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TÉCNICAS DE COACHING NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA

PERDA DE PESO, REDUÇÃO DE GORDURA GORDURA CORPORAL E


CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA EM MULHERES FISICAMENTE ATIVAS,
SOBREPESO, PRÉ-MENOPAUSA

ANA PAULA TROCCOLI NORONHA1; LUCIANA OQUENDO PEREIRA


LANCHA2; PAULA HELENA DAYAN1; DANIELE KALLAS1; ANTÔNIO
HERBERT LANCHA JR.1.

RESUMO
A prevalência mundial de sobrepeso e obesidade vem apresentando um rápido e
progressivo aumento nas últimas décadas, sendo caracterizada como uma verdadeira
epidemia mundial. A redução na expectativa de vida em função do aumento de peso e
os prejuízos à saúde são parâmetros importantes para avaliar sua gravidade. Na tentativa
de frear o crescente aumento nos índices de sobrepeso e obesidade, uma vasta oferta de
dietas foram propostas nos últimos anos como estratégias para o emagrecimento,
prometendo perda de peso rápida e aparentemente promissoras. Entretanto, estudos
relatam que 95% das pessoas com excesso de peso fracassam na manutenção de dietas
de emagrecimento e voltam a engordar posteriormente. Os frequentes insucessos nos
tratamentos de redução de peso e os concomitantes prejuízos a saúde física e
psicológica dos indivíduos obesos, forçam pesquisadores e profissionais de saúde a
aprofundar a questão do tratamento da obesidade, com o objetivo de se entender como
os aspectos psicológicos e comportamentais são importantes para o manejo adequado do
problema. Neste contexto, abordagens como o Coaching Nutricional, voltadas para
mudança de comportamento, assumem papel cada vez mais importante em diversos
contextos de atuação e, concretamente, na sua aplicação às Ciências da Nutrição (CN),
área em que o desenvolvimento pessoal é um elemento indispensável para o sucesso.
Este estudo teve como objetivo analisar a eficácia da utilização das técnicas de coaching
para a perda de peso, perda de gordura corporal e redução de circunferência de cintura
em mulheres fisicamente ativas, com sobrepeso, pré-menopausa, em comparação ao
1 EEFE – Escola de Educação Física e Esportes – USP

2 IBES – Instituto de Bem Estar e Saúde – São Paulo


modelo tradicional de prescrição de dietas e mostrou-se efetivo para promover perda de
peso, melhora de composição corporal e redução da circunferência da cintura. O estudo
demonstrou que o coaching nutricional possui ferramentas poderosas que podem ser
utilizadas pelos profissionais de saúde para auxiliar na mudança de comportamento e,
consequentemente, na perda de peso.

ABSTRACT
The worldwide prevalence of overweight and obesity has shown a rapid and progressive
increase in the last decades, being characterized as a true world epidemic. The reduction
in life expectancy due to weight gain and health impairment are important parameters
for assessing its severity. In an attempt to break off the growing increase in overweight
and obesity rates, a lot of new diets have been proposed in recent years as strategies for
weight loss, promising fast and seemingly promising weight loss. However, studies
report that 95% of overweight people fail in the maintenance of weight loss diets and
then fatten later. Frequent failures in weight reduction treatments and the concomitant
damages to the physical and psychological health of obese individuals, force researchers
and health professionals to deepen the issue of the treatment of obesity, with the
objective of understanding how the psychological and behavioral aspects are important
for the proper handling of the problem. In this context, approaches such as Nutritional
Coaching, oriented towards behavior change, assume an increasingly important role in
several contexts of action and, specifically, in its application to the Nutrition Sciences
(NC), an area in which personal development is an indispensable element for success.
This study aimed to analyze the effectiveness of the use of coaching techniques for
weight loss, loss of body fat and reduction of waist circumference in physically active
women, overweight, pre menopause, compared to the traditional model of prescription
diets and proved to be effective in promoting weight loss, improving body composition
and reducing waist circumference. The study showed that nutritional coaching has
powerful tools that can be used by health professionals to help change behavior and,
consequently, weight loss.

