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As 5 grandes lições

do
Despertar
Sumário

Agradecimentos................................................................... 3

Dedicatória........................................................................... 4

Prólogo................................................................................. 5

1. Não procure saber as respostas.


Procure compreender as perguntas................................... 10

2. Não podemos direcionar o vento,


mas podemos ajustar as velas............................................ 17

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração.............. 24

4. Uma caminhada de mil quilômetros


começa com um primeiro passo........................................ 31

5. A confiança provém não de ter sempre razão,


mas de não ter medo de errar........................................... 38

Epílogo............................................................................... 45

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Agradecimentos

Agradeço a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para

que eu seja a pessoa que eu sou hoje.

A todos os mestres que passaram pela minha vida e que me ensinaram a

fazer as perguntas certas. A todas as situações que saíram do meu controle e

que me ensinaram a fluir com a vida. A todas as pessoas que me magoaram

e me feriram, por me ensinarem a importância do perdão. A todos aqueles

que me disseram que o que eu queria fazer era impossível, pois me ajudaram

a desenvolver minha determinação. E a tudo, absolutamente tudo o que deu

errado na minha vida - se as coisas tivessem acontecido como eu planejava,

você certamente não estaria lendo estas palavras.

Eu te amo.

Por favor me perdoe.

Sinto muito.

Sou grata.

Embu das Artes,

Março de 2017

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Dedicatória

Dedico este livro a todas as pessoas que me permitem participar de seus

processos de despertar para a espiritualidade aplicada à vida cotidiana.

Sem vocês eu não estaria cumprindo minha missão.

Gratidão.

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Prólogo

Se você não me conhece, muito prazer! Meu nome é Flavia Melissa, eu

sou psicóloga, educadora emocional e multiplicadora de ensinamentos sobre

Vida, Consciência e Espiritualidade. Minha missão é ajudar pessoas em seus

processos de despertar para a espiritualidade na vida cotidiana e eu estou

muito grata de estar, neste exato momento, sendo lida por você - afinal, você

está me dando a chance de realizá-la.

Eu sempre nutri verdadeira adoração pelo ser humano e seus processos

mais internos e profundos, motivo pelo qual estudei Psicologia. Mas ao me

formar, percebi que meu diploma não tinha me ajudado a responder as três

perguntinhas básicas que eu vivia me fazendo e que, desconfiava eu, eram as

perguntas mais importantes do mundo: quem eu era, qual era o sentido de

estar viva e o que aconteceria depois que não estivesse mais por aqui.

Percorri muitos caminhos e trilhei muitas jornadas em busca destas

respostas - elas me traziam um vazio muito grande e eu não sabia por onde

começar minha busca por algo que fizesse sentido. Estudei um zilhão de

coisas depois de ter me formado, trabalhei em N áreas diferentes (sério,

N mesmo, de projeto do governo na área de engenharia de software a

recepcionista bilíngue de balada na praia), me distraí do caminho inúmeras

vezes. E o vazio apenas aumentava.

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Eu tentava tapar o vazio com qualquer coisa que me fizesse sentir um

pouco melhor - de relacionamentos amorosos falidos ao uso de droguinhas

recreativas - mas a verdade é que eu estava caminhando em direção a uma

crise profunda. A crise chegou, eu mergulhei em direção ao fundo do poço

e, depois de ter conhecido a China em uma viagem de estudos que fiz com a

turma da Pós em acupuntura, decidi que me mudaria de mala e cuia para o

outro lado do mundo.

Me lembro do dia em que tomei a decisão como se fosse hoje. Eram

três horas da manhã e eu havia acabado de chegar em casa. Na época eu

morava na praia e havia, pela terceira vez naquela semana, acordado em

plena madrugada com uma crise de ansiedade. Não conseguia respirar e, pra

completar, a única coisa que me acalmaria seria fumar um cigarro. Eu estava

chateada porque tinha tido uma discussão com minha irmã e não conseguia

parar de pensar em como eu havia sido idiota. No dia em que telefonei para

ela para me desculpar, ela me disse palavras que fizeram toda a diferença

na minha vida: “Eu sempre vou te desculpar, mas o problema não é esse.

O problema é que você é uma pessoa infeliz, porque uma pessoa feliz não

age como você agiu. E me parte o coração saber que você é infeliz”. Ela não

poderia estar mais correta.

Naquele dia, às 3 da manhã, com os olhos esbugalhados e com um cigarro

trêmulo entre os dedos, comecei a me questionar quando havia sido a última

vez em que me sentira feliz. A última vez em que eu sentira que minha vida

Prólogo 6
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fazia sentido. A última vez em que tivera a certeza de que estava fazendo a

coisa certa na hora certa. E a resposta para todas as perguntas era: quando

estava na China.

Foi então que eu decidi. E entre tomar a decisão e desembarcar no

Aeroporto Internacional de Pudong, em Shanghai, passaram-se apenas 3

meses. E foi para passar 3 meses que eu fui, mas acabei ficando mais que

o dobro e aquela foi a experiência mais incrível de toda a minha vida. Eu

achava que estava indo para a China para aprofundar meus conhecimentos

em Medicina Chinesa mas, na verdade, estava fechando um livro da minha

vida para, logo em seguida, abrir outro. Comecei a meditar e entrei em

contato, pela primeira vez, com o taoísmo e as práticas energéticas chinesas -

o que definitivamente mudou a minha vida.

Quando voltei para o Brasil, iniciei um verdadeiro processo de reinvenção

de mim mesma. Parei de fumar e de usar drogas, comecei a meditar com

afinco, me tornei instrutora de Qi Gong medicinal e iniciei minha formação

em Filosofia Taoísta. Me tornei primeiro vegetariana, depois vegana. Me

senti incrivelmente só no processo e, buscando por pessoas que pensassem

como eu, iniciei um projeto de vídeos motivacionais no YouTube, que

hoje conta com mais de cem mil pessoas inscritas. Minhas publicações,

atualmente, têm alcance direto de mais de trezentas mil pessoas, e os

números só crescem. Recebo, diariamente, mais de uma centena de emails de

pessoas que compartilham comigo suas histórias e me fazem perguntas.

