Você está na página 1de 6

Práticas Matemáticas Inclusivas nos Anos Iniciais: Reflexões geradas na Educação Especial

POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGENS MATEMÁTICAS


DIRECIONADAS A ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS1
Gisele Regina Trotti Anselmo2

Introdução

Incluir todos os estudantes de modo a possibilitar o desenvolvimento das mesmas


habilidades, mesmo que em diferentes níveis de aprofundamento, é um desafio a ser praticado
pelos educadores.
Quais necessidades específicas podem ser observadas nos estudantes que apresentam
deficiências intelectuais?
Como é possível assegurar que todos os alunos possam acessar o mesmo conhecimento?
Esta reflexão considerou os princípios norteadores do Desenho Universal de
Aprendizagem, com foco nos recursos didáticos como meio de possibilitar aprendizagens
matemáticas a estudantes com deficiências intelectuais, inseridos no contexto de escola (e
sociedade) inclusiva.

Desenvolvimento de estratégias diferenciadas no preparo de aulas para alunos com


deficiências intelectuais

Na prática docente, possibilitar o desenvolvimento igualitário a todos os estudantes é


um desafio, visto a necessidade de os conhecermos bem em suas habilidades e dificuldades.
Muitos aspectos são considerados, como formação docente, estratégias de ensino,
ferramentas tecnológicas, instrumentos avaliativos, acompanhamento do desenvolvimento do
estudante, gestão de tempo, entre outros.
Ao iniciarmos um ano letivo com estudantes portadores de deficiências, muitas vezes
nos deparamos com a necessidade de propostas didáticas que abarquem estratégias
diferenciadas, baseadas no DUA (desenho universal de aprendizagem), de modo a
disponibilizar ferramentas acessíveis e adequadas para a construção da aprendizagem.
De acordo com os organizadores do DUA Meyer, Rose e Gordon (2014) tais propostas

1
Trabalho final apresentado como requisito para a finalização do Curso “Práticas matemáticas inclusivas nos Anos
Iniciais: reflexões geradas na Educação Especial” – Edital SBEM-DNE 01/2020.
2
Mestre em Ciências Biológicas. SESI-SP, Professora de Educação Básica da Escola SESI Santos Dumont –
Campinas/S.P. gisele.anselmo@gmail.com.

1
Práticas Matemáticas Inclusivas nos Anos Iniciais: Reflexões geradas na Educação Especial

estabelecem três princípios norteadores para a elaboração do planejamento de ensino de modo


inclusivo: 1) possibilitar múltiplas formas de apresentação do conteúdo, de ação e expressão do
conteúdo pelo aluno, 2) proporcionar vários modos de aprendizagem e desenvolvimento
organizados pelo professor para os alunos, 3) promover a participação, interesse e engajamento
na realização das atividades pedagógicas. (PRAIS, STEIN e VITALIANO, 2020)
Partindo das imersões durante este curso, em especial relativas às possibilidades de
aprendizagens matemáticas, baseei-me na seguinte questão: de que maneira a perspectiva do
Desenho Universal para a Aprendizagem associada à inclusão dos alunos que apresentam
necessidades educacionais especiais (NEE), com deficiências intelectuais, pode ser abordada
no ensino de Matemática?
Tanto na apresentação do conteúdo, quanto nas formas de aprendizagem, participação e
engajamento, a flexibilização no uso de recursos, considerando as características do estudante
(individualidade) de acordo com suas experiências e contexto em que está inserido podem
motivá-lo e despertar seu interesse, facilitando sua compreensão sobre o tema a ser estudado.
No estudo de caso que apresentou o estudante com Síndrome de Williams, por
exemplo, Santos e Thiengo, (2019) apresentaram dois recursos combinados – jogos e contexto.
Conhecer o estudante e suas preferências, possibilita ao educador combinar conteúdos
e temas de formas variadas, neste caso com material concreto – jogos de cartas e tabuleiro,
tendo como pano de fundo o time preferido do estudante.

Para Malaquias (2012):


estudantes com deficiência intelectual, podem
apresentar algumas características, que isoladas ou em conjunto, podem
interferir na construção do pensamento lógico-matemático,
necessitando assim de metodologias que contemplem sua capacidade
cognitiva, sendo constantemente estimulada. Essa deficiência não
impede que o aluno desenvolva habilidades acadêmicas, mas limitam,
precisando assim que o professor tenha conhecimento sobre as
possíveis limitações, assim como, as habilidades que podem ser
desenvolvidas, dependendo do estímulo recebido.
Dentre essas características, Malaquias (2012) destaca oito características conforme
expressas no quadro 1.

2
Práticas Matemáticas Inclusivas nos Anos Iniciais: Reflexões geradas na Educação Especial

Quadro 1 – Características do aluno com deficiência intelectual

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de Malaquias et al. (2012, p. 20).

