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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA

ANA VITÓRIA DE OLIVEIRA RECCO

ARQUITETURA PRISIONAL: REINTEGRAÇÃO SOCIAL DA MULHER


PRESIDIÁRIA

CURITIBA

2021
ANA VITÓRIA DE OLIVEIRA RECCO

ARQUITETURA PRISIONAL: REINTEGRAÇÃO SOCIAL DA MULHER


PRESIDIÁRIA

Monografia apresentada como requisito parcial a


obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário Curitiba.

Orientador: Msc. Antonio Claret Pereira de


Miranda.

CURITIBA

2021
ANA VITÓRIA DE OLIVEIRA RECCO

ARQUITETURA PRISIONAL: REINTEGRAÇÃO SOCIAL DA MULHER


PRESIDIÁRIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em


Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Curitiba, pela Banca Examinadora
formada pelos professores:

_____________________________________________

Prof. Membro da Banca

_____________________________________________

Prof. Membro da Banca

_____________________________________________

Prof. Membro da Banca

Curitiba, de Junho de 2021.


Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que
me deu forças nesta longa jornada. A minha
família, por sua capacidade de acreditar, investir
em mim e ceder com todo amor e carinho os
subsídios para que eu alcance meus objetivos.
E, aos meus amigos que estavam sempre
prontos para me oferecer suporte nos
momentos difíceis, transformando esses anos
de graduação em tempos incríveis.
Agradeço em especial ao meu Orientador Msc.
Antonio Claret Pereira de Miranda, por ter
aceitado acompanhar-me neste projeto e me
norteado e auxiliado com seus ensinamentos
durante todo percurso. Agradeço também, a
todos os professores do Curso de Arquitetura e
Urbanismo do Unicuritiba, por todos os
aprendizados oferecidos durante meu trajeto
acadêmico. E a todos que contribuíram de
alguma forma ao longo desta caminhada.
‘’O projeto ideal não existe, a cada projeto existe
a oportunidade de realizar uma aproximação’’.

(Paulo Mendes da Rocha)


RESUMO

O presente trabalho, possui como escopo investigar meios na esfera da Arquitetura e


do Urbanismo que auxiliem na concepção de um projeto referente a uma Unidade de
Progressão Feminina, com o intuito de reintegrar, e ressocializar as mulheres
condenadas junto à sociedade. Para alcançar os devidos conhecimentos quanto ao
tema, foram utilizados embasamentos teóricos através de pesquisas e estudos. Como
fonte de contribuição para a resolução das problemáticas e para a colaboração quanto
a criação de uma proposta adequada que atingisse as normativas penais aliadas as
técnicas projetuais de conforto, a investigação cooperou para a constituição de um
ambiente que ofereça o tratamento e não a penalização do indivíduo, bem como para
análises de materiais didáticos e artigos sobre humanização, conforto e tratamentos
psicológicos para ambientes destinados à Arquitetura Penal. Por fim, deste modo, o
projeto pode efetivamente coadjuvar para a transformação da arquitetura em uma
ferramenta crucial na reabilitação de mulheres em conflito com a lei.

Palavras-Chave: Progressão Feminina. Reintegrar. Ressocializar. Humanização.


Reabilitação.
ABSTRACT

The present work has as scope to investigate ways in the sphere of Architecture and
Urbanism that help in the conception of a project referring to a Female Progression
Unit, in order to reintegrate and resocialize the condemned women in society. To
achieve the proper knowledge on the subject, theoretical foundations were used
through research and studies. As a source of contribution to the resolution of problems
and collaboration regarding the creation of an adequate proposal that would reach the
penal regulations allied to the comfort design techniques, the investigation cooperated
for the constitution of an environment that offers the treatment and not the penalization
of the individual, as well as for analysis of teaching materials and articles on
humanization, comfort and psychological treatments for environments destined to
Penal Architecture. Finally, in this way, the project can effectively assist in transforming
architecture into a crucial tool in the rehabilitation of women in conflict with the law.

Keywords: Female Progression. Reinstate. Resocialize. Humanization.


Rehabilitation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Presos Costurando......................................................................................26


Figura 2: Máscaras realizadas...................................................................................26
Figura 3: Processo da Costura .................................................................................. 26
Figura 4: Detentas com o Uniforme da Penitenciária..................................................29
Figura 5: Internas Trabalhando no Presídio .............................................................. 29
Figura 6: Absorvente Interno Feito do Miolo de Pão..................................................33
Figura 7: Jornal Utilizado como Papel Higiênico ....................................................... 33
Figura 8: Cela Humanizada........................................................................................37
Figura 9: Área externa com vegetação. .................................................................... 37
Figura 10: APAC. Frase de Estímulo ........................................................................ 39
Figura 11: Programa Mãos Amigas ........................................................................... 41
Figura 12: Celas Cor de Rosa.....................................................................................43
Figura 13: Acesso Cela...............................................................................................43
Figura 14: Corredor Celas ......................................................................................... 43
Figura 15: Localização Europa, França e Nanterre ................................................... 46
Figura 16: Implantação e Entorno..............................................................................46
Figura 17: Estudo de Insolação e Ventos .................................................................. 46
Figura 18: Isométrica SPM.........................................................................................47
Figura 19: Blocos de Setorização SPM ..................................................................... 47
Figura 20: Planta do primeiro, segundo e terceiro pavimento da SPM,
respectivamente. ....................................................................................................... 47
Figura 21: Cela Individual e Cela dupla, respectivamente. ....................................... 48
Figura 22: Cortes da SPM ......................................................................................... 48
Figura 23: Quadra SPM..............................................................................................49
Figura 24: Circulação SPM........................................................................................49
Figura 25: Jardins SPM ............................................................................................. 49
Figura 26: Fachada Principal.....................................................................................49
Figura 27: Revestimento.............................................................................................49
Figura 28: Fachada Lateral ....................................................................................... 49
Figura 29: Localização Brasil, Minas Gerais e Santa Luzia. ..................................... 50
Figura 30: Implantação e Entorno APAC ...................................................................51
Figura 31: Implantação em perspectiva .................................................................... 51
Figura 32: Fachada Principal e Acesso ...................................................................51
Figura 33: Estudo de Insolação e Ventos .................................................................. 51
Figura 34: Planta APAC Santa Luzia ........................................................................ 52
Figura 35: Jardim Interno APAC..................................................................................52
Figura 36: Cobogós APAC.........................................................................................52
Figura 37: Edificação APAC ...................................................................................... 52
Figura 38: Localização Brasil, Paraná e Piraquara ................................................... 53
Figura 39: Implantação e Entorno CIS Piraquara ...................................................... 54
Figura 40: Vista Nordeste/Sudeste da Vila ................................................................ 54
Figura 41: Acesso e Coordenada..............................................................................55
Figura 42: Estudo de Insolação e Ventos .................................................................. 55
Figura 43: Fachada CIS.............................................................................................55
Figura 44: Entrada CIS...............................................................................................55
Figura 45: Edificações CIS ........................................................................................ 55
Figura 46: Berçário CIS..............................................................................................56
Figura 47: Sala de aula CIS ...................................................................................... 56
Figura 48: Localização Brasil, Paraná, Curitiba e CIC (loteamento). ........................ 59
Figura 49: Mapa Síntese ........................................................................................... 60
Figura 50: Loteamento e Curvas de Níveis...............................................................61
Figura 51: Estudo de Insolação e Ventos. ................................................................. 61
Figura 52: Frente do Loteamento...............................................................................61
Figura 53: Lateral e Fundos do Loteamento ............................................................. 61
Figura 54: Entorno do Loteamento ............................................................................ 62
Figura 55: Macro Organograma ................................................................................ 65
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: População Prisional Feminina e Masculina de Curitiba ............................ 21


Gráfico 2: Faixa Etária das Mulheres Privadas de Liberdade ................................... 21
Gráfico 3: Escolaridade das Mulheres Encarceradas no Brasil ................................. 22
Gráfico 4: Distribuição de Crimes por Gênero ........................................................... 23
Gráfico 5: Presos por Estabelecimento ..................................................................... 31
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: População Carcerária Feminina (%).......................................................... 20


Tabela 2: Características Clínicas Psicossociais ...................................................... 25
Tabela 3: Parâmetros Construtivos ........................................................................... 62
Tabela 4: Módulos obrigatórios segundo as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal
.................................................................................................................................. 63
Tabela 5: Programa de Necessidades ...................................................................... 64
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Ambientes a serem Atendidos em Projetos para Estabelecimentos Penais.


.................................................................................................................................. 36
Quadro 2: Atividades Ressocializadoras e a Arquitetura como Auxiliadora .............. 42
Quadro 3: Análise Comparativa - Estudos de Caso .................................................. 57
Quadro 4: Pontos Fortes e Pontos Fracos - Estudos de Caso .................................. 58
LISTA DE SIGLAS

APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados.

CAU/RN – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte.

CEEBJA – Centro Estadual de Ensino Básico para Jovens e Adultos.

CIC – Cidade Industrial de Curitiba.

CNJ – Conselho Nacional de Justiça.

CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

CSL – Distrito de Semiliberdade.

DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional.

EPI – Equipamentos de Proteção Individual.

INFOPEN – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias.

ONU – Organização das Nações Unidas.

PFP – Penitenciária Feminina de Piraquara.

PIN – Psiconeuroimunologia.

PNSSP – Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário.

RS – Rio Grande do Sul.

SPIP – Serviço Penitenciário de Inserção e Liberdade.

UFPR – Universidade Federal do Paraná.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16

2. A QUESTÃO PRISIONAL FEMININA: AS CONDIÇÕES PROPORCIONADAS A


MULHER PRESIDIÁRIA E O CARCERE ................................................................. 18

2.1 IDENTIFICANDO O PÚBLICO-ALVO E A NECESSIDADE DE AUXÍLIO .... 18

2.2 RELAÇÃO INDIVÍDUOS X NÚMEROS........................................................ 20

2.3 CAUSAS DE PERIGO RESULTANTES DO CONVÍVIO SOCIAL E


ASPECTOS CLÍNICOS PSÍQUICOS. ................................................................... 23

2.4 O SISTEMA PRISIONAL E O COVID-19 ..................................................... 25

3. A ARQUITETURA PRISIONAL E SUA ESPACIALIDADE COMO MEIO DE


RESSIGNIFICAÇÃO ................................................................................................. 28

3.1 BREVE HISTÓRICO: AS PRIMEIRAS PRISÕES FEMININAS NO BRASIL28

3.2 O ATUAL SISTEMA PRISIONAL FEMININO E SUAS SINGULARIDADES 30

3.2.1 Violências, Maus tratos e Agressões: .................................................... 31

3.2.2 Violência Sexual: ................................................................................... 32

3.2.3 Acesso a produtos de higiene:............................................................... 32

3.3 A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA E SUA ESPACIALIDADE NO


COMPORTAMENTO E NA RECUPERAÇÃO PSICOLOGICA DO INDIVÍDUO .... 33

3.4 O ESPAÇO FÍSICO DE UNIDADES PRISIONAIS ....................................... 36

4. A RESSOCIALIZAÇÃO COMO COMBATE NA REINCIDÊNCIA DAS


PRESIDIÁRIAS ......................................................................................................... 38

4.1 PROGRAMAS DE APOIO EXISTENTES PARA RESSOCIALIZAÇÃO ....... 38

4.1.1 APAC – (Associação de Proteção de Assistência aos Condenados) .... 39

4.1.2 Programa Começar de Novo ................................................................. 40

4.1.3 Programa Mãos Amigas ........................................................................ 40

4.2 A RELEVÂNCIA E OS MEIOS DE RESSOCIALIZAÇÃO ............................ 41

4.3 A ARQUITETURA NA HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS. ........................... 42


4.3.1 Psiconeuroimunologia e Conforto Ambiental e Arquitetura Modular...... 43

5. ESTUDOS DE CASO......................................................................................... 45

5.1 INTERNACIONAL – PRISÃO DE SEGURANÇA MÍNIMA – NANTERRE.... 45

5.2 NACIONAL – APAC SANTA LUZIA - MINAS GERAIS ................................ 50

5.3 LOCAL - CENTRO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL (CIS) - PIRAQUARA ......... 53

5.4 ANÁLISES COMPARATIVAS ...................................................................... 56

6. DIRETRIZES DE PROJETO .............................................................................. 59

6.1 INSERÇÃO TERRITORIAL .......................................................................... 59

6.1.1 Análise do Terreno: ............................................................................... 60

6.2 NORMATIVAS PARA ARQUITETURA PENAL ........................................... 62

6.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES ............................................................. 63

6.4 ORGANOGRAMA ........................................................................................ 65

7. CONCLUSÃO .................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 67

REFERÊNCIAS DE FIGURAS.................................................................................. 72

APÊNDICE ................................................................................................................ 74

ANEXOS ................................................................................................................... 79
16

