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PRIMEIROS

SOCORROS
Autor

Mateus Aparecido de Faria

Reitor da UNIASSELVI

Prof. Hermínio Kloch

Pró-Reitora do EAD

Prof.ª Francieli Stano Torres

Edição Gráfica e Revisão

UNIASSELVI
PRIMEIROS
SOCORROS
1 INTRODUÇÃO
Imprevistos são situações não planejadas ou não esperadas, que fazem
parte do cotidiano das pessoas. Você, certamente, já passou por isso. No
entanto, em alguns casos, esses imprevistos podem envolver um machucado,
um acidente e até mesmo o risco de morte. A isso denominamos emergência.
Neste curso, abordaremos os principais aspectos dessas situações e como
agir com fins de assegurar a saúde das pessoas envolvidas em emergências.

Antes de seguir, são necessários alguns destaques. Primeiros Socorros


são ações preliminares para preservar a vida no caso de emergências, até
que profissionais de saúde especializados, como os bombeiros ou o Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU – 192), possam chegar e prestar o
cuidado necessário. Este curso, portanto, é introdutório e, caso seja de seu
interesse se aprofundar na temática, você poderá buscar cursos de graduação
e pós-graduação voltados para a atuação em emergências.

2 IDENTIFICANDO UMA EMERGÊNCIA


O perfil epidemiológico do Brasil vem passando por transições
importantes que evidenciam os modos como a população adoece e morre.
Se antes a preponderância dos motivos de óbito era de doenças infecciosas
como tuberculose e hepatites, atualmente a prevalência maior é das chamadas
causas externas, que incluem acidentes de trânsito, acidentes domésticos,
violência urbana, podendo ser não intencionais, como atropelamentos e
fraturas por queda, ou intencionais, como tentativas de autoextermínio ou
ferimentos por armas (LUONGO, 2014; SOARES et al., 2020). Desse modo,
cada dia mais é necessário haver ações de educação sobre Primeiros Socorros
para diferentes grupos populacionais, de modo a socializar tais saberes e,
assim, prevenir mortes evitáveis.

Tal socorro em situações de emergências pode ser realizado por pessoas


mais próximas ao local do incidente ou que dele tomam conhecimento. A elas
chamamos de socorristas leigos, quando não possuem formação específica
na área, e constituem como importantes sujeitos para a preservação da vida
até que socorristas especializados possam atender a ocorrência.
No Brasil, deixar de prestar socorro quando poderia fazê-lo ou pedir
socorro a autoridades públicas é crime tipificado no Código Civil nacional
como omissão de socorro e pode levar à detenção ou multa (BRASIL, 1940).
Importante salientar que tal socorro deve ser prestado na medida do seu
conhecimento sobre emergências e técnicas de atendimento, ou seja, caso
não tenha certeza do procedimento, não o realize, uma vez que pode agravar
o estado de saúde da vítima. Afinal, causar dano a outrem por conta de
negligência, imprudência ou imperícia também é ato ilícito (BRASIL, 2002).
No Quadro 1, são mostradas as diferenças entre tais conceitos.

QUADRO 1 – MODALIDADES DE CULPA

Modalidade Conceito
Ação feita sem conhecimentos ou aptidão para tal,
Imperícia
resultando em dano.
Ação realizada sem zelo, sem o cuidado necessário
Imprudência
requerido pela situação.
Falta de cuidado, quando havia o dever de fazê-lo.
Negligência
É uma omissão, ao contrário da imprudência.
FONTE: Adaptado de Luongo (2014)

Portanto, aqui buscaremos abordar o maior número de aspectos relativos


aos Primeiros Socorros e suas técnicas para que sua apreensão seja a mais
significativa possível, assim como, mais adiante, explicaremos o que fazer
quando há dúvidas quanto aos procedimentos.

Vamos então à prática! Imagine que você está em um local de acidente


automobilístico com vítimas e pretende realizar os primeiros socorros. O que
fazer? Antes de tudo, mantenha a calma. As pessoas ao seu redor podem
estar machucadas e a cada segundo suas lesões podem aumentar, com
risco de morte. Por isso, você, enquanto socorrista, precisa ser o “prumo”
da situação, ou seja, ter a capacidade de discernir e escolher as ações mais
adequadas para o socorro. Isso se aplica a qualquer emergência e, por mais
difícil que possa parecer, pode ser o aspecto essencial para preservar a vida
das outras pessoas envolvidas.

