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Exército Brasileiro

As couraças dos
Pampas
A força blindada no
Rio Grande do Sul

Hélio Higuchi/ Paulo Roberto Bastos Jr Os seus primeiros blindados foram os


carros de combate leve M3/M3A1 Stuart
e os carros de combate médio M4
Exército Brasileiro (EB), dentro do Sherman. Durante a década de 1970, fo-
seu Plano Básico de Reestrutura- ram recebidos os M41 Walker Bulldog,
ção, ocorrido no inicio deste sé- com os Sherman remanescentes envia-
culo, decidiu concentrar a força de blin- dos para os 6º e 9 º RCBs. A partir de
dados nas regiões Sul e Centro-Oeste 1997, começaram a chegar os Leopard
do Brasil e, dessa forma, o Estado do 1BE. Dando cumprimento ao Plano Bá-
Rio Grande do Sul acabou por sediar o sico de Reestruturação do Exército, em
maior número de organizações militares 2005, o 1º RCC foi deslocado para o
(OM) equipadas com esse tipo de equi- município de Santa Maria, localizado no
pamento no Brasil. O motivo para isso é centro do Estado do Rio Grande do Sul.
a grande extensão de fronteira seca, com O 1º RCC, aliás, acaba de restaurar
topografia predominante favorável à uti- e colocar em condições de rodagem o ferramental para a manutenção de seus
lização desses meios (ver box). CCM M4 Sherman mais antigo do Brasil. veículos e também apoiar o Centro de
Para oferecer uma visão mais signifi- Apelidado de “Vovô”, desde os anos de Instruções de Blindados (C I Bld), cujas
cativa dos blindados e sua operação no 1970, este carro, inteiramente pratea- instalações são contíguas às do 1º RCC,
extremo sul do País, Tecnologia & Defe- do, abria o desfile de blindados na para- que ainda presta a assistência em ter-
sa visitou algumas daquelas unidades. da da Independência, no dia 07 de se- mos de logística e custeio. Em área ane-
Devido ao seu grande número, foram tembro, no Rio de Janeiro. Inspirado no xa existe um grande campo de exercí-
escolhidos por amostragem o 1º RCC, o livro “M4 Sherman no Brasil”,* o cio, o Campo de Instrução de Santa Ma-
4º RCB, o 3º RCMec, além do Pq R Mnt/3 “Vovô” foi novamente pintado de prata ria, que permite quase todos os treina-
e o C I Bld, englobando todos os tipos de e recebeu todas as insígnias e matrícu- mentos, exceto aqueles de maior vulto,
OM’s, permitindo a projeção de situações las originais, já tendo aberto o desfile que são conduzidos no Campo de Instru-
semelhantes em relação às demais. da troca de comando da unidade, em ção Barão de São Borja, mais conhecido
fevereiro deste ano. como Saicã, localizado em Rosário do Sul.
O aquartelamento está passando por Desde a incorporação dos Leopard
1º Regimento de Carros de Combate uma completa remodelação física, inclu- 1BE, o 1º RCC tem este carro de com-
indo toda a pavimentação, anteriormente bate como equipamento principal, pos-
Oriundo do emblemático 1º Batalhão composta por pequenos blocos de con- suindo um total de 52 veículos, que equi-
de Carros de Combate, originário de um creto que, por não suportarem o peso pam quatro esquadrões (1º Esquadrão
homônimo, criado em plena Segunda dos Leopard, ficava alagadiço na época – “Dragão” -; 2º Esquadrão – “Cavalo
Guerra Mundial para defender o Nordeste de chuvas. Hoje, cada esquadrão de blin- de Aço” -; 3º Esquadrão – “Águia” -; e
brasileiro. Ativado no Rio de Janeiro (RJ), dados possui garagens novas, bem como 4º Esquadrão – “Furacão”), com 13 car-
teve sua sede inicial no Derby Club, onde salas anexas para o trabalho de 1º es- ros, mais um VBTP M113-B, de suporte,
atualmente existe o estádio do calão. Além disso foi construída uma por esquadrão. Os veículos levam os
Maracanã, sendo mais tarde transferido ampla e arejada oficina para revisões seus nomes e símbolos pintados na tor-
para longe do centro, na Avenida Brasil. de 2º e 3º escalões, dotada de todo o re e na traseira. Ainda sob o aspecto vi-