Prólogo 7
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Nós somos todos um e vivemos sempre os mesmos processos, e por este

motivo as perguntas que me fazem são sempre muito semelhantes. Nós

somos todos muito semelhantes e sentimos todos as mesmas coisas, apenas

em momentos diferentes. Por isso, é bastante comum que as pessoas me

deem, como feedback, comentários de que parece que determinada postagem

que eu escrevi foi direcionada especialmente para elas, como se eu tivesse

acesso as suas mentes e ao que se passa em seu interior. E eu tenho: pois

quando acesso a mim mesma e o meu interior, estou visitando cada uma das

pessoas que existem sobre a face da Terra.

E é por saber que eu e você somos farinha do mesmo saco que

resolvi compartilhar agora, neste e-book, uma pergunta que me fizeram

recentemente e que gostei muito de pensar a respeito. Tenho certeza de que

minhas respostas irão somar em sua jornada também.

A pergunta que me fizeram foi...

Prólogo 8
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1 Não procure saber as respostas.


Procure
compreender as
perguntas.

1. Não procure saber as respostas. Procure


compreender as perguntas. 10
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Nós perdemos muito tempo procurando resposta para nossos anseios

e questões existenciais. Temos a ilusão de que, quando encontrarmos os

pontos finais e calarmos os de interrogação, seremos mais felizes. Mas a

verdade é que assim que respondermos uma pergunta, outras se farão,

instantaneamente. Ou como diz uma frase de efeito famosa, “quando

achamos que temos todas as respostas, vem a vida e muda todas as

perguntas”.

Eu tenho que admitir: sempre fui uma pessoa de pontos finais. Inclusive

em minha fala, era muito comum encerrar minhas frases dizendo: “... e

ponto final”. Pensando hoje em dia, acho que esta tendência era derivada do

transtorno alimentar que me acompanhou durante boa parte da adolescência,

e que me fazia comer como se eu fosse um saco sem fundo. Não havia este

ponto final na minha alimentação, o momento em que eu me sentia satisfeita

e, então, simplesmente parava de comer. Eu sempre ultrapassava os meus

limites. Sempre.

E não era só na alimentação. Desde a infância eu era perita em me

envolver em relacionamentos abusivos. Eu escolhia à dedo aquelas pessoas

que de jeito nenhum me dariam o que eu esperava receber de alguém. Eram

pessoas que me exploravam, consciente ou inconscientemente, e nunca

recebiam de mim qualquer tipo de limite. Desde a amiguinha do prédio que

eu fazia de tudo para agradar e para ser a melhor amiga, passando pela babá

que, às vezes, me dava uns cascudos e eu não contava para a minha mãe

1. Não procure saber as respostas. Procure compreender as perguntas. 11


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porque gostava dela e não queria que ela fosse mandada embora, chegando

nos meus relacionamentos amorosos da vida adulta, eu sempre acabava

me metendo em relações que não me proporcionavam o que eu queria

experimentar e que, invariavelmente, acabavam terminando de forma trágica

e muito dramática.

Analisando bem, até mesmo meus relacionamentos profissionais

eram recheados desta temática “não-recebo-o-que-quero-mas-tudo-bem”.

Trabalhei durante anos em uma empresa que me pagava muito menos do

que meu trabalho valia, mas demorei o que pareceram ser séculos para

criar coragem de pedir as contas e ir embora, porque eu morria de medo

de magoar meu chefe que, “tadinho”, era uma boa pessoa. Ao mesmo

tempo, sentimentos ambíguos me dominavam o peito e eu ia do “tadinho” a

“desgraçado” em questão de segundos, para logo depois me sentir culpada

pelo que tinha acabado de sentir e pensar e reiniciar mais uma vez todo o

ciclo.

Eu demorei muito tempo para compreender a dinâmica inconsciente

envolvida nestes relacionamentos - e que já vou compartilhar com você. Mas

o que é bastante relevante em relação a isso tudo é que enquanto eu estava

nestas relações eu me vitimizava horrores. Me sentia a última pessoa do

Universo, a coitada-mor que dava muito e nunca recebia nada em troca.

Fazia perguntas absolutamente inúteis e que nunca seriam respondidas, do

tipo, “por que isso está acontecendo comigo?”, “o que eu fiz para merecer

1. Não procure saber as respostas. Procure compreender as perguntas. 12


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isso”, “por que comigo e não com fulano-beltrano-sicrano” e mais um monte

de mimimis que você já é capaz de imaginar. E além de não conseguir

responder a nenhuma destas perguntas, o simples ato de fazê-las já piorava a

situação e me fazia sentir ainda pior.

Até que, um dia, depois de anos e anos e anos presa nesta dinâmica sem

conseguir entender os porquês ou deixar de me envolver com pessoas assim,

um belo dia um de meus mestres me perguntou: “qual a sua vantagem em se

relacionar com estas pessoas? O que você ganha?”.

No exato momento em que ele me fez esta pergunta senti um ódio

gigantesco se avolumar na boca do meu estômago. Minhas bochechas

coraram e eu tive vontade de socar a cara do homem grisalho que estava

sentado à minha frente. Ele, além de louco, era retardado e abusado. Como

assim eu tinha alguma vantagem em me comportar daquela forma? Que tipo

de droga ele tinha usado? Se eu ganhasse alguma coisa com isso não estaria

reclamando, certo?

Ao mesmo tempo em que todos estes pensamentos vieram,

imediatamente me lembrei de uma aula na faculdade de psicologia em que

o professor nos ensinou sobre benefícios secundários. A ideia era: nenhuma

pessoa fica em depressão se, do ponto de vista de equilíbrio do sistema, isto

não for interessante para ela. Existe sempre um para quê. Uma pessoa pode

entrar em depressão e isso ser horrível, mas se por acaso esta depressão tiver

1. Não procure saber as respostas. Procure compreender as perguntas. 13


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servido para afastá-la de um emprego odioso ou ter trazido para perto dela

o marido que ia abandoná-la antes dela ter caído doente, ela está tendo um

benefício secundário. E, na maior parte das vezes, é justamente por causa

dos benefícios secundários que não conseguimos nos libertar daquilo de que

tanto nos queixamos.