1. INTRODUÇÃO

A realidade das superlotações nos presídios tem criado progressivamente


um panorama alarmante no Brasil, todavia, o número de violência nas ruas não para
de aumentar. Diante desse fato, muito se debate sobre a necessidade de edificar
novas unidades de presídios, mas não se nota a necessidade de reeducar e
ressocializar o indivíduo em questão, com a finalidade de atingir a raiz do problema:
diminuir a reincidência nas penitenciárias e consequentemente, a criminalidade.
A partir da situação corrente, indagou-se a observação: de que maneira a
arquitetura pode colaborar para a requalificação, humanização, ressocialização e
regeneração das mulheres submetidas ao cárcere?
Com o intuito de que esta investigação seja fonte de suporte teórico com
enfoque em compreender afundo a realidade e as necessidades da mulher
encarcerada, foi utilizada a metodologia de pesquisa exploratória. A finalidade deste
recurso é a de alicerçar os conhecimentos através de autores, reportagens, bem como
documentários e bibliografias que abordam a reintegração da mulher presidiária na
sociedade.
O método de pesquisa por meio da investigação empírica, também foi
utilizado como auxiliador para o embasamento com base em estudos de caso,
fornecimento de coleta de dados e aprofundamento nas questões arquitetônicas
auxiliadoras na elaboração do projeto em si.
O objetivo geral desta pesquisa é investigar a coligação entre a arquitetura
penitenciária feminina brasileira e a falta de atenção no que tange as questões
espaciais no cárcere. A ideia é desenvolver subsídios para suporte e condicionantes
arquitetônicas, para a elaboração futura de um estudo preliminar arquitetônico ao que
se refere a uma unidade de progressão para auxílio na ressocialização de mulheres
presidiárias e ex-presidiária, favorecendo a requalificação ao convívio social, bem
como a qualidade de vida. Para alcançar tal efeito, foram determinados os seguintes
objetivos específicos:
• Compreender o público-alvo e suas condicionantes;
• Utilizar da espacialidade arquitetônica a favor da integração do
indivíduo; e identificar as necessidades desta edificação;
17

• Pesquisar meios para a ressocialização e requalificação destas


detentas com base na profissionalização da mão de obra, no auxílio
ao estudo e ao empreendedorismo;
• Compreender como se pode trabalhar psicologicamente a
reinserção na sociedade e no mercado de trabalho, bem como
mostrar elementos de conforto físico e psicológico que amparem na
composição do projeto;
• Efetuar um estudo sobre o loteamento no qual será inserida a
edificação e desenvolver as diretrizes projetuais para o
desenvolvimento do Trabalho de Curso II, no próximo semestre.
Para aprofundamento e concepção do fundamento do projeto foram
estudadas no primeiro capítulo as condições proporcionadas as mulheres presidiarias,
bem como o estudo sobre o perfil destas pessoas que adentram o cárcere, as
condições oferecidas por ele, e a forma como o COVID-19 impactou do dia a dia
destes indivíduos.
No segundo referencial teórico, foi possível adquirir conhecimento sobre a
história primeira instituição destinada ao cárcere feminino, bem como compreender
quais as delimitações que as penitenciárias oferecem, e como isto pode impactar de
forma negativa na vida destas mulheres. Apresentou-se também, como devem ser os
espaços destinados a reintegrar estas penadas e como a arquitetura pode beneficiar
o indivíduo ali inserido.
No terceiro capítulo foram pontuados programas que auxiliam na
ressocialização destas mulheres perante a sociedade, e como essa reintegração
social pode interferir de forma positiva quanto a não reincidência no cárcere. Na
sequência arquitetura humana foi pontada como principal fator a ser seguido no
projeto em questão.
O quarto capítulo se refere aos estudos de caso e propostas semelhantes
desenvolvidas por outros arquitetos com o intuito de embasar o plano de
necessidades e as soluções adotadas para o melhor desempenho do projeto.
Por fim, no quinto e último capítulo, foi abordado as principais diretrizes
projetuais, bem como normativas, organograma, plano de necessidades e escolha do
loteamento para inserção e elaboração do projeto. O trabalho, em si, oferecerá todo o
escopo para embasamento de um ambiente humano e ressocializador para os
indivíduos infratores.
18

2. A QUESTÃO PRISIONAL FEMININA: AS CONDIÇÕES PROPORCIONADAS A


MULHER PRESIDIÁRIA E O CARCERE

As mulheres encarceradas enfrentam muitas dificuldades em relação a


distinção sofrida perante comparações realizadas ao homem. Se levada em
consideração nossa sociedade atual, é recorrente a austereza diante o
encarceramento masculino, entretanto, quando o ato é vinculado a uma mulher a
naturalidade defronte ao fato se esvaece.
Segundo Varella1, a sociedade conclui facultativamente que mulheres não
foram feitas para serem detidas, mas sim para exercerem o papel de zeladora de sua
família. Posto isto, quando por alguma circunstância esta mulher é submetida ao
cárcere, o padrão idealizado é rompido e consequentemente é gerada uma
intolerância ao acontecimento que estabelece o abandono por parte de seus
familiares.
Varella (2017) ainda explica que quando um homem vai preso, recebe
adjetivos como ladrão ou criminoso, mas sempre existe uma justificativa para a ação
desempenhada pelo indivíduo. Mesmo não havendo conhecimento anterior sobre a
vida ou atos cometidos por ele. Mas quando o relato se refere ao indivíduo do sexo
feminino, sempre existe uma conotação sexual ou de descaso, isto é, quando a mulher
comete um crime, automaticamente recebe convicções e julgamentos de que não
possui mais serventia.

2.1 IDENTIFICANDO O PÚBLICO-ALVO E A NECESSIDADE DE AUXÍLIO

O público que a unidade de progressão pretende atingir com essa


investigação, se restringe a mulheres da cidade de Curitiba e região metropolitana,
condenadas por crimes de pequena periculosidade, que não possuam nenhum
vínculo atual com organizações criminosas e detenham proximidade com a conclusão
da pena, além de qualquer tipo de identificação com o projeto.
Com o intuito de um propósito afluente, é indispensável entendê-las pelo
âmago da questão, quais suas necessidades, histórias, particularidades e até mesmo

1 Antonio Drauzio Varella, médico oncologista, cientista e escritor brasileiro – Autor do

Livro citado: Prisioneiras.


19

restrições, para assim, alcançar a ciência daquilo que é necessário ofertá-las após
conclusão da custódia.
A ligação direta com os crimes relacionados a questões afetivas
correlacionadas a parceiros, filhos ou parentes, mesmo que de forma coadjuvante e
não necessariamente como infratora efetiva, é uma das maiores causas de prisões
femininas no Brasil (CAMBRIA, 2018, p.16).
Lima e Silva (2020, s.p) pontuam, que estas mulheres acabam sendo
submetidas a cumprir pena por consequência de ações ocasionalmente pouco
relevante no meio, mas que as tornam suscetíveis ao encarceramento, como por
exemplo o cargo de empacotadoras no tráfico. De acordo com o documentário ‘’Se eu
não tivesse amor’’2(2009, s.p) ‘’9 em cada 10 detentas são presas nesse cenário’’. As
narrativas em sua maioria são de caráter de arrependimento, diante da situação.

As mulheres são 'mulas' ou 'laranjas', ou seja, elas transportam pequenas


quantidades, enquanto a quadrilha ou o grupo de homens carrega a maior
parte das drogas por outras rotas. Muitas vezes, as mulheres são
denunciadas pelo próprio grupo para desviar a atenção das autoridades; em
outras ocasiões, as mulheres guardam em suas casas pacotes e malas para
seus companheiros, filhos e parentes, sem saber necessariamente sobre o
seu conteúdo, ou ainda sob coerção e ameaça a seus entes familiares. Além
disso, como não fazem parte da cúpula das organizações, elas não têm
conhecimento de informações importantes que levariam à diminuição de suas
penas caso as relatassem para as autoridades. (HOWARD; OLIVEIRA, 2004,
p. 21).

Existe uma conexão expressa com as razões citadas anteriormente e a


fragilidade enfrentada pelas detentas, em virtude de se encontrarem manipuladas
pelos entes familiares com uma única finalidade: a de responder no lugar deles, por
suas práticas infratoras. Cambria (2018, p.16) cita, que esquecidas e abandonadas
por suas famílias, a maior parte destas mulheres, se arrependem e criam amplas
perspectivas de vida modificando o cenário de seus futuros, uma vez que não existe
a possibilidade de modificar os feitos realizados no passado.

Há anos procuro entender as razões que levam as famílias a visitar o parente


preso, enquanto esquecem a irmã, a filha ou a mãe no cárcere. Talvez porque
a prisão de uma filha ou da mãe envergonha mais do que a de um filho ou a
do pai, já que a expectativa da sociedade é ver as mulheres ‘’no seu lugar’’,
obedientes e recatadas (VARELLA, 2017, p.271)

2Documentário feito na penitenciária feminina Talavera Bruce – RJ, sobre mulheres que
se envolveram em crimes por amor. Direção Geysa Chaves; Direção de Fotografia Chico Rodrigues.
20

A proposta de um ambiente que disponha auxílio a estas infratoras, é


oferecer a perspectiva de análise e de mapeamento daquilo que sentem falta durante
o período de reclusão. Tendo por assim, significativo conhecer e analisar,
cuidadosamente, o público que irá usufruir da unidade, com o escopo de ofertar um
novo panorama de vida após o período de custódia.

2.2 RELAÇÃO INDIVÍDUOS X NÚMEROS

Todos os anos o Depen3 realiza um levantamento de dados (Infopen4) cuja


finalidade é operar uma coleta de informações realizada nos âmbitos penitenciários e
resultar seus dados numéricos para que sirvam de apoio e conhecimento a sociedade.
Segundo o Infopen, esses dados, são de extrema relevância para
caracterizar o público-alvo e seu quantitativo. Levando em consideração as
informações cedidas pela última pesquisa realizada e divulgada no ano de 2020, a
população carcerária brasileira conta com mais de 750 mil presos em unidades
penitenciárias (INFOPEN, 2020, p.15) colocando o país, segundo o Instituto
Humanistas Unisinos (2020, s.p) na terceira posição do ranking de países com maior
número de pessoas presas no mundo (World Prison Brief5), ficando atrás somente dos
Estados Unidos e da China, respectivamente.
Desse montante, o público carcerário feminino, segundo a população
prisional por gênero disponibilizada pelo Infopen (2020, p.15) é responsável por
36.999 mil detentas, posicionando o país no 4º lugar do ranking de países com o maior
índice de mulheres presas, e representando 4,9% da massa prisional total do país,
ficando em 82º lugar no ranking mundial nesta categoria.

Tabela 1: População Carcerária Feminina (%)

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de dados do World Prison Brief. 2020.

3 Depen – Departamento Penitenciário Nacional.


4 Infopen – Levantamento de Informações Penitenciárias Nacionais.
5 World Prison Brief – Banco de dados desenvolvido pelo ICPR - Institute for Crime & Justice Research

e pela Birkbeck University of London.


21

Quando migrada da escala nacional para a escala estadual, ainda


analisando a população prisional por gênero disponibilizada pelo Infopen (2020, p.15),
o Paraná conta com o total de 61.465 mil detentos da população prisional do país,
sendo deste valor 2.624 mil presas mulheres que caracterizam 4,27% do valor
integral.
Neste cenário é importante ressaltar que a cidade de Curitiba, até o
momento da pesquisa (Gráfico 1), aloca mais da metade dos presos do estado,
contando com 33.458 mil homens e 1.483 mil mulheres privadas de liberdade
(INFOPEN, 2020, p.15).

Gráfico 1: População Prisional Feminina e Masculina de Curitiba

Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir de dados do Infopen 2020.

Com relação ao Gráfico 2, no que tange à faixa etária das mulheres privadas
de liberdade, os dados coletados a partir do Infopen Mulher (2017, p.29) mostram que
o intervalo entre 18 e 24 anos, corresponde a 25,22% da população carcerária,
enquanto 22,11% se caracterizam entre 25 e 29 anos e 22,66% dizem respeito a
mulheres entre 35 e 49 anos, ou seja, após análise pode-se concluir que 47,33% da
massa prisional feminina é composta por mulheres jovens.

Gráfico 2: Faixa Etária das Mulheres Privadas de Liberdade

Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir de dados do Infopen 2017.


22

A questão racial é outro indicador a ser considerado, onde segundo o


Infopen (2017, p.31), 63,55% das mulheres com o resultado do somatório entre pretas
e pardas se declaram negras, enquanto apenas 35,59% afirmam serem brancas. Após
comparar estes índices com a numeração deste mesmo ano referente a população
negra brasileira, determinada em 55,4%, tornou-se clara a representação excessiva
de habitantes negras no cárcere brasileiro. (INFOPEN, 2017, p.32)
Ainda, analisando os dados censitários fornecidos pelo Infopen Mulheres
(2017, p.35), outra marca do encarceramento feminino, está diretamente relacionada
aos índices de escolaridade, posto que ‘’mais da metade das mulheres custodiadas
possuem baixa escolaridade, ao passo que entre a população brasileira percebe-se
maior dispersão entre todos os níveis educacionais’’.
Relacionando esses dados percentuais, conforme visualizado abaixo no
Gráfico 3, 62,4% das mulheres não possuem o ensino médio completo e 44% deste
montante, não chegou ao menos a completar o ensino fundamental (INFOPEN, 2017,
p.34).

Gráfico 3: Escolaridade das Mulheres Encarceradas no Brasil

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base no Infopen 2017.

Como uma forma de benefício, o tráfico de entorpecentes pode ser


relacionado por um indivíduo como uma maneira atingível e rápida de ascensão
social, além de contribuir com o fator de complementação de renda e de maiores
disponibilidades de horário para se estar à disposição da casa e dos filhos, visto que
possibilita o trabalho sem a necessidade de estarem por vastos momentos longe do
lar (DEL OLMO, 1996, p.12).
Diante do fato citado acima, quando abordada a questão de crimes por
gênero, diferentemente dos homens, onde o crime de roubo prevalece com
aproximadamente 32%, seguido pelo tráfico de drogas que gira em torno de 29%, os
23

delitos que mais ocasionam detenções femininas são caracterizados em 64% por
crimes relacionados ao tráfico de drogas, ainda que ocupando o cargo de coadjuvante
e não de chefia e 15% relacionados a crimes de roubos (INFOPEN, 2017, p.46).