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Fotos: Helio Higuchi
■ 1º Regimento de Carros de Combate (1º RCC), em Santa Maria
■ 4º Regimento de Carros de Combate (4º RCC), em Rosário do Sul
■ 4º Regimento de Cavalaria Blindado (4º RCB), em São Luiz Gonzaga
■ 6º Regimento de Cavalaria Blindado (6º RCB), em Alegrete
■ 9º Regimento de Cavalaria Blindado (9º RCB), em São Gabriel
sual, os blindados do 1º RCC usam pin-
tadas, de forma permanente, insígnias ■ 1º Regimento de Cavalaria Mecanizado (1º RCMec), em Itaqui
destinadas a evitar o chamado “fogo ■ 2º Regimento de Cavalaria Mecanizado (2º RCMec), em São Borja
amigo”. Cada esquadrão é composto por ■ 3º Regimento de Cavalaria Mecanizado (3º RCMec), em Bagé
três pelotões com quatro veículos, fican-
do o décimo-terceiro para o capitão co- ■ 5º Regimento de Cavalaria Mecanizado (5º RCMec), em Quarai
mandante da subunidade. ■ 7º Regimento de Cavalaria Mecanizado (7º RCMec), em Santana do Livramento
O índice geral de disponibilidade está ■ 8º Regimento de Cavalaria Mecanizado (8º RCMec), em Uruguaiana
em torno de 65%, com o Esquadrão Dra-
gão apresentando 100%. Considerando ■ 2º Regimento de Cavalaria Mecanizado (12º RCMec), em Jaguarão
que qualquer carro de combate, mesmo ■ 19º Regimento de Cavalaria Mecanizado (19º RCMec), em Santa Rosa
durante sua revisão periódica de 2º es- ■ 7º Batalhão de Infantaria Blindado (7º BIB), em Santa Cruz do Sul
calão, é considerado indisponível, aque-
le indicador pode ser considerado alto. ■ 29º Batalhão de Infantaria Blindado (29º BIB), em Santa Maria
O maior causador da indisponibilidade, ■ Esq. de Comando da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (Esqd Cmdo 1ª Bda CMec), em Santiago
longa em alguns carros, é a dificuldade ■ Esq. de Comando da 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (Esqd Cmdo 2º Bda CMec), em Uruguaiana
em se encontrar sobressalentes para o
sistema de estabilização de tiro do ca- ■ Esq. de Comando da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (Esqd Cmdo 3ª Bda CMec), de Bagé
nhão de 105mm e outros componentes ■ 6º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (6º Esqd CMec), em Santa Maria
eletrônicos da torre, pois como os ■ 8º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (8º Esq CMec), em Porto Alegre
Leopard foram adquiridos da Bélgica, e
este foi o único país que adotou um sis- ■ 3ª Companhia de Comunicação Blindada (3º Cia Com Bld), em Santa Maria
tema de controle de tiro SABCA, as pe- ■ Centro de Instruções de Blindados (C I Bld), em Santa Maria
ças para reposição são extremamente ■ Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar (Pq R Mnt/3), em Santa Maria
raras e caras.

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1ºRCC
Carros de combate Leopard 1BE, do 1ºRCC, no Campo de Instrução de Santa Maria

nada lembram o estado dos adquiridos


da Bélgica, muito mais desgastados.
Não está decidido quais os tipos de
metralhadoras (coaxial e antiaérea) se-
rão adotados. Os Leopard 1A5 original-
mente estão equipado com a Rheinmetall
MG3A1, de 7,62mm. Sabe-se, porém,
que o sistema de comunicações será for-
necido pela tradicional indústria israelen-
se Tadiran e considerado um dos me-
lhores disponíveis.
Desconhece-se ainda o critério a ser
adotado para a distribuição dos 1A5; se
cada RCC vai ser equipado por com-
pleto ou se os receberão gradativa-
mente, dotando um esquadrão de cada
RCC por vez. A vinda dos Leopard 1A5
representará um enorme ganho, prin-
cipalmente na implantação de uma dou-
trina que permite tiros noturnos com
A oficina do 1ºRCC faz a manutenção também dos blindados do CIBld grande precisão.

