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O que é textualidade?

A textualidade é um conjunto de características que


tornam um texto de fato um texto e não apenas um
aglomerado de frases e palavras. A textualidade possui
sete fatores que ajudam a definir um texto: coesão e
coerência, responsáveis por se relacionarem com os
elementos estritamente linguísticos, e a
Intencionalidade, a Aceitabilidade, a Situcionalidade, a
Informatividade e a Intertextualidade, que estão
conectadas diretamente com fatores pragmáticos do
processo sociocomunicativo.

Vejamos a seguir alguns exemplos com e sem


textualidade para melhor compreendermos esse
conceito.

1. Segunda-feira, duas da manhã. Promoção suco


supermercado Mais só nesta quinta. Partida
empata. — Alô, mãe? Um minuto. Acordou às nove.
Olhei o preço do peixe e perguntei: “quanto custa?”.
Na escola as crianças têm apenas vinte minutos de
intervalo. No filme Matrix, as máquinas dominaram
o mundo. Ela está de calça jeans, então o jantar
deve demorar. Contudo, vou aos domingos apenas.

2. Acordei. Era segunda-feira, duas da manhã. Sobre


a mesa, um panfleto: “Promoção! Suco.
Supermercado. Mas só nesta quinta.” De fato, eu
precisava ir com urgência ao mercado, não só pelo
suco, mas porque a comida acabou. Enquanto eu
me levantava, na TV passava uma reprise da
partida de ontem: 0x0 foi o placar. Vejo meu
WhatsApp: duas chamadas perdidas. Era minha
mãe. Pensei em ligar, mas estava muito tarde.
Deitei-me novamente e acordei às nove. O telefone
tocava. Atendi: “Alô, mãe! Um minuto.” Pedi um
tempo, pois me ajeitava em uma posição
confortável. A ligação foi rápida, e logo saí. Estava
com fome. Passei no mercado, perguntei o preço
do peixe e resolvi levar um para o almoço. Na volta,
passei em frente a uma escola. Lembrei que as
crianças possuem apenas vinte minutos de
intervalo e foi exatamente neste momento que eu
passei. Cheguei em casa e procurei um filme para
assistir enquanto deixei o peixe descongelando.
Matrix? Talvez. Gosto dessa ideia de que as
máquinas dominam o mundo. No meio do filme,
dormi e acabei tendo um sonho. No sonho, minha
mãe usava jeans, tinha aparência jovial e, por
algum motivo, não sei qual, o jantar que ela
preparava para a família demorava. No sonho, era
um domingo, e não uma segunda.

O exemplo 1 não atende aos critérios de


textualidade. Ele parece desordenado, sem elementos
coesivos (conectivos) e, sendo assim, é praticamente
impossível construir uma unidade textual com
significado e coerência.

Por outro lado, o exemplo 2 possui sequência lógica,


fluidez e elementos coesivos entre as frases/palavras, e
as ideias produzem significados de forma coerente ao
leitor. Sabemos que se trata de uma narrativa em
primeira pessoa sobre as atividades cotidianas do
personagem. Ele acorda, dorme novamente, acorda
outra vez, conversa com sua mãe, vai ao mercado,
compra comida, assiste a um filme e dorme mais uma
vez.

Quais são os fatores de textualidade?


Os fatores de textualidade podem ser divididos em dois
grupos:

 Grupo 1: os fatores semânticos — voltam-se para


o próprio texto, isto é, os aspectos estruturais da
língua. Eles são dois: a coesão e a coerência.
Ambos estão presentes no texto com o intuito de
ajudar na amarração das ideias apresentadas.

 Grupo 2: os fatores pragmáticos — relacionam-


se aos aspectos extratextuais, isto é, um conjunto
de fatores fora da língua, mas que influenciam em
sua produção.

Quais são os elementos da


textualidade?
Cada fator, semântico ou pragmático, divide-se em um
conjunto de elementos que corresponde a seu grupo. Os
fatores semânticos são subdivididos em coesão e
coerência, enquanto os fatores pragmáticos são cinco:
intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,
informatividade e intertextualidade.
A seguir, detalharemos cada fator, com os seus
respectivos elementos.

 Fatores semânticos
 Coesão
A coesão é a manifestação linguística da coerência.
Refere-se a como as ideias expressas aparecem
encadeadas na superfície textual. Sendo assim, é
composta por uma série
de pronomes, artigos, elipses, concordâncias, tempos
verbais, conjunções etc.
Exemplo:

Pedro acorda. Pedro escova. Pedro trabalha.

A frase acima está dentro dos critérios da língua e pode


ser utilizada. No entanto, ela não apresenta fluidez,
devido à repetição do nome “Pedro” e à falta de conexão
entre as sentenças. Uma possibilidade de correção
seria:

Pedro acorda e, em seguida, escova os dentes para


que, por fim, ele possa ir trabalhar.

A sentença acima utiliza o conectivo “em seguida” para


dar ideia de continuidade e evitar repetições. Ademais, o
uso do pronome “ele” evita que o substantivo “Pedro”
se repita.

 Coerência
A coerência diz respeito ao nexo entre os conceitos
estabelecidos e à coesão. Assim, coesão e coerência
andam juntas. Quando se afeta uma, é muito provável
que a outra também seja afetada.
Exemplo:

O computador desligou. A energia acabou.

A relação lógico-semântica é construída a partir da


correlação entre o computador desligado
(consequência) e o fato de não haver energia (causa).
Essa conexão semântica só é possível através de uma
compreensão da coerência dos fatos. Para fins de
comparação, uma sentença como “O computador
desligou. A bicicleta estragou” não apresenta nenhuma
conexão entre ambas as ações, sendo consideradas
isoladas. Isso ocorre por não haver coerência entre as
informações fornecidas.
 Fatores pragmáticos
 Intencionalidade: Está direcionada ao
protagonista do ato comunicativo (aquele que
fala ou escreve). Trata-se da disposição e
empenho de se construir um discurso
coerente, coeso e com grande capacidade de
satisfazer determinada audiência. A
intencionalidade são as informações e
conhecimentos prévios que o autor tem para
chegar a seu público.
 Aceitabilidade: É o outro lado da moeda, isto
é, está direcionada para o receptor ou leitor do
texto. Refere-se às expectativas com relação
ao texto: é um conteúdo coeso? É sobre algum
assunto do meu interesse ou que possa
despertar meu interesse? Vai me ensinar
algo?
 Situacionalidade: É voltada para o contexto
no qual a situação comunicativa está inserida.
Ela se relaciona à adequação ou não do
contexto, pois ele pode influenciar no
significado do texto. Um texto inserido em
contextos distintos pode produzir significados
completamente diversos.
 Informatividade: Nesse fator, consideram-se
as informações prévias e as informações
novas obtidas no texto. É preciso que haja
equilíbrio entre ambas, pois um texto que
possui apenas informações prévias não traz
novidade ao leitor. Já um texto somente com
informações novas pode dificultar a
compreensão de uma leitura.

Diferença entre textualidade e
discursividade
Se a textualidade determina os critérios para definirmos
que uma escrita se trata de um texto, a discursividade
é o processo para definir um discurso.
Diferentemente do texto, o discurso é uma junção de
elementos linguísticos (textuais) com ideológicos
(crenças e formação dos sujeitos) atravessados pela
história (contexto sócio-histórico).

Assim, enquanto a textualidade verifica elementos como


coesão, coerência, intencionalidade, situacionalidade,
informatividade e intertextualidade, a discursividade é
responsável pelas relações ideológicas que os textos
estabelecem com o contexto histórico, as concepções e
as crenças formadoras daqueles que falam e as
relações de poder entre emissor e receptor.

Leia também: Paródia e paráfrase — exemplos de


intertextualidade

Diferença entre texto e textualidade


O texto é o produto final do processo de
textualidade. Em outros termos, se o texto atende aos
critérios de textualidade, ele pode ser considerado um
texto.

Uma simples junção de frases desordenadas e sem


nexo não caracterizam um texto. É preciso verificar,
primeiramente, se há coesão (amarração, coerência,
nexo). Em seguida, responder à pergunta: “O que
pretende o texto?”, ou seja, qual a finalidade de sua
produção. Estamos falando da intencionalidade.
Aquele que escreve precisa pensar em seu
leitor/receptor e, nesse processo, deve haver adequação
da linguagem e a “simulação” de um possível leitor.
Temos aqui o processo de aceitabilidade.

Em seguida, o autor precisa se preocupar com o


contexto em que o texto será escrito, isto é, sua
situacionalidade. Uma discussão política é diferente de
uma discussão esportiva, por exemplo.

A informatividade está associada ao conteúdo pensado,


ou seja, a quantidade de informação necessária para a
compreensão básica do texto, e a intertextualidade é a
ponte que o texto estabelece com outros.

A textualidade, portanto, determina o que é um


texto e, se for o caso, se ele é um bom texto. Assim, a
textualidade corresponde a uma etapa do processo de
escrita.

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