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11/08/2023, 13:16 Avaliação laboratorial do sedimento urinário

Avaliação laboratorial do sedimento urinário


Prof.ª Fabiana Vieira de Mello

Descrição

Principais elementos observados na avaliação microscópica de urina por sedimentoscopia.

Propósito

Compreender a realização do exame microscópico de urina, reconhecendo os diferentes achados na avaliação de sedimentos da urina é um
diferencial para o profissional de análises clínicas atuar com segurança na área.

Preparação

Tenha acesso a um dicionário médico on-line para consultar os termos usados neste conteúdo.

Objetivos

Módulo 1

Avaliação microscópica do sedimento urinário


Reconhecer os princípios da avaliação microscópica, os achados celulares no exame de sedimento de urina e as possíveis patologias
correlacionadas.

Módulo 2

Elementos químicos encontrados na urina

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Descrever os demais elementos encontrados nos exames de sedimento de urina e suas aplicações no diagnóstico.

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Introdução
A análise laboratorial da urina é de suma importância para acompanhamento e diagnóstico de diferentes patologias que acometem os rins e outras
que afetam o seu funcionamento normal. Durante a rotina da uroanálise, dividimos as análises realizadas na urina em três grandes grupos: a análise
física e macroscópica, a análise química e a análise microscópica do sedimento urinário.

Durante a avaliação do sedimento urinário, é possível qualificar os elementos encontrados em suspensão na urina, como diferentes células, muco,
além de outras estruturas, e quantificar os elementos, como, por exemplo, células epiteliais, e a presença de elementos anormais, que podem
sinalizar diferentes patologias, são importantes de serem relatados no laudo liberado e auxiliam o diagnóstico médico.

Assim, ao longo deste conteúdo, vamos conhecer como é realizada a avaliação do sedimento urinário, os principais achados microscópicos
presentes na urina e correlacionar esses achados com as principais patologias. Vamos juntos?

1 - Avaliação microscópica do sedimento urinário


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os princípios da avaliação microscópica, os achados celulares no exame
de sedimento de urina e as possíveis patologias correlacionadas.

Aspectos gerais da avaliação microscópica

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A análise da urina é um dos métodos mais antigos de avaliação laboratorial de espécimes clínicos. No entanto, a falta de padronização nos testes
fez com que durante muito tempo os resultados obtidos fossem controversos.

Hemocitômetro.

Em 1926, Thomas Addis desenvolveu um método com o intuito de padronizar a quantificação dos elementos encontrados na urina.

A Contagem de Addis, como ficou conhecida, era realizada com auxílio de um hemocitômetro.

A partir desse contador, é possível analisar os elementos anormais presentes e quantificar cilindros, células epiteliais, leucócitos e hemácias em
amostras de urina após 12 horas da coleta.

Tal metodologia foi muito utilizada para acompanhar o cursar de doenças renais.

Entretanto, a avaliação microscópica pode ter múltiplas variações processuais, como o volume de sedimento analisado, os métodos utilizados, os
equipamentos, e a forma como os resultados obtidos são expressos.

Além disso, por ser tratar de uma avaliação demorada e com o custo relativamente elevado, durante muito tempo esse exame só era realizado com
base em alguns critérios. O Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) preconiza que o exame microscópico deve ser realizado quando:

a amostra for oriunda de mulheres grávidas, crianças, idosos, imunocomprometidos e pacientes com acometimento renal;

houver solicitação médica específica para realizá-lo;

obtiver resultados anormais nas avaliações físicas e químicas (como aspecto geral incluindo cor, presença de sangue, glicose, nitrito, proteínas),
a depender do padronizado no laboratório.

Atualmente, em muitos laboratórios, ele é realizado como rotina nas amostras recebidas de forma manual. Além disso, a realização do exame
microscópico está um pouco mais prática, devido à automação.

Observe, na imagem a seguir, o exemplo de um aparelho que realiza quase simultaneamente a uroanálise completa. O técnico coloca as amostras
devidamente identificadas na estante do aparelho.

Amostras de urina na estante do aparelho para leitura automatizada.

Nos equipamentos de automação, a urina é analisada em três momentos diferentes:

Na primeira parte, é feita a avaliação física e química das amostras, empregando a reflectância de tiras reativas;

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Em seguida, é feita a avalição microscópica e quantificação dos elementos encontrados por citometria de fluxo;

Por fim, é feita a microscopia por imagem, em que, de acordo com um banco de dados, o aparelho consegue identificar grande parte
dos elementos encontrados, emitindo sinal com fotos dos elementos que não conseguiu correlacionar com sua base de dados, para
que o operador os classifique.

Apesar da automação, é de suma importância que o laboratorista conheça todo o procedimento a ser realizado para avaliação microscópica da
urina, assim como os possíveis elementos encontrados.

Dica

Para entender mais sobre o funcionamento dos aparelhos de automação, confira as indicações na seção “Explore +”!

Elementos encontrados na sedimentoscopia


Você saberia dizer quais são os possíveis elementos encontrados em um exame de sedimentoscopia?

Observe a imagem a seguir e veja se consegue perceber quantos elementos são encontrados.

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Exemplo de campo visualizado em exame de urina, com diferentes elementos.

E então? O que você conseguiu perceber nessa imagem?

Resposta expand_more

Observe, a partir da sinalização na imagem, que podemos ver cinco quadrados com uma marcação no meio (seta azul), e vemos algumas
células (setas vermelhas).

Entre os muitos elementos encontrados na rotina laboratorial, destacam-se: as células epiteliais, leucócitos, hemácias, cilindros, bactérias, muco,
parasitas, espermatozoides, e diferentes tipos de cristais que podem ser subdivididos em dois grupos: biológico (organizado) e químico
(inorganizado).

Antes de reconhecermos esses achados na lâmina, precisamos discutir como é a realização do exame.

Quando não existe automação no laboratório, o laboratorista faz uma correlação entre os exames físicos e químicos, para avaliar a necessidade ou
não de avaliação microscópica. A seguir, temos um exemplo de resultados analíticos que podem indicar a necessidade da avaliação microscópica.

Exame físico Exame químico Possíveis elementos na microscopia

pH alterado
Turvação Leucócitos positivos Bactérias
Nitrito positivo

Turvação - Células epiteliais

Proteína positiva
Turvação Leucócitos
Leucócitos positivos

Turvação vermelha Sangue positivo Hemácias

Coloração pH Cristais

Tabela de correlação de exame físico, químico e possíveis elementos encontrados na avaliação microscópica.
Adaptada de STRASINGER; LORENZO, 2009, p. 93.

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Etapas da avaliação microscópica

Preparação da amostra
Para realizar a avaliação microscópica, é importante utilizar amostras frescas ou conservadas adequadamente, pois alguns elementos são muito
sensíveis a quaisquer modificações, e podem se desintegrar, gerando resultados que não necessariamente refletem a realidade do paciente.

Exemplo
A precipitação de urato quando a amostra é refrigerada; caso seja uma amostra alcalina, pode haver perda de cilindros hialinos; uma temperatura de
37°C pode dissolver cristais; uma centrifugação prolongada ou com rotação acima da recomendada pode danificar os elementos encontrados.

A seguir, poderemos ver as etapas envolvidas na correta preparação da amostra.

A amostra encaminhada ao laboratório após análise física e química, passará pela análise microscópica.

