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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

CURSO DE TEOLOGIA
DISCIPLINA DE PROFETAS

PROFETISAS DOS SÉCULOS XX E XXI


Margarida Maria Alves

José Ricardo da Silva Oliveira - 845588

Recife-PE
2022
PROFETIZAS NA BÍBLIA E PROFETISAS HOJE
Lendo a Sagrada Escritura com olhos críticos da modernidade, com certeza
percebemos o pouco espaço dado às mulheres. Ou seja, em relação às ações do povo de Deus,
normalmente liderado por homens, as passagens bíblicas não mostram muitas vezes uma
igualdade entre homens e mulheres. Todavia tal situação não deve servir para dogmatizar a
vontade de Deus, pois a Palavra de Deus, escrita na Bíblia, sofre a influência do tempo em
que foi revelada, onde prevalecia uma cultura dominada pelos homens.
Mesmo com essa cultura, percebemos inúmeras situações bíblicas que testemunham
a importância que têm as mulheres no plano divino. Basta observamos personagens
como Sara (Gênesis 17,15-16), Rebeca (Gênesis 24,67), Raquel e Lia (Gênesis 29,16-20),
Míriam (Êxodo 15:21), Raabe (Josué 2,1.9), Debora e Jael (Juízes 5,7.24), Rute (Rute 1,16;
4,13-14), Ana (1Samuel 1,27; 2,1), Ester (Ester 4,13,14), Hulda e Judite (Judite 15,9). E, no
Novo Testamento, a figura feminina central é Maria, a mãe de Jesus. Porém aparecem
também outras mulheres. Temos as diferentes marias que acompanham Jesus até aos pés da
Cruz, sobretudo Maria Madalena. Além delas, temos Priscila em Atos 18, Febe, que em
Romanos 16,1 é considerada como uma diaconisa.
A leitura da sagrada escritura, se olhada pela ótica das mulheres da atualidade, diz
Edcarlos Alexandre que: “significa procurar o que cada texto diz às mulheres de hoje, de
modo a impugnar qualquer interpretação distorcida pelo machismo. A interpretação da Bíblia
sempre foi masculina, pois o masculino era tido como universal. ”1

Podemos perceber que as profetizas de hoje saem do anonimato, não se escondem nas
sombras machistas da sociedade atual, mas antes, contribuem juntando-se aos diversos
profetas existentes hoje, para lutar pelo que é justo, correto e verdadeiro para a sociedade e
para o mundo.

MARGARIDA MARIA ALVES – PROFETA DOS DIREITOS DOS


TRABALHADORES DO CAMPO

Falando de profetisas da atualidade, lembramos aqui da figura de Margarida Marias


Alves (Alagoa Grande, 5 de agosto de 1933 — Alagoa Grande, 12 de agosto de 1983) foi
uma sindicalista e defensora dos direitos humanos brasileira. Foi uma das primeiras mulheres
a exercer um cargo de direção sindical no país. 2 Seu nome e sua história de luta inspiraram a
Marcha das Margaridas, que foi criada em 2000.
1
Https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/mulheres-e-profetismo-cebi-planalto/ acesso em 06 de novembro de
22
Durante o período em que esteve à frente do sindicato local de sua cidade, foi
responsável por mais de cem ações trabalhistas na justiça do trabalho regional, tendo sido a
primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba durante a ditadura
militar.3

Postumamente, recebeu o Prêmio Pax Christi Internacional em 1988.4 Todos os


anos, na semana que antecede o dia 12 de agosto, na cidade de Alagoa Grande, a população
traz à tona a memória da sindicalista, que foi a precursora feminina na Paraíba na defesa dos
direitos dos trabalhadores do campo.

LUTA PROFÉTICA

Margarida Maria Alves, filha caçula de uma família de nove irmãos, morou no Sítio
Jaçu, na zona rural de Alagoa Grande, até os 22 anos. No entanto, quando foram despejados
das terras pelos latifundiários, a família de Margarida teve que se mudar para a periferia da
Paraíba (PB). Portanto, ela foi criada com questões de terra desde criança. Margarita nunca foi
capaz de aprender, ela completou a quarta série do ensino fundamental com idade superior à
média. Em 1973, aos 40 anos, tornou-se presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da
Paraíba Alagoa Grande.

Ela foi uma das primeiras mulheres no Brasil a ocupar um cargo de liderança em um
sindicato e a principal ativista de direitos humanos e trabalhistas do país. A ativista está na
linha de frente da luta pelos direitos básicos dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, como
carteira assinada e 13º salário, jornada de oito horas e feriados. Ela também defendeu os
direitos dos trabalhadores de cultivarem suas próprias terras, lutando pelo fim do trabalho
infantil nas lavouras e canaviais para que essas crianças pudessem aprender. 5 Durante sua
gestão sindical, criou um programa de alfabetização de adultos, inspirado no modelo do
educador Paulo Freire, para conscientizar e ensinar mais trabalhadores. Ela também é
responsável pelo ajuizamento de mais de 100 ações trabalhistas na Justiça do Trabalho de
Alagoa Grande (PB) envolvendo grandes proprietários de terras, principalmente usineiros, os