Gráfico 4: Distribuição de Crimes por Gênero

Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir de dados do Infopen 2017.

Possuir este conjunto de dados, é de extrema relevância para a


aplicabilidade no estudo do centro de reintegração, se considerar que por meio deles
se torna capaz de compreender as analogias entre a descrição do perfil mais existente
no cárcere privado feminino, tal qual sua aplicação no mundo do crime, seus
experimentos de vida e a atual posição social destas mulheres.
Com base na premissa de que a reclusa pode muitas vezes reforçar a
marginalização, e de que o Estado usa o argumento da pena como forma de
ressocialização, o alcance a uma intervenção justa deve ser primordial e prioritário
para a população feminina encarcerada com o intuito de reintegrá-las.

2.3 CAUSAS DE PERIGO RESULTANTES DO CONVÍVIO SOCIAL E ASPECTOS


CLÍNICOS PSÍQUICOS.

Mello (2018, p.48), após averiguar o caso de 287 mulheres encarceradas


na Penitenciária Feminina Madre Pelletier (RS) como embasamento para seu
mestrado em psicologia clínica, cita como o encarceramento pode afetar diretamente
no comportamento do indivíduo. Por conclusão, a psicóloga menciona que as
mulheres infratoras são seres favoráveis a possuírem experiências traumáticas, tendo
como exemplo, abusos sexuais precoces e físico.
24

O tratamento citado acima pode ser ilustrado a partir do relato abaixo, em


que uma detenta conta para o livro da escritora Nana Queiroz6, como os reflexos dos
abusos interferiram para que ela adentrasse ao mundo do crime. Safira, apelido
recebido no cárcere, foi presa por furto, após se deparar sem dinheiro e sem comida
depois de abandonar seu companheiro que abusava violentamente dela e de seu filho
(QUEIROZ, 2015, p.12-16).

Safira acabou procurando exatamente o tipo de homem que reproduzia o lar


no qual ela tinha crescido. Na primeira vez em que ele a acertou com tapa na
cara, três meses após a mudança, Safira era ainda uma menina. Como
menina, perdoou, e como mulher, insistiu na relação. Relevou as traições, as
bebedeiras, as pancadas, os sumiços, as humilhações. Refugiava-se na
infância para reconstruir o conto de fadas. Apoiava-se na força de mulher
para resistir à violência. Ia e vinha entre os dois lados de si mesma. Dois anos
depois, porém, nasceu seu primeiro filho. [...] A rotina violenta e desrespeitosa
a que sujeitava seu menino não era melhor do que a mãe lhe havia dado com
o padrasto. “Eu vou embora, não quero que meu filho seja criado da mesma
forma que eu”, disse para si mesma. (QUEIROZ, 2015, p.14)

Varella (2017), indica a relevância de levar em consideração outras três


condições de risco ao que se refere aos conhecimentos para razões de violência
urbana, além de sugerir que esses fatores se concentram dissimuladamente nas
camadas mais desajudadas da sociedade:

1. Infância Negligenciada, relativo a crianças que sofrem com maltrato


e agressões e que não ganham suporte familiar, carinho ou atenção;
2. Inexistência de orientações firmes que determinem limites a jovens;
3. Convívio com pessoas que se encontram na criminalidade.

A tabela 2 mostra algumas causas que podem estar diretamente


relacionadas a indícios deprimentes relativo ao psicólogo das mulheres presas, que
possivelmente foram estimulados quando elas ainda se encontravam em liberdade.
Tais como o abandono do lar, episódios de violação sexual ou não sexual, parentes
com adversidades psíquicas ou comprometidos com uso de elementos psicoativos
e/ou álcool.
Diante desses fatos, existe um grande percentual de mulheres que
demonstram problemas de saúde física e psicológica, com histórias ao longo da vida

6Nana Queiroz, jornalista formada pela USP, escritora do livro ‘’Presos que Menstruam’’, e que entrou
na lista de mulheres mais destacadas do UOL em 2014, e finalista do troféu ‘’Mulher Imprensa’’ em
2016.
25

de cunho suicida, e relatos de recursos terapêuticos em liberdade. (MELLO, 2018,


p.57)

Tabela 2: Características Clínicas Psicossociais

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de dados de Mello (2018).

Por conclusão, após investigar as informações coletadas, se compreende


que em sua maioria, a população carcerária feminina encontra-se na condição de
vulnerabilidade social. Seja por intermédio do ato de não se depararem em uma
organização familiar resguardada ou por experiências de violações físicas e sexuais,
tangendo que este e/ou aquele fator podem estar coligados a circunstância econômica
em que estas mulheres se encontravam antes do cárcere.

2.4 O SISTEMA PRISIONAL E O COVID-19

No atual cenário mundial, torna-se inevitável destinar um espaço desta


pesquisa para informe sobre a pandemia e o isolamento social, provocados pelo
COVID-19 no sistema carcerário. As questões geradas pelo vírus, refletem sobre a
relevância de se sensibilizar com aspectos vulneráveis, e demonstram que conciliar
estudos arquitetônicos com a saúde pode refletir um grande efeito.
Segundo Vefago (2021), a arquitetura pode ser uma peça de grande auxílio
para colaborar com a atenuação desta problemática mundial e amenizar a sobrecarga
nos sistemas públicos. Conquanto, ressalta a dificuldade em acolher, de natureza
igual, ‘’serviços públicos de qualidade para toda uma população, se uma parcela dela
está com seu espaço urbano fragilizado’’.
Como reflexo da grande rotatividade presente nas unidades prisionais e às
aglomerações provocadas pelo cárcere, a população que ali habita está submetida a
um ‘’cenário complexo’’ frente a pandemia, ressalta Bropp (2020, s.p). Ainda, segundo
26

a autora, esse fato ocorre pelo perigo provocado diante do efeito-ilha 7 resultante do
isolamento das presas.
O monitoramento da situação da Penitenciária Feminina de Piraquara
(PFP), localizada na Região Metropolitana de Curitiba, se deu através de uma parceria
entre o governo do Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que busca
entender como o vírus opera nessas circunstâncias e como tratar a situação para que
o mesmo possa ser acautelado. (BROPP, 2020)
No mês de dezembro de 2020, os pesquisadores haviam testado 36
custodiadas e 21 agentes prisionais, totalizando 57 pessoas da unidade. Número
pequeno se comparado ao quantitativo de reclusas na penitenciária. Cinco das
custodiadas apresentaram resultados positivo com sintomas brandos e baixa carga
viral. Já em comparação ao mês de maio de 2021 a PFP, registrou 12 servidores
positivados para a doença e 3 casos suspeitos que ainda aguardavam resultados de
exame (JACOMINI, 2021, s.p).
Diante dos casos, a direção da unidade determinou que houvesse a
suspenção das movimentações internas das presas e que estivesse mantido apenas
os serviços essenciais.
Para mais, como medida auxiliadora, as detentas tem produzido máscaras,
pijamas e outros itens de proteção individual visando conter a carência de EPI8 para
servidores da unidade, no combate a pandemia e ainda são retribuídas com a redução
de um dia de pena a cada três dias trabalhados.

Figura 1: Presos Costurando Figura 2: Máscaras realizadas Figura 3: Processo da Costura

pelos detentos

Fonte: Leocádio In Gov. Pr. Fonte: Leocádio In Gov. Pr. Fonte: Leocádio In Gov. Pr.

(2021, s.p). (2021, s.p). (2021, s.p).

7 Ocorre quando agentes infecciosos chegam a uma comunidade confinada, onde há muita interação
entre os habitantes, e a dinâmica de contágio é acelerada tornando todos suscetíveis.
8 Equipamentos de Proteção Individual.
27

Partindo para uma análise arquitetônica, Castilho (2020, s.p) afirma que
mesmo diante de uma firme legislação regulamentadora da imprescindibilidade
mínima de iluminação e ventilação natural, muitas penitenciárias custaram a entender
a real inevitabilidade de executar essas exigências. Diante da Covid-19, se viu
necessária uma compreensão social em atender a valorização do trabalho
arquitetônico.
O exercício de projetar e oferecer aos seus usuários um ambiente
saudável, engloba a composição espacial dos ambientes, que pode ser conivente no
combate e prevenção do coronavírus. De acordo com a Lilian Brito (2020), arquiteta e
representante do CAU/RN9 um dos alicerces para gerar penitenciárias mais
confortáveis e acima de tudo, saudáveis, é investir na arquitetura bioclimática,
prezando pela ventilação natural.

“Aproveitar as vantagens do vento, infinito, renovável e gratuito, como uma


ajuda preciosa da natureza, faz com que os ambientes e celas fiquem mais
arejados, o que é um dos aspectos apontados por especialistas como
importante para frear a propagação da COVID-19” (BRITO, 2020, s.p).

A arquiteta ainda pontua, que o arquiteto e urbanista como responsável


pela seleção de revestimentos utilizados nos acabamentos de pisos e paredes, deve
especificar materiais que possam ser higienizados com facilidade e adequadamente,
sendo essa uma função significativa no equilíbrio de contaminação da doença. ‘’A
possibilidade de limpeza de paredes, pisos, bancadas e banheiros, vidros de portas e
janelas é uma providência simples e possível de ser realizada com os materiais
domissanitários regularmente utilizados nas limpezas’’ (BRITO, 2020, s.p).
Por fim, Fernando Espinosa de Los Monteros, arquiteto e urbanista, em
entrevista para a MAPFRE (2020, s.p), garante que o uso da arquitetura saudável é
uma forte vertente no combate da covid e de outros vírus. Segundo ele, ‘’o objetivo é
oferecer espaços mais amplos, agradáveis e limpos, tanto em locais públicos quanto
nas esferas públicas e privadas’’, como por exemplo a presença de mais áreas verdes,
de espaços de descontração mais amplos e da presença de uma arquitetura mais
humana.

9 Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte.


28

3. A ARQUITETURA PRISIONAL E SUA ESPACIALIDADE COMO MEIO DE


RESSIGNIFICAÇÃO

Segundo as Regras Mínimas das Nações Unidas (ONU) para o tratamento


de reclusos, realizadas em 1955 e denominadas regras de Nelson Mandela10, os
principais ‘’objetivos de uma pena de prisão ou de qualquer outra medida restritiva da
liberdade são, prioritariamente, proteger a sociedade contra a criminalidade e reduzir
a reincidência.’’ (CNJ, 2016, p.21).
Pertencendo ao sistema prisional a função de oferecer ao indivíduo recluso
infraestruturas adequadas, condições básicas e dignidade, também é de bom tom que
esse sistema auxilie a pessoa para que esta se torne capaz de respeitar a lei e se
reverta produtivamente a favor da sociedade. Conforme o Plano Nacional de Saúde
no Sistema Penitenciário - PNSSP (BRASIL, 2004, p.10) ‘’é preciso reduzir as
diferenças entre a vida intramuros e a vida extramuros, no sentido de garantir-lhe o
acesso aos direitos civis que lhe cabem, bem como o exercício de sua cidadania.’’

As condições de confinamento em que se encontram as pessoas privadas de


liberdade são determinantes para o bem-estar físico e psíquico. Quando
recolhidas aos estabelecimentos prisionais, as pessoas trazem problemas de
saúde, vícios, bem como transtornos mentais, que são gradualmente
agravados pela precariedade das condições de moradia, alimentação e
saúde das unidades prisionais. (BRASIL, 2004, p.11)

Com base na asserção de que os indivíduos estão privados de liberdade e


não dos direitos humanos pertencentes à sua cidadania, é necessário o reforço quanto
o argumento de que pessoas presas, não importa qual a natureza da transgressão,
retem o direito de usufruir dos mais adequados padrões de saúde mental, física e
infraestruturas, além de manter todos os direitos básicos a que todas as pessoas
humanas possuem direito. (BRASIL, 2004, p.12)

3.1 BREVE HISTÓRICO: AS PRIMEIRAS PRISÕES FEMININAS NO BRASIL

A penitenciária Madre Pelletier, localizada em Porto Alegre – RS é o


primeiro presídio feminino que se tem histórico no Brasil. Foi fundada por freiras da

10Nelson Mandela foi um advogado, líder rebelde e presidente da África do Sul de 1994 a 1999,
considerado como o mais importante líder da África Negra.
29

Igreja Católica com o nome de Instituto Feminino de Readaptação Social, em 1937, e


liderado pela irmandade religiosa Congregação de Nossa Senhora da Caridade do
Bom pastor. As irmãs, mantiveram sua direção até o ano de 1981 quando passou a
ser administrada pelo Estado. (SESSA. 2020, s.p)

Figura 4: Detentas com o Uniforme da Penitenciária Figura 5: Internas Trabalhando no Presídio

Fonte: Bianchini, 2020, p 25. Fonte: Bianchini, 2020, p 26.