Outros recursos, ainda concretos podem ser utilizados, de forma colaborativa, como
desafios a serem desvendados através de pistas, caça ao tesouro, brincadeiras de rua adaptadas
ao conteúdo, entre outros.
Os jogos (de qualquer tipo) constituem um recurso muito favorável à aprendizagem,
Macedo, Petty e Passos (2005) destacam a semelhança entre as brincadeiras e os jogos, uma
vez que para eles ambas as atividades envolvem a alegria e sofrimento, desencadeados pelo
exercício de certas habilidades e da transposição de determinados limites.
Os autores também fazem uma colocação muito interessante:
Na perspectiva das crianças, não se joga ou
brinca para ficar mais inteligente, para ser bem-sucedido quando adulto
ou para aprender uma matéria escolar. Joga-se e brinca-se porque isso
é divertido, desafiador, promove disputas com os colegas, possibilita

3
Práticas Matemáticas Inclusivas nos Anos Iniciais: Reflexões geradas na Educação Especial

estar juntos em um contexto que faz sentido, mesmo que às vezes


frustrante e sofrido [...]. (p. 17).
A clareza dos objetivos que o educador deseja alcançar, relacionados ao tipo de recurso
que pode ser utilizado, um importante fator a ser considerado.
Diante das características apresentadas pelo estudante e dos objetivos a serem
alcançados, é interessante utilizar o tipo mais adequado de jogo (se for um dos recursos), com
foco nas habilidades a serem desenvolvidas.
Segundo Lara (2003) os jogos podem ser de construção - que proporcionam ao aluno a
percepção da necessidade de um novo conceito; de treinamento – possibilitam a aplicação de
um novo conceito em diferentes formas; jogos de aprofundamento – resolução de situações-
problema, em diferentes graus de dificuldade; e jogos estratégicos – permitem ao estudante
criar hipóteses, desenvolver um pensamento sistêmico e traçar alternativas para alcançar seus
objetivos.
Os jogos e simuladores virtuais constituem recursos muito favoráveis ao aprendizado
dos estudantes também, e além das plataformas que disponibilizam tais recursos prontos para
serem utilizados, hoje temos a possibilidade de criar jogos com ferramentas e recursos
direcionados ao desenvolvimento de habilidades específicas.
Claro que as possibilidades de aprendizagem são muito ricas além dos jogos e
brincadeiras, elencando entre outras, o uso de imagens, estórias em quadrinhos, leituras
compartilhadas, trechos de vídeos com rodas de conversa, oficinas com atividades dinâmicas,
lembrando que todo conhecimento precisa de um fio condutor para dar clareza e segurança ao
estudante.

Considerações finais

A partir da criação de um ambiente favorável para o aprendizado, onde os estudantes


sintam-se acolhidos e respeitados em suas fragilidades, o educador pode mobilizar recursos
variados.
Uma escola inclusiva procura responder às necessidades de todos os alunos que a
frequentam, o que exige a criação de oportunidades para que estes se sintam integrantes ativos
das atividades escolares.
Há muitos desafios a serem superados para garantir uma educação igualitária e sob a
abordagem baseada no DUA, o docente pode organizar a intervenção pedagógica

4
Práticas Matemáticas Inclusivas nos Anos Iniciais: Reflexões geradas na Educação Especial

equacionando sistematicamente estratégias diversificadas, de modo a assegurar que todos os


alunos se sintam motivados para aprender, considerando as redes afetivas, de reconhecimento
e as redes estratégicas.

Referências:

LARA, Isabel Cristina Machado de. Jogando com a Matemática de 5ª a 8ª série. São
Paulo: Rêspel, 2003.

MACEDO, Lino de; PETTY, Ana Lúcia S.; PASSOS, Norimar C. Aprender com jogos
e situações-problema. Porto Alegre: Artmed, 2000.

MALAQUIAS, F. F. O. Realidade virtual como tecnologia assistiva para alunos com


deficiência intelectual. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica). 2012. 112p. Universidade
Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2012.

NICÁCIO, M. D. M. Formação de Professores de AEE com utilização de jogos


matemáticos para alunos com deficiência intelectual. Dissertação de Mestrado em Ensino de
Ciências e Matemática. MPECIM da Universidade Federal do Acre – UFAC. Rio Branco, 2019.
Disponível em:
https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/564674/2/PRODUTO%20EDUCACIONAL%2
0MPECIM%20-%20DARCI_SALETE.pdf. Acesso em 12/06/2021.

PRAIS, Jacqueline Lidiane de Souza; STEIN, Jorama de Quadros; VITALIANO, Célia


Regina. Desenho universal para a aprendizagem na promoção da educação inclusiva: uma
revisão sistemática. Revista Exitus, Santarém/PA, Vol. 10, p. 01-25, e020091, 2020. Disponível
em http://www.ufopa.edu.br/portaldeperiodicos/index.php/revistaexitus/article/view/1268.
Acesso em 12/06/2021.

SANTOS, Flavia Fassarella Cola dos; THIENGO, Edmar Reis. Jogos para a
apropriação do conceito de números por estudantes com síndrome de Willians. ISBN: 978-85-
8263-487-5. 1ª edição. Vitória: Editora Ifes, 2019. 48 p. Disponível em: Portal eduCapes:
JOGOS PARA A APROPRIAÇÃO DO CONCEITO DE NÚMEROS POR ESTUDANTES
COM SÍNDROME DE WILLIAMS. Acesso em: 12/06/2021.

5
Práticas Matemáticas Inclusivas nos Anos Iniciais: Reflexões geradas na Educação Especial

Você também pode gostar