Aula 1 - Processo e Procedimento

FACULDADE DA AMAZÔNIA - CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
DISCIPLINA: PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO E SENTENÇA CÍVEL
AULA 1 - PROCESSO E PROCEDIMENTO
PROCESSO X PROCEDIMENTO: A MODERNA VISÃO CIENTÍFICA
Primeiramente, convém lembrar que “processo” não se confunde com “procedimento”.
Processo é palavra polissêmica, que tem significado científico-filosófico e orgânico.
Atualmente, expressando a noção científico- filosófica de processo, a doutrina de vanguarda costuma

enxergá-lo como relação dinâmica entre as partes conflitantes e o Estado-Juiz, claro, não se esquecendo que ainda
há uma parcela dos teóricos que o aponta somente como instrumento de atuação da jurisdição estatal, devido pelo
Estado à sociedade como verdadeiro direito fundamental inafastável, escopo da consagração dos direitos
fundamentais dos indivíduos, o que também não deixa de ser um aspecto do processo.
Por conseguinte, de maneira orgânica ou material, processo seria compreendido como procedimento,
ou seja, uma sequência de atos, uma marcha (daí o nome, procedimento, procedere em latim) concatenada de atos
processuais presididos pelo magistrado em cooperação com as partes envolvidas, direcionado a um fim precípuo, a
prestação da tutela jurisdicional.
Observe-se que, atualmente, o procedimento que antes era compreendido como principal foco da
ciência processual civil deixou de ser visto como um fim em si mesmo, passando, doravante, a ser compreendido
como algo necessário à realização dialética da relação jurídica processual, assim como, necessário à prestação
tutelar aguardada pelas partes em relação ao Estado Democrático.
Em outras palavras, os atos a serem realizados não são o mais importante. A finalidade (defesa de
direitos e resolução de conflitos) sim!
Outrossim, sua importância reside na adequação, flexibilidade, possibilidade jurídica, praticidade e

eficácia, conducentes à real finalidade pretendida por todos os sujeitos envolvidos na relação processual: a
prestação da tutela jurisdicional pretendida em relação a determinado direito.
Assim, o procedimento deve sempre encontrar-se adequado às necessidades sociais, fundamentais,

humanas, envolvidas no processo, de modo a ser um verdadeiro instrumento que confira a necessária eficácia à
atividade jurisdicional a ser envolvida pelo Estado em cooperação com as partes.
Desta feita, o mesmo deve ser compreendido como algo secundário, realizador, em verdade, da noção
formal de devido processo legal, mas, secundário, diante da premência da defesa de direitos objetivada no processo.
Então, falar em procedimento é falar em atos processuais práticos e concatenados, mas que não são
realizados simplesmente por estarem codificados ou formalmente previstos. É falar em práticas necessárias à
obtensão de provas, realização do contraditório, de formulação de pretensões e manifestações, de estabilização
relacional, e, sobretudo, de obtensão da verdade escondida por detrás dos fatos, a fundamentar um provimento justo
por partes dos órgãos jurisdicionais estatais.
Prof. ROBERTO MAGNO REIS CONTATOS

NETTO (Bob Reis) * E-MAIL: Bob_reis_ufpa@yahoo.com.br.
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E assim todo e qualquer procedimento deve ser compreendido na atualidade.
DOS PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS CIVIS
Cada pretensão manifesta a necessidade de adoção de determinado procedimento.
Primeiramente, se o objetivo da parte é obter um provimento que reconheça determinado direito,