O cárcere funcionava como um caminho para a pretensão de adaptar não


só os atos, como também o caráter da mulher que ali adentrava, de modo que a
reeducação delineasse sua conversão para ser aceita novamente perante a
sociedade. (BIANCHINI, 2020, p.25)
Apenas a partir de 1940, com a criação do Código Penal, passam a surgir
novos presídios destinados exclusivamente para mulheres, como o Presídio de
Mulheres de São Paulo em 1941 e a Penitenciária Feminina do Distrito Federal, em
Bangu no ano de 1942. O reduzido índice numérico de mulheres réus, fundamentava
ocasionalmente a delonga de resultados para a circunstância degradante nas quais
se encontravam (SESSA. 2020, s.p).
Por fim, no ano de 2010, a penitenciária sofreu sua última grande reforma
arquitetônica, onde o Governo do Estado decidiu realizar melhorias no presídio. A
reforma arquitetônica resultou em novas celas, totalizando 64 com acomodação para
384 custodiadas, uma nova unidade de saúde e a execução de uma creche.
Segundo o Governo do Estado do RS (2010, s.p), ‘’Um dos diferenciais é o
projeto de monitoração dos agentes. A construção permite que esse
acompanhamento seja feito por cima das celas, evitando o contato direto das
apenadas com os servidores’’
30

3.2 O ATUAL SISTEMA PRISIONAL FEMININO E SUAS SINGULARIDADES

Atualmente o modelo prisional brasileiro constata sua debilidade. Segundo


o Grupo de Trabalhos Interministerial (BRASIL, 2008, p.39), com as alterações
realizadas no sistema durante toda a história se conclui que os avanços conquistados
no campo dos Direitos Humanos não têm se ponderado no sistema prisional brasileiro.
Essa certificação procede da atual conjuntura a que estão sujeitos homens
e mulheres, apenados ou não, que se deparam em cárceres superlotados e que
possuem seus direitos básicos violados de modo acentuado. Desde a desatenção a
questões essenciais como a saúde, infraestrutura básica que garanta iluminação,
salubridade, ventilação e espaços adequados, igualmente aos direitos que abrangem
uma política de reintegração social como o trabalho, a educação e a conservação de
vínculos e conexões de dependências familiares (BRASIL, 2007, p.05-06).
No caso do cárcere feminino em questão, muitas vezes as detentas são
direcionadas para prédios reformados que, em sua maioria conservam a estrutura
física antecedente, sem cumprimento das particularidades da mulher, tornando
irrefutável o fato de que a concepção das políticas penitenciárias beneficia
exclusivamente os homens. De acordo com BRASIL (2008, p.41), trata-se de edifícios
que habitualmente foram construções públicas, que no momento possuem
características relacionadas a inatividade ou interdição, muitas vezes por quesitos de
segurança ou salubridade.
Analisando abaixo o Gráfico 5, compreende-se como são classificadas as
distribuições dos encarceramentos prisionais. De todas as organizações cadastradas
segundo a População Prisional por estabelecimento fornecido pelo Infopen (2020,
p.16), as penitenciárias exclusivamente femininas correspondem a 3,60%, enquanto
12,5% dos estabelecimentos equivalem a presídios mistos, onde há tanto homens
quanto mulheres. Assim dizendo, unidades voltadas exclusivamente para mulheres,
não chegam a 10% das penitenciárias brasileiras, sendo possível pontuar que existe
a falta de infraestrutura adequada.
31

Gráfico 5: Presos por Estabelecimento

Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir dos dados Infopen 2020.

— O que eles chamam de presídios mistos são, na verdade, presídios


masculinamente mistos — opina Diniz. — Se não tem onde colocar mulheres,
as botam no castigo, ou seja, o pior lugar da cadeia. Até a estrutura dos
prédios é feita para homens. Os banheiros, por exemplo, são os chamados
“bois”, ou seja, buracos no chão. Imagine uma grávida se agachando num
lugar destes? Num presídio com trezentos homens e dez mulheres, quem
você acha que vai trabalhar e estudar? [...] Os espelhos são uma lâmina onde
elas se veem completamente deformadas. Imagine passar cinco ou seis anos
se vendo assim e sem nunca observar seu corpo inteiro? Como você vai se
imaginar? (QUEIROZ, 2015, p.74)

O Relatório sobre mulheres encarceradas no Brasil (2007), destaca ainda


outras violações que desvalorizam as particularidades de gênero dentro do cárcere:

3.2.1 Violências, Maus tratos e Agressões:


A Violência organizacional realizada por agentes é regularmente confessa
por mulheres nas organizações civis que possuem acesso. No cárcere feminino,
torturas individuais acontecem com mais frequência do que agressões coletivas
(BRASIL, 2007, p.93).
A tortura física e psicológica é amplamente efetuada por meio do abuso
sexual, singularmente nas penitenciárias com caráter misto, onde na grande maioria
dos casos, os funcionários são majoritariamente homens (BRASIL, 2007, p.93).
Lima e Silva (2020) citam que existem exemplos de mulheres que sofrem
com agressões menos óbvias, como o tratamento brusco no caminho do cárcere, até
agressões de grande problemática psicológica, como serem obrigadas a parir
algemadas.

Quando a polícia finalmente pôs as mãos em Gardênia, ela estava já com a


gravidez avançada. Não que isso, em momento algum, tenha lhe rendido
tratamento especial. Quando foi detida, Gardênia foi jogada com violência
dentro da viatura e teve uma bolsa pesada atirada contra sua barriga.
— Aiiii!
— Tá reclamando do quê? Isso é só outro vagabundinho que vem vindo no
mundo aí!
32

Quatro dias depois de chegar à delegacia, a pressão emocional e as más


condições adiantaram o parto em dois meses. Começou a sentir as
contrações e pedir ajuda, mas os policiais alegaram que não havia viatura
disponível para levá-la ao hospital. (QUEIROZ, 2015, p.41)

3.2.2 Violência Sexual:


As mulheres encarceradas também estão submetidas a violência sexual
cometida tanto por presos do sexo masculino, dentro das penitenciárias mistas,
quanto por funcionários das próprias instituições (BRASIL, 2007, p.93).
Muitas vezes são convencidas a manterem relações sexuais como
permuta, revertidas em regalias e acabam não denunciando seu agressor por não
captarem que o sexo coagido como moeda de troca é crime, além de possuírem medo
(BRASIL, 2007, p.94).

[...] eu fico pensando uma coisa: quando os carcereiros e guardas são


homens, não são comuns casos de estupro?
— Forçar o sexo com violência física mesmo, não, eles não precisam disso
porque existe a troca de regalias.
— Como assim?
— A presa pode até ter relações sexuais com o policial, mas ela ganha com
isso. Na cabeça dela, ela não está sendo forçada, ela está tirando benefício.
Por exemplo: num presídio que a gente visitou não tinha guarda feminina, só
homem. E quem ficava na sala deles fazendo trabalhos era uma presa. Ela
tinha seus benefícios, como acesso à internet e até jogos de computador. Eu
imagino que ela tinha relação com os carcereiros, mas, para ela, ela que
optou por isso, não foi obrigada. (QUEIROZ, 2015, p.138)

3.2.3 Acesso a produtos de higiene:

De acordo com Queiroz, em entrevista para o site Terra em entrevista


conduzida pela Paolieri e pelo Machado (2015, s.p), algumas penitenciárias
disponibilizam para as presas um ‘’kit’’ mensal básico que é composto por produtos
essenciais para a higiene pessoal como pasta de dentes, papel higiênico,
absorventes, shampoo, entre outros.
Entretanto, estes itens acabam não durando o tempo de 30 a 45 dias
estipulado pelo sistema. Itens de higiene pessoal são caracterizados como
responsabilidade da própria detenta, portanto, a mulher depende daquilo que a família
trás nas visitas, para complemento dos produtos mensais. (PAOLIERI; MACHADO,
2015, s.p)
33

Contudo, como citado anteriormente, é extremamente comum que essas


presas sejam abandonadas pelos entes após adentrarem no cárcere, ficando a
mercês de suprimentos básicos.

Em geral, cada mulher recebe por mês dois papéis higiênicos (o que pode
ser suficiente para um homem, mas jamais para uma mulher, que o usa para
duas necessidades distintas) e dois pacotes com oito absorventes cada. Ou
seja, uma mulher com um período menstrual de quatro dias tem que se virar
com dois absorventes ao dia; uma mulher com um período de cinco, com
menos que isso. [...] Itens de higiene se tornam mercadoria de troca para
quem não tem visita. Algumas fazem faxina, lavam roupa ou oferecem
serviços de manicure para barganhar xampu, absorvente, sabão e peças de
roupa (QUEIROZ, 2015, p.103)

Brasil (2007, p.26) ainda cita que ‘’há notícias de que aquelas que não têm
família ou amigas que possam ceder o produto, passam todo o mês acumulando miolo
de pão para improvisar absorventes durante o período menstrual’’. Essa informação
também foi confessa por presidiárias durante as entrevistas realizadas por Queiroz
para seu livro ‘’Presos Que Menstruam’’ (2015), comprovando a falta de oferecimento
adequado para cuidados íntimos.

Figura 6: Absorvente Interno Feito do Miolo de Pão Figura 7: Jornal Utilizado como Papel Higiênico

Fonte: Portal Géledes, 2016. s.p Fonte: Portal Géledes, 2016. s.p

3.3 A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA E SUA ESPACIALIDADE NO


COMPORTAMENTO E NA RECUPERAÇÃO PSICOLOGICA DO INDIVÍDUO

De acordo com Cambria (2018, p.48), dentre muitos conceitos a serem


citados, que contribuam para a ressocialização do indivíduo, a arquitetura possui um
peso considerável a ser investigado, incluindo a sua implantação, seu volume, a
relação dentro e extramuros, as formas como a iluminação e a ventilação percorrem
os espaços, e a utilização de materiais e vegetações.
34

A arquitetura dispõe da competência de transmitir diversas sensações e


se relacionar diretamente com o psicológico do indivíduo que habita o cárcere. De
acordo com Batista (2016, p.12), desde o início dos estudos relacionados a tipologias
arquitetônicas voltadas para unidades penais, soluções e diretrizes orientam a
edificação a salientar a segurança do funcionário em primeiro lugar, e a impossibilitar
a fuga do indivíduo recluso. Mas poucas vezes, direcionam o olhar para a influência
que o espaço possui sobre a pessoa que o utiliza.
Seja por meio de materiais ou até mesmo dimensões mínimas para cada
cômodo, fluxos e relações do encarcerado com seu entorno, a arquitetura consegue
ressaltar a influência que o espaço possui e a forma como ele pode refletir
positivamente no comportamento do indivíduo penado. De certa maneira o projeto
precisa combater o martírio dos custodiados, e a submissão a ambientes indignos que
o afetem psicologicamente e socialmente, e por consequência dificultem o retorno
para a sociedade. (BATISTA, 2016, p.18)

A arquitetura vai além do abrigo das necessidades e atividades e, no meu


entender, seria um meio de fornecer e desenvolver o equilíbrio, a harmonia,
e a evolução espiritual do homem atendendo as suas aspirações,
acalentando os seus sonhos, instigando as emoções de se sentir vivo [...]
(OKAMOTO, p.15, 2002 apud BATISTA, 2016, p.15)

Segundo as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal (MINISTÉRIO DA


JUSTIÇA, 2011, p. 27) “A princípio, todos os partidos arquitetônicos são aceitáveis,
mas terão que ser comprovadas medidas que prevejam funcionalidade, segurança,
conforto e impacto ambientais”.
Em outros termos, desde que se cumpra as diretrizes recomendadas,
existe a possibilidade de o trabalho arquitetônico possuir suas singularidades criativas,
alcançando um equilíbrio entre, funcionalidade, conforto, dignidade, segurança e ‘’n’’
outros aspectos. A procura para que estes equilíbrios existam dentro da unidade
prisional, propende resultar a forma, a edificação e a relação do usuário com o escopo
do estabelecimento. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2011, p. 27)
Segundo Batista (2016, p.15) tendo por definida a relevância da arquitetura
quando equiparada ao desenvolvimento pessoal do indivíduo, se torna capaz
fundamentar as adversidades contemporâneas relacionadas as penitenciárias. As
edificações penais ineficazes, em sua grande generalidade, nada transmitem aos
seus usuários durante seu papel de agenciador ativo, perdendo seu propósito no que
concerne o progresso pessoal e social dos indivíduos ali presentes.
35

A todo momento, existe um tipo de leitura sendo realizada sobre o espaço


através dos nossos sentidos. Mesmo quando algumas indicações não possuem
caráter tão manifesto e pontuais, ainda existe um trabalho da nossa percepção como
pessoa tangendo a compreensão com o espaço. (BATISTA, 2016, p.15).
Então, Batista (2016, p.15) explica, que quando aplicado a neuro-
arquitetura11 a sistemas prisionais, compreende-se como o ambiente tende a
manipular diretamente o comportamento daqueles que ali habitam. Em outras
palavras, se as presas possuem um recinto considerado hostil, a predisposição ao
incômodo, a negatividade e a transtornos psicológicos, acabam por se tornar
sentimentos assíduos.
Ainda, segundo Okamoto (2002, p.108), a neuro-arquitetura está
interligada, diretamente com doze sentidos distribuídos no seguinte processo:
1. Sentir: Visão – Olfato – Paladar – Térmico.
São as sintonias resultantes entre o interior e o exterior.
2. Querer: Tato - Orgânico – Cinestésico – Equilíbrio.
Fornece a sensação resultante do nosso eu ao estabelecer relação com o mundo.
3. Pensar: Audição – Linguagem – Pensamento – Eu.
Gera a sensação do mundo quando nos estabelecemos com nosso eu
interior.
Posto isto, pode-se fundamentar que o espaço nesses sentidos, se mostra
um conjunto de aspectos que possibilitem e que expressem quais fragmentos das
mulheres em cárcere, necessitam ser exaltados, visto que, seus resultados possuem
papel relevante na realização social destas presas após sua pena.
Por fim, Varella (2011), cita que a deterioração da paisagem, seja urbana,
ou arquitetônica, pode ser um fator que ocasione a criminalidade. Resultados
analisados após estudos, mostram que quando associada a inconsistência do espaço
prisional em relação a resposta humana, atos de violência e transgressões, foram
associadas diretamente com o ambiente e seu entorno como impulsor direto
comportamental.
Em contrapartida, se conclui que espaços positivos e bem cuidados,
possuem influência direta na perspectiva do bom comportamento individual, sendo
muito relevante no contexto aqui investigado. (BATISTA, 2016, p.16)

11 Neuro-arquitetura é a ciência que estuda os impactos do ambiente nas pessoas.


36

Os seres humanos não suportam viver em permanente estado de ansiedade.


