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Quando duas peças cilíndricas são montadas por interferência, desenvolve-se na interface
uma certa pressão de contato P. Devido à simetria do problema, esta pressão é uniformemente
distribuída ao longo do perímetro de contato. Seja, então, um cilindro vazado cujo material
isotrópico possui módulo de elasticidade E, coeficiente de Poisson ν e está submetido a uma
pressão interna Pi e outra externa Pe.
dσr σr + σθ
(σr + dσr ). (r + dr). dθ − σr . r. dθ − σθ . dr. dθ = 0 → + =0 (10.1)
dr r
du 1
ϵr = = (σ − νσθ ) (10.2)
dr E r
u 1
ϵθ = = (σθ − νσr ) (10.3)
r E
10 - 1
onde u(r) é o deslocamento na direção radial. Resolvendo para σr e σθ tem-se:
E E du u
σr = 2
(ϵr + νϵθ ) = 2
( +ν ) (10.4)
1−ν 1 − ν dr r
E E u du
σθ = 2
(ϵθ + νϵr ) = 2
( +ν ) (10.5)
1−ν 1−ν r dr
d2 u 1 du u C2
+ − = 0 → u(r) = C1 r + (10.6)
dr 2 r dr r 2 r
com C1 e C2 sendo constantes arbitrárias. Utilizando a solução para u(r) nas equações (10.4) e
(10.5), as tensões σr e σθ são expressas como:
E 1−ν
σr = 2 [C1 (1 + ν) − C2 2 ] (10.7)
1−ν r
E 1−ν
σθ = 2 [C1 (1 + ν) + C2 2 ] (10.8)
1−ν r
e, portanto:
ri2 pi − re2 pe ri2 re2 (pi − pe ) 1
σr = − . 2 (10.9)
re2 − ri2 re2 − ri2 r
ri2 pi − re2 pe ri2 re2 (pi − pe ) 1
σθ = + . 2 (10.10)
re2 − ri2 re2 − ri2 r
p ri2
σr (r) = ( − 1) (10.11a)
1 − Q2i r 2
−p ri2
σθ (r) = (1 + ) (10.11b)
1 − Q2i r2
−p
σz = ν(σr + σθ ) = (10.11c)
1 − Q2i
10 - 2
b) cubo (pressão interna apenas):
p 2
R2i
σr (r) = (Q − ) (10.12a)
1 − Q2e e R2
p 2
R2i
σθ (r) = (Q + ) (10.12b)
1 − Q2e e R2
p Q2e
σz = ν(σr + σθ ) = (10.12c)
1 − Q2e
di Di
onde Q i = e Qe =
de De
Na ausência de tensões de cisalhamento, as tensões σr , σθ e σz correspondem às tensões
principais nas direções r, θ e z, respectivamente. Como critério de falha utiliza-se a tensão de von
Mises, cujos pontos de máximo ocorrem, para o eixo, em r = ri e, para o cubo, em R = Ri.
Os valores máximos da tensão de von Mises são calculados da seguinte maneira:
λ, χ
λ(Qi)
1,78 χ(Qe)
1,73 Q i, Q e
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Figura 10.3: variação das tensões σr, σθ e σz em função da pressão P na interface
com os afastamentos amin , amax , Amin e Amax obtidos através das tabelas de ajustes.
A interferência real Z é obtida quando as peças são montadas. Dependendo do método de
montagem, pode ocorrer uma certa perda de interferência sobretudo pela raspagem de uma peça
sobre a outra. Dessa forma, a interferência real é calculada como Z = I – ΔI, onde ΔI é a perda de
interferência devido à montagem. Portanto:
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A perda de interferência ΔI ocorre sobretudo devido à raspagem de uma peça sobre a outra
durante a montagem e depende principalmente das rugosidades das peças montadas e da
diferença entre as rigidezes dos materiais do cubo e do eixo. Assim, para a maioria das aplicações
com montagem prensada em velocidade controlada, tem-se:
onde Rae e Rai referem-se respectivamente às rugosidades médias da peça externa (cubo) e
interna (eixo). Tais valores podem ser obtidos através da ISO 1302 / NBR 6405 na tabela 10.3 ou,
alternativamente, pode-se seguir as recomendações de Schwaltz (1956), disponíveis na tabela
10.4.
