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Universidade Federal de Goiás

Docente: Leandro Rocha


Discente: Thayná Simões
Disciplina: Métodos e Técnicas de Pesquisa I e II

"Em Paris, só se pode ser ourives quem fizer  o  juramento  e trabalhar


segundo os usos e costumes dessa profissão:
Nenhum ourives pode trabalhar o ouro se não for com a  melhor técnica,  e o
produto deve exceder em qualidade a todos os  outros trabalhados em outras
terras.
Nenhum ourives pode cunhar moeda que não seja tão boa quanto a libra
esterlina ou melhor.
Nenhum ourives pode ter mais que um aprendiz estrangeiro,  que deve   ser
parente seu ou de sua mulher, próximo  ou  distante, desde que  isso lhe
apraza.
Nenhum ourives pode ter aprendiz privado de menos de dez anos. Só pode ter
aprendizes sob a condição de que ganhem cem soldosao ano, mais suas
despesas de beber e comer.
Nenhum ourives pode trabalhar a noite se não for para o rei, a rainha ou seus
filhos e irmãos, e para o bispo de Paris.
Nenhum ourives deve pedágios e outros tributos.
Nenhum ourives pode abrir sua forja no dia do apóstolo (festa
dos Santos Pedro e Paulo), salvo se for no sábado ou se  tratar  de oficina
onde trabalho um por vez ,em rodízio, a qual poderá abrir nestas festas e aos
domingos.
Tudo o que ganha aquele que abriu a forja nesses dias colocado na caixa da
Companhia dos ourives, onde se colocam as moedas para Deus e como o
dinheiro dessa caixa dar-se a cada ano, no dia dePáscoa, um jantar aos pobres
do Hotel de Dieu de Paris.
Os ourives  juraram ter  e guardar bem e lealmente  todas  estas instituições"
(Livre des Metiers d' E Boileau, I.I., t.XI, vol V, p269)
Comentário da Fonte

Natureza do Texto

Étienne Boileau, Reitor de Paris, entre suas funções estava a de dirigente da


corporação dos mercadores, escreveu a obra intitulada “Livre des Métiers” em
1268, na cidade de Paris durante o reinado de Saint Louis. O livro é composto
por um vasto conjunto das práticas administrativas, usos e costumes,
regulamentos relativos aos ofícios da época. Um relato fiel das atividades
comercias, todas as instruções e estatutos estão descritas ao longo das
seiscentas páginas da obra; é um inventário composto por cerca de 100 títulos
divididos divididos em seis categorias; a primeira reúne as atividades
comercias do ramo alimentício, como a dos padeiros, açougueiros, peixeiros,
entre outras; a segunda, reúne o trabalhos dos ourives, joalheiros e escultores,
a terceira, reúne cerca de vinte comunidades relativas ao comércio de metal; a
quarta, relativas às produções têxteis; a quinta, relativas aos trabalhos dos
coureiros; a sexta e última, aborda os trabalhos da construção civil.

Circunstâncias da Redação

A Paris do século XIII, estava passando por um crescimento demográfico e era


próspera, havia o controle do Rei nas atividades comerciais e grande oferta de
trabalho qualificado, esses fatores favoreceram uma diversificação das
atividades produtivas. O crescimento das práticas comercias , gerou conflitos
entres os trabalhos de diferentes ofícios a fim de regulamentar os exercícios
das profissões, e diante desse cenário de disputa o Rei, Luís IX, decide
esquematizar os costumes das corporações, que até o momento eram
transmitidos pela tradição oral, por escrito; para isso encarregou Étienne
Boileau a coletar informações dos direitos e deveres dos ofícios e reuni-los em
uma obra.

Idéia Geral e Plano

A ideia geral do Autor é fornecer todo o regulamento das atividades


Parisienses, a fim de oferecer as corporações um documento “sólido” de
administração, a frase que resume a ideia é: “Em Paris, só se pode ser ourives
quem fizer  o  juramento  e trabalhar segundo os usos e costumes dessa
profissão”.

