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Materiais Cerâmicos

Materiais de Construção Mecânica II


Prof. João Victor Soares Chagas
ESTRUTURAS E
PROPRIEDADES DAS
CERÂMICAS
o Ciência e Engenharia de Materiais, William D. Callister Jr., 9ª ed. CAP 12.
Introdução
• A maioria das cerâmicas é de compostos formados
entre elementos metálicos e não-metálicos, para
os quais as ligações interatômicas são totalmente
ou predominantemente iônicas, mas com
alguma natureza covalente.
• O termo cerâmica vem da palavra grega
keramikos, que significa “matéria queimada”,
indicando que as propriedades desejáveis desse
material são obtidas por meio de um tratamento
térmico.
Introdução
• Até meados do século XX, os materiais mais
importantes nessa categoria eram denominados
“cerâmicos tradicionais”. Isso inclui materiais
cuja matéria-prima é a argila – louças, porcelanas,
tijolos, telhas, e etc.
• Recentemente, tem-se desenvolvido inúmeras
pesquisas que ajudaram o entendimento das
propriedades dos materiais cerâmicos. As
definição de cerâmica, hoje, é muito mais
abrangente.
Introdução
Estruturas cristalinas
• Como as cerâmicas são compostas por pelo
menos dois elementos, frequentemente mais,
suas estruturas cristalinas são, em geral, mais
complexas que as dos metais.
• As ligações atômicas nesses materiais podem ser
iônicas, covalentes ou uma combinação desses
dois tipos. Lembrando que o grau de ionicidade
da ligação depende das eletronegatividades dos
átomos.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Para materiais cerâmicos cujas ligações são
predominantemente iônicas, as estruturas
cristalinas podem ser consideradas como sendo
compostas por íons eletricamente carregados.
• Os cátions são carregados positivamente, pois
doaram os elétrons de valência e os ânions são
carregados negativamente.
Estruturas cristalinas
• Duas características dos íons em materiais
cerâmicos cristalinos influenciam a estrutura do
cristal:
1. Magnitude da carga elétrica em cada um dos íons.
2. Tamanho relativo dos cátions e dos ânions.
Estruturas cristalinas
• Em relação a primeira característica: os cristais
devem ser eletricamente neutros, isto é, todas
cargas positivas dos cátions devem ser
equilibradas com cargas negativas dos ânions. A
fórmula química de um composto cerâmico indica
a composição entre cátions e ânions que atinge
esse equilíbrio de carga.