Frasco contendo a urina do paciente. Primeira etapa do exame: análise física.

Análise química da urina, a partir de tiras reagentes.

Para a análise microscópica, a amostra deve ser transferida do frasco de origem, aquele encaminhado para o laboratório, para um tubo cônico,
próprio para a centrifugação.

Tubos cônicos com urina de cor normal (direita) e urina com hematúria (esquerda).

Os tubos devem ter entre 10 e 15mL de urina para ser centrifugada, e obter a quantidade necessária para análise. Caso o paciente não consiga obter
o volume mínimo para utilização na análise (como no caso de crianças, por exemplo), o volume inicial deve ser registrado e acrescentado ao laudo
liberado.

Saiba mais

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Em alguns casos, o laboratório disponibiliza dois frascos, um frasco coletor e um tubo cônico. Após a coleta, o paciente deve transferir para o tubo
cônico o volume entre 10 e 15mL, e este deve ser encaminhado para o laboratório, respeitando as regras de armazenamento.

Após a centrifugação, vemos no fundo o sedimento urinário, ou seja, o pellet formado, como demonstrado na imagem a seguir.

Sedimento urinário (seta) formado após a centrifugação.

Em seguida, o sobrenadante deve ser descartado e o volume final que deverá ficar no tubo após a centrifugação é de aproximadamente 0,5 a 1mL.
Vale ressaltar que a amostra não deve ser vertida, e sim devemos aspirar o sobrenadante, para que não ocorra perturbação no sedimento.

Sedimento urinário a ser analisado no microscópio.

Uma vez que o sedimento seja ressuspenso e esteja homogêneo, já pode ser transferido para a lâmina, com o volume adequado (20µL para sistema
de “lâmina+lamínula”, ou até preencher o sistema fechado – sem transbordamento em ambos os sistemas) e analisado.

video_library
EAS
Neste vídeo, a especialista explica como é realizado o exame de urina, relembra quais as análises físicas e químicas realizadas e como é o preparo
para análise do sedimento.

Avaliação do sedimento urinário


Rotineiramente, o preconizado é avaliar no mínimo 10 campos na objetiva de 10x, e 10 campos na objetiva de 40x, aumento total de 100x e 400x
respectivamente.

Essa varredura inicial no menor aumento tem como objetivo detectar a presença de cilindros, e ver a composição geral do sedimento urinário.

Uma vez encontrados elementos que precisam ser identificados, utiliza-se o aumento maior naquele campo.

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Atenção!

Se o método empregado for o de lâmina e lamínula, é muito importante verificar as bordas da lamínula, pois os cilindros normalmente se localizam
nesses locais.

A maioria dos laboratórios possuem microscópio de campo claro, mas também existem outros tipos de microscópios que podem ser utilizados,
como contraste de fase e luz polarizada. No microscópio de campo claro, pode-se utilizar corantes para ajudar na identificação de alguns elementos
e/ou estruturas, uma vez que muitos elementos possuem aspecto/cor semelhante à cor da urina.

No entanto, o emprego de corantes para análise da urina requer alguns cuidados básicos, como, por exemplo, a escolha do corante que deve ser
feita com base na indicação do que se procura na amostra. Observe a seguir alguns exemplos de aplicabilidade de cada corante.

Sternheimer-Malbin
Usado para identificar leucócitos, células epiteliais e cilindros.

Sudan III ou Oil Red O


Usado para identificar gotículas de gorduras e células/cilindros gordurosos.

Azul de toluidina
Usado para diferenciar leucócitos de células epiteliais tubulares renais.

É importante destacar que cada laboratório tem seu valor de referência, assim como sua metodologia para descrever a presença dos elementos.
Normalmente, encontramos dois tipos principais de descrição semiquantitativa para presença de células epiteliais e cristais: Ausentes, raros,
poucos, moderados ou muitos; ou Ausente, 1+, 2+, 3+ e 4+.

Saiba mais

A avaliação de cilindros tem por base o cálculo médio de cilindros encontrados nos 10 campos de menor aumento. Já para leucócitos e hemácias,
utiliza-se a média dos 10 campos de maior aumento.

Principais elementos do sedimento urinário


Agora que já sabemos como realizar a avaliação microscópica, precisamos conhecer quais elementos podemos encontrar, para sabermos
identificá-los corretamente durante a execução do exame.

Como já aprendemos, podemos encontrar na rotina laboratorial as células epiteliais, leucócitos, hemácias, cilindros, bactérias, muco, parasitas,
espermatozoides, e diferentes tipos de cristais que podem ser subdivididos em dois grupos:

biotech
Biológico (organizado)

biotech
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Químico (inorganizado)
Entretanto, é importante ressaltar que a maioria desses elementos não indicam patologia, desde que encontrados em quantidades de acordo com
os valores de referência. Ou seja, os dois pontos mais importantes na análise microscópica, e que provavelmente serão relatados no laudo é: “o que
achamos?” e “qual a quantidade do que achamos?”.

Com base nessa descrição, o médico terá indicativos se há alguma alteração decorrente de patologia, por exemplo, ou se é apenas fisiológico.

Começaremos nossa jornada com os possíveis elementos biológicos encontrados no exame de urina, destacando em um primeiro momento células
epiteliais, leucócitos, hemácias, principais microrganismos e os espermatozoides. Os demais elementos serão estudados ainda neste conteúdo.

Principais células encontradas no sedimento

Células epiteliais
As células epiteliais podem ser frequentemente encontradas no exame de sedimento urinário, e existem diferentes tipos, entre os quais destacamos
as células epiteliais escamosas ou pavimentosas; as células epiteliais transicionais; as células epiteliais tubulares renais ou células renais.

Células epiteliais escamosas/pavimentosas

Sedimento urinário com a presença de células epiteliais escamosas (seta).

São células oriundas da uretra feminina ou região final da uretra masculina, provavelmente devido à descamação tecidual (fisiológico). Elas se
apresentam com formas irregulares, núcleo arredondado e citoplasma em abundância.

Por seu tamanho, essas células podem ser observadas facilmente no menor aumento, inclusive, muitos a utilizam como base para ajustar o foco do
microscópio.

Caso a amostra tenha número elevado dessas células, provavelmente o paciente, ao coletar a amostra, não terá descartado o primeiro jato.

A seguir, vemos a mesma célula epitelial, mas agora na microscopia de contraste de fase, em um aumento de 400x.

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Células epiteliais escamosas.

Clue cell.

Devemos ficar atentos a um tipo de célula epitelial escamosa, que é a “Clue Cell”, pois essa célula é um achado de infecção por Gardnerella vaginalis.
Visualmente, essa célula parece ser granular, devido aos cocobacilos em sua superfície.

Caso tenha suspeita da presença dessa célula, mas não tenha segurança, deve-se realizar avaliação com o corante de Sterheimer Malbin.

Células epiteliais transicionais

São células oriundas da pelve renal, dos ureteres, parte superior da uretra masculina e da bexiga. Podem estar em diferentes formatos (caudais,
poliédricas e esféricas) devido à capacidade de absorver água e sua localização de origem. Porém, independentemente do formato assumido,
possuem núcleos localizados centralmente. Vejamos dois exemplos de formatos:

São esféricas e maiores do que as células caudais e poliédricas quando em contato direto com a urina. Na imagem, vemos o sedimento
urinário mostrando células epiteliais transicionais com formato redondo.
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São caudadas quando são provenientes da pelve renal ou bexiga, por exemplo. Na imagem, vemos o sedimento urinário mostrando células
epiteliais transicionais com formato caudal.