Palavras-chave: Obesidade, sobrepeso, dieta, comportamento alimentar, coaching,


coaching nutricional.

1. INTRODUÇÃO
A prevalência mundial de sobrepeso e obesidade vem apresentando um rápido e
progressivo aumento nas últimas décadas, sendo caracterizada como uma verdadeira
epidemia mundial (Velásquez-Melendez et al., 2004). Resultados da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) realizada no Brasil em 2008-2009, revelam que o
excesso de peso atingiu cerca de metade dos homens (50,1%) e das mulheres (48%)
(IBGE, 2010).
O excesso de peso, definido pelo índice de massa corpórea (IMC) > 25kg/m2
(WHO, 1995), está relacionado ao aumento da morbimortalidade, pois predispõe o
indivíduo ao aumento da pressão arterial e alteração no metabolismo de lipídios e
glicídios, tendo como consequências mais marcantes as doenças cardiovasculares e
cerebrovasculares, principais causas de morte e incapacitação de adultos em todo o
mundo (Santos et al., 2002).
A redução na expectativa de vida em função do aumento de peso e os prejuízos à
saúde são parâmetros importantes para avaliar sua gravidade. O comprometimento
fisiopatológico de basicamente todos os sistemas do organismo e as inúmeras
complicações associadas faz com que o combate à obesidade se torne um grande desafio
para pesquisadores, profissionais de saúde e governos do mundo inteiro (Mancini,
2001).
A causa é multifatorial, dentre os quais diversos fatores estão envolvidos, como
por exemplo, fatores genéticos (não modificáveis) e ambientais (modificáveis), sendo
que os fatores genéticos representam uma influência de apenas 30% no
desenvolvimento da obesidade e os 70% restantes são de influências ambientais, no qual
podemos destacar a ingestão alimentar em excesso e o sedentarismo (Naves e Costa,
2006). Dessa forma, a alimentação é um importante fator tanto na prevenção como no
tratamento da obesidade e de muitas doenças de alta prevalência nas sociedades atuais
(Francischi et al., 2001).
No Brasil, as mudanças demográficas, sócio econômicas e epidemiológicas
permitiram que ocorresse a denominada transição nos padrões nutricionais (Pereira et
al., 2003). Atualmente, a alimentação do mundo ocidental passou de um padrão rico em
alimentos frescos para uma dieta farta em alimentos industrializados e refinados. Isto
tem levado ao consumo excessivo de calorias e gordura, muito açúcar e sal e poucos
amidos e fibras. Paralelamente, o avanço tecnológico levou ao aumento do sedentarismo
poupando energia da população. Esses dois fatores tiveram como resultado o previsível:
a população mundial, na maioria dos países, começou a ganhar peso. Sendo assim, os
fatores de estilo de vida (alimentação e atividade física) representam a combinação mais
efetiva para o controle de peso e o seu desequilíbrio é a principal causa do crescente
índice de sobrepeso (IMC>25) observado em nossa população (Salve, 2006).
Na tentativa de frear o crescente aumento nos índices de sobrepeso e obesidade,
uma vasta oferta de dietas foram propostas nos últimos anos como estratégias para o
emagrecimento, prometendo perda de peso rápida e aparentemente promissoras (Betonil
et al., 2010). Entretanto, estudos relatam que 95% das pessoas com excesso de peso
fracassam na manutenção de dietas de emagrecimento e voltam a engordar
posteriormente (Morgana et al., 2010).
Parte da justificativa para isso resume-se ao fato de que dietas restritivas, quer
sejam aconselhadas por um nutricionista ou auto-induzidas, obriga as pessoas a
seguirem orientações muito restritas e a modificarem sua rotina diária para se adaptarem
a ela. Sendo assim, para manterem o peso e alcançar o corpo que julgam ideal, os
pacientes se utilizam, normalmente, dessas dietas extremamente restritivas (Claudino e
Borges, 2002). Neste contexto, o termo restrained eating foi definido como uma
tendência a restringir o consumo alimentar conscientemente, a fim de promover perda
de peso ou prevenir o seu ganho (Bernardi et al., 2005). Entretanto, tal plano poderia
fomentar no paciente a noção de que a comida é um inimigo, provocando, assim, uma
drástica redução da ingestão de alimentos. O paciente pode fazer o check-in com um