valores convencionais
valores menos comuns
usinagem em acabamento
TIPO desbaste médio
fino finíssimo
SIMBOLOGIA
CONVENCIONAL
∇ ∇∇ ∇∇∇ ∇∇∇
CLASSE ISO N9 a N10 N7 a N8 N7 a N8 N1 a N6
torneamento 16 a 40 µm 6 a 16 µm 3 a 6 µm
fresamento 12 a 32 µm 8 a 15 µm 4 a 8 µm
furação 10 a 25 µm 6 a 10 µm 3 a 6 µm
retificação 16 a 40 µm 6 a 16 µm 3 a 6 µm 1 a 3 µm
brochamento 2 a 4 µm 0,5 a 1 µm
Utilizando as equações de Lamè, a pressão média em um ajuste por interferência pode ser
calculada através de:
Z
p= (10.20)
(K i + K e ). de
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onde os fatores elásticos Ki e Ke são calculados através de:
1 1 + Q2i 1 1 + Q2e
Ki = ( − νi ) e K e = ( + νe ) (10.21)
Ei 1 − Q2i Ee 1 − Q2e
Figura 10.5: variação dos coeficientes Ki e Ke para aço com E=210GPa e ν=0,30 e
ferro fundido maleável com E=100GPa e ν=0,25
Análises fotoelásticas (Gosh, Dattanguru e Rao, 1982) mostram que a distribuição real da
pressão de contato na interface eixo/cubo é um pouco diferente daquela idealizada pela equação
10.20 e é influenciada principalmente pela relação entre os módulos de elasticidade dos dois
materiais e pelo desenho do cubo e do eixo.
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Figura 10.7: Distribuição da pressão p(z) em diferentes cubos montados por interferência
Considerando agora um lote de peças, onde a interferência real Z pode variar entre os
limites [Zmin , Zmax], a pressão média irá variar entre os limites pmin e pmax :
Zmin Zmax
pmin = e pmax = (10.22)
(K i + K e ). de (K i + K e ). de
Uma vez determinada a distribuição de pressão entre o eixo e o cubo, é possível calcular
os esforços que podem ser transmitidos pela união. Para que não ocorra deslizamento entre as
peças, a força de atrito na interface eixo-cubo deve satisfazer:
L
Fat = πμde ∫ p(z)dz ≤ R (10.23)
0
p(z)
2T 2
Fat = πμde Lpmin ≥ √Fa2 + ( ) (10.24)
de
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O coeficiente de atrito μ estático entre as superfícies deve ser verificado com cuidado, pois
ele aumenta com o tempo. Niemann(1995) reporta que a força de atrito na equação 10.24 somente
é alcançada após 48 horas a contar da montagem, devido à relaxação do cubo e do eixo. Antes
disso ela é limitada a 70% do valor teórico. Constata-se na prática que o método de montagem,
seja a seco ou lubrificado, também modifica ligeiramente o coeficiente de atrito.
Tabela 10.5: Coeficiente de atrito μ para uniões por interferência, valores adaptados da norma
DIN 7190
Conforme dito anteriormente, os dois métodos mais comuns de montagem de uniões por
interferência são:
Para o caso de uniões obtidas por prensagem, a força mínima de montagem Fm pode ser obtida a
partir da equação:
onde k é um coeficiente de segurança, pmax é a pressão máxima de contato obtida pela equação
10.22 e μd é o coeficiente de atrito dinâmico. Na falta de dados experimentais Niemann (1956)
recomenda que se adote μd ≈ 0,5μ. O fator k, variando entre 1,5 e 2,5 é utilizado para levar em
conta eventuais variações no coeficiente de atrito e não-uniformidades na distribuição da pressão
de contato.