adotar-se-á, dentro da noção de processo de conhecimento, um procedimento cognitivo correlato ao direito
discutido. Daí falar-se em processo (procedimento) de conhecimento ou cognitivo, que, de acordo com o provimento
pretendido, terá partes comuns e partes diferenciadas.
Por exemplo, o procedimento seguido num processo de conhecimento de índole declaratória seguirá a
regra geral a ser estudada adiante, tal qual aquele seguido numa ação condenatória e numa ação constitutiva, sendo
que nesta última diversas providências práticas não codificadas, porém tipificadas (previstas pelo código) poderão
ser efetivamente tomadas em procedimento. O mesmo não se pode dizer do procedimento adotado em ações
mandamentais e executivas lato sensu que deterão peculiaridades gritantes em seu rito, embora este, num primeiro
momento, siga a regra geral inerente aos procedimentos em processos declaratórios, constitutivos e condenatórios.
Se a necessidade da parte gira em torno da obtenção de uma prestação prática diante de um direito já
consagrado numa decisão jurisdicional (título executivo judicial) ou num documento ao qual a lei, tipicamente, tenha
atribuído força probatória extremamente relevante da existência de uma relação e um crédito (uma obrigação
devida), certamente, será adotado o procedimento executivo, típico dos processos de execução, que admite
inúmeras variações em seu teor.
Tal assunto é estudado em disciplina apartada, denominada processo de execução.
Ademais, se a necessidade da parte reside, por outro lado, em torno da proteção de um bem ou direito
lesionado ou ameaçado de lesão, no curso de um processo de conhecimento ou execução, ou previamente àqueles,
certamente, será adotado um dos vários procedimentos de índole cautelar, inerentes ao processo cautelar. O
processo cautelar, no novo CPC, ganhou novos ares. Há que fale que o mesmo teria deixado de existir. Porém, de
uma leitura do instituto da tutela de evidência, observa-se que ainda é possível se propor uma ação com o único
intuito de se obter a defesa momentânea de um direito, que pode ser imediatamente rediscutido num processo mais
aprofundado (ou não).
Retornando ao processo de conhecimento, tem-se que a regra geral é que o mesmo se desenvolva
sobre regras gerais delineadas cuidadosamente pelo CPC, permitindo uma maior dilação probatória (produção de
provas), maior manifestação das partes e maior intervenção jurisdicional, sendo procedimento aplicável a qualquer
espécie de processo. Chama-se, por ser comum, a regra geral, de procedimento “comum” (no CPC passado, o
mesmo era chamado de “ordinário”.
Além dele, o código prevê outros procedimentos chamados especiais previstos para situações que,
embora caracterizem processos de conhecimento, importam em ritos, ou seja, procedimentos, absolutamente (ou
parcialmente) diversos daqueles previstos pelo CPC como regra geral, a exemplo do que ocorre na ação de
consignação em pagamento (Art. 539 em diante), na ação de exigir contas (Art. 550 em diante) e nas ações
possessórias (Art. 554 em diante, todos do CPC). Há procedimentos especiais, igualmente, externos ao CPC, como
o procedimento elencado aos Juizados Especiais Cíveis, nos termos da lei 9.099/95, do mandado de segurança
12.016/09, a lei da ação popular, de nº 4.717/65, a lei da ação civil pública, lei 7347/85, dentre várias outras.
Esses procedimentos, todos, trazem um conjunto de atos concatenados, uma marcha, um passo a
passo, que deve ser conhecimento pelos profissionais do direito.
DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO – CONSIDERAÇÕES GERAIS E FASE POSTULATÓRIA.
De Forma unânime na doutrina pátria, tem-se que o procedimento ordinário é aquele de incidência
prática mais comum, corriqueira, sendo utilizado na maioria dos processos instaurados, justamente, pelo maior
detalhamento de seu desenrolar.
Ele possibilita um maior contraditório (enfrentamento de teses contrárias), e, conforme preceitua a

atual tendência filosófica processual, uma maior cooperação entre as partes no fornecimento de subsídios para que o
magistrado profira a aguardada tutela jurisdicional que se denota o ápice da atividade processual.
Em razão disso, ele é considerado por Alexandre Freitas Câmara como “o mais relevante entre os
procedimentos do módulo processual de conhecimento, sendo possível chama-lo de mais comum dos
procedimentos, por ser o de maior utilização prática”.
Isso, sem se considerar que o mesmo é aplicável de forma subsidiária a todos os demais
procedimentos processuais civis, diante de eventuais lacunas ou dúvidas observadas em relação aos mesmos, salvo
especiais exceções assim compreendidas pela jurisprudência.
Além disso, é neste procedimento que se pode observar a ampla ocorrência dos fenômenos
processuais estudados em processo civil (intervenção de terceiros, reconvenção, etc.), assim como, a mais ampla
dilação probatória necessária à busca da verdade escondida por detrás dos fatos alegados pelas partes.
Assim sendo, compreender o procedimento ordinário é compreender a própria fenomenologia

procedimental do processo civil, ou seja, o mais amplo desenrolar dos fenômenos processuais cabíveis em nosso
ordenamento.
FASES DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO – AS FASES PROCESSUAIS
Doutrinariamente, é comum observa a divisão do “caminhar” do procedimento ordinário em diversas

fases. Embora tal divisão seja muito mais importante à didática do que à prática, atualmente, já que superado o
dogma da incomunicabilidade dos diversos ritos processuais e da estrita observância do procedimento sobre
qualquer outra necessidade das partes, ainda assim, seu estudo é deveras importante, haja vista a facilidade de
compreensão possibilitada ao desenvolvimento da relação jurídico processual.
Assim, o mesmo se inicia com a fase denominada postulatória, onde as partes envolvidas formulam
suas respectivas postulações, delineando os contornos da discussão a ser solucionada pelo poder judiciário.
Tecnicamente, esta se revelaria com a propositura da petição inicial até o momento da resposta do réu.