Enquanto perdemos tempo procurando os porquês das coisas, focando

nossa atenção nas respostas, poderíamos estar nos dedicando a fazer novas

perguntas - como por exemplo: para quê? Com que objetivo? Com qual

finalidade?

Diante daquele mestre, naquele momento exato da minha vida, fui do

ódio à compreensão em questão de segundos e pude, finalmente, respirar

um pouco mais aliviada. Eu havia descoberto o que eu ganhava em me

relacionar com aquelas pessoas, que nunca me dariam o que eu queria. Eu

ganhava a possibilidade de testá-las, a cada momento, se finalmente eu havia

me tornado merecedora de seu amor e reconhecimento. Se eu conseguisse

fazer um chefe que não me valorizava começar a me olhar com admiração,

um homem que não retribuía meus sentimentos se apaixonar por mim, uma

amiga que nunca me ligava de volta finalmente me dar a devida atenção,

então eu estava provando que havia me tornado boa o suficiente para ser

amada. Na verdade não me interessavam pessoas que já me dessem o que

eu queria porque nestes relacionamentos eu não tinha um campo de batalha

onde me vencer e me tornar mais especial, mais amada, mais merecedora.

1. Não procure saber as respostas. Procure compreender as perguntas. 14


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Ou, como diria titio Freud, “Não me interessa fazer parte de um clube que

me aceite como sócio”. Porque se eu me acho um lixo e uma pessoa me acha

incrível, essa pessoa deve ser um lixo tão grande ou até maior do que eu.

Então minha primeira grande lição foi essa: enquanto eu estava

preocupada em encontrar respostas para minhas dores, só encontrei

vitimização e mais dor. Mas quando mudei as perguntas que eu estava

fazendo, a consciência veio e a escuridão se iluminou um pouco mais.

E a pergunta que eu tenho para você é:

1. Não procure saber as respostas. Procure compreender as perguntas. 15


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E você? Qual o benefício secundário de


manter seus comportamentos de dor?

1. Não procure saber as respostas. Procure compreender as perguntas. 16


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2 Não podemos direcionar o vento,


mas podemos

as velas.

2. Não podemos direcionar o vento,


mas podemos ajustar as velas. 17
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A maior ilusão que temos na vida é a de que estamos no controle de

alguma coisa. Nós, seres humanos, temos essa tendência louca de querer que

as coisas aconteçam como nós achamos que seria melhor que acontecessem

- mas nosso ponto-de-vista é tão limitado e tendencioso que quase sempre

estamos errados no que pensamos ser bom ou ruim.

Lembro-me até hoje da história que um paciente uma vez me contou.

Há alguns anos, quando ele ainda morava no sul do país, ele estava

extremamente ansioso e na expectativa por uma reunião que, depois de

muito batalhar, havia conseguido marcar em São Paulo. Ele queria expandir

os negócios e a reunião era sua grande oportunidade de fazer isso acontecer.

Na véspera da reunião, ele fez tudo o que podia para que nada desse

errado. Ele colocou despertadores pra tocar - sim, mais de um - para não

correr o risco de perder a hora e avisou os filhos que teriam que ser rápidos

no momento de acordar, para que ninguém se atrasasse. E ele arrumou sua

pasta com todos os documentos necessários e foi dormir na expectativa da

viagem e da reunião que mudaria sua vida.

No dia seguinte, as coisas não poderiam ter dado mais errado.

Ambos os despertadores falharam e, evidentemente, as crianças acordaram

atrasadas. Na hora de sair ele não conseguia achar o celular e sua mulher

simplesmente perdeu a chave do carro no caminho da cozinha para a porta

da sala e demorou mais de meia hora para encontrá-la dentro do próprio

2. Não podemos direcionar o vento, mas podemos ajustar as velas. 18


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bolso, onde já havia procurado vinte vezes. Como não poderia deixar de ser,

o trânsito acabou atrapalhando e o resumo da ópera foi que ele perdeu o voo

e, com ele, a oportunidade de estar presente na reunião que mudaria o futuro

de seu negócio e da sua vida como um todo.

Durante os quase cinquenta minutos seguintes ele amaldiçoou Deus

e todo mundo. Os despertadores malditos que não tocaram e que fizeram

com que ele se atrasasse. Os filhos que poderiam ter sido mais rápidos na

hora de sair da cama. A mulher, que era uma distraída e que sempre perdia

tudo o tempo todo e, por fim, todas as pessoas de todos os carros de todas

as ruas pelas quais ele tinha passado e ficado preso no engarrafamento. Até

que, pela televisão do bar onde ele comia um pão com manteiga e tomava

um café, ele viu que o avião da TAM no qual deveria estar havia sofrido um

acidente ao pousar em São Paulo, tendo entrado no prédio da TAM do outro

lado da avenida 23 de Maio, em um famoso acidente ocorrido e que se tornou

nacionalmente conhecido. Todos os passageiros morreram na hora.

Foi então, e apenas então, que ele percebeu que ter perdido a reunião

havia sido a melhor coisa que lhe acontecera na vida.

Quando uma coisa é boa e quando é ruim? Apenas quando pensamos

nelas. Porque, na verdade, a mesma coisa pode ser boa e ruim. Basta que

mudemos a forma como a compreendemos.

2. Não podemos direcionar o vento, mas podemos ajustar as velas. 19


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Meu pai sempre foi um homem muito nervoso e estourado. Muito

amoroso e dedicado, mas de sangue quente calabrês e com propensão a se

estressar muito facilmente. Sempre teve opiniões muito contundentes em

relação às coisas e dificilmente mudava de ideia - principalmente quando eu

era mais nova. O fato é que era muito difícil convencê-lo de qualquer coisa,

porque na grande maioria das vezes sua opinião inicial era a mesma que a

final e se ele começava algo dizendo não... Bem, era o não que eu teria até o

fim.