Em relação à quantidade identificada na amostra, quando em condições ausentes ou raras, é considerado dentro da normalidade. Porém, se for
detectado número elevado, pode ser indicativo de infecções no trato urinário, mas, nesse caso, provavelmente também será constatada presença de
leucócitos na amostra.

Saiba mais

Neoplasias malignas e infecções virais podem alterar a quantidade e a morfologia dessas células, mas, para uma melhor avaliação e caracterização,
é necessária a realização de exame citológico.

Células epiteliais tubulares renais/células renais


São células oriundas dos túbulos proximais e distais, alça de Henle e dutos coletores.

O formato das células pode ser diretamente relacionado com sua origem: as dos túbulos proximais podem assumir um formato retangular com
citoplasma granular; já as dos túbulos distais podem ser ovais ou redondas, e dos dutos coletores mais cúbicas com núcleo excêntrico.

Campo com presença de célula epitelial renal.

De maneira geral, o quantitativo dessas células está aumentado em algumas patologias renais, como em infecções virais e bacterianas, neoplasias,
necrose tubular aguda, inflamações, transplante renal. E esse resultado deverá ser avaliado pelo médico no conjunto do exame, para associar com
os demais achados. Caso esteja difícil a identificação dessas células, utiliza-se o corante Sterheimer Malbin.

Atenção!
Às vezes, é preciso diferenciar algumas células epiteliais de outros achados, portanto, é importante observarmos os detalhes. Para diferenciar a
célula renal retangular de um cilindro, precisamos tentar identificar o núcleo! Assim como as que possuem formato arredondado podem ser
confundidas com leucócitos ou células transicionais, nesse caso, precisamos observar a localização do núcleo, para certificar se o núcleo é
centralizado ou excêntrico.

Sedimento urinário com presença de corpos ovais gordurosos (seta).

Outro achado ainda relacionado com as células renais são os chamados corpos ovais gordurosos, que são as células que absorveram lipídeos
presentes no filtrado glomerular. Juntamente com essas células, se encontram também pequenas gotículas de gordura livres na amostra. Para
auxiliar na identificação desses corpos ovais, pode-se recorrer à coloração com Sudan III ou Oil Red O.

Leucócitos
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Os leucócitos, de maneira geral, devem ser avaliados e quantificados nos campos observacionais de maior aumento. O leucócito mais encontrado
nas amostras de sedimento urinário é o neutrófilo, e por ter núcleo multilobulado é relativamente fácil de reconhecer.Diferentemente dos neutrófilos,
os eosinófilos são mais raros de serem encontrados na urina, e, quando são encontrados em quantidades acima dos valores de referência, podem
indicar quadros de nefrite intersticial ocasionado por drogas. Quando há necessidade de identificar e quantificar especialmente os eosinófilos,
recorre-se ao corante Hansel ou Wright.

Sedimento urinário com presença maciça de leucócitos (piócitos).

Além dos leucócitos citados anteriormente, podemos encontrar também os mononucleares (linfócitos, monócitos, macrófagos). É importante não
confundi-los com as células renais.

Macrófago fagocitando leveduras de Cryptococcus neoformans.

De maneira geral, em uma amostra normal, espera-se encontrar menos que 5 leucócitos por campo (em maior aumento) avaliado. Esse valor de
referência pode ser um pouco maior em amostras de mulheres. Caso seja detectado o aumento de leucócitos na urina, chamamos de piúria, e pode
ser indicativo de inflamação ou infecção.

Piúria. Note os numerosos leucócitos.

Sempre que a piúria for detectada no sedimento urinário, é importante correlacionar com outros achados, como a presença de bactérias, assim
como com a história clínica do paciente. Normalmente, as inflamações que ocorrem nos rins aumentam mais os leucócitos na urina do que as
inflamações mais baixas (como na bexiga), mas isso não é uma regra.

Atenção!
Os neutrófilos podem lisar rapidamente, caso estejam em urina mais alcalina e diluída. Assim como podem aumentar de volume nas urinas
hipotônicas.

Hemácias
As hemácias ou eritrócitos são normalmente fáceis de serem identificados pela sua morfologia clássica de disco bicôncavo, com coloração
amarelada ou pálida.

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Sedimento urinário apresentando numerosas hemácias.

Contudo, na urina, seu formato clássico pode estar alterado dependendo do meio, e, assim, nem sempre o seu reconhecimento é uma tarefa fácil.

Caso a urina esteja mais concentrada (hiperstenúrica), as hemácias podem perder água por osmose e apresentar um formato mais murcho ou com
formato irregular, chamadas de crenadas.

Hemácias crenadas.

Já na urina diluída (hiposterúrica), as hemácias podem absorver mais água por osmose, podendo inclusive lisar, liberando a hemoglobina de seu
conteúdo e restando apenas a membrana celular rompida, que é chamada de célula fantasma.

Recomendação
É essencial diferenciar as hemácias de outros elementos, como leveduras, gotículas de gordura e até mesmo bolhas de ar na lâmina. Umas das
técnicas utilizadas para verificar se são realmente hemácias, é conferir se o plano focal do elemento que está analisando está no mesmo dos
outros.

A presença de hematúria, ou seja, elevada concentração de hemácias durante a análise microscópica deve ser relatada, pois pode ser um indicativo
inicial de algumas patologias, como cálculos renais ou doenças glomerulares.

Sedimento urinário com quadro de hematúria.

É importante que a avaliação seja cautelosa e associada a outros achados, pois existem outras situações que também podem aumentar a presença
dessas células no sedimento urinário, como prática extenuante de exercícios e a coleta da urina no período menstrual, nas mulheres.

A presença de sangue na urina pode ser resultado de um sangramento em qualquer parte sistema urogenital e a morfologia das hemácias
encontradas no sedimento urinário tem sido empregada para direcionar o local de origem do sangramento. A hematúria pode ser de origem não
glomerular ou glomerular. Vamos entender a diferença:

Hematúria não glomerular

Quando a origem da hematúria for não glomerular, provavelmente as hemácias encontradas no sedimento têm o tamanho e morfologia

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semelhantes às hemácias encontradas na circulação sanguínea, ou seja, são isomórficas.

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Hematúria glomerular

Quando a origem da hematúria for glomerular, a morfologia das hemácias apresenta grande variação, com alteração de formato, concentração
de hemoglobina, projeções na membrana plasmática, sendo classificada como hemácias dismórficas.

Espermatozoides
Os espermatozoides são células de formato bem específico, ou seja, são ovais ou cônicos com cauda longa e, por isso, acabam sendo facilmente
identificados no exame microscópico de urina.

Entretanto, diferentemente de uma amostra de esperma, na urina, devido à toxicidade, muito raramente os espermatozoides estarão com
mobilidade.

Sedimento urinário com espermatozoide (seta) entre outros elementos encontrados.

Apesar de só os homens produzirem esse tipo celular, os espermatozoides podem ser encontrados no sedimento urinário tanto de homens como de
mulheres, após a relação sexual.

Comentário
A presença de espermatozoides em sedimento urinário não possui muita relevância, a não ser em casos específicos como pacientes com
infertilidade masculina. Muitos laboratórios sequer citam o achado de espermatozoides.