Ca: 2+
• 𝐶𝑎𝐹2
F: 1-
Estruturas cristalinas
• O segundo critério envolve os raios iônicos dos
cátions e ânions (𝑟𝑐 e 𝑟𝑎 ). Os cátions costumam
ser menores que os ânions (𝑟𝑐 Τ𝑟𝑎 < 1). Cada
cátion prefere ter tantos ânions próximos vizinhos
quanto possível; os ânions desejam um numéro
máximo de cátions como vizinhos próximos.
• Estruturas cristalinas cerâmicas estáveis são
formadas quando os ânions que envolvem um
cátion estão todos em contato com o cátion.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• O número de coordenação está relacionado com
a razão entre os raios do cátion e do ânion. Para
um número de coordenação específico existe uma
razão 𝒓𝒄 Τ𝒓𝒂 crítica para o qual esse contato
cátion-ânion é estabelecido; essa razão pode ser
obtida através de considerações geométricas.
Estruturas cristalinas
• A tabela ao lado mostra
os números de
coordenação e as
geometrias para vários
valores de 𝒓𝒄 Τ𝒓𝒂 .
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• É importante destacar que a carga de um íon
influenciará seu raio. 𝐹𝑒 2+ tem raio igual a 0,077
nm. 𝐹𝑒 3+ tem raio de 0,069 nm. Porém, o raio do
átomo de ferro é de 0,124 nm.
• Quando um elétron é removido de um átomo, os
elétrons de valência remanescentes ficam
mais fortemente ligados ao núcleo, o que
resulta em uma diminuição do raio iônico. De
maneira contrária, o tamanho iônico aumenta
quando elétrons são adicionados a um átomo.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas do tipo AX – “Rock Salt”:
• Alguns dos cerâmicos comuns são aqueles em que
existem números iguais de cátions e ânions.
Frequentemente esses compostos são
denominados como AX, onde A representa o
cátion e X representa o ânion. Existem várias
estruturas cristalinas diferentes para os
compostos AX; normalmente, cada uma delas é
denominada em referência a um material comum
que assume aquela estrutura em particular.
Estruturas cristalinas
Cloreto de Sódio (NaCl):
• Uma célula unitária para essa estrutura cristalina
é gerada a partir de um arranjo CFC para os
ânions com o cátion localizado no centro do
cubo e um cátion em cada uma das 12 arestas do
cubo.
• Uma estrutura cristalina equivalente resulta de
um arranjo no qual os cátions estão localizados
nos centros das faces.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Dessa forma, a estrutura cristalina do cloreto de
sódio pode ser considerada como duas redes CFC
que se interpenetram – uma compsota pelos
cátions e outra pelos ânions.
• Alguns dos cerâmicos que tem essas estrutura são
MgO, NaCl, MnS, LiF e FeO.
Estruturas cristalinas
Estrutura do cloreto de césio (CsCl):
• Os ânions estão localizados em cada um dos
vértices de um cubo, enquanto o centro do cubo
contém um único cátion. O intercâmbio dos
ânions pelos cátions e vice-versa produz a mesma
estrutura cristalina.
• Essa não é uma estrutura cristalina CCC, uma
vez que estão envolvidos íons de dois tipos