Lembro-me de que em diversas situações eu tinha que suar a camisa

para fazer pedidos muito complexos de forma extremamente simples. Eu não

podia ficar de blábláblá por muito tempo porque ele logo perdia a paciência

e encerrava a discussão com uma resposta definitiva. Fui aprendendo, com

o tempo, a ser extremamente pragmática e direta nas coisas que eu queria,

falando de coisas extremamente difíceis da forma mais simples possível -

e durante anos me ressenti de tudo isso. Na minha cabeça, “bem que” ele

poderia ter sido diferente. Eu tinha muitas recordações de discussões que

acabavam com ele bradando orgulhosamente que “esta casa é tudo, menos

uma democracia” e que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Estas

recordações me magoaram e, durante muito tempo, lembrar destes capítulos

da minha infância era muito, muito ruim.

Anos depois, lá estava eu gravando vídeos para o YouTube - e, de

repente, comecei a receber feedbacks de seguidores que me elogiavam

2. Não podemos direcionar o vento, mas podemos ajustar as velas. 20


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por falar de coisas extremamente complexas de forma bastante simples,

sem blábláblás e nem floreios, indo direto ao ponto de forma organizada,

pragmática e objetiva. De repente, o insight que me ajudaria a fazer as pazes

com meu passado: com quem eu havia aprendido isso? Sim, com meu pai. O

que na época eu achava ruim estava, na verdade, lapidando um talento. E o

fato é que se meu pai tivesse sido diferente do que foi, eu não estaria vivendo

o que estou vivendo e, talvez, você nem estivesse lendo estas palavras.

De novo: o que é bom e o que é ruim? E se nós nem sabemos de fato o

que é um e o que é outro, como podemos conscientemente querer ter algum

controle sobre as situações?

Nossas mentes físicas são extremamente limitadas, e julgam o que é

bom ou ruim baseadas únicas e exclusivamente naquilo que nos mantém nas

zonas de conforto (coisas boas) ou ameaçam nos tirar delas (coisas ruins).

Mas a verdade é que muitas vezes as melhores coisas de nossas vidas estão

bem distantes de nossa zona de conforto.

Se não podemos controlar as situações, podemos escolher como fluir

com elas. Por isso, hoje em dia, quando me programo para fazer algo e as

coisas começam a sair do esperado e a dar “errado”, eu paro, respiro fundo e

procuro me esvaziar das expectativas que eu tenho em relação ao que eu acho

que deveria estar acontecendo e, então, me dedico a prestar muita atenção

ao que está acontecendo à minha volta. Busco sinais de em que direção eu

2. Não podemos direcionar o vento, mas podemos ajustar as velas. 21


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devo seguir, repetindo para mim mesma que tudo acontece do jeito que tem

que acontecer e que estou vivendo exatamente o que deveria estar vivendo.

Invariavelmente, depois de alguns minutos já começo a me sentir mais em

paz comigo mesma e com o mundo à minha volta.

Por isso, o que eu quero que você me diga é:

2. Não podemos direcionar o vento, mas podemos ajustar as velas. 22


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Com qual situação da sua vida você


precisa aprender a fluir?

2. Não podemos direcionar o vento, mas podemos ajustar as velas. 23


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3 perdoar é curar as feridas


do próprio coração.

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração.


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Eu sou escorpiana. E, se você entende minimamente de horóscopo,

deve saber a primeira coisa que dizem a respeito do meu pobre signo:

escorpianos são vingativos, e não perdem a oportunidade de dar aquela

ferroada em que os magoou ou feriu um dia.

Infelizmente, não posso discordar: durante anos da minha vida cultivei

este sentimento de vingança como a única coisa que poderia me trazer um

pouco mais de serenidade em relação às dores do meu passado. Quando eu

era adolescente, lembro-me até mesmo de ter escrito um dia, em uma página

do meu diário: “pessoas de quem pretendo me vingar”. E, pulando uma linha,

uma lista de oito ou dez pessoas que haviam me feito mal, que iam do menino

que eu gostava e que não me dava a mínima à vizinha da casa de praia que

ficava sentada no muro de sua casa jogando papel higiênico molhado no

muro da minha.

Confesso que demorei mais tempo do que gostaria de admitir para

perder este hábito, de ficar imaginando as pessoas que me haviam feito mal

sofrendo muito. Depois de um tempo eu já não mais desejava a vingança de

uma forma tão aberta e bem-resolvida, porque já tinha compreendido que

a raiva é um veneno que nós tomamos querendo que o outro morra. Mas,

secretamente, nutria estes sentimentos de “um dia vai sentir o que eu senti”,

e vivia me atormentando com perguntas do tipo, “não é possível que a pessoa

me sacaneou assim e vai continuar feliz da vida, se dando bem em tudo”.

Eu poderia não admitir em voz alta, mas se Deus chegasse para mim e me

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração. 25


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pedisse conselhos de como dirigir o destino de determinadas pessoas, eu ia

sim fazer a caveira de um e de outro que haviam deixado cicatrizes no meu

coração em sua passagem pela minha vida.

Até que um dia comecei a me sentir pesada - porque é isso o que

a mágoa faz, ela pesa. Eu me sentia pesada e, quando pensava em certas

situações da minha vida em que as memórias de dor gritavam, eu sabia que

seria mais feliz se não tivesse aqueles rancores. A verdade é que, em grande

parte destas situações, se eu perdoasse quem tinha me ofendido eu é que

sairia ganhando, porque estava verdadeiramente cansada de perder tanta

energia me revoltando com a injustiça de X ou Y pessoas estarem se dando

bem depois de me ferrarem, ou imaginando secretamente situações de dor

e de tristeza para chiquinho ou fulaninho que tinham me machucado ou,

ainda, me esforçando para não sentir a culpa que eu sentia toda vez que me

lembrava da oração do Pai Nosso “perdoai as nossas ofensas assim como nós

perdoamos a quem nos tem ofendido”. Se eu dependesse do perdão que eu

dava para receber o perdão divino, bem, eu estava em maus lençóis.

