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Orientação alimentar para indivíduos diabéticos praticantes de


atividade física

Eliane de Souza e SILVA1


Fabíola Rainato Gabriel de MELO2
Erika da Silva BRONZI3
Cyntia Aparecida Montagneri AREVABINI4
Márcio Henrique Gomes de MÉLLO5
Resumo: O diabetes mellitus é considerado uma doença crônica não transmissível, que vem aumentando no mundo. Ela está
entre as dez principais doenças não transmissíveis que levam à morte. O aparecimento das complicações está relacionado
com tratamento, planejamento alimentar, terapia medicamentosa e exercício físico. Uma das causas que impedem os diabé-
ticos de praticar atividade física é a ocorrência de hipoglicemias, durante e após a atividade. As recomendações para diabé-
ticos praticantes de atividade física não diferem das direcionadas a um portador não praticante, uma alimentação saudável,
equilibrada e adequada. Para evitar a hipoglicemia durante a atividade física, deve-se monitorá-la antes e durante o exercício
e corrigi-la se necessário, e em atividades de longa duração, deve haver a reposição de carboidrato. O objetivo deste trabalho
foi descrever as recomendações nutricionais e alimentares aos diabéticos praticantes de atividade física, identificar os sinto-
mas da hipoglicemia, seu modo de tratamento e os cuidados especiais a serem tomados. Foram encontrados 52 artigos, dos
quais foi utilizado um total de 22 para se fazer a revisão bibliográfica, escolhendo-se artigos que estavam relacionados com
o tema a ser pesquisado, excluindo-se os mais antigos e os que relataram estudos feitos em animais. A análise foi realizada
considerando informações sobre a fisiopatologia da doença, tratamento e terapia nutricional, exercício físico associado ao
tratamento e cuidados na realização da atividade física pelos portadores de diabetes. É importante ressaltar a diminuição dos
níveis de glicose sanguínea que ocorre durante a atividade física; se o planejamento alimentar não estiver adequado, pode
ocorrer hipoglicemia, prejudicando o portador com sintomas leves, que pode evoluir para um quadro mais grave, havendo
risco de morte.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Atividade Física. Hipoglicemia. Recomendações Alimentares.

1
Eliane de Souza e Silva. Pós-graduanda em Nutrição Estética e Esportiva pelo Claretiano – Centro Universitário e Bacharel em Nutrição pela mesma
instituição. E-mail: <elianessilvanutri@gmail.com>.
2
Fabíola Rainato Gabriel de Melo. Doutora e Mestre em Investigação Biomédica pela Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto (SP).
Bacharel em Nutrição pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Coordenadora e docente do curso de Nutrição no Claretiano – Centro Universitário.
E-mail: <nutricao@claretiano.edu.br>.
3
Erika da Silva Bronzi. Doutora em Ciências Nutricionais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus Araraquara (SP).
Mestre em Saúde na Comunidade pela Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto (SP). Licenciada em Biologia pelo Claretiano – Centro
Universitário. Docente do curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <esbronzi@yahoo.com.br>.
4
Cyntia Aparecida Montagneri Arevabini. Mestre em Biotecnologia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP).
Especialista em Docência na Educação Superior pela Universidade de Ribeirão Preto. Bacharel em Nutrição pela
Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Docente do curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário.
E-mail: <cyntiaarevabini@claretiano.edu.br>.
5
Márcio Henrique Gomes de Méllo. Mestre em Biotecnologia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Bacharel em Química Industrial pela mesma
instituição. Docente do curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <marciomello@claretiano.edu.br>.