Para o cálculo da força de desmontagem, Fd, o coeficiente de atrito dinâmico é substituído pelo
estático e o fator 0,7 é substituído pela unidade:
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Montagem por dilatação térmica:
Nesse caso o ajuste pode ser feito por aquecimento do cubo, resfriamento do eixo ou uma
combinação de ambos, no caso da interferência entre as peças ser muito grande. O aquecimento
do cubo é sempre uma solução mais econômica, pois o resfriamento se faz com substâncias
perigosas tais como nitrogênio ou ar líquido, além de poder fragilizar o aço. Por outro lado,
temperaturas de aquecimento elevadas podem provocar alterações na microestrutura e
empenamento das peças, com consequente aumento das tensões residuais.
No caso de montagem por dilatação térmica, a temperatura de montagem Tm é calculada através
de:
Imax + Im
Tm = Tamb + (10.27)
α. de
onde Im é uma folga de montagem e α é o coeficiente de dilatação térmica. Adota-se aqui uma
folga radial Im = 5x10-4de a qual é adequada para muitas situações práticas.
Dilatações excessivas do cubo ou do eixo podem levar a tensões residuais e empenamentos.
Nesses casos, as tensões térmicas atuantes no cubo ou no eixo devem ser sempre verificadas.
Além disso, o coeficiente de dilatação térmica de alguns materiais pode variar com a temperatura.
Recomenda-se utilizar coeficientes de dilatação específicos para os materiais envolvidos na união.
Os coeficientes de dilatação térmica para alguns materiais de interesse estão listados na tabela
10.7 e as temperaturas típicas para alguns meios de imersão para aquecimento ou resfriamento
estão listados na tabela 10.6. No caso de aquecimento por óleo mineral, a temperatura do banho
pode ser controlada convenientemente através do uso de termostatos.
Quando o cubo e o eixo são fabricados a partir de materiais distintos e a união é solicitada
em temperaturas diferentes daquela usada na montagem, o comportamento da união deve ser
verificado considerando a variação da pressão Δp devida aos efeitos térmicos. Considerando
temperatura uniforme na união e comportamento linear tem-se:
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método temperatura
gelo seco (CO2) -720C
nitrogênio líquido -1900C
óleo mineral (max) +3560C
Tabela 10.6: Temperaturas típicas dos banhos de imersão
Tabela 10.7: Propriedades mecânicas médias dos materiais utilizados neste capítulo. Valores de
α para resfriamento foram adotados conforme a norma DIN 7901.
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IT 5 IT 6
dimensão nominal p5 r5 s5 t5 u5 v5 x5 p6 r6 s6 t6 u6 v6 x6
10 14 18 22 24 12 16 20 24 26
até 3
6 10 14 18 20 6 10 14 18 20
17 20 24 28 33 20 23 37 31 36
mais de 3 a 6
12 15 19 23 28 12 15 19 23 28
21 25 29 34 40 24 28 32 37 43
mais de 6 a 10
15 19 23 28 34 15 19 23 28 34
48 51
mais de 10 a 14
26 31 36 41 40 29 34 39 44 40
18 23 28 33 47 53 18 23 28 33 50 56
mais de 14 a 18
39 45 39 45
50 58 63 51 60 67
mais de 18 a 24
31 37 44 41 47 54 35 41 48 41 47 54
22 28 35 50 57 64 73 22 28 35 54 61 68 77
mais de 24 a 30
41 48 55 64 41 48 55 64
59 71 79 91 59 64 76 84 96
mais de 30 a 40
37 45 54 48 60 68 80 42 50 43 48 60 68 80
26 34 43 65 81 92 108 26 34 59 70 86 97 113
mais de 40 a 50
54 70 81 97 43 54 70 81 97
54 66 79 100 115 135 60 72 85 106 121 141
mais de 50 a 65
45 41 53 66 87 102 122 51 41 53 66 87 102 122