Microrganismos encontrados no sedimento

Parasitas
O principal achado entre os parasitas é o Trichomonas vaginalis, responsável pela tricomoníase: uma doença sexualmente transmissível causadora
de inflamação vaginal nas mulheres; nos homens, pode causar inflamação de uretra e próstata.

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Trichomonas vaginalis.

Em amostras a fresco de urina, o T. vaginalis pode ser facilmente reconhecido, caso apresente o flagelo, pois conseguimos observá-lo se
movimentando.

Entretanto, quando não está se movimentando, é preciso redobrar o cuidado para identificar o flagelo e não confundir com as outras células
arredondadas, comumente encontradas no sedimento urinário, como os leucócitos e algumas células epiteliais.

Observe uma imagem do T. vaginallis encontrado na urina (seta).

Trofozoíta de T. vaginallis na urina.

Além desse parasita, pode ser detectada presença de ovos de parasitas intestinais, devido, provavelmente, à contaminação fecal da amostra
coletada, sendo o Enterobius vermicularis (oxiúrius) o mais comumente encontrado.

Enterobius vermicularis em amostra de urina.

Fungos
As leveduras podem ser encontradas em sedimentos urinários, e precisam ser diferenciados dos leucócitos. Para isso, é importante tentar
identificar brotamentos, mas que só acontecerá nas leveduras.

A levedura normalmente encontrada é a Candida albicans. Caso a infecção seja mais grave, pode apresentar formas ramificadas, como hifas.

Sedimento urinário com C. albicans. Note o brotamento de leveduras (setas). Microscopia de contraste de fase com aumento de 400x.

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Sedimento urinário com C. albicans. Note as hifas (setas). Microscopia de contraste de fase com aumento de 400x.

Caso haja contaminação durante a coleta da amostra, e a amostra não seja analisada rapidamente, pode ocorrer uma multiplicação das leveduras
em amostra com glicose positiva, normalmente encontrada em pacientes diabéticos. Para diferenciar a multiplicação das leveduras pós-coleta de
uma infecção verdadeira, é importante correlacionar com a presença dos leucócitos.

Sedimento urinário com leucócitos (setas azuis) e leveduras (setas vermelhas). Aumento de 400x.

Bactérias
Teoricamente, a urina não apresenta bactérias. No entanto, a presença de bactérias na urina pode ocorrer, principalmente pelas condições de coleta,
como reflexo da contaminação vaginal, ou da parte externa.

Caso aconteça contaminação durante a coleta e a urina não seja acondicionada devidamente, essas bactérias contaminantes podem se proliferar
com rapidez, gerando um resultado positivo quanto à presença de bactérias na urina, podendo também indicar a presença de nitrito. Lembre-se de
que muitas bactérias que infectam o trato urinário são capazes de reduzir nitrato (presente na urina) em nitrito, como Escherichia coli. Entretanto,
Staphylococcus saprophyticus, Staphylococcus aureus e Enterococcus spp. não apresentam essa capacidade.

Normalmente, a presença de bactéria que indica, de fato, um quadro de infecção do trato urinário será acompanhada da presença de leucócitos, na
avaliação do sedimento urinário.

Para avaliar a presença de bactérias, utiliza-se o maior aumento, e elas podem ser bacilos ou cocos, e normalmente possuem mobilidade.

As bactérias que rotineiramente são identificadas em sedimentos positivos para bactérias são Enterobacteriaceae, Enterococcus spp. e
Staphylococcus spp.

Sedimento urinário mostrando campos com numerosas bactérias e alguns leucócitos na urina.

Quando o médico pede o exame por desconfiar de infecção do trato urinário (ou por ser infecção de repetição ou até mesmo infecção não
responsiva ao tratamento adotado), ele pede concomitantemente a realização da urocultura, que é a cultura das bactérias encontradas no exame de
urina.

Se, ao realizar a avaliação do sedimento urinário e a dosagem de nitrito, ambos estiverem negativos, a cultura não é necessária, uma vez que não há
presença (de forma significativa) de bactérias. Caso seja detectada a presença de bactérias, uma nova amostra deve ser encaminhada para a
cultura, para que seja realizado um exame quantitativo.

Atenção!
A cultura é indicada quando observamos a presença de bactérias no EAS, independentemente do resultado do nitrito (positivo ou negativo), uma vez
que nem todas as bactérias são capazes de reduzir o nitrito, como o Staphylococcus saprophyticus.

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Lembre-se de que o ideal é que a cultura seja realizada antes das análises realizadas no EAS (exame químico, físico e análise de sedimentos
urinários), para evitar uma contaminação da amostra antes do exame microbiológico. Normalmente, durante a rotina laboratorial, o médico solicita
cultura e EAS, sendo inicialmente realizada a cultura e, em seguida, o EAS.

No exame quantitativo, realiza-se a semeadura da amostra em meios de cultura; após o período de incubação (48-72 horas), realiza-se a contagem
das colônias presentes na placa de cultura. Normalmente, um resultado positivo é dado quando a contagem é acima de 100 mil colônias (UFC/mL
de urina).

Diferentes métodos podem ser adotados para realizar a cultura, como:

Semeadura semiquantitativa ou quantitativa em placa de cultura;

Semeadura em placa por espalhamento (Spread-Plate)

Pour-plate;

Cultivo de lâmina.

Vamos conhecer melhor cada um desses métodos a seguir.

Semeadura semiquantitativa ou quantitativa em placa de cultura:

É uma das técnicas mais empregadas. Para realizá-la, homogeneíza-se a amostra, e, utilizando uma alça calibrada, realiza-se a semeadura do
material em linha central na placa, fazendo posteriormente estrias (quantitativa), ou as estrias em diferentes orientações (semiquantitativa).

Cultura semiquantitativa.

Semeadura em placa por espalhamento (Spread-Plate)


Este processo ocorre a partir das seguintes etapas:

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11/08/2023, 13:16 Avaliação laboratorial do sedimento urinário

Homogeneizar a amostra, e, Em seguida, com o auxílio de Inicia-se o processo de Realizar a contagem,


utilizando uma alça calibrada, uma alça de Drigalski, incubação na placa. observando as colônias
colocar uma gota no centro espalhar o material em toda a crescem apenas na superfície
da placa com ágar sólido. superfície da placa. do meio de cultura.

Pour-plate
Aqui, são realizadas as seguintes etapas:

Uma quantidade definida da Em seguida, é adicionado o Após ser submetida a Aparecem as colônias, que
amostra do paciente (1mL) é meio de cultura estéril antes movimentos suaves crescem na superfície e
inoculada em uma placa de ele solidificar (15 a 20mL). rotatórios, a placa é incubada. dentro do meio de cultivo.
estéril.

Cultivo de lâmina
A lâmina utilizada é mergulhada na amostra de urina do paciente, e é colocada no meio de cultura.

Cultivo em lâmina.

Classicamente, o meio escolhido preferencialmente é o CLED, ágar cystine lactose electrolyte deficient, pois esse meio de cultura permite o
crescimento tanto de bactérias gram-negativas, quanto gram-positivas.

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O CLED, diferentemente do ágar MacConkey, também bastante utilizado, é um meio de cultura seletivo para bactérias gram-negativas. Alguns
laboratórios utilizam meio de cultura com substratos cromogênicos, que geram cores diferentes para tipos de bactérias diversos, facilitando a
identificação em culturas polimicrobianas (muito comum em pacientes que utilizam cateter, por exemplo).