Logo em seguida, verificada a presença das condições da ação e pressupostos processuais, e,

sobretudo, diante da eventual arguição de questões preliminares e prejudiciais de mérito, será iniciada a fase
saneatória, onde caberá ao magistrado a verificação, e, eventualmente, o saneamento das matérias de ordem
pública necessárias ao correto desenvolvimento da relação processual. Tecnicamente, pode se iniciar com eventual
determinação de emenda à inicial ou determinação de manifestação à contestação, até o momento em que o órgão
jurisdicional profere o pertinente despacho saneador, fixando, desde logo, os ponto controvertidos na demanda em
debate.
Em seguida, fixados os pontos controvertidos, ou seja, os pontos que devem ser solucionados pelo
magistrado, em cooperação com as partes, para atingimento do convencimento necessário à exação da tutela
jurisdicional conclamada, inicia-se a fase probatória ou instrutória do procedimento ordinário, onde o procedimento
estará direcionado à obtenção de provas e exercício do contraditório em torno das mesmas, possibilitando a
formação da racional convicção do magistrado que, adiante, embasará o fundamento de sua decisão.
Por fim, com o encerramento da instrução e abertura de prazo para alegações finais pelas partes,
inicia-se a fase decisória, onde o magistrado, diante das provas colhidas e pronunciamentos das partes, formando
seu convencimento acerca dos fatos e questões inerentes à demandada, proferirá decisão solucionando-a com ou
sem julgamento de mérito (ressalva se faz, aliás, aos defensores da teoria da asserção, que afirmam que a esta
altura, só ocorreria a resolução da lide com análise de mérito).
Tal fase, entretanto, conforme assinalado anteriormente, pode ser adiantada, conforme prescrição
existente em nosso próprio, afastando a eventual ocorrência de uma fase probatória em todas as suas nuanças.
Esse é o fenômeno denominado Julgamento antecipado.
Como se vê, as fases são de relevância prática ao estudo procedimental do rito ordinário, não devendo
ser adotadas, adverte-se, como um rito a ser cega e absolutamente seguido, já que a dinâmica processual admite
uma mescla entre as fases, e, até mesmo, um sincretismo (redução de atos processuais) entre ritos diversos, como o
executório, por exemplo. No novo CPC, as partes podem até mesmo perfazer acordos a respeito do andamento da
relação processual, o que é extremamente relevante ao próprio desenvolvimento dessas fazes.
Mesmo assim, tais serão adotadas para efeito de estudo do procedimento ordinário, que então passa a
ser dissecado, sob o pálio didático das fases processuais acima mencionadas, nas próximas aulas.


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PROCESSO X PROCEDIMENTO: A MODERNA VISÃO CIENTÍFICA

Primeiramente, convém lembrar que “processo” não se confunde com “procedimento”.

Processo é palavra polissêmica, que tem significado científico-filosófico e orgânico.

Atualmente, expressando a noção científico- filosófica de processo, a doutrina de vanguarda costuma

Outrossim, sua importância reside na adequação, flexibilidade, possibilidade jurídica, praticidade e

Assim, o procedimento deve sempre encontrar-se adequado às necessidades sociais, fundamentais,

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E assim todo e qualquer procedimento deve ser compreendido na atualidade.

DOS PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS CIVIS

Cada pretensão manifesta a necessidade de adoção de determinado procedimento.

Primeiramente, se o objetivo da parte é obter um provimento que reconheça determinado direito,

Tal assunto é estudado em disciplina apartada, denominada processo de execução.

DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO – CONSIDERAÇÕES GERAIS E FASE POSTULATÓRIA.

Ele possibilita um maior contraditório (enfrentamento de teses contrárias), e, conforme preceitua a

Assim sendo, compreender o procedimento ordinário é compreender a própria fenomenologia

FASES DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO – AS FASES PROCESSUAIS

Doutrinariamente, é comum observa a divisão do “caminhar” do procedimento ordinário em diversas

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Logo em seguida, verificada a presença das condições da ação e pressupostos processuais, e,

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