Um dia, em meu primeiro Namastê, o tema da discussão na roda era

justamente este: perdão. E eu estava bem quieta durante todo o assunto,

porque sabia muito bem que eu era aquela que, quando menina, havia

escrito orgulhosamente uma lista da vingança e que desejava, secretamente,

uma morte lenta, dolorosa e com requintes de crueldade de dois ou três ex-

namorados que, bem, mereciam a tal morte lenta e dolorosa. Então nada

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração. 26


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nem ninguém me faria abrir a boca para falar alguma coisa sobre o assunto

porque, sabe como é: em boca fechada não entra mosquito.

Da roda participava uma menina que, lá pelas tantas, começou a

falar do pai, ou da mãe, ou do irmão - não me lembro mais. O fato é que a

menina falava de um jeito que começou a me incomodar profundamente.

Em seu discurso, ela dizia que o pai ou a mãe ou o irmão “não podiam ter

feito isso comigo” e que “nada no mundo justificava tal comportamento”

e que ela, no lugar deles, “nunca agiria daquela forma”. E o fato é que, de

boca bem fechada e lá no meu cantinho, comecei a achar a garota a mais

arrogante do planeta Terra. Quem era ela pra poder julgar com tanta rapidez

e objetividade o que o outro podia ou não podia ter feito? Quem havia dado

a ela o direito de ordenar que as pessoas agissem de X ou Y forma, baseadas

apenas no que era melhor e mais confortável para ela? E mais: como ela

podia jurar por Deus que, se tivesse sido criada como o pai-mãe-irmão e

pensasse como eles e sentisse como eles... Ela não estaria agindo exatamente

da mesma forma?

Não preciso continuar no meu julgamento a respeito da menina por

muito tempo, porque mais do que depressa me toquei que ela estava, na

verdade, sendo um baita de um espelho. Assim como ela, eu também achava

que fulana ou beltrana ou sicrana não podiam ter feito isso ou aquilo comigo.

Do mesmo jeito que ela, eu estava querendo mandar no jeito que as pessoas

viviam as suas vidas e, exatamente como ela estava fazendo, eu também

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração. 27


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achava que eu, euzinha, no lugar daquelas pessoas seria um ser humano

muito melhor e agiria de modo diferente.

A verdade é que a arrogante era eu, me achando tão superior às

pessoas que haviam me magoado e me ferido - achando que, no lugar delas,

eu teria agido diferente. E o fato é que se eu estivesse realmente no lugar

delas, pensando com suas cabeças e sentindo com seus corações, eu faria

exatamente a mesma coisa que elas. Porque, bem, se eu pensasse com suas

cabeças e sentisse com seus corações eu seria elas, não eu.

Ter compreendido que cada um só faz o melhor que pode com o grau

de consciência e as ferramentas que dispõe em cada momento de suas vidas

foi um dos maiores ganhos da minha vida. É extremamente libertador

compreender que alguém não te traiu porque você é um idiota que acreditou

no que o outro dizia - o outro te traiu por motivos próprios que não têm nada

a ver com você, e te traiu porque foi o melhor que ele conseguiu fazer no

momento com o grau de consciência e com as ferramentas que ele dispunha

naquele instante. O outro te magoar, te trair, mentir pra você ou te enganar

tem a ver apenas com o que este outro tem dentro de si. Não tem nada a ver

com você. Você é, simplesmente, “a bola da vez”.

Não vou dizer que seja fácil. Recentemente fui enganada por um

corretor de planos de saúde e até hoje, quando penso na história, tenho

a tendência de imaginar o cara perdendo o emprego, se ferrando e sendo

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração. 28


As 5 grandes lições
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assaltado, sei lá. Mas é só levar a minha consciência para o meu corpo e

para a forma como eu me sinto quando desejo essas coisas a ele para saber

que este não é o caminho. Sentir algo que não nos faz bem não é o caminho

de nada. Além disso, minha própria percepção de que ele “me enganou”

pode estar errada. Talvez ele realmente tenha feito aquilo que julgava ser o

melhor para mim e, na sua ignorância e falta de conhecimento, acabou me

prejudicando sem querer. Pensar nesta possibilidade não me faz ter vontade

de mandar uma mensagem para ele o convidando para jantar na minha casa

na próxima quarta para sermos bons amigos, mas inegavelmente alivia um

pouco o peso do meu coração.

Por isso, a pergunta mais importante que você deve se fazer

diariamente e que eu quero que você responda agora é:

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração. 29


As 5 grandes lições
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Qual o perdão que você


está precisando liberar?

3. Perdoar é curar as feridas do próprio coração. 30


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4 Uma caminhada de mil quilômetros

começa com um primeiro passo.

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa


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com um primeiro passo.
As 5 grandes lições
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Despertar
Sempre tive uma característica da qual, confesso, não me orgulho nem

um pouco. Sempre fui a rainha da procrastinação. Eu queria muito um monte

de coisas, mas começar a caminhar na direção dessas coisas sempre me foi

algo extremamente custoso. Sim, confesso: sempre fui daquelas de deixar a

água bater no bumbum pra tomar uma decisão.

Por exemplo: já comentei antes o quanto eu já me envolvi em

relacionamentos abusivos. E quando eu estava lá, atolada no relacionamento

até a raiz dos cabelos, eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria ter que

tomar uma atitude. Eu sabia que não ia conseguir continuar ficando quieta

e fingindo para sempre que nada estava acontecendo quando aquela amiga

não retornava minhas ligações; eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ia

ter que dar um “dá ou desce” pro meu chefe que me pagava uma merreca

por um trabalho superimportante que precisava ser feito e eu sabia - e como

sabia - que eu nunca conseguiria ter a vida conjugal que eu queria ter com

os homens com quem estava me relacionando. Mas, pelo menos na minha

experiência, saber nem sempre é o suficiente.

Eu sabia de um monte de coisas mas não fazia nada. Eu permanecia

sorrindo e fingindo que nada estava acontecendo quando minha amiga não

me ligava de volta, continuava dando “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”

respeitosamente para o meu chefe enquanto, dentro da minha cabeça, eu

enfiava uma faca no seu pescoço e, por fim, continuava me relacionando

com os caras bizarros com quem me relacionava porque, afinal de contas, eu

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. 32


As 5 grandes lições
do
Despertar
sentia preguiça de começar tudo de novo com uma outra pessoa.