Placa de Petri com meio CLED.

Atenção!

Caso na cultura apareça mais de um tipo de colônia, muito provavelmente a amostra está contaminada, a não ser que seja amostra oriunda de
pacientes com cateter.

Além dessa quantificação, o exame também contempla a identificação do tipo de bactéria, assim como se realiza o antibiograma, um exame que
testa qual antibiótico tem a melhor resposta para a cepa encontrada na urina do paciente.

Placa com teste de antibiograma.

A urocultura pode apresentar falso negativo, caso a amostra de urina esteja muito ácida.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Diferentes subtipos de células epiteliais podem ser encontrados no sedimento urinário, e, dependendo de suas características morfológicas,
consegue-se inferir qual o seu provável local de origem. Com base nisso, assinale a opção correta:

As células epiteliais renais são provenientes da descamação da uretra feminina ou porção final da uretra masculina e possuem
A
formas irregulares, com citoplasma em abundância e núcleo arredondado.

A clue cell é um subtipo de célula epitelial transicional e possui como característica a presença de gotículas de gordura recém
B
absorvidas.

As células epiteliais pavimentosas são provenientes da descamação da uretra feminina ou porção final da uretra masculina e
C
possuem formas irregulares, com citoplasma em abundância e núcleo arredondado.

As células epiteliais transicionais são provenientes da descamação da uretra feminina ou masculina e possuem formas
D
irregulares, com citoplasma em abundância e sem núcleo.

As células epiteliais escamosas são provenientes da descamação da uretra feminina ou porção final da uretra masculina e
E
possuem formas arredondadas, com pouco citoplasma e núcleo bilobulado.

Parabéns! A alternativa C está correta.

As células epiteliais pavimentosas ou escamosas encontradas na urina, normalmente são provenientes de descamações fisiológicas, tanto da
uretra feminina quanto da porção final da uretra masculina; são células grandes com formato irregular, relação núcleo/citoplasma pequeno e
núcleo bem arredondado e visível.

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Questão 2

Vimos que vários microrganismos podem ser detectados no sedimento urinário, como, por exemplo, parasitas, bactérias e fungos. Com base na
detecção de bactérias no sedimento urinário, podemos afirmar que

A não há possibilidades de contaminação da amostra urinária durante a coleta.

B a presença de bactérias na amostra de urina é indicativo suficiente para fechar quadro de infecção do trato urinário.

C a presença exclusiva de leucócitos é indicativa de quadro de infecção do trato urinário.

a presença de bactérias associadas à presença de leucócitos, além da referência na amostra urinária, é indicativo de quadro de
D
infecção do trato urinário.

E para uma boa avaliação da presença de bactérias na amostra urinária, basta olhar alguns campos com menor aumento.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A amostra de urina pode ser contaminada durante a coleta, por isso é importante correlacionar com a presença de outros achados, como
leucócitos, para corroborar a ideia de infecção do trato urinário.

2 - Elementos químicos encontrados na urina


Ao final deste módulo, você será capaz de descrever os demais elementos encontrados nos exames de sedimento de urina e
suas aplicações no diagnóstico.

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Introdução à análise dos elementos químicos


A avaliação do sedimento urinário vai além da quantificação e/ou identificação das possíveis células (elementos biológicos), muitos outros
elementos, chamados de químicos, podem ser encontrados na amostra, e, dependendo do conjunto desses elementos, podemos inferir
características físico-químicas da urina e consequentemente do paciente.

De maneira complementar ao que vimos anteriormente, podemos encontrar o muco, diversos tipos de cilindros e cristais no sedimento urinário, a
depender da composição urinária e do local onde esses elementos estão sendo produzidos.

Vamos, a partir de agora, conhecer esses elementos.

Muco
Um elemento amorfo (sem forma definida) que pode ser encontrado em sedimento urinário é o muco, que nada mais é do que material proteico
proveniente das células epiteliais do trato geniturinário inferior (principalmente o feminino), assim como o muco produzido pelas glândulas ali
presentes. Visualmente, parecem filamentos e devem ser avaliados em campos de menor aumento.

Muco encontrado na urina.

Até o momento, independentemente do resultado, não há qualquer correlação clínica. Entretanto, devemos relatar no resultado do exame a presença
de muco. Para isso, a análise é feita em pequeno aumento, observando 10 campos e a presença de muco é relatada como padrão “raros, poucos ou
moderados.”

Curiosidade
O principal constituinte do muco encontrado no sedimento urinário é uma proteína chamada Tamm-Horsfall. Além disso, a presença de espuma na
urina é indicativa da presença de proteína. Mas, lembre-se de que a verificação de espuma durante a análise macroscópica pode ser indicativa de
qualquer proteína, não necessariamente as que compõem o muco, podendo ser a albumina que, quando presente, é sinal de complicação renal pela
diabetes. Além disso, a prática excessiva de exercícios físicos, hipertensão arterial sistêmica e uma dieta alimentar com ingestão excessiva de
suplementos proteicos também aumenta a excreção de proteínas.

Artefatos
Além de todos os possíveis elementos identificados na amostra de urina, devemos sempre nos lembrar de que podemos ter artefatos que
confundem o laboratorista durante a análise do sedimento, como, por exemplo, fibras de roupas e fraldas, cabelos, contaminação fecal e talcos. As
fibras podem ser confundidas com os filamentos de mucos e cilindros, que estudaremos a seguir.

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Fibras de tecido.

Cristais
Os cristais são substâncias que não necessariamente estão correlacionadas diretamente com quadros patológicos, possuem significado clínico
menor do que os elementos vistos anteriormente, mas que precisam ser descritos e reconhecidos no sedimento urinário, pois alguns poucos tipos
podem ter correlação com doenças do erro inato de metabolismo, doença hepática e doença renal.

De maneira geral, os cristais são formados pela precipitação de diferentes sais inorgânicos e compostos orgânicos presentes na urina quando há
alguma condição que afeta a sua solubilidade, principalmente quando submetidos a alterações no pH, concentração dos sais ou compostos
orgânicos e até mesmo temperatura. Com base nessa informação, podemos supor que uma amostra armazenada de maneira refrigerada pode ter
formação de cristais após ser coletada, e, em alguns casos, tal fator pode prejudicar a avaliação da urina como um todo.

Nas amostras de urina normal recém-coletadas, caso sejam detectados cristais, provavelmente serão oriundos dos túbulos ou até mesmo da
bexiga. Quanto mais concentrada estiver a urina, maior a probabilidade de formação de cristais.

Cristais de oxalato de cálcio em amostra de urina.

Ao avaliar os diferentes cristais encontrados, é importante reconhecer os cristais formados a partir de metabólitos de drogas, como a Ampicilina.

Normalmente, os cristais identificados têm como base o pH da urina, pois existem grupos de cristais que são classicamente encontrados em urina
ácida ou urina alcalina. Comumente, os sais inorgânicos precipitam mais facilmente em urinas com pH neutro ou básico, e os compostos
medicamentosos e orgânicos precipitam com maior facilidade em urina com pH ácido. O oxalato de cálcio é uma exceção e pode ser encontrado
tanto em urinas ácidas como neutras.

Dica

Os cristais considerados anormais são encontrados em urinas com pH ácido.

Apresentamos, a seguir, um resumo entre o tipo de cristal, o tipo de pH da urina e a morfologia de cada um deles.