diferentes.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
Estrutura da Blenda de Zinco (ZnS):
• Também chamada de esfalerita ou sulfeto de
zinco. Nessa estrutura, todos os vértices e todas
as posições nas faces da célula cúbica estão
ocupados por íons de S, enquanto os íons de Zn
preenchem posições tetraédricas no interior.
• Uma estrutura equivalente resultará caso as
posições dos íons forem invertidas.
Estruturas cristalinas
• Na maioria das vezes a ligação atômica nos
compostos que exibem essa estrutura cristalina é
altamente covalente, estando incluídos entre
esses compostos o ZnS, o ZnTe e o SiC.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas do tipo 𝑨𝒎 𝑿𝒑 :
• Se as cargas dos cátions e dos ânions não
forem as mesmas, poderá existir um composto
desse tipo (como a fluorita - 𝐶𝑎𝐹2 ).
• A fórmula química mostra que existe apenas
metade dos íons 𝐶𝑎2+ em relação ao número de
íons 𝐹 − .
• Uma célula unitária consiste em oito cubos.
Outros compostos com essa estrutura incluem
𝑍𝑟𝑂2 , 𝑈𝑂2 , etc.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas do tipo 𝑨𝒎 𝑩𝒏 𝑿𝒑 -
Perovskita:
• Também é possível para os compostos cerâmicos
possuir mais de um tipo de cátion; no caso de
dois tipos de cátions, representados por A e B,
suas fórmulas químicas podem ser designadas
como 𝐴𝑚 𝐵𝑛 𝑋𝑝 .
• O titanato de bário, 𝐵𝑎𝑇𝑖𝑂3 , que possui tanto
cátions 𝐵𝑎2+ quanto 𝑇𝑖 4+ , enquadra-se nessa
classificação.
Estruturas cristalinas
• Algumas perovskitas, como é o caso citado
anteriormente, são conhecidas por ter
propriedades eletromecânicas interessantes.
• Acima de 120°C, a estrutura cristalina do
𝑩𝒂𝑻𝒊𝑶𝟑 é cúbica; os íons 𝐵𝑎2+ estão localizados
em todos os oito vértices do cubo, enquanto um
único íon 𝑇𝑖 4+ está no centro do cubo, com os íons
𝑂2− localizados no centro de cada uma das seis
faces.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas a partir de ânions com
arranjo compacto:
• Diversas estruturas cerâmicas, assim como células
unitárias, podem ser consideradas em termos
de planos compactos de íons. Ordinariamente,
os planos compactos são compostos pelos
ânions, que são maiores. Conforme esses planos
são empilhados uns sobre os outros, surgem
sítios intersticiais entre eles, onde os cátions
podem ser alojar.
Estruturas cristalinas
• Existem dois tipos de sítios intersticiais:
1. Posição tetratédrica: quando 4 átomos (3 em
um plano e 1 no plano adjacente) circundam o
sítio. O nome da posição é dado porque linhas
retas tracejadas a partir dos centros das
esferas formam um tetraedro. Nc = 4.
2. Posição octaédrica: envolve 6 esferas de íons,
3 em cada um de 2 planos. Nc = 6.
Estruturas cristalinas
• Assim, a cada uma das esferas de ânions, haverá
um posição tetraédrica e duas posições
octaédricas.
Estruturas cristalinas
• As estruturas desse tipo dependem de 2 fatores:
1. Do empilhamento das camadas compactas dos
ânions.
2. Da maneira na qual os sítios intersticiais são
preenchidos com os cátions.