32 56 72 88 115 133 159 32 62 78 94 121 139 165
mais de 65 a 80
43 59 75 102 120 146 43 59 75 102 120 146
66 86 106 139 161 193 73 93 113 146 168 200
mais de 80 a 100
52 51 71 91 124 146 178 59 51 71 91 124 146 178
37 69 94 119 159 187 225 37 76 101 126 166 194 232
mais de 100 a 120
54 79 104 144 172 210 54 79 104 144 172 210
81 110 140 188 220 266 85 117 147 195 227 273
mais de 120 a 140
63 92 122 170 202 248 63 92 122 170 202 248
61 83 118 152 208 246 298 68 87 125 159 215 243 305
mais de 140 a 160
43 65 100 134 190 228 280 43 65 100 134 190 228 280
86 126 164 228 270 328 89 133 171 235 277 335
mais de 160 a 180
68 108 146 210 252 310 68 108 146 210 252 310
97 142 186 256 304 370 106 151 195 265 313 379
mais de 180 a 200
77 122 166 236 284 350 77 122 166 236 284 350
70 100 150 200 278 330 405 79 109 159 209 287 339 414
mais de 200 a 225
50 80 130 180 258 310 385 50 80 130 180 258 310 385
184 160 216 304 360 445 113 169 225 309 369 454
mais de 225 a 250
84 140 196 284 340 425 84 140 196 284 340 425
117 181 241 338 408 498 126 190 250 347 417 507
mais de 250 a 280
79 94 158 218 315 385 475 88 94 158 218 315 385 475
56 121 193 263 373 448 548 56 130 202 272 382 457 557
mais de 280 a 315
98 170 240 350 425 525 98 170 240 350 425 525
133 315 293 415 500 615 144 226 304 426 511 626
mais de 315 a 355
87 108 190 268 390 475 590 98 108 190 268 390 475 590
62 139 233 319 460 555 685 62 150 244 330 471 566 696
mais de 355 a 400
114 208 294 435 530 660 114 208 294 435 530 660
Tabela 10.9: Tabela de ajustes ISO para eixos IT 5 e IT 6 de acordo com a NBR 6158,
afastamentos máximos e mínimos em μm
10 - 11
IT 7 IT 8
dimensão nominal p7 r7 s7 t7 u7 v7 x7 p8 r8 s8 t8 u8 v8 x8
16 20 24 28 30 20 24 28 32 34
até 3
6 10 14 18 20 6 10 14 18 20
24 27 31 35 40 30 33 37 41 46
mais de 3 a 6
12 15 19 23 28 12 15 19 23 28
30 34 38 43 49 37 41 45 50 56
mais de 6 a 10
15 19 23 28 34 15 19 23 28 34
58 67
mais de 10 a 14
36 41 46 51 40 45 50 55 60 40
18 23 28 33 57 63 18 23 28 33 66 72
mais de 14 a 18
39 45 39 45
62 68 75 74 80 84
mais de 18 a 24
43 49 56 62 41 47 54 55 61 68 74 41 47 54
22 28 35 41 69 76 85 22 28 35 41 81 88 97
mais de 24 a 30
48 55 64 48 55 64
73 85 93 105 87 99 107 119
mais de 30 a 40
51 59 68 48 60 68 80 65 73 82 48 60 68 80
26 34 43 79 95 106 122 26 34 43 93 109 120 136
mais de 40 a 50
54 70 81 97 54 70 81 97
71 83 96 117 132 152 87 99 112 133 148 168
mais de 50 a 65
62 41 53 66 87 102 122 78 41 53 66 87 102 122
32 73 89 105 132 150 176 32 89 105 121 148 166 192
mais de 65 a 80
43 59 75 102 120 146 43 59 75 102 120 146
86 106 126 159 181 213 105 125 145 178 200 232
mais de 80 a 100
72 51 71 91 124 146 178 91 51 71 91 124 146 178
37 89 114 139 179 207 245 37 108 133 158 198 226 264
mais de 100 a 120
54 79 104 144 172 210 54 79 104 144 172 210
103 132 162 210 242 288 126 155 185 233 265 311
mais de 120 a 140
63 92 122 170 202 248 63 92 122 170 202 248
83 105 140 174 230 268 320 106 128 163 197 253 291 343
mais de 140 a 160
43 65 100 134 190 228 280 43 65 100 134 190 228 280
108 148 186 250 292 350 131 171 209 273 315 373
mais de 160 a 180
68 108 146 210 252 310 68 108 146 210 252 310
123 168 212 282 330 396 149 194 238 308 356 422
mais de 180 a 200
77 122 166 236 284 350 77 122 166 236 284 350
96 126 176 226 304 356 431 122 152 202 252 330 382 457
mais de 200 a 225
50 80 130 180 258 310 385 50 80 130 180 258 310 385