Cristal de ácido úrico Cristal urato amorfo Cristal de oxalato de cálcio Cristal de fosfato amorfo

pH ácido. Aspecto amarelo- pH ácido. Aspecto de poeira pH ácido/neutro. Aspecto pH alcalino/neutro. Aspecto
castanho. amarelo-castanha. incolor. incolor.

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De maneira geral, a identificação dos cristais na avaliação sedimentoscópica se baseia na sua forma geométrica e, consequentemente, na sua
refringência, ou seja, na capacidade de polarizar a luz. Além disso, em casos de dúvidas, existem técnicas que avaliam a solubilidade desses
cristais. Porém, caso haja necessidade de realizar testes de solubilidade, a amostra deve ser fracionada para que não tenha a destruição de outros
elementos, como os leucócitos.

Tipos de cristais

Cristais de urina com pH ácido


Classicamente, os cristais encontrados nas urinas de pH ácido possuem como “base” o urato, sendo os principais formados por ácido úrico, uratos
amorfos, uratos ácidos e uratos de sódio. Grande parte desses cristais apresentam coloração do amarelado ao castanho-avermelhado.

Os uratos ácidos e uratos de sódio podem aparecer em associação com os uratos amorfos, e normalmente estão em amostras com pH acima de
5,5, já os cristais de ácido úrico aparecem com pH abaixo de 5,5. Vamos ver mais detalhes desses cristais a seguir.

Cristais de ácido úrico

Aparecem em várias formas: placas, rosetas, cunhas. Podem ser incolores ou castanho-amarelado, e polarizam bastante a luz.
Quando estão em grandes quantidades em amostra fresca de urina indicam aumento na concentração urinária de ácidos nucléicos e
purinas.

Cristais de urato de sódio

Aparecem em uma forma mais fina, lembram agulhas e também podem estar presentes em pacientes com gota.

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Cristais de uratos amorfos

Aparecem como grânulos (ou grumos de grânulos) castanho-amarelado. Uma observação importante que pode ajudar na
diferenciação com outros cristais é que o sedimento de urato amorfo possui coloração rosada.

Além desses cristais, podemos encontrar também cristais de urato ácido, que aparecem como grânulos maiores e podem ter espículas.

Curiosidade
Existem relatos que pacientes em tratamento quimioterápico para leucemia e pacientes com gota podem apresentar aumento de cristais de ácido
úrico na urina.

Cristais de oxalato de cálcio


Os cristais de oxalato de cálcio, como já aprendemos, podem ser frequentemente encontrados em urina com pH ácido, com menos frequência em
urina de pH neutro e básico. Esses cristais podem apresentar-se na forma di-hidratada e na forma mono-hidratada.

Forma di-hidratada

Esta forma apresenta a morfologia mais clássica desse cristal, que assume o formato de um envelopezinho octaédrico incolor.
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Forma mono-hidratada

Esta forma apresenta uma morfologia ovalada. Esses cristais podem se aderir ao muco presente na amostra, estruturando-se de maneira
semelhante a um cilindro.

Ao avaliar a amostra de urina fresca, grumos de cristais de oxalato de cálcio podem ser indicativos de cálculo renal, uma vez que, na maioria dos
casos, os cálculos são formados por eles.

Cristais de urina com pH alcalino e neutro


Os principais cristais presentes na urina com pH alcalino têm como “base” de sua composição o fosfato, como fosfato amorfo, fosfato de cálcio e
fosfato triplo (fosfato amônio e magnésio), mas também têm os cristais de biurato de amônio e carbonato de cálcio.

Os cristais de fosfato amorfo possuem morfologia de grânulos, sendo bem parecidos com os cristais de urato amorfo.

Cristais de fosfato amorfo (seta).

Comentário
Assim como os cristais de urato amorfo, os cristais de fosfato amorfo também podem sedimentar, porém, eles apresentam coloração branca e não
dissolvem com o aquecimento.

Cristais de fosfato de cálcio.

Os cristais de fosfato de cálcio são mais raros de serem encontrados nas amostras de urina. Quando presentes, podem ter morfologia retangular
incolor ou de prismas delicados ou podem se apresentar em rosetas.

Não têm relevância clínica até o momento, mas são constituintes de cálculos renais.

Dica

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Os cristais de fosfato de cálcio, quando em roseta, podem ser muito parecidos com cristais de sulfonamida, encontrados em urina com pH neutro.
Para diferenciá-los, pode-se realizar o teste de solubilidade em ácido acético, uma vez que o fosfato de cálcio se solubiliza e o de sulfonamida não.

Os cristais de carbonato de cálcio são incolores e podem se apresentar como pequenas esferas, sem significado clínico. Caso sejam confundidos
com bactérias, pode-se recorrer à refringência em luz polarizada, observada com os cristais, mas não com as bactérias. Observe esses cristais (seta
vermelha) e outros presentes na imagem (setas brancas).

Cristais de carbonato de cálcio (seta vermelha).

E então? Consegue identificar os outros cristais presentes na imagem?

Resposta expand_more

São cristais de oxalato de cálcio (setas brancas).

Os cristais de fosfato triplo (também conhecidos como fosfato de amônio magnesiano) são de fácil identificação, pois apresentam formato de
prisma, que alguns chamam de “tampa de caixão”.

Quando em luz polarizada, esses cristais também possuem característica birrefringente. Caso se degradem, podem assumir forma de pena.

Não possuem um significado clínico relevante, mas, quando em excesso, podem estar associados à presença de bactérias que degradam a ureia.

Cristais de fosfato triplo.

Os cristais de biurato de amônio parecem esferas espinhentas de coloração castanha, assim como os cristais de urina ácida. Normalmente, têm
sua presença relacionada à amônia na urina. A amônia é um produto do metabolismo bacteriano durante a degradação da ureia. Dessa forma,
podem sugerir a presença de bactérias na amostra analisada.

Cristais de biurato de amônio.

Cristais anormais
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Como falado anteriormente, os cristais anormais são encontrados em urina ácida e, por vezes, em urina neutra. Sua detecção deve sempre ser
correlacionada com os dados fornecidos pelo paciente ou solicitação médica, e confirmados por testes químicos.

Entre os cristais anormais, podemos destacar os cristais de colesterol, cristais de tirosina, cristais de leucina, cristais de bilirrubina, cristais de
cisteína, cristais de sulfonamida e cristais de ampicilina.

Cada um desses cristais apresenta uma morfologia diferente, vamos conhecê-los?

Cristais de colesterol expand_more

Têm formato de retângulos finos de vidro, podem ser encontrados em pacientes com distúrbio de lipídeos, são raros de serem detectados.

Cristais de tirosina expand_more

Têm formato de aglomerados de finas agulhas amareladas e podem ser achados em pacientes com quadros de comprometimento hepático.

Cristais de leucina expand_more

Têm formato de um olho, sendo constituídos por duas esferas, uma mais externa e a outra centralmente localizada, de coloração castanha,
também identificadas em urina de paciente com doença hepática.

Cristais de bilirrubina expand_more

Têm formato de pequeníssimos espinhos finos agregados, também de coloração castanha. Normalmente, as amostras que apresentam
esses cristais na sedimentoscopia tiveram teste de tira reativo para bilirrubina durante a análise química da urina. Esses cristais estão
associados à disfunção hepática. Na imagem, podemos ver cristais de bilirrubina (seta).

