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NOTA IMPORTANTE:
Estes apontamentos são uma reprodução literal (o mais fidedigna possível), das aulas teóricas
leccionadas pelo Prof. Regente da cadeira, tendo na sua complementação expressões e
resumos da matéria presente na Bibliografia recomendada.
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Nos finais deste século ambas as questões haviam sido respondidas, e a microbiologia como
ciência havia sido fortemente estabelecida.
Abordando a primeira pergunta, a ideia temática referente á geração espontânea implicava
que a vida poderia surgir de algo não vivo, e muitos estudiosos da época não conseguiam
imaginar como é que uma estrutura tão complexa como a célula poderia surgir
espontaneamente de matéria inerte.
O maior opositor da teoria de geração espontânea foi o químico francês Louis Pasteur. Pasteur
foi o primeiro a demonstrar que existiam estruturas presentes no ar que se assemelhavam aos
microrganismos verificados em matéria em decomposição. Assim concluiu que os
microrganismos presentes nos materiais em putrefacção tinham sido transportados e
depositados pelo ar. Pasteur usava o calor para eliminar contaminantes existentes nas suas
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Nos dias de hoje, os postulados de Koch têm outras versões que nos permitem usar
alternativas á experimentação animal, nomeadamente através de métodos de biologia
molecular que nos assegura o nível de patogeneidade de um microrganismo sem a
necessidade da inoculação num animal de laboratório.
Outra personagem histórica que merece menção é Sergei Winogradsy. Este pioneiro da
microbiologia dos solos estudou bactérias referentes aos ciclos do Azoto e Enxofre. Alem do
mais foi um dos primeiros a estudar as implicações metabólicas e ecológicas incutidas nestes
ciclos biogeoquímicos, enunciando e desenvolvendo o conceito de ciclo da Vida.
Este ilustre cientista debruçou-se arduamente sobre a temática da nitrificação, bem como foi o
postulador do termo Quimiolitotrofismo.
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Graças a estes dois investigadores referidos acima, tudo aponta para que em termos de
evolução, a partir duma raiz universal, tenha surgido uma linha que levou ás bactérias tais
como as conhecemos, e outra que se diversificou levando ás archaeas e aos eucariotas.
A descoberta da PCR (Polimerase Chain Reaction) por Luc Montaigner em 1983, revolucionou a
microbiologia em termos de detecção e identificação de microrganismos.
Através da PCR podemos detectar, caracterizar e estudar microrganismos sem ter que fazer o
isolamento destes em cultura.
Filogenias moleculares
Estas filogenias moleculares encontram-se validadas pois foram inicialmente feitas com
organismos cujos registos fosseis por si só indicavam a respectiva história evolutiva. Visto que
não existem grandes possibilidades de reconstruir a história evolutiva de microrganismos a
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Filogenias multigénicas → construção de uma filogenia, não apenas com base na sequência de
um gene, mas sim usando sequências de vários genes.
Em ordem a se construir uma história evolutiva completa teríamos de comparar o genoma
inteiro de um organismo, sendo necessário sequenciar o genoma a priori.
Actualmente podemos identificar funções de um organismo isolado ou de um ecossistema –
amostra mista – extraindo o RNA total dessa amostra, convertendo-o prontamente em cDNA
(DNA complementar), e por fim sequenciando-o. A sequência final irá corresponder a todos os
genes transcritos dos organismos contidos na amostra → Transcriptoma
Traduzindo a amostra integral desses genes obtemos o Proteoma (amostra total de todas as
proteínas presentes no ecossistema em questão).
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carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto ter-se-iam recombinado formando, por síntese abiótica,
os primeiros composto orgânicos. A energia necessária a estas reacções tinha origem em
radiações solares (sobretudo ultravioletas), descargas eléctricas de relâmpagos, radiações de
elementos radioactivos, calor proveniente de zonas vulcânicas. Após a sua formação na
atmosfera primitiva, os primeiros compostos teriam sido transportados pela chuva para rios,
lagos e oceanos onde se acumularam em grandes quantidades. Dada a elevada concentração,
as moléculas chocavam entre si dando-se reacções espontâneas. Por evolução molecular ou
química (a transformação de moléculas simples em moléculas mais complexas), surgiram
todos os tipos de moléculas orgânicas necessárias ao aparecimento da vida. Algumas destas
moléculas, que se encontravam no que Haldane designou por "sopa primitiva", ter-se-iam
aglomerado espontaneamente formando pequenos grupos e isolado através de uma
membrana semi-permeável (permitiu troca de substâncias com o meio), originando formas
pré-biológicas (proto-célula). Nestas formas dar-se-iam já reacções químicas importantes para
a vida. As formas pré-biológicas teriam originado então formas cada vez mais complexas que
seriam capazes de realizar trocas com o meio, de crescer e obter energia a partir de
substâncias do meio (muito provavelmente, no meio onde se desenvolveram, ter-se-ia
formado glicose e o processo de obtenção de energia teria, certamente, sido a fermentação,
dada a ausência de oxigénio). Através de evolução subsequente e termos estratégicos, fora
surgindo as primeiras linhas evolutivas das primeiras formas de vida: as células - seriam
bactérias anaeróbias, que se alimentavam de substâncias orgânicas de origem abiótica do
meio. A maior parte da história da vida na Terra, passa-se sob a forma de organismos
procariontes.
Nos anos 50, esta hipótese foi testada por Stanley Miller e Harold Urey, construindo um
aparelho que simulava o que eles teorizavam ser as condições atmosféricas da terra primitiva.
Estes cientistas injectaram
electricidade através do dito
aparelho em ordem a simular as
cargas eléctricas presentes numa
atmosfera tumultuosa. Uma
semana mais tarde, após terem
deixado a experiência correr
ininterruptamente, verificaram
que se tinham formado
aminoácidos e outras moléculas
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orgânicas.
Desde essa altura, várias experiências semelhantes foram desencadeadas, com variáveis
múltiplas e diferentes combinações de gases, que produziram uma inúmera variedade de
moléculas orgânicas incluindo as bases nucleotídicas do DNA e RNA.
Embora o registo fóssil de microrganismos seja escasso, existem fósseis de cianobactérias
primordiais, e de facto grande parte do registo fóssil encontra-se sob a forma de
estromatólitos, que corresponde a uma fase em que a Terra já caminhava para uma atmosfera
com oxigénio. (ver fig - 1 e 2).
Os estromatólitos actuais são comunidades de cianobactérias e algas microscópicas, que se
vão mineralizando á medida que estas células vão morrendo.
Observa-se ainda, no que toca a respeito de estruturas fósseis, a existência de Banded Iron
Formations( fig 3), que correspondem a indicadores do período em que começou a oxigenação
terrestre. Estas formações são de facto fósseis de moléculas.
Para se estudar o registo fóssil microbiano recorre-se á utilização de Opanóis (no caso das
bactérias)→ são compostos detectáveis em estratos geológicos antigos, ex:
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Por volta dos 3,9 eons estima-se terem aparecido as primeiras formas de vida (proto-células),
aparecendo as primeiras cianobactérias só por volta dos 3 eons.
A partir desta data verificou-se uma radiação adaptativa do ponto de vista microbiano,
estimando-se a origem dos eucariotas apenas quando a atmosfera primitiva tinha uma
percentagem de oxigénio, inferior á actual, mas compatível com a existência de vida eucariota.
Teoriza-se que os primeiros eucariotas tinham muito provavelmente um tipo de metabolismo
anaeróbio.
O facto de se ter detectado fósseis moleculares que provavelmente correspondem a grupos de
bactérias fotorredutoras com uma idade muito mais antiga do que os outros encontrados de
grupos mais recentes, leva a supor que estes grupos já teriam divergido nesta altura,
comparando com outros grupos que teriam divergido em épocas anteriores.
Isto leva-nos a crer que:
Devem ter existido organismos primitivos destes grupos anteriormente, mas ainda não foram
encontrados fósseis moleculares que corroborem esta suposição.
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hipótese que este tenha sido o primeiro mecanismo de produção de energia, e que tenha
tampouco existido nos primeiros seres orgânicos.
↓
A hipótese mais aceite hoje em dia, é a chamada Hipótese Quimiolitotrófica de Origem da Vida
→ admitiram que os primeiros organismos primordiais iriam recolher energia a partir de
compostos inorgânicos.
Em todos estes modelos, desde sempre se basearam na ideia de que estes organismos
primordiais eram seres vivos com DNA incluso, mais tardiamente surgindo o RNA e as
proteínas. No entanto, a estrutura do DNA comparativamente ao RNA é muito mais complexa,
e alem disso as enzimas responsáveis pela replicação do DNA são enzimas muito mais
complexas do que as enzimas responsáveis pela replicação do RNA. Apesar destas importantes
considerações, não faria muito sentido que primeiro tivesse surgido RNA e depois DNA,
porque o RNA como o conhecemos é obtido a partir de transcrição do molde de DNA.
Cada vez urge-se mais a compreensão dos vários papeis do RNA a nível molecular, e das suas
funções diversas.
Retomando o tema principal, existe ainda outra hipótese que sugere baseada nos últimos
conceitos esquematizados, e que detém inúmeros defensores, que teoriza o aparecimento da
vida como organismo detentor de RNA e não de DNA. Desenvolvendo esta hipótese, também
se postula que este RNA primordial seria auto-replicativo, e ao mesmo tempo desempenhando
um papel de proteína básica, visto que também deveria possuir propriedades autocatalíliticas.
Neste modelo de vida baseado em RNA, este mesmo poderia codificar para um polipéptido e
este polipéptido desempenharia as funções que atribuímos ás proteínas, podendo até
funcionar como enzima de replicação da molécula de RNA inicial. No entanto, estas enzimas de
replicação de RNA têm uma taxa de erro bastante elevada, se pensarmos que esta taxa de erro
geraria um aumento de diversidade e portanto daria a probabilidade de surgirem sequências
que poderiam ser seleccionadas favoravelmente para desempenhar variadas funções, este
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papel poderia assim ter contribuído para aumentar a taxa de diversificação destas moléculas
primordiais.
ASSIM:
A partir do momento em que esta molécula simples de RNA se deixou envolver por uma
membrana, teria surgido o primeiro ser vivo, detentor de RNA.
Seguidamente, ao longo da evolução, a molécula de RNA no seu papel repositório de
informação, foi substituída pela molécula de DNA, cuja regulação, sendo mais controlada, e
por associação, tendo uma taxa de erro mais baixa garantiu a manutenção da informação em
si contida, e a sua propagação á descendência.
Assim, integrando todos estes conceitos, a teoria da vida primordial com informação de
carácter genético baseada na molécula de RNA, constata que esta mesma molécula deteve um
papel de intermediário, na passagem de informação genética de grau básico, para um carácter
integral como o que o DNA detém.
Outro aspecto interessante desta teoria, assenta no facto de existirem vírus com genoma de
DNA, bem como de RNA.
Existem várias hipóteses para explicar a origem dos vírus, mas muitas delas falham na
explicação da origem de vírus baseada num genoma unicamente ribonucleotídico. Esta teoria
abordada da vida primordial baseada em RNA poderia explicar a existência de vírus como
remanescentes das moléculas iniciais pré-bióticas que se postula terem existido numa Terra
primitiva.
NOTA: o modelo acabado de referir não passa de uma teorização visto que não se
encontra suportado por evidências experimentais.
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Mais tarde descobriram-se que nos fundos oceânicos existem formações denominadas fontes
hidrotermais, que no fundo representam pontos onde o magma vai ascendendo directamente,
ao mesmo tempo que solidifica, libertando gases diluídos e minerais, e formando camadas que
se vão depositando formando torres. Dependendo do tipo de coloração dos químicos
libertados que se encontram dissolvidos na água do mar, detêm duas principais conotações:
Estas duas fontes hidrotermais, têm sido bastante estudadas do ponto de vista
Geomicrobiológico. Apresenta-se uma esquematização do processo de reciclagem dos
elementos inorgânicos:
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Nestas fontes, a partir de Fe libertado, pode-se dar a oxidação deste composto, através da
acção da energia de radiação UV, produzindo-se hidrogénio, que possivelmente se teria
começado a acumular na atmosfera primitiva. Este hidrogénio, poderia servir de fonte de
energia para os primeiros organismos, alem do Fe e S.
UV
Nos ecossistemas presentes nas fontes hidrotermais, as cadeias ou redes tróficas são
principalmente quimiolitotróficas.
As temperaturas existentes na cavidade de saída destas fontes podem atingir mais de 300ºC,
mas a cerca de 10 – 20cm até 50cm, a temperatura da água do mar ronda os 4ºC. Assim, o que
temos em torno de uma fonte hidrotermal, é de facto um gradiente térmico. Este gradiente
térmico tem condições muito específicas e leva ao aparecimento de organismos
quimiolitotróficos, quer do mundo procariota, quer do mundo eucariota, que têm sido objecto
de estudo de vários investigadores. Estes organismos referidos, têm sido ultimamente objecto
de interesse biotecnológico, visto apresentarem potencial elevado do ponto de vista desta
disciplina de ciência aplicada.
Considerando estas características das fontes hidrotermais, bem como a origem da vida
baseada no quimiolitotrofismo, e
detentora de informação genética
focando a molécula de RNA, com um
ambiente envolto em temperaturas
mais elevadas, uma das hipóteses
mais aceites actualmente é sem
duvida a que sumariza todos estes
factores e os explica tendo em conta
o aparecimento de vida sediado
nestas referidas fontes hidrotermais.
Seguem-se dois esquemas com o
objectivo de explicitar estes factores:
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Outra fonte alternativa de H+, é a referida anteriormente onde é utilizada a radiação UV (2Fe2+
+ 4H+→ 2H2 + 2Fe3+).
A imagem seguinte tem como objectivo ilustrar estes conceitos:
A acumulação de protões permitia que uma ATPase primitiva funciona-se e que a partir de
ADP e Pi sintetizasse ATP, sendo este ATP utilizado nos vários processos celulares.
Partindo do princípio de que os primeiros organismos eram quimiolitotróficos, a vida teria
surgido, os organismos teriam começado a multiplicar-se, e verificava-se uma acumulação de
compostos orgânicos. Estes compostos orgânicos promoviam uma via mais rápida de obtenção
de energia, sendo aproveitada por outros organismos que até então se tinham começado a
diferenciar → Começaram a fermentar e a oxidar estes compostos.
- Aminoácidos.
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→ Ferro;
→ Magnésio;
→ Cobalto;
→ Níquel;
Segue-se um esquema ilustrativo da evolução da diversidade metabólica associada aos vários
tipos de anéis porfíricos resultante das várias associações destes quatro anéis pirrólicos com
diferentes metais:
Existe um grupo muito importante dentro das archaeas, que são as bactérias metanogénicas.
Estes organismos produzem metano, a partir de carbono e hidrogénio.
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→ O primeiro teria levado, os eucariotas á aquisição de uma bactéria primitiva com capacidade
metabólica de produzir respiração aeróbia, que teria dado origem às mitocôndrias;
→ O segundo acontecimento, refere que uma cianobactéria primitiva teria-se adaptado por
essa linha celular, e teria originado os cloroplastos.
Este eucariota teria evoluído no sentido de efectuar compartimentação celular, e a par deste
acontecimento, realizou-se também o inicio da compartimentação funcional da célula.
Têm-se postulado que os eucariotas divergiram juntamente com as archaeas a partir do
ancestral comum.
Do ponto de vista temporal, ou seja referente á pergunta de “Quando terão surgido estes
acontecimentos de endossimbiose?”, não há dúvida de que a endossimbiose levou ao
aparecimento dos primeiros cloroplastos, diferenciando-se estes componentes da célula com
vista a evoluir e por conseguinte dar origem aos primeiros seres vegetais, sendo esta fase
evolutiva relativamente fácil de localizar na escala de toda a história geológica. No entanto,
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→ Poderia ter ocorrido mais próximo da origem dos eucariotas, ou seja, mais próximo do
tronco comum de origem da vida.
No entanto, um outro modelo para a origem dos eucariotas é o modelo proposto por Gupta e
Singh em 1994, considera que a célula eucariota é uma quimera, não tendo uma origem única,
e resultando de linhas evolutivas diferentes. De acordo com este modelo de origem quimérica
dos eucariotas, a partir do ancestral universal (LUCA), os eucariotas teriam resultado de uma
fusão de duas linhas celulares com origem filogenética independente:
Portanto, o que este modelo admite é que o genoma dos eucariotas é uma quimera porque
parte dos genes que contem têm uma origem da linha ancestral das Archaeas, enquanto que
outros genes têm uma origem ancestral do domínio das bactérias Gram-negativas.
NOTA: este modelo tenta explicar a origem dos eucariotas, não por endossimbiose mas
por fusão dos genomas, onde houve uma duplicação destes com posterior selecção adaptativa,
em que para uns genes encontra-se a derivação da linha das archaeas, e para outros encontra-
se uma derivação para a linha das bactérias Gram-negativas.
Se assumirmos este modelo, e escolhermos um marcador molecular cuja origem vem da linha
das archaeas, vamos obter uma filogenia com as archaeas mais próximas dos eucariotas.
Enquanto, que se escolhermos como marcador filogenético um gene cuja origem remonta às
bactérias Gram-negativas, vamos afastar os procariotas do grupo dos eucariotas.
Aconselha-se a observação da seguinte imagem com vista a elucidar os conceitos por fim a ter
uma visão esquemática deste modelo:
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Este mesmo autor (Gupta), desenvolveu outro modelo explicativo para a origem eucariota, em
que considera que primeiro surgiram as archaeas, depois as bactérias Gram-positivas, sendo as
bactérias Gram-negativas um acontecimento de evolução mais recente derivado da linha
evolutiva das Gram-positivas. Gupta também sugere que as primeiras Gram-positivas já
produziam metabólitos capazes de inibir o crescimento de outros organismos, ou seja a
estratégia de produção de antibióticos já existia desde os tempos primordiais. E como resposta
á pressão selectiva pela produção destes compostos teria surgido um mecanismo de protecção,
que seria o aparecimento de membrana externa → Gram-negativas.
Para construir este modelo, Gupta ao invés de utilizar genes de RNA, trabalhou com
sequências de proteínas, fez o alinhamento de sequências de aminoácidos. A vantagem que
surge desta preferência, é a de que as filogenias construídas a partir de proteínas tendem a ser
mais fidedignas do que as que são inteiramente construídas em nucleótidos.
Gupta trabalhou como referido, apenas com proteínas, em ordem a estabelecer a sua filogenia
proposta, mas o próprio só utilizou regiões de proteínas que tivessem sofrido mutações indel
(inserção ou delecção). Mesmo assim, Gupta apenas utilizou mutações indel, cujas margens da
sequência nucleotídica tivessem sido conservadas:
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Todos os ramos filogenéticos observados na figura acima parecem ter emergido quase ao
mesmo tempo, não existe resolução filogenética para saber exactamente o primeiro grupo a
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separar-se. Porém, com o sistema de Gupta, todos estes ramos ficam separados pela sua
utilização de indels para mapear a evolução de determinada proteína.
A partir das archaeas primitivas, terá surgido uma primeira célula (designada no esquema
ilustrativo do modelo de Gupta por Eocito) que por um lado levou às archaeas actuais, e por
outro teria tido uma fusão com uma bactéria Gram-negativa primitiva, tendo este
acontecimento levado á origem da primeira proto-célula eucariota observada no modelo de
Margulis.
Aproveita-se, assim, com os devidos conceitos definidos para se apresentar uma imagem
explicativa da filogenia das archaeas:
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Outra das características do modelo proposto por Gupta é a de que este classifica os
procariotas como:
→ Didérmicos: Gram-negativas.
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Estes grupos são do ponto de vista científico bastante interessantes pois possuem adaptações
morfológicas e fisiológicas que lhes permitem sobreviver a estas condições extremas.
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Dentro dos microeucariotas, alguns dos ramos são constituídos por organismos anaeróbios,
não possuindo por conseguinte mitocôndrias. Hoje tudo aponta para que estes organismos
tenham tido mitocôndrias e que as tenham perdido por evolução e selecção adaptativa, isto
porque os estudos moleculares referem a existência de reminiscências de genes mitocôndriais
dentro do genoma destes organismos.
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vista evolutivo vai multiplicar-se e consequentemente ganhar um espaço que o outro ecotipo
não ocupa. Várias inferências moleculares explicitam que o genoma dos procariotas está
sujeito, como já atrás referido, às mesmas forças de evolução que o genoma dos eucariotas,
através da aquisição de novos genes. Esta aquisição pode ser feita por:
Assim, nos procariotas, embora não seja aplicável o conceito biológico de espécie, tudo aponta
para que os mecanismos de especiação conferidos a estes sejam os mesmos.
Os conceitos actuais para definição de espécie em procariotas são todos baseados em
métodos de Biologia Molecular. Sendo assim, possível definir espécies de procariotas
exclusivamente com bases moleculares.
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→ Seguidamente um dos DNA’s é marcado (com marcação radioactiva por ex.), e após
a desnaturação dos fragmentos (desnaturação térmica ou química) mistura-se em partes
iguais os dois DNA’s (organismo 1-marcado, e organismo 2-não marcado). Para finalizar deixa-
se os dois tipos diferentes de DNA renaturar:
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Ao admitirmos que o RNA 16S, é um marcador evolutivo que nos separa a espécie, surge uma
tentativa de utilização deste mesmo RNA como critério para classificação de espécie. Sendo
hoje em dia o critério baseado em RNA 16S o seguinte:
BCP – Biologia da Célula Procariotica - Cap. 4, 6, 8 – Brock Biology of Microorganisms. 10th ed.
Morfologia Bacteriana
Do ponto de vista morfológico todos os organismos microbianos têm dimensões relativamente
pequenas, embora estes seres em população possam constituir um agregado visível a olho nu
(colónias numa caixa de Petri, por ex). Existem numerosos tipos morfológicos de bactérias
sendo aqui abordados os principais:
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→ Coccus:
esféricos;
→ Bacillus: em
forma de
bastonete;
→ Espirillus;
→ Espiroquetas;
→ Bactérias
Pedunculadas;
→ Filamentosas:
Lineares ou
Ramificadas;
A morfologia nas bactérias é um critério com valor taxonómico muito reduzido, porque
existem milhares de espécies representantes de cada forma morfológica.
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Estes fosfolípidos não estão ligados entre si por ligações covalentes, daí a fluidez deste
modelo. Do ponto de vista de barreira, esta membrana constitui uma praticamente total a
compostos polares e a compostos apolares. Os compostos apolares não conseguem penetrar
na membrana visto que as cabeças dos fosfolípidos têm carga, repelindo os mesmos. E os
compostos polares não entram pois as caudas dos ácidos gordos são altamente hidrofóbicas
impedindo a sua passagem.
- Saturados:
- Insaturados:
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→ Se existir grande número de ácidos gordos insaturados, estas moléculas ficam mais
afastadas.
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Associadas á membrana plasmática encontramos um grupo de funções base que por esta são
desempenhadas:
Tipos de transporte membranar existentes (é de notar que todos estes sistemas necessitam de
um transportador, mais ou menos específico):
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NOTA: O transporte primário utiliza ATP, enquanto que o transporte secundário utiliza
a força proto-motriz, proveniente do gradiente electroquímico.
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pode usar diferentes tipos de transporte para o mesmo soluto, dependendo do seu estado
fisiológico, fase do ciclo celular, ou condições ambientais.
Sumário dos principais tipos de transporte membranar simples (conceito de revisão da aula
anterior):
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Uma célula que possua este tipo de transporte membranar gasta (em teoria) um ATP para
transportar a glucose para dentro da célula e para a fosforilar em glucose-6-fosfato, enquanto
que uma célula com outro sistema de transporte membranar necessita de um ATP para
transportar a glucose para dentro da célula, e outro ATP para a fosforilar.
Assim, torna-se obvio que o sistema de translocação de grupos é mais rentável energicamente
para a célula que o possua.
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Estão representados na imagem por S1 e S2, substratos energéticos alternativos, como por
exemplo lactose ou galactose. Se inserirmos uma estirpe de E.coli num meio contendo glucose
e lactose, e seguirmos a sua curva de crescimento, deparamo-nos com uma curva difásica. Este
fenómeno de crescimento em que a curva de crescimento se duplica tem o nome de Diauxia.
Se dosearmos a glucose e a lactose ao longo do crescimento, verificamos que numa primeira
fase a glucose é consumida e a lactose não, e após esta primeira fase com o esgotamento de
glucose no meio, passa a ser consumida a
lactose. Este fenómeno de Diauxia, corresponde
á utilização preferencial de um substrato em
relação ao outro. A utilização da lactose é
controlada por sistemas de utilização da
glucose. Chama-se a este fenómeno de
repressão por catabolito. Apresenta-se um
gráfico tipo ilustrativo do processo de
crescimento Diauxico:
Este fenómeno existe porque a glucose é transportada pelo sistema da fosfodíesterase. Assim,
explicitando o processo, podemos observar que a Enzima IIa é o elemento regulador deste
processo, alternando entre o estado fosforilado e não-fosforilado, encontrando-se não-
fosforilada quando existe muita glucose no meio, pois está constantemente a ceder o grupo
fosfato às moléculas de glucose que se encontram a atravessar a membrana. A Enzima IIa pode
interagir directamente com outros transportadores, ou com a enzima membranar adenilato-
ciclase, logo se pelo contrário não existe glucose no meio a Enzima IIa vai ficar
predominantemente fosforilada, então activa a adenilato-ciclase membranar, que por sua vez
leva á síntese de cAMP, que é um mensageiro indutor de transcrição dos genes
transportadores da galactose ou da lactose. Assim conclui-se que quando a glucose é
totalmente consumida do meio, são activados outros sistemas de transporte através de
activação de transcrição dos seus genes, via componente IIa fosforilada.
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Todos estes sistemas funcionam de modo articulado, portanto no caso dos outros compostos
como é o caso do manitol ou a mannose, estando a célula em ausência de glucose, os
compostos referidos são detectados por sensores membranares, traduzindo-se este processo
numa cascata de sinal que leva á transcrição dos genes do sistema PTS específico para esses
mesmos transportadores.
Todas as bactérias têm os seus sistemas de transporte associados á membrana, sejam estes
sistemas de transporte referentes á fotossíntese, respiração aeróbia, ou respiração anaeróbia.
Organização da cadeia de transportadores da fotossíntese anoxigénica em bactérias púrpura:
É um sistema de transporte de electrões em que a energia luminosa vai ser convertida num
processo de translocação de protões para o exterior, aumentando a energia potencial da
membrana, e consequentemente a força proto-motriz, permitindo que a ATPase membranar
utilize três protões em média para sintetizar uma molécula de ATP. Este tipo de fotossíntese é
anoxigénica, visto não haver produção de oxigénio no final.
Outras das funções associadas á membrana plasmática têm que ver com todos os sistemas de
recepção e transdução de sinais. Sendo a membrana celular a barreira que delimita a célula do
meio exterior é isso que localiza a interface de comunicação com este meio e
consequentemente todos os estímulos externos. Todos os estímulos ambientais são
reconhecidos pela célula através de proteínas na membrana que funcionam como sensores
desencadeando a resposta que na maior parte dos casos envolve também uma cadeia de
fosforilação sucessiva.
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Do ponto de vista do processo de síntese há vários tipos de tradução, existindo três sistemas
mais frequentes:
Sistemas associados a Chaperones. Dependem destes
→ Translocação associada á tradução componentes proteicos celulares para impedir o
colapso hidrófobo proteico característico da
→ Translocação pós-transcripcional implementação de estrutura tridimensional á proteína
neo-sintetizada. Estes componentes impedem que a
proteína adquira uma conformação tridimensional
definitiva e globular, visto que se as proteínas que
estão a ser sintetizadas correspondem a elementos
para exportação, não irão conseguir passar nos canais
membranares se possuírem uma estrutura complexa.
As chaperones podem funcionar durante o próprio
processo de síntese, ou após este ter sido concluído.
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pela translocação desta proteína para o exterior, reconhece a sequência sinal assim que esta
emerge do ribossoma, liga-se á mesma e assim que a proteína é formada, insere-se na
membrana ou é exportada.
Existem dois sistemas principais de chaperones que participam nestes processos de controlo
de estrutura terciária de proteínas:
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Nas bactérias encontramos dois tipos de parede celular, e assim são classificadas segundo as
características apresentadas por estes dois tipos de parede:
→ Gram-positivo:
possuem uma camada
espessa electrodensa,
que corresponde a
uma camada espessa
de peptidoglícano.
→ Gram-negativo:
possuem por fora da
membrana
citoplasmática uma
segunda membrana,
também unitária, e entre as duas um espaço (espaço periplasmático) onde aparece uma
camada electrodensa correspondente a uma camada mais fina de peptidoglícano. A segunda
membrana (membrana externa) é também formada por lípidos, mas é assimétrica. O folheto
interno da membrana externa é constituído por fosfolípidos, mas a camada externa da
membrana externa é formada por um lípido modificado – o Lipopolisacárido (LPS). Nem toda a
face externa da membrana é constituída por Lipopolissacáridos, a concentração em LPS varia
conforme o meio – é uma resposta adaptativa.
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O Peptidoglícano
O peptidoglícano, ou mureína, ou ainda
muro-péptido, é um gluco-péptido
constituído por cadeias lineares do polímero
formado por dois monómeros: o NAM
(ácido N-acetylmurâmico) e NAG (N-
acetylglucosamina):
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NOTA: Por vezes a ligação entre os dois aminoácidos não é directa, existindo
entre eles uma ponte peptídica (ex: em Staphylococcus aureus existe uma ponte de cinco
glicinas).
Iremos abordar este tema de uma maneira bastante esquemática, com o intuito de se
compreender em pleno, todos os passos dados na Biossíntese deste composto:
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Passo 1
Passo 2
Passo 3
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Passo 4
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Passo 5
Nos coccus a síntese de peptídoglicano ocorre na zona que rodeia o septo – zona de divisão
celular. Enquanto que em bastonetes (bacillus), a síntese de peptidoglícano ocorre
intersticialmente em toda a estrutura da parede:
Nas Gram-positivas, existe uma parede mais simples, do ponto de vista químico. Para além do
peptidoglícano encontramos associado á parede, proteínas – desempenhando papéis diversos
tais como a síntese e degradação do peptidoglícano (quer as autolisinas quer as enzimas de
síntese) – e encontramos alguns compostos designados por ácidos teícoicos e ácidos
lipoteícoicos.
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Apresenta-se uma ilustração mais detalhada dos componentes estruturais das membranas e
parede celular de uma bactéria Gram-negativa:
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Como esta membrana é de natureza lipídica é obvio que a membrana externa forma uma
barreira quase impermeável a tudo o que é compostos hidrofílicos e a tudo o que é compostos
hidrofóbicos. Assim, as Gram-negativas para poderem absorver solutos ou excretar produtos
do metabolismo têm de ter sistemas que atravessem a membrana – proteínas
transmembranares, normalmente formadas por três subunidades (trímeros) – sendo estes
sistemas proteicos as Porinas:
Estas proteínas formam uma estrutura tubular no seu interior, e funcionam como um poro.
Podem constituir três canais independentes paralelos uns aos outros, ou pode haver alguma
confluência de canais, ou seja, na face externa os canais são separados e depois fundem-se
formando um canal único para o interior da célula. Estas porinas, podem ser:
→ Não-específicas: constituem a maior parte das porinas. Não funcionam por reconhecimento
de substrato, funcionam antes como poros de exclusão molecular – passa tudo o que couber
no seu diâmetro.
→ Específicas: constituem a minoria das porinas. Podem ser específicas para a captação dos
fosfatos ou outros substratos.
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Esta membrana externa está ligada á camada de peptidoglícano através de uma proteína
modificada denominada lipoproteína – proteína com uma componente lípidica com ácidos-
gordos que a inserem na face da membrana externa, estando a parte proteica covalentemente
ligada ao peptidoglícano (através duma ligação peptidíca entre o último aminoácido da
componente proteica da lipoproteína e um dos aminoácidos do peptidoglícano). O número de
moléculas de lipoproteínas por célula é muito elevado, e portanto permite que esta camada
externa esteja de certa forma ancorada ao peptidoglícano.
LPS – Lipopolisacárido
O lipopolisacárido é um componente da membrana externa das Gram-negativas que carece de
uma certa complexidade. Apresenta-se assim a sua estrutura pormenorizada:
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que só é possível encontrar neste composto biológico. É de salientar que quer o KDO, quer as
heptoses funcionam como marcadores moleculares de bactérias Gram-negativas.
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sendo estas unidades posteriormente transferidas para o Bactoprenol-fosfato, que por sua vez
transfere estes monómeros para a face externa em ordem a serem polimerizados.
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→ Hidrólise dos compostos, pela acção de enzimas hidrolíticas secretadas pela célula
O periplasma é sem dúvida, quer nas Gram-negativas ou nas Gram-positivas, uma estrutura
altamente dinâmica, crucial para a resposta celular a variações ambientais.
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3)
Negativa Thermoplasma
4)
Positiva ou Methanosarcina
Negativa
5)
Positiva Halococcus
Methanobacterium
6)
Positiva Methanothermus
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Outro tipo de parede que podemos encontrar é equivalente á primeira, consistindo numa S-
layer, e por fora desta com algumas proteínas agregadas, dispersas – Bainha proteica.
Thermoplasma sendo o equivalente em archaeas do Mycoplasma em bactérias, é uma archaea
desprovida de parede celular, só possui membrana citoplasmática, mas sendo termofílica tem
alguma adaptação a esse ambiente – tem uma densidade muito elevada de proteínas na sua
membrana plasmática → impedindo a desagregação da membrana pelo aumento de
temperatura.
Em Methanosarcina encontramos uma membrana citoplasmática, um S-layer, e por fora uma
camada de um polímero designado por Metanocondroitina. Este polímero tem a designação
apresentada por duas razões: porque tem sido encontrado (quase exclusivamente) em
archaeas metanogénicas; e porque a sua composição química é fundamentalmente composta
por ácidos urónicos (derivam de glúcidos por aquisição de um grupo carboxilo no carbono
terminal), que são encontrados em tecidos cartilaginosos de animais. Á semelhança dos
tecidos cartilaginosos, este composto de Metanocondroitina é altamente hidratável,
adquirindo uma consistência de gel espesso, constituindo uma parede de protecção que
permite a passagem de compostos hidrosolúveis, mas constituindo uma barreira eficaz contra
compostos hidrofóbicos.
No caso das restantes archaeas, encontra-se principalmente a pseudomureína, e um S-layer
proteico associado á face externa da pseudomureína. É de notar que no quadro apresentado
há pouco, os únicos géneros cuja reacção de Gram é positiva são também os únicos
possuidores de pseudomureína. Sendo que a reacção positiva com Metanocondroitina depende
do grau de compactação deste polímero.
Todos estes polímeros que são encontrados fora da parede celular são hexopolímeros, muitos
deles de natureza polisacarídica, também por isso denominados hexopolisacáridos. Nestes
casos em que a estrutura que reveste as células apresenta um aspecto mucilaginoso
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Estas bactérias utilizam a sacarose da seguinte maneira: libertam para o meio de cultura uma
enzima que vai utilizar as moléculas de sacarose,
hidrolizando-as. Isto funciona porque a enzima
reconhece duas moléculas de sacarose, cortando uma
das moléculas, e sendo a energia libertada utilizada para
que a glucose fique livre, e possa ser utilizada. Tendo
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estruturas denominadas Fimbria ou Pilli, que são usados na adesão a superfícies. Estas fibrilas
são constituídas por uma proteína designada proteína M.
Mobilidade Procariota
Alguns procariotas são móveis, e dentro das células procariotas com mobilidade verificamos a
existência de flagelos, que são estruturas inseridas na parede celular que impulsionam a célula
por rotação, constituindo este o principal mecanismo de deslocação presente dentro dos
procariotas móveis.
Se observarmos uma preparação com bactérias ao microscópio óptico elas parecem mover-se
todas, mas na realidade muitas destas bactérias aparentemente móveis estão na verdade a ser
transportadas por correntes de convecção da água – movimentos brownianos – não
correspondendo assim, a bactérias com aparelhos celulares indutores de movimento activo.
Outros procariotas conseguem obter mobilidade através de um mecanismo totalmente
diferente: só se movem se estiverem aderentes a uma superfície, e seguindo o movimento
destes procariotas parece que estes mesmos estão a deslizar sobre a superfície:
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Os flagelos apresentam uma dimensão da ordem dos nanómetros, logo, em microscopia óptica
normal não se conseguem ver flagelos. Apenas se tornam visíveis em microscopia óptica
fazendo uma coloração especial com Nitrato de Prata (AgNO3), depositando-se estas
moléculas sobre a proteína flagelar, dando cor aos flagelos, e permitindo a sua visualização em
microscopia óptica. Todo o flagelo é formado por monómeros de uma proteína denominada
flagelina, dispostos em hélice, formando um tubo.
Estrutura do Flagelo
A estrutura observável na imagem corresponde ao corpo basal do flagelo, constituído pelos
monómeros de flagelina, formando propriamente um tubo. O corpo basal do flagelo constitui
uma estrutura inserida na parede e membrana, e tipicamente o que conhecemos na estrutura
do flagelo é o filamento (a amarelo na imagem) propriamente dito (formado pelas moléculas
de flagelina) que na parte de inserção do corpo flagelar detém outras proteínas associadas que
formam uma estrutura em gancho → Gancho Flagelar. Este gancho flagelar insere-se na
membrana através duma estrutura denominada bastonete, existindo em torno desta estrutura
quatro anéis no caso das bactérias Gram-negativas:
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O flagelo vai crescendo, como esquematizado na imagem acima, não pela base mas pela
ponta.
Todas estas fases da biogénese do flagelo, bem como todos os genes associados, foram
descobertos por análise de mutantes, compreendendo-se o fenótipo associado, e a estrutura
em termos de microscopia electrónica do flagelo bacteriano.
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Uma bactéria que possua flagelação polar possui um flagelo que roda sobre si próprio,
podendo rodar em dois sentidos – CW e CCW – como já anteriormente observado.
O movimento destas bactérias é aleatório, porque está sujeito á rotação do flagelo com a
condicionante das forças do meio.
O mesmo sucede com as bactérias com flagelação perítrica, os seus flagelos rodam
simultaneamente no sentido CW ou CCW. Quando estes flagelos rodam num sentido, eles
enrolam-se num aglomerado, que funciona como um flagelo mais grosso, que empurra a
bactéria no sentido desejado.
Quando os flagelos mudam de direcção de rotação a bactéria para – dá-se uma queda –
ficando assim sujeita às correntes de convecção presentes no meio.
Quando uma bactéria se encontra em movimento – período de corrida – e devido ao disparo
dos motores flagelares pára, dá-se uma queda, está fica imóvel e sujeita às correntes de
convecção já referidas: assim o movimento das bactérias flagelares é feito através de períodos
de corrida, quedas e transporte devido a correntes de convecção.
Quimiotáxia
Quando existe um composto que é atractivo para as bactérias, seja este um nutriente ou outro
composto qualquer, estas parecem deslocar-se muito aleatoriamente, através de quedas e
períodos de corrida, na direcção do mesmo:
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Fototáxia
Este mesmo fenómeno pode ocorrer não em
resposta a estímulos químicos como na
quimiotáxia, mas em resposta a outro tipo de
estímulo – estímulo luminoso.
No caso das bactérias fototróficas móveis, estas
→ podem deslocar-se em função da direcção de
maior intensidade de estímulo luminoso:
Regulação da Quimiotáxia
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desencadeando a resposta. Esta proteína CheA pode existir no estado fosforilado ou não
fosforilado. Quando esta se auto-fosforila, passando para o estado Che-fosforilado, pode
fosforilar duas proteínas deste sistema: A proteína CheY e a proteína CheB.
Como já mencionado, a proteína CheY quando recebe o grupo fosfato da proteína CheA passa
ao estado Che-fosforilado, ligando-se posteriormente ao “switch” alterando o sentido de
rotação do motor. Ao mesmo tempo que CheY pode ser fosforilada, também pode ser
desfosforilada por uma fosfatase que se denomina CheZ. Assim: CheA fosforilada, e CheZ
regulam os estados de fosforilação de CheY.
A proteína CheA fosforilada por sua vez pode interagir com outra proteína – CheB – sendo que
esta (CheB) quando fosforilada pode interagir com o receptor e desmetilar o próprio. Esta
proteína CheB quando fosforilada retira grupos metilo, sendo que se esta proteína, como
mencionado, retira grupos metilo, é porque algum componente neste sistema de regulação
adiciona grupos metilo. Existe pois uma metilase – proteína CheR – que está continuamente a
metilar o receptor. Assim o estado final de metilação do receptor depende da acção da
proteína CheB-fosforilada, ou seja, se esta não estiver fosforilada, o receptor encontra-se
continuamente metilado; por outro lado se a proteína CheB estiver predominantemente no
estado fosforilado então ela vai desmetilando o receptor.
Podemos concluir que existe uma variação do estado de metilação do receptor.
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dos níveis inibitórios da nitrogenase. Visto isto, podemos então concluir que esta bactéria
mantém um ambiente anaeróbio intracitoplasmático, produzindo ao mesmo tempo a
quantidade de ATP necessária para a fixação de azoto.
A bactéria Pelodictyon apresenta vesículas elípticas
em contacto íntimo com a membrana citoplasmática
– que aparentam ser aderentes – sendo revestidas de
membrana, que no entanto não é unitária (tem
proteínas e galactolípidos). Estas vesículas estão
associadas ao processo de fotossíntese, contendo
parte do sistema fotossintético, e são designadas de
vesículas de Chlorobium ou Clorossomas.
Estas estruturas são delimitadas por uma membrana
com uma função especializada – só não pertence á classificação de organito porque esta
classificação pressupõe que a estrutura seja delimitada por uma membrana unitária.
Noutras bactérias como é o caso de Rhodovibrio sodomensis, existem uma espécie de vesículas
que não possuem de facto membrana própria, representam uma acumulação de um composto
lípidico que é a principal forma de armazenamento de carbono em procariotas. Estes ao invés
de acumularem amido ou glicogénio, acumulam um ou mais compostos de natureza lípidica
que pertencem ao grupo dos PHA’s – polihidroxialcanoatos –, dos quais o PHB – poli-β-
hidroxibutirato – é um exemplo.
Os polihidroxialcanoatos são ácidos orgânicos
derivados de alcanos, só com ligações simples, e com
um grupo COH terminal, mas visto que é polihidroxi,
significa que tem vários grupos COH terminais. Esta
molécula é a principal fonte de reserva destas
bactérias, e podem metaboliza-la sempre que
necessitem de uma fonte de carbono.
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Algumas bactérias, mas sendo muito raras, podem ter glicogénio como fonte de reserva, sendo
este não revestido de membrana. O ciclo de síntese e degradação deste composto em
bactérias é semelhante ao que se observa em eucariotas, com a diferença de que a activação
do precursor glucídico – glucose – é feita por ligação a ADP, e não a UDP, como se observa
noutros organismos.
Nas bactérias fotossintéticas anoxigénicas, que
dependem de compostos com enxofre – compostos
sulfurados como dador de electrões, normalmente
ao fazerem a oxidação desses compostos o
subproduto pode ser enxofre, sendo este
normalmente acumulado no interior da célula,
formando grânulos de coloração amarela, como se
observa em Chromatium buderi.
Outro exemplo particular de inclusões são os cristais de Magnetite – tetróxido de ferro – que
se podem encontrar em bactérias muito particulares,
que detêm a característica de serem magnéticas,
como é o caso de Aquaspirillum magnetotacticum,
funcionando os referidos como um dípolo, e
respondendo como tal, face ao campo magnético
terrestre. Estes cristais chegam a deter uma
dimensão considerável, dando a ilusão de ocuparem
toda a célula.
Inclusões Gasosas
Numerosos procariotas que vivem em lagos ou no mar, apresentam vesículas de gás, que são
responsáveis pela capacidade de flutuar a diversas alturas na coluna de água (em função dos
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NOTA: já foi possível recuperar bactérias, por germinação destes endósporos, que
Doforam
pontorecolhidas
de vista prático,
de locais
estas
queestruturas
datam vários
foram
milhares
facilmente
de anos
descobertas
– por exemplo
por microscopia
sarcófagos
egípcios
óptica, – não existindo
verificando-se que por esta razãoem
só apareciam uma data limite
alguns gruposimposta á sobrevivência
de bactérias, sendo até destes
hoje só
endósporos.
observável a presença de endósporos em bactérias Gram-positivas.
Existem fundamentalmente dois grandes Géneros em que se encontram endósporos:
Quando estas bactérias produtoras de endósporos são colocadas num meio em que existe
escassez de nutrientes, ou que possua condições ambientais desfavoráveis, é induzido o ciclo
de esporulação, permanecendo estas em endósporos por um longo período de tempo, até
encontrarem novamente condições favoráveis que permitam que estas células germinem e
originem novas células vegetativas.
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Este ácido apresenta como observado dois grupos COOH, que na presença de iões cálcio
formam o Dipicolinato de Cálcio, que é um sal, acumulando-se este composto no endósporo.
Apresenta-se, assim, a sua estrutura:
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Numa determinada célula, seja ela eucariota ou procariota, existe uma membrana
citoplasmática, com parede ou sem parede consoante o caso, constituindo isso mesmo, um
limite que integra um sistema fechado que é a célula. Esse sistema fechado recebe do exterior
uma fonte de energia e nutrientes. Esta fonte de energia pode ser química ou luminosa, em
maior parte dos casos, e através de um processo metabólico, parte desta energia é
transformada e armazenada na célula sob a forma de ATP, em ordem a depois ser
metabolizada para construir todo o tipo de macromoléculas estruturais e reguladoras que a
célula necessita para sobreviver.
Temos assim vias de anabolismo (ou biossíntese) e vias de catabolismo. Nesta fase de
catabolismo, parte da energia é utilizada para os processos biossintéticos, sendo outra parte
utilizada para processos que também requerem energia, nomeadamente transporte de
nutrientes, mobilidade ou motilidade (se existirem estruturas móveis na célula como flagelos).
Todos os produtos químicos não utilizados – produtos finais do metabolismo – são excretados
para o exterior, podendo estes ser compostos orgânicos, CO2, etc.
Parte da energia que a célula armazena, é guardada de duas maneiras:
→ Sob a forma de ATP;
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- Gradiente de pH.
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Do ponto de vista nutricional, todos os organismos vivos são dependentes de vários elementos
químicos que são fornecidos sob a forma de compostos, que são utilizados para a
estruturação, crescimento, desenvolvimento e divisão celular.
Apresentam-se duas tabelas que nos indicam os macro-elementos, que são necessários em
maior quantidade, fazendo-se a distinção dos micro-elementos, que são apenas necessários
em quantidades vestigiais.
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Segue-se outra tabela que nos elucida acerca dos custos energéticos – quantidade de ATP em
mmoles – necessários para formar, usando como meio de cultura um meio mínimo, um grama
de células secas, em E. coli:
Referente á última tabela é de notar, que o maior custo apresentado é referente ao processo,
não de síntese de aminoácidos, mas de polimerização dos mesmos
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Um dos elementos que é essencial para muitos organismos é o ferro. Em particular no caso das
bactérias patogénicas, um dos grandes problemas que se observa é de que uma vez dentro do
hospedeiro (neste caso animal, ex: homem) têm uma imensa disponibilidade de ferro. No
entanto, o ferro contido no nosso organismo
encontra-se disponível sob a forma de
hemoglobina, daí que muitas bactérias tenham
desenvolvido mecanismos específicos de captação
do ferro do meio. Esses mecanismos ocorrem sob
a forma de moléculas complexas sintetizadas por
estas bactérias, que as excretam, sendo estas
capazes de quelatar o ferro, transportando-o
posteriormente de volta á célula bacteriana,
ficando este disponível para as mesmas. O
primeiro grande grupo de compostos é chamado
de Hidroxamatos. As bactérias produzem estes
compostos para o exterior da célula, sendo este
convertido a Hidroxamato férrico na presença de Fe3+, retomando depois ao interior da célula,
sendo seguidamente reduzido – passa a Fe2+ - sendo utilizado para constituir o grupo Heme
dos citocromos. A molécula de Hidroxamato é reciclada e reutilizada.
Algumas bactérias do grupo das Enterobacteriácias
(Gram-negativas, ex: E. coli), produzem compostos
de natureza fenólica bastante complexos, que
quelatam o ferro no seu interior. Estas moléculas
receberam a denominação geral de Enterobactinas,
sendo produzidas por diversas espécies de
Enterobacteriácias.
Mais recentemente, descobriu-se que também
existiam quelinas nas membranas das bactérias Gram-negativas, que funcionam como canais
de água, mais especificamente como
poros especiais para o transporte de
água, recebendo por esse facto a
nomenclatura de Aquaquelinas.
Posteriormente veio-se a verificar que
de facto estas Aquaquelinas têm locais
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→ Fonte de Carbono:
- Autotróficos – CO2 como fonte de C;
- Heterotróficos – substâncias orgânicas como fonte de C;
→ Fonte de Energia:
- Fototróficos – luz como fonte de energia;
- Quimiotróficos – compostos orgânicos/inorgânicos como fonte de energia;
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Podemos ainda explicitar mais o conteúdo destes tópicos observando a tabela seguinte:
ou Anaeróbia:
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A ATP-sintetase funciona nos dois sentidos, ou seja, no sentido inverso os protões deslocam-se
do interior do citoplasma para fora, á custa da hidrólise de uma molécula de ATP, aumentando
a energia potencial de membrana. Todo o processo inverso ocorre com o Rotor a girar no
sentido inverso.
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Outro tipo de transportador existente nas cadeias respiratórias são as Quinonas, que
constituem dois grupos como previamente verificado:
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Uma Quinona pode oscilar entre o estado Quinona e o estado Quinol. É um transportador de
átomos de Hidrogénio.
Existem diferentes formas de nomenclatura de Quinonas. Estabelece-se assim uma relação de
sinónimo para futura compreensão dos termos:
→ Ubiquinonas ou Mesoquinonas;
→ Menaquinonas ou Naftoquinonas;
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Os átomos de Hidrogénio entram na cadeia, através da glicolise e ciclo de Krebs, sob a forma
de NADH – este funciona como dador de Hidrogénio. O primeiro complexo da cadeia
respiratória mitocondrial denominado complexo I, é formado pela NADH desidrogenase, por
outras flavoproteinas e proteínas de Ferro não-hémico, formando um complexo composto por
vários tipos de proteínas, sendo a mais importante a NADH desidrogenase pois é ela que
reconhece o NADH cedendo os electrões correspondentes ao transportador seguinte,
libertando protões para o exterior, e reoxidando o NAD.
No ciclo de Krebs existe uma enzima que não é NADH-dependente, mas sim FAD-dependente,
sendo esta a succinato desidrogenase. Assim, a maior parte dos electrões vêm via NADH
desidrogenase, mas alguns vêm via succinato desidrogenase, cedendo esta última os electrões
não ao complexo I mas ao ponto imediatamente a seguir na cadeia respiratória – o complexo
II. Isto funciona como se a cadeia respiratória mitocondrial tivesse duas entradas: uma através
da NADH desidrogenase, e outra através da succinato desidrogenase.
Neste outro esquema (potenciais de
ponto médio) conseguimos concluir
que os electrões provenientes da
NADH desidrogenase têm um
potencial redox mais negativo, logo
o desnível de energia é maior,
portanto é espectável que se
formem mais moléculas de ATP
quando os electrões vêm via NADH,
do que quando vêm via succinato.
Quando os electrões vêm para a
cadeia respiratória via NADH são
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sintetizadas três moléculas de ATP, enquanto que quando vêm via succinato são apenas
sintetizadas duas. É importante reter, que se possuem duas entradas para a cadeia
respiratória, seguindo estas posteriormente a mesma via, mas visto que não são no mesmo
ponto, uma é mais energética (NADH), e a outra é menos energética (succinato).
Regressando á estrutura da cadeia respiratória mitocondrial: Ambas as entradas cedem os
seus electrões aos complexos respectivos – I e II – sendo estes electrões posteriormente
cedidos a uma Ubiquinona (UQ no esquema da cadeia respiratória). Seguidamente, como
observado no esquema, os electrões da Ubiquinona são enviados para o complexo III
(complexo bc1), que é formado por citocromos, nomeadamente um citocromo de tipo b e um
citocromo de tipo c, denominado citocromo c1. Este complexo III vai ceder os seus electrões ao
citocromo c (que é móvel), funcionando o último como um “vai-e-vem”, cedendo os electrões
ao último complexo da cadeia respiratória – complexo IV, formado pelos citocromos a e a3,
também designado por citocromo oxidase, visto que cede os electrões directamente ao O2.
Relembrando que todas estas reacções são enzimáticas, nas quais estão envolvidas
transferências de electrões, podem também designar-se por reacções de desidrogenação, ou
de óxido-redução.
Assim, todos os complexos abordados nesta última temática podem também ser designados
por óxido-redutases:
NOTA: sempre que uma óxido-redutase tem como aceitador final o O2, denomina-se oxidase.
Para que a ATP-sintetase produza uma molécula de ATP, é necessária a translocação de três
protões. Isto significa que tem de ser acumulado, previamente, o nível necessário de energia
na membrana citoplasmática, podendo esta energia ser medida em mV. Normalmente em mV,
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a quantidade de energia necessária para que se possa sintetizar uma molécula de ATP, é de
200mV.
Retomando o esquema dos potenciais de ponto médio, conseguimos observar que os
electrões conseguem viajar no sentido apresentado porque estão a favor do gradiente
electroquímico, sendo assim translocados ao longo de toda a cadeia passando pelos vários
constituintes já mencionados. Quando os electrões passam do interior do complexo I para o
final deste, o desnível é da ordem dos 200mV. Assim, verifica-se um desnível de energia
suficiente para que possa ser sintetizada uma molécula de ATP – sendo este complexo I um
ciclo de acoplamento, entre o transporte electrónico, a fosforilação e a síntese de ATP.
Dentro do complexo II não se verifica um desnível energético suficiente para se dar a mesma
reacção, mas este já se verifica novamente dentro do complexo III, e no aceitador final, o O2.
Por isso, quando os electrões entram na cadeia, passam por três desníveis energéticos
suficientes, cada um deles, para a síntese de uma molécula de ATP.
Como observado nesta imagem lateral, o
NADH + H+ vai ceder electrões ao complexo I,
ocorrendo durante este transporte a captação
de protões do interior do citoplasma que são
translocados para fora. Estes electrões vão ser
cedidos á molécula de Ubiquinona, mas visto
que esta se trata de um aceitador de
Hidrogénio e não de electrões, por cada
electrão que recebe tem também de receber
um protão, assim, na prática mais dois
protões vão do interior do citoplasma para a
Ubiquinona. Quando esta cede os electrões
ao complexo III, os protões são libertados no
lado externo. Seguidamente, este complexo III
cede os electrões ao citocromo c, e o referido
por sua vez ao citocromo a + a3, que
posteriormente os vai ceder ao O2, havendo o consumo de protões para a síntese da molécula
de água.
Alguns destes complexos, dependendo da espécie microbiana ou do tipo de complexo, podem
funcionar em simultâneo como bombas protónicas, isto é: quando transportam um electrão
que receberam, simultaneamente translocam protões para o exterior, contribuindo assim para
aumentar o rendimento deste processo. Um transportador de electrões que tenha a função de
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bomba protónica, é mais eficiente do ponto de vista energético, que um transportador que
apenas transloque os electrões para a molécula seguinte.
Na cadeia respiratória mitocondrial, observamos assim, duas entradas possíveis de electrões
mas só um aceitador final. No caso das cadeias respiratórias dos procariotas, o que verificamos
é que essa mesma cadeia é ramificada, isto é, há mais do que uma saída possível. A
ramificação ocorre a um de dois níveis: ou a nível da Quinona, ou a nível do citocromo c:
A segunda ramificação só pode
ocorrer a nível do citocromo c
porque estes são os únicos
móveis.
Podemos generalizar as cadeias
respiratórias dos procariotas da
seguinte maneira:
→ Há uma desidrogenase inicial, que recebe o hidrogénio do substrato, cedendo-o a uma
quinona. Esta por sua vez, pode ceder ao citocromo b, ao bc1, ou alternativamente, ao
citocromo oxidase terminal.
→ Ou a cadeia respiratória pode ser ramificada apenas a nível do citocromo c, que pode ceder
a duas oxidases terminais diferentes.
No caso do aceitador final não ser o oxigénio:
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Assim concluímos que a célula regula a utilização de NADH-1 ou NADH-2, consoante a sua
disponibilidade em ATP - se tem reservas de ATP maiores induz a NADH-2; se tem reservas de
ATP menores induz a NADH-1 -, e das condições ambientais em termos de concentração em O2
– se existir alta concentração em O2 no meio, induz a NADH-1; enquanto que se existir uma
baixa concentração de O2, induz a NADH-2.
Mesmo que a célula possua grandes concentrações de ATP, precisa sempre de manter em
funcionamento a cadeia respiratória visto que necessita de oxidar o NADH.
→ Na ausência de O2, é autotrófico, fixando CO2 – tipo ciclo de Calvin – além disso faz
desnitrificação total:
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Fotossíntese Bacteriana
(Chloroflexus)
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Heliobacterium:
→ Gram +
→ Anaeróbios
→ Fotoheterotróficos obrigatórios
→ Possuem bacterioclorofila G, e poucos carotenóides
→ Algumas possuem endósporos
→ É o único grupo de procariotas Gram +, fotossintéticos
O principal factor que distingue os grupos das bactérias sulfúreas das não-sulfúreas são
os dadores de electrões para a fotossíntese. Globalmente o que podemos inferir é que as
bactérias sulfúreas são capazes de receber electrões a partir de um substrato que contenha
enxofre, nomeadamente o H2S ou S molecular; enquanto que as bactérias não-sulfúreas são
sensíveis aos compostos sulfurados, recebendo electrões, normalmente, do H2.
Não deixa de ser interessante que dentro destes quatro grupos, o único que tem
características diferentes, em termos de processos metabólicos, é o das bactérias verdes-
sulfúreas: Têm um processo de fotossíntese distinto pelo qual fixam o CO2 por um ciclo reverso
ao dos ácidos-tricarboxílicos; enquanto que as restantes fixam-no através do Ciclo de Calvin.
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Seguidamente este electrão fica excitado aumentando o seu nível de energia electroquímica,
sendo a energia contida neste electrão transmitida ao longo de uma cadeia de
transportadores, utilizando-se parte desta energia para a síntese de uma molécula de ATP,
através das ATP-sintetases membranares.
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E ainda,
Pigmentos fotossintéticos:
→ Activos:
- Bacterioclorofila, no caso da fotossíntese anoxigénica.
- Clorofila a e b, no caso das cianobaterias.
→ Acessórios:
- Carotenóides.
- Xantofilas.
- Ficobilinas.
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Os carotenoídes são derivados do isopreno, e podem ser cíclicos nos seus terminais ou não:
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O sistema referido funciona assim, como uma antena colectora, em que a energia vai
sendo continuamente transferida para o centro de reacção – sempre localizado na membrana.
Sendo neste caso localizado na membrana tilacoidal, e no caso das bactérias anoxigénicas, na
membrana citoplasmática. Sendo a fotossíntese um processo de produção de energia,
observamos o centro de reacção bem como os pigmentos acessórios e todo o mecanismo
acoplado a este processo:
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NOTA: A produção de ATP pelo processo acabado de abordar – Fotofosforilação – não requer um dador
de electrões, visto que o electrão é o mesmo, sendo excitado e regressando ao local de partida → Há
como se viu um movimento cíclico de electrões. No entanto é necessário um dador externo de electrões
para a redução do NAD(P)+ a NAD(P)H, visto este ser necessário para os processos de biossíntese.
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Visto que estamos a abordar bactérias súlfureas, o dador de electrões é o H2S, que os
cede ao citocromo c555. Este citocromo c é essencial para a existência deste processo, pois
permite fazer o “shuttle” entre os vários componentes.
Na prática, a grande diferença é de que existe uma Ferredoxina que permite que na
fase de produção de equivalentes redutores, o electrão possa ser cedido directamente a uma
molécula de NAD(P)+ para produzir uma molécula de NAD(P)H.
Assim, a diferença em termos de processo fotossintético anoxigénico:
↓
Nas bactérias púrpura sulfúreas e não-sulfúreas e bactérias verdes não-sulfúreas
temos fluxo electrónico cíclico associado á síntese de ATP, e fluxo electrónico reverso para a
síntese de equivalentes redutores; enquanto que no caso das bactérias verdes sulfúreas,
temos uma cadeia de transporte diferente que inclui a já mencionada ferredoxina, que
permite que a transferência de electrões para o NAD(P)+ seja directa sem a necesidade de uma
fonte adicional de energia para que ocorra transporte reverso.
NOTA: As bactérias verdes sulfúreas são mais eficientes do ponto de vista energético,
visto que não necessitam de consumir parte da força proto-motriz para o transporte
electrónico reverso.
Fotossíntese Oxigénica
Este tipo de fotossíntese ocorre quer nas cianobactérias quer nos eucariotas
fotossintéticos e é conhecida como fotossíntese do tipo vegetal. A diferença que se observa
traduz-se na existência de dois fotossistemas → sendo o fotossistema I muito semelhante ao
fotossistema encontrado nas bactérias verdes sulfúreas.
A vantagem evolutiva que surge deste processo foi o aparecimento de uma molécula
de clorofila com um potencial redox capaz de receber electrões directamente da água. Este
potencial redox mais positivo permite assim, utilizar um composto mais abundante como
dador de electrões, observando-se como resultado deste fenómeno a produção de O2.
Neste tipo de fotossíntese observamos dois tipos de circuito: (ver pág. seguinte)
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Assim, temos que um electrão proveniente da água vai sendo cedido ao longo dos
transportadores do Fotossistema II, sendo depois cedido ao longo dos transportadores do
Fotossistema I, até chegar ao NADP+ - constituindo-se assim o fluxo acíclico.
Mas o Fotossistema I, quando excitado, o electrão aumenta a sua energia, passa pelos
vários transportadores, e depois através da Ferredoxina presente no sistema pode regressar
ao Citocromo bf, perfazendo um fluxo electrónico cíclico.
Concluímos portanto que o Fotossistema I pode estar a funcionar em contínuo,
produzindo apenas a síntese de ATP acoplada a protões translocados para o exterior. O
Fotossistema II, leva portanto á produção de equivalentes redutores - existe de facto uma
grande vantagem do ponto de vista da acessibilidade ao dador de electrões.
NOTA: É de notar a semelhança entre o Fotossistema I – que é o mais primitivo dos dois
presentes neste sistema – e o Fotossistema das bactérias verdes sulfúreas.
Do ponto de vista da produção de energia, todos estes organismos produzem ATP por
fotofosforilação, estando associada a este processo a produção de equivalentes redutores
(NADP+ ou NADPH), sendo para isso necessário um dador externo de electrões.
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As bactérias verdes sulfúreas fixam o CO2 por um processo diferente → Ciclo Reverso
ao de Krebs, ou Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos (ciclo redutor), como se observa na imagem
seguinte:
Estes organismos conseguem fazer a fixação do CO2 pelo reverso do ciclo de Krebs
porque surgiram três enzimas novas: citrato-liase; α-cetoglutarato-sintetase; e a fumarato
redutase.
Em ordem a concluir esta secção da matéria, cogitamos que bactérias púrpura,
sulfúreas e não-sulfúreas, e bactérias verdes não-sulfúreas, possuem o mesmo tipo de cadeia
de transporte fotossintético, em que há síntese de NADPH para transporte electrónico reverso.
Bactérias verdes sulfúreas possuem uma via fotossintética diferente, mais eficiente e com uma
ferredoxina que permite a transferência electrónica directa ao NADP+
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Quimiolitotrofismo
No caso dos quimiolitotróficos, temos vias de produção de energia através da oxidação
de compostos inorgânicos, sendo essa mesma oxidação executada por uma cadeia de
transportadores electrónicos. Compara-se este processo á respiração aeróbia, visto o O2
também ser usado, por estes organismos, como aceitador final de electrões.
Neste processo a formação de biomassa é por fixação de CO2. Á semelhança dos
organismos fototróficos é também o ciclo de Calvin que faz esta fixação.
Olhando para os procariontes quimiolitotróficos, conseguimos verificar que os
organismos que caem sob esta designação são maioritariamente pertencentes ao Domínio
Bactéria, embora existam procariotas do Domínio Archaea, que por serem metanogénicos
também caem sob esta designação.
Segue-se uma tabela com organismos típicos Quimiolitotróficos/Quimioautotróficos:
É de notar que grande parte das espécies aqui representadas possui o O2 como
aceitador final de electrões, funcionando este processo de quimioautotrofismo como uma
cadeia de respiração aeróbia, no caso das espécies que possuam o O2 como aceitador final.
Salienta-se também que o dador de electrões varia bastante consoante o grupo de bactérias
apresentado:
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NOTA: Esta última Hidrogenase a ser abordada faz o reconhecimento do NAD+ e de H2, e
prontamente reduz o NAD+ a NADH. Este fenómeno não é algo comum entre procariotas.
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FERMENTAÇÃO
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Fermentação Láctica
Com a observação dos esquemas podemos concluir que existem duas “versões” da
fermentação láctica: Homoláctica e Heteroláctica. Que diferem nos produtos:
→ Na Fermentação Homoláctica observa-se que o produto é apenas lactato;
→ Na Fermentação Heteroláctica observa-se que o produto é lactato, etanol e CO2.
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NOTA2: A via Heteroláctica é menos energética que a via Homoláctica, visto que embora na
via Heteroláctica exista maior disponibilidade de número de substratos, existe também
menor ganho de ATP por molécula de substrato fermentada.
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NOTA: Grande parte das Enterobacteriáceas, quando na síntese de formato, param nesta molécula, mas E.coli
possui um gene adicional que codifica para a Formato-H2-liase, sendo que esta enzima consegue converter o
formato em CO2 + H2. Visto que o hidrogénio não é um gás solúvel, quando se coloca E.coli a fermentar num
tubo, esta vai produzir gás. Sendo que este fenómeno descrito funciona como um teste para a presença de E.coli
em determinados compostos alimentares e etc.
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Teste de Voges-Proskauer:
O teste de Voges-proskauer ou VP é utilizado para detectar acetoína numa cultura
bacteriana. O teste em si consiste na adição de α-naphtol e hidróxido de potássio a uma
solução de VP que tenha sido inoculada com bactérias.
Este teste depende da metabolização da glucose a acetilmetilcarbinol. Se a glucose
estiver a ser metabolizada irá reagir com o α-naphtol (reagente VP nº 1) e hidróxido de
potássio (reagente VP nº 2), e forma uma cor avermelhada. Acrescenta-se que tanto o α-
naphtol como o hidróxido de potássio são químicos detectores de acetoína.
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Crescimento Microbiano
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NOTA: Se existirem elementos genéticos não cromossomais (presentes no citosol), das duas
uma:
- Ou o ciclo de replicação do plasmídeo coincide com o ciclo de fissão binária e ambas as
células filhas herdam o plasmídeo.
- Ou o ciclo de replicação do plasmídeo não coincide com o ciclo de fissão binária e apenas
uma célula filha herda o plasmídeo.
NOTA: Esta proteína foi descoberta em mutantes em que o gene codificante para a mesma não
estava funcional. Assim as células mutantes iam crescendo mas não se dividiam, não formavam
septo, adquirindo uma morfologia filamentosa.
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log 𝑁𝑡 − log 𝑁0
𝜇 = 𝑁𝑡
log 𝑒𝑡
Sendo que esta taxa de crescimento é
característica de cada espécie de microrganismo.
Alem do mais, se representarmos o crescimento não
sob a forma exponencial, mas sim sob a forma
logarítmica, espera-se observar uma recta de
crescimento como a representada na figura lateral.
Conseguimos representar o crescimento
populacional microbiano sob a forma de logaritmos
através das duas seguintes expressões:
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NOTA: Existem células na fase de Autolíse que não podem entrar em lise, mas também não se
podem replicar, estando por isso, do ponto de vista de viabilidade celular, mortas.
Assim observamos que á medida que a taxa de crescimento aumenta, aumenta o número de
duplicações. E á medida que aumenta a velocidade de crescimento, aumenta também a
quantidade de DNA por célula.
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Este gráfico também nos mostra que consoante o parâmetro que utilizamos para
medir o crescimento, obtemos diferentes curvas de resposta.
Contudo, apresenta-se ainda outro gráfico correspondente a outro fenómeno
relacionado com o crescimento, que encontramos em vários microrganismos, que é
denominado fenómeno de Diáuxia:
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NOTA: Este último sistema observado classifica-se como sistema de repressão por
catabolito, ou seja, enquanto se encontrar glucose presente no meio, a lactose não é
degradada e metabolizada.
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Tendo em conta o gráfico acima, podemos concluir que os Aeróbios obrigatórios necessitam de
O2 porque todo o seu metabolismo se baseia em condições de aeróbiose.
Os Aeróbios facultativos podem performar respiração aeróbia na presença de O2, e na
sua ausência podem performar respiração anaeróbia ou fermentação (dependendo de outros
factores intrínsecos ao metabolismo). Estes organismos conseguem crescer na ausência de O2,
no entanto o crescimento na presença do mesmo é melhor.
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Superóxido Dismutases (SOD) – são uma classe de enzimas que catalisam a dismutação do ião
superóxido, em O2 e H2O2. São extremamente importantes como defesas antioxidantes em
quase todas as células expostas ao O2.
Reacção:
O2- + O2- + 2H+ → H2O2 + O2
Peroxidases – têm como substrato o NADH, ou outro substrato qualquer que funcione como
redutor e que forneça o H2 necessário para a formação de água.
Reacção:
H2O2 + AH2 → 2H2O + A
H2O2 + NADH + H+ → 2H2O + NAD+
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O pH e os Microrganismos
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Resposta Homeostática
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Bactérias Neutrófilas:
Com a observação do último diagrama, concluímos que as bactérias neutrófilas habitam locais
com pH entre 6 e 8, mantendo-se o pH intracelular entre 7,5 e 8.
Estas células para o seu funcionamento têm de colocar protões para o exterior. Esta
translocação de protões é compensada pela entrada de potássio. A troca de K+ por H+, é o que
garante que o pH intracelular se mantenha próximo da neutralidade.
Assim, o mecanismo de Homeostasia das bactérias neutrófilas quanto ao pH é de que
se houver uma acidificação do meio extracelular, estas aumentam a captação de K+ para
poderem por fora da célula o excesso de H+ que entrou.
NOTA: Nestas bactérias, a maior parte da força proto-motriz vem do potencial de membrana
visto que o ΔpH é fraco.
Bactérias Acidófilas:
As bactérias Acidófilas têm bombas de influxo massivo de K+, e estas funcionam de tal maneira
que a quantidade de K+ intracelular é tão elevada, que a membrana possui um potencial
invertido. Logo, como estas invertem o potencial de membrana, a saída de protões de um
meio altamente positivo, para um meio menos positivo, passa a ser um processo facilitado.
Assim, o mecanismo de Homeostasia das bactérias acidófilas consiste na inversão do potencial
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de membrana através do influxo massivo de K+, permitindo que os protões sejam postos no
exterior.
Bactérias Alcalífilas:
Nestas bactérias o pH intracelular não é tão próximo da neutralidade como nas outras já
observadas, sendo este ligeiramente alcalino.
Estas bactérias especializaram-se em ordem a viver nestes ambientes, tendo um
sistema de antiporte sódio-protão. Que funciona pondo protões dentro da célula, trocando
por sódio que põe no exterior.
Cada vez que estas bactérias transportam um soluto para dentro da célula,
transportam também um ião de Na. Este sistema de trocas não se verifica ser difícil de
executar, visto existir muito Na+ em ambientes alcalinos.
Sumariza-se assim, estes mecanismos de homeostasia com um esquema que os engloba:
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A dose letal é uma dose que leva o número inicial (N0) a 100 – ponto de inactivação (D0).
Se dermos uma dose exactamente igual a D0, temperatura a 90ºC e durante 14.3 minutos,
vamos ter um número de células de, por exemplo, 10-3, que é menor que 1. Logo, não existem
células. Embora não seja uma dose que, teoricamente, mata as células todas, qualquer dose
superior a D0 já nos dá uma fracção de células possível, assim, na prática, matou-se as
unidades viáveis todas.
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Porque é que quando nos espetamos com um prego, desinfectamos com água oxigenada?
Porque o grande problema é o agente do tétano, que é Clostridium tetanica, que é um
esporulado e anaeróbio estrito. Portanto a utilização de água oxigenada significa que, mesmo
que C. tetanica tenha a enzima catalase, não tem superóxido dismutase (SOD), e aquela água
oxigenada vai entrar para dentro das células e criar diferenças no potencial, morrendo as
mesmas.
Para além dos anti-sépticos são utilizados um conjunto de compostos que têm uma
terapêutica anti-microbiana, que são os antibióticos.
FIM
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