Preguiça. Sempre me senti muito preguiçosa. Eu tinha preguiça de

terminar os relacionamentos e começar novos, eu tinha preguiça de pensar

em discutir a relação com a amiga que, eu sabia, me diria que eu estava

exagerando e eu tinha preguiça de pensar em procurar um emprego novo. E,

por preguiça, continuava ali, firme e forte, aguentando um monte de coisa

que eu achava um saco mas que, ao mesmo tempo, não sabia o que fazer para

delas me livrar.

Um dia ouvi de um homem muito sábio: “o ótimo é inimigo do bom”.

E aquela frase que, em um primeiro momento não fez o menor sentido, de

repente me pegou de um jeito tão profundo que senti vergonha alheia de

mim mesma. O que eu tinha não era preguiça. O que eu sentia era medo do

processo que eu enxergava como extremamente complexo e enorme. Porque

quando eu pensava em resolver as questões que me afligiam, eu não me

imaginava tomando cada uma das atitudes que precisavam ser tomadas. Eu

me imaginava tomando todas de uma vez.

Quando eu me imaginava conversando sobre o que me incomodava na

minha relação com minha amiga, eu me imaginava falando e a cara dela me

ouvindo, e aí eu já inventava na minha cabeça o que ela me diria de volta e o

que eu diria a ela, e eu imaginava então ela fazendo pouco do meu sentimento

e não me dando muita bola. E como ela não ia me dar bola eu teria que tomar

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. 33


As 5 grandes lições
do
Despertar
uma atitude mais incisiva e, como não estava a fim nem de brigar e nem de

romper a relação com ela, era mais fácil ficar quieta fingindo que nada estava

acontecendo. Porque ficar quieta e fingir que nada estava acontecendo me

incomodava menos do que tudo aquilo que eu tinha certeza que aconteceria

se eu a chamasse pra uma DR.

Tem uma história que diz que um homem estava dirigindo em uma

estrada, no meio de um temporal, quando de repente o pneu de seu carro

furou. Ele estava sem macaco e, perdido no meio do nada, olhou em volta

procurando saber de onde poderia vir algum tipo de ajuda - e tudo o que viu

foi um vilarejo alguns quilômetros distante, na direção do qual ele resolveu

caminhar.

Enquanto andava, no meio da chuva, o homem começou a torcer para

que encontrasse logo alguém disposto a ajudá-lo - mas não adiantava que

fosse alguém disposto a ajudá-lo. A pessoa precisava ter um macaco. E se

ele encontrasse alguém que não tivesse um macaco? O que aconteceria?

Certamente alguém, naquele vilarejo, deveria ter um macaco. Mas chovia

forte, e talvez não fosse ser simples encontrar alguém disposto a sair na

chuva para responder à campainha quando ele a tocasse. Será que fariam

isso? Mas seria uma bela de uma sacanagem! Será que existiam pessoas

assim no mundo? Que, vendo uma pessoa totalmente encharcada tocar a

campainha, não abririam a porta por pura preguiça de sair na chuva?

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. 34


As 5 grandes lições
do
Despertar
Depois de quase duas horas andando, finalmente o homem chegou ao

vilarejo. Dirigiu-se a uma casa, tocou a campainha e, assim que o morador

abriu a porta, disse em alto e bom tom: “seu filho da p#&@, enfia essa

m*&%$ de macaco no c%!”.

Piadas à parte, era isso o que eu fazia. Imaginava o quão grandiosas

as coisas poderiam ficar e não enxergava a infinidade de passos que existia

entre onde eu estava e as coisas enormes e gigantescas e totalmente ilusórias

que eu estava prospectando. Com isso, ficava estacionada no mesmo lugar

por puro medo de encarar aquilo que eu achava que estava à minha frente - e

a isso eu dava o nome de preguiça.

A verdade é que qualquer mudança que desejamos ver acontecer

nas nossas vidas começa com um primeiro passo - e, não importa o quão

próximos ou distantes estejamos de onde queremos chegar, o aqui e agora

serão sempre o ponto de partida. Não importa o quão rápido conseguimos

caminhar, o que importa é que caminhemos na direção certa. E, no final das

contas, tanto faz o que vai acontecer lá na frente. O que é verdadeiramente

importante e significativo é o que você está fazendo agora: avançando

poderosamente na direção dos seus sonhos ou estagnado, no mesmo lugar

ruim e desagradável, porque teme o que a sua mente te jura por Deus que vai

acontecer lá na frente virando a esquina realmente aconteça?

Não importa o tamanho do seu sonho. Ele sempre começa com

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. 35


As 5 grandes lições
do
Despertar
pequenas atitudes. Toda caminhada começa com um primeiro passo, tendo

ela 500 metros ou 40 quilômetros de duração. Você já pensou nisso? Que

se você decidir ir até a esquina ou fazer uma maratona, vai ser o mesmo

pequeno passo o início de tudo? O mesmo passo besta que você dá todos os

dias quando acorda e levanta da cama para ir ao banheiro?

Grandes coisas são feitas de pequenas coisas reunidas. O homem só

conseguiu dar seus passos na Lua porque, antes, conseguiu engatinhar. Então

não importa se você ainda se sente engatinhando. Se não desistir, um dia

também vai chegar lá.

Então, agora me diga:

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. 36


As 5 grandes lições
do
Despertar

E você? Qual o primeiro passo que está


precisando dar e que vem deixando pra lá?

4. Uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. 37


As 5 grandes lições
do
Despertar

5 A confiança provém não de ter


sempre a razão,
mas de não ter medo de
errar.

5. A confiança provém não de ter sempre razão,


mas de não ter medo de errar. 38
As 5 grandes lições
do
Despertar
  Sempre vivi minha vida como se em algum lugar do mundo existisse

um mapa secreto da vida que eu queria e poderia ter se não fizesse nenhuma

burrada pelo caminho. A cada bifurcação do trajeto, a cada sim ou não que

precisava dar para uma situação eu congelava de medo e pavor. E se tomasse

a decisão errada? E se, justamente naquela ocasião, eu me confundisse e

escolhesse o caminho errado?