130 186 242 330 386 471 156 212 268 356 412 497
mais de 225 a 250
84 140 196 284 340 425 84 140 196 284 340 425
146 210 270 367 437 527 175 239 299 396 466 556
mais de 250 a 280
108 94 158 218 315 385 475 137 94 158 218 315 385 475
56 150 222 292 402 477 577 56 179 251 321 431 506 606
mais de 280 a 315
98 170 240 350 425 525 98 170 240 350 425 525
165 247 325 447 532 647 197 278 357 479 564 679
mais de 315 a 355
119 108 190 268 390 475 590 151 108 190 268 390 475 590
62 171 265 351 492 587 717 62 203 297 383 524 619 749
mais de 355 a 400
114 208 294 435 530 660 114 208 294 435 530 660
Tabela 10.10: Tabela de ajustes ISO para eixos IT 7 e IT 8 de acordo com a NBR 6158,
afastamentos máximos e mínimos em μm
10 - 12
10.2 Uniões por atrito: ponta cônica e cubos bipartidos
A figura 10.9 ilustra uma união por ponta cônica típica. Este tipo de união é utilizado
principalmente em conjuntos que requerem uma desmontagem rápida do cubo, como é o caso de
mandris de máquinas-ferramenta, hélices de navios e buchas cônicas de rolamentos. A
concentração de tensão no eixo é menor que nos casos de interferência, chavetas e ranhuras.
Em uma união por ponta cônica, a força de atrito entre as superfícies é causada pelo efeito
de cunha obtido pela aplicação de uma certa força axial FA. Geralmente utiliza-se elementos
roscados, de maneira que a força de aperto do parafuso é transferida para o cubo através da porca
ou bucha. Para eixos de diâmetro até 25mm, utiliza-se normalmente porcas padronizadas, mas
para diâmetros maiores, porcas especiais são fabricadas.
Em alguns casos de uniões por ponta cônica são chavetadas, como forma de aumentar a
segurança contra o deslizamento. Tal solução é efetiva nas situações em que o torque de aperto
não pode medido com precisão.
1 d2 − d1
tan α = = (10.29)
k L
2Tn sen(α + φ)
FA ≥ (10.30)
d μ (1 − ST )(1 − R)
10 - 13
Valores limites para a força axial podem ser obtidos através da força de ensaio da norma
ABNT1088 tomando-se o cuidado de levar em conta reduções uma vez que roscas usinadas tem
resistência menor que as obtidas por rolagem.
Aplicações Conicidade
1: k
- cubos facilmente desmontáveis 1:10
- cubos (caso geral)
1:20
- buchas reajustáveis
- buchas cônicas
1:24
- mancais de deslizamento
- hélices e rotores 1:30
- cone métrico (DIN 233) 1:40
A figura 10.10 mostra um tipo de união por atrito que utiliza cubo bipartido. Nesse caso a
força de compressão entre as superfícies em contato é dada pela força FAP dos parafusos ou
através de pinos montados por dilatação térmica. Admite-se que os parafusos são apertados até
que a folga inicial Δr seja eliminada pois, a partir do ponto em que as metades do cubo entram em
contato, quase não há acréscimo na força de compressão no eixo. Além disso, uma vez que a
pressão de contato entre o cubo e o eixo não é uniforme, a equação (17) para união por
interferência não pode ser utilizada.
zn Fap
p
̅= (10.30)
dL
1
T ≤ πμdzn Fap (1 − ST )(1 − R) (10.31)
2
onde d é o diâmetro do eixo, μ é o coeficiente de atrito, n é o número de parafusos e Fap é a força
de aperto. Niemann(1956) recomenda que a pressão máxima fique entre 30MPa e 50MPa para
cubos de ferro fundido e entre 50MPa e 90MPa para cubos de aço carbono. Na ausência de dados
experimentais, μ pode ser obtido na tabela 10.5 na coluna referente ao ajuste por dilatação
térmica.