OBS: As propriedades dos materiais podem mudar


de acordo com o preenchimento das posições
tetraédricas ou octaédricas.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Cálculo da massa específica teórica para
cerâmicas:
𝑛′(σ 𝐴𝑐 + σ 𝐴𝐴 )
𝜌=
𝑉𝐶 𝑁𝐴

• 𝑛′: número de fórmulas unitárias em cada célula unitária. Devemos indicar


todos os íons incluídos na fórmula química. Por exemplo: 𝐵𝑎𝑇𝑖𝑂3 tem 𝑛′ = 5.
• σ 𝐴𝑐 : soma dos pesos atômicos de todos os cátions na fórmula unitária.
• σ 𝐴𝐴 : soma dos pesos atômicos de todos os ânions na fórmula unitária.
• 𝑉𝐶 : volume da célula unitária.
• 𝑁𝐴 : número de Avogadro.
Estruturas cristalinas
Cerâmicas à base de silicatos:
• Os silicatos são materiais compostos por silício e
oxigênio, os dois elementos mais abundantes na
crostra terrestre.
• Em vez de caracterizar as estruturas cristalinas
desses materiais em termos de células unitárias, é
mais conveniente usar vários arranjos de um
tetraedro de 𝐒𝒊𝑶𝟒−
𝟒 .
Estruturas cristalinas
Cada átomo de silício está ligado a quatro
átomos de oxigênio, localizados nos vértices do
tetraedro; o átomo de silício está posicionado no
centro do tetraedro. Uma vez que ela é a unidade
básica dos silicatos, ela é tratada normalmente
como uma entidade carregada negativamente.
Estruturas cristalinas
• Frequentemente os silicatos não são
considerados iônicos, pois existe uma natureza
covalente significativa nas ligações interatômicas
de Si-O, que são direcionais e relativamente fortes.
• Independentemente da natureza da ligação Si-O,
existe uma carga -4 associada a cada tetraedro
de 𝑺𝒊𝑶𝟒−𝟒 , uma vez que cada um dos quatro
átomos de oxigênio requer um elétron adicional
para atingir uma estrutura estável.
Estruturas cristalinas
• Várias estruturas podem ser formadas a partir
das diferentes maneiras com as quais as unidades
de S𝑖𝑂44− podem ser combinadas em arranjos
unidimensionais, bidimensionais ou
tridimensionais.
Estruturas cristalinas
Sílica (𝑺𝒊𝑶𝟐 ):
• Trata-se do silicato mais simples.
Estruturalmente, esse material forma uma rede
tridimensional que é gerada quando átomos de
oxigênio localizados nos vértices de cada
tetraedro são compartilhados por tetraedros
adjacentes.
• Dessa forma, o material é eletricamente neutro
e todos os átomos são eletronicamente estáveis.
Estruturas cristalinas
• Sob essas circunstâncias, a razão entre o número
de átomos de Si e o número de átomos de O é
de 1:2, como indicado pela fórmula química.
• Se esses tetraedros forem arranjados de maneira
regular e ordenada, será formada uma estrutura
cristalina. Existem três formas cristalinas
polimórficas para a sílica: quartzo, cristobalita e
tridimita.
Estruturas cristalinas
Vidros à base de sílica:
• A sílica também pode existir como um sólido ou
vidro não-cristalino com elevado grau de
aleatoriedade atômica, que é característico dos
líquidos; tal material é chamado de sílica fundida