Acreditar que existia este “mapa do tesouro” fez com que eu me

distraísse de mim mesma e do meu próprio caminho por muitas e muitas

vezes. Afinal, o que importava não era o que estava acontecendo naquele

momento, ali na minha frente. O importante era o caminho certo, que já

havia sido desenhado e estabelecido em ocasião anterior, que existia em

algum lugar que eu não sabia onde era.

Assim, a cada necessidade de escolher entre ir pela direita ou pela

esquerda, eu me apavorava. Eu tinha a sensação de que todo mundo parecia

conhecer o caminho das pedras do meu mapa, menos eu. Então eu vivia

pedindo conselhos, contando todos os detalhes de cada situação em todos

os seus pormenores e esperando que alguém me dissesse o que fazer. Na

verdade, hoje vejo, o que eu queria era que alguém se responsabilizasse pelas

consequências das minhas escolhas, porque eu tinha muita dificuldade de

assumir a responsabilidade pela minha própria vida.

Quando paro para me lembrar desta época e de como as coisas

5. A confiança provém não de ter sempre razão, mas de não ter medo de errar. 39
As 5 grandes lições
do
Despertar
aconteciam, me vem uma sensação de angústia enorme, porque nada do

que me diziam diminuía a minha sensação de angústia. Era insuportável.

O ciclo era: um, eu sentir vontade de seguir por um caminho; dois, contar

tudo o que estava acontecendo tim tim por tim tim para alguma pessoa que

eu achava que ia me apoiar em seguir por aquele caminho; três, a pessoa

ser convencida por mim de que aquele era o melhor caminho para mim, e

me apoiar a andar naquela direção; quatro, eu me questionar se o caminho

oposto não seria o “correto” e me apavorar com a ideia de perder, para

sempre, a oportunidade de conquistar meus sonhos e ser feliz; cinco, contar

tudo o que estava acontecendo tim tim por tim tim para outra pessoa, desta

vez uma que eu achasse que ia me apoiar em seguir nesta nova direção; seis,

a pessoa ser convencida por mim de que aquele era o melhor caminho para

mim, e me apoiar a andar naquela nova direção; sete, eu me questionar

se o outro caminho não seria o “correto” e me apavorar novamente com a

ideia de perder, para sempre, a oportunidade de conquistar meus sonhos e

ser feliz; oito, eu tentar me conectar com o que me faria verdadeiramente

feliz a despeito das consequências e “ouvir meu coração”, fosse lá o que isso

significasse... E, depois disso, recomeçar o ciclo desde o início.

Na verdade eu estava totalmente desconectada de mim mesma. Se eu

recebia uma proposta de trabalho, talvez eu me sentisse zero empolgada em

aceitá-la, mas lá ia eu para o meu ciclo vicioso pedir algum conselho para

alguém - vai que uma coisa levasse à outra e este seria o primeiro passo para

finalmente me encontrar profissionalmente? Se um cara que não despertava

5. A confiança provém não de ter sempre razão, mas de não ter medo de errar. 40
As 5 grandes lições
do
Despertar
nenhum tipo de atração em mim me convidasse para sair, lá ia eu refletir

se não deveria aceitar mesmo assim - afinal de contas vai que ele fosse o

príncipe encantado fantasiado de sapo?

Um dia, sentada em uma aula do curso de formação em Filosofia

Taoísta, aprendi o significado do ideograma Ching, que significa Caminho.

Este ideograma é extremamente complexo, composto de três outros

ideogramas. O primeiro se refere ao caminho geográfico, a distância entre

dois pontos - sem ela, não existe caminho. Para que exista um caminho é

preciso que exista um espaço a ser percorrido. O segundo tem a ver com

quem caminha - o caminhante. Para um caminho ser caminho é preciso que

haja alguém a percorrer esta distância entre dois pontos. E o terceiro se

refere ao ato de caminhar - se não houver este ato, esta ação, um caminho

não é caminho.

Naquele dia compreendi que o caminho só existe quando estes

três elementos coexistem, juntos. O caminho não pode ser enxergado

separadamente do caminhante e do ato de caminhar, logo aquele “mapa

do tesouro” que eu sempre imaginei existir não passava de ilusão. O meu

caminho estava sendo construído enquanto eu caminhava. E se isso era

verdade, não fazia sentido nenhum pautar decisões em qualquer outro

sentimento que não fosse o amor - mas o que vinha fazendo era escolher a

minha vida baseada no medo.

5. A confiança provém não de ter sempre razão, mas de não ter medo de errar. 41
As 5 grandes lições
do
Despertar
Hoje em dia compreendo que estas duas realidades - uma criada pelo

amor e uma outra pelo medo - são, na verdade, nosso paraíso e inferno. E que

não precisamos morrer para habitá-los; na verdade são eles que nos habitam

sempre que escolhemos de que modo desejamos viver a vida. Eu passei

muito tempo da minha vida ardendo nas chamas do inferno, mas não sabia

disso. Eu achava que a vida era assim mesmo, que as pessoas funcionavam

do mesmo modo que eu e que meu medo de errar era a coisa mais natural do

mundo - afinal, todos querem acertar em suas escolhas, certo?

Errado. Não existem acertos, pois não existem erros - apenas

resultados. A energia que gastamos tentando “acertar” nossas escolhas

seria muito melhor aproveitada se, em vez de procurar prever o futuro, nos

dedicássemos com unhas e dentes a fazer escolhas conscientes - ainda que

motivadas pelo medo. Hoje em dia, muitas vezes faço escolhas pautada

no medo, e está tudo bem em ser assim, contanto que eu saiba que estou

agindo de uma forma e não de outra porque tenho medo de que coisas ruins

aconteçam - e, neste momento, não consigo “peitar” as consequências. Está

tudo bem em ser como somos e está tudo bem em fazer o que quer que seja,

contanto que estejamos 100% presentes em nossas escolhas. Muitas vezes

podemos fazer a mesma coisa por motivos diferentes; por exemplo, posso

optar em vacinar meu filho porque quero que ele seja saudável, pautada no

amor, ou porque tenho medo que ele pegue uma doença grave que poderia

ter sido evitada, pautada no medo. A atitude em si pode ser exatamente a

mesma, mas a motivação e sentimento por trás dela fazem com que ela seja

5. A confiança provém não de ter sempre razão, mas de não ter medo de errar. 42
As 5 grandes lições
do
Despertar
absolutamente diferente em um caso e em outro. E os resultados destas ações

podem ser igualmente distintos, em cada uma das situações.