nutricionista a cada 30 ou 45 dias para monitorar o cumprimento da dieta prescrita. A
consulta dietética tradicional, assim como a de outros profissionais de saúde, impõe uma
estratégia de intervenção aguda, e o processo geralmente resulta em uma tentativa
frustrada de perda de peso à longo prazo (Lancha Jr. et al., 2018).
Porém, apesar das dietas com restrição calórica terem fracassado largamente no
tratamento da obesidade a longo prazo, elas continuam a ser a abordagem mais popular
para o controle de peso (Dayan et al., 2018).
Vitolo (2008) ressalta entretanto, que a prescrição de uma dieta sem esclarecer
ao paciente a causa do excesso de peso ou qual é o comportamento que está sendo
responsável pelo problema vai ser apenas mais uma medida infrutífera, entre tantas que
talvez o paciente já tenha recebido. Os frequentes insucessos nos tratamentos de
redução de peso e os concomitantes prejuízos a saúde física e psicológica dos
indivíduos obesos, forçam pesquisadores e profissionais de saúde a aprofundar a
questão do tratamento da obesidade, com o objetivo de se entender como os aspectos
psicológicos e comportamentais são importantes para o manejo adequado do problema
(Chaves e Navarro, 2011).
Segundo Mahan (1994), para que um plano alimentar de perda de peso tenha
sucesso é preciso haver uma integração entre dietas, exercícios, modificação
comportamental e educação nutricional. Para auxiliar na mudança de comportamento do
indivíduo, devem ser investigados os fatores que facilitam a ingestão inadequada de
alimentos naquele indivíduo em particular: a presença de episódios de comer
compulsivo; o padrão de exercício físico; os eventos associados às oscilações de peso e
suas consequências; os pensamentos; sentimentos e comportamentos associados ao
peso, dentre outros aspectos (Suplicy, 2007).
Um estudo realizado por Westenhoefer (1991) com 50 mil homens e mulheres,
participantes de um programa para perda de peso, mostrou que a alta pontuação inicial
de restrição alimentar está associada à maior ingestão alimentar e maior Índice de
Massa Corporal (IMC). Estes resultados talvez se devam às fracassadas tentativas de
perder ou manter o peso e, provavelmente, indicam dificuldades no controle alimentar e
preocupações com a forma corporal.
Embora existam diversos tipos diferentes de dietas e/ou planos alimentares,
todos têm um objetivo em comum: a perda de peso sustentada, saudável e que promova
benefícios à saúde do paciente (Nunes et al., 2006). Neste contexto, abordagens como o
Coaching Nutricional, voltadas para mudança de comportamento, assumem papel cada
vez mais importante em diversos contextos de atuação e, concretamente, na sua
aplicação às Ciências da Nutrição (CN), área em que o desenvolvimento pessoal é um
elemento indispensável para o sucesso. As abordagens comportamentais têm mostrado
evidência da sua utilidade para melhores resultados de intervenções destinadas à
mudança de hábitos alimentares (Spahn et al., 2010).
O coaching nutricional é um derivado da estratégia comportamental do coaching de
saúde e bem-estar que promove mudanças sustentáveis nos hábitos alimentares. O
profissional de coaching dá apoio aos clientes, ajudando-os a alcançar metas alinhadas
com seus valores pessoais. Portanto, coaching é um processo centrado no paciente e
baseado na teoria da mudança de comportamento que incentiva a auto descoberta e o
processo de aprendizagem ativa. Geralmente, o processo facilita a aprendizagem e, ao
contrário da psicoterapia, olha para o futuro e não para o passado (Dayan et al., 2018).
Envolve um processo que facilita mudanças de comportamento saudáveis e sustentáveis
ao desafiar um paciente a ouvir sua sabedoria interior, identificar valores pessoais e
transformar metas pessoais em ações (Lancha Jr. et al., 2018).
O conceito refere-se a um processo planejado de aprendizagem que engloba uma
orientação individual e sistemática, em que o profissional (coach) estimula o cliente
(coachee) a desenvolver habilidades e competências, com vista a melhorar o seu
desempenho de forma mais estável no tempo, ajudando-o a estabelecer objetivos e a
estruturar novos comportamentos (Hale e Whitham, 2000). O Quadro 1 descreve os
princípios do Coaching de Bem-Estar e Saúde:

Quadro 1. Princípios do Coaching de Bem-Estar e Saúde:


Princípios do Coaching de Bem-Estar e Saúde
- O sujeito é o ser mais capaz e aquele que mais possui recursos para
mudança de comportamento.
- O cliente é o único ser capaz de escolher as metas que serão mais
motivadoras para si
- As informações são fornecidas na medida que o sujeito torna-se pronto
- Metas alinhadas com a visão de saúde e com valores pessoais do cliente
- A ênfase é colocada em como mudar o comportamento, e não no por
que os comportamentos atuais existem.
- Planos estabelecidos para lidar com contratempos, lapsos e recaídas
- O Coach usa exemplos do cliente para reforçar a responsabilidade por
tomar atitudes
- As prioridades são estabelecidas em conjunto, equilibrando o que é mais
saliente na vida atual do cliente somada à visão de longo prazo
- Paciência e crença no cliente como elementos fundamentais para
estabelecer confiança no relacionamento de coaching.

Adaptado de: Wolever et al., 2010.

Foi publicada em 2013 (Wolever et al.) uma revisão analisando as definições


operacionais do coaching em saúde e bem-estar publicadas na literatura médica e em
revistas com revisão de pares. Seu trabalho aponta para o histórico de definições de
coaching em saúde e bem-estar e apresenta como referência a seguinte:

“Coaches em Saúde e Bem-Estar são profissionais de diferentes


backgrounds e formações que trabalham com indivíduos e grupos em
um processo centrado no cliente no sentido de facilitar e empoderar o
cliente para que alcance metas auto estabelecidas relacionadas à
saúde e bem-estar. O processo de coaching que tem sucesso acontece
quando o Coach aplica um conhecimento e habilidades claramente
específicos de modo que o cliente mobiliza forças pessoais internas e
recursos externos para mudanças sustentáveis.” (Wolever et al., 2013,
p.39)
A definição acima foi adotada pelo atual Consórcio Internacional de Coaching
em Saúde e Bem-Estar (ICHWC), organização não governamental, criada em 2010 com
o objetivo de criar padrões internacionais de qualidade e evidências para a atuação
profissional do coach na área de saúde. Uma última atualização publicada em 2017 pelo
consórcio (ICHWC, 2017) é a definição de atuação e escopo de prática do coach em
saúde e bem-estar:

Coaches de saúde e bem-estar trabalham com indivíduos e grupos em


um processo centrado na pessoa para facilitar e capacitar o cliente a
desenvolver e alcançar objetivos autodeterminados relacionados à saúde
e bem-estar. Os coaches apoiam os clientes na mobilização de forças
internas e recursos externos, e no desenvolvimento de estratégias de
autogestão para que as mudanças para um estilo de vida saudável sejam
sustentáveis.
Embora os coaches de saúde e bem-estar, por si só, não diagnostiquem
condições, prescrevam tratamentos ou forneçam tratamento psicológico
em sua intervenção, eles podem fornecer orientação especializada em
áreas nas quais eles apresentem credenciais reconhecidas a nível
nacional2, e podem oferecer recursos a partir de autoridades, como as
mencionadas no currículo de estilo de vida saudável do ICHWC3.
Como parceiros e facilitadores, coaches de saúde e bem-estar ajudam
seus clientes a alcançar metas de saúde e mudança de comportamento
com base nos objetivos de seus clientes e consistentes com o tratamento
prescrito por profissionais de saúde (especialistas). Coaches ajudam os
clientes a usar seus insights, pontos fortes, recursos pessoais,
estabelecer metas, planejar suas ações e monitorar seu progresso no
caminho para um estilo de vida saudável (ICHWC, 2017).