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Food orientation for diabetic individuals practicing physical activity

Eliane de Souza e SILVA


Fabíola Rainato Gabriel de MELO
Erika da Silva BRONZI
Cyntia Aparecida Montagneri AREVABINI
Márcio Henrique Gomes de MÉLLO
Abstract: Diabetes mellitus is considered a chronic non-communicable disease that is increasing in the world. It is
among the top ten non-communicable diseases leading to death. The appearance of complications are related to treatment,
adequate food planning, drug therapy and physical exercise. One of the causes that prevent diabetics from practicing
physical activity is the occurrence of hypoglycemia, during and after the activity. The recommendations for practicing
diabetics do not differ from a non-practicing carrier, a healthy, balanced and adequate diet. To avoid hypoglycemia
during physical activity you should monitor before and during exercise and correct it if necessary and in long-term
activities there should be carbohydrate replenishment. The objective of this study was to describe nutritional and dietary
recommendations for diabetics practicing physical activity, identify the symptoms of hypoglycemia and how to treat it and
special care. We found 52 articles and were used to make the bibliographic review a total of 22 articles, we used articles
that were related to the subject to be researched, excluding old articles and those that carried out studies done in animals.
The analysis was performed considering information on the pathophysiology of the disease, treatment and nutritional therapy,
physical exercise associated with the treatment and care in the performance of physical activity by people with diabetes.
Decreased blood glucose levels, but if dietary planning is not adequate hypoglycemia may occur, impairing the patient with
mild symptoms and progressing to gravity such as death.

Keywords: Diabetes Mellitus. Physical Activity. Hypoglycemia. Dietary Recommendation.

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1.  INTRODUÇÃO

O diabetes caracteriza-se por um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que resulta em


