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do Urbanismo
Brasília-DF.
Elaboração
Elisangela Person
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL....................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: DEFINIÇÕES E CONTEXTOS............................................... 12
CAPÍTULO 2
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL, ECONÔMICA E SOCIAL............................................................ 20
CAPÍTULO 3
O LUGAR DA SUSTENTABILIDADE URBANA: OS ESPAÇOS PÚBLICOS DO BAIRRO......................... 28
UNIDADE II
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES
CIDADES............................................................................................................................... 38
CAPÍTULO 1
O CRESCIMENTO DO TRANSPORTE INDIVIDUAL........................................................................ 38
CAPÍTULO 2
O AUTOMÓVEL E O CAOS URBANO: PROBLEMAS E DESAFIOS.................................................. 43
CAPÍTULO 3
URBANISMO E A MOBILIDADE URBANA..................................................................................... 47
CAPÍTULO 4
O PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA DAS CIDADES E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA DE
TRANSPORTE........................................................................................................................... 58
CAPÍTULO 5
EXEMPLO DE AÇÕES DE SUCESSO.......................................................................................... 66
UNIDADE III
TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL...................................................................................................... 70
CAPÍTULO 1
O TRANSPORTE PÚBLICO......................................................................................................... 70
UNIDADE IV
O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE................................................................... 91
CAPÍTULO 1
O SISTEMA METROVIÁRIO........................................................................................................ 91
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 101
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Esta disciplina é destinada aos profissionais e estudiosos que se dedicam ao
entendimento do tema sobre a Mobilidade Urbana e suas implicações no Urbanismo.
Nessa, é exposta a dificuldade de se relacionar os deslocamentos das pessoas com a
estrutura urbana. Logo, a estrutura urbana e o sistema de transporte não devem ser
pensados separadamente, eles são fatores intrínsecos no planejamento das cidades,
mesmo assim, há dificuldades em se criar uma visão de planejamento por meio dessas
duas vertentes.
É nesse contexto que o transporte público perpassa a função social prestada a uma
sociedade, passando a fazer parte da cidade e estimulando o seu desenvolvimento, porém,
se não for implantado e operado corretamente, pode causar impactos para seus usuários
e o meio ambiente, interferindo negativamente nos aspectos da sustentabilidade.
Atualmente, o fato de as cidades funcionarem por núcleos descentralizados torna o
transporte um elemento indispensável para o desenvolvimento de uma região, logo, os
transportes possuem um papel ainda mais importante nas periferias da cidade, pois é a
única interação entre a moradia e o local de trabalho dos cidadãos.
É nesse contexto que o sistema metroviário deve ser tema central na elaboração do
planejamento urbano, articulado com a mobilidade. As vantagens desse transporte
público são evidentes; seguro, regular, intermodal, com baixo impacto ambiental, não
poluente, com menor tempo de deslocamento, confortável e promove inclusão social.
Além disso, o sistema metroviário assume um papel importante na estruturação urbana
da cidade, pois funciona como indutor da ocupação urbana e como estruturador de
novos espaços.
Bons estudos.
Objetivos
»» Propiciar conhecimento acerca do contexto educacional com foco na
mobilidade sustentável e suas implicações no urbanismo.
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10
MOBILIDADE URBANA UNIDADE I
SUSTENTÁVEL
11
CAPÍTULO 1
Mobilidade urbana sustentável:
definições e contextos
Mobilidade urbana não trata somente o tráfego, os fluxos, as vias; vai muito além
disso: está relacionada com o modo de vida das pessoas – a acessibilidade, a qualidade
de vida, a sustentabilidade, equidade social, entre outros.
O andar a pé
O urbanismo funcionalista, inspirado na Carta de Atenas, propõe a organização da
cidade em espaços funcionais (habitação, trabalho, lazer e circulação) articulados
em um sistema viário hierarquizado, em que se constitui independentemente
das edificações ao longo de sua rede viária. Com isso, pode ser visto a submissão
dos espaços da cidade ao poder do transporte individual, que passa a determinar
a estrutura nas cidades atuais. Pelo urbanismo funcionalista, a rua perdeu a sua
função social de permanência e convivência, para os espaços de uso exclusivo do
automóvel, restando ao pedestre somente a circulação em áreas delimitadas, em
praças e parques públicos.
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UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Um dos modos mais antigos de deslocamento do ser humano é o andar a pé, saudável
e natural, que, além de ser o modo mais básico de transporte, é mais justo e não
poluente. O homem se move sem ajuda de qualquer equipamento, fazendo caminho
ao caminhar, porém, a necessidade de dispor de maior conforto e mobilidade,
além da necessidade de percorrer grandes distâncias, impulsionou o homem para
outra condição alternativa – o “ser motorizado”, viabilizada pelos diversos tipos de
veículos. A caminhada é um importante modo de transporte para viagens curtas e faz
parte do acesso ou saída de outro modo de transporte (ROCHA, 2013).
Para Person (2006), “o que caracteriza o espaço público é a posse mediatizada por
parte do cidadão, ou seja, é no espaço público que o cidadão estabelece relação
de convívio com outras pessoas”. Sendo assim, o equilíbrio necessário ao bom
funcionamento desses espaços é facilmente quebrado por fenômenos diversos: falta
de manutenção dos espaços; violência urbana, falta de conservação das calçadas,
espaços urbanos segregados, entre outros, implicando no abandono e na degradação
da cidade.
Nesse contexto, o planejamento para o uso dos espaços públicos, para a circulação
do pedestre não tem sido priorizado em relação ao planejamento da rede viária local.