O único Bergepanzer (Leopard


Recuperador) do EB está no 1º RCC.
Outros sete foram recém adquiridos e
também existem mais dois convertidos
pela empresa belga Sabiex, bem como
dois Fahrshulpanzer (Leopard Escola -
mais quatro já foram comprados); sen-
do que estes últimos são utilizados em
conjunto com o C I Bld.
É iminente a chegada dos Leopard
1A5, sendo esperada quase meia cente-
na deles ainda este ano. Eles virão
revitalizados pela Kraus-Maffei Wegman,
mas já se encontravam em excelentes
condições, pois ficaram estocados no
norte da Alemanha e com muito pouco
uso (300/500 horas). Descontando-se o
preço mais do que atraente (aproxima-
O único recuperador Bergepanzer do EB está no 1ºRCC
damente 24 mil euros por exemplar), em

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Impressões de um “passageiro” de blindados
urante a visita às OMs descritas nes-
te trabalho, fomos convidados a an-
dar em alguns blindados para-se ter uma
melhor impressão do comportamento
deles no ambiente QT
No PqRMnt/3, trafegamos durante
aproximadamente 15 minutos a bordo de
um Leopard 1A5. Ficou comprovado o
seu bom estado e, como estão sendo
duramente testados num campo de pro-
vas, pudemos constatar a eficiência da
sua suspensão ao transpor terrenos aci-
dentados, lamaçais e poças d’água. O
blindado manteve-se sempre estável, ofe-
recendo relativo conforto aos ocupantes.
No 1º RCC, o teste foi efetuado, du-
rante quase uma hora, em um Leopard
1BE no Campo de Instrução de Santa Helio Higuchi a bordo de um Leopard 1BE
Maria. O comandante do carro fez ques-
tão de passar por vários trechos aciden- eixo, fazer manobras para frente ou para trás, “Vovô”, colocado em condições de roda-
tados e alagados com incrível velocida- e constatamos que o canhão, junto com a gem, como o motor radial Continental origi-
de, e mostrava os locais onde o M-113B torre, permaneceu travado mirando o tem- nal. Foi uma verdadeira honra poder andar
não consegue transpor ou acompanhar po todo em direção ao alvo. no Sherman mais antigo que o EB operou,
naquela velocidade. No final, quando avis- Segundo dados do fabricante, a uma fruto da determinação e abnegação de dois
távamos o 1º RCC a uma distância aproxi- distância daquelas, a possibilidade de acer- oficiais, o 1º tenente Milton Francisco Paiva,
mada de mil metros, o artilheiro recebeu to no alvo no primeiro tiro, com o veículo do Pq R Mnt/3, e o 1º tenente Fabiano Soa-
ordens para girar a torre, mirar e “travar” em movimento, é de 85%. res, do 1º RCC, os quais dedicaram vários
um alvo determinado. A fim de demons- Também não poderíamos deixar de regis- dias e noites para restaurar e colocar em
trar a eficiência do sistema de tiro, o mo- trar que, durante a visita ao 1º RCC, andamos funcionamento mais uma parte da História
torista do carro passou a pivotar sobre seu em um velho conhecido, o CCM M4 Sherman do Exército Brasileiro.

4º Regimento de Cavalaria Blindado

O 4º RCB é uma das OM mais anti-


gas e tradicionais do Rio Grande do Sul,
tendo iniciado suas atividades no século
18 e, como 5º Corpo de Caçadores a
Cavalo, participou ativamente da Guer-
ra do Paraguai. Sob a denominação de
5º Regimento de Cavalaria Ligeira, a
unidade foi transferida para São Luiz
Gonzaga em 1905. Até 1973 teve a ca-
racterística hipomóvel, sob a denomina-
ção de 3º Regimento de Cavalaria, quan-
do começou a ser equipado com veícu-
los blindados recebendo, então, sua de-
nominação atual.
Seus primeiros carros de combate
foram os CCL M3/M3A1 Stuart, por um
breve período, pois logo em seguida fo-
ram incorporados os CC Biselli MB-1 X1
Pioneiro, sendo esta e o 6º RCB, as úni-
cas unidades do EB a operarem este tipo
de carro de combate. A partir de 1977,
chegaram os VBTP Engesa EE-11Urutu,
logo substituídos pelos CC M41 e VBTP
M-113, o que permitiu a descarga dos Restam poucos M41-C em condições operacionais no 4ºRCB.
veículos mais antigos. Serão substituídos pelos Leopard 1 BE