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Cristais de cisteína expand_more

Têm formato de chapas – finas e grossas – e são incolores, podem ser confundidos com outros cristais, então, deve-se recorrer a outros
testes para a sua confirmação. É encontrado em pacientes com distúrbio de reabsorção de cisteína – cistinúria.

Cristais de sulfonamida ou de outros medicamentos expand_more

Sua morfologia e coloração podem variar de acordo com a sua origem, indo do incolor ao castanho-amarelado, e de espetos em rosácea a
formato de pedras. São cristais formados a partir da utilização de diferentes medicações pelo paciente. Aqui relembramos a importância de
saber os medicamentos utilizados durante a análise da urina e, por isso, esse dado deve ser coletado durante a fase pré-analítica e ser
registrado no pedido médico ou no cadastro do paciente.

Cristais de ampicilina expand_more

Têm formato de espículas incolores de tamanho e espessura variadas. São cristais que podem aparecer no sedimento urinário após a
utilização de uma dosagem elevada do antibiótico, associada à hidratação inadequada do paciente.

A presença concomitante de cristais de tirosina, leucina e bilirrubina normalmente indicam doença hepática crônica.

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Cilindros

Formação e composição dos cilindros


Assim como no muco, o principal constituinte dos cilindros é a proteína Tamm-Horsfall, excretada por células dos túbulos renais. Os cilindros, de
maneira geral, são elementos da urina que representam as condições renais, mais especificamente dos néfrons, uma vez que o local de formação
deles é principalmente no interior do túbulo contorcido distal e do ducto coletor.

Sua forma e composição dependerá dos itens no momento de sua formação, presentes no filtrado, mas independentemente da composição, de
maneira geral, possuem lados paralelos entre si, e as extremidades podem ser cônicas ou arredondadas. A sua morfologia pode variar também de
acordo com o tempo que eles permanecem no túbulo, assim como a largura deles e podem ser encontrados em uma urina normal, o que indica que
a sua importância clínica dependerá mais do quantitativo detectado, assim como o reconhecimento de sua composição.

Como citar os cilindros encontrados no resultado do exame?

Normalmente, utiliza-se o padrão de “raros, poucos, numerosos e incontáveis”, mas cada laboratório cria seus critérios com base nessa escala de
referência. Entretanto, geralmente são considerados:

Raros
Quando estão presentes 3 cilindros por campo.

Poucos
Quando estão presentes de 4 a 10 cilindros por campo.

Numerosos
Quando está presente uma quantidade acima de 10 cilindros por campo.

Incontáveis
Quando os campos estão abarrotados de cilindros, tornando-se impossível a quantificação por meio visual.

Além disso, a quantificação pode ser realizada de forma separada por subtipo de cilindro, ou apenas em um campo descritivo para relatar por
extenso o tipo de cilindro encontrado.

Atenção!

Os cilindros só são detectados durante a análise dos sedimentos urinários, não sendo observados durante a análise química e física da urina.

Cilindros hialinos
Os cilindros hialinos são os mais frequentemente encontrados, e são constituídos basicamente de Tamm-Horsfall. Podem estar mais elevados no
sedimento urinário por febre, resposta a estresse emocional, desidratação (urina concentrada), atividade física intensa ou exposição intensa ao
calor. Caso seja detectado aumento de cilindros hialinos na urina, e não tenha nenhum desses fatores externos, pode indicar, em casos mais
específicos e após a correlação com outros achados, a doença renal crônica, pielonefrite, glomerulonefrite, por exemplo.

Esses cilindros, às vezes, podem ser mais difíceis de serem detectados em amostras sem coloração, pois são estruturas incolores sobre o fundo da
lâmina claro, o que confunde e impede uma visualização clara dessa estrutura.

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Cilindro hialino.

Dessa forma, em caso de suspeita de presença de cilindros hialinos, é importante avaliar a amostra com baixa luminosidade, e principalmente
avaliar as bordas da lamínula.

Cilindros eritrocitários
Os cilindros eritrocitários ou hemáticos são basicamente os cilindros hialinos com hemácias agregadas, indicando a presença desse tipo celular
nos locais de formação dos cilindros. A presença de hemácia, devido a um sangramento nos néfrons, pode ser um forte indicativo de
glomerulonefrite.

É importante ressaltar que um resultado de sedimentoscopia com a presença de cilindros hemáticos, normalmente é acompanhada de hemácias e
sangue no exame de tira reagente, durante a análise química da urina. De forma diferente, um resultado em que apenas é detectado sangue na urina
durante a análise química, sem outros achados, é indicativo de sangramentos no trato geniturinário.

Durante a análise, é essencial identificar a matriz do cilindro, para diferenciá-lo de aglomerados de hemácias.

Hemácias
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Cilindro eritrocitário

De maneira geral, os cilindros eritrocitários possuem uma coloração alaranjada, e, por serem mais frágeis, podem ser identificados somente
pedaços com formas mais irregulares.

Saiba mais

Há outros tipos de cilindros de cor alaranjada, como os cilindros granulosos decorrentes de degradação de hemoglobina, e a correlação clínica pode
ser diferente dos cilindros hemáticos. Importante ter certeza do relato que está sendo feito no laudo.

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Cilindros leucocitários
Os cilindros leucocitários, da mesma maneira dos cilindros hemáticos, indicam que, durante a formação dos cilindros, existiam leucócitos no
filtrado. A presença de leucócitos nesse ambiente, normalmente, indica inflamação ou infecções nos néfrons. Podem estar presentes em quadros
de glomerulonefrite, e, nesses casos, serão encontrados tanto cilindros leucocitários como eritrocitários.

Para identificá-los, a avaliação em maior aumento trará mais segurança, pois conseguimos diferenciar esse tipo de cilindro com os cilindros
granulares, que estudaremos a seguir. Para isso, é importante a observação dos núcleos celulares. Assim como para os cilindros hemáticos, é
extremamente importante identificar a matriz do cilindro, para diferenciá-los de grumos leucocitários.

Cilindro leucocitário.

Recomendação

Caso o cilindro apresente certo grau de degradação que impeça de diferenciá-lo entre um cilindro de células epiteliais renais, devido à dificuldade
em observar a morfologia dos núcleos, o relato deve ser de cilindros celulares.

Cilindros epiteliais
Os cilindros epiteliais são aqueles que possuem à sua volta células epiteliais renais, normalmente, a matriz do cilindro fica aderido às células renais.

Em processo fisiológico, podemos encontrar os cilindros hialino com uma ou outra célula aderida, mas, caso o cilindro esteja repleto de células
epiteliais renais, ele passa a ser conhecido como cilindro epitelial. Esse achado, em geral, está relacionado à necrose tubular aguda, intoxicação
com metais pesados ou drogas, rejeição a transplante. Como já dissemos anteriormente, é extremamente importante diferenciá-los dos cilindros
leucocitários.

Cilindro epitelial.

Cilindros granulosos

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Cilindro granuloso.

A presença de cilindros granulosos pode ser o pior relato no resultado de um exame de sedimentoscopia, porque, dependendo da origem dos
“grânulos”, ele pode ter correlação com algumas patologias. Entretanto, a sua presença pode acontecer devido a processos fisiológicos. Em alguns
casos, os cilindros granulosos são formados com restos celulares aderidos à matriz cilíndrica, tornando sua identificação um pouco mais difícil. Sua
interpretação deve ser mais cautelosa, e deve sempre ser correlacionado com outros achados, assim como com a anamnese do paciente e a
indicação médica do pedido do exame realizado pelo médico.