Necessitam manter uma sensação de controle, não importa quão ilusória
possa ser. Para além da positividade do espaço arquitetônico, temos também
a ‘’individualidade’’, mesmo dentro de um ambiente no qual é complexo
manter essa característica, já que o local não provê circunstâncias ideais [...]
(BATISTA, 2016, p.16.)

3.4 O ESPAÇO FÍSICO DE UNIDADES PRISIONAIS

As Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal, fornecidas pelo Ministério da


Justiça (BRASIL, 2011, p.45), garantem que na elaboração de projetos arquitetônicos,
deve-se considerar a particularidade do estabelecimento e o tratamento que será
oferecido por meio dele. Mas que ainda assim, existe uma previsão, de acordo com o
uso, para auxílio da realização do programa de necessidades, atendendo quando
necessário, as seguintes atividades:

Quadro 1: Ambientes a serem Atendidos em Projetos para Estabelecimentos Penais.

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir dos dados das Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal
(2011).

Ainda, existe a necessidade de observação quanto aos acessos para


veículos e pedestres, que obrigatoriamente necessitam ser únicos, por meio de um
portal e por intermédio de vistoria com a intensão de prever um maior controle de
entrada e saída de indivíduos (BRASIL, 2011, p.36).
A observação da topografia local e do terreno escolhido, bem como a
orientação da implantação são considerados pontos cruciais para o desenvolvimento
do projeto segundo as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal.
Igualmente relevante, deve-se atentar ao impacto que a insolação, a
ventilação natural e as condições climáticas causarão na edificação, tangendo as
singularidades quanto á aeração, iluminação, conforto, manutenção, garantindo o
grau de segurança necessário que a unidade precisa apresentar e oferecendo uma
arquitetura humanizada para o indivíduo que irá usufruir do estabelecimento.
(BRASIL, 2011, p.27).
37

Figura 8: Cela Humanizada. Figura 9: Área externa com vegetação.

Fonte: Conexão Jornalismo (2014). Fonte: Conexão Jornalismo (2014).

Como recomendações gerais que têm em vista, amparar o partido


arquitetônico a ser desenvolvido no projeto, entre outros critérios se preconiza
(BRASIL, 2011, p.28):
• Fazer uso de áreas verdes, visando a humanizar o ambiente diário da pessoa
presa sem deixar de lado as particularidades relacionadas à segurança. Estas
áreas verdes podem ser as áreas utilizadas para a permeabilidade do terreno;
• Considerar como unidade de vivência as alas celulares, que, além das celas,
devem contar com áreas para lazer diário, refeitório e pátio; esta medida, além
de organizar melhor os fluxos internos no estabelecimento, permite uma melhor
seleção de pessoas presas segundo sua categoria;
• Evitar sobrecarregar e superpor fluxos nas escadas e circulações por onde
transitem pessoas presas;
• Evitar o uso de subsolos, por uma questão de salubridade. Caso sejam usados,
destinar neles as áreas de serviços, desde que atendam a critérios de aeração,
salubridade, iluminação natural, entradas e saídas de emergência acessíveis;
• Ter em conta um cuidado especial na escolha de elementos de composição e
de fachada, devido à possibilidade de utilização deles como esconderijos para
pessoas ou objetos.
Por fim, para preservar a ordem no estabelecimento, bem como sustentar
que tanjam projetos com espaços salubres e humanos de acordo com as orientações
da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), seguir as diretrizes que auxiliam na
elaboração e execução dos critérios mínimos para penitenciárias, determina o
funcionamento adequado do empreendimento e consequentemente certifica a
segurança mínima exigida, fazendo assim a diferença no dia a dia das presas.
38

4. A RESSOCIALIZAÇÃO COMO COMBATE NA REINCIDÊNCIA DAS


PRESIDIÁRIAS

Desde os primórdios no que se refere a edificações prisionais, existe o


anseio de evolução quanto a questão de humanização dentro do cárcere. Diante desta
avidez, muito debate-se sobre a questão ressocializadora e sua procura em auxiliar
na recuperação do penado ao invés de puni-lo.
Segundo Machado (2018, p.17-18), a arquitetura pode influenciar de forma
positiva neste processo, tratando-se de edificar ambientes que verdadeiramente
atendam às necessidades mínimas relacionadas a questões físicas, psicológica,
higiênica e sociais, garantidas de acordo com a Lei de execução penal. Entretanto, a
autora ressalta que atualmente no Brasil, são ínfimas as unidades de custódia que
efetivamente oferecem serviços com o desígnio de ressocializar e reintegrar o
indivíduo na sociedade. (MACHADO, 2018, p.14).
A finalidade da função ressocializadora como pena privativa de liberdade
consiste no propósito de reintegrar o indivíduo à sociedade. Não por acaso, as normas
mais gerais do segmento estão contidas na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984,
denominada como Lei de Execução Penal, e que visa segundo o Art. 10, não só dar
cumprimento à sentença judicial, mas também promover a reinserção social da
pessoa (BRASIL, 1984, s.p). Essa assistência segundo Art. 11, ‘’tende a ser material,
à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa’’ (BRASIL, 1984, s.p), como sugerem
as Regras do Mandela disponibilizadas pelo CNJ.

4.1 PROGRAMAS DE APOIO EXISTENTES PARA RESSOCIALIZAÇÃO

Na atualidade, já se encontram ofertas para programas de apoio que


amparam a busca ao ato de recivilizar o público das penitenciárias. Entretanto, ainda
muito se pesquisa em relação ao que o espaço precisa oferecer para que este
tratamento realmente seja efetivo.
Quando relacionado esse programa a unidades penitenciárias femininas, a
problemática se amplifica, visto que, mulheres possuem quesitos únicos a serem
enfrentados, como por exemplo a maternidade. Machado (2018, p.14) afirma, que
ceder oportunidades de tratamentos, não tem por significado considerá-las doentes,
visto que para este caso existem as possibilidades de hospitais de custódias, mas sim,
39

para compreender que a maneira como são tratadas no cárcere, possui peso na
contribuição do futuro destas mulheres, seja de forma negativa ou positiva.
Dentre os programas já existentes no Brasil, podem ser destacados por
exemplo, as APACs, Programa Começar de Novo e o Programa Mãos Amigas,
discorridos abaixo para auxílio na investigação.

4.1.1 APAC – (Associação de Proteção de Assistência aos Condenados)

Com o objetivo de proporcionar a humanização das custódias, e reforçando


a importância da ressocialização, o método da Associação de Proteção e Assistência
aos Condenados (APAC), transmite a ideologia de disseminar valores considerados
éticos e morais por intermédio da educação e da profissionalização do condenado,
sucedendo uma interferência psicológica e social (CARVALHO, CASTILHO. 2019,
s.p).
Carvalho e Castilho (2019), explicam que concebidas de forma alicerçada
pela sociedade, as APACs são entidades civis de Direito Privado, assídua à
reintegração e recuperação do indivíduo, praticando como auxiliares dos Poderes
Judiciário e Executivo. Ainda, ressaltam que a grande distinção entre o sistema
carcerário comum e a APAC, é que esse último investe para que os próprios presos,
que dentro do programa são denominados como recuperandos, sejam responsáveis
pela sua própria regeneração através de assistências prestadas pela sociedade.
Com índices de reincidência em 15% contra 85% do sistema prisional
convencional (G1, 2021, s.p), as APACs ainda auxiliam para que os recuperandos
possam realizar diversos trabalhos, bem como frequentar cursos supletivos e
profissionalizantes. Por fim, o comprometimento da família, a disciplina consistente,
a valorização humana e o respeito mútuo entre penados e colaboradores da unidade,
são fatores de extrema magnitude para o desempenho final e para a diferenciação
entre o método e o sistema comum.

Figura 10: APAC. Frase de Estímulo

Fonte: Nogueira In Jornal O Papel, 2019, s.p


40

4.1.2 Programa Começar de Novo

Criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Programa Começar de


Novo tem por iniciativa cadastrar empresas que aceitem fornecer postos de serviços,
bem como cursos de capacitações profissionais para egressos do sistema carcerário
em troca de incentivos fiscais. (CAMBRIA, 2018, p. 28)
Por meio do portal de oportunidades, onde as empresas anunciam as
oportunidades disponíveis para o público, localizado no site do CNJ, as vagas podem
ser consultadas. O slogan do programa federal ‘’Quem já pagou pelo que fez, merece
a chance de Começar de Novo’’, segundo Cambria (2018, p.28) tem por finalidade
atingir de forma sentimental e resultar na aceitação da sociedade.
Por fim, o CNJ (s.d, s.p) também produziu e fornece, duas cartilhas
denominadas ‘’Cartilha da Pessoa Presa’’ e ‘’Cartilha da Mulher Presa’’ que possuem
o objetivo de auxiliar perante os direitos e deveres deste cidadão diante questões
como habeas corpus12, composição de petições simplificadas de requerimentos para
benefícios, além de conselhos e esclarecimentos sobre deveres e garantias que os
penados possuem.

4.1.3 Programa Mãos Amigas

A parceria entre a Fundepar13, o DEPEN, a Secretaria de Estado da


Segurança Pública e o Paraná educação, resultou no programa denominado ‘’Mãos
Amigas’’. Este, por sua vez, atua como dispositivo de ressocialização e reintegração
dos custodiados em regime semiaberto, por meio da utilização de suas mãos de obra.
(DENK, 2021, s.p)
Denk (2021) ainda afirma, que desde o início do programa, mais de 500
intervenções ocorreram em prédios escolares e públicos, visto que, o programa tem
por finalidade realizar reparos e pinturas em unidades institucionais. Como forma de
recompensa, o custodiado reduz o tempo no sistema prisional conforme a quantidade
de dias trabalhados.

12 Ação judicial com o objetivo de proteger o direito de liberdade por ato abusivo de autoridade.
13 Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional
41

Figura 11: Programa Mãos Amigas

Fonte: Fundepar, s.d, s.p

Por fim, no ano de 2019, o programa chegou a receber o certificado de


responsabilidade social pelo trabalho prisional. O selo é conferido pelo DEPEN e
transmite resultados otimistas, visto que, mais de 600 indivíduos já participaram do
programa, e até o momento da reportagem, o índice de reincidência era zero. (DENK,
2021, s.p)

4.2 A RELEVÂNCIA E OS MEIOS DE RESSOCIALIZAÇÃO

Mesmo diante de diversos estudos que comprovam que a ressocialização


de detentos oferta mais vantagens e benefícios do que infortúnios para a sociedade,
a resistência e o desafio quanto a reformulação do sistema carcerário que a
reintegração social promove dificultando aceitação geral do governo e da sociedade,
segundo Gomes. (2019, s.p)
Com o intuito de reeducar as pessoas privadas de liberdade, Gomes (2019,
s.p) ainda estende seu raciocínio para o ator otimista de assistir que a detenta possua
algum tipo de posição em relação a redução de pena e conseguir, se retirar do cárcere
com habilidades que possibilitarão alguma renda e consequentemente a independia
social.
Machado (2018, p.13), ainda pontua que a ressocialização protege e
ajuda na garantia a dignidade, auxiliando o indivíduo para um retorno a sociedade, de
forma a se sentir pertencente e digno ao espaço, como uma pessoa melhor e que
além de pagar pelos seus erros, também optou por mudar e realizar um novo
panorama para sua vida, retornando assim com mais entusiasmo à sociedade e tendo
um índice de reincidência quase inexistente.

Por fim, existem diversas maneiras, atividades e tipos de tratamentos


capazes de auxiliarem para este fim. Abaixo, no Quadro 02, pode-se observar
alguns pontos relacionados as atividades com viés ressocializador e como a
42

arquitetura pode interferir nestes espaços. Geralmente, estas atividades são


compenetradas para a qualificação e tratamento das custodiadas, aspirando que
estejam aptas a retornarem para a sociedade habitadas em alguma colocação
profissional, social ou pessoal.