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No momento, o 4º RCB está equipa-
do com o CC M41-C Caxias, sendo 10
da versão BR1 (com o cano curto, de 39
calibres) e 22 de BR2 (com cano longo,
de 50 calibres) distribuídos em dois es-
quadrões de 16 carros e um para o Es-
quadrão de Comando. Os dois esqua-
drões de fuzileiros alinham 34 VBTP
M113-B, com catorze carros, outros qua-
tro no Esquadrão de Comando e Apoio
(um deles transformado em ambulância)
e dois no Esquadrão de Comando.
Como estão no final de sua vida útil,
tem sido extremamente difícil manter
operacionais os M41-C e apenas 12 de-
les estão em condições de rodar. Devido
à sua breve retirada do serviço, sua ca-
deia de suprimentos há anos deixou de
existir. Já os M113-B apresentam um bom
índice de operacionalidade, embora sin-
tam falta de peças essenciais como os
trens de rolamento.
Está prevista a troca dos M41-C pe-
los Leopard 1BE, que virão dos RCC, o
que representa um considerável incre-
mento na doutrina da unidade, estando
em cogitações, para até o final deste
ano, a possibilidade de receber pelo
menos um pelotão (quatro carros) des-
ses veículos. Os M113-B, por enquanto,
constituem uma incógnita, pois necessi-
tam de uma modernização urgente, prin-
cipalmente, para poder acompanhar os
CC Leopard nas forças tarefas. M-113B, versão ambulância, pertencente ao Esquadrão de Comando e Apoio do 4ºRCB
3º Regimento de Cavalaria Mecanizado

Criado em 1943, no Rio de Janeiro,


como 3º Regimento de Autometra-
lhadoras de Cavalaria. Com sua deno-
minação alterada no mesmo ano para
3º Regimento de Reconhecimento Me-
canizado foi transferido para Bagé. Seu
pessoal e equipamento, cerca de 140
veículos, foram transportados por via
marítima até o porto do Rio Grande, ten-
do o restante do trajeto até seu destino
sido feito por via férrea. Antes de che-
gar ao Rio Grande do Sul, houve uma
parada no porto de Santos (SP), de onde
partiram por seus próprios meios para a
cidade de São Paulo, a fim de participa-
rem do famoso desfile militar de 25 de
janeiro de 1943, ocasião em que foram
apresentados os novos CCM M3A3/M3A5
Lee, do Exército, na época o mais pode-
roso blindado do continente. Em suas
novas instalações sulinas começou a re-
ceber seus primeiros blindados, os CBR
6x6 T17 Deerhound, CBTP 4x4 M3A1
White Scout Car, CCL M3/M3A1 Stuart e
meia-lagarta M5. Em 1968 foi novamen-
te renomeado, passando a ter a sua de-
nominação atual.
Assim como todos os demais RCMec,
sua espinha dorsal se constitui nos VBR
Engesa EE-9 e VBTP EE-11 Urutu, que
formam dois esquadrões de blindados e
Dois EE-9 do modelo mais antigo, predominantes no 3ºRCMec
Um EE-11 Urutu, dois EE-9 Cascavel, sendo um do modelo antigo, e o Half Track M5 preservado perfilam no pátio do 3ºRCMec