10 - 14
A utilização deste tipo de união, embora bastante comum, não deve ser empregada quando
o torque transmitido T for sujeito a choques ou o conjunto cubo/eixo for sujeito a variações de
temperatura que possam causar afrouxamento dos parafusos.
10.3 Exemplos
O flange do acoplamento da figura será montado no eixo de aço com auxílio de uma prensa
hidráulica utilizando um ajuste por interferência Ø36H7s6.
O eixo é retificado com qualidade média a partir de uma barra de aço carbono com σe = 360 MPa.
O flange é torneado internamente em acabamento e fabricado em aço carbono classe 6.8. A
especificação do projeto pede que se determine o máximo torque transmissível para um lote de
peças e as tensões desenvolvidas no eixo e no cubo devido ao ajuste. Para a montagem do
conjunto é necessário se determinar a força de prensagem considerando k=1,5.
SOLUÇÃO:
Neste exemplo despreza-se o efeito de reforço da aba do flange e a parcela do comprimento do
cubo devida ao raio de adoçamento pois não há garantias de contato entre o cubo e o eixo nessa
região.
Dessa forma, o diâmetro externo do cubo para propósitos de cálculo será considerado como
De=48mm. Da tabela 10.8, obtém-se para o cubo Ø36H7, Amin = 0μm e Amax = 25μm e, da tabela
10.9, para o eixo Ø36s6, amin = 43μm e amax = 59μm.
Uma vez que a montagem se dá por prensagem, haverá perda de interferência pela raspagem de
uma peça sobre a outra. Da tabela 10.3 tem-se:
10 - 15
e a perda de interferência para o ajuste prensado é calculada por:
Da tabela 10.8, para eixo e cubo em aço carbono Ei = Ee = 203GPa e νi = νe =0,29. Os coeficientes
elásticos Ki e Ke são obtidos a partir de Qi e Qe, portanto:
di 0 Di 36
Qi = = = 0 e Qe = = = 0,75
de 36 De 48
1 1 + Q2i 1 1 + 02
Ki = ( − νi ) = ( − 0,29) = 3,50x10−6 mm2 /N
Ei 1 − Q2i 203x103 1 − 02
1 1 + Q2i 1 1 + 0,752
Ke = ( + νe ) = ( + 0,29) = 19,0x10−6 mm2 /N
Ee 1 − Q2i 203x103 1 − 0,752
2T 2 2T 2
Fat ≥ √02 + ( ) → 9755 ≥ √02 + ( ) → T ≤ 175,6x103 Nmm
de 36
Para o cálculo das tensões utiliza-se as equações 10.13 e 10.14 para o caso p=pmax :
λ(Q i ) = 1,78 → σeq = pmax . λ(Q i ) = 1,78 . 69,28 = 123,3 ≤ 360 (ok)
χ(Q e ) = 4,0 → σeq = pmax . χ(Q i ) = 4,0 . 69,28 = 277,1 ≤ 480 (ok)
Finalmente, a força de montagem é calculada pela equação 10.25, onde P = Pmax e k = 1,5. Dessa
forma:
10 - 16
10.3.2 Projeto de uma união por interferência com montagem radial
A engrenagem de liga de alumínio da figura deve ser montada no eixo de aço carbono através de
um ajuste por interferência, de modo a transmitir um torque de 15Nm e uma força axial de 200N
simultaneamente. O ajuste é feito por aquecimento do cubo em banho de óleo. O furo da
engrenagem possui classe de tolerância ISO N7 e a usinagem do eixo possui classe N6. As
tensões de escoamento são, para o eixo σe = 320MPa e, para o cubo, σe = 210MPa.
Pede-se especificar o ajuste no sistema furo-base, obter as tensões equivalentes para o eixo e o
cubo, e calcular a temperatura do banho de óleo para aquecimento do cubo, considerando uma
temperatura ambiente de 20ºC.