ou sílica vítrea.
• Como ocorre com sílica cristalina, o tetraedro de
𝑺𝒊𝑶𝟒−
𝟒 é a unidade básica; além dessa unidade,
existe um grau considerável de desordem.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Outros óxidos também podem formar estruturas
vítreas; esses materiais, assim como o 𝑆𝑖𝑂2 são
denominados formadores de rede.
• Os vidros inorgânicos comuns, usados como
recipientes, janelas, entre outros, são vidros à
base de sílica aos quais foram adicionados outros
óxidos, como CaO. Esses óxidos não formam
redes poliédricas, em vez disso, são cátions
incorporados no interior da rede de 𝑺𝒊𝑶𝟒− 𝟒 e a
modificam; são os modificadores de rede.
Estruturas cristalinas
• Outros óxidos, como o T𝑖𝑂2 , ainda que não sejam
formadores de rede, substituem o silício e
tornam-se parte da rede, estabilizando-a; são os
intermediários.
• Do ponto de vista prático, a adição desses
modificadores e intermediários reduz o ponto
de fusão e a viscosidade do vidro, tornando
mais fácil a as conformação em temperaturas mais
baixas.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
Os silicatos:
• Para os vários minerais à base de silicato, um dois
ou três dos átomos de oxigênio nos vértices dos
tetraedros de 𝑺𝒊𝑶𝟒− 𝟒 são compartilhados com
outros tetraedros para formar algumas
estruturas bastante complexas.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Os cátions, tais como 𝐶𝑎2+ , 𝑀𝑔2+ e 𝐴𝑙 3+ servem a
dois propósitos:
1. Eles compensam as cargas negativas das
unidades de 𝑺𝒊𝑶𝟒− 𝟒 proporcionando a
neutralidade de carga.
2. Esses cátions ligam ionicamente uns aos
outros os tetraedros de S𝑖𝑂44− .
Estruturas cristalinas
Silicatos simples:
• Aqueles estruturalmente mais simples envolvem
tetraedros isolados. Por exemplo, a fosterita
(𝑀𝑔2 𝑆𝑖𝑂4 ) apresenta o equivalente a dois íons
𝑴𝒈𝟐+ associados a cada tetraedro, de tal modo
que cada íon 𝑴𝒈𝟐+ tem seis átomos de
oxigênio como vizinhos mais próximos.
Estruturas cristalinas
Silicatos em camadas:
• Uma estrutura bidimensional em lâminas ou
camadas também pode ser produzida pelo
compartilhamento de três íons oxigênio em
cada um dos tetraedros; para essa estrutura, a
fórmula unitária que se repete pode ser
representada por (𝑺𝒊𝟐 𝑶𝟓 )𝟐− . A carga negativa
resultante está associada aos átomos de oxigênio
não ligados, que se projetam para fora do plano da
tela.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• A eletroneutralidade é estabelecida
normalmente por uma segunda estrutura
laminar plana com excesso de cátions e que se
liga a esses átomos de oxigênio não ligados da
lâmina de 𝑆𝑖2 𝑂5 .
• Tais materiais são chamados de silicatos em
lâminas ou camadas, e sua estrutura básica é
característica das argilas e de outros minerais.
OBS: As estruturas de alguns silicatos estão entre as
mais complexas de todos os materiais inorgânicos.
Estruturas cristalinas