Outro ponto considerado como regra de ouro dos primeiros socorros


é a autopreservação. Não é adequado você arriscar a própria vida durante o
atendimento de outrem, portanto, certifique-se de que é seguro realizar o
atendimento e que possua os conhecimentos necessários para tanto. Ao lidar
com fluidos corporais, como sangue e outras secreções, use luvas e aparatos
de proteção – caso não seja possível, melhor não se aproximar. Isso não quer
dizer que você deixará a vítima sozinha! É essencial manter contato visual
e/ou verbal com as pessoas envolvidas na emergência o tempo necessário
até a chegada do socorro especializado.
Além disso, a área do acidente deve estar devidamente sinalizada e
protegida. Faça um cordão de isolamento com fita zebrada ou quaisquer
outros materiais que possam sinalizar aos transeuntes que ali é um local
perigoso. O importante é que o momento do socorro não seja interrompido
por conta de outros acidentes, como desabamentos e atropelamentos.

Identificada a situação que requer primeiros socorros, o estado das


vítimas e a proteção do local, deve-se imediatamente solicitar ajuda aos
bombeiros (193) ou ao SAMU (192), informando o local, o tipo do acidente e
o estado (e quantidade) das vítimas. Enquanto o atendimento especializado
não chega, avalie se você possui os conhecimentos necessários para prestar
assistência inicial e, em caso afirmativo, proceda com algumas precauções:

• Não mova a vítima do local, pois isso pode agravar as lesões presentes,
assim como provocar mais ferimentos. Pode ser que em alguns casos
seja menos danoso retirar a vítima do local do que mantê-la, como em
incêndios ou acidentes envolvendo veículos em estradas, mas atenção! O
mais aconselhável é aguardar avaliação de profissional de saúde capacitado.
• Não tente posicionar a vítima, uma vez que isso pode gerar dano irreparável
na medula espinhal.
• Não dê bebidas ou alimentos à vítima – mesmo que seja água, é importante
esperar as orientações de profissional especializado, já que isso pode
impedir as vias aéreas, aumentar o perigo do ambiente ou outro aspecto
prejudicial às pessoas envolvidas.
• Não tente acordar a vítima inconsciente com movimentos bruscos, líquidos
com odor forte, beliscões ou outro ato de contato com o corpo, isso
também pode aumentar as lesões já existentes, inclusive as não visíveis.
Pode-se tentar acordá-la com gritos ou chamando pelo nome.

Neste curso, focaremos nas emergências traumáticas, de modo que


possamos aprofundar nos seus aspectos principais e construir práticas de
primeiros socorros condizentes à necessidade deste evento que, aliás, ocorre
com bastante frequência no cotidiano.

De modo geral, podemos definir como traumática uma situação de


emergência ocasionada por fatores externos, levando a lesões ocorridas
por movimentos, energias etc. que não são suportados pelo nosso corpo.
O trauma é um evento inesperado, uma ação nociva, um resultado de lesão
violenta. Poderíamos inclusive dizer que trauma não é um acidente, mas sim
uma doença, pois as lesões que a ocasionaram em geral podem ser evitadas
(LUONGO, 2014).

Agora que já vimos os aspectos básicos das situações de emergência


traumática e suas características, vamos partir para um momento posterior do
nosso curso, em que serão abordadas as técnicas e instrumentos necessários
para prestar os primeiros socorros.
3 MOMENTO DE SOCORRO
O atendimento à vítima de trauma acontece no momento em que a
pessoa socorrista chega ao local, como mostrado anteriormente, e continua
com a garantia da presença de sinais vitais.

3.1 TÉCNICAS DE PRIMEIROS SOCORROS


O método que apresentaremos aqui é a base para qualquer protocolo
de atendimento de emergência, inclusive em unidades hospitalares e não
importando o estado de saúde da/o paciente: é o método ABCDE, que é o
mnemônico para avaliação das vias aéreas, respiração, circulação, disfunções
neurológicas e exposição. Em inglês, a junção desses passos (airways, breathing,
circulation, disabilities, exposition) forma a sequência (LUONGO, 2014).