SOLUÇÃO:
Este exemplo despreza a influência da alma da engrenagem e dos filetes da rosca na rigidez do
eixo e do cubo. Dessa forma, considera-se que o diâmetro di corresponde ao diâmetro do pé da
rosca dado pelo capítulo 5.
Para a seleção do ajuste deve-se considerar simultaneamente o critérios de deslizamento, dado
pela equação 10.20 e o critério de resistência mecânica para o eixo e para o cubo, dados pelas
equações 10.13 e 10.14.
a) critério de deslizamento:
A pressão necessária para transmitir os esforços entre o cubo e o eixo é calculada através da
equação 10.24. Para ajuste aço/alumínio por dilatação térmica, o coeficiente de atrito pela tabela
10.5 varia entre 0,05 e 0,06. Adotando valores médios tem-se μ=0,055 , portanto:
2
2T 2 2.15x103
Fat = πμde Lpmin √ 2 √ 2
≥ Fa + ( ) → π. 0,055.25.23. pmin ≥ 200 + ( )
de 25
de onde se obtém pmin ≥ 12,24 MPa .
Os coeficientes elásticos Ki e Ke são calculados a partir da equação 10.21. Dessa forma, para o
eixo, com di =12mm , de=25mm , Ei = 203 GPa e νi = 0,29:
12 1 1 + 0,482
Qi = = 0,48 e K i = ( − 0,29) = 6,45x10−6 mm2 /N
25 203x103 1 − 0,482
25 1 1 + 0,562
Qe = = 0,56 e K e = ( + 0,33) = 28,62x10−6 mm2 /N
45 78,4x103 1 − 0,562
Para a seleção de ajuste utiliza-se a equação 10.20 para o caso limite p=pmin quando Z = Zmin a
fim de se determinar a interferência mínima necessária:
Zmin
pmin = → Zmin = pmin . (K i + K e ). de = 12,24. (6,45 + 28,62)x10−6 . 25
(K i + K e ). de
Para o critério de resistência mecânica utiliza-se as equações (10.13) e (10.14) com as tensões
limites para o eixo e o cubo. Para o eixo, utiliza-se o gráfico da figura 10.8 com Qi=0.48 resultando
em λ=2,3 e, portanto:
10 - 17
σeq = 2,3 . pmax ≤ 320 → pmax ≤ 139 MPa
e, para o cubo, utiliza-se o gráfico da figura 10.8 com Qe = 0,56, resultando em χ = 2,5:
Comparando ambos os critérios, verifica-se que o cubo é mais suscetível ao dano devido à
pressão do ajuste que o eixo. Utilizando, a equação 10.20 para o caso limite p=pmax= 84 MPa
quando Z=Zmax obtém-se:
Zmax
pmax = → Zmax = pmax . (K i + K e ). de = 84 . (6,45 + 28,62)x10−6 . 25
(K i + K e ). de
Para o projeto da união deve-se especificar para o eixo um ajuste que possua as seguintes
características: IT 6, amin ≥ 33µm e amax ≤ 74µm. Na tabela 10.9 com d = 25mm pode-se selecionar
os seguintes ajustes para o eixo:
ajuste s6 t6 u6 v6
amax (μm) 48 54 61 68
amin (μm) 35 41 48 55
Considerando os extremos da tabela acima, o ajuste Ø25v6 é capaz de suportar um esforço bem
maior que aquele especificado, uma vez que o afastamento mínimo é bem maior que os 33μm
exigidos pelo critério de escorregamento. Esse ajuste prioriza a performance da união em
detrimento da segurança ao escoamento. Por outro lado, no ajuste Ø25s6 as tensões
desenvolvidas no eixo e no cubo são bem menores que as tensões de escoamento envolvidas
pois o afastamento máximo é muito inferior ao limite de 74μm exigido pelo critério de resistência
mecânica para o cubo.