Quadro 2: Atividades Ressocializadoras e a Arquitetura como Auxiliadora

Atividades O que é Como a Arquitetura Interfere


Os cursos profissionalizantes podem ser O projeto arquitetônico pode auxiliar
feitos em parceria com empresas ou até considerando os espaços com
mesmo fornecida pela própria instituição, equipamentos e infraestruturas adequadas,
onde as penadas recebem a oportunidade ventilação cruzada favorecendo o conforto
Cursos Profissionalizantes de conhecer e se afeiçoarem a um novo térmico, a disposição do ambiente, de tal
serviço, como cabeleireira, confeiteira, maneira que a planta comporte de forma
design de moda, entre outros, para espaçada as custodiadas, bem como
possibilitar uma fonte de renda após a oferecendo uma amostra daquilo que
conclusão da pena. encontraram fora da prisão.
Bem como os cursos profissionalizantes, as
oficinas possuem caráter de auxílio para
fornecimento de oportunidades como Galpões ou salas para atividades em grupo
Oficinas medidas ressocializadoras. Podem ser podem surtir bons efeitos no que diz a
fornecidas por algum indivíduo que se referência arquitetônica. Utilização de
compadeça com a causa ou até mesmo por iluminação adequada, para transmitir
empresas parceiras, como por exemplo, sensação de clareza e segurança.
oficina de música, de crochê, leitura etc.
Disposição de salas de aula que remetam o
indivíduo ao contato próximo e igual para
com aquele que está à frente da ministração.
Uma das diversas formas de realizar uma Auxiliar em salas com espaços ergonômicos
ressocialização, é através do oferecimento corretos, e até arriscar composições de
Aulas de Ensino Básico de aulas de ensino fundamental e médio, plantas orgânicas para oferecer
para aquelas que por alguma circunstância interatividade, bem como com a utilização
não conseguiram concluir os estudos fora do positiva da tecnologia por meio de salas de
cárcere. informática, com acabamentos adequados e
que facilitem a manutenção destes
ambientes no dia a dia.

Atividades como meditação, alongamentos e Como um espaço de relaxamento, neste


massagens, podem ser um grande aliado no caso, a arquitetura pode apropriar-se da
que se diz respeito a ressocialização. Visto biofilia. Dispor espaços de contemplação em
que, esta é uma alternativa para o meios a áreas verdes, bem como uma sala
Meditação autoconhecimento, e para conexão com o para utilização conjunta com a possibilidade
próprio íntimo, acaba por refletir de forma de introdução de espaços destinados a
positiva sobre questões como a não prática massagens ou até mesmo técnicas de
violenta e agressiva. relaxamento. Verificar a cromoterapia como
aliada para bons resultados.
Por fim, é importante compreender as Um consultório de ofereça infraestrutura
motivações, contextos sociais e de vidas, e para comportar e receber essas mulheres,
estímulos pessoais que estes indivíduos com uma sala ampla e que ofereça
Auxílio Psicológico sofrem, para que, com a ajuda de um segurança para se sentirem confortáveis a
profissional, essas presas se sintam compartilhar, tirando partido da influência
novamente pertencente a uma sociedade, das áreas verdes e da cromoterapia como
família etc. auxiliador psicológico.
Fonte: Gomes (2019, s.p), alterada pela autora.

4.3 A ARQUITETURA NA HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS.

A humanização espacial relacionada a arquitetura penal, possui como


potencialidades características lincadas a segurança, visto que, segundo Lima e Lima
(2016, p.141) ‘’o caráter opressor do espaço não auxilia na reinserção social do
indivíduo, sendo necessário encontrar soluções que amenizem o sentimento de
aprisionamento fazendo-se cumprir, também, o papel punitivo deste ambiente.’’
43

Enquanto proposta inclusiva, de acordo com Moro; Tomich e Hipólito (2015)


é essencial que a veracidade carcerária deve aproximar-se das características
relacionadas a sociedade externa, bem como a arquitetura precisa moldar-se a um
ambiente que favoreça um sistema progressivo de penas, mesmo que fundamentado
no ‘’desenvolvimento pessoal e comportamental do indivíduo, graduando assim, seus
níveis de liberdade’’ (MORO; TOMICH E HIPÓLITO, 2015, s.p).
Aliada com relacionado a arquitetura, Luciano (2019, p.36) conta que uma
grandes aliados da arquitetura humanitária são a utilização de fatores como a
Psiconeuroimunologia (PIN) ‘’área da saúde que alia, arte e ciência com o intuito de
promover, um ambiente agradável ao ser humano.’’, o Conforto Ambiental e por fim a
Arquitetura Modular.

4.3.1 Psiconeuroimunologia e Conforto Ambiental e Arquitetura Modular

A PIN é uma área da medicina e psicologia moderna que auxilia na


percepção das emoções ligadas à fisionomia do corpo, bem como, tem por incitação
sensorial seis elementos: cor, som, luz, aroma, textura e forma. (LUCIANO, 2019,
p.36).
As cores, estão de modo direto relacionadas ao bem-estar e assimilação
do entorno. Luciano (2019, p.37) completa com o raciocínio de que de certo modo as
cores são eficientes quanto ao fato de interferir, seja de maneira positiva ou negativa
nas emoções das presas. Silva (2019) relata um estudo realizado na suíça, que conta
com celas consideradas especiais e que são inteiramente pintadas com um rosa
denominado Cool Down Pink e possui um fator extremamente relevante de acalmar
os detentos com comportamentos classificados como agressivos.

Figura 12: Celas Cor de Rosa Figura 13: Acesso Cela Figura 14: Corredor Celas

Fonte: Stehli. 2017. Fonte: Stehli. 2017. Fonte: Stehli. 2017.


44

Demais cores também podem ser classificadas em relação a questão


psicológica. Categorizadas como quentes ou frias, as percepções podem ser bem
distintas. Enquanto as cores quentes traduzem a sensação de proximidade e calor,
há quem afirme segundo estudos que as frias, criam uma distância, bem como
transmitem a sensação de algo frio, úmido (LUCIANO, 2018. p. 37).
Outro fato interessante quando a PIN é o fato de os aromas também
cooperarem quanto a percepção diante o ambiente e por se tratar de um sentido
silencioso, influenciar demais áreas da mente e do corpo. Isso porque, “aromas
desagradáveis aceleram a respiração e o batimento cardíaco, os cheiros agradáveis
reduzem o estresse” (HOREVICZ;CUNTO, 2007. p.21). Se tornando assim, uma
opção positiva integrar no plano de necessidades jardins sensoriais, bem como hortas
para utilização mútua como forma de ressocialização e com caráter psicológico.
Conforme a Anvisa (2014, p.22), algumas soluções referentes a conforto
ambiental e térmico, bem como resoluções sustentáveis em projetos arquitetônicos
estão diretamente relacionados a utilização de ventilação cruzada, iluminação natural,
espelhos d’água, utilização de áreas verdes, bem como telhados e energia solar.
Vale ressaltar que o conforto ambiental é um conjunto das percepções de
conforto térmico, conforto acústico e conforto luminotécnico. Abaixo, estão citados,
alguns pontos que fazem a diferença quando utilizadas em projetos arquitetônicos.
(ANVISA, 2014, p.23).

1. Uso da ventilação natural para reduzir a temperatura dos ambientes


internos.
2. Uso da captação da energia solar para aquecimento da água e sua
utilização como fonte de energia elétrica.
3. Utilização de telhados verdes para atenuar o impacto térmico nos espaços
interiores.
4. Uso do brise soleil (quebra-sol) para reduzir o calor interno.
5. Aplicação de soluções paisagísticas para reduzir os ruídos periféricos e
atenuar o calor em fachadas muito ensolaradas.
6. Em climas quentes/secos é recomendada a utilização de espelhos d’água
(piscinas, lagos, chafarizes etc.) como atenuado res da temperatura radiante.

No entanto, devem ser adotados alguns cuidados para que a água não
facilite a proliferação de vetores, em especial os mosquitos.
De acordo com a necessidade do projeto, e com a intenção que o
profissional pretende atingir, as soluções acimas citas, podem oferecer aspectos de
conforto a fim de garantir uma melhor qualidade nos ambientes dispostos no
loteamento.
45

5. ESTUDOS DE CASO

Os estudos de caso possuem por características, evidenciar recursos e


estratégias empregada por demais arquitetos ou engenheiros, com o objetivo de
solucionar problemáticas similares aos apontados anteriormente para a edificação em
questão, a unidade de progressão feminina.
Neste capítulo, serão discorridas três análises com o propósito de auxiliar
na composição de diretrizes de projeto. Sendo a primeira delas, a Internacional da
Prisão de Segurança Mínima de Nanterre que relaciona a arquitetura penitenciária e
a cidade através da sua localização e da sua fachada fluída que substitui os muros
altos.
A segunda análise, Nacional da APAC Santa Luzia, que foi escolhida por
ser uma unidade de ressocialização com parâmetros humanitários e que além de
possuir infraestrutura de atividade, tornando seu programa mais completo, também é
bem representada pela utilização de materiais e vegetações.
E por fim, a terceira obra que se trata do estudo Local do Centro de
Integração Social Piraquara, considerado o cárcere com maior representação no
sistema penitenciário local por ter sido concebido com todos os requisitos pré-
determinados pela lei e pelas Diretrizes Penais.

5.1 INTERNACIONAL – PRISÃO DE SEGURANÇA MÍNIMA – NANTERRE

A ideia do projeto da Prisão de Segurança Mínima em Nanterre na França,


é reunir dois programas que acolhem públicos distintos. O Distrito de Semiliberdade
(CSL) tem por função permitir que um custodiado seja beneficiado com um regime
considerado especial de detenção, autorizando que ele possa deixar o
empreendimento para se dedicar inteiramente a um projeto de reintegração que
possui por destinação o auxílio do indivíduo, para que não haja risco de reincidência.
(GONZALVO, 2011, s.p)
Em contrapartida, o Serviço Penitenciário de Inserção e Liberdade
condicional do Hauts-de-Siene (SPIP), possui sua sede no projeto para com o
desígnio de auxiliar nos cuidados das pessoas que foram determinados a possuírem
vigilância judicial. (GONZALVO, 2011, s.p)
46

Localizado na esquina das ruas Boulevard du Général Leclerc, com


numeração 92000 e Rua das Acacias, o edifício está implantado em uma zona urbana
composta de casas, grandes propriedades dos anos 60 e alguns edifícios industriais.

Figura 15: Localização Europa, França e Nanterre

Fonte: A autora. (2021).

Implantada de forma que a composição de volumes resulte na composição


da consoante L, o projeto conta com 4.350m², foi concluído em 2019 e realizado pelo
escritório LAN Architecture. Posicionado em uma localização estratégica, a frente do
prédio ficou destinada ao programa CSL, enquanto a área destinada a SPIP, se
posiciona no coração do loteamento.
Seu entorno conta com muitas vegetações e por se tratar de uma
localização com âmbito residencial, tem por característica uma área tranquila. Com a
insolação da manhã e da tarde abraçando todo o edifício, a o vazio provocado pela
abertura da fachada, auxilia para que os ventos percorram por toda edificação e seus
fechamentos, renovando o ar a todo momento e controlando o conforto térmico em
toda unidade.

Figura 16: Implantação e Entorno Figura 17: Estudo de Insolação e Ventos

Fonte: Google Maps (2021, s.p). Fonte: SunCalc (2021, s.p).

Alterado pela autora. Alterado pela autora.


47

A arquitetura do projeto transmite traços pertinentes, visto a presença que


causa na região devido sua grande volumetria em forma de caixa. A única
descontinuação do volume está no rasgo central realizado na entrada da fachada sul,
deixando a volumetria mais fluida e ao mesmo tempo oferecendo uma identidade forte
e coesa.
Os volumes se compõem de tal maneira que mesmo sendo independentes
durante o cotidiano, consumam uma fronteira sólida e natural, protegendo os
custodiados de qualquer comunicação auditiva ou visual com o exterior.

Figura 18: Isométrica SPM Figura 19: Blocos de Setorização SPM

Fonte: Gonzalvo in Beta Architecture, 2011, s.p. Fonte: Gonzalvo in Beta Architecture, 2011, s.p.

Alterado pela autora. Alterado pela autora.

A concepção das plantas fora dividida em 3 pavimentos sendo eles


nomeados respectivamente por R+1, R+2 e R+3. O primeiro pavimento, conta por
receber toda a parte de salas de ações, bem como camarotes, enquanto o segundo e
terceiro pavimento abrigam as áreas administrativas e gerenciais da unidade.
O controle a partir da entrada do estabelecimento foi organizada de
maneira que facilitasse a organização e acesso as diferentes áreas da prisão.
Taticamente inserido, ele possui uma observação direta para o pátio de recepção que
realiza toda triagem e acesso para os demais ambientes do projeto.

Figura 20: Planta do primeiro, segundo e terceiro pavimento da SPM, respectivamente.

Fonte: Gonzalvo in Beta Architecture, 2011, s.p. Alterado pela autora.


48

Localizado no primeiro e no segundo pavimento, o núcleo destinado ao


espaço dos detentos, abriga 89 celas, divididas entre individuais e para duplas, que
chegam a acomodar até 92 presos e contam com amplas circulações de ar e
iluminação. São acessadas diretamente por meio de largas passarelas e possuem
vistas para o pátio central e seus jardins, sem nenhuma interrupção visual em frente.

Figura 21: Cela Individual e Cela dupla, respectivamente.

Fonte: Gonzalvo in Beta Architecture, 2011, s.p. Alterado pela autora.

Os núcleos de circulação vertical, destacados na imagem abaixo, ocorrem


por intermédio de escadas e elevadores dispostos por todo projeto arquitetônico. A
cobertura da edificação abriga áreas recreativas e porções de jardins e este último,
por sua vez, também se encontra em diversos outros níveis do projeto, distribuídos de
forma pontuais. No primeiro pavimento, por fim, existe uma mancha verde que recebe
a praça pública que ali existe.