O trabalho colaborativo do consórcio propiciou um aumento de publicações


científicas avaliando o impacto da intervenção de coaching em diversas patologias e
programas de mudança de comportamento em saúde. Em 2018 foi publicada uma
revisão sistemática da literatura que selecionou 210 artigos que preenchiam os critérios
2
Diplomas de graduação reconhecidos e registros em seus conselhos de classe.
3
O ICHWC apresenta uma lista de instituições de referência internacional que publicam diretrizes e
consensus em estilo de vida e saúde (ex.: CDC, ADA, IHI…)
de escopo e prática de atuação, 150 deles apresentavam coleta de dados. Os estudos
foram agrupados por áreas/patologias (Câncer = 7; Colesterol = 14; Diabetes = 32;
Doença cardiovascular = 12; Hipertensão = 14; Obesidade = 31; Bem-Estar = 38), na
maior parte das categorias e indicadores estudados os resultados são favoráveis a
intervenção do coaching como recurso para melhora do estado de saúde (Sforzo et al.,
2018).

Kennel (2018) fez uma revisão de 11 estudos clínicos randomizados com


intervenções de coaching voltadas a melhora do comportamento alimentar e ao controle
do peso. Os estudos apontaram resultados significativos de perda de peso em relação ao
peso inicial e mudança positiva no comportamento alimentar. Quase todos os estudos
clínicos (82%) demonstraram melhora em pelo menos um dos resultados (peso, pressão
arterial, consumo de frutas, legumes e verduras, e gordura). A frequência das sessões foi
semanal ou quinzenal por pelo menos 8 semanas, algumas até 12 meses.

Por isso, uma vez que o tratamento nutricional é a principal forma terapêutica
que deve ser abordada no paciente que tem como objetivo a perda de peso, ressalta-se a
importância de intervenções nutricionais que não apenas o forneçam informações, mas
que alcancem modificação mais profundas no comportamento alimentar. Este representa
o grande desafio a ser enfrentado: transformar o conhecimento científico e as
recomendações dietéticas em mudanças efetivas no comportamento alimentar (Ma et
al., 2003)

2. OBJETIVO
Este estudo tem teve como objetivo analisar a eficácia da utilização das técnicas
de coaching em parâmetros antropométricos associados a doenças crônicas não
transmissíveis. para a perda de peso, perda de gordura corporal e redução de
circunferência de cintura em mulheres fisicamente ativas, com sobrepeso, pré-
menopausa, em comparação ao modelo tradicional de prescrição de dietas.