Cilindros adiposos ou gordurosos


Os cilindros adiposos são aqueles em que há corpúsculos ovais graxos ou inclusões de gordura à matriz proteica.

Normalmente, são achados em concomitância com corpos ovais gordurosos e gotículas de gordura livres, já estudadas.

Esses cilindros podem ser encontrados em quadros de lipidúria (presença de gordura na urina), em pacientes com diabetes mellitus, síndrome
nefrótica e necrose tubular por intoxicação.

Cilindro gorduroso.

Dica
Assim como os corpos gordurosos ovais, em qualquer dificuldade na identificação dos cilindros gordurosos, podemos realizar a coloração com
Sudan III ou Oil Red O.

Outros cilindros
Existem outras possibilidades de formação de cilindros e sua detecção durante a análise do sedimento urinário. Entre eles, podemos destacar os
cilindros pigmentosos, bacterianos, celulares mistos, céreos. Cada qual com suas características e suas correlações com a sintomatologia e o
diagnóstico do paciente.

Exemplo
Um paciente em que, durante o exame de urina, foi detectada a presença de raros cilindros do tipo celular misto, composto por hemácias e
leucócitos, é indicativo de quadros de glomerulonefrite. Nesse caso, durante a análise do sedimento, é importante procurar cilindros com tipos
celulares únicos.

Podemos citar, entre outros, os cilindros céreos e os cilindros bacterianos. Vamos conhecê-los melhor:

Cilindros céreos

Estes cilindros possuem a matriz mais brilhante, acredita-se que por desnaturação de algumas proteínas, e são mais facilmente visualizados do que
os cilindros hialinos. Esses podem ser encontrados em casos de insuficiência renal crônica.

Cilindros bacterianos

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Estes cilindros, como é de se esperar, indicam presença de bactérias no trato urinário alto, sugerindo quadro de pielonefrite. Não são muito
relatados nos laudos, pois são frequentemente confundidos com cilindros granulosos.

Quer saber mais sobre a análise de resultados de EAS? Então, não perca o vídeo a seguir!

video_library
Análise do sedimento urinário
Neste vídeo, a especialista Fabiana Mello ajuda na compreensão das questões apresentadas sobre a análise do sedimento urinário.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Vimos que o exame de urina é composto pelas análises física, química e do sedimento, e que, em muitas vezes, os elementos encontrados no
sedimento corroboram com os elementos encontrados na análise microscópica. Antes de realizar a avaliação dos cristais encontrados no
exame de sedimento urinário, é de grande ajuda ter conhecimento do resultado de qual parâmetro?

A Temperatura de armazenamento da urina.

B Coloração da amostra.

C Presença de leucócitos.

D pH urinário.

E Densidade da amostra.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A informação inicial de maior ajuda para identificação dos cristais é saber o pH da urina, antes da avaliação do sedimento. Ao verificar se uma
urina é ácida, neutra ou alcalina, a avaliação dos cristais já é direcionada para os subtipos encontrados.

Questão 2

Existem diversos tipos de cilindros presentes no sedimento urinário. Caso você fique em dúvida se o cilindro é realmente um cilindro gorduroso,
o que pode avaliar para tentar identificar esse tipo de cilindro?

A Utilizar o teste de solubilidade com ácido acético.

B Verificar se há presença de gotículas livres de gordura e corar com Sterheimer Malbin.

C Verificar se há presença de cilindros hialinos e leucocitários em grandes quantidades.

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D Verificar se há presença de gotículas livres de gordura e corar com Sudan III ou Oil Red O.

E Verificar o teste reagente de tiras para nitrito.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Para identificar a presença do cilindro gorduroso, você precisa confirmar a presença de gorduras, que podem estar livres nas amostras como
gotículas, assim como aderidas no cilindro, ambas coram com Sudan III ou Oil Red O. Não têm qualquer relação com teste reagente de tiras
para nitrito, solubilidade com ácido acético ou presença maciça de cilindros hialinos e leucocitários. O corante Sterheimer Malbin é bastante
utilizado para corar células epiteliais.

Considerações finais
O exame de pesquisa de elementos anormais e sedimentoscopia (EAS) é um exame de grande importância para o diagnóstico e acompanhamento
de doenças que acometem a função renal, como a glomerulonefrite, e outras doenças que podem afetar essa função, como a diabetes mellitus.
Durante a análise da urina, são realizados exames físicos, ou seja, aqueles que pesquisam alterações macroscópica (como a cor, viscosidade, odor
etc.), análises químicas a partir de tiras reagentes para a detecção de proteína, bilirrubina, sangue, glicose etc. e análise dos elementos presentes na
urina pela avaliação do sedimento urinário.

Vimos os principais elementos biológicos, como as células, hemácias, leucócitos, espermatozoides, microrganismos e elementos químicos, como
os cristais, muco e cilindros, que podem ser encontrados no sedimento urinário, qual é o preparo da amostra para a realização do exame e
aprendemos a morfologia de cada elemento encontrado.

Agora você está pronto para estudar e analisar o mundo do sedimento urinário, mas lembre-se de que, para interpretar os achados, é importante
correlacionar os parâmetros encontrados na análise química e física com os achados da sedimentoscopia.

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Podcast
Neste podcast, a especialista discute quais são os principais EPIs e EPCs necessários para a manipulação das amostras durante o exame, explica
como é feito o descarte dos materiais segundo a RDC 222 de 2018 e os requisitos mínimos para o laboratório realizar o tipo de análise. Além de
apresentar as normas para o funcionamento NBR15268.

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11/08/2023, 13:16 Avaliação laboratorial do sedimento urinário

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Caso você queira conhecer mais sobre as normas estabelecidas para laboratório e para exame de urina, leia a NBR15268.

Para conhecer um exemplo de automação em uroanálise, acesse o vídeo Sistema modular de automação em urinálise Sysmex UN-3000, no
Youtube.

Leia ainda os artigos:

Importância da análise sedimentoscópica diante dos achados físico-químicos normais no exame de urina, de Bruna Pessoa Nóbrega e
colaboradores.

Avaliação microscópica do sedimento urinário no exame de urina de rotina: comparação entre dois métodos, de Danilo Rafael Meira Ribeiro
Batista e colaboradores.

Qual o valor da sedimentoscopia em urinas com características físico-químicas normais?, de José Aloysio Costaval e colaboradores.

Referências
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CAVANAUGH, C.; PERAZELLA, M. A. Urine Sediment Examination in the Diagnosis and Management of Kidney Disease: Core Curriculum. Am J
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DOMINGUETI, C. P. Atlas de urinálise. Divinópolis, MG: UFSJ, 2020. Consultado na Internet em: 21 abr. 2022.

ITO, C. A. S. et al. Comparative analysis of two methodologies for the identification of urinary red blood cell casts. Jornal brasileiro de nefrologia:
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LO, S. K.; AHMAD; N. An evaluation of diagnostic sensitivity, specificity and interobservers reproducibility of genital trichomoniasis using
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Candida spp. Journal Fungi, v. 6, n. 245, p. 1-12, 2020.

STRASINGER, S. K.; LORENZO, M. S. D. Urinálise e Fluidos corporais. 5. ed. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2009.

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