Finalmente, a temperatura necessária para o aquecimento do cubo é obtida através da equação
10.27. Da tabela 10.7, obtém-se para o cubo α = 23,4x10-6 0C-1. Assim, para os extremos da tabela
acima:
a) ajuste Ø25H7s6
Imax = amax − Amin = 48 − 0 = 48μm
Imax + F 48x10−3 + 5x10−4 . 25
Tmont = Tamb + = 20 + = 123,40 C
α. de 23,4x10−6 . 25
b) ajuste Ø25H7v6
Imax = amax − Amin = 68 − 0 = 68μm
Imax + F 68x10−3 + 5x10−4 . 25
Tmont = Tamb + = 20 + = 157,60 C
α. de 23,4x10−6 . 25
10 - 18
8.3.3 Análise de uma união por ponta cônica
O cubo da hélice da figura abaixo é fixado ao eixo de aço classe 6.8 através de uma ponta cônica
cujo diâmetro médio é de 30mm. A força axial é dada pelo aperto de uma porca M16x1,5. Pede-
se determinar o máximo torque que pode ser transmitido entre a hélice e o eixo sem provocar
deslizamento da união e o torque de aperto na montagem da porca utilizando um coeficiente n =
2,2. Considere que o parafuso é apertado até 50% da força de ensaio definida pela NBR 8855,
que ocorre uma relaxação de 10% da união aparafusada após o aperto e que ST = 0,20.
SOLUÇÃO:
Da tabela 10.11, para a fixação da hélice
será utilizado um eixo de conicidade 1:30.
Da tabela 10.5 para ajuste radial aço/aço o
coeficiente de atrito μ varia entre 0,07 e
0,19. Adotando valores intermediários tem-
se µ=0,13.
1
α = atan ( ) → α = 1,9090
30
φ = tg −1 μ = 7,4070
10.4 Exercícios
1) A polia em alumínio série 1000 da figura A será fixada ao eixo de aço carbono através de
um ajuste Ø34H7s6. A montagem será feita com auxílio de uma prensa hidráulica à
temperatura ambiente. As superfícies de contato foram, ambas, torneadas em acabamento.
O eixo é de classe 4.8 e a polia tem σe = 180MPa. Despreze o efeito da alma da polia no
cálculo de Ki e Ke. Pede-se determinar:
10 - 19
3) Considerando ainda a montagem da polia da figura A, se o projetista optar por uma
montagem por variação de temperatura, qual o ganho percentual em termos do máximo torque
transmissível?
4) A figura B representa a união do cubo de uma engrenagem ECDH com um eixo vazado. A
engrenagem é fabricada em aço 34Cr4 com σe = 480MPa e o eixo é fabricado em aço 4340
com σe = 580MPa. A montagem se dá por aquecimento do cubo em banho de óleo (montagem
lubrificada). Pede-se:
5) A figura C representa o cubo de uma polia de liga de alumínio, o qual é fixado ao eixo
através de uma união tipo ponta cônica. A força axial é fornecida através de 4 parafusos M8x1
classe 5.8. Os parafusos são apertados com uma chave manual com ST = 0,25 até um torque
de 15Nm. Considere uma relaxação de 5% após o aperto. Pede-se determinar o diâmetro d
mínimo para que a polia transmita um torque de 100Nm com uma segurança n=1,5. Considere
Kap = 0,20.
10 - 20
Respostas parciais:
1) Tmax = 13,48 Nm , eixo com nmec = 6,47 , cubo com nmec= 1,75 , Fm ≥ 1623 N
2) Tmax = 5 Nm
3) ganho = 74,9%
4) ajustes possíveis: Ø24H7r6, Ø24H7s6
5) dmin = 34mm
6) dmin = 26mm
10.5 Bibliografia
Agostinho, OL, ‘Tolerâncias; Ajustes; Desvios e Analise de Dimensões’, Ed. Edgard Blücher, 1a
ed, 1977.
Husson, W, ‘Friction Connections with Slotted Holes for Wind Towers’, Lulea University of
Technology, 2008.
Timoshenko, S, Goodier, JN, ‘Theory of Elasticity’, 3rd ed, Mc Graw Hill India, 2010 .
Shigley, JE, Mischke, CR, Mechanical Engineering Design, McGraw-Hill Int. Editions, 5th ed.,
New York, 1989.
10 - 21