2
Um pouco da história de Margarida Maria Alves no Dia da (o) Trabalhadora (o). Coletivo Margarida Alves.
Acesso em 06 de novembro de 22
3
«Margarida Alves, assassinada em 1983, agora é anistiada política». Rede Brasil Atual. Acesso em 06 de
novembro de 22
4
«Pax Christi International Peace Award» laureates». Pax Christi. Acesso em 06 de novembro de 22
5
«Saiba quem foi Margarida Alves, sindicalista que dá nome a marcha camponesa». Folha de S.Paulo. 14 de
agosto de 2019. Acesso em 06 de novembro de 22
donos da Usina Tanques. No ano de sua morte, 1983, cerca de 72 ações judiciais foram
movidas na Justiça do Trabalho local, segundo o Ministério Público.
Margarida, foi uma das figuras mais conhecidas da luta sindical no Brasil.
Pronunciou sua frase mais famosa em um discurso de 1º de maio em comemoração ao Dia do
Trabalho: "Da luta eu não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome! ” Três meses
após o incidente, Margarida foi assassinada na porta de sua casa. O alvoroço causado por sua
morte foi tão grande que gerou a Marcha das Margaridas, símbolo da luta das mulheres no
Brasil.

UMA FLOR NA VÁRZEA


Alagoa Grande (PB) no século XX era uma grande produtora de cana de açúcar e
seus derivados, como também, de algodão e fibra de agave. Como em toda a cidade cercada
por usinas e fábricas, era uma cidade dominada por “coronéis”, ou seja, usineiros e donos de
engenhos que dominavam todo o território do brejo e agreste paraibano. Neste contexto, os
trabalhados de tais ambientes raramente ou quase nunca tinham seus direitos respeitados,
trabalhavam sem carteira assinada, sem férias e etc. Por isso é fundado em Alagoa Grande o
sindicato dos trabalhadores rurais da cidade, justamente para cobrar dos patrões os direitos
que eram previstos por lei, aos trabalhadores.
Margarida surge em meio a esse contexto, como já foi dito, foi a primeira mulher a
ser presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande no brejo paraibano. Sua
luta sempre foi pelos direitos do trabalhador do campo. E nisso ela firmou o seu empenho.
Um detalhe na vida sindical e profética de Margarida, é que ela nunca misturou a luta
sindical com luta partidária, dizia ela que: “não tem como misturar luta sindical com luta
partidária”. Pois, segundo Rosa Godoy, corre-se o risco de quebrar e até mesmo extinguir o
movimento. Na época dos entraves de Margarida com os coronéis, a cidade era “comandada”
pelos membros do antigo PDS6. E lá existia a oposição do PT. Os membros do partido dos
trabalhadores queriam que Margarida se filiasse ao partido e se tornasse o grande nome de
frente de sua luta partidária, coisa que ela nega e nunca se filia oficialmente ao partido, isso
fica claro na fala de Vanderlei Almeida, na época representante estadual do partido. 7 Em um
encontro com Lula, o próprio recomenda a Margarida a não se afiliar ao PT.

6
Partido Democrático Social (PDS) foi um partido político brasileiro de direita fundado em 31 de
janeiro de 1980. O partido surgiu após o fim do sistema bipartidário que havia sido implantado pelo Regime
Militar de 1964 e que foi objeto de uma reforma ocorrida no governo João Figueiredo. 
7
https://www.youtube.com/watch?v=0LzkLtPNnpg documentário “Uma flor na várzea” Acesso em 06 de
novembro de 22
Margarida, apesar de não ser afiliada a nenhum partido, e por ser amiga do ex-
governador da Paraíba, Wilson Braga, ela convivia com membros do antigo PDS e do grupo
da várzea. Tal atitude tinha uma função, ou uma missão, os membros deste partido eram os
grandes coronéis e usineiros da cidade, e a grande figura dentre eles era o Dr. Agnaldo Veloso
Borges, grande influenciador e comandante do grupo da várzea, como também, dono da maior
usina da cidade. Agnaldo era o responsável por eleger desde vereadores até governadores no
estado, devido a sua grande influência.
Segundo o esposo de Margarida, confirmado pelo historiador alagoa-grandense José
Avelar, Margarida só apoiava o grupo da várzea 8 para ter voz no meio deles e poder falar
sobre os direitos dos trabalhadores rurais, sabendo disso, os dirigentes nacionais do PT
acusam margarida de “traição” e a expulsão do partido (lembrando que ela nunca se afiliou
oficialmente). Mesmo apoiando o candidato do PDS, Margarida nunca abandonou sua missão
de lutar pelos direitos dos trabalhadores, como também contra o trabalho infantil e o
analfabetismo dos adultos.
Margarida foi e ainda continua sendo uma figura complexa, como afirma a
historiadora Rosa Godoy. Ela fazia campanha para o candidato do grupo da várzea, mas
lutava pelos direitos dos trabalhadores que eram oprimidos pelos usineiros membros do
partido.
Margarida disse em um de seus discursos, o mesmo no qual ela proferiu a sua
máxima, que só fazia o que fazia porque algo dentro dela a instigava e ela afirmou várias
vezes que esse “algo” era o sentido de justiça, a quem ela chamava e acreditava que era Deus.
Sempre uma pessoa temente a Deus, e se fez o que fez, ela agradecia a Ele por dar forças a ela
para lutar. No fim de tudo, Margarida morreu sem apoio do PDS – já que, acredita-se até hoje
que do o grande mandate foi o Agnaldo Veloso Borges – como também, sem apoio do PT que
a abandou. Os únicos que ficaram ao lado de Margarida, além de sua família, foram os pobres
trabalhadores que ficaram sem sua voz para defende-los.

8
Apoio confirmado por Zito Buarque, ex-diretor da Uzina Tanques e genro de doutro Agnaldo.

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