Figura 22: Cortes da SPM

Fonte: Gonzalvo in Beta Architecture, 2011, s.p. Alterado pela autora.

As áreas sociais em espaço aberto para os presos, oferecem equipamentos


com quadras de handebol e basquete, e estão inseridas dentro do bloco central, sendo
acessíveis somente pela área de recepção monitorada. Os pisos são tratados com
pinturas realizadas em cores pastéis transmitindo sensações de serenidade e
pacificador.
49

Os jardins fornecem uma área verde reconfortante para os prisioneiros,


mas também auxiliam no conforto ambiental, deixando as áreas sempre úmidas.
Ainda, os presos contam com uma horta complementar que é gerenciada pelos
próprios serviços deles.

Figura 23: Quadra SPM Figura 24: Circulação SPM Figura 25: Jardins SPM

Fonte: LAN, 2011, s.p. Fonte: LAN, 2011, s.p. Fonte: LAN, 2011, s.p.

For fim, a fachada é composta por uma tela estrutural em betão, e painéis
de chapa perfurada que remetem o acabamento do Corten. O aço perfurado que
circunda todo o perímetro da edificação possui atuação de filtragem visual e adiciona
uma forte identificação para a plástica arquitetônica, além de transmitir um jogo de
sobreposições, profundidade e transparência.
Ainda, este elemento coopera em relação a incidência solar e culmina na
adequação do isolamento térmico. As janelas de correr, contam com o fato de os
painéis abrirem graças a um sistema de persianas giratórias, permitindo a incidência
direta da luz. As fachadas internas, são preparadas com elementos pré-fabricados e
que oferecem coberturas robustas, e autolimpantes.

Figura 26: Fachada Principal Figura 27: Revestimento Figura 28: Fachada Lateral

SPM Interno SPM SPM

Fonte: LAN (2011, s.p) Fonte: LAN (2011, s.p) Fonte: LAN, 2011, s.p.
50

5.2 NACIONAL – APAC SANTA LUZIA - MINAS GERAIS

Conhecida como a primeira proposta arquitetônica específica para


utilização de uma APAC, o projeto para o Centro de Reeducação Santa Luzia foi
desenvolvido a partir de parcerias entre APAC, Ministério Da Justiça, Secretária de
Defesa Social do Estado de Minas Gerais, Prefeitura, Irmãos Maristas e PUC-Minas
(APAC, s.d, p.118).
A obra retrata a grande busca e desempenho do arquiteto Flávio Agostini
em relação a projetos prisionais. Projetada pelo escritório mineiro MBA Arquitetura e
Urbanismo, a proposta da unidade foi finalizada no ano de 2011.
Localizada no município de Santa Luzia, região metropolitana de Belo
Horizonte, capital de Minas Gerais, a APAC se encontra na Estrada do Alto das
Maravilhas, afastada 3 quilômetros do centro da cidade, e aproximadamente a 40
minutos de carro da capital.

Figura 29: Localização Brasil, Minas Gerais e Santa Luzia.

Fonte: A autora (2021).

Inserida em um loteamento de formato irregular com 40.000m², possui


6.700m² construídos divididos entre três regimes: aberto, semiaberto e fechado,
abrigando 200 custodiados, em uma área pouco adensada e de Zoneamento de
Expansão Urbana (ZEU). No entorno da APAC, é possível verificar a extensa mancha
de maciço vegetal que a isola de qualquer outro empreendimento.
A topografia do loteamento é considerada um elemento importante do
projeto, visto que, foram projetados terraços com o intuito de permitir a apreciação do
entorno e da paisagem local, ao mesmo tempo que impede o contato direto com o
exterior.
51

Figura 30: Implantação e Entorno APAC Figura 31: Implantação em perspectiva

Fonte: Google Maps (2021, s.p). Fonte: APAC (s,d, p.120).

alterado pela autora.

Com sua fachada implementada levemente inclinada para o Nordeste na


Estrada Altos das Maravilhas, torna-se possível visualizar o único acesso destinado a
pedestres e veículos, a partir da estrada de terra. As demais fachadas se encontram
envoltas pelo extenso muro de concreto que circunda o empreendimento se
contrapondo a vegetação nativa local. Durante a maior parte do ano, o vento que
predomina na região é oriundo da direção leste, e percorre todo o projeto de forma
horizontal. (Figura 33)

Figura 32: Fachada Principal e Acesso Figura 33: Estudo de Insolação e Ventos

Fonte: Bezerra In TJMG (2019, s.p). Fonte: SunCalc (2021, s.p). Alterado pela autora

Alterado pela autora.

A planta possui caráter de destacar linhas de comunicações lógicas, e


percepção estrutural, delimitando as áreas com o objetivo de aproximar os presos da
sociedade, seja por meio da praça central no acesso do empreendimento, ou dos
telhados verdes e da biofilia desenvolvida a partir dos vazios arquitetônicos do projeto.
52

Figura 34: Planta APAC Santa Luzia

Fonte: Acervo do Arq. Flávio Agostini Mourão (2016, s.p). Alterado pela autora.

Quanto a plástica e o sistema construtivo desenvolvido para o


empreendimento, se faz notória a presença do concreto aparente em contraponto ao
verde da vegetação e das pinturas pontuais na arquitetura. Suas formas geométricas
transitam entre o retangular presente na grande maioria do empreendimento, e a
rampa helicoidal que traz movimento para a obra. As paredes revestidas em Cobogós
ainda permitem a penetração da luz e remetem a uma arquitetura leve e
contemporânea.

Figura 35: Jardim Interno APAC Figura 36: Cobogós APAC Figura 37: Edificação APAC

Fonte: APAC (s.d) Fonte: APAC (s.d) Fonte: APAC (s.d)


53

5.3 LOCAL - CENTRO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL (CIS) - PIRAQUARA

O Centro de Integração Social Piraquara conta com 1,7 mil metros


quadrados e capacidade de custodiar até 216 presas em regime fechado, segundo o
diretor do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen-PR), Francisco Caricati, ‘’a
entrega da obra representa um marco no sistema penitenciário nacional, já que essa
unidade foi concebida com todos os requisitos que a Lei de Execução Penal
estabelece para tratamento de um preso”. (TARDIVO, 2020, s.p)
Ainda, segundo a atual Diretora da unidade Paula Cozlik em vídeo, na
inauguração do empreendimento (2020), relata que ‘’o projeto arquitetônico é
considerado singularizado e o objetivo geral, é ambientar as presas para que se
sintam em casa, e criem uma rotina que se assemelhe ao máximo a realidade que
irão encontrar após deixarem a reclusa.’’
Diante à situação epidemiológica no país e da segurança dispensada sobre
o empreendimento aqui discorrido, não foi permitida a realização de visitas técnicas
in loco, e nem mesmo a coleta de dados e materiais gráficos como plantas e cortes
para subsídio da investigação, se tornando importante enfatizar que as imagens que
aparecem no decorrer deste estudo de caso foram retiradas de fontes digitais por meio
da pesquisa exploratória.
Localizada no Complexo Penitenciário de Piraquara, na Região
Metropolitana de Curitiba, foi inaugurada dia 24 de novembro de 2020 uma nova
unidade penal para mulheres, o CIS Piraquara. A edificação está inserida dentro do
complexo localizado na Vila Militar I, dentro da zona de uso institucional restrito (ZUIR)
e pertencente a APA14 do Irai.

Figura 38: Localização Brasil, Paraná e Piraquara

Fonte: A autora (2021)

14 Área de Preservação Ambiental.


54

Introduzida em uma região pouco adensada e com tráfego controlado para


a entrada e saída de pessoas e veículos, a penitenciária foi implantada dentro de uma
área restrita. No seu entorno há outras penitenciárias, bem como casas de custódias,
colônias penais e muitos maciços vegetais.

Figura 39: Implantação e Entorno CIS Piraquara

Fonte: Google Maps (2021, s.p), alterado pela autora.

Ainda que inserida na região rural de Piraquara, a unidade não demonstra


uma relação com a vegetação predominante existente, visto que, pode-se observar
uma descontinuação da vegetação local na ocasião em que ela alcança os muros da
unidade penal.

Figura 40: Vista Nordeste/Sudeste da Vila

Fonte: Wix CISocial (2020, s.p), alterado pela autora

Conforme possível visualizar na figura 14, a unidade foi implementada com


sua fachada voltada para o Noroeste, onde se encontra o único acesso, utilizado tanto
para pedestres, bem como para veículos, a partir de uma rua de saibro.
A fachada paralela a Rua Izidio Alves Ribeiro, localizada a Nordeste, e as
demais fachadas - Sudeste e Sudoeste, são caracterizadas pelos muros que
circundam a pequena vila, e reforçam a extensa faixa de vegetação rasteira que
55

continua a partir dali. O vento predominante da região se oriunda da região leste


durante a maior parte do ano, tornando o ambiente sempre ventilado.

Figura 41: Acesso e Coordenada Figura 42: Estudo de Insolação e Ventos

Fonte: Google Maps (2021, s.p). Fonte: SunCalc (2021, s.p).


Alterada pela autora. Alterada pela autora.

Quanto a plástica arquitetônica, esta foi desenvolvida de tal forma que as


edificações, realizadas em blocos estruturais com coberturas duas águas em telhas
cerâmicas, possuíssem a mesma estética. Todas foram acabadas com pintura em
tons terrosos e laranjas, e são diferenciadas visualmente somente pelos tamanhos
dos seus volumes.
Os galpões destinados as oficinas possuem dimensões 15,5x9m e são
ofertados a empresas que compactuem com o propósito da causa e que aceitem
empregar a mão de obra das presas. As casas que acomodam alojamentos coletivos
possuem capacidade de abrigar 9 reclusas por dormitório, ao invés das celas
convencionais que abrigavam 3, e possuem a mesma medida dos canteiros de
serviços, que contam com 7,10x7m (WIX CISocial, 2020, s,p).

Figura 43: Fachada CIS Figura 44: Entrada CIS Figura 45: Edificações CIS

Fonte: Google Maps, (2021, s.p) Fonte: Google Maps, (2021, s.p) Fonte: Kissner In: GOV.(2020, s.p)
56

Por fim, quanto a questões de infraestrutura e materiais, após análise das


imagens 46 e 47 pode-se concluir que os ambientes foram acabados internamente
com forros de PVC branco, piso cerâmico para maior durabilidade e manutenção,
iluminação artificial sobreposta, pintura clara de forma a ampliar o cômodo, eletrodutos
aparentes, grandes quantidades de janelas que favorecem a ventilação e circulação
de ar e por último alguns ambientes ainda contam com a circulação através de ar-
condicionado como por exemplo as salas de aula.

Figura 46: Berçário CIS Figura 47: Sala de aula CIS

Fonte: Kissner In GOV. PR. (2020, s.p) Fonte: Kissner In GOV. PR. (2020, s.p)

5.4 ANÁLISES COMPARATIVAS

As edificações acimas examinadas possuem a mesma finalidade, abrigar e


oferecer ajuda para a ressocialização de indivíduos que possuem condenações
perante a lei. Entretanto, cooperam também, para o entendimento do tema e para a
melhor resolução e elaboração da proposta arquitetônica a ser realizada no TC II.
O primeiro estudo de caso, possibilitou uma análise mais criteriosa quanto
implantação, plástica, arquitetura modular, conforto e materiais. O segundo estudo,
assistiu para o entendimento do programa de necessidades, disposições e
aproveitamento de plantas sobre o loteamento, e escolha dos materiais de
acabamento interno.
Por fim, o terceiro e último estudo, norteou quanto ao entendimento de
dimensões e propostas para os galpões de oficinas, bem como áreas destinadas a
estudos, creche, e reinserção social do penado.
57

Abaixo, no Quadro 03, será possível verificar os comparativos gerais entre


os três estudos de caso, ressaltando as soluções projetuais, plásticas, e as principais
diferenças.

Quadro 3: Análise Comparativa - Estudos de Caso

Itens Estudo de Caso I Estudo de Caso II Estudo de Caso III


Analisados

Foto

Fonte: LAN (2011, s.p) Fonte: Bezerra In TJMG Fonte: Google Maps,
(2019, s.p). Alterado pela (2021, s.p)
autora.
Local Nanterre - França Santa Luzia – MG, Brasil. Piraquara – PR, Brasil.
- Implantação localizada - Implantação localizada
dentro do perímetro próximo ao centro da - Implantação localizada
urbano. cidade, mas distante de longe do perímetro
- Acessos cobertos e qualquer outra edificação. urbano em área restrita.
com fácil identificação. - Acessos unificados pela - Dificuldade em acessar
Implantação - Região próxima a fachada principal. a unidade.
população, auxiliando na - Praça central destinada - Acesso único e sem
interação do preso com ao público e auxiliando na cobertura.
a sociedade. interação do preso com a
sociedade.
- Planta disposta em - Planta disposta de forma - Análise não se aplica.
blocos. mais espalhada no
- Edificação conta com loteamento.
três pavimentos. - Edificação conta com
- Arquitetura modular dois pavimentos.
Planta para as celas. - Circulação vertical
- Espaços alocados de através de rampa sem
forma a priorizar as cobertura.
vistas do entorno. - Várias áreas de lazer e
- Circulação vertical oficinas dispostas ao ar
mecânica e pedonal. livre.
- Volumetria retangular - Volumetria retangular - Volumetria retangular
Volumetria trabalhada com cheio e trabalhada com a com plástica simples e
vazio, com a utilização utilização de cobogós. telhado duas águas
de platibandas e áticos.
Corte e/ou - Uma fachada, em vez - Unidade com muros altos - Arquitetura com baixo
Detalhes de um muro. nas laterais. gabarito de altura em
- Transição mais fluida - Arquitetura com gabarito relação ao entorno.
entre o interior e o de altura pequeno. - Distribuição de vários
exterior. núcleos esteticamente
58

- Distribuição do núcleo - Distribuição de vários iguais com usos


rígido de forma núcleos com usos diferenciados
estratégica a atender as diferenciados
duas unidades.