aumento da glicemia sanguínea, podendo ser ocasionado por falhas na ação da insulina ou na secreção
dela, ou até mesmo por ambas as situações (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES – SBD,
2016).
O diabetes mellitus pode apresentar-se em duas formas, que são o diabetes tipo I e o tipo II. O tipo
I, na maioria dos casos, é ocasionado pela deficiência total de insulina devido à destruição das células β,
geralmente ocasionada por processos autoimunes (ANGELIS et al., 2006; COSTA; FRANCO, 2005).
O diabetes mellitus tipo II é o que não depende da insulina. É caracterizado pela resistência à ação da
insulina no início da doença e, com a evolução da patologia, pode ocorrer deficiência na produção da
insulina; decorrente dessas duas alterações, também pode ocorrer o aumento da produção de glicose
pelo fígado (OLIVEIRA; MILECH, 2006). Os fatores determinantes no aparecimento do diabetes tipo
II são: hereditariedade, obesidade, hábitos alimentares, estresse e sedentarismo (FERNANDES et al.,
2005). Os sintomas apresentados pelos portadores dos diabetes tipo I e II geralmente são semelhantes:
sede excessiva, diurese excessiva, dores nas pernas, alterações na visão, ganho de peso, dificuldade de
o organismo cicatrizar feridas e machucados, aumento da fome, fadiga ou sensação de cansaço (ARSA
et al. 2009; ISLEY; MOLITCH, 2005).
A ocorrência do diabetes, principalmente do tipo II, vem crescendo mundialmente. Estudos rela-
tam que o número de adultos com a doença subirá de 135 milhões, em 1995, para 300 milhões até 2025.
No Brasil, números coletados pela campanha nacional de detecção de diabetes mellitus em 2001 mos-
traram que 71% da população avaliada estaria sob suspeita de possuir a doença (COSTA et al., 2011). O
aumento do crescimento populacional e da expectativa de vida, juntamente com o envelhecimento po-
pulacional, a evolução das tecnologias e o maior consumo de alimentos processados e refinados resulta-
ram em hábitos de vida sedentários e na prevalência da obesidade, aumentando o número de diabéticos.
Conhecer o número de portadores da doença e estimar o número de portadores no futuro é importante,
pois permite o planejamento de recursos e ações para prevenção e tratamento da doença (SBD, 2016).
O diabetes está entre as dez principais doenças não transmissíveis que levam à morte (MAR-
QUES; FORNÉS; STRINGHINI, 2011). O objetivo do tratamento em portadores da doença é prevenir
o aparecimento das complicações crônicas, como retinopatia, nefropatia, neuropatia diabética, acidente
vascular cerebral e doença arterial periférica (PERES et al., 2016).
A inatividade física apresenta uma relação significante com o aparecimento de doenças crônicas;
um estudo experimental realizado em 1997 mostrou que a prática de atividade física é tão importante
quanto a dieta no que se refere à prevenção do diabetes (KNUTH et al., 2007). A prática de atividade
física e a terapia nutricional constituem alguns dos meios de tratamento e prevenção do diabetes e atuam
na melhora da condição de saúde e em melhor qualidade de vida (MERCURI; ARRECHEA, 2001). A
prática regular de atividade física é de extrema importância para o tratamento da doença, pois provoca
efeitos benéficos, como melhora do metabolismo da glicose e do perfil lipídico e diminuição da pressão
arterial, atuando na minimização do risco de o paciente diabético desenvolver doenças cardiovasculares
(FERNANDES et al., 2005).
A alimentação saudável e adequada associada à prática regular de atividade física proporciona
melhora da sensibilidade à insulina, diminui níveis plasmáticos de glicose, reduz a circunferência da
cintura e a gordura visceral, consequentemente melhorando o perfil lipídico dos indivíduos que possuem
a doença (BRITO; VOLP, 2008); além disso, possibilita o aumento da utilização da glicose como fonte
de combustível para o músculo durante a atividade física, otimizando assim o controle da glicemia, pos-
sibilitando o aumento do turnover da insulina, devido à maior captação hepática e à maior sensibilidade
dos receptores periféricos (COSTA et al., 2011).
O tratamento adequado da doença é de extrema importância para evitar a evolução da patologia,
prevenindo futuras complicações e, consequentemente, diminuindo o número de pacientes hospitali-
zados e a mortalidade, reduzindo também os gastos públicos ocasionados pelo tratamento das compli-
cações de doenças crônicas e que podem ser aplicados em outra área, como a educação, por exemplo
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(COTTA et al., 2009). Estudos comprovam que o tratamento do diabetes inclui planejamento alimentar,
terapia medicamentosa e exercício físico. O exercício físico praticado regularmente reduz a taxa de gli-
cose no sangue, favorecendo o controle da doença (SBD, 2016), entretanto, para evitar possíveis com-
plicações, quaisquer indivíduos devem obter orientação profissional antes de iniciar a atividade física,
principalmente no caso de pacientes diabéticos (SANTANA; SILVA, 2009).
Para praticar uma atividade física, pessoas saudáveis necessitam de uma reserva energética para
sua realização, o que não é diferente em portadores de diabetes, porém, neste caso, exige-se um cuidado
maior, pois o diabético pode não utilizar essa reserva ou usá-la e esgotá-la rapidamente, requerendo-se
mais atenção, tornando o controle da glicemia mais difícil (VIEGAS, 2014). Um dos maiores obstáculos
que impedem as pessoas que possuem a doença de praticar a atividade física é a ocorrência frequente de
hipoglicemias, durante ou até mesmo horas após a atividade física. Por esse motivo, são importantes um
plano alimentar específico, que englobe a terapia nutricional da doença, e a escolha de tipos de exercí-
cios físicos que permitam a realização da atividade física, contribuindo para o tratamento e o controle da
patologia (MICULIS et al., 2010).
Dessa forma, os objetivos deste trabalho foram: descrever, por meio de revisão da literatura, as
orientações alimentares aos portadores de diabetes praticantes de atividade física, bem como as reco-
mendações nutricionais; identificar os sinais e sintomas da hipoglicemia durante a realização do exer-
cício e as condutas a serem tomadas; identificar os benefícios da atividade física para o tratamento da
doença e os cuidados especiais que o portador de diabetes deve ter ao realizar a atividade física.