um de Comando e Serviços, com um toróide mais finos, mas com uma banda sistema 8x8, com dois eixos para fazer
total de 23 EE-9 Cascavel e 10 EE-11 de rodagem bem mais espessa (aten- curvas, causa muita preocupação, devi-
Urutu. Em tese, cada esquadrão é com- dendo às necessidades dos Urutu, no do a um suposto aumento do desgaste
posto por um pelotão com três Cascavel Haiti, que tinham os seus pneus corta- do eixo, o que acarretaria em aumento
e dois Urutu. A realidade, no entanto, é dos por detritos nas ruas). A adoção de trabalhos e custos de manutenção.
outra, pela carência de VBTP EE-11 Urutu, desses pneus no Cascavel requereu al- Há informações de que todos os 16 pro-
dos quais vários estão sendo mobiliza- gumas mudanças na proteção da sus- tótipos da pré-série sairão 6x6 e com
dos para a Força de Paz no Haiti. O Es- pensão Boomerang, já que em função torre eletrônica, equipada com um ca-
quadrão de Comando e Serviços possui de sua largura, raspavam na saia. nhão de 30mm. Nada disso está confir-
também nove Caminhões REO 2 ½ tone- O projeto VBTP-MR desenvolvido em mado e o que se sabe é que, tanto os
ladas 6x6, um caminhão Mercedes-Benz parceria com a IVECO, popularmente EE-9 como os EE-11, apesar de resis-
1418 5 toneladas 4x4, quatro Engesa EE- chamado de Urutu III, ainda está na fase tentes e duráveis, estão chegando ao fim
34 1 1/2tonelada 4x4, três Marruá AM-2, de estudos para a construção dos protó- de suas carreiras, tornando imprescin-
14 Jeep CJ5-B Willys-Bernardini e um tipos. Para alguns militares a adoção de dível substituí-los em futuro próximo.
Land Rover 90. Conserva, em condições
de rodagem, um veículo histórico, um
meia lagarta M5, remotorizado no Brasil
com um motor Perkins (ver T&D nº 116
– História e Militaria).
Os RCMec do Rio Grande do Sul fo-
ram as primeiras OM a serem equipa-
das com os blindados Engesa EE-9 Cas-
cavel e, por este motivo, a maioria des-
ses veículos são do modelo mais antigo,
com transmissão mecânica. Entretanto,
no 3º RCMec, são os preferidos dos mi-
litares, pois, segundo eles, a transmis-
são mecânica seria mais confiável em
ambiente QT (Qualquer Terreno).
A unidade prefere operar com os
pneus dos seus blindados sem as toróides
(equipamento colocado no interior do
pneumático para dar proteção contra
armas leves), pois este equipamento,
além de tornar o carro desconfortável,
acelera o desgaste dos pneus e da sus-
pensão. Todavia, elas podem ser
O EE-11 Urutu da Companhia de Comando do 3ºRCMec está equipado
recolocadas rapidamente. Recentemen-
te, o EB encomendou pneus novos com com uma caixa na parte posterior para transporte de equipamentos

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29º Batalhão de Infantaria Blindado

O 29º BIB vem de um batalhão de


Infantaria equipado com carros de com-
bate, os chamados BCCL (Batalhão de
Carros de Combate Leves), no caso o
3º BCCL, que também iniciou suas ativi-
dades no Derby Clube do Rio de Janei-
ro. Apesar da denominação, recebeu, ini-
cialmente, dez CCM M3A3/M3A5 Lee e
oito CCM M4 Sherman para formar uma
companhia de carros de combate médi-
os, além de duas companhias equipa-
das com CCL M3/M3A1 Stuart. Existe
uma diferença na designação: enquanto
a arma da Cavalaria utiliza os termos
Regimento e Esquadrão, a Infantaria
adota Batalhão e Companhia.
A vinda do Rio de Janeiro para San-
ta Maria ocorreu em 1944, quando os
carros de combate médios foram
redistribuídos para os BCC e os Stuart
embarcados no vapor Itaguassú, até o
porto de Rio Grande, e em seguida em
comboio ferroviário. No inicio da déca-
da de 1970, os Stuart foram substituí-
Os M-113B do 29ºBIB, como no 1ºRCC, possuem marcas de
dos pelos M-113 e os BCCL deixaram
de existir, passando a ser classificados identificação pintadas na lateral, para evitar o tiro fraticida
como BIB.
Os BIB têm, como equipamento pa- co, o 29º BIB está equipado com mor- há uma falta crônica de lagartas e pa-
drão, os VBTP M-113B, com o 29º em- teiros de 60, 81 e 120mm, lança-rojão tins. Num esforço de preservação, o 29º
pregando 72 deles distribuídos em qua- AT-4 e canhão sem recuo Carl Gustaf, BIB guarda vários carros antigos como
tro companhias de fuzileiros (CiaFzo) e que são transportados por viaturas 4x4 um Stuart com motor Guiberson, a die-
uma Companhia de Apoio (CiaAP). Cada Land Rover 130. sel, um M3A1 White Scout Car e um meia
uma das CiaFzo possui 12 desses veícu- O M-113B transporta nove fuzileiros lagarta M3, todos em condições de ro-
los, em três pelotões e um pelotão de equipados, motorista e o chefe de carro dagem e participando de solenidades e
comando e apoio com mais quatro. A e o índice de operacionalidade da unida- eventos festivos.
CiaAp usa oito M-113B, um deles da ver- de é bom (cerca de 60%), mas, a exem- O cancelamento do programa M-
são “Âncora”. Além do armamento bási- plo de outras OM que utilizam este VBTP, 113BR, que contemplava a moderniza-
ção das VBTP M-113B (ver T&D nº 114),
gerou uma certa frustração, pois não
existe mais a perspectiva de uma mo-
dernização em curto prazo e, no 29º BIB,
encontra-se operativo o segundo protó-
tipo do M-113T. Equipado com motor
MWM Tractor de 180CV, possui também
as polias tensoras da lagarta revestidas
de polipropileno, para maior resistência.
Este protótipo foi testado pelo Cento de
Avaliação do Exército (CAEx), no Rio de
Janeiro (RJ), entre outubro e dezembro
de 2005, quando o motor apresentou
maior torque, mas a suspensão original
não era compatível com tal modificação,
gerando a instabilidade do veículo. A
gaúcha Randon, uma das empresas que
participaram da licitação para a execu-
ção do Programa M-113BR, ofereceu um
modelo baseado no M-113T, com motor
MWM de 200 a 250 CV e uma total
reformulação da suspensão.
O M-113 é muito apreciado por sua
rusticidade, contudo, tem-se plena cons-
ciência das suas limitações, principal-
mente quando em força tarefa que ve-
nha a contar com outros blindados mais
O segundo protótipo do M-113T encontra-se operacional no 29ºBIB. Embora o modernos e ágeis que os M41-C, como
motor tenha conferido um maior torque, a suspensão não correspondeu à altura o Leopard 1BE e o 1A5.