Materiais e - Aço Cortein revestindo - Textura do Concreto - Revestimentos em


Acabamentos a fachada principal. Aparente. coloração branca nos
- Aluminio Termolacado - Utilização de pinturas espaços comuns.
e Autolimpantes Branco. verdes em lugares de - Utilização de pintura
- Pinturas internas em destaque. em tons terrosos.
tonalidades claras. - Utilização de cobogós - Acabamento dos forros
nas circulações permitindo em PVC.
a entrada de luz. - Acabamento elétrico
por meio de Eletrodutos
expostos.
- Aplicação de piso
cerâmico claro com
rejunte escuro.
- Análise não se aplica. - Alvenaria convencional. - Alvenaria
Sistema - Telhas de Fibrocimento convencional.
verdes. - Telhas cerâmicas.
Construtivo
- Possibilidade de - Possibilidade de
alteração de layout alteração de layout
atráves de drywall atráves de drywall
Fonte: A autora. 2021.

Já no Quadro 04, será possível verificar os pontos considerados como


positivos e negativos de cada unidade:

Quadro 4: Pontos Fortes e Pontos Fracos - Estudos de Caso

Pontos Estudo de Caso I Estudo de Caso II Estudo de Caso III


Projeto Prisão de Segurança APAC Santa Luzia CIS Piraquara
Mínima
Implantação ++++ +++ ++
Insolação +++ ++++ +++
Volumetria ++++ ++++ ++
Planta +++ +++ Não se aplica.
Conforto +++ +++ +++
Humanização ++++ ++++ +++
Materiais ++++ ++++ ++
Áreas Verdes +++ ++++ +

Legenda:
Ruim + Razoável ++ Bom +++ Excelente ++++
Fonte: A autora. 2021.
59

6. DIRETRIZES DE PROJETO

Neste capítulo, serão abordadas as diretrizes de projetos para a proposta


da Unidade de Progressão Feminina, que possui como finalidade a reintegração social
da mulher presidiária. Com base nesse planejamento e nos conteúdos discorridos
durante a investigação, abaixo será apresentado, e discutido o entorno do loteamento
destinado a implantação do projeto, bem como suas características de zoneamento,
condicionantes, insolação, diretrizes projetuais, programa de necessidades e
organograma.

6.1 INSERÇÃO TERRITORIAL

O loteamento indicado para a inserção da edificação se encontra na Cidade


Industrial de Curitiba (CIC), entre os bairros Capão Raso, Fazendinha e Novo Mundo.
Sua localização situa-se proximamente ao setor industrial, visto que, além da proposta
da unidade em oferecer oficinas de aprimoramento da mão de obra das custodiadas,
a ideia se estende para que as empresas da região possam ofertar convênios que
colaborem com o retorno destas mulheres para o mercado de trabalho.

Figura 48: Localização Brasil, Paraná, Curitiba e CIC (loteamento).

Fonte: A autora. (2021).

Atualmente, o CIC conta com mais de 172 mil habitantes e diversos


equipamentos urbanos que estão dispostos por toda sua faixa de extensão, dispondo
de terminais de transportes, escolas municipais, unidades de saúde, restaurantes
populares, CEEBJA15, entre outros. Estes equipamentos, por sua vez, cooperam e
oportunizam a reinserção social das custodiadas, e atuam até mesmo como

15 Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos.


60

potencialidades sobre questões psicológicas, como por exemplo os terminais de


transporte, que assistem na mobilidade dos familiares, minimizando o abandono
gerado pelo cárcere.
Por fim, a região também outorga sistemas de infraestrutura, onde 99% das
áreas possuem energia elétrica, saneamento básico, tratamento de esgoto e de águas
pluviais, contribuindo para a inserção da edificação, considerando que se fosse
necessária a implementação dessas infraestruturas, ocasionaria a oneração
orçamentária do projeto (IPPUC, 2018, s.p).

Figura 49: Mapa Síntese

Fonte: Ippuc, 2021, s.p. Alterado pela autora.

6.1.1 Análise do Terreno:

A seleção do loteamento ocorreu diante de alguns critérios, como a


compatibilização de zoneamento, diretrizes penais, proximidade com equipamentos
urbanos e facilidade de acessos. Mas também teve por intuito, a aproximação da
unidade penal com o perímetro urbano, uma vez que alocando a edificação em uma
área afastada, segundo Simes (2019, s.p), acaba-se ‘’ocorrendo o esquecimento da
pessoa encarcerada, desconectando-a da sociedade, o que, no futuro, vai prejudicar
a sua reinserção na comunidade’’.
O loteamento contém curvas de níveis consideravelmente espaçadas,
gerando um pequeno desnível, e chegando a somar 5 metros de declividade. Sua
localização está voltada para o noroeste e possui clima subtropical com ventos
61

predominantes oriundos da região sudeste, condicionantes estas de extrema


relevância no projeto para priorizar o conforto ambiental.

Figura 50: Loteamento e Curvas de Níveis Figura 51: Estudo de Insolação e Ventos.

Fonte: Ippuc (2021, s.p). Fonte: SunCalc (2021, s.p), adaptado pela autora.

Localizado na Rua Pedro Gusso, com número predial 2011 e testada de


88,72m, o terreno ainda conta com outras duas testadas situadas nas ruas João Ewert
e José Marcelino da Silva Junior, com 118,33m e 74,08m, respectivamente, de
testada.

Figura 52: Frente do Loteamento Figura 53: Lateral e Fundos do Loteamento

Fonte: Google Maps (2021, s.p). Fonte: Google Maps (2021, s.p).

A gleba possui zoneamento favorável, uma vez que está inserida no Setor
Especial de Ocupação Integrada (SE-OI-CIC) e Área Residencial 1 (AR-1) e segundo
a guia amarela (Anexo I) pode receber a edificação de Habitações de Uso Institucional.
Seu acesso se dá com facilidade, considerando que se situa a 1,8km do terminal do
CIC e 2,9km do Terminal do Capão Raso e está localizado em uma via coletora 1.
(IPPUC, 2018, s.p).
62

Ainda, apresenta-se abaixo, os parâmetros construtivos do lote escolhido


para a implantação da proposta projetual da Unidade de Progressão Feminina de
acordo com a Guia Amarela (Anexo A):

Tabela 3: Parâmetros Construtivos

Fonte: Guia Amarela (anexo A). Adaptado pela autora.

Por fim, pode-se observar o entorno do terreno que conta com edificações
de variadas tipologias, desde comércios locais de pequeno porte, unidades
residências e até mesmo um Centro Comercial que oferece diversas estruturas e
estabelecimentos para apoio.

Figura 54: Entorno do Loteamento

Fonte: Google Maps, (2021, s.p).

6.2 NORMATIVAS PARA ARQUITETURA PENAL

As Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal é um manual, elaborado pelo


Ministério da Justiça em 2011 que determina circunstâncias para as estruturas
prisionais. No entanto a nomenclatura para unidade de progressão é substituída por
Colônia, diante do fato de possuírem diretrizes semelhantes. Dentre o programa de
necessidades determinado pela normativa, seguem como módulos obrigatórios os
itens demarcados a seguir na tabela abaixo:
63

Tabela 4: Módulos obrigatórios segundo as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal

Fonte: Brasil, 2011, p. 46. Adaptado pela autora.

O módulo de Guarda possui existência facultativa de áreas, mas se faz


necessário uma vez que a edificação ficará em local sem proximidade de demais
edificações penais.
Algumas recomendações quanto a materiais também são determinadas
pela CNPCP (2011), como por exemplo, não haver utilização de materiais que
contenham em sua composição material combustível, como tinta a óleo e produtos
graxos.
Com relação a metais expostos, deve ser dificultado o manuseio, como “a)
registros, torneiras, válvulas de descargas de latão ou metálicas; b) chuveiros
metálicos; c) luminárias sem grade protetora; d) azulejos e cerâmicas (ladrilhos); e e)
todo objeto que possa se transformar em arma ou servir de apoio ao suicídio”
(CNPCP, 2011, p. 43). Enfim, também é recomendado que pilares sejam embutidos
na parede ou para áreas de difícil acesso das custodiadas para evitar quaisquer
problemas.

6.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES

Aspirando colaborar com os diagnósticos de outros projetos arquitetônicos,


as diretrizes do projeto resultaram na elaboração de um programa de necessidades
64

que auxilie as custodiadas nas conjunções de aperfeiçoar a coabitação em sociedade,


consumando um ofício por entre os recursos de oficinas, acompanhamentos
psicológicos e outras atividades que colaboram para invariabilidade mental e física.
O programa de necessidades está mensurado para abrigar 20 profissionais
por turno e auxiliar na ressocialização social e reinserção profissional de 100
custodiadas.
Para o desenvolvimento do plano, foi necessário considerar que uma
instituição penal precisa ser dividida em três setores: externo, intermediário e o
interno. Estes têm por responsabilidade viabilizar um fluxo estruturado e coerente de
indivíduos e veículos.

a) setor externo, cujo fluxo componha-se de pessoas estranhas ao


estabelecimento (visitas), guarda externa e pessoal administrativo;
b) setor intermediário, onde possam vir a circular pessoas dos setores externo
e interno;
c) setor interno, onde o uso é exclusivamente de pessoas presas e de
funcionários. (BRASIL, 2011, p.48).

Por fim, o programa de necessidades abaixo consistirá em discriminar de


forma sintetizada as áreas estimadas bem como os setores propostos para a
edificação, determinados pelas Diretrizes Penais. Para verificação do programa de
necessidades detalhado, consultar o Apêndice A.

Tabela 5: Programa de Necessidades

Fonte: Brasil, 2011, p. 50-73. Alterado pela autora.


65

6.4 ORGANOGRAMA

O propósito do organograma, realizado neste momento de forma macro, é


auxiliar na distribuição dos espaços dentro do terreno para que exista uma adjeção de
módulos com interesses em comum. Diante deste fato, o núcleo de Guarda Externa
ficará separado dos demais ambientes e será conectado por meio de um bosque.
O setor externo ficará responsável por agrupar todas as áreas
administrativas, e módulos de serviço. Já o setor intermediário, coligará todos os
módulos referente a saúde, tratamentos e áreas de descompressão para o auxílio da
reinserção social. Por fim, os espaços referentes ao setor interno, terão por encargo
distribuir pelo loteamento todas as áreas referentes ao dia a dia das custodiadas,
desde os dormitórios individuais, até os locais destinados a oficinas, visitas, vivencias
e afins.

Figura 55: Macro Organograma

Fonte: A autora (2021).


66

7. CONCLUSÃO

Muito se analisou, pesquisou e se debateu durante o decorrer desta


investigação sobre as problemáticas e condicionantes envolvidas quanto a Arquitetura
Penal. A compreensão ultrapassa as grades que separam homens livres dos presos
e mostra que durante muitos anos, estes indivíduos desprovidos de liberdade foram
condicionados a permanecerem em instituições alheias a realidade, onde ocorrem
tratamentos que podem vir a ser considerados inumanos.
De forma a ser um projeto responsável e relevante que haja de forma
precursora e entusiasta para a realização de mudanças dentro de estruturas penais,
após embasamento teórico e as análises providas dos estudos de unidades
penitenciárias, a Unidade de Progressão Feminina de Curitiba, teria por vez a
finalidade de propor e auxiliar no combate as inconformidades das atuais instituições
e oferecer meios de mudança para a não reincidência penal, a partir de uma
arquitetura humanizada.
Diante dos fatos, a pesquisa como um todo, auxiliou para refutar a
seguinte indagação, de que forma a realização de um projeto arquitetônico penal
poderia interferir positivamente para o indivíduo em questão e para a sociedade como
um todo? Em tese, a arquitetura pode contribuir para a transformação de um ambiente
predestinado a punir, em espaços que ofertem profissionalização, capacitação e
ensino, através de um ambiente confortável que atenda às necessidades térmicas,
acústicas e climáticas, bem como psicológicas, reduzindo o estresse durante a pena
e contribuindo para a sensação de se sentir digno e útil perante a sociedade
Por fim, vale ressaltar que o curso de Arquitetura e Urbanismo está
inserido dentro da área destinada a Ciência Sociais, destacando a função social
sugerida aos arquitetos perante as mais distintas realidades humanas. Como a
arquitetura penitenciária, ainda é um assunto tão pouco debatido dentro da
comunidade acadêmica, este trabalho também se oferece como convite para que
existam cada vez mais pesquisas sobre o tema em questão, que é tão urgente, e que
desta maneira, exista um novo ponto de vista e infinitas possibilidades de
ponderações e resultados para aqueles que não assentem na mudança de caráter do
indivíduo que errou.
67

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APÊNDICE

APÊNDICE A – Programa de Necessidades Completo.


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77
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Fonte: Elaborado pela autora. 2021.


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ANEXOS

ANEXO A – Guia Amarela.


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