2.  METODOLOGIA

Tratou-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica realizada no período de agosto de 2016 a


novembro de 2016. Optou-se pela busca de artigos, em periódicos nacionais e internacionais, publica-
dos entre os anos de 2001 e 2016, disponíveis nas bases de dados Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2015–2016 (SBD), LILACS, em livros, re-
vistas eletrônicas e sites.
Foram utilizados os seguintes descritores de assunto: “diabetes e atividade física”; “exercício físi-
co e diabetes”; “orientações nutricionais para diabéticos”, “terapia nutricional para diabéticos”, “prática
de atividade física em portadores de diabetes”, “diabetes mellitus”, “atividade física” e “dieta e diabe-
tes”. Foram encontrados 52 artigos, sendo utilizado para fazer a revisão bibliográfica um total de 22
artigos, escolhendo-se aqueles que estavam relacionados com o tema a ser pesquisado e excluindo-se
artigos antigos e os que relataram estudos feitos em animais. A análise foi realizada considerando infor-
mações sobre a fisiopatologia da doença, tratamento e terapia nutricional, exercício físico associado ao
tratamento e cuidados na realização da atividade física pelos portadores de diabetes.

3.  DESENVOLVIMENTO

Para que o indivíduo seja classificado portador da doença, é necessário avaliar três critérios para
o diagnóstico da patologia: poliúria, polidipsia e perda ponderal acompanhada de glicemia casual ≥ 200
mg/dL, cuja medição pode ser feita a qualquer hora do dia (SBD, 2016).
Quadro 1. Critérios para o diagnóstico de Diabetes mellitus.
2h após ingestão de 75g de
Categoria Jejum*
glicose
Glicemia normal < 100 < 140
Tolerância à glicose
≥ 100 a < 126 ≥ 140 a < 200
diminuída
Diabetes mellitus ≥ 126 ≥ 200
* Jejum é considerado a falta de ingestão de alimentos por no mínimo 8 horas.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (2016).

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O tratamento da doença consiste em controlar a glicemia, aliviar os sintomas, prevenir compli-


cações e promover melhor qualidade de vida, o que se consegue com dieta específica, terapia medica-
mentosa e/ou uso de insulina e prática regular de atividade física (GUIMARÃES; TAKAYANAGUI,
2002). A orientação alimentar para o portador de diabetes fundamenta-se em uma alimentação saudável
e adequada em proporções de quantidade e qualidade, variedade de alimentos e, sobretudo, que atenda
às necessidades diárias dos indivíduos em todas as fases da vida (SBD, 2016). Ainda segundo a So-
ciedade Brasileira de Diabetes (2016), recomenda-se que o paciente diabético ou pré-diabético realize
uma consulta médica antes de iniciar a atividade física, procurando realizar uma avaliação dos princi-
pais sistemas que possam sofrer complicações, como avaliação cardíaca, vascular, autonômica, renal e
oftalmológica, e o teste de esforço, para determinação da capacidade funcional, frequência cardíaca e
condição aeróbica.

Recomendações nutricionais e orientações alimentares

A recomendação da composição alimentar para os portadores de diabetes tipo I, tipo II, pessoas
pré-diabéticas e gestantes que desenvolveram diabetes gestacional é baseada em uma alimentação ba-
lanceada e saudável, permitindo níveis de glicemia o mais possível próximos do normal em qualquer
período, níveis de lipídios normais e pressão arterial adequada (SBD, 2016).
Recomenda-se que o plano alimentar seja fracionado em cinco ou seis refeições diárias, de 3 em 3
horas, dando-se preferência ao preparo de alimentos grelhados, assados e cozidos no vapor, podendo ser
utilizados alimentos diet, light ou zero, respeitando-se as preferências individuais do paciente e evitando
o uso de açúcar (SBD, 2016).
As recomendações nutricionais do plano alimentar para as pessoas com diabetes mellitus são: 45%
a 60% de carboidratos totais, sendo que a sacarose pode ser até 10%; em relação à fibra alimentar, reco-
mendam-se 14 g para cada 1 000 kcal ingeridas, sendo, para o portador de diabetes, entre 30 g e 50 g ao
dia; a gordura total deve compreender de 25% a 35% do valor calórico total, sendo os ácidos graxos sa-
turados < 7% do valor calórico total, os ácidos graxos poli-insaturados, até 10% do valor calórico total,
os monoinsaturados, de 5% a 15% do valor calórico total; o colesterol deve ser < 300 mg/dia; a proteína
deve compreender 15 a 20 % do valor calórico total; o sódio deve ser até 2 000 mg/dia; e as vitaminas e
demais minerais seguem as mesmas recomendações para a população saudável (SBD, 2016).
A atividade física deve ser prescrita de maneira individual por um profissional habilitado, o que
contribui para a melhora do tratamento e evita que o praticante prejudique sua saúde (MERCURI; AR-
RECHEA, 2001). O plano alimentar adequado para o tratamento da patologia, levando em consideração
também a prática de atividade física, é considerado o tratamento de primeira escolha para o controle
da doença (GOMES-VILLAS BOAS et al., 2011). Devido à falta de estudos científicos em relação ao
planejamento da dieta do atleta ou do praticante de atividade física portador de diabetes, a alimentação
do diabético não difere de uma pessoa saudável, entretanto alguns cuidados devem ser tomados com
relação a hipoglicemias e às doses de utilização da insulina (SBD, 2016).