A prioridade em atender à rapidez e a fluidez do tráfego de veículos têm resultados
na segregação de pedestres por meio de passarelas aéreas, passagens subterrâneas
muitas das quais mal concebidas, considerando que as locações das passarelas são
escolhidas pela conveniência dos custos, em detrimento do melhor atendimento
às linhas de desejo dos pedestres. As passarelas podem atender as questões de
segurança do pedestre, porém, resultam em impedimentos e inconveniência no seu
deslocamento.
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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
“Existe forte relação entre transportes, meio ambiente, qualidade de vida e saúde
financeira das cidades e seus habitantes” (ROCHA, 2003). Sendo assim, o tratamento
dado ao sistema viário para circulação dos veículos deve ser equivalente ao sistema
de circulação de pedestres.
O uso da bicicleta
A bicicleta é um meio de transporte que não polui o ambiente e é saudável, mas
infelizmente os ciclistas encontram problemas para pedalar na cidade. Embora os
ciclistas sejam um grupo crescente, faltam medidas públicas no sentido de conectar
as redes cicloviárias, da periferia ao centro da cidade, além disso, falta manutenção,
falta segurança, calçamento, iluminação pública, bicicletários nos terminais de
integração (ônibus e metrô), entre outros.
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UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Muitas cidades do mundo têm a bicicleta como um de seus meios mais importantes
de transporte. Na Europa, o transporte não motorizado é muito valorizado e
difundido. Um exemplo é a Holanda e a Dinamarca, que recebem investimentos
para a implementação desse tipo de transporte e, por esta razão, estão à frente no
que diz respeito à sustentabilidade e mobilidade urbana, por meio do planejamento
e da implantação de grandes malhas cicloviárias, espaços destinados a pedestre e
soluções para o transporte público coletivo mais eficiente, seguro e menos poluente.
16
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
Pois bem, e o que a mobilidade urbana tem a ver com as classes sociais? Nesse
sentido, o direito a mobilidade está relacionado a quem você é na cidade. Pessoas de
baixa renda, não devem ter menos mobilidade do que as com renda mais elevada,
além disso, é considerado que pessoas que vivem nas áreas centrais ou que tenham
mais acessibilidade possuem mais oportunidades, principalmente aos eventos
culturais; por outro lado, grupos mais pobres e mais excluídos tendem a sofrer
mais violência nas ruas. Essas questões resultam na organização socioespacial e
territorial que se observa na paisagem urbana e nas relações sociais.
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UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
É sabido que, a mobilidade urbana tem seus impactos sobre o meio ambiente, tais
como a emissão de poluentes e o efeito estufa, contribuindo para as alterações
climáticas. Atualmente, o setor automobilístico tem trabalho para reduzir a
emissão de gases poluentes dos veículos através de tecnologias avançadas, porém
deve-se ter uma conscientização e atitudes no sentido de minimizar os gastos com
combustíveis e o uso do transporte individual. Para o Ministério do Meio Ambiente,
“a mobilidade urbana surge como um novo desafio às políticas ambientais e
urbanas, num cenário de desenvolvimento social e econômico” (MMA, 2018).
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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
e de convívio têm cada vez mais perdido seu sentido e significado. Nesse sentido, as
políticas de transporte urbano e o planejamento urbano devem ser eficazes, a fim de
permitir que os cidadãos tenham mobilidade para fazer seus deslocamentos dentro
da cidade.
Por fim, a reflexão sobre esta temática é de grande relevância e deve ser urgente, com
a finalidade de se pensar sobre o uso consciente do automóvel particular. Deve-se
analisar todos os impactos inerentes a cada modo de transporte e seu impacto, a fim
de fazer a melhor escolha para o meio ambiente e para as suas necessidades.
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CAPÍTULO 2
Sustentabilidade ambiental, econômica
e social
Sustentabilidade ambiental
“A sustentabilidade ambiental é a capacidade dos ecossistemas se manterem
diante das agressões humanas” (MMA, 2018). Em outras palavras,
sustentabilidade ambiental refere-se a capacidade de sustentação dos
ecossistemas.
oferecem condições para essa forma de deslocamento. Dessa forma, cidade com esse
tipo de transporte apresentam menores níveis de poluição atmosférica e sonora e,
geralmente, são mais funcionais do que as cidades com alto grau de uso de veículos
motorizados privados.
Além disso, deve-se considerar que cidades com maior número de viagens, com
transporte público, bicicletas e a pé, apresentam menores níveis de poluição
atmosférica e sonora, sendo assim, deve-se priorizar o modo de transporte coletivo
em detrimento do individual privado.
21
UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Sustentabilidade econômica
Os sistemas de mobilidade devem integrar os aspectos econômicos e financeiros
com destaque para o transporte público, para que os serviços não se degradem ao
longo do tempo. Nesse sentido, é prudente que o poder público estabeleça claras
políticas de financiamento e custeio dos serviços.
10,7
140
130 10,0
4,6
Gasto/mês (R$)
7,6
120 6,8 8,0
Renda (%)
110 5,9
100 5,2 6,0
4,3
90
2,7 4,0
80
70 1,6
2,0
60 0,5
50 0,0
Decil1 Decil2 Decil3 Decil4 Decil5 Decil6 Decil7 Decil8 Decil9 <Decil09
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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
sobre os mais pobres nas áreas da saúde, na educação etc. Além disso, também
não é conveniente congelar os preços das tarifas dos serviços de transporte, pois,
em longo prazo, o serviço acaba se deteriorando e se degrandando, prejudicando
a população mais carente e a que mais necessita do transporte público. Portanto,
é fundamental a discussões sobre novas fontes de financiamento, não só para
a redução do preço das viagens mas também para a melhoria do sistema de
transporte em geral.
Justiça social
Justiça social está diretamente relacionada aos princípios de acessibilidade
universal, equidade nas condições de deslocamento e modicidade tarifária.