3. METODOLOGIA
Foram voluntários os alunos de O estudo foi realizado dentro de uma academia,
situada na zona oeste do Rio de Janeiro.
Foram selecionadas 10 mulheres fisicamente ativas, com classificação de
sobrepeso (IMC > 24,99), pré-menopausa.
Foi realizado um sorteio e, a partir do mesmo, 5 mulheres foram designadas para
o grupo de atendimento no modelo de coaching nutricional, com atendimento semanal e
as outras 5 mulheres foram designadas para o grupo de atendimento no modelo
tradicional, com atendimento mensal. Ambas as técnicas foram aplicadas pela mesma
profissional (nutricionista devidamente capacitada e treinada em técnicas de coaching
nutricional) para evitar viés nesse item.
O estudo teve a duração de 3 meses, tendo início em 19/09/2018 e finalizando
em 12/12/2018.
Foi estabelecido um protocolo de atividade física, onde as participantes
realizaram, durante os 3 meses do estudo, 40 minutos de musculação e 20 minutos de
esteira.
Todas as participantes realizaram testes de VO2 máximo e de 1RM para que
pudessem trabalhar na mesma intensidade, ficando estabelecido o protocolo de 70% a
80% do VO2 máximo para a corrida na esteira e 60% de 1RM para os exercícios
realizados na musculação.
O consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.) pode ser definido como o maior
volume de oxigênio por unidade de tempo que um indivíduo consegue captar,
respirando ar atmosférico durante o exercício. Esse método tem sido útil na
determinação de fatores ligados a indicadores preditores de performance, identificação
de intolerância ao exercício, determinantes de transição metabólica, avaliação clínica e
terapêutica de diversas patologias, prescrição de intensidade do exercício, índices de
eficiência respiratória e cardiovascular e custo energético. (Leal Jr. et al., 2006)
O teste de uma repetição máxima (1RM – também designada uma execução
máxima), operacionalmente é definido como a maior carga que pode ser movida por
uma amplitude específica de movimento uma única vez e com execução correta. A
prescrição do treinamento é comumente baseada num percentual teórico do máximo.
(Pereira & Gomes, 2003)
Além dos testes, as participantes passaram por uma primeira consulta nutricional
para que fosse estabelecido um plano alimentar individual, mas com a mesma restrição
calórica, a qual ficou determinada em 750 kcal de restrição calórica ao dia.
O cálculo da taxa metabólica basal (TMB), ou seja, a quantidade de energia
gasta para a manutenção das funções vitais do organismo junto com o fator atividade foi
utilizada para obtenção do gasto energético total e a equação escolhida para essa
finalidade foi a de Henry & Rees, pois foi a equação que apresentou menor diferença na
comparação com a calorimetria indireta para estimar a TMB (Lopes et al., 2010).
O software de nutrição Webdiet foi utilizado para o cálculo das necessidades
energéticas totais juntamente com o protocolo de Pollock 7 dobras (Pollock & Wilmore,
1993) para determinação do percentual de gordura corporal total e massa gorda, além de
medição da circunferência de cintura, dados que foram utilizados para comparação e
análise.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O peso corporal é constituído de aglomerados de ossos, músculos, gorduras e
outros tecidos (McArdle, et al. 1990). O excesso de gordura é um dos maiores
problemas de saúde em muitos países, principalmente os industrializados. A obesidade é
um problema de abrangência mundial pela Organização Mundial da Saúde pelo fato de
atingir um elevado número de pessoas e predispõe o organismo a vários tipos de
doenças e a morte prematura (Nahás, 2001).
Apesar do método antropométrico de massa e estatura corporal apresentar
diversas vantagens, como baixo custo econômico para sua realização, o mesmo
apresenta algumas limitações, entre elas, a apresentação de valores totais de variáveis
corporais, como por exemplo, da massa corporal, que é o somatório de diferentes tipos
de tecidos como músculos, ossos, gordura, vísceras e outros. O estudo da composição
corporal, principalmente no que se refere à gordura corporal e à massa corporal magra,
tornou-se um fator de pesquisa importante dentre os estudiosos, pois pode especificar
essas proporções. Esta preocupação com o estudo da composição corporal parece ter
suporte no crescente aumento da prevalência da obesidade em torno do mundo (Farias e
Salvador, 2005).
Além disso, padrões de referência mais frequentemente utilizados para avaliação
da circunferência de cintura também classificam a adiposidade abdominal de acordo
com o risco de desenvolver doenças relacionadas à obesidade, adotando os pontos de
corte propostos por Lean e colaboradores (1995). Neste estudo foi considerado risco
aumentado valores entre 80 cm para mulheres e entre 94 cm para homens (nível de ação
1), e risco muito aumentado valores maiores que 88 cm para mulheres e maiores que
102 cm para homens (nível de ação 2) (Lima et al., 2011).
De acordo com essas análises, o estudo avaliou as três principais variáveis na
classificação de risco para a saúde: peso corporal total, peso gordo e circunferência de
cintura.