Essa é caolinita, um dos minerais argilosos


mais comuns. Sua estrutura é laminar de
silicatos relativamente simples com duas
camadas. A figura está alargada verticalmente
para melhorar a visualização e mostra apenas
uma lâmina da estrutura. Vale destacar que
enquanto as ligações dentro dessa lâmina de
duas camadas são fortes e intermediárias
entre iônica e covalente, as lâminas
adjacentes estão apenas fracamente ligadas
umas às outras por ligações de Van der Waals.
Estruturas cristalinas
• Carbono: o carbono é um elemento que existe em
duas formas alotrópicas – diamante e grafita –
assim como no estado amorfo. O grupo de
materiais à base de carbono não se enquadra, na
realidade, em qualquer um dos esquemas
tradicionais para metais, cerâmicos e
polímeros. Porém, cabe a discussão do carbono
pois a grafita e o diamante são frequentemente
classificados como cerâmicos.
Estruturas cristalinas
• Diamante: a temperatura ambiente e sob pressão
atmosférica, o diamante é um alótropo
metaestável do carbono. Sua estrutura cristalina
é uma variante da estrutura da blenda de zinco, na
qual os átomos de C ocupam todas as posições.
• Cada átomo de C se liga tetraedricamente a
quatro outros átomos de C; essas ligações
covalentes são extremamente fortes.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Grafita: é um alótropo estável à temperatura e
pressão ambientes. Na estrutura da grafita, os
átomos de carbono estão localizados nos
vértices dos hexágonos regulares que se
interconectam e que ficam em planos
paralelos (de base).
• Dentro desses planos (camadas ou lâminas),
orbitais híbridos ligam cada átomo de C a três
outros átomos de C adjacentes e coplanares.
• OBS: uma única camada dessa grafita com ligação
nos orbitais híbridos é denominada grafeno.
Estruturas cristalinas

Adicionalmente, as ligações entre


camadas estão direcionadas
perpendicularmente aos planos e
são do fraco tipo de Van der
Waals.
Estruturas cristalinas
Imperfeições nas cerâmicas:
Defeitos pontuais atômicos:
• Como ocorre nos metais, tanto lacunas quanto
intersticiais podem ocorrer; entretanto, uma vez
que os materiais cerâmicos contêm íons de pelo
menos dois tipos, pode haver defeitos para cada
espécie de íon.
Estruturas cristalinas
• Contudo, é muito pouco provável que existam
concentrações apreciáveis de defeitos intersticiais
no ânion. O ânion é relativamente grande, e
para se ajustar no interior de uma pequena
posição intersticial, deformações substanciais
devem ser itnroduzidas nos íons vizinhos.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• A expressão estrutura de defeitos é usada com
frequência para designar os tipos e
concentrações de defeitos atômicos nas
cerâmicas. Uma vez que os átomos existem como
íons carregados, quando as estruturas dos
defeitos são consideradas, devem ser mantidas
as condições de eletroneutralidade.
Estruturas cristalinas
• Como consequência, os defeitos na cerâmica não
ocorrem isoladamente. Um desses tipos de
defeito envolve um par composto por uma lacuna
de cátions e um cátion intersticial. Esse tipo de
defeito é chamado de defeito Frenkel. Ele pode
ser considerado como sendo formado por um
cátion que deixa sua posição normal e se move
para um sítio intersticial, de maneira que não
ocorre alteração global na carga.
Estruturas cristalinas
• Outro tipo de defeito encontrado em materiais do
tipo AX é um par composto por uma lacuna de
cátion e uma lacuna de ânion, conhecido como
defeito Schottky. Ele pode ser considerado como
sendo criado pela remoção de um cátion e de
um ânion no interior do cristal, seguido pela
colocação de ambos os íons em uma superfície
externa, de modo que a eletroneutralidade se
mantenha.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• A razão entre o número de cátion e de ânions
não é alterada pela formação de um defeito
Frenkel ou um defeito Schottky. Se nenhum
outro tipo de defeito estiver presente, o material
será dito estequiométrico.
• A estequiometria pode ser definida como o
estado para os compostos iônicos em que existe a
razão exata entre cátions e ânions prevista pela
fórmula química.
Estruturas cristalinas
• A falta de estequiometria pode ocorrer para
alguns materiais cerâmicos nos quais há dois
estados de valência para um dos tipos de íon.
Exemplo: FeO (Wustita)
• Na Wustita o Fe pode estar presente com carga
2+ ou 3+; a quantidade de cada um desses tipos
de íons depende da temperatura e pressão do
oxigênio no ambiente.
Estruturas cristalinas
• A formação de um íon 𝑭𝒆𝟑+ perturba a
eletroneutralidade do cristal pela introdução da
carga 1+ em excesso, que deverá ser
compensada por algum tipo de defeito.
• Isso pode ser conseguido pela formação de uma
lacuna de 𝑭𝒆𝟐+ , ou pela remoção de duas
cargas positivas, para cada dois íons de 𝐹𝑒 3+
formados.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Dessa maneira, o cristal não é mais
estequiométrico, pois existe um íon O a mais
que os íons Fe; entretanto, o cristal permanece
eletricamente neutro.
• Muitas vezes podemos encontrar a fórmula
química da wustita escrita como 𝑭𝒆𝟏−𝒙 𝑶, onde x é
uma fração pequena e variável, substancialmente
menor que a unidade. Essa nomenclatura
evidencia a condição de não estequimetria
com uma deficiência de Fe.
Estruturas cristalinas
• A quantidade em equilíbrio tanto dos defeitos
Frenkel quanto dos defeitos Schottky aumenta
com a temperatura de maneira semelhante ao
número de lacunas dos metais. Para os defeitos
Frenkel, a quantidade de pares de defeitos lacuna
de cátion/cátion intersticial (𝑁𝑓𝑟 ) depende da
temperatura; de modo similar, para os defeitos
Schottky em um composto do tipo AX, o número
de defeitos em equilíbrio (𝑁𝑠 ) também é uma
função da temperatura.
Estruturas cristalinas
𝑄𝑓𝑟
𝑁𝑓𝑟 = 𝑁. 𝑒𝑥𝑝 −
2𝑘𝑇
𝑄𝑠
𝑁𝑠 = 𝑁. 𝑒𝑥𝑝 −
2𝑘𝑇