Acessibilidade universal é o direito de ir e vir de todos os cidadãos, inclusive das
pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, independentemente de
idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, de transitar e acessar
todos os espaços da cidade, edificações, espaços públicos, entre outros. Sob os
aspecto do transporte, esse deve atender a todos os cidadãos para que eles possam
usufruir das oportunidade e dos equipamentos da cidade.
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UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Já a Norma ABNT NBR 9050, atualizada em 2015, muito utilzada pelos arquitetos
e urbanistas, é tão importante que ganhou status de lei, a fim de estabelecer
critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, à
construção, à instalação e à adaptação de edificações, mobiliário, espaços e
equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. Uma de suas definições
sobre a acessibilidade é que deve ser inclusivo e globalizante, dimensionado e
planejado para atender todos os grupos de pessoas, principalmente os grupos
minoritários, a população de baixa renda que reside nas periferias da cidade e os
com dificuldade de locomoção. (ABNT, 2015).
24
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
Infelizmente, nos últimos anos, o setor público não investiu como deveria na
acessibilidade das paradas de ônibus, nos terminais e equipamentos urbanos em
geral. No que tange ao sistema de transporte, ambas as leis estabelecem prazos de
10 anos para tornar o sistema de transporte público acessíveis, o que não se verifica
na prática, pois percebe-se a falta de acessibilidade nos elementos que constituem o
sistema de mobilidade, principalmente para as classes de baixa renda, prejudicada
do seu direito básico de ir e vir dentro da cidade, o que caracteriza uma grande
injustiça social.
Faixa de renda familiar Índice de mobilidade (viagem/habitante) Tempo médio de viagem (minutos)
Abaixo de 760 1,53 38
Entre 760 e 1.520 1,77 41
Entre 1.520 e 3.040 1,98 41
Entre 3.040 e 5.700 2,3 38
Acima de 5.700 2,69 34
Total 1,93 39
Nota: em R$ de dez/2008.
Fonte: Carvalho (2016).
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UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Para Carvalho (2016), “as políticas para minimizar a iniquidade estão ligadas à
priorização e ao barateamento do transporte público em relação ao transporte
individual e também a política de melhor distribuição de empregos e oportunidades
no território”. Além disso, é importante salientar a importância da qualidade do
transporte urbano, já que os veículos devem ter condições de acessibilidade para
atender as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida.
»» Balanceamento oferta/demanda.
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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
Justiça social:
27
CAPÍTULO 3
O lugar da sustentabilidade urbana: os
espaços públicos do bairro
Urbanismo sustentável
O urbanismo sustentável refere-se à manutenção e preservação da diversidade
de culturas, valores e práticas existentes, que integram ao longo do tempo, as
identidades dos povos, ou seja, apoia-se na sustentabilidade cultural, assim como na
sustentabilidade social quando objetiva a melhoria da qualidade de vida e redução
dos níveis de exclusão. De acordo com Romero (2003), “tem como premissa que
os aspectos ambientais informam e dão a forma ao projeto, o ambiente inclui aqui
o clima, a cultura e a história do lugar”. É por meio desse ambiente que o cidadão
define a forma de apropriação.
Nesse sentido, deve-se devolver aos espaços públicos o sentido de lugar, o “genius
loci”, ou seja, aspectos significativos que auxiliam ao homem na apropriação do
espaço urbano. O conceito de lugar, bem como as suas referências, são partes
essenciais para a composição do conhecimento do espaço urbano. “O lugar não
é algo abstrato, é uma totalidade feita de coisas concretas, tendo substância
28
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
29
UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
O espaço político é o lugar da decisão e da ação uma vez que a política trata da
convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas
coisas em comum, essenciais num caos absoluto ou a partir do caos absoluto das
diferenças. Mas, deixemos de lado o espaço comum e o espaço político para tratar
mais detalhadamente do espaço público do bairro.
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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
Segundo Cerasi (1990), citado por Romero, (2001, p. 31) “um espaço é tanto mais
significativo para a coletividade quanto maior for o número de cidadãos que o
utiliza, que o conhece e quanto mais longo for o período histórico durante o qual
ele exerce sua influência”.
31
UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Aparece, em primeiro lugar, o espaço aberto como sendo o coletivo, como sendo
espaço público, e o espaço construído, como sendo espaço privado. Mas, se for
definida aqui, a rua como espaço público por excelência, não se poderá, por isso,
ignorar que “a rua pode ser privada, quando o uso privado acontece na rua”. Assim,
percebe-se que a identidade de um espaço é a identidade de seu usuário ou de seu
uso, sendo, portanto, uma identidade social. Espaços públicos ou semipúblicos
também podem se tornar privados, quando ocorre a apropriação deles, ou seja, um
grupo de pessoas define e dita suas regras de uso. Cada pessoa escolhe o espaço
onde encontra tipos de representação e comportamento que são semelhantes aos
seus. As pessoas que não têm nenhuma capacidade de apropriação sentem-se
como estrangeiras. O espaço é uma extensão, uma projeção da personalidade e,
portanto, deve-se respeitar este território.
32
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
A forma espacial pode ser usada de várias maneiras, produzindo vários significados,
refletindo as relações sociais de uma população, ou a cultura de um povo, portanto, o
espaço urbano é um sistema dinâmico complexo no qual a forma espacial, a cidade e
o processo social estão em contínua interação. Mas, a construção do espaço urbano,
que reflete a dinâmica da discussão entre as pessoas, deve ser acrescida à troca e ao
diálogo com os aspectos ambientais, pois o ambiente pode atuar como dispositivo
transformador.
33
UNIDADE I │ MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
muito superiores aos da própria cidade, na medida em que, esta última veio
sucessivamente recebendo muito menos investimento para a melhoria e criação
de seus espaços públicos.