Tal mnemônico foi construído de modo a auxiliar a/o socorrista no


momento de emergência, pois é fácil de lembrar e extremamente útil para
verificação das funções vitais. A primeira letra sinaliza para a avaliação das
vias aéreas – certifique-se que a vítima está respirando, seja observando o
movimento do tórax, seja pela sensação de ar entrando e saindo quando se
aproximar de seu rosto. Caso não esteja, coloque a vítima deitada de costas
e alinhe a cabeça, pescoço e tórax, conforme Figura 1. Para a liberação
das vias aéreas, basta fazer uma hiperextensão do pescoço: coloque uma
de suas mãos na testa da pessoa e a outra na mandíbula, assim, com os
dedos, você estenderá o pescoço, deixando-o reto e levando o queixo para
trás. Isso provocará elevação da mandíbula e da língua, liberando as vias,
conforme Figura 2. Importante relembrar que a/o socorrista leiga/o não deve
movimentar a vítima nem o local do acidente, a menos que seja essencial
para a proteção das pessoas envolvidas na situação.

FIGURA 1 – ALINHAMENTO CABEÇA, PESCOÇO E TÓRAX

FONTE: Adaptada de Lambert (2013)

Descrição da imagem: desenho de uma pessoa segurando a cabeça


de outra, com as duas mãos posicionadas perto das orelhas. A outra pessoa
está deitada de costas.
FIGURA 2 – HIPEREXTENSÃO DO PESCOÇO

FONTE: Adaptada de Lambert (2013)

Descrição da imagem: desenho de uma pessoa deitada tendo o pescoço


hiperestendido por outra pessoa, tendo suas mãos posicionadas na testa e logo
abaixo do queixo. É possível visualizar as vias aéreas do nariz, boca e traqueia.

Com esse movimento, será possível verificar se há algum elemento


obstruindo a passagem do ar como sangue, vômito, próteses dentárias e até
mesmo resquícios do acidente que podem ter entrado pela boca ou nariz.
Se mesmo com o desimpedimento das vias, a pessoa vitimada não estiver
respirando, proceda com a respiração boca a boca: tape o nariz da vítima,
de modo que, ao soprar, o ar não saia antes de ir para os pulmões, encaixe
sua boca à da pessoa, sopre duas vezes e observe se o pulmão inflará. Esse
é o passo que corresponde à letra B do mnemônico de suporte à vida. Aqui
o objetivo é manter o suprimento de oxigênio ao cérebro até que o socorro
especializado chegue.

Importante salientar que o próximo passo (C, de circulação), em


determinadas situações, é realizado simultaneamente com o da respiração (B,
de breathing), uma vez que o fornecimento de oxigênio ao corpo depende não
só da entrada de ar, mas também de sua distribuição no corpo pelo sangue.
Para avaliar a circulação de sangue da vítima, a/o socorrista pode verificar
por meio da pressão indireta em alguns pontos específicos do corpo, como
pescoço, braço, axila, punho, joelho e virilha, conforme Figura 3.
FIGURA 3 – PONTOS DE PULSAÇÃO

FONTE: Adaptada de < https://i.pinimg.com/564x/12/60/4b/12604b1716f898d7fd42ba7a4c45ba55.jpg>. Acesso em:


10 ago. 2021.

Descrição da imagem: sequência de imagens mostrando uma mão


tocando partes do corpo nas quais é possível sentir o pulso do fluxo sanguíneo:
carotídeo (no pescoço, ao lado da traqueia), humeral (na junção entre o
braço e o antebraço, onde geralmente tiramos sangue para exames), axilar
(nas axilas), radial (mãos se tocando como em um cumprimento e a outra
mão tocando o punho), cubital (mão com a palma para cima e a outra mão
tocando o punho), poplíteo (atrás do joelho), tibial posterior (no tornozelo),
pedlo (na parte lateral do pé) e femoral (na virilha).

Constatada a falta de pulso por mais de dez segundos, procede-se a


massagem cardíaca. Primeiro movimento é deixar a vítima na mesma posição
dos passos A e B, ou seja, deitada de costas e com alinhamento entre cabeça,
pescoço e tórax. Apoie a mão esquerda na região do esterno (aquele osso
que fica no meio do peito) da vítima e a palma da mão direita sobre o dorso
da esquerda. Então, com seus braços estendidos, sem dobrar os cotovelos e
com os dedos levantados, faça pressão de modo compassado, levando para
frente o peso do seu corpo, conforme Figura 4.

Lembra que falamos anteriormente que os passos B e C costumar ser


simultâneos? Por isso a frequência das pressões que a/o socorrista deve
fazer será em relação ao número de respirações realizadas: 30 compressões
torácicas para cada duas ventilações. A frequência mínima deve ser 100 a 120
compressões por minuto. Resumindo, a cada 30 movimentos afundando o
esterno, se adulto até na profundidade de, pelo menos, cinco centímetros
(duas polegadas) e no máximo seis centímetros (e assim estimulando o
coração a bombear sangue), será necessário fazer duas respirações boca a
boca (para alimentar o sistema com oxigênio). No caso de crianças até oito
anos, não é necessária tanta força, podendo realizar a massagem cardíaca
com os dedos em vez de ser com as mãos, sendo neste caso aplicando até
uma profundidade de até quatro centímetros (DUARTE et al., 2021).
FIGURA 4 – MASSAGEM CARDÍACA

FONTE: Adaptada de Lambert (2013)

Descrição da imagem: desenho de uma pessoa de joelhos, com os


braços esticados e apoiados em cima do tórax de outra pessoa, que está
deitada de costas.

Seguindo o nosso ABCDE, já avaliamos a abertura das vias aéreas, a


respiração e a circulação sanguínea. Com isso já é possível manter a vida da
vítima pelo tempo suficiente ao deslocamento do resgaste especializado.
Há situações, no entanto, que a pessoa acidentada está respirando e com
frequência cardíaca adequada, mas que não responde a estímulos da/o
socorrista. A importância de verificar as disfunções neurológicas – o passo
D do mnemônico – que decorrem de emergências traumáticas consiste na
obtenção de informações consideradas cruciais, em especial nos casos de
traumatismos cranioencefálicos (LUONGO, 2014).

Neste momento, é necessário conferir a abertura ocular, a resposta


verbal e a motora, a fim de medir a necessidade de intubação, o estado de
coma e a responsividade da vítima. Para isso, utilizamos um instrumento
chamado Escala de Glasgow. Criada na década de 1970 por pesquisadores
do Instituto de Ciências Neurológicas de Glasgow, na Escócia (daí seu nome),
essa escala reúne os principais indicadores utilizados para casos traumáticos
e lhes confere graus, de modo que o resultado seja um valor entre três e
quinze. Quanto maior o escore final, melhor é o estado da pessoa, conforme
visto no Quadro 2.
QUADRO 2 – ESCALA DE GLASGOW

FONTE: <https://www2.ufjf.br/neurologia/wp-content/uploads/sites/53/2018/12/Tabela-ECG-768x503.png>. Acesso


em: 10 ago. 2021.

O cálculo para a definição do escore depende do somatório do item


referente a cada parâmetro e subtração do valor correspondente à reatividade
pupilar. Perceba que é necessário escolher apenas uma resposta obtida para
cada parâmetro – como exemplo, na resposta motora, a/o socorrista precisa
avaliar se a vítima consegue obedecer a comandos simples, como mexer os
dedos. Caso contrário, ela estará em um dos demais níveis e nunca em dois
simultaneamente. Já a reatividade pupilar é vista quando jogamos um feixe de
luz contra os olhos de outra pessoa, por exemplo, com o auxílio da lanterna
do celular. O esperado é que a pupila se contraia rapidamente em contato
com luz forte. Importante salientar que uso de álcool e outras drogas pode
interferir na aferição precisa da escala de Glasgow.

Para facilitar, imaginemos que em uma cena de acidente esteja uma


vítima que consegue abrir os olhos espontaneamente (pontuação = 4), mas
não verbaliza nada (pontuação = 1) nem se move (pontuação = 1). Ao se
aproximar dela, você percebe que suas pupilas se contraem normalmente
(pontuação = 0). Assim, o indicador Glasgow para essa vítima será 4 + 1 + 1
+ 0 = 6, ou seja, trauma grave, necessitando de atendimento especializado
imediatamente.

A letra E do mnemônico se refere à exposição e está ligada à prevenção


da hipotermia – quando há uma queda de temperatura corporal por tempo
prolongado. Tal estado pode levar à dormência dos membros até dificuldade
de respirar e perda de sentidos. Para evitar isso, a/o socorrista precisa cobrir
a vítima com manta térmica ou outro material disponível que impeça o
corpo de dissipar calor para o ambiente pelo tempo necessário à chegada
do atendimento especializado.

Por fim, apresentaremos as principais emergências traumáticas, de


modo que possa conhecer suas características definidoras. O traumatismo
cranioencefálico (TCE) é uma das situações de emergências que requer cuidados
imediatos, visto que decorre de trauma externo e provoca mudança anatômica
do crânio e comprometimento funcional de algumas estruturas como as
meninges, encéfalo ou seus vasos. O TCE pode resultar em alterações cerebrais
perenes ou temporárias, seja cognitiva, seja funcionalmente (BRASIL, 2015).

Outras emergências podem ser associadas a feridas, que classificamos


como abertas aquelas em que há contato com o exterior: arranhões (quando
a ferida permanece na superfície da pele), cortes (podendo haver bordas
regulares, portanto incisões, ou irregulares, configurando lacerações),
perfurações (quando danifica tecidos transversalmente, podendo haver
pontos de entrada e/ou saída), avulsões (quando partes do corpo são rasgadas
ou arrancadas) ou amputações. Já as fechadas, sem contato externo com
o conteúdo corporal, acontecem, por exemplo, nas contusões – nesses
casos, só é possível sua visualização de modo indireto, através de edemas ou
irregularidades na superfície da pele. O risco adicional nas feridas fechadas é
a presença de hemorragia interna, quando há um sangramento descontrolado
dentro da vítima, e consequente desenvolvimento para um quadro chamado
choque hipovolêmico. Isso ocorre quando perdemos mais de 20% do volume
de sangue do corpo e, portanto, prejudicará a oxigenação de órgãos e tecidos,
resultado em falência múltipla (LUONGO, 2014).

Além do choque hipovolêmico, há outros tipos de choque que merecem


atenção, como o cardiogênico, o obstrutivo, o distributivo e o anafilático.
O choque cardiogênico acontece no momento em que o coração perde
seu tônus para bombear sangue em quantidade adequada, levando a uma
falta de oxigênio generalizada nos órgãos. Já o choque obstrutivo ocorre
pela compressão do coração realizada por outros órgãos, impedindo-o,
assim, de bombear o sangue normalmente pelo corpo e levando a uma
queda da pressão arterial. Nessa mesma esteira, o choque distributivo ou
também chamado de vasogênico é assim chamado por haver deslocamento
inadequado de tecido sanguíneo para o sistema vascular, acumulando-se nos
vasos periféricos e dificultando o seu retorno ao coração. O último choque
listado é o anafilático, decorrente de uma resposta exagerada do sistema
imunológico a determinada substância ou alimento, podendo ser encontrada
em picadas de insetos, medicamentos ou mesmo na saliva de alguns animais
(BRASIL, 2015; LAMBERT, 2013; FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2003).
Finalizando o rol de tipos comuns de emergências traumáticas, temos
a fratura, identificada pela ruptura, total ou parcialmente, de algum osso.
Quando a ruptura causa lesão da pele, chamamos de fratura exposta, ao
passo que a fechada acontece quando a ruptura não apresenta contato com
o ambiente externo. O risco de infecção é tanto maior quanto mais exposta
for a fratura, portanto os primeiros socorros são extremamente necessários
para propiciar o suporte à vida da vítima (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2003).

3.2 FERRAMENTAS PARA O SOCORRO


Como visto no começo do livro, emergência traumática é mais uma
doença que um acidente, pois são altamente preveníveis. Assim, ter um
conjunto de ferramentas para auxiliar o socorro é ser coerente com tal
concepção de trauma. O famoso kit de primeiros socorros precisa fazer
parte do cotidiano das famílias e instituições, de modo que todas as pessoas
consigam tanto localizá-lo facilmente, como também fazer uso dos seus
componentes quando necessário.

Não há uma lista pré-definida para todo e qualquer kit, pois isso dependerá
das exigências e especificidades do local, assim como do conhecimento e
aptidões dos possíveis usuários. Por exemplo, não adiante ter um desfibrilador
portátil se não houver pessoas treinadas para seu manuseio. Aqui mostraremos
os principais itens de kits para primeiros socorros, dispostos na Quadro 3,
que podem ser majorados dependendo das especificidades do local. Isso
também se aplica à quantidade, ou seja, o número de materiais deve ser
condizente com o número de pessoas que estão expostas a riscos no local,
seja em casa ou na empresa.

QUADRO 3 – ITENS PARA UM KIT PRIMEIROS SOCORROS

Item Descrição
Resistente, feito de material que possa proteger seu con-
Recipiente teúdo, fácil de abrir e fechar, facilmente identificado, com
compartimentos internos.
Preferencialmente autorrecarregável, de material resistente
Lanterna
e à prova d’água.
Luvas Descartáveis, preferencialmente de vinil.
Sabão Preferencialmente neutro e em barra.
Saboneteira Feita de material plástico e que caiba o sabão.
Bandagem Gaze elástica, branca, absorvente, 100% algodão, não adesiva.
Não elástica, à prova d'água, com fissuras para admitir o ar e
Fita adesiva
que pode ser rasgada com a mão.
Solução antisséptica Feita de Iodo-povidona 10%, a garrafa deve ser resistente ao
em garrafa líquido e com bico dosador.
Tesoura Preferencialmente de aço não temperado e não magnética.
Manual de Primeiros
Escrito na língua mais utilizada no local e de modo objetivo.
Socorros
FONTE: Adaptado de Comitê Internacional da Cruz Vermelha (2007)
Independente do conteúdo do seu kit primeiros socorros, é importante
algumas medidas de conservação para que seu uso seja eficaz: mantenha
sempre limpo o conteúdo, assim como o recipiente do kit; reabasteça-o após
o uso; e esteja sempre pronta/o para improvisar caso necessite de um material
que não esteja no kit. É possível também manter alguns medicamentos, como
antibióticos, analgésicos ou pomadas para queimaduras, no entanto, deve-
se estar atento/a ao prazo de validade, às instruções contidas na bula e se a
vítima possui alergia a algum componente do medicamente.

4 FINALIZANDO O MOMENTO DE SOCORRO



Uma emergência traumática, que necessita de socorro imediato, é
sempre uma situação estressora, pois envolve a preservação da vida de
pessoas. Primeiros socorros são ações realizadas muito rapidamente, quase
sem tempo e espaço para reflexão ou adaptação. Isso pode gerar muitos
afetos em que realiza o socorro. Por isso, uma das primeiras coisas que
aprendemos é manter a calma, uma vez que já é alarmante para a vítima e
ficar nervosa/o enquanto socorrista não irá ajudar.

Após a intervenção na cena do trauma, ao certificar-se de que a vítima


está amparada pelo serviço de atendimento de emergência especializado,
reserve um tempo para pensar. Muita coisa pode ter ocorrido em um curto
período e, agora que as pessoas estão seguras, é necessário voltar para si –
refletir a experiência, os seus sentimentos e o que foi possível fazer.

Faça uma avaliação sobre seu estado de saúde: precisa de apoio? Quer
conversar com alguém? Quero me alimentar? Preciso de água? São algumas
perguntar que podem auxiliar neste momento de pós socorro. Leve o tempo
que precisar.

É aconselhável utilizar técnicas de relaxamento após atendimento


de primeiros socorros, como focar na respiração, meditar, entre outras.
Independente de sua escolha, tenha em mente que você não precisa se sentir
diminuída/o, envergonhada/o ou qualquer pensamento de incompetência
caso sua intervenção não tenha sido feita de modo ideal – você pode fazer
o que foi possível fazer, considerando a situação encontrada. Por fim, tenha
certeza de que “você sabe melhor do que ninguém o que fazer para se ajudar”
(COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 2007, p. 138).

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. O presidente
da república, usando da atribuição que lhe confere o art. 180
da Constituição, decreta a seguinte Lei. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em:
6 ago. 2021.

BRASIL. Lei n° 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
L10406compilada.htm. Acesso em: 6 ago. 2021.

BRASIL. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com traumatismo


cranioencefálico. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Primeiros socorros em


conflitos armados e outras situações de violência. Genebra: CICV, 2007.

DUARTE, A. C. DA S. et al. Uma análise dos últimos 20 anos dos protocolos


da American Heart Association: o que mudou no Suporte Básico de Vida?
Research, Society and Development, v. 10, n. 5, p. e5710514607, 27 abr.
2021.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Manual de Primeiros Socorros. Rio de


Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003.

LAMBERT, E. G. Guia Prático de Primeiros Socorros. 3. ed. São Paulo:


Rideel, 2013.

LUONGO, J. Tratado de primeiros socorros. São Paulo: Rideel, 2014.

SOARES, A. P. L. et al. Perfil das ocorrências por causas externas atendidas


pelo serviço urgência e emergência. Revista Recien – Revista Científica
de Enfermagem, v. 10, n. 32, p. 239-247, 15 dez. 2020.

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