Glicemia e atividade física

Antes de iniciar a prática de atividade física, recomenda-se que o indivíduo faça a aferição da gli-
cemia: pessoas portadoras de diabetes que apresentarem hiperglicemia > 300 mg/dL sem a presença de
cetonúria, corpos cetônicos produzidos pelo metabolismo de ácidos graxos e carboidratos pelo fígado,
podem realizar a atividade física; já em situações na qual a glicemia apresenta-se > 250 mg/dL, com a
presença de cetose, deve-se evitar a prática (SBD, 2016). Indivíduos que apresentem glicemia < 100 mg/
dL devem fazer a correção ingerindo de 15 a 30 g de carboidratos (ANGELIS et al., 2006).
Fatores externos que apresentam como função reduzir a glicemia, como insulina exógena e/ou
hipoglicemiantes orais, têm sua ação elevada devido ao aumento do metabolismo provocado pelo exer-
cício físico; orienta-se, somente nessas condições, que se diminua a medicação no dia em que a pessoa
portadora de diabetes for realizar a atividade física (KATZER, 2007). Se o paciente fizer uso de insulina
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regular ou de rápida absorção, deve-se realizar a aplicação de 1 a 3 horas antes da atividade física, di-
minuir a dose, de 30% a 50%, que produz o pico no momento da realização do exercício e não aplicar
a insulina nos músculos que irão se exercitar durante a atividade física (SBD, 2016; MERCURI; AR-
RECHEA, 2001). As orientações em relação à diminuição da dose do medicamento hipoglicemiante e
à aplicação de insulina antes de iniciar a prática regular de atividade física devem ser sempre avaliadas
pelo médico (SBD, 2016).

Hipoglicemia e atividade física

Algumas situações provocam a hipoglicemia durante a prática de atividade física; entre as prin-
cipais, incluem-se falta de planejamento alimentar adequado, horários inadequados das refeições e au-
mento inesperado da duração ou intensidade do exercício (SBD, 2016). Os sintomas da hipoglicemia
são: palidez, sudorese, apreensão, taquicardia, tremores, fome, tonteira, confusão mental, convulsões e
coma (SANTANA; SILVA, 2009).
Quando ocorre a hipoglicemia devida à realização do exercício físico, deve-se parar a atividade, medir
a glicemia e ingerir carboidrato de rápida absorção, seguindo a recomendação da Sociedade Brasileira
de Diabetes:
• se a glicemia apresentar entre 50 e 70 mg/dL, deve-se ingerir 15 g de carboidrato e repetir a
medição após 15 minutos (SBD, 2016);
• se a glicemia apresentar < 50 mg/dL, ingerir 20 g a 30 g de carboidrato e repetir a medição após
15 minutos. Para alívio dos sintomas, a glicemia deve-se apresentar > 70 mg/dL (SBD, 2016).

