentes tipos
de amostras, como urina e fluidos
biológicos, além de amostras séricas.

Na etapa final, conhecida como a pós-analítica, a automação contribui


para o armazenamento das amostras, conhecida como soroteca. Esse processo
envolve não apenas o armazenamento, mas também a busca de uma amostra
que, talvez, necessite repetição de dosagem, colabora para a produtividade no
momento em que elimina uma atividade dispendiosa de tempo.
Foram descritos avanços tecnológicos com o passar do tempo não apenas
com relação às técnicas analíticas envolvendo amostras biológicas. A maioria
dos laboratórios clínicos conta com um sistema tecnológico para informações
acompanhando as modificações que vem surgindo desde a evolução marcante
do século XX na área da computação, com o intuito de se firmar em um
mercado de trabalho cada vez mais competitivo. No final dos anos 1950, o
computador já aparecia nos laboratórios de análises clínicas e, rapidamente,
passou a fazer parte dos processos operacionais e de apoio ao laboratório como
um todo. Em 1960, surgiu o laboratory information system (LIS), o sistema
de informática laboratorial que gerenciava informações internas. Passada essa
inovação, logo surgiu o laboratory automation system (LAS), um conjunto
que engloba o LIS e controla as atividades de gerenciamento de processos, de
controle de equipamentos, de amostras e de processos analíticos.
18 Métodos de diagnóstico laboratorial

„„ LAS — compreende o monitoramento da qualidade, dos resultados,


dos equipamentos, das ações de repetição, do cancelamento de testes
e do gerenciamento do fluxo de trabalho.
„„ LIS — faz parte do LAS e necessita de uma validação para posterior im-
plementação e deve se adaptar à realidade e aos processos do laboratório.

O LIS associado ao LAS é uma ferramenta eficiente como fonte de informa-


ções consolidadas para a tomada de decisões gerenciais (ASHIBE et al., 2007).

A informatização colabora com os processos de automação tornando o ambiente


laboratorial mais produtivo, eficiente e controlado por meio das seguintes ações:
„„ minimização de erros;
„„ maior velocidade da entrega de resultados;
„„ padronização dos processos;
„„ maior segurança dos colaboradores;
„„ redução de materiais;
„„ otimização de controles, calibradores e reagentes.

AMARAL, P. S.; BARBOSA, R. S.; CORREIA, S. M. B. S. A importância da automação


nos laboratórios de análises clínicas. Brasil, [2015?]. Disponível em: https://news-
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Disponível em: http://hermespardini.com.br/blog/?p=202. Acesso em: 27 set. 2019.
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sonline.org.br/articles/metodos-laboratoriais. Acesso em: 27 set. 2019.

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