• N: n° total de sítios da rede.


• k: constante de Boltzmann.
• T: temperatura absoluta.
• 𝑄𝑓𝑟 : energia necessária para formação de cada defeito Frenkel.
• 𝑄𝑠 : energia de formação de um defeito Schottky.
Estruturas cristalinas
Impurezas nas cerâmicas:
• Os átomos de impureza podem formar soluções
sólidas intersticiais ou substitucionais nos
materiais cerâmicos.
• Uma impureza substitucional substituirá o íon
ao qual ela mais se assemelha no aspecto
elétrico.
Estruturas cristalinas
Estruturas cristalinas
• Para alcançar qualquer solubilidade sólida
apreciável dos átomos de impureza
substitucionais, o tamanho e a carga iônica da
impureza devem ser muito próximos daqueles
de um dos íons hospedeiros.
Estruturas cristalinas
• Para um íon de impureza com carga diferente
daquela do íon hospedeiro que ele está
substituindo, o cristal deve compensar a
diferença de carga para manter a
eletroneutralidade. Uma maneira pela qual isso
pode ocorrer é através da formação de lacunas ou
intersticiais.
Estruturas cristalinas
Difusão em materiais iônicos:
• Em materiais iônicos o fenômeno da difusão é
mais complicado do que para metais, uma vez
que é necessário considerar o movimento de
difusão de dois tipos de íons com cargas
opostas. A difusão nesses materiais ocorre
geralmente por meio de um mecanismo por
lacunas.
Estruturas cristalinas
• Uma transferência de carga elétrica está
associada ao movimento de difusão de um
único íon. Com o objetivo de manter uma
neutralidade local das cargas na vizinhança desse
íon em movimento, é necessário que outra
espécie com uma carga igual e oposta
acompanhe o movimento de difusão do íon.
Estruturas cristalinas
• Possíveis espécies carregadas incluem outra
lacuna, um átomo de impureza ou um portador
eletrônico, isto é, um elétron livre ou buraco. Com
consequência, a taxa de difusão desses pares
eletricamente carregados é limitada pela taxa
de difusão da espécie que se move mais
lentamente.
Diagramas de fases
• Diagramas de fases para um grande número de
sistemas cerâmicos foram determinados
experimentalmente.
• Para os diagramas de fases binários ou de dois
componentes, ocorre, com frequência, que os dois
componentes são compostos que
compartilham um elemento em comum,
geralmente o oxigênio.
Diagramas de fases
A solução sólida de 𝑨𝒍𝟐 𝑶𝟑 -𝑪𝒓𝟐 𝑶𝟑 é do
tipo substitucional em que os íons
𝐶𝑟 3+ substituem os íons 𝐴𝑙 3+ e vice-
versa. Nessa solução os íons tem
mesma carga e raios semelhantes;
adicionalmente, ambos compostos
possuem a mesma estrutura
cristalina.
Diagramas de fases No sistema óxido de Mg-𝑨𝒍𝟐 𝑶𝟑 , existe
uma fase intermediária (composto
chamado espinélio - 𝑀𝑔𝐴𝑙2 𝑂4 ). Existe
uma faixa de composições na qual o
espinélio é um composto estável. Nota-
se, também, que existe uma
solubilidade limitada do 𝑨𝒍𝟐 𝑶𝟑 no
MgO abaixo de aproximadamente
1400°C, o que se deve principalmente
pela diferença nas cargas e raios
atômicos entre os íons 𝑀𝑔2+ e 𝐴𝑙 3+ . Do
mesmo modo, o MgO é virtualmente
insolúvel no 𝑨𝒍𝟐 𝑶𝟑 . Também podem
ser encontrados eutéticos no campo de
fases.
Outro sistema binário importante é
aquele entre óxido de Zr e óxido de Ca.
É importante observar que um eutético
e duas reações eutetoides são
encontradas nesse sistema. Percebe-se,
também, que existem fases de 𝒁𝒓𝑶𝟐
com três estruturas cristalinas
diferentes - tetragonal, monoclínica e
cúbica. Em algumas transformações
de fase pode ser necessária a
utilização de estabilizantes, para que
a variação do volume na transformação
não cause trincas no produto final.
Diagramas de fases
Comercialmente, o sistema sílica-
alumina é importante, uma vez que os
principais constituintes de muitos
refratários são esses dois materiais.
A sílica e a alumina não são
mutuamente solúveis uma na outra, o
que fica evidenciado pela ausência de
soluções sólidas terminais em ambas
extremidades dos diagramas de
fases.
Propriedades Mecânicas
• Ao longo da história, os materiais cerâmicos
ficaram limitados em termos de sua
aplicabilidade em razão de sua natureza frágil.
• Sua principal desvantagem tem sido uma
disposição à fratura catastrófica de maneira
frágil com pouca absorção de energia.
Propriedades Mecânicas
Fratura frágil em cerâmicas:
• O processo de fratura frágil consiste na formação
e na propagação de trincas através da seção
transversal de um material, em uma direção
perpendicular à da carga aplicada. O crescimento
da trinca nas cerâmicas cristalinas pode ser
transgranular ou intergranular.
Propriedades Mecânicas
• Os limites de resistência à fratura medidos para
a maioria dos materiais cerâmicos são
substancialmente menores que aqueles
estimados teoricamente a partir de forças de
ligação interatômicas. Isso pode ser explicado
devido a existência de pequenos defeitos muito
pequenos e onipresentes no material, que
servem como concentradores de tensão.
Propriedades Mecânicas
• Para cerâmicas monofásicas, o grau de
amplificação da tensão depende do
comprimento da trinca, sendo maior para os
defeitos mais longos e afilados.
• Exemplos de concentradores de tensão:
• Trincas superficiais ou internas.
• Poros internos.
• Inclusões.
Propriedades Mecânicas
• Até mesmo umidade e contaminantes
presentes na atmosfera podem introduzir
trincas superficiais em fibras de vidro recém-
estiradas, afetando negativamente a resistência.
• A concentração de tensão na extremidade de
um defeito pode causar a formação de uma
trinca, a qual pode propagar-se até uma eventual
falha.
Propriedades Mecânicas
• A medida da capacidade de um material
cerâmico em resistir à fratura quando uma
trinca está presente é especificada em termos
de tenacidade à fratura.
• Sob algumas circunstâncias (ambientais), a
fratura dos materiais cerâmicos ocorrerá pela
propagação lenta de trincas quando as tensões
forem de natureza estática. Trata-se do efeito
combinado de tensão e corrosão. Esse
fenômenos é chamado de fadiga estática ou
fratura retardada.
Propriedades Mecânicas

A variação nos valores de


resistência a fratura para o
mesmo material ocorre devido a
heterogeneidades de defeitos.
Amostras com mais defeitos
possuem menor resistência a
fratura e vice-versa. Amostras
com maior volume são mais
susceptíveis a defeitos e,
portanto, a resistência a fratura
tende a ser menor.
Propriedades Mecânicas
• Para tensões de compressão, não há nenhuma
amplificação de tensão associada a qualquer
defeito existente. Por essa razão, muitas das
cerâmicas frágeis são usadas em aplicações
sob carga compressiva.
• Devido a dispersão dos dados de resistência a
fratura para materiais cerâmicos frágeis,
valores médios e fatores de segurança não
costumam ser utilizados.
Propriedades Mecânicas
Comportamento tensão-deformação:
• O ensaio de tração não é usado para avaliar o
comportamento tensão-deformação das
cerâmicas por três motivos:
• É difícil preparar e testar amostras com geometria
necessária.
• É difícil fixar materiais frágeis sem fraturá-los.
• As cerâmicas falham com deformação da ordem de
0,1%, o que exige que os corpos de provas de
tração estejam perfeitamente alinhados para evitar
a presença de tensões de flexão.
Propriedades Mecânicas
• Desta maneira, na maioria das vezes é mais
adequadamente empregado um ensaio de
flexão transversal, em que um corpo de prova na
forma de uma barra com seção transversal
circular ou retangular é flexionado até a fratura,
utilizando uma técnica de aplicação de cargas de
três ou a quatro pontos.
Propriedades Mecânicas
• No ponto de aplicação de carga, a superfície
superior do corpo de prova é colocada em um
estado de compressão, enquanto a superfície
interior está sob tração.
• A tensão é calculada a partir da espessura do
corpo de prova, do momento fletor e do
momento de inércia da seção transversal.
Propriedades Mecânicas
• A tensão no momento da fratura quando se
emprega esse ensaio de flexão é conhecida como
resistência a flexão, módulo de ruptura,
resistência à fratura ou resistência ao
dobramento, e é um importante parâmetro
mecânico para as cerâmicas frágeis.
Propriedades Mecânicas
• O valor de tensão limite de resistência a flexão
depende da dimensão do corpo de prova, uma
vez que corpos de prova mais volumosos
estarão mais propensos a existência de
defeitos.
Propriedades Mecânicas
Propriedades Mecânicas
Mecanismos de deformação plástica:
• Em estruturas cristalinas, a deformação plástica
ocorre como nos metais, através do movimento
das discordâncias. A dureza e a fragilidade
desses materiais se dá pela baixa mobilidade de
discordâncias. Para o deslizamento em algumas
direções, íons com a mesma carga estão próximos
uns dos outros; devido a repulsão eletrostática,
essa modalidade de deslizamento é muito
restrita.
Propriedades Mecânicas
• Em cerâmicas não-cristalinas, a deformação
plástica ocorre através de escoamento viscoso,
da mesma maneira pela qual líquidos se
deformam; a taxa de deformação é
proporcional a tensão aplicada. Em resposta à
aplicação de uma tensão cisalhante, os átomos
ou íons deslizam uns sobre os outros pela
quebra e reconstrução de ligações interatômicas.
No entanto, não existe maneira ou direção
predeterminada para que isso ocorra, como
acontece para as discordâncias.
Propriedades Mecânicas
Influência da porosidade:
• É comum que haja porosidade residual em
produtos cerâmicos fabricados através de
metalurgia do pó. A porosidade influencia
negativamente as propriedades elásticas e a
resistência mecânica.
Propriedades Mecânicas
Propriedades Mecânicas
Propriedades Mecânicas
A porosidade tem efeito negativo sobre a
resistência à flexão por duas razões:
1. Os poros reduzem a área da seção transversal
através da qual uma carga é aplicada
2. Os poros também atuam como concentradores
de tensão.
Propriedades Mecânicas
Dureza:
• Os materiais cerâmicos são altamente
suscetíveis ao trincamento quando
penetradores são forçados contra a sua
superfície, o que torna imprecisa a medição de
dureza.
• Os penetradores Rockwell e Brinell não são
usados pois causam trincamento severo na
cerâmica. Em vez disso, a dureza geralmente é
calculada usando penetradores Vickers ou
Knoop.
Propriedades Mecânicas
FIM!

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