Para mim, o objetivo maior de nossas vidas é caminhar na direção

da realidade em que o amor seja a única motivação por trás de tudo o que

fazemos. Aí sim estaremos vivendo, definitivamente, o paraíso na Terra.

Pare agora, por um instante, e responda à seguinte pergunta:

5. A confiança provém não de ter sempre razão, mas de não ter medo de errar. 43
As 5 grandes lições
do
Despertar

E você? Quais são as atitudes e


decisões que você vem tomando pautado
no medo, e não no amor?

5. A confiança provém não de ter sempre razão, mas de não ter medo de errar. 44
As 5 grandes lições
do
Despertar
Epílogo

Todos os dias a vida nos dá uma nova oportunidade. Os dias podem

parecer sempre iguais, com o sol nascendo e morrendo, mas a verdade é que

nem mesmo os nasceres e pores-do-sol acontecem todos os dias da mesma

forma e no mesmo momento. O mundo está em constante movimento e o

único motivo pelo qual não percebemos este movimento é porque nós nos

movimentamos junto com ele.

Da mesma forma, muitas vezes não enxergamos a possibilidade de

transformação que nossas dores nos trazem porque estamos envolvidos

demais, misturados demais com ela. Nós nos misturamos demais com nossas

próprias dores e com todas as mentiras que contamos a nós mesmos todos

os dias: que não somos capazes de alcançar nossos objetivos. Que não somos

merecedores de viver nossos sonhos. Que este Universo é um grande sacana,

que fica só esperando que a gente quase conquiste nossos objetivos para,

então, nos ferrar legal arrancando a felicidade de nossas mãos - tirando o

pirulito da boca da criança.

Nada disso é verdade. Todas estas coisas são palavras que passamos

tempo demais ouvindo as pessoas adultas à nossa volta repetirem. “Nesta

vida não se pode ter tudo”, “está bom demais para ser verdade”, “quando a

esmola é demais o santo desconfia” - e cá estamos nós. Nós acreditamos em

45
As 5 grandes lições
do
Despertar
tudo isso porque nossos pais, professores e cuidadores nos repetiram estas

mesmas frases centenas de vezes, e nós confiamos neles. Eles não fizeram por

mal; eles também foram ensinados a viver a vida levando o medo mais em

consideração do que o amor.

Nós estamos todos perdidos. Ou melhor, estávamos. Porque se você

está aqui e agora, lendo estas palavras, é porque já está desconfiando que

exista uma outra forma de viver a vida. É porque o jeito com que você vem se

experimentando e experimentando a sua vida não está mais te convencendo.

Se você chegou até mim, até este livro e meus pensamentos é porque você, no

fundo no fundo, sabe que as coisas podem ser diferentes. É porque você pode

ser diferente. E, agora, você tem uma escolha.

A ignorância é uma bênção, mas consciência é poder. E não existe outra

forma de ganhar consciência que não passe por jogar luz sobre a escuridão.

Talvez, para conseguir colocar estes meus cinco aprendizados em prática

na sua vida, você tenha que olhar para a sua sombra e desafiar seus medos.

Talvez, neste exato momento, você esteja experimentando uma sensação

de desconforto muito grande, porque algo do que leu até agora pegou em

pontos de resistência que existem dentro de você - “como assim existe uma

outra forma de viver a vida?”, você pode estar se perguntando. E eu vou te

responder: sim, existe.

Existe uma forma mais plena de viver a vida. Existe uma forma de

Epílogo 46
As 5 grandes lições
do
Despertar
experimentar a sua existência com mais propósito e intenção. Existe uma

forma de caminhar sendo guiado pelo seu coração, não pela sua cabeça.

Na verdade, o ideal é que nossa morada seja nosso coração e que façamos

rápidas consultas às nossas mentes - não o contrário. Assim como o ideal

é que vivamos com os dois pés no aqui e agora, fazendo rápidas viagens

no tempo em direção ao passado e futuro, com a intenção de colocar os

aprendizados adquiridos a serviço da realização de nossos sonhos - mas eu

aposto que não é assim que você anda vivendo a sua vida.

Colocar tudo isso em prática demanda tempo, paciência, tolerância

e muita vontade de prosperar e se desenvolver. Mas até mesmo a palavra

desenvolvimento possui um significado sobre o qual raramente refletimos

a respeito. Desenvolvimento significa se des-envolver. Para se desenvolver

na vida precisamos nos des-envolver da vida. De tudo o que fomos antes,

de tudo o que não faz mais sentido - de todos os nossos medos e anseios

e crenças que limitam nossas ações e comportamentos. Desenvolvimento

significa, em última análise, abandono de partes nossas que não nos servem

mais.

Viver a vida dos seus sonhos vai te dar medo, porque os seus

sonhos, caso ainda não tenham se realizado, estão bem longe da sua zona

de conforto. Eles estão em territórios que você ainda não desbravou,

lugares desconhecidos muitas vezes escuros e afastados de onde você está

acostumado a estar. Mas, novamente, se você está lendo estas palavras é

Epílogo 47
As 5 grandes lições
do
Despertar
porque sabe que, mais cedo ou mais tarde, vai ter que sair de onde está e se

aventurar por aí. Pode ser difícil, complexo e complicado. Mas eu garanto:

não existe modo melhor de viver a vida.

Escolha o amor.

Hoje, e para sempre.

Com todo o meu amor,

Flavia Melissa

Epílogo 48

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