Explicação dos detalhes

O ofício de Ourives, um dos descritos na obra, era bem sucedido em Paris,


onde a acumulação de artigos de luxo era uma espécie de hobby para a classe
rica da época. Os ourives eram bem numerosos, Henri Charnier identificou
cerca de 500 artesãos que exerciam este ofício, no final do século XIII. Era
uma profissão da Elite e possuía título na “confrérie de Saint Eloi”, uma
organização fraternal Francesa cujos membros estavam sob proteção de “Saint
Eloi, como foi fundada durante o período da Peste, seu lema era “Le Fleau
n’approchera point de vous, no même de vos demeures!”. Os artesãos do ofício
criavam objetos relacionados ao culto religioso como copos, cálices, caixões e
relicários, ao uso doméstico como talheres, louça e lustres, móveis, artigos de
mesa, joias, cunhavam moedas, entre outros luxos, o trabalho era feito com
metais preciosos, principalmente ouro e prata; no livro dos ofícios, Étiene
Boileau indica a qualidade do ouro e da moeda que era cobrado; as técnicas
utilizadas na produção eram de esculturação, estampagem, gravação,
perfuração, corte e repuxo. As funções dos artesãos eram categorizadas em
Planeur, o ato de formatação das peças, usando técnicas de forjamento e
latão; Tourneur- repousseur, a modelagem das peças; Ciseleur, detalhamento
da peça utilizando-se técnicas de estampagem; Polisseiur-aviveur, polimento e
acabamento da parte externa da peça; Restauration d’ orfèvrerie, restauração
das peças. O documento apresenta os usos e costumes do ofício, as condições
de acesso à profissão, recrutamento de aprendizes, tempo de trabalho, modos
de produção; os ourives que não cumprissem o juramento determinado eram
levados ao “Le Prévot de Paris”, o oficial real responsável pela manutenção da
justiça segundo os costumes do país, de acordo com a falta poderiam ser
sentenciados, entre quatro e seis anos, de exclusão. A festa referida no
documento, “fête d’apôtre” dos Santos Pedro e Paulo, a “solennité de saint
Pierre et saint Paul, apôtres” acontecia no dia 29 de junho, se tratava de uma
festividade em honra, segundo palavras do Vaticano, as grandes testemunhas
de Jesus e uma celebração em favor da Igreja Católica Apostólica Romana.
Como havia exceção em relação a trabalhar nesta data, o dinheiro acumulado
deveria financiar um jantar de caridade, realizado no Hotel de Dieu, hospital
dos pobres e necessitados comandado originalmente pela Igreja Católica, fazia
parte do juramento dos Ourives contribuir para o bem de instituições de
caridade religiosas.

Alcance do Texto

Entende-se a partir da análise do documento acerca do ofício de Ourive, escrito


por Etienne Boileau em 1268, o quanto este forneceu glória e honra aos
artesãos, permitiu grande acúmulo de riquezas e luxos, e apesar de ser bem
regulamentado, as vantagens superavam as regras que limitavam o serviço, a
prática artesanal era de grande prestígio. O documento sistematizou a
administração das corporações, facilitando o acesso às informações acerca
dos usos e costumes, e as normas, as quais estão sujeitas perante o Rei.

Consequências
Étienne Boileau foi pioneiro nos estudos relativos às regulamentações do
comércio, e o seu trabalho é retomado por historiadores desde a época em que
foi elaborado, a partir do seu manuscrito outros foram feitos, cada vez mais
detalhados e precisos.

Fontes:
http://classes.bnf.fr/ema/anthologie/paris/19.htm
https://www.histoires-de-paris.fr/orfevres/
http://www.cnrtl.fr/definition/orfèvre
http://www.eecho.fr/fetes-des-apotres-dates/
https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/fr/homilies/2005/documents/hf_ben-
xvi_hom_20050629_sts-peter-paul.html
http://chrisagde.free.fr/capetiens/etienneboileau2.htm
https://www.cairn.info/revue-medievales-2015-2-page-19.htm#no20
https://journals.openedition.org/medievales/7569

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