Benefícios da prática da atividade física no organismo de portadores de diabetes

Para que a atividade física provoque benefícios às pessoas diabéticas, deve ser realizada regular-
mente, no mínimo 3 vezes na semana, e contendo 30 minutos ou mais de atividade aeróbica (GALVIN;
NAVARRO; GREATTI, 2014). O exercício aeróbico proporciona condições de reverter parcial ou total-
mente algumas disfunções provocadas pela hiperglicemia crônica (SBD, 2016).
A sensibilidade à insulina aumenta com o exercício físico, beneficiando a entrada de glicose na
célula e o aumento da captação da glicose pelo músculo, que pode ocorrer de três maneiras distintas: au-
mento da ação da insulina, aceleração do metabolismo e atuação específica do exercício nos glicotrans-
portadores GLUT4 (GALVIN; NAVARRO; GREATTI, 2014; KATZER, 2007). Outros benefícios que a
pessoa recebe são: diminuição da taxa de glicose, que é um dos principais efeitos positivos ao diabético;
melhora das funções cardiorrespiratórias; diminuição da gordura corporal; redução dos fatores de risco
para as doenças coronarianas; redução da ansiedade e depressão devido à realização do exercício aeróbi-
co, que permite o lançamento, na corrente sanguínea, de substâncias que são responsáveis por esse efei-
to, como as endorfinas (KATZER, 2007); e melhora dos níveis pressóricos em diabéticos hipertensos
(SBD, 2016). A prática de exercício físico proporciona também melhor controle do colesterol, fortalece
músculos e ossos, melhora a resistência e, consequentemente, melhora a qualidade de vida e o bem-estar
do portador da doença (KATZER, 2007).

Cuidados especiais que o portador de diabetes deve ter para a realização do exercício físico

Ao iniciar a prática de atividade física, deve-se evitar estabelecer metas inatingíveis: deve-se ini-
ciar aos poucos a atividade, aumentando gradativamente a duração e a intensidade do exercício (MER-
CURI; ARRECHEA, 2001).
Parar imediatamente o exercício se apresentar sinais de hipoglicemia, dor no peito ou respiração
sibilante (MERCURI; ARRECHEA, 2001).

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Utilizar um sapato próprio e adequado para a realização da atividade física e ter cuidado com os
pés, para não machucá-los, examinando-os diariamente (MERCURI; ARRECHEA, 2001).
Ingerir água constantemente, beber líquidos frios (200 mL a cada 30 minutos de exercício) (SBD,
2016).
Levar consigo documentos de identificação pessoal, informar os profissionais que acompanham
o praticante de atividade física sobre sua condição clínica e manter sempre consigo os medicamentos
que utiliza (SBD, 2016). Os praticantes devem sempre possuir um carboidrato de rápida absorção para
utilizá-lo em casos de hipoglicemia, e fazer a reposição de carboidratos em exercícios de longa duração
(SBD, 2016).
Monitorar sempre a glicemia capilar antes e após os exercícios (SBD, 2016).

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas revisões realizadas, pode-se concluir que, devido à falta de estudos científicos em
relação à alimentação do portador de diabetes atleta ou praticante de atividade física, as recomendações
alimentares não se distanciam muito das de um paciente portador da doença não praticante de esportes.
É importante o indivíduo ter um planejamento alimentar adequado e de acordo com suas necessida-
des fisiológicas, considerando sua atividade física, idade, sexo e características, contando sempre com
orientações profissionais para poder se beneficiar da prática de atividade física sem que ela comprometa
sua saúde.
A realização de qualquer atividade física, bem como todas as atividades do dia a dia, requer ener-
gia, que se obtém por meio da alimentação, sendo o carboidrato o principal macronutriente que nos
fornece energia. Nos indivíduos diabéticos, em que é comum a presença de hiperglicemia, a atividade fí-
sica auxilia no tratamento da doença justamente por ocorrer maior utilização de energia pelos músculos
devido à atividade exercida, contribuindo, consequentemente, para a diminuição dos níveis de glicose
sanguínea; porém, se o planejamento alimentar não estiver adequado, pode ocorrer hipoglicemia, preju-
dicando o portador com sintomas leves, que pode evoluir para um quadro mais grave, havendo risco de
morte, por exemplo. Por isso, reforça-se a importância da alimentação adequada para evitar situações
que possam prejudicar o indivíduo, impedindo a realização do exercício ou levando à sua interrupção.

REFERÊNCIAS

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