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PRIMEIROS SOCORROS

UNIDADE 1 – PRIMEIROS SOCORROS: O QUE É


E COMO AGIR?

Ana Paula Felizatti


Introdução
Os primeiros socorros são açõ es de auxílio imediato a vítimas de algum acidente ou situação adversa, como
desmaios. Em uma situação de emergência, saber como agir até a chegada do atendimento médico pode ser
essencial para salvar uma vida. Aliás, você sabia que qualquer pessoa pode aprender a aplicar técnicas de
primeiros socorros? Os leigos na área, ou seja, não profissionais da saú de, têm um papel importante nesse
assunto, pois podem amenizar a situação e o risco de agravamento.
Na área esportiva, a aplicação de primeiros socorros merece destaque: quantas situaçõ es de emergência você
consegue identificar em um simples jogo de futebol, por exemplo? A prática de exercícios físicos pode gerar
situaçõ es que precisam de atendimento, seja por pancadas, quedas, fraturas, desmaios por exaustão, entre
inú meros outros motivos. E o que você pode fazer para ajudar nessas situaçõ es?
Aprender os conceitos de auxílio e reconhecer a importância da correta aplicação da prática de primeiros
socorros é uma etapa importante para a formação, não apenas profissional, mas, também, enquanto cidadão.
Assim, nesta primeira unidade, veremos conceitos fundamentais para a abordagem inicial das vítimas, além
dos aspectos legais e éticos, buscando criar um panorama sobre a importância da prática correta dos
primeiros socorros.
Vamos em frente? Acompanhe!

1.1 Panorama conceitual sobre primeiros socorros:


definição e considerações inicias
Compreender os conceitos principais sobre primeiros socorros, como a abordagem da vítima e a avaliação do
ambiente, é fundamental para a formação da consciência. Isso porque a ação de auxílio imediato pode
determinar se a vítima irá sobreviver ou não ao acontecimento.
A definição de primeiros socorros, de acordo com Santos (2014, p. 02), é o “[...] atendimento temporário e
imediato prestado a pessoa ferida ou que adoece repentinamente”. Nesse contexto, os primeiros socorros
incluem açõ es de reconhecimento do ambiente e das condiçõ es de risco para a realização do auxílio imediato,
buscando pelo atendimento médico e pela aplicação de técnicas de contenção de emergências, como
sangramento e dificuldade de respiração (FALCÃ O; BRANDÃ O 2010; BRASIL, 2013).
É importante, portanto, saber os pormenores para a aplicação do auxílio em cada situação, uma vez que é
possível o agravamento do estado da vítima devido à aplicação de métodos impró prios. Em suma, é essencial
que se siga açõ es em comum para todas as situaçõ es: manter a calma e chamar auxílio médico. Apó s o
primeiro passo, pode-se, então, analisar o ambiente e a situação, pensando rapidamente — mas com
responsabilidade e precisão — na melhor forma de auxiliar a vítima.
Conforme Santos (2014) e Karren (2013), podemos estabelecer cinco pontos principais gerais para a
realização dos procedimentos de socorros, sempre agindo com calma. Clique nas abas.

Observar o local

A observação permite que sejam detectados possíveis riscos causadores de novos acidentes, o que
faz com que o socorrista e as outras pessoas ao redor, incluindo a vítima, sejam expostas. Além
disso, a prática de observar o local também permite que o socorrista identifique o nú mero de
vítimas, além da necessidade de movimentação do acidentado devido ao nível de
comprometimento do local, entre outros aspectos intrínsecos ao ambiente.

Atentar-se para a segurança

Seja a do pró prio socorrista, seja das pessoas ao redor, evitando perigos. É imprescindível que o
socorrista não arrisque sua vida e se atente para a manutenção da biossegurança do ambiente.
Alguns questionamentos, nesse momento, são: há objetos que possam arriscar a segurança da
vítima, do socorrista ou das pessoas ao redor? Quais são eles? Além disso, a presença de escadas,
fios em curto ou energizados, armas e objetos cortantes ou tó xicos são exemplos de possíveis
mecanismos de lesão.

Chamar o serviço de emergência

Chamar o serviço de emergência deve ser feito imediatamente ou logo apó s uma ação inadiável
para a prevenção da vida da vítima.

Aproximar-se da vítima

A aproximação deve ser cautelosa e delicada, com o objetivo de acalmar a vítima e observá-la, além
de identificar o seu nível de consciência — característica importante para a realização dos
procedimentos adequados, de acordo com o que a vítima puder descrever sobre o acidente e suas
causas.

Fornecer medidas de auxílio

Principalmente no que diz respeito à prevenção da vida das vítimas, iniciando pelas mais graves.
Isto é, quando há mais de uma vítima, é necessário elaborar uma ordem de atendimento e socorro.

Dessa forma, podemos entender que o objetivo dos primeiros socorros é, de modo geral, a prevenção da vida
no contexto pré-hospitalar. Assim, ao praticar as medidas necessárias, o socorrista estará atuando diretamente
na qualidade de vida da vítima, podendo prevenir sequelas, e, em casos mais graves, evitar ó bitos (KARREN,
2013).
VOCÊ O CONHECE?
Henri Dunant é um personagem marcante na história dos primeiros socorros. Durante
uma batalha, em 1859, ele organizou uma equipe para essa atuaçã o, propondo a
criaçã o de grupos. Anos depois, esses grupos se transformaram na Cruz Vermelha, uma
grande agê ncia de auxílio e resgate mé dico. Dunant é vencedor do Nobel da Paz, tendo
sido um grande entusiasta da representaçã o da importâ ncia dos primeiros socorros
(CICV, 2016).

Entre as qualidades de um socorrista, a capacidade de liderança é um destaque. Assumir o controle da


situação, de modo a organizar o ambiente, as vítimas e as pessoas ao redor é indispensável na ação. Além
disso, há uma tríade de qualidades que o socorrista deve sempre considerar: bom senso, equilíbrio emocional
e voz de comando, a fim de tranquilizar a vítima e fornecer um socorro efetivo.

Figura 1 - As qualidades de um socorrista incluem perfil de liderança e bom senso.


Fonte: Elaborada pela autora, baseada em SANTOS, 2014.

Um aspecto importante é que os profissionais tenham consciência do tipo de situação de risco que podem
enfrentar em suas rotinas de trabalho. Dessa forma, para que os cuidados intrínsecos de primeiros socorros
sejam conhecidos, a utilização de protocolos e guias de referência devem fazer parte desse contexto. Assim, o
potencial socorrista consegue conhecer as açõ es que devem ser realizadas em cada situação (KARREN, 2013;
SANTOS, 2014). Por exemplo, um educador físico pode se deparar com lesõ es e fraturas durante o treinamento
de atletas, portanto, deve saber como identificar o ocorrido e como proceder nessas situaçõ es. Em escolas, o
professor de Educação Física é o primeiro a prestar socorro em casos de acidentes, como quedas ou colisõ es
durante as aulas (SANTOS, 2014).

VOCÊ QUER LER?


A ediçã o n. 42 da Revista do Conselho Regional de Educaçã o Física do Estado de Sã o
Paulo (CREF-SP), em 2014, trouxe uma reportagem interessante, intitulada “Primeiros
Socorros na Educaçã o Física”, sobre a prestaçã o de primeiros socorros nas aulas de
Educaçã o Física. Ela destaca a importâ ncia do conhecimento e da responsabilidade do
profissional. Alé m disso, a ediçã o també m traz protocolos de instituições renomadas,
como American Heart Association ou American College of Surgeons. Você pode ler a
publicaçã o no link: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/primeiros-
socorros-na-educacao
(https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/primeiros-socorros-na-
educacao).

Dessa forma, o socorrista deve agir de acordo com um pré-planejamento, sendo este dividido em três partes:
prevenção, alerta e socorro. A prevenção engloba o afastamento da vítima do local de risco; o alerta, por sua
vez, é quando o serviço de resgate é acionado; e, por fim, as medidas pré-hospitalares de primeiros socorros
são feitas apó s análise, abordagem e avaliação da vítima (BRASIL, 2013).
De acordo com Santos (2014), de forma sumarizada, existem algumas etapas importantes para o início da
prestação de um bom socorro, itens básicos que devem ser amplamente conhecidos para o auxílio da
prevenção de vida:

• manter a calma e assumir o comando de voz;


• avaliar o ambiente e identificar riscos, tanto para o acidentado
quanto para o socorrista;
• não se expor a riscos, ambientais ou de biossegurança (contato
com sangue e secreções);
• afastar as pessoas do local do acidente para preservação da
vítima;
• acalmar a vítima e estabelecer o contato inicial para ganho de
confiança;
• organizar possíveis auxiliares para ações, como busca de material,
ligação ao resgate e desvio do trânsito;
• vítimas de trauma não devem ser manuseadas até a chegada do
atendimento emergencial, a menos que haja perigo de vida em
relação a permanência no local;
• não dar líquidos para a vítima, podendo apenas umedecer os
lábios dela até a chegada do resgate;
• cobrir o acidentado para conservar e proteger seu corpo;
• somente transportar a vítima em casos extremos, após
imobilização, avaliação e ações de primeiros socorros;
• impedir que testemunhas removam ou manuseiem o acidentado,
evitando lesões ou agravamentos.
Destaca-se, portanto, a necessidade do conhecimento de protocolos, guias e legislaçõ es inerentes a cada
profissional, quando possível, reiterando a existência de guias gerais para leigos ou voltados para situaçõ es
cotidianas. Deve-se compreender, também, a importância do equilíbrio emocional, a fim de que a situação seja
controlada e a vítima receba o suporte necessário (SANTOS, 2014).
Ademais, o resgaste deve ser chamado imediatamente e os dados colhidos pelo socorrista podem auxiliar no
diagnó stico acelerado e na prevenção da vida da vítima. É muito importante que o resgate seja realizado
rapidamente, mas com cautela para que não ocorram açõ es precipitadas que possam agravar a condição da
vítima. O atendimento deve ser realizado sempre em local seguro, sendo necessária a movimentação da
vítima quando houver riscos, como explosão ou desabamento (EISENBERG; COPASS, 1984).
A abordagem da vítima, ou seja, a etapa de busca de informaçõ es e estabecimento de diálogo, deve seguir
alguns pontos. Clique nos itens para saber quais são.

Sua atençã o deve ser voltada para a vítima


quando estiver a interrogando.

Deve-se falar de modo claro e objetivo e aguardar


a resposta da vítima.

É preciso explicar o procedimento antes de


executá -lo.


Deve-se responder honestamente as perguntas
que a vítima fizer.
Seguir as premissas básicas de atendimento em primeiros socorros, pautadas nas normas e na ética, são
primordiais para a manutenção da integridade física da vítima. Vamos entender um pouco mais sobre isso
com o tó pico a seguir. Vejamos!

1.2 Aspectos legais e éticos em primeiros socorros


A importância da prestação de socorro é inegável para a prevenção da vida e para a redução de sequelas, por
isso, as açõ es são respaldas por leis.
Os profissionais de saú de têm por obrigação a realização de cursos e a atualização profissional, respondendo
legalmente pela omissão de socorro. Legalmente, todo cidadão tem o direito de receber socorro imediato,
sendo que a omissão de socorro é caracterizada como crime, conforme artigo 135 do Có digo Penal Brasileiro.
É importante destacar, ainda, que a vítima pode recusar o atendimento e, neste caso, não se deve forçar a
prestação do auxílio sob pena de processo jurídico (SANTOS, 2014).
Outro ponto importante é que as pessoas leigas, ou seja, sem formação em saú de, também são obrigadas
legalmente a prestarem socorro, mas, caso não saibam como agir, ao menos o acionamento da emergência e o
contato com a vítima devem ser realizados, a fim de se manter a situação sob controle.
O artigo 135 do Có digo Penal reitera a obrigatoriedade da prestação de socorro:
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada,
ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pú blica:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo ú nico - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
triplicada, se resulta a morte (BRASIL, 1940).
Santos (2014) e Karren (2013) destacam alguns pontos para a manutenção da ética e do respeito às leis
durante o atendimento a vítima. Clique na interação a seguir para saber mais.

Não se deve abandonar a vítima apó s o auxílio e até que o socorro chegue ao local.

Os socorristas da área da saú de devem seguir padrõ es protocolados por agências especializadas,
estando sempre atualizados.

Os profissionais que não forem da área da saú de devem buscar conhecimento para atendimento
em seu âmbito profissional, sempre mantendo o respeito e a privacidade da vítima como
prioridade.

A ética na prestação de socorro torna o atendimento mais humano. Além disso, em determinadas situaçõ es,
deve-se agir com ética para não serem realizados procedimentos invasivos que podem causar
constrangimentos, utilizando o bom senso para a adequação da conduta (SANTOS, 2014).
O dever de agir deve sempre seguir técnicas padronizadas, a fim de assegurar a qualidade do auxílio e
diminuir os riscos de sequelas e consequentes questõ es jurídicas processuais (FALCÃ O; BRANDÃ O 2010;
SANTOS, 2014).

1.2.1 Negligência, imperícia e imprudência


Apesar da obrigatoriedade da prestação de socorros, deve-se compreender que a aplicação incorreta de uma
medida é grave, podendo piorar a situação da vítima. Assim, o socorrista deve ter plena certeza do que está
fazendo, justamente para não agravar a situação por negligência, imperícia ou imprudência. É necessário que o
socorrista tenha plena consciência de suas habilidades e não ultrapasse o limite de seus conhecimentos, sob
risco de causar sequelas permanentes na vítima (SANTOS, 2014).
O artigo 18 do Có digo Penal estabelece como crime culposo o ato que deu causa a um resultado por
negligência, imperícia ou imprudência. Esses termos possuem estreita relação com o atendimento de
socorristas, sejam eles leigos ou profissionais, que devem dominar as técnicas (BRASIL, 1940).
Por isso, deve-se compreender alguns conceitos destacados por Santos (2014). Clique nas abas.

Negligênci Deixar de fazer algo que deveria fazer, como um profissional de saú de que deixa de
a fornecer auxílio à um paciente por livre escolha;

Fazer algo além de suas habilidades e seus conhecimentos, a exemplo de realizar um


Imperícia procedimento em que o socorrista não possui habilidade, como um procedimento
cirú rgico sem ter a autorização médica;

Fazer algo com conhecimento, mas sem tomar os cuidados necessários, como
Imprudên
realizar um procedimento de rotina, que se tenha conhecimento e habilidade, porém
cia
sem o uso de materiais de proteção.

Acompanhe o estudo de caso a seguir.


CASO
Renata é estudante de Educaçã o Física e faz está gio em uma fazenda de hipismo,
onde ocorrem treinos de grandes atletas. Assim, ela consegue aliar suas duas
paixões: esportes e animais.
A estudante acompanha o profissional de Educaçã o Física, Roberto, durante o
treino dos atletas, e passa um tempo visitando os cavalos após o treinamento por
hobby. Certo dia, ela notou que um dos cavalos estava mais agitado que o normal,
mas esqueceu de avisar Roberto. Por isso, um dos atletas sofreu uma queda e
fraturou o quadril.
Imediatamente, Roberto ofereceu auxílio à vítima, pedindo que Renata chamasse
o resgate enquanto ele buscaria o kit de primeiros socorros. Ela, no entanto, tenta
imobilizar o atleta, demorando para chamar o resgate, que é acionado apenas
quando Roberto retorna. O atleta, entã o, acaba sofrendo uma lesã o adicional à
fratura pela conduta errada da estudante.
Apesar de ter se recuperado 100%, o atleta processou Renata por negligê ncia e
imprudê ncia. Ela foi sentenciada a realizar um curso de Primeiros Socorros nas
prá ticas esportivas, pois, caso tivesse os conhecimentos necessá rios, nã o teria
agido incorretamente.

Portanto, sob a visão ética e a legal, a prestação de socorro deve ser realizada obrigatoriamente,
caracterizando o dever de agir. Contudo, caso o socorrista não tenha segurança para realizar alguma ação,
deve acionar o serviço de emergência imediatamente, pedindo auxílio para o atendimento pré-hospitalar ou
passando a liderança para alguém com o conhecimento necessário (KARREN, 2013).
Quando um socorrista age de boa-fé, sua intenção é considerada com amparo legal. Trata-se da Lei do Bom
Samaritano, que resguarda legalmente o socorrista que, porventura, envolva-se em processos judiciais pela
prestação do auxílio à vítima e que não tenha agido com negligência, imprudência ou imperícia, mas, sim,
com boa fé.

1.3 Abordagem e avaliação da vítima


Ao reconhecer uma situação de emergência que necessita de primeiros socorros, o socorrista deve realizar
algumas açõ es de pré-aplicação efetivamente. Estas envolvem a análise do ambiente e o contato inicial com a
vítima. Trata-se, portanto, de uma etapa importante para o levantamento das informaçõ es que podem auxiliar
na tomada de decisõ es e no futuro diagnó stico pela equipe de resgate (INEM, 2012; SANTOS, 2014; ROSALES,
2007).
Dessa forma, é importante que a vítima tenha sua privacidade respeitada e que se adquira um vínculo de
confiança para evitar o nervosismo. Por isso, o equilíbrio emocional é um dos pilares para uma abordagem
bem-sucedida (SANTOS, 2014).
A avaliação envolve a observação detalhista da vítima, da cabeça aos pés, em busca de anormalidades. Assim,
pode-se buscar os problemas e pensar nas possíveis soluçõ es, visando à prevenção da vida e o respeito à
integridade da vítima (FALCÃ O; BRANDÃ O, 2010).

1.3.1 Análise do ambiente e aproximação da vítima


O atendimento em primeiros socorros inicia com o reconhecimento do ambiente e da situação. A abordagem
da vítima deve ser realizada com cautela e bom senso, sendo necessário ter agilidade e responsabilidade,
além de saber os limites de suas habilidades (SANTOS, 2014).
A contenção do pânico pode ser necessária em alguns casos, de modo que o socorrista terá que acalmar as
pessoas ao redor, com ordens claras e simples, voz de comando e liderança, a fim de controlar a situação e
evitar novas vítimas (BRASIL, 2013). É importante, ainda, que o afastamento de pessoas não envolvidas ou
não necessárias seja realizado para evitar aglomeração em cima da vítima.
Ao avaliar o acidentado, é necessário que o ambiente também seja avaliado. Essa análise permite o
reconhecimento de riscos e, consequentemente, o afastamento da vítima, do socorrista e das demais pessoas
do local. Além disso, o socorrista não pode colocar sua pró pria vida em risco, sabendo avaliar as situaçõ es
em que é possível se aproximar da vítima sem comprometer sua saú de, assim como as situaçõ es em que a
aproximação irá transformar o socorrista em outra vítima (SANTOS, 2014; BRASIL, 2013).
Portanto, a análise do ambiente pode ser sumarizada em algumas etapas: manutenção da calma, análise
cuidadosa dos riscos, afastamento de pessoas e abordagem inicial para tranquilização da vítima. Com isso,
mantém-se a segurança de todos ao redor, assegurando que a vítima receberá o melhor auxílio possível
(BRASIL, 2013).
Apó s a análise do ambiente, quando for possível fazer a aproximação e a prestação do socorro à vítima, o
socorrista deve iniciar um protocolo para tranquilização, identificando-se e fazendo perguntas simples para a
identificação das regiõ es doloridas e outros sintomas, como confusão ou sangramentos. A vítima, nesse caso,
deve estar calma para que seja avaliada. Ela deve ser mantida na mesma posição para garantir que a
movimentação repentina não cause danos. (KARREN, 2013; BRASIL, 2013).
É importante, todavia, agir com bom senso. Pode ser extremamente necessário mover a vítima, como em
casos em que o local apresenta riscos íntrisecos. Deve-se, então, agir com cautela e verificar se há a
possibilidade de lesõ es na coluna, tomando as devidas açõ es para que o pescoço e coluna sejam estabilizados
antes da movimentação, se possível. Ademais, a confiança da vítima no socorrista é crucial para que o auxílio
seja eficiente, visto que o medo e a ansiedade atrapalham no momento da aplicação dos protocolos de socorro
(KARREN, 2013; BRASIL, 2013).
Apó s o estabelecimento da comunicação, é importante que o socorrista não atenda a pedidos de água ou
alimento, sendo arriscado para a vítima a ingestão de substâncias de qualquer tipo. A identificação de pessoas
ao redor que podem ajudar também é uma medida válida para a aplicação de primeiros socorros.
Ao analisar o ambiente, deve-se questionar sobre possíveis auxiliares para a situação, seja para ajuda na
contenção de riscos do ambiente, diretamente com relação a vítima; seja para realizar o afastamento de outras
pessoas.

1.3.2 Avaliação da vítima: consciência, exame físico e sinais vitais


A avaliação da vítima é realizada apó s a análise do ambiente e a certificação da biossegurança do socorrista
para a prestação do auxílio. Ela permite que informaçõ es importantes sejam conhecidas para a identificação
de detalhes do acidente, os quais podem ajudar na escolha das medidas a serem desenvolvidas (SANTOS,
2014).
O socorrista deve seguir uma sequência protocolada de açõ es que envolvem a análise do estado de
consciência da vítima, os sinais vitais, a respiração, a presença de hemorragias, o estado das pupilas, a
temperatura e a cor da pele (BRASIL, 2013). O exame de consciência deve ser realizado, quando possível, para
contato com a vítima e identificação de fatos sobre o acidente e o acidentado. Assim, perguntas ló gicas e
simples, sem toques, podem ser feitas.
Apó s esse primeiro contato, deve-se iniciar o exame físico, verificando dificuldades respirató rias, presença de
lesõ es ou fraturas e a busca de hemorragias. Esse exame deve seguir algumas prioridades e é importante que
seja realizado da cabeça aos pés. A sequência de inspeção segue protocolos de agências de saú de, sob a ordem
nos nú meros a seguir. Clique para ler.

1 Cabeça e pescoço.

2 Tó rax e coluna.

3 Abdô men.

4 Pelve e nádegas.

5 Extremidades inferiores e posteriores.


Figura 2 - Anatomia da avaliação da vítima, em que os nú meros indicam a ordem para exame.
Fonte: Alila Medical Media, Shutterstock, 2019.

A inspeção dessas áreas deve buscar lesõ es, inchaços, ferimentos, deformidades, dores, instabilidade e
qualquer outra alteração que fuja do esperado. Isto, inclusive, deve ser analisado e informado para a equipe de
resgate.
O exame físico pode ser realizado por apalpação, com cautela e delicadeza. Questionar a vítima em casa área
também é um procedimento auxiliar para identificação mais precisa dos riscos, como o nível de dor e a
capacidade de mobilidade das extremidades, a fim de analisar a capacidade funcional. Todavia, se ela estiver
inconsciente, deve-se atentar, primordialmente, à respiração, para, então, analisar os itens na ordem
apresentada anteriormente (BRASIL, 2013).
A análise da cabeça, por exemplo, inclui a apalpação do crânio e a busca de sangramentos no ouvido, além da
observação da boca e dos dentes, verificando se não há nada obstruindo a respiração. Em determinadas
situaçõ es, o hálito do acidentado pode dar indícios da causa do acidente, como em casos de envenenamento e
intoxicação.
Já ao verificar a região do tó rax e a coluna, é preciso ter muita cautela para não fazer movimentos bruscos. A
análise da mobilidade da vítima é um bom parâmetro para observar a ocorrência de esmagamento ou fratura
na coluna ou no tó rax. Deve-se, portanto, apalpar com calma e realizar movimentos cuidadosos quando a
movimentação for necessária.
Apó s a análise do tó rax e da coluna, prossegue-se para a região abdominal, em que se observa a musculatura, a
sensibilidade, as alteraçõ es de cor ou a temperatura. Pode-se pedir, ainda, que a vítima force um espirro ou
uma tosse, visto que o desconforto durante essas açõ es pode indicar lesõ es internas. Realiza-se, também, a
apalpação da região da pelve para a verificação de rigidez e sensibilidade.
Por fim, há a busca por anormalidades nas extremidades, que podem estar com coloração e temperatura
alteradas devido a lesõ es e hemorragias internas, por exemplo. (BRASIL, 2013; SANTOS, 2014).
A análise dos sinais vitais também é um conceito essencial para a avaliação da vítima. Eles retornam
informaçõ es valiosas para que o socorro possa ser adequado ao acidente, sendo eles de pulso, respiração,
pressão arterial e temperatura. A simples ausência de qualquer um desses sinais é um indício de gravidade.
Com isso, açõ es para a redução dos danos à vítima devem ser imediatamente iniciados, com massagem
cardíaca, respiração artificial ou tentativa de normalização da temperatura corporal com cobertores ou panos
ú midos para resfriamento, dependendo da situação (BRASIL, 2013).
Os padrõ es normais para os sinais vitais são aproximadamente 36-37ºC para temperatura, sendo que, acima
destes, o estado febril já começa a ocorrer. Na ausência do termô metro, pode-se comparar a temperatura do
corpo da vítima com alguém saudável.
A pulsação, por sua vez, varia com o sexo e a idade do acidentado, sendo entre 60 a 70 bpm para homens
adultos, 70 a 80 para mulheres adultas e variável para faixas etárias de crianças, podendo chegar a 160 bpm
para recém-nascidos (BRASIL, 2013). A pulsação pode ser sentida diretamente no pulso ou pescoço,
marcando tempo e nú mero de pulsaçõ es sentidas.
A respiração deve ser avaliada pelo fluxo irregular ou ausente de ar, de modo a identificar a presença de
possíveis obstrutores das vias áreas na região nasal ou traqueal.
Por fim, a análise da pressão arterial é um pouco mais complexa e depende da utilização de equipamento de
medição. Apesar de variável, a medida da pressão arterial fica entre 60 a 90 mmHG em seu mínimo e 100 a
140 mmHG em seu máximo, sendo que valores muito distintos disto são sintomas de baixa ou alta pressão.
Neste caso, devem ter a atenção do socorrista, pois podem ser sinais de convulsão ou desmaios (BRASIL,
2013).
Portanto, a avaliação da vítima engloba passos fundamentais para a construção de um panorama sobre o
ambiente, o acidente e o acidentado, em que a segurança do socorrista deve ser considerada como prioridade,
assim como a adequação dos cuidados e a ordem do exame devem ser seguidas para que o socorro seja
realizado da melhor maneira. Isso inclui a análise dos sinais vitais para identificação de perturbaçõ es
funcionais graves na vítima.
Os profissionais devem estar sempre atentos à essa análise, não desviando a atenção para evitar que detalhes
sejam perdidos, comprometendo o auxílio à vítima.
Nesse contexto, apó s a avaliação da vítima, iniciam-se os protocolos de prevenção da vida, em que o
profissional deverá adequar as açõ es necessárias de acordo com a avaliação realizada (SANTOS, 2014;
BRASIL, 2013; INEM, 2012).

1.3.3 Avaliação da vítima: sinais de apoio


A análise dos sinais de apoio pode auxiliar na identificação do problema e na realização de um bom
atendimento. Eles servem para identificar a funcionalidade do organismo, pois são alterados em casos de
hemorragia e parada cardíaca, por exemplo, dando indícios para o pré-diagnó stico. Os sinais de apoio incluem
avaliação da dilatação e reatividade das pupilas, alteraçõ es na cor e umidade da pele, identificação do estado
de consciência e análise da motilidade e sensibilidade do corpo (INEM, 2012).
A análise da pupila é importante para determinar a causa do acidente e, consequentemente, do melhor
planejamento para os primeiros socorros. Condiçõ es de medo e estresse, por exemplo, alteram o estado das
pupilas, assim como o consumo de medicamentos, drogas e a falta de oxigenação no cérebro.
A observação da pupila deve ser realizada contra a luz. Dessa maneira, uma pupila dilatada possui a parte
central do olho (íris) aumentada, ficando em destaque, conforme vemos na figura a seguir.

Figura 3 - Pupilas dilatadas indicam sintomas para reconhecimento da situação


Fonte: lenetstan, Shutterstock, 2019.

Em relação a alteraçõ es na cor e umidade da pele, temos alguns cenários que devem ser considerados. A pele
da vítima pode estar pálida, em cianose, em hiperemia, amarelada, fria ou pegajosa, mas há uma condição
associada que pode auxiliar na avaliação da vítima.
A ocorrência da cianose (pele azulada) é usualmente devido a exposição ao frio, parada cardiorrespirató ria,
estado de choque ou morte. Já a palidez pode ser resultado de hemorragia, parada cardiorrespirató ria,
exposição ao frio, extrema tensão emocional e estado de choque. Quando a pele está avermelhada, em
hiperemia, a vítima pode estar com febre, ter sofrido exposição a ambientes quentes, ter ingerido bebidas
alcoó licas, possuir queimaduras de primeiro grau ou traumatismo. Por outro lado, a pele fria ou ú mida e
pegajosa pode indicar estado de choque. Por fim, a pele amarelada pode identificar vítimas com icterícia e
hipercarotenemia (BRASIL, 2013).
A realização da avalição da vítima está inserida dentro de um conceito maior, que é o Suporte Básico à Vida
(SBV). Este, por sua vez, juntamente aos cuidados médicos, compõ e a Cadeia de Sobrevivência (INEM, 2012).
O Suporte Básico à Vida contempla açõ es para o reestabelecimento da respiração e dos batimentos cardíacos,
em casos de parada cardiorrespirató ria, afogamentos e obstrução das vias aéreas, por exemplo.
Vamos estudar o assunto com mais detalhes a seguir.

1.4 Suporte Básico de Vida: aplicação em reanimação


cardiopulmonar, desobstrução de vias aéreas e
afogamentos
O Suporte Básico à Vida (SBV) inclui as açõ es para a prevenção da vida da vítima, visando a avaliação e
restauração da respiração ou batimentos cardíacos. O SBV é intrínseco para cada tipo de situação, tendo
protocolos específicos de açõ es. Sua aplicação inicia com a avaliação da vítima e a ligação para o serviço de
resgate. Depois, temos a aplicação do protocolo ideal para cada situação (INEM, 2012; SANTOS, 2014; BRASIL,
2013).

VOCÊ QUER LER?


O SAMU fornece, regularmente, um manual de SBV para diversos tipos de acidentes.
Esse documento traz detalhes sobre as ações necessá rias, com passo a passo, sendo
constantemente atualizado para garantir as melhores ações. Ele é publicado pelo
Ministé rio da Saú de, estando disponível no link:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_basico_vida.pdf
(https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_basico_vida.pdf ).

Dessa maneira, é muito importante que os profissionais estejam cientes dos possíveis acidentes que podem
ocorrer em seu ambiente de trabalho, a fim de que saibam padrõ es de técnicas para a aplicação correta do SBV.
Um educador físico, por exemplo, pode vivenciar um acidente com afogamento com atletas ou alunos de
natação, por isso, deve estar preparado para socorrê-los caso seja preciso.
Entre os protocolos de SBV fundamentais, destacam-se os protocolos para ressuscitação em parada
cardiorrespirató ria (PCR), afogamentos e desobstrução de vias aéreas. Assim, é importante que o socorrista
considere a tríade essencial para a escolha da melhor ação: ver, ouvir e sentir, podendo avaliar as
necessidades da vítima frente ao acidente.

1.4.1 SBV em PCR, desobstrução das vias aéreas e afogamentos


A parada cardiorrespirató ria (PCR) é uma das maiores emergências médicas. Ela se caracteriza pela
interrupção do bombeamento cardíaco, causando excesso de gás carbô nico no sangue. As células começam a
morrer por falta de oxigenação e, em poucos minutos, a vítima pode falecer (BRASIL, 2013; INEM, 2012). Sua
identificação rápida pode ser realizada pela busca de batimentos cardíacos com o simples encostar do ouvido
no peito da vítima. Além disso, esse caso deve receber atenção primária, exceto frente a grandes hemorragias.
O protocolo de SBV deve ser imediato, pois a eficiência do socorro está estreitamente relacionada ao intervalo
entre a PCR e a aplicação do SBV. A identificação envolve alguns parâmetros, sendo eles listados nos itens a
seguir. Clique para ler.

Ausência de pulso, que pode ser sentida em locais


como o pulso, o pescoço, as pernas, ou aonde o
socorrista consiga sentir a pulsaçã o de uma veia.
A ausência de pulsaçã o determina o início
imediato das manobras de ressuscitaçã o.

Respiraçã o anormal, com movimentos


irregulares, ausência dos movimentos,
dificuldade e aceleraçã o ou ser possível somente
quando a vítima está sentada. Em todas as
hipó teses, os sinais devem ser analisados.

Espasmos, que sã o contraçõ es musculares


involuntá rias na laringe.

Cianose, que é alteraçã o da cor da pele para uma


coloraçã o azulada devido à deficiência
respirató ria.


Estado inconsciente, que deve ser avaliado
cuidadosamente para verificar a causa e os meios
para identificaçã o do problema.

Pupilas dilatadas, que pode ser pelo estresse da


parada cardíaca, o que é um ponto importante
para ser analisado, pois começam a dilatar 45
segundos apó s a parada, sendo um sinal temporal
da PCR.
Uma vez identificados os sintomas da PCR, o SBV envolve a abertura das vias aéreas e a ventilação artificial. A
ventilação e a promoção da circulação artificiais são partes obrigató rias no atendimento para as vítimas de
PCR, sendo que a ventilação artificial é a primeira ação a ser realizada (INEM, 2012). Antes da aplicação do
SBV, todavia, é necessário posicionar a vítima corretamente, em um local plano e firme, em decú bito dorsal,
tomando cuidado para a cabeça não ultrapassar a altura dos pés. Assim, de joelhos, o socorrista pode indicar
as manobras para a aplicação efetiva do SBV.
As manobras do SBV para PCR incluem as compressõ es torácicas e ventilaçõ es. O passo a passo para a
realização da compressão torácica está enumerado no quadro a seguir.
Figura 4 - A avaliação em PCR inclui as etapas para realização de massagem cardíaca.
Fonte: Elaborado pela autora, baseada em BRASIL, 2013.

Assista o vídeo a seguir para fixar o que você viu até aqui.
A realização da massagem cardíaca pode causar consequências graves quando elaboradas erroneamente. Pode
haver, por exemplo, fraturas de costelas, ruptura de vísceras e ventricular. Contudo, essas situaçõ es podem ser
evitadas se a técnica for realizada corretamente e, por isso, é indispensável que se saiba aplicá-la para
conhecer a posição das mãos e a noção de força que deve ser utilizada (INEM, 2012).
Em conjunto com a massagem cardíaca, também é preciso praticar a ventilação. É fundamental que materiais
para ventilação artificial estejam disponíveis para evitar a necessidade da realização da respiração boca a
boca. Contudo, deve-se conhecer a técnica para casos de emergência. Em casos em que não há materiais para a
realização da respiração artificial, como máscaras ou insufladores manuais, deve-se realizar a manobra.
Basicamente, o socorrista deve inclinar a testa da vítima e segurar a mandíbula com a outra mão, respirando
normalmente sob a boca da vítima, comprimindo o nariz e selando os lábios do acidentado. O sopro da
respiração deve durar cerca de um segundo e, caso não sejam eficientes, deve-se realizar compressõ es
torácicas.
Quando não se pode realizar a respiração boca a boca, há, ainda, um método alternativo, chamado Método
Sylvester. Ele consiste no posicionamento da cabeça da vítima entre os joelhos do socorrista, com este
segurando os braços e os comprimindo contra o peito da vítima, movimentando-os para cima, para baixo e
para os lados, sucessivamente (BRASIL, 2013).
VOCÊ QUER VER?
A Sikana é uma plataforma gratuita de educaçã o colaborativa que elabora vídeos sobre
temas diversos, incluindo primeiros socorros. Sã o pequenos vídeos que demonstram
didaticamente como agir em situações adversas, bem como a forma de aplicar as ações
de primeiros socorros corretamente para salvar uma vida. Você pode assistir à coleçã o
de vídeos por meio do link: https://www.sikana.tv/pt-br/health/first-aid.

Os erros mais comuns na aplicação de massagem e ventilação incluem a posição incorreta das mãos, a
profundidade de compressõ es errada, o selamento inadequado do nariz e boca na ventilação, ventilaçõ es com
excesso de força ou realizadas muito rápido, além da incapacidade de manter as vias aéreas abertas. A figura a
seguir exemplifica a posição exata para a realização da massagem cardíaca.
Figura 5 - Na massagem cardíaca, o socorrista precisa fazer a manobra adequadamente.
Fonte: Shutterstock, 2019.

Em emergências que envolvam a obstrução das vias aéreas (OVA), algumas medidas também devem ser
aplicadas para que a causa da obstrução seja removida. É essencial que o socorrista saiba diferenciar as
situaçõ es de PCR e obstrução das vias aéreas. Esta ú ltima pode ser rapidamente identificada quando a vítima
não insuflar os pulmõ es durante a ventilação, devido a obstrução (BRASIL, 2013).
A ocorrência da OVA pode ser rápida ou grave. Na primeira hipó tese, a vítima ainda é capaz de respirar e
tossir, ao passo que, na segunda hipó tese, pode ocorrer cianose, dificuldade para tossir e ausência de
inspiração.
Para desobstrução das vias áreas, pode-se realizar manobras com o auxílio das mãos, inserindo os dedos
dentro da boca e garganta do acidentado, visando à remoção da obstrução. O procedimento deve ser feito com
cautela e o socorrista precisa ter conhecimentos prévios para evitar agravar a situação e machucar a vítima
(BRASIL, 2013; INEM, 2012).
Para que o socorrista possa agir da melhor forma, os fluxogramas de aplicação de SBV são grandes aliados.

VOCÊ SABIA?
A padronizaçã o em primeiros socorros é muito importante, sendo que a tomada
de decisões deve seguir guias e protocolos. Para isso, existem fluxogramas para a
aná lise da situaçã o, chamados Algoritmos de SBV. Eles sã o facilmente encontrados
em manuais de primeiros socorros e podem auxiliar na tomada de decisões. Um
exemplo pode ser encontrado em: http://www.inem.pt/wp-
content/uploads/2017/06/Suporte-B%C3%A1sico-de-Vida.pdf.

Vale destacar que, em casos de OVA, deve-se verificar o estado da vítima e a necessidade da aplicação de
manobras, conhecidas como Manobras de Heimlich. Elas incluem pressão na região interescapular, o que
auxilia na liberação das vias obstruídas; aplicação de pressão, em consequência de pancadas com força
controlada na região obstruída; e compressõ es abdominais, realizadas com o punho, pressionando a região
para tentar remover o objeto da obstrução (INEM, 2012).
Figura 6 - A tomada de decisão pode ser auxiliada pelo fluxograma de Algoritmo para OVA.
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em INEM, 2012.

Assista o vídeo a seguir.


É importante também que você saiba como proceder em casos de parada respirató ria. Acompanhe no vídeo.
Já em casos de afogamento, a vítima aspira líquido pelas vias aéreas, o que afeta as vias respirató rias. De
forma semelhante às açõ es de SBV em OVA, o socorrista deve agir para reestabelecer o ritmo respirató rio do
acidentado.
A causa do afogamento é muito importante para a análise do ambiente e para as açõ es adequadas a serem
tomadas, assim como os sintomas, que servem para determinação do nível da gravidade. A presença de
espuma na boca ou no nariz, por exemplo, é um fator de preocupação, sendo necessário posicionar a vítima na
lateral. Outro ponto importante é a temperatura do corpo, já que a vítima pode sofrer hipotermia e necessitar
de aquecimento (SZPILMAN, 2013).
Em caso de PCR devido a afogamento, a aplicação de massagem torácica e ventilação são essenciais para a
prevenção da vítima (SZPILMAN, 2013).
VOCÊ SABIA?
85% das mortes por afogamento ocorrem em á gua doce. O simples isolamento de
piscinas reduz a incidê ncia de afogamento em até 70%. A prevençã o de
afogamentos també m é um fator fundamental na prevençã o de vida e, devido ao
alto nú mero de óbitos, os primeiros socorros sã o essenciais, a fim de o socorrista
agir rá pido para o cuidado com a vítima (SZPILMAN, 2013).

Ademais, é de grande relevância que o indivíduo esteja preparado e saiba lidar com situaçõ es adversas.
Destaca-se o bom preparo para manobras de PCR (ressuscitação) e a necessidade da presença de kits de
primeiros socorros em ambientes de trabalho, contendo insufladores e outros materiais para auxiliar a
aplicação de SBV.

Síntese
Chegamos ao fim da primeira unidade desta disciplina. Aqui, estudamos sobre a abordagem dos primeiros
socorros, permitindo a construção do conhecimento acerca do assunto. Sendo assim, ao fim do estudo deste
livro, você estará apto para desenvolver algumas manobras.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• reconhecer a importância dos primeiros socorros;


• compreender sobre a obrigatoriedade, ética e legal, de prestar
auxílio, caracterizando como crime a omissão frente a uma vítima;
• identificar situações de negligência, imperícia ou imprudência e
como evitar que elas ocorram, escolhendo a melhor conduta após
ver, ouvir e sentir o ambiente do acidente;
• conhecer as principais características para um bom socorrista;
• compreender a necessidade da análise dos sinais vitais para a
prevenção da vida;
• reconhecer a precisão de abordagem e avaliação com calma,
respeitando a integridade da vítima;
• entender a aplicação de Suporte Básico de Vida em diferentes
contextos, incluindo afogamento, PCR e OVA;
• observar manobras de restauração da respiração e dos
batimentos cardíacos, como massagem cardíaca e ventilação.

Bibliografia
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1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 9
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BRASIL. Ministério da Saú de. Manual de Primeiros Socorros. Rio de Janeiro: Nú cleo de Biossegurança,
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), 2003. Disponível em:
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/biosseguranca/manualdeprimeirossocorros.pdf. Acesso
em: 9 ago. 2019.
BRASIL. Ministério da Saú de. Protocolos de Intervenção para o SAMU 192 – Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência. Brasília: Ministério da Saú de, 2016. Disponível em:
http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/outubro/26/livro-basico-2016.pdf. Acesso em: 9 ago.
2019.
CIVC. Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Henry Dunant – biografia. 15 jun. 2016. Disponível em:
https://www.icrc.org/pt/document/henry-dunant-biografia. Acesso em: 9 ago. 2019.
CREF DE SÃ O PAULO. Primeiros Socorros na Educação Física. São Paulo, n. 42, jun./jul./ago. 2014.
Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/primeiros-socorros-na-educacao.
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EISENBERG, M. S.; COPASS, M. K. Terapêutica em emergências clínicas. São Paulo: Roca, 1984.
FALCÃ O, L. F. dos R.; BRANDÃ O, J. C. M. Primeiros socorros. São Paulo: Martinari, 2010.
FLEGEL, M. J. Primeiros socorros no esporte. 5. ed. São Paulo: Manole, 2015.
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KARREN, K. J. Primeiros socorros para estudantes. 10. ed. São Paulo: Manole, 2013.
ROSALES, S. Prevenção e primeiros socorros. São Paulo: Vergara Brasil Ltda, 2007.
SANTOS, E. F. Manual de primeiros socorros da educação física aos esportes: o papel do educador físico
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SIKANA. Como salvar uma vida. 2017. Disponível em: https://www.sikana.tv/pt-br/health/first-aid. Acesso
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SZPILMAN, D. Manual de emergências aquáticas. Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA),
2013. Disponível em:
http://www.sobrasa.org/biblioteca/Manual_emerg_aquaticas_2012_curso_dinamico.pdf. Acesso em: 9 ago.
2019.

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