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Os seis Leopard 1A5 recém chegados da Alemanha estão sendo extensamente testados no campo
de testes do PqRMnt/3. Apesar de virem sem a revitalização estão em excelente estado

nome ao revitalizar grande parte da fro- campo de provas anexo. A reportagem


Pq Regional Manutenção/3 ta de M3/M3A1 Stuart e, posteriormen- de T&D pôde constatar que, apesar de
te, os Sherman M4. serem do lote sem revitalização, estão
Tendo como missão dar manutenção Suas atribuições estão concentradas em perfeito estado de funcionamento,
de 3º e 4º escalões às viaturas blinda- na manutenção dos EE-11 Urutu, EE-9 incluindo o seu sistema de tiro.
das do EB no Estado, o Pq R Mnt/3, tam- Cascavel, obuseiros autopropulsados M- O problema crônico da manutenção
bém em Santa Maria, exerce uma fun- 108 e M-109A3 e todos os Leopard. Dos dos Leopard 1BE, que é a falta de com-
ção importante para a operacionalidade. dez Leopard 1A5 recebidos, seis estão ponentes para o sistema de estabiliza-
Sob a denominação de Parque de lá, e desses, quatro irão para o C I Bld. ção de tiro do canhão de 105mm, pare-
Motomecanização 3, durante as décadas Enquanto isso não acontece, os 1A5 es- ce estar sendo solucionado. Segundo
de 1960 e 1970, a unidade alcançou re- tão sendo testados de forma intensa num informações, uma companhia privada,
da região de Campinas (SP), está fazen-
do estudos de engenharia reversa, com
o objetivo de reparar e de fabricar pe-
ças para a eletrônica do estabilizador de
tiro. Para tanto, um Leopard 1BE foi en-
viado para a 11ª Brigada de Infantaria
Leve, estando abrigado nas garagens
do 28º Batalhão de Infantaria Leve, para
estudos e testes. Comenta-se que a
pesquisa encontra-se em estágio bem
avançado e, caso sejam conseguidos os
resultados almejados, haverá a possi-
bilidade de se reparar todos os Leopard
1BE com o problema, aumentando em
muito as disponibilidade e operacio-
nalidade desses veículos. E, com a che-
gada dos Leopard 1A5 e o remaneja-
mento dos Leopard 1BE para os RCB
(menos o 20º RCB, de Campo Grande
que receberá os M60-A3TTS), apenas
sete Leopard 1BE serão descarregados,
incluindo o que se acidentou, em Pi-
Dentre os veículos com manutenção sob rassununga (SP), os quais servirão
responsabilidade do PqRMnt/3 está o obuseiro autopropulsado M-108 como fonte de sobressalentes.