Apresentar uma tabela com as caracerisiticas das participantes (idede, peso,


altura, vo2 etc. Precisamos mostrar que elas eram parecidas no início do estudo.

Segundo os dados coletados, a média de perda de peso total do grupo que


realizou o atendimento no modelo de coaching nutricional foi de 4,02 kg em
comparação ao grupo que realizou o atendimento no modelo tradicional (1,46 kg)
(Tabela 1) (Gráfico 1).

1 2 3 4 5 MÉDIA
GRUPO 2,7 5,2 7,7 0,8 3,7 4,02
COACHING
GRUPO 5,6 0,2 1,5 0,0 0,5 1,56
TRADICIONAL

GRÁFICO COMPARATIVO DE PERDA DE PESO


TOTAL
4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
PESO CORPORAL
TOTAL

GC GT

Além do peso corporal total, outros dados foram analisados, como o peso gordo
e a circunferência de cintura, elementos considerados essenciais na avaliação de saúde
dos indivíduos, por serem considerados preditores de doenças crônicas não-
transmissíveis.
Doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, câncer,
diabetes mellitus e hipertensão arterial, compõem um grupo de entidades que se
caracterizam por apresentar, de uma forma geral, longo período de latência, tempo de
evolução prolongado, lesões irreversíveis e complicações que acarretam graus variáveis
de incapacidade ou óbito, e vêm ocupando um maior espaço no perfil de morbi-
mortalidade de populações latino americanas (Mariath et al., 2007). Em estudos
recentes do Banco Mundial, as doenças crônicas não transmissíveis são responsáveis
por uma taxa de 5 e 9 vezes maior de morte prematura do que as doenças transmissíveis
e taxas 10 e 5 vezes maiores de incapacidade, em homens e mulheres, respectivamente
(OMS, 2004).
De acordo com a avaliação feita através do protocolo de dobras cutâneas, a
média de perda de peso gordo do grupo que realizou o atendimento no modelo de
coaching nutricional foi de 4,02 kg em comparação ao grupo que realizou o atendimento
no modelo tradicional que foi de 2,38 kg (Tabela 2) (Gráfico 2).

1 2 3 4 5 MÉDIA
GRUPO 3,8 3,8 4,4 2,3 5,8 4,02
COACHING
GRUPO 4,9 1,1 4,0 0,0 1,9 2,38
TRADICIONAL
GRÁFICO COMPARATIVO DE PERDA DE PESO
GORDO
4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
PESO GORDO

GC GT

Finalmente, de acordo com as especificações do protocolo de aferição da


circunferência de cintura, a média de diminuição na circunferência de cintura do grupo
que realizou o atendimento no modelo de coaching nutricional foi de 4,5 cm em
comparação ao grupo que realizou o atendimento no modelo tradicional que foi de 2,0
cm (Tabela 3) (Gráfico 3).

1 2 3 4 5 MÉDIA
GRUPO 4,5 3,0 8,0 4,0 3,0 4,5
COACHING
GRUPO 8,0 0,5 1,5 0,0 0,0 2,0
TRADICIONAL
GRÁFICO COMPARATIVO DE DIMINUIÇÃO DE
CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA
4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
CIRCUNFERÊNCIA
DE CINTURA

GC GT

GRÁFICO COMPARATIVO

4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
PESO TOTAL PESO GORDO CIRCUNFERÊNCIA DE
CINTURA

GC GT

5. CONCLUSÃO
O Coaching Nutricional mostrou-se efetivo para promover perda de peso,
melhora de composição corporal e redução da circunferência da cintura. O estudo
demonstrou que o coaching nutricional possui ferramentas poderosas efetivas que
podem ser utilizadas pelos profissionais de saúde para auxiliar na mudança de
comportamento e, consequentemente, na perda de peso. Sendo o objetivo maior uma
perda de peso saudável e sustentável, reforça-se a necessidade uma abordagem que una
o componente educativo com o comportamental e ajude os indivíduos, dessa forma, a
fazer escolhas de maneira mais clara e consciente.

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