Esses novos lugares são marcados pela construção com espaços climatizados,
condicionados e direcionados ao entretenimento. A tradicional praça, os largos e
mesmo a rua foram trocados, ou melhor, trazidos para dentro destes novos ambientes,
onde tudo é controlado, desde sua segurança até o seu olhar. O caos urbano, o
congestionamento, a violência, a sujeira das ruas e seus indigentes são deixados do
lado de fora desses novos lugares do consumo de mercadorias, de serviços, de arte e
de cultura. A cidade se interioriza e volta para dentro das casas. Dá-se mais ênfase
ao trato dos ambientes internos em detrimento do urbano construído. A insegurança
nas ruas só faz piorar a feiura que nossas cidades sucessivamente vêm passando
neste último século.
Existe, então, um espaço intermediário entre esses dois lugares? Onde esta
dicotomia se expressa entre lugares e redes; entre praças e vias; entre espaços
de permanência e de passagem; de apropriação e identidade comunitária e de
espaços de circulação rápida.
34
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
Em contrapartida, Marc Augé (2001), citado por Pinto e Ribeiro (2014), constrói
o conceito de “não lugar” para os propósitos dos espaços destinados à mobilidade
urbana. Para ele, o capitalismo, o individualismo e a globalização perpassam a
criação de espaços humanizados e lugares de identidade, privilegiando os “espaços
de circulação” em detrimento dos “lugares”. Os espaços chamados de “não lugares”
geram, como consequência, o desaparecimento do debate comum entre os cidadãos,
que pressupõe a perda das decisões públicas de interesse geral, de transcender os
assuntos próprios aos âmbitos públicos, de apresentar discordâncias ou demandas
para a construção de consensos. Por outro lado, os lugares, por meio da esfera
pública, promovem a construção social da realidade dos diversos cidadãos.
O tema mobilidade não deve ser uma perspectiva divergente para se pensar
a cidade, pelo contrário, deve resultar de um diálogo com os problemas da
mobilidade, mais especificamente dos fatores de fluxos (transporte). Até os
anos 1970, privilegiaram somente os fatores econômicos, técnicos e funcionais
dos deslocamentos humanos. Depois dessa década, surgiram novos estudos que
relacionavam esses problemas com a visão dos usuários e dos pedestres, seus
aspectos sociais, políticos, culturais e de acessibilidade, bem como a elaboração
de estudos das interações entre os lugares e os padrões de distribuição espacial
das atividades econômica. Indicadores de atração de lugares começaram a ser
considerados, tais como, fdistância, número total de habitantes, funções da cidade,
estrutura do mercado de bens e serviços, organização governamental.
Uma das principais críticas ao modelo de estudo tradicional enfatiza uma visão
abstrata do espaço, que desatende as características das áreas urbanas, assim
como ao caráter inconsciente atribuído às redes de transporte, limitando à função
de circulação. Esse modelo reduz o papel concedido aos indivíduos, por meio da
identificação das suas demandas de mobilidade, bem como na própria configuração
das redes de transporte, reprimindo sua participação ativa na sua construção,
interpretação e valorização. Essa consciência tornou-se ativa a partir da década de
7019, quando se assume o ângulo dos usuários sobre os problemas de transporte.
Outra abordagem surgiu a este debate ainda na década de 1970, com o conceito das
trajetórias espaço-temporal, conhecida como “Time Geography”, introduzida por
Torsten Hagerstrange. Essa abordagem se contrapõe no sentido de a mobilidade
representar mero deslocamento espacial entre dois pontos, ampliando-a no sentido
de considerá-la como conjunto de atividades, levando em consideração as diferentes
restrições que a cidade e o sistema de transporte lhes dispõem.
36
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL │ UNIDADE I
37
A INTERAÇÃO ENTRE A
“QUESTÃO URBANA” E A UNIDADE II
“QUESTÃO DO TRANSPORTE”
NAS GRANDES CIDADES
Além disso, busca-se elucidar a relação entre as questões que envolvem o tecido
urbano e o sistema de transporte, para isso, é necessário entender as formas, as
características morfológicas da cidade e seus instrumentos urbanísticos.
CAPÍTULO 1
O crescimento do transporte individual
38
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
A partir dos anos 1990, outro fator relevante promoveu o crescimento rápido da
motorização individual no país com a nova política de atração de investimentos
da indústria automobilística, a fim de abrir caminho para facilidades de aquisição
39
UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
Tabela 2. Variação dos preços das tarifas de ônibus e metrôs e insumos do tranporte privado.
40
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
O sistema sobre trilhos, que era até então um transporte de mobilidade urbana
sustentável, teve forte redução na sua importância por causa da competividade
com o modo de transporte rodoviário. As mudanças de padrão da mobilidade
tiveram reflexos negativos no aspecto da sustentabilidade, pois o país substituiu
os sistemas de transporte público que privilegiam os deslocamentos coletivos,
públicos, eletrificados e sobre trilho (não poluente), pelo sistema privado,
individual e rodoviário. Esse último dependente de combustível fóssil (petróleo,
carvão mineral e o gás natural).
41
UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
Gráfico 2. Distribuição relativa dos deslocamentos urbanos motorizados do Rio de Janeiro (1950-2005).
70,0
59,4
60,0
50,0 47,9
44,5
40,0
30,0
10,0 7,6
0,0 1,8
0,0
Bondes Trens Ônibus Automóvel
1950 2005
Fonte: Carvalho (2016).
42
CAPÍTULO 2
O automóvel e o caos urbano:
problemas e desafios
Esta situação cria uma enorme frota de veículos privados nas vias públicas,
configurando-se em congestionamento. Por outro lado, a falta de planejamento
ou o planejamento que foi proposto para um curto tempo torna-se obsoleto,
refletindo conflitos nas redes viárias.
Para entender melhor tal situação, com o fim da Segunda Guerra mundial, nas
diferentes cidades da América Latina, inicia-se um grande fluxo de migração do
campo para a cidade, como nova oportunidade de vida criada pelo capitalismo e
pela modernidade, gerando um novo processo de estruturação nos grandes centros
urbanos.
43
UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
Um fato relevante é que os grandes centros urbanos estão tomando outro sentido,
onde os espaços públicos, espaços de permanência, como praças, parques e áreas
de lazer, estão se tornando apenas locais de circulação, em grande parte pelos
automóveis. As pessoas já deixaram de considerar esses centros como espaços de
lazer, de encontros, de atividades humanas, logo, a mobilidade urbana se torna um
desafio para as questões do planejamento urbano, com a finalidade de minimizar
o caos nos ambientes e de se pensar o contexto urbano com espaços humanizados
e inclusivos para todas as pessoas, e não somente para aquelas que utilizam o
transporte individual.
44
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
A cidade de São Paulo se caracteriza por ser um grande centro político e econômico
do Brasil, além de ser uma das cidades mais populosas do mundo. Apesar do seu
território ser extenso, mais de 12 milhões de habitantes vivem diariamente com a
crise e o caos da mobilidade urbana agravado a cada ano. Na década de 1970, os
bondes deixaram de fazer parte da paisagem e de ser uma forma de descocamento,
45
UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
46
CAPÍTULO 3
Urbanismo e a mobilidade urbana
Formas urbanas
Para a compreensão sobre o processo de expansão urbana das cidades e sua interação
com o sistema de transporte, deve-se entender os modelos das cidades que se
formaram ao longo do tempo.
47
UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
Ao analisar a estrutura urbana em uma escala mais próxima, é possível definir que
a acessibilidade e o uso do solo são as principais ferramentas de manipulação para
se atingir um sistema de transporte eficiente, logo, são essenciais para a mobilidade
sustentável e fluida; e para a construção de um ambiente urbano mais equitativo.
Numa escala regional, é possível identificar seis modelos de cidade, por meio de
seu crescimento e formação urbana. Gomes (2009) realizou um estudo sobre
“A mobilidade e a teoria da Cidade Compacta”, para avaliar a forma urbana mais
sustentável. Assim, Gomes comparou esses modelos analisando-os pelas suas
performances e conclui que a cidade monocêntrica necessita de uma complexa
modelação do tecido urbano, que, em alguns casos podem comprometer a viabilidade
desse modelo. Os estudos também verificaram que, os modelos muito geométricos,
como a cidade radial ou linear podem funcionar se forem eventos isolados, logo
o modelo com melhor performance é o modelo com um centro pequeno e vários
subcentros, que podem adquirir várias formas, desde radial, linear ou periférica,
consoante a configuração topográfica. A rede de transportes não deve ser radial, mas
ligar todos os centros.
48
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
Modelo radial: esse modelo é caracterizado por apresentar um centro dominante com
grandes densidades. A estrutura urbana é formada por corredores de transporte que
conectam o centro da cidade as áreas periféricas da cidade. O crescimento da cidade é
determinado por meio desses corredores de transporte que se conectam aos subcentros.
Os serviços e as atividades continuam se concentrando na área central, mas também
estão disponíveis nos subcentros. Porém, como o crescimento da estrutura urbana
acontece ao longo da estrutura urbana viária, pode provocar congestionamentos e a
sobrecarga no sistema de transporte.
49
UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
50
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
Características morfológicas
Utiliza-se o termo morfologia urbana para designar o estudo da configuração e da
estrutura exterior de um objeto. É a ciência que estuda as formas, interligando-as
com os fenômenos que lhes deram origem (LAMAS, 1992 apud PERSON, 2006).
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UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
Para Del Rio (1990, p. 71), a morfologia urbana estuda “o tecido urbano e seus
elementos construídos formadores por meio de sua evolução, transformações,
inter-relações e dos processos sociais que os geraram”. Segundo o autor, os
primeiros trabalhos nesta linha teriam surgido na Itália, precedidos pelas análises
ditas tipológicas, por meio do conhecimento da paisagem e do meio urbano da
cidade e sua estrutura.
52
A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
Instrumentos urbanísticos
Promover o desenvolvimento das principais funções urbanas: habitação, trabalho,
lazer e circulação é competência dos municípios e do Distrito Federal, na esfera
física e espacial, bem como na social, econômica e ambiental, estabelecendo o
ordenamento territorial necessário para a universalização do acesso e a garantia à
cidade e às oportunidades que ela oferece.
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UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
Por fim, os instrumentos que fixam limites para a ocupação física dos lotes
privados, determinando a tipologia das edificações (altura, volume, taxas
de ocupação dos lotes, índices de aproveitamento, recuos etc.). Estas normas
se tornam condicionantes da paisagem urbana e determinam o potencial
construtivo de um lote, permitindo a previsão do volume de viagens a ser gerado
em cada área da cidade.
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UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
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CAPÍTULO 4
O processo de expansão urbana das
cidades e sua relação com o sistema
de transporte
Cabe entender o processo que levou as grandes cidades a apresentarem hoje grandes
desigualdades espaciais e sociais. Logo, no início da urbanização, após a Segunda
Guerra Mundial, havia grandes expectativas quanto à melhoria na qualidade de vida,
principalmente dos camponeses que migraram para as cidades, porém, essa não foi
capaz de atender o aglomerado de pessoas que chegavam. As pessoas tiveram que se
instalar em cortiços, favelas e, mais recentemente, em áreas periféricas, desprovidas
de infraestrutura urbana, sem condições mínimas de atendimento dos serviços
básicos. Nesse sentido, a urbanização causou grandes problemas sociais, como o
desemprego, a criminalidade, a falta de habitação e, consequentemente, a qualidade
de vida das pessoas.
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
Urbanistas têm criado diretrizes para reverter à distribuição dos grupos de alta
renda, que se firma com o padrão do tipo “donut” (biscoito tipo rosca) (PETERSON,
2004 apud GOMES, 2016). Esse tipo de concentração se estabelece como um anel
ao redor da cidade, onde os mais ricos ficam concentrados nos subúrbios. No Brasil,
também se manifestou esse tipo de fenômeno urbano na forma dos condomínios
fechados de alto padrão. Uma ideologia que se justifica em razão da grande violência
e degradação das áreas centrais da cidade.
Nesta fase, inicia-se uma nova tendência de abordagem do espaço urbano das
cidades. Essa que anteriormente possuía uma estrutura monocêntrica, deu lugar
à estrutura policêntrica (figura 8), com a formação de subcentros e diferenciação
funcional, por meio de diferentes tipos de usos e com densidades distintas. Além
disso, as cidades policêntricas ou polinucleadas crescem a partir de novos núcleos
urbanos e de nós de transporte público (estações) em detrimento do inchaço ou
do crescimento de uma única célula, estrutura mais adequada para representar à
cidade contemporânea.
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UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
Este cenário tem gerado um círculo vicioso; falta um transporte público coletivo
abrangente, para coletar toda a população do entorno que necessita se deslocar
e qualidade de serviço desse sistema, gerando e estimulando o uso do transporte
individual. Por outro lado, novas vias são construídas para atender todos os
usuários do automóvel individual o que acaba incentivando cada vez mais o seu
uso. Consequentemente, as cidades se tornam desumanizadas e excludentes,
planejadas para a circulação dos veículos com menos espaços públicos e de lazer.
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UNIDADE II │ A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES
sistema de transporte não devem ser pensados separadamente, eles são fatores
intrínsecos no planejamento da cidade e no sistema de transporte. Percebe-se que
há dificuldades e desafios em se criar uma visão de planejamento por meio dessas
duas vertentes.
Por outro lado, se o número de veículos que circula em uma via é maior do que
a capacidade viária, a tendência é o colapso do sistema de transporte, resultando
em maior tempo de viagem, congestionamento, diminuição da acessibilidade e
mobilidade da população.
Segundo Newman e Kenwortht (2000), citado por Gomes (2009), existem quatro
etapas e ações principais para transformar uma cidade dependente do automóvel
numa cidade sustentável:
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
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CAPÍTULO 5
Exemplo de ações de sucesso
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
»» ônibus com capacidade para 160 ou, no caso dos biarticulados, 290
passageiros;
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A expansão urbana da cidade tinha que ser reorientada devido aos riscos que o
padrão concêntrico significa para os principais mananciais e áreas de preservação
natural da cidade. Aparentemente, um plano diretor convencional criava eixos de
circulação importantes para a cidade e definia um zoneamento para o uso comercial,
residencial, industrial e uso misto, e a densidade urbana desejada. Foram criadas
condições para que o plano não se tornasse o típico modelo de plano diretor, estático,
inflexível, normativo e restritivo ao desenvolvimento.
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A INTERAÇÃO ENTRE A “QUESTÃO URBANA” E A “QUESTÃO DO TRANSPORTE” NAS GRANDES CIDADES │ UNIDADE II
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TRANSPORTE PÚBLICO UNIDADE III
SUSTENTÁVEL
CAPÍTULO 1
O transporte público
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
Com isso, a distribuição das atividades ficou desequilibrada, por um lado, surgiram
vazios urbanos, com espaços sem funcionalidade, por outro, áreas com alta demanda
de atividades. Nesse sentido, o consumo exagerado de áreas implica na diminuição
dos espaços verdes, que protegem as áreas urbanas e que reciclam o ar. As periferias
passaram de aglomerados rurais para urbanos com milhares de habitantes tendo
que se deslocar diariamente para o centro da cidade, onde concentra a maioria dos
serviços e atividades. Nesse sentido, o planejamento urbano não deve ser omisso
para tratar as áreas periféricas e concentrar esforços para resolver os problemas do
centro das cidades.
Segundo Joana Gomes (2009), algumas medidas podem ser tomadas para
diminuir esses problemas, logo, incentivar o uso do transporte público:
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
As cidades que criam resistência ao uso do transporte público, e que têm como
meta somente a construção de autoestradas, tornam-se dependentes do uso do
transporte individual, porém, o transporte público possui um papel fundamental
no deslocamento da população. Tendo em vista esse aspecto, é necessário melhorar
a eficácia dos transportes públicos de modo a torná-lo mais competitivo, para isso,
devem-se tomar como base algumas medidas para incentivar o seu uso:
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
se cada vez mais importante à medida que ele se torna mais complexa.
Atualmente, muitas cidades tiveram essa preocupação e implantaram o
sistema integrado de todos os sistemas presentes na rede, porém, outras
fornecem somente informações mínimas.
Tais sistemas não só são importantes para o uso dos turistas, mas
também pelos cidadãos da cidade, quer estejam acostumados a usar o
sistema de transporte ou não. Nesse sentido, o uso adequado do sistema
de informações é tão importante, demonstrando com simplicidade
os convenientes do uso desse sistema. É muito importante que esteja
explícito nos painéis informativos o mapa da rede, com as linhas, as
interfaces, as tarifas, os horários e os serviços da rede. Quanto mais
complexo o sistema, mais difícil se torna a organização da informação,
porém, esse deve se apresentar de modo claro e conciso. Dentro dos
veículos é necessária a disponibilização da informação da linha com as
paradas, sendo geralmente mais fáceis de serem aplicadas no sistema
metroviário, por ser operacionalmente mais constante.
BRT
O BRT é uma sigla inglesa para denominar “Bus Radid Transit”, ou seja,
“Transporte Rápido por Ônibus”, podendo ser chamado também de Veículo
Leve sobre pneus. É um sistema de transporte público de massa sobre pneus
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
que pode realizar um serviço mais rápido e eficiente do que o sistema de ônibus
convencional, pois são utilizados em corredores exclusivos.
»» Transbordo facilitados.
Porém, nem todos os elementos que caracterizam o BRT, que podem ser precisos
ou exequíveis dentro de determinado cenário, uma vez que as circunstâncias
locais são distintas, ou seja, a escolha mais apropriada poderá não conter todos os
requisitos sendo uma solução inviável para a implantação desse sistema.
Além dos fatores como capacidade, velocidade e tamanho da rede, outros elementos
de natureza qualitativa podem caracterizar o BRT, tais como: facilidade de acesso
ao sistema, conforto nas estações e autocarros, percepção de proteção e segurança,
legibilidade e compreensão de mapas e da sinalização, amplo reconhecimento do
nome e imagem do sistema, limpeza e profissionalismo em todo o serviço.
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
VLT
O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é um modal de transporte público sobre trilhos
que tem características semelhantes ao metrô de superfície, utilizando-se de energia
elétrica, com facilidades para sua implantação no sistema viário existente, permite
ser compartilhado no sistema viário, possibilita a convivência com os pedestres.
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
O VLT traz aspectos que lembram os antigos bondes que circulavam nas cidades
brasileiras no século XIX, com um caráter mais inovador e moderno, com um caráter
indutor no processo de requalificação urbana em grandes centros, permitindo
solucionar problemas vindos de demanda por transporte público, dinamismo
urbano associado ao crescimento populacional e aos congestionamentos no
sistema viário, o que possibilita a condução da qualidade de vida da população
urbana.
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
NECESSIDADE
TECNOLOGIA VANTAGENS DESVANTAGENS
DE DEMANDA
»» Imagem positiva para a cidade. »» Alto custo de infraestrutura ($60 a
»» Alta velocidade comercial (28 a 180mil por Km).
40km/h). »» Pode requerer subsídios operacionais.
METRÔ Demanda alta
»» Atrai os usuários de transporte público. »» Longos períodos de desenvolvimento
(subterrâneos e elevados (40 a 80 mil pass/h/sent)
»» Utiliza relativamente pouco espaço e construção.
público. »» Financiamento privado somente com
»» Limpo. PPP.
»» Imagem positiva para a cidades. »» Custos de infraestrutura
moderadamente altos (US$15 a
»» Atrai os usuários de transporte público.
Demanda ponderada de 45milhões/km).
VLT (veículo leve sobre
passageiros (15 a 35mil »» Silencioso.
trilhos »» Pode requerer subsídios operacionais.
pass/h/sent.
»» Pode ajustar-se as ruas estreitas.
»» Financiamento privado somente com
»» Poucas emissões locais.; PPP.
»» Custo de infraestrutura mais baixo ($10
milhões a 20-Km).
»» Pode trazer consigo o estigma
»» Em geral, não requer subsídios para negativo da tecnologia de ônibus.
Demanda moderada de sua operação.
BRT (Bus Rapid Transit) passageiros (15 a 35mil »» Se mal implantado, degrada o
pass/h/sent). »» Boa média de velociadade comercial corredor.
(20 a 30km/h).
»» Contaminação e barulho.
»» Pode ser operada por empresas
privadas.
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
Apoiando-se nessas definições, o VLT pode ser muito mais que um sistema de
transporte, podendo além de realizar o deslocamento dos usuários, reurbanizar os
espaços e a paisagem da cidade sem poluentes, possibilitando a integração com outros
sistemas de transporte. Logo, oferece grande facilidade na inserção urbana, inclusive
na convivência com os pedestres, desempenhando um serviço de alta qualidade
operacional quanto ao conforto, à segurança, disponibilidade e confiabilidade.
Monotrilho
Trens urbanos
Os trens urbanos são trens de subúrbio com aspectos mais modernos e sistemas mais
eficazes de controle, que permite intervalos de tempo menores entre os trens. Muitas
capitais brasileiras estão inovando no sentido de transformar seus trens urbanos em
metrô de alta capacidade, a fim de atender as regiões metropolitanas. A diferença
entre o metrô e os trens urbanos é que esse último permite maior distância entre as
estações e sua abrangência, que geralmente envolve cidades vizinhas.
Metrô
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
Outros sistemas
Ciclovias e ciclofaixas, escadas e passarelas rodantes, elevadores, funiculares (um
tipo especial de caminho de ferro utilizado para subir grandes pendentes) e teleféricos
também podem ser integrados às redes de transporte urbano. Um exemplo antigo é o
Elevador Lacerda, na cidade de Salvador. Um exemplo mais moderno é o Elevador do
Cantagalo, no Rio de Janeiro que recentemente foi inaugurado. Nesse sentido, o Rio
inovou ao instalar uma linha de teleférico no Complexo do Alemão, com o objetivo
de interligar várias favelas da cidade, este foi inspirada no Metrocable, implantado
em Medelín na Colômbia.
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
pelas pessoas, mesmo com a utilização algum equipamento, logo, todos nós, em
algum momento do dia e de algum jeito, nos deslocamos pelo nosso próprio esforço,
isto é, sem o uso do sistema motorizado, por meio do sistema viário disponível, tal
como: calçadas, passeios, calçadões, passarelas, ciclovias etc.).
Por outro lado, esses tipos de deslocamentos são poucos considerados como meio
de locomoção, embora suas viagens constituam importante modo de deslocamento,
isoladamente ou como um complemento de outros meios de transporte e para
facilitar o acesso aos locais de embarque de outros meios de transporte.
A circulação das pessoas por meios não motorizados não deve ser ignorada, pois
é um dos importantes elementos do sistema de transporte. A inclusão destes
deslocamentos no planejamento urbano e no planejamento dos transportes,
bem como na gestão da mobilidade urbana, respeitando as suas características
e necessidades particulares, contribui para o processo de inclusão social da
população, bem como valida essa expressiva parcela das viagens urbanas.
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
O tempo total de viagem pode ser definido pela soma dos seguintes
tempos:
›› Tempo de embarque.
›› Tempo de desembarque.
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
›› Qualidade do veículo.
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
Para isso, devem ser oferecidos estacionamentos estratégicos, nos quais os veículos
possam permanecer estacionados e protegidos até o retorno do proprietário. O ideal
é que esses estacionamentos tenham uma tarifa integrada com o transporte público
coletivo que será usado, seja ônibus ou metrô. Nos Estados Unidos, esses grande
estacionamento são chamados de “park and ride”.
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
O sistema viário é o espaço público por onde as pessoas circulam, a pé ou com auxílio
de algum veículo (motorizado ou não), articulando no espaço todas as atividades
humanas intra e interurbanas. Este espaço público abriga também redes de
distribuição dos serviços urbanos (abastecimento de água, energia elétrica, telefonia;
coleta e esgotamento de águas pluviais, lixo, esgoto sanitário etc.).
Transporte sustentável
A importância do sistema de transporte para o desenvolvimento das cidades está
na medida em que este permite que as cidades mantenham ligação com vários
fatores, envolvendo fluxos de pessoas, dinamismo da cidade, apropriação do
espaço urbano, mercadorias e capitais, entre outros.
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TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ TRANSPORTE PÚBLICO SUSTENTÁVEL
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O SISTEMA
METROVIÁRIO E UNIDADE IV
SUA RELAÇÃO
COM A CIDADE
CAPÍTULO 1
O sistema metroviário
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UNIDADE IV │ O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE
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O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE │ UNIDADE IV
g. Seul: o metrô de Seul estende-se por 287 km, conta com 9 linhas e 266
estações. É um dos mais movimentados do mundo com 7 milhões de
passageiros por dia.
i. Madri: o metrô de Madri possui uma extensão de 283,3 km, 282 estações,
divididas em 13 linhas, além de um ramal de 3 linhas operadas com veículo
leve sobre trilhos (VLT). Apresenta um tráfego médio de 1,7 milhões de
passageiros por dia.
Tipologia da metrovia
Vários fatores são importantes para a definição de uma rede metroviária, como:
topografia, limitações do espaço urbano, declividade máxima que o trem consegue
vencer, acidentes geológicos e geográfico, entre outros.
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UNIDADE IV │ O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE
A tipologia da metrovia também pode variar de acordo com a estrutura urbana e suas
limitações. As tipologias podem ser: subterrânea (abaixo do nível do solo); de superfície
(no mesmo nível do solo do seu entorno ou em nível superior, sobre aterro); elevado
(acima do nível do solo, apoiada sobre estrutura); em trincheira, em nível inferior à
superfície (em corte).
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O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE │ UNIDADE IV
Os metrôs mais recentes são de Fortaleza e o Metrô de Salvador (quadro 3), que
tiveram sua operação comercial iniciadas em 2012 e 2014, respectivamente (LOBO,
2014). Existem atualmente, dois projetos de metrôs para serem implantados nas
cidades de Curitiba e de Goiânia.
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UNIDADE IV │ O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE
É essencial para grandes cidades como São Paulo o sistema de transporte sobre
trilhos, pois é o que atende as maiores demandas no deslocamento de pessoas,
além de ter velocidades mais alta e por possuir regularidade, permitindo que os
usuários planejem os seus deslocamentos.
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O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE │ UNIDADE IV
Pelo fato de seu traçado ser de natureza permanente, a localização de seu traçado
é um fator muito importante para o desenvolvimento da cidade, principalmente
para os polos que funcionam como centralidades urbanas. Para justificar a escolha
do posicionamento da linha e das estações metroviárias, é necessário que haja
demanda potencial de usuários. Outro fator relevante para essa escolha é que sua
localização espacial esteja próxima das atividades e dos serviços na cidade, pois
esse sistema apresenta alto custo de implantação, operação e manutenção, o qual
somente se justifica por ser um transporte de massa. Dessa forma, a diversidade
do uso do solo e a densidade urbana são variáveis importantes para a implantação
do sistema metroviário.
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UNIDADE IV │ O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE
vivem em outros lugares mais distantes. Nesse seguimento, pode-se considerar que
as áreas de influência das estações do metrô apresentam características e grande
capacidade de formação de subcentros através da: acessibilidade; da concentração
de trabalho; da concentração de atividades diversificadas e da geração de viagens.
b. a geração de empregos;
e. o aumento da densidade;
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O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE │ UNIDADE IV
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UNIDADE IV │ O SISTEMA METROVIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE
100
Referências
101
REFERÊNCIAS
102
REFERÊNCIAS
JACOBS, Jane. The death and life of great American cities. Vintage Books ed ed.
New York: Vintage Books, 1992.
103
REFERÊNCIAS
PINTO, Ana Marcela Ardela; RIBEIRO, Letícia Parente. Espaço público e mobilidade
urbana: uma análise comparada do papel do espaço público nas políticas de mobilidade
urbana de Bogotá e do Rio de Janeiro: o caso dos projetos de BRT. III Simpósio de
Ciências Sociais: Cidade e Democracia. Belo Horizonte/MG. 2014.
Tabela 2: Variação dos preços das tarifas de ônibus e metrôs e insumos do tranporte
privado.
104
REFERÊNCIAS
Lista de gráficos
Gráfico 1: Gastos per capita das famílias brasileiras (2009).
Lista de figuras
Figura 1: Modelo Monocêntrico.
105