92
O
ÇÃ
A
E RV
E S
PR

O M4 Sherman
restaurado e
em condições
de rodagem,
estacionado em
frente ao prédio
principal
do 1ºRCC

Este meia lagarta M5 foi


remotorizado com um motor
Perkins, na década de 1970, e
está preservado em condições
de tráfego, no 3ºRCMec

O 29ºBIB possui vários


veículos preservados e
em condições de rodagem;
um deles, é este VBR M3A1
White Scout Car

93
O Centro de Instrução de Blindados-
CIBld de Santa Maria está mobiliado
com 8 carros de combate M60A3 TTS

Centro de Instrução de Blindados


Os dois
Leopard Escola
É uma das unidades de ensino mais
Fahrschulpanzer
recentes do EB, tendo sido criada em
do 1ºRCC são
2003, no Rio de Janeiro. Com o re-
utilizados em conjunto
manejamento em direção ao Sul, o C I
Bld foi estabelecido em Santa Maria, vi- com o CIBld
zinho ao 1º RCC. Sua missão é especi-
alizar oficiais e sargentos no emprego
técnico e tático de blindados, envolven-
N. da R.: Os autores e a direção da revista agradecem as pessoas abaixo
do os carros de combate Leopard 1BE,
relacionadas pela ajuda dispensada, tornando possível este trabalho:
M-60A3TTS, VBR EE-9 Cascavel, VBTP
■ General-de-Divisão Adhemar da Costa Machado Filho, chefe do CComSEx;
M113-B e EE-11 Urutu e os obuseiros
■ General-de-Divisão Eduardo Segundo Liberali Wisniewsky, comandante da
autopropulsados M-108 e M-109A3. Para
2ª Região Militar;
tanto, a unidade dispõe, para instrução,
■ Coronel César Augusto Moura, subchefe do Estado-Maior do CMSE;
de oito M-60A3 TTS, quatro Leopard 1BE,
■ Tenente-Coronel Adilson Giovani Quint, comandante do 29º BIB;
um M-41C Caxias (em processo de res-
■ Tenente-Coronel Celso Henrique Lima Rentroia, comandante do 4º RCB;
tauro) e dois M-113B. Outros carros tam-
■ Tenente-Coronel Jorge Henrique Luz Fontes, comandante do 3ºR C Mec;
bém são utilizados durante o curso, quan-
■ Tenente-Coronel José Antonio Dias Teixeira Jr, subcomandante do 29º BIB;
do são requisitados. Os dois Leopard
■ Tenente-Coronel Luis Felipe Garcia Fernandes, comandante do Pq R Mnt/3;
Escola são compartilhados com o 1º
■ Tenente-Coronel Marco Antonio Rodrigues, comandante do 1º RCC;
RCC, que também se encarrega da ma-
■ Capitão Antonio Augusto Cunha Jr, comandante do 1º Esqd de Carros de
nutenção dos demais veículos. As salas
Combate do 1º RCC;
de aula são equipadas com cinco
■ Capitão Cleber Yañez Nascimento, 1º RCC;
softwares de simuladores de tiro e con-
■ Capitão Gláucio Francisco Pereira, instrutor do C I Bld;
dução de blindados.
■ Capitão Marcus Antonio Rodrigues Jr, 3º R C Mec;
Desde a mudança para a nova sede
■ Capitão William Rodrigues Ochendorf, 29 ºBIB;
foram graduados 629 militares, entre
■ 1º Tenente Alisson Arjona, 29º BIB;
estes, alunos da Argentina, Bolívia, Co-
■ 1º Tenente Milton Francisco Paiva, Pq R Mnt/3;
lômbia, Equador, Paraguai e Suriname.
■ 2º Tenente Fábio Costa D’Avila, 29º BIB;
Tanto o curso técnico como o tático têm
■ Aspirante a 2º Tenente Deivison Antunes Oliveira, 4º RCB;
a duração de cinco semanas. O curso no
■ Subtenente Péricles Frison, Pq R Mnt/3.
C I Bld, todavia, ainda não se constitui
* O livro “ M4 Sherman no Brasil”, também é de autoria de Hélio Higuchi e Paulo
em pré-requisito para operar blindados
Roberto Bastos Jr
no Exército Brasileiro.

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