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Ecletismo Teórico em Psicologia

Harley Pacheco de Sousa


São Paulo

Brasil
2012

Em diálogos com psicólogos e alunos do curso de psicologia pude perceber


uma forte inclinação para o ecletismo teórico e técnico. Em alguns momentos
esse cenário pode parecer favorável ao desenvolvimento da psicologia, mas de
fato não é. Essa é uma pratica perigosa, infeliz e equivocada que deve ser
evitada a todo custo.

Parece-me que pressões conceituais, metodológicas e praticas além da


ausência de conhecimento e domínio teórico estão forçando os profissionais a
enfrentarem a árdua tarefa de lidar e explicar fenômenos psicológicos de modo
incompatível com suas abordagens.

Eu mesmo certa vez tive uma divergência teórica com uma professora acerca
deste tema na qual ela explicava que os alunos poderiam nas praticas usar
técnicas de diferentes linhas, mas a essa não é uma atividade assertiva porque
as visões de mundo, concepções de homem e as técnicas são muitas vezes
incompatíveis no cerne das abordagens.

A dificuldade em encontrar dentro de sua escola respostas para lidar com


esses fenômenos psicológicos conotam falta de conhecimento e aceitação de
que sua escola não é minimamente suficiente para manejar boa parte do
material clinico demandado pelos clientes.

A escola escolhida pelo profissional para atuação deve ser capaz de responder
as demandas que surgir no ambiente clinico a qualquer momento, se isso não
ocorre é pura e simplesmente por dois motivos, ou a abordagem é falha e
inconsistente ou o profissional não a domina plenamente.

Basta observar o que é ensinado nos cursos de Psicologia para facilmente


perceber que o aluno não é preparado para dominar sua abordagem no
momento da análise.

Diversas vezes ouvi relatos de estagiários que dizem se sentir inseguros,


ansiosos ou confusos na pratica clinica supervisionada, restando ao supervisor
tentar adivinhar o que se passa com o cliente.

O ecletismo teórico representa um comportamento que afasta o terapeuta do


seu papel mais genuíno que é trazer para a situação clínica a proposta
conceitual de sua abordagem.
Segundo Guilhard (1982) Uma proposta teórica só pode ser criticada e
desenvolvida a partir de seu próprio referencial, isto é, uma abordagem só
pode crescer e se rever com o engajamento, por parte de seus adeptos, na
pesquisa e na reflexão crítica sobre seus conceitos.

Segundo Branch (1987) o ecletismo (teórico) pode parecer sedutor, parecer


mesmo um exemplo de ‘mente aberta’, mas é inócuo. O desenvolvimento e a
compreensão de uma posição teórica é uma tarefa árdua, mas é exatamente
esse esforço que leva ao avanço científico (e, portanto, tecnológico). Ter uma
visão unificada promove consistência por parte do terapeuta e permite teste e
refinamento (ou até mesmo abandono) de sua visão com a progressiva
experiência. Assumir “uma posição teórica faz com que o terapeuta se torne
um participante pleno da empreitada a que chamamos ciência” (Branch,
1987,pp. 79 e 80).

Podemos concluir que a única possibilidade para atuação profissional que se


escuse a eminente necessidade de ecletismo teórico é a dedicação e empenho
por parte do profissional, além de investigação cientifica da demanda proposta
pelo cliente.

Deve estar claro que o ecletismo, além de ser uma pratica perigosa é também
equivocada e infeliz. O ecletismo teórico nada mais é que assinar o atestado
profissional de incompetência e a certidão de óbito da escola psicologia